sábado, 5 de agosto de 2023

Tertúlia da Saudade 09: Francisco José Pessoa de Andrade Reis

 

Aparecido Raimundo de Souza (Brilho ofuscado)

DE REPENTE, NUM GRANÍTICO silêncio introspectivo, estanco, resoluto, os passos, e nesse embargar, olho, meio que desconfiado, para o espelho preso à parede bem ali na minha frente, em meio à penumbra do reduzido corredor que liga o banheiro ao quarto. Com o que vejo, me assusto, ou melhor, fico paralisado com o que não gostaria, jamais, de encontrar diante dos olhos. No fundo, permaneço inconfundível na minha seriedade à flor da pele, como uma vertigem em temperatura de fusão constante a me fazer voar entre labirintos aborbidos (exorbitantes) e iracundos (furiosos). Por alguns breves momentos, me ponho em pânico assombrado. Pequeno e inerte, degenerado e espúrio (falso) me sinto mofino e canhestro (desajeitado) diante do espelho, síntese de todas as imperfeições, o porta voz do meu destino, como se estivesse emaranhado nos sargaços de um mar tenebroso e imenso. 

Percebo com profundo pesar, não sobrou muita coisa daquele jovem de alguns janeiros atrás, quando tudo parecia porvir de um laboratório de prazeres etéreos. Dos tempos em que a vida fluía, não com a intensidade de coisas findas, contudo, com as garras pujantes e a perseverança opulenta de que os caminhos a serem percorridos eram mais cheios de flores e deslumbramentos geográficos, de formas fortes e concretas, tão destemerosas e denodadas que eu não precisava guardar fantasias policrômicas ou pegar nas asas do tempo uma carona, para evitar que a juventude ganhasse a passos largos o destino de um instante longínquo, incerto e algaraviado. Dessa forma, entre perplexo e abobalhado, confundido e estonteado, tomei conhecimento e consciência de que o tempo passou. Voou ligeiro, destravado, hábil, despachado e apressurado...

Meus filhos, ontem crianças inocentes e sem maldades, cresceram, espicharam, avultaram numa saciedade perene. As pessoas que viviam ao meu redor, os vizinhos de toda hora, em oposto, enfraqueceram, ficaram mais velhas, se arrebicaram (ornaram) de artifícios capengas, os cabelos de toda essa gente embuçaram (encobriram-se) embranquecidos. Outras tantas partiram, mudaram, sumiram, morreram, deixando em seus lugares velhas fotografias amarelas e desbotadas. Trasladados que não falam dos tempos esvaídos, eclipsados, tão somente dão conta de um sem som constrangedor e pior, de uma mudez reticente abraçada a uma saudade pegajosa que insiste em ficar grudada, comboiada (acompanhada), aderida na pele, e não só nela, na alma, sem querer ir embora. Meu Deus! Há tanto tempo não olhava para meu rosto, não mexia em meus cabelos... não sentia a testa inteiriçada de carquilhas e rugas. Há tanto tempo, não sei quanto, não sentia pena de ter perdido o viço, tentando encontrar algo útil, talhado e aproveitado que pudesse ser meu. Por uma breve faísca de lucidez nitescente (brilhante), não me reconheço sóbrio e mesurado, equânime e morigerado (bem educado) nos ínfimos gestos. 

Passo a mão trêmula no espelho frio, na expectativa gélida, abortada e frustratória (ilusória) de que seja este instante, um momento fugaz, perfunctório (efêmero), de pura emoção, vinda, talvez, do fundo da alma. Entretanto, é exatamente nesse interregno que sinto um vazio amargo e de proporções imensas, côncavo que se achegou emancipado e tomou formas fantasmagóricas. Do nada preencheu tudo, ocupou os espaços que restavam guardados para a possível chegada de uma felicidade triunfal que prometia vir de muito longe. Neste momento, diante do espelho obsequiado pela penumbra do quarto, não sei dizer, ao certo, se a tal felicidade apareceu ou ficou encantada. Se de fato chegou aqui, se bateu na minha porta, se tocou a campainha, se deixou recado com o porteiro, ou com os vizinhos de ambos os lados da rua. Não sei dizer, como não saberia precisar onde estava e o que fazia. Não sei, igualmente, onde estaria metido com a cabeça, ou com o raio do nariz que não pressenti o cheio forte de sua aproximação. 

Apenas tenho ciência, tudo ficou no estéril do labirinto. Tudo virou um desprovido de conteúdo. O nada estancou desabitado. O volúvel se fez consistente, tão longevo e perdurável, que inundou a minha alma a ponto de uma bruxa malévola aparecer na janela, reavivar assombrações que rangeram seus sapatos de encontro ao chão. De roldão, um anjo de asas negras contrapesou. Desceu espavorido de algum plano acima deste e apagou a chama da tranquilidade mística que reinava por todos os cantos e recantos da casa. Às vezes tenho saudades de voltar ao passado. Fazer parte da paisagem do ontem eivado (contaminado) de farturas desordenadas. Colher frutos caídos, beber da água que passou sob a ponte, correr solto, livre e leve, capturar miragens dos idos de menino, avivar lembranças de mamãe ralhando, igualmente de papai voltando do trabalho, dos irmãos sentados à mesa do jantar para o derradeiro banquete do dia esvaído. 

De poder encontrar as oportunidades que foram jogadas ao léu, outras no ralo de garganta profunda, de rever os momentos de encantamentos que estiveram ao alcance das minhas mãos, mas que, por ignorância tamanha, me fiz palhaço de um rei deposto e me tornei um bobo de sua corte, achando que o melhor e o mais acertado seria atender aos desjuízos que afloravam da cabeça bagunçada. Em vista disso tudo, a solidão se entrelaçou companheira inseparável de todas as horas. Veio de mala e cuia morar junto, sem ser convidada, passou a fazer parte do cotidiano, a dar ordens e promover pequenos contratempos. Com o decorrer dos dias, essas adversidades se transformaram em rimas de total fracasso.  O sol bonito que brilhava quente e mavioso, fulgente e radioso, sumiu do firmamento e em seu lugar um punhado de nimbos escuros e pesados coroou de melancolias incertas todos os sonhos que estavam, ainda, por nascer. 

Alguma coisa desconhecida aproveitou esse momento de fraqueza e ofuscou o brilho das estradas. Escureceu os horizontes e fez sumir nas brumas da insensatez, o amanhã que se preparava para resplandecer por inteiro, integro, perficiente (perfeito) e primoroso. Sem que me apercebesse, as horas entraram em colapso, e o tempo de novo, o meu tempo, se comprimiu dentro de um túnel sem saída, escuro, frio, desconhecido. Os pássaros deixaram de cantar, o vento de soprar gostoso em meus ouvidos. Portas foram batendo às minhas costas, chaves secretas fechando desvãos possíveis à minha presença, e novamente os espíritos inquietos da solidão se agigantando e, a medida que aumentavam de forma e tamanho, pressionavam o pouco da Esperança que insistia manter viva a tênue luz que restava acesa em meio a toda essa imensurável escuridão.   

Pudesse vestir, neste momento, o terno do agora, calçar os sapatos de novas caminhadas, e como um novo dia de sol me abrir em jatos de vontades criadoras, enquanto na soleira da eternidade, talvez esse espelho de aspecto cadavérico não me botasse tanto medo dentro do coração... talvez se encontrasse as flores do cristal eterno e pudesse olhar ao meu redor com outras perspectivas de amanhã, gritar aos berros necessários, meus expurgos aprisionados, quem sabe todos os meus resquícios se levantassem de suas covas e surgissem, diante de mim, de mãos estendidas, com a expectativa de começar tudo outra vez (como uma volta ao recomeço).  Eu não sentiria mais, com certeza, esse punhal maligno, a riscar o ar, a desenhar aos meus pés ciladas circunspectas. Oxalá não estivesse tudo perdido, quem sabe ainda não fosse muito tarde para ser novamente e imensamente Feliz. E outra vez, ainda que “in petto”, me reencontrar magistral e perficiente dentro de mim.

Fonte:
Enviado pelo autor.

Gislaine Canales (Glosas Diversas) LVIII


POBREZA
La pobreza en  la humildad,
 en noche fría de invierno,
 es  tristeza, es soledad...
 ¡es mismo, un cruel infierno!
 
MOTE:
A pobreza na humildade,
em noite fria de inverno,
é solidão, é saudade...
é mesmo um cruel inferno!
Carmen Patiño Fernandes 
(España)

GLOSA:
A pobreza na humildade,
quando falta pão e abrigos,
suspira por igualdade,
lamenta a falta de amigos!
 
Dormindo, só, pela rua,
em noite fria de inverno,
o menino tem da Lua,
seu único abraço terno!
 
É triste a realidade,
amarga, sem alegria,
é solidão, é saudade...
é só dor, só nostalgia!
 
A miséria, a fome, enfim,
parece um problema eterno...
Sinto em prantos  dentro em mim:
é mesmo um cruel inferno!
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MEDOS...
 
MOTE:
A solidão forja medos...
e ao me deixares um dia,
feri os pés nos rochedos
sem temer a travessia!
Florestan Japiassú Maia
Rio de Janeiro/RJ, 1915 – 2006

GLOSA:
A solidão forja medos...
Eu me sinto enclausurado,
escravo dos meus segredos
e neles acorrentado!
 
Eu pensava que me amavas...
e ao me deixares um dia,
meu coração tu roubavas
e toda a minha alegria!
 
Rasguei, então, os enredos,
da nossa história de amor,
feri os pés nos rochedos
e enfrentei toda essa dor!
 
Com meus medos exilados,
vestidos de nostalgia,
transpus abismos passados
sem temer a travessia!
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FUTURO INCERTO...
 
MOTE:
Quanto mais olho o futuro,
vejo a solidão na estrada
fico perdido, inseguro,
ante a angústia de meu nada...
Ivone Taglialegna Prado  
Paraguaçu/MG,  ??? –  2022, Belo Horizonte/MG

GLOSA:
Quanto mais olho o futuro,
menos consigo enxergar,
está tudo tão escuro,
me sinto desanimar.
 
Na estrada da solidão,
vejo a solidão na estrada
e o meu pobre coração,
só com ela acompanhada!
 
Sozinho, não me aventuro,
tremo e choro, eu sinto medo,
fico perdido, inseguro,
o meu futuro é um segredo!
 
Essa dúvida angustia
minha alma desordenada,
que parte em busca do dia
ante a angústia de meu nada...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

SONHOS
 
MOTE:
Sou feliz na meia-idade,
revivendo, persistente,
os sonhos da mocidade,
nos sonhos do meu presente.
João Freire Filho
Rio de Janeiro/RJ, 1941 – 2012

GLOSA:
Sou feliz na meia-idade,
vivo de recordações
da colorida amizade
sempre cheia de emoções!
 
Sinto de novo a ternura
revivendo, persistente,
tantos dias de ventura
de uma vida comovente.
 
Relembro com ansiedade
aquele amor  tão profundo...
os sonhos da mocidade,
melhores sonhos do mundo!
 
Quase-velho e já cansado
me torno um adolescente,
transformo o sonho passado,
nos sonhos do meu presente.
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EU TE AMEI
 
MOTE:
Eu te amei sem ser amado,
e ainda, por te querer,
peço perdão de um passado
que eu não consigo esquecer...
Milton Nunes Loureiro
Campos/RJ, 1923 – 2011, Niterói/RJ

GLOSA:
Eu te amei sem ser amado,
te desejei noite e dia,
foste o sonho mais sonhado...
foste a tristeza e a alegria!
 
Resta sempre uma esperança,
e ainda, por te querer,
sinto aumentar a confiança...
nova luz no amanhecer...
 
Mas quando estou ao teu lado,
sinto medo, um medo atroz,
peço perdão de um passado
nunca vivido por nós!
 
O amor não correspondido
causa dor e padecer,
é tão forte, tão sofrido,
que eu não consigo esquecer...

Fonte:
Gislaine Canales. Glosas Virtuais de Trovas X. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. Agosto 2003.

Leandro Bertoldo (Como se fosse pássaro)


Texto inspirado em canções de Chico Buarque e da tela Acidente de Trabalho, de Sigaud.

O operário que todo dia fazia tudo sempre igual achou um destino diferente...

Francisco escolhera o branco para se parecer com os pássaros que via em voos tão de perto por cima daquele andaime pingente. Juntou parte de suas economias, meteu-se em uma camisa de cambraia branca e saiu daquela loja como se fosse a última. Andava pelas ruas sentindo-se livre. Todo ele era um sorriso de passarinhar. Sentia que seus braços eram asas e as penas dos dedos tocavam o firmamento. Lembrou-se da história da cidade iluminada a qual por tempos não recordava o nome, mas havia lido em uma revista aberta ao acaso na espera do barbeiro, e quis tocar o céu, fazer um buraquinho nele para deixar passar o facho de luz brilhante. Logo ele a passar dias e dias como se fosse náufrago das alturas ao estar tão perto e tão longe do que desejava. Desejava? Ele não sabia, apenas sentia (que é bem diferente) um leve desprendimento.

Andava como se fosse sábado por aquelas ruas de segunda-feira. Como um aluno travesso, só que adulto, matava o dia de trabalho sem se importar com as consequências. Só gargalhava como se ouvisse música, aquela do farfalhar do princípio de um sorriso flácido de quem nasceu para olhar. Só olhar. Mas agora ele deseja voar como seus amigos das alturas; os pássaros, naturalmente, porque os outros eram operários como ele, com as mesmas mãos grandes e pés enormes contrapondo-se com as cabeças pequenas sem pensação.

Nisso, passou por aquelas ruas poetizando o tráfego sem se dar conta para onde ia. Não carregava pastas, documentos, celular, caderneta, patuá, nada para o identificar ou que lhe fizesse lembrar o desarranjo do uniforme azul marinho da firma. Ao menor sinal de memória corria a distrair-se em olhar para a cambraia branca e novamente se passarinhava.

Desejou tomar sorvete e comer cachorro-quente sem implicar de melar os dedos e os cantos da boca. E daí? Era só limpar! Não entendia a recriminação de sua mãe em tempos meninos e depois de sua esposa sempre tão arbitrária em questões de prazer. Ela era capaz de dizer que não ficava bem a um homem pai de família abocanhar um pão no meio da rua. E assim era por tudo: pela risada mais alta que a gente tem que engolir, pelo grito de gol que a gente tem que encobrir, pela alegria fortuita de nunca sentir. Arree!

Mal começa o sol se pôr, ouve-se o badalar do relógio da matriz. “Os carros avançam os sinais na hora da Ave-Maria”, já dizia a canção plácida de um amigo. "Seria o momento de sair do trabalho" — pensa Francisco — no exato instante em que ouve, vindo do alto dos andaimes, os operários o chamarem, clamarem, gritarem por cuidado. Nem se dera conta de como foi parar ali em frente à construção. Certamente o costume a direcionar a alma distraída para a obrigação de todo dia. A partir daí tudo foi lento e rápido. Rápido para a multidão que se aglomerava e maravilhosamente lento para ele ao sair da noite infinita e retornar à quietude do quintal como numa roda-gigante. Tudo, absolutamente tudo rodou num instante. De repente uma freada. Uma buzina. Um baque. Olhos assustados. Gritos. Muitos olhos. Mais gritos. Rostos disformes. Mãos na cabeça. Nas bocas. Tempo. Paz. Quanto tempo? Não sabia. Quanta paz? Ela agora existia. A sexta badalada do relógio. Silêncio.

Olhou para o vermelho da sua cambraia — não era branco? — e sentiu-se flutuando naquele chão de dormir. Ouviu novamente o farfalhar de asas por cima de sua cabeça ao som longe da Ave-Maria que lá vem, que lá vem, que lá vem...

Lá estavam eles, os pássaros, a esperá-lo...
Apenas sorriu...
Agora...
Podia...
Voar.
_______________________
"Amou daquela vez como se fosse a última". As músicas de Chico sempre me fizeram pensar. Pensar em acontecimentos, pensar em situações, pensar em histórias... Essa é uma delas, e juntamente com a tela de Sigaud nos conduz a um desprendimento perfeitamente possível à suavidade. Por que não? Para uma experiência ainda maior, ouça e depois deixe seus comentários, eles são muito importantes.

Fonte:
Enviado pelo autor. Disponível na Árvore das Letras (https://arvoredasletras.com.br/2023/07/23/como-se-fosse-passaro/)

E-Antologia de Sonetos do Blog Poesia Retrô (Prazo: 30 de setembro)


É com muita satisfação que promovemos nossa segunda antologia neste ano. Esta antologia abarcará somente SONETOS. 

  I – SOBRE O BLOG POESIA RETRÔ E AS PROPOSTAS  

a-)  Poesia Retrô é um blog coletivo fundado por Rommel Werneck e Gabriel Rübinger em 2009 com o intuito de promover Revivalismo Literário. Embora tenha permanecido inativo nos últimos anos, as atividades foram retomadas em 2022. Os organizadores da atual antologia são o Poeta Lendário e Rommel Werneck. 

2- A primeira antologia do grupo se deu em 2009 sob título de I E-Book de Poesia Retrô. Você pode ter contato com estes eventos nos seguintes endereços.  

 I E-Book de Poesia Retrô (2009) 
https://www.recantodasletras.com.br/e-livros-de-poesias/1686286

I Exposição de Poesia Retrô (2010) 
http://poesiaretro.blogspot.com/2010/03/i-exposicao-de-poesia-retro.html

II E-Antologia de Poesia Retrô (2022)
https://rommelwerneck.com/ebooks.php

E-Antologia de Poesia Maximalista (2022) https://rommelwerneck.com/visualizar.php?idt=7679116

III E-Antologia de Poesia Retrô (2023) 
https://rommelwerneck.com/ebook.php?idt=7848421

3- Antes de remeter seus trabalhos para a nova antologia, favor ler os arquivos gratuitos acima, porque é mais fácil compreender o tipo de poesia abordado aqui. Por Revivalismo Literário ou poesia retrô entendemos: formas fixas tradicionais (soneto, ghazal, pantum, sextina etc) ou novas (plêiade, indriso etc) podendo também apresentar poemas sem forma fixa e até em versos livres, mas em estilo mais revivalista e arcaico; versos isométricos ou heterométricos; temas clássicos; poesia sacra; mitologia; imitação de literatura histórica em geral etc. No entanto, considere que esta publicação abrange somente sonetos.

Em caso de dúvidas, indicamos links úteis: 

Por que Poesia Retrô? 
https://poesiaretro.blogspot.com/p/o-que-e-poesia-retro.html

Dicas para novos poetas em sonetos e poesia retrô de modo geral.  
https://rommelwerneck.com/visualizar.php?idt=7442125

Rima pobre X Rima miserável 
https://poesiaretro.blogspot.com/search/label/TEORIA%20LITER%C3%81RIA

Sobre versos decassílabos
https://rommelwerneck.com/visualizar.php?idt=7492147

Soneto Inglês
https://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/2062310

 II- DA TEMÁTICA

4- A e-antologia destina-se a sonetos apenas. Não serão aceitas outras formas de poesia. Não há tema de conteúdo.

5- Sonetos devem ter 14 versos isométricos (faremos escansão na leitura dos textos). Serão admitidos sonetos no formato petrarquino/ italiano e no formato inglês spenseriano e shakesperiano (soneto inglês)

6- Soneto petrarquino ou italiano deve ter 14 versos isométricos com respeito às cesuras (o poeta deve especificar que metro fez) distribuídos em duas quadras e dois tercetos. Esquemas rimáticos esperados: duas rimas nas duas quadras e outras novas rimas (até 3) nos tercetos. Metros esperados: de 9 a 12 sílabas com as cesuras clássicas. Quem quiser usar novas cesuras, indicar no texto quais foram. 

7-. O soneto inglês geralmente é em pentâmetro iâmbico em três quadras e um dístico final e no esquema rimático ABAB, CDCD, EFEF, GG, formato cristalizado por Shakespeare. Thomas Wyatt e Mary Wroth  e outros autores anteriores a Shakespeare gostam de usar duas rimas nas duas primeiras estrofes. Wyatt gosta muito das rimas opostas. Edmund Spenser usa um esquema similar à terza rima: ABAB BCBC CDCD EE. Todos estes modelos serão aceitos, mas em português. Pedimos aos autores que coloque que modelo adotou. 

III - DAS INSCRIÇÕES

 8 - CALENDÁRIO.

1º ago a 30/set: Inscrições via e-mail
1º/out a 10/out: Revisão dos textos
15/out: Divulgação final
31/out: Publicação da Antologia (provável data)

9 - QUANTIDADE DE TEXTOS. Solicitamos o envio de 2 sonetos por autor em arquivo Word. Pouco importa a diagramação porque teremos a nossa própria, mas pede-se o bom senso: enviar o texto em fonte simples, deixando claro o espaçamento das estrofes, fonte Arial, Verdana, Times ou qualquer outra convencional. O título na Antologia será em caixa alta e poemas sem título devem ser ao menos numerados.  Autores devem também mencionar o metro e as cesuras (pode ser após o título ou se houver epígrafe, inserir tal informação após o 14º verso). E-mail de envio ou de dúvidas:  poesiaretro@rommelwerneck.com

10- Os textos devem estar escritos em língua portuguesa, arcaica ou atual e a presença de elementos de língua estrangeira não será impedimento. Imitar o galego-português não invalida a inscrição. Importante salientar que os textos estarão sujeitos à revisão textual e métrica.

11 - O texto não precisa ser inédito, no entanto, pede-se que o autor assinale onde e quando se deu a publicação original, por exemplo: “Publicado originalmente no meu blog pessoal”, “texto inédito”, “Texto vencedor do concurso X” etc.  

12 - Além de remeter os sonetos, o autor deverá enviar uma minibiografia em terceira pessoa (aprox. 5 linhas), foto, glossário para os vocábulos pouco conhecidos (se houver), e-mail, endereço de blog ou site, cidade/ país, whatsapp. Se possível, tudo no mesmo arquivo Word, exceto a foto. Vamos criar um grupo de whatsapp apenas para recados dos organizadores referentes à antologia quando os autores já tiverem sido selecionados e o resultado postado.  

13 -  Se julgarmos o texto muito bom, mas com erro métrico pediremos ao autor que faça ajustes, oferecemos sugestões e dialogaremos. Sem resposta ou sem adequação às normas, toda a inscrição será invalidada. Uma antologia de sonetos é uma antologia de sonetos. Se fosse de versos livres, haveria uma só para isto. 

14 - Buscando a simetria desta nossa primeira publicação homenageando o soneto, teremos 14 autores: 10 selecionados, 2 convidados e os 2 organizadores. Os 2 poetas organizadores e os 2 poetas convidados participarão com 3 sonetos cada. Os selecionados somente com 2 textos. 

IV- DISTRIBUIÇÃO E DIAGRAMAÇÃO 

15- A Antologia será diagramada em e-book e divulgada gratuitamente na página www.rommelwerneck.com . Intencionamos realizar um podcast e/ou live.  

16 - Ao enviar seus textos o autor cede os direitos autorais para a publicação e sabe que não será remunerado pois o blog não tem fins lucrativos.  

17 - Esta nova antologia será como as outras: em formato gratuito e eletrônico. Isto significa que não haverá cobrança de quem quiser baixar o livro, nem taxa de participação como autor selecionado. A publicação terá ficha catalográfica e ISBN realizados por uma bibliotecária que cobra por tal serviço que será custeado pelo sr. R. Werneck. Quem quiser, pode realizar doação voluntária. Não é obrigatório.  

18- Participar de nosso grupo geral do whatsapp do Poesia Retrô simplesmente não significa admissão. Qualquer usuário identificado pode participar entrando pelo link na lateral direita do blog.

Fonte:
https://poesiaretro.blogspot.com/2023/07/chamada-antologia-xiv.html

8ª edição do Prêmio Kindle de Literatura (Prazo: 31 de agosto)


A Amazon.com.br anuncia a abertura das inscrições da 8ª edição do Prêmio Kindle de Literatura, em parceria com o Grupo Editorial Record e a TAG Experiências Literárias, que irá reconhecer autores e autoras independentes do Brasil e suas obras. Os escritores que desejam participar da oitava edição devem enviar seus romances inéditos em português usando o Kindle Direct Publishing (KDP), ferramenta de autopublicação da Amazon, e incluir #PremioKindle em suas palavras-chave durante a publicação. As inscrições ficarão abertas até o dia 31 de agosto.

A 8ª edição premiará o autor ou autora da obra vencedora com R$ 50 mil, sendo R$ 40 mil como um prêmio em dinheiro e R$ 10 mil em adiantamento dos direitos autorais pela publicação da versão impressa do livro pelo Grupo Editorial Record. A obra também terá uma edição especial pela TAG Experiências Literárias enviada aos seus assinantes da modalidade TAG Curadoria. Além disso, o prêmio também terá um cupom no valor de R$ 5 mil para compras de livros no site do Grupo Editorial Record.

Ao reconhecer a literatura independente no Brasil e promover a autopublicação de milhares de obras a cada edição, o Prêmio Kindle de Literatura se destaca no cenário literário como uma oportunidade para autores e autoras independentes alcançarem seu público com a atenção e destaque que merecem.

“Livros estão no DNA da Amazon, e temos muito orgulho de todas as obras participantes do Prêmio Kindle de Literatura. Não apenas vencedores, mas finalistas e diversas obras inscritas, que atraíram muitos leitores”, diz Ricardo Perez, gerente-geral de Livros da Amazon Brasil. “Queremos que o Prêmio continue sendo essa marca para a comunidade do livro, abrindo portas para novos talentos e conteúdos de sucesso”, completa.

"Toda iniciativa que valoriza e promove a literatura nacional deve ser celebrada. O Prêmio Kindle, com um formato inovador e democrático, vem se consolidando como um farol na tarefa de encontrar excelentes autores. O Grupo Editorial Record, que publica os vencedores por meio da tradicional José Olympio, fica muito honrado e agradecido com esta parceria", afirma Livia Vianna, editora-executiva da Editora José Olympio.

"Retomar essa parceria com o Prêmio Kindle, um dos mais relevantes da cena literária no Brasil, é um prazer enorme. Mal podemos esperar para ler as indicações e depois enviar o grande vencedor na TAG Curadoria", aponta Rafaela Pechansky, Publisher da TAG Experiências Literárias.

“Escrever para mim é como bordar, bordar palavras tirando arestas e pontos desfiados. Para isso acontecer haja labuta, persistência, recolhimento e um misto de prazer e dor. Quando recebi a notícia de que Ébano sobre os canaviais ficara entre os cinco finalistas fiquei extremamente contente e ao receber o troféu dourado senti minha escrita aclamada”, conta Adriana Vieira Lomar, vencedora da 7ª edição do Prêmio Kindle de Literatura. “A cerimônia, no Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, me fez lembrar das imagens e cheiros que me habitaram a infância. Quanto aconchego, mimo e reconhecimento! O Prêmio Kindle de Literatura me possibilitou ser editada pelo maior grupo editorial da América Latina e essa vitória se tornou mais gratificante quando li todos os livros finalistas da 7ª edição e me deparei com expoentes da alta literatura contemporânea brasileira”, adiciona.

Os vencedores das outras 6 edições foram: 
A filha primitiva, por Vanessa Passos, 
O Pássaro Secreto, por Marília Arnaud, 
Dias Vazios, por Barbara Nonato, 
Dama de Paus, por Eliana Cardoso, 
O Memorial do Desterro, por Mauro Maciel, e 
Machamba, por Gisele Mirabai.

Para participar da 8ª edição do Prêmio Kindle de Literatura, os autores devem autopublicar suas obras por meio do KDP (amazon.com.br/kdp) de 1 de maio a 31 de agosto de 2023. 

Os autores devem incluir o termo PremioKindle no campo de metadados das palavras-chave durante o processo de autopublicação e registrar as obras na categoria Ficção. Os títulos devem ser romances originais em português do Brasil, que não tenham sido publicados anteriormente, e submetidos exclusivamente ao Kindle durante o período do Prêmio, inscrevendo-os no programa KDP Select. Os termos e condições podem ser encontrados na página do Prêmio Kindle de Literatura (amazon.com.br/premiokindle).

Os autores também podem criar um perfil na Central do Autor (author.amazon.com.br). Além de compartilhar as informações mais atualizadas sobre autores e seus livros, o perfil criado na Central do Autor permite engajar leitores com conteúdo adicional e suas biografias, disponíveis para livros e eBooks na Loja Kindle, e com links para seus títulos disponíveis.

Assim como nas edições anteriores, todas as obras participantes serão avaliadas por um painel de especialistas editoriais, selecionados pela Amazon, pelo Grupo Editorial Record, e pela TAG Experiências Literárias, em diversos critérios, incluindo criatividade, originalidade, qualidade de escrita e viabilidade comercial. Cinco finalistas serão anunciados e avaliados por um júri especial, e apenas um será reconhecido como vencedor. Todos os cinco títulos finalistas serão apresentados nas comunicações para clientes da Amazon.com.br com um selo de livro “Finalista” na capa da versão original não editada do eBook. 

A Amazon dará um prêmio em dinheiro de R$ 40 mil ao vencedor, que também receberá um adiantamento de direitos autorais de R$ 10 mil pela versão impressa do livro, conforme contrato que terá a oportunidade de firmar com o Grupo Editorial Record para publicação da obra vencedora no selo José Olympio. A obra também receberá uma edição especial pela TAG Experiências Literárias e disponibilizada para seus assinantes dentro da modalidade TAG Curadoria.

O KDP é uma ferramenta rápida, gratuita e fácil para autores e editores publicarem seus livros e disponibilizá-los para leitores em todo o mundo. Com o KDP, os autores têm total controle do processo, desde a concepção da capa até a definição do preço, podendo receber até 70% em royalties. Todos os romances participantes do Prêmio Kindle de Literatura estarão disponíveis na Loja Kindle e no Kindle Unlimited. Os eBooks Kindle podem ser comprados e lidos com os aplicativos Kindle gratuitos para tablets e smartphones Android e iOS, computadores, bem como e-readers Kindle.

SOBRE O KINDLE DIRECT PUBLISHING

O Kindle Direct Publishing, ou KDP, é um serviço de autopublicação gratuito que permite que autores independentes publiquem seus trabalhos e alcancem novos públicos. Com o KDP, o poder da publicação está acessível a leitores e autores em todo o mundo, permitindo que um conjunto mais robusto e diversificado de vozes compartilhe histórias com um público mais amplo do que nunca. Para mais informações, visite amazon.com.br/kdp.

SOBRE A AMAZON

A Amazon é guiada por quatro princípios: obsessão do cliente em vez de foco na concorrência, paixão pela invenção, compromisso com a excelência operacional e visão de longo prazo. A Amazon se esforça para ser a empresa mais centrada no cliente do mundo, o melhor empregador do mundo e o lugar mais seguro para trabalhar no mundo. Avaliações de consumidores, compra de 1 clique, recomendações personalizadas, Prime, Fulfillment by Amazon, Amazon Web Services (AWS), Kindle Direct Publishing, Kindle, Career Choice, Fire tablets, Fire TV, Amazon Echo, Alexa, tecnologia Just Walk Out, Amazon Studios e The Pledge Climate são algumas das ações pioneiras da Amazon. Para mais informações, amazon.com.br/imprensa ou entre em contato conosco em imprensa@amazon.com.

SOBRE O GRUPO EDITORIAL RECORD

O Grupo Editorial Record é um dos maiores conglomerados editoriais da América Latina. Em 80 anos reuniu um portfólio de doze editoras, que renovaram o espírito e fortaleceram as missões de promover o debate e de valorizar a bibliodiversidade. Além de ser uma das mais antigas editoras de livro atuantes no Brasil, a Record tem dinamismo na produção, proporcionado pela gráfica própria, capaz de rodar 100 livros de 200 páginas por minuto no Sistema Poligráfico Cameron.

SOBRE A TAG EXPERIÊNCIAS LITERÁRIAS

A proposta da TAG é mostrar que a literatura pode ser leve e divertida, presenteando o associado a cada mês com uma nova experiência literária e sensorial. A caixinha da TAG é uma forma de o livro disputar e recuperar o tempo na vida das pessoas que foi perdendo para filmes, redes sociais e jogos. Desde o início de suas atividades, em julho de 2014, a TAG já publicou 100 títulos, divulgando o trabalho de mais de 170 escritores, entre autores e curadores. A TAG surpreende seus assinantes com os títulos do mês, que são divulgados somente após a entrega de todas as caixas. Também fazem parte do produto publicações dedicadas à obra e ao autor; design próprio de capas e embalagens; brindes temáticos inéditos, incluindo eventuais publicações exclusivas para assinantes. A iniciativa foi premiada com o The Quantum Publishing Innovation do Excellence Award 2018, durante a Feira do Livro de Londres (The London Book Fair), e também com o Prêmio Jovens Talentos da Indústria do Livro 2018, iniciativa da PublishNews, SNEL e Feira de Frankfurt.

Fonte:
Enviado por Lilian Cardoso (LC - Agência de Comunicação)

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Carolina Ramos (Trovando) “01”

 

Newton Sampaio (O atrapalhador de noivados)

(
Contos do Sertão Paranaense)

A dança, na casa do Fabiano do Boqueirão, fervia animadíssima. Na redondeza não se tivera notícia, em tempo algum, de festança mais concorrida.

Gente de muito longe aportara à fazendola: atendendo ao convite barulhento do Fabiano, que planejara celebrar, o santo de sua devoção de maneira nunca vista até aquele dia. E de fato, os convivas estavam boquiabertos.

— Mas, que despropósito! O compadre Fabiano até parece que tirou a sorte grande...

Foram três dias de comilança exagerada, de rezas, com sermão muito bonito, de colossais corridas de cavalos. E para terminar, um baile de arromba.

Às onze e pouco entrou na sala um conhecido de Fabiano que não pudera assistir ao começo da festa. Miguel Ignácio chamavam-nos todos. E a seu nome as caboclas acompridavam logo um olhar cheio de secretos desejos. É que o Miguel Ignácio tinha fama de ser o rapagão mais desempenado do sítio vizinho. Não havia quem resistisse à teia de seus galanteios. Até andavam falando de coisas a respeito dele e da dona Alcina, mulher do segundo suplente de delegado.

Infundados ou não esses boatos, o fato é que as moças tinham uma quebrantura invencível quando dançavam com o Miguel Ignácio. Seu corpo atlético, seus dentes claros — tudo, enfim, servia para bulir com o coração das morenas do Boqueirão.

Miguel Ignácio apenas entrou, mexeu os olhos nas quatro direções da sala. E viu, bem escondidinha num canto, a Joaninha, que era de uma timidez fora de propósito. Enveredou para ela, jactanciosamente, sabendo-se alvo de muitos olhares. Puseram-se a dançar.

— Como vai essa flor, Joaninha? Não sentia saudades de mim?

— Não.

— Por quê?

— Eu tenho agora em quem pensar...

(O caboclo desapontou).

— … Estou noiva.

— Verdade? Não sabia... Também quanto tempo há que não apareço por cá.

Pigarreou para disfarçar o embaraço.

— E quem é o felizardo?

— O Luiz.

— Quem? O Luiz Alves?

Riu com gosto.

— Logo quem!

Procurou com a vista o noivo da Joaninha. Lá estava encostado à porta, carrancudo, solene, seguindo-os com os olhos maus, o Luiz Alves.

— Aquele caboré (caipira feio e melancólico) desajeitado? Que coisa, Joaninha? Você é mulher pra casar com homem fino. Que é que vale o Luiz Alves? É um poaia (sem graça)! Tem sangue de barata. Só porque a empreitada dele é grande?

— E você com isso?

— Eu? Nada... mas tenho pena de ver a flor bonita do Boqueirão cair nas mãos daquele nhengo (imbecil).

E Miguel Ignácio começou a menosprezar o outro. Ia apontando à moçoila todos os defeitos do noivo. 

A música parou e o caboclo ainda tinha palavras na boca para dizer.

Logo em seguida, o Luiz Alves procurou a noiva.

— O que foi que ele lhe disse?

— Nada...

— Então por que vocês me olhavam tanto?

— A gente ‘tava pondo reparo no seu cabelo, nos olhos de você...

Luiz Alves ficou vermelho de raiva.

— Então...

Ela lhe contou tudo. Discutiram. Endossou a opinião do galanteador. E romperam o noivado. 

Dali a pouco o Miguel Ignácio viu que a Joaninha estava só.

— Como vai o seu caboré formoso?

— Não sei. Nós brigamos.

— Ora essa. Por quê?

— Você disse...

Miguel Ignácio quase caiu de tanto rir.

— Pra que isso, boba? Então você quer vir pro meu lado? Não pense que eu vou casar com moça do Boqueirão. Inda mais quem já foi noiva do Luiz Alves.

A marcha cessara. Joaninha mergulhou no quarto mais próximo, chorando.

No terreiro, os dois homens rolaram, enfurecidos. Venceu o mais forte. Era inevitável. E o Luiz Alves ficou no chão desacordado de tanta bofetada.

Miguel Ignácio virou-se para o lado, à procura do chapéu, que caíra longe, durante a luta. E a Joaninha ali estava, com os olhos cheios de lágrimas, limpando-lhe a aba com a barra do vestido.

A vida no Boqueirão continuou a correr. Não sei se o compadre Fabiano (era um santo homem, o compadre Fabiano) deu outra vez uma festa daquelas. Só sei que o Miguel Ignácio casou-se com Joaninha. Tem já quatro caboclinhos, dizem. Eu conheço somente o mais velho. Chama-se Luiz. E é ainda mais barulhento que o pai.

Fonte:
Disponível em Domínio Público
Newton Sampaio. Ficções. Secretaria de Estado da Cultura: Biblioteca Pública do Paraná, 2014.

Exposição da AVIPAF: Vida uma passagem só de ida (Poesias) – 5, final –

 

Realizada pela AVIPAF, Academia Virtual Internacional de Poesia, Arte e Filosofia
Local: Feira do Poeta de Curitiba.
Duração: 23 de julho/23 à 25 de Setembro/23.

Curadoras: Isabel Furini e Elciana Goedert.
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Sheina Leoni Handel
AVIPAF | Cadeira 48
Patrono | Mario Benedetti

OS MISTÉRIOS DA VIDA II

A vida nos dá surpresas
entre toques de mistério,
às vezes somos poetas
peregrinos junto ao vento,

estamos absorvendo cartas,
e viajamos pelos sonhos,
junto à natureza,
cores e sentimentos,

que nos escovam com cautela,
sob esse céu escuro
decorado por estrelas,
em respeitoso silêncio,

inspiração que nos beija,
entre milhões de versos,
com sua magia e encantamento,
brilham em nossa existência;

misturando-se em nós,
enquanto o dia começa.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Solange Chemin Rosenmann
AVIPAF | Cadeira 21
Patrono | Érico Veríssimo

VIDA

Vi dar
O ar que respiro
O sangue que me colore
O brilho do olhar

Vi dar
A esperança do sol que há de raiar
As fases da lua que hão de chegar
O movimento da água que está há bailar

Vida
Que chega
Logo se esvai

Vida
Que num sopro vem
Tem pó, magia de tempo, vai.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Sonia Cardoso
AVIPAF | Cadeira 30
Patronesse | Cora Coralina

VIDA: PASSAGEM SÓ DE IDA

Um desabrochar
De luz e de treva
Para alguns verdejante

Relva, para outros brumosa
Tempestade, linha ascendente
Que não admite retrocessos

Um escalar constante
No tempo, até
O derradeiro adágio.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Vanice Zimerman
AVIPAF | Cadeira 16
Patrono | Mario Quintana

ETÉREA DESPEDIDA

Teu olhar em tons de verde
Cintila entre as flores de mel
Num devaneio de Cronos -
Encontramo-nos
E, em outonais nuances
Tuas manhãs e tardes
Passaram a fazer parte
Da minha da janela
Dos meus dias...
Enquanto,
Ao som dos sinos de vento,
Pouco a pouco
Tuas sete vidas pincelaram
Qual surreal mosaico de imagens -
Memórias dos lugares que viveu
Suave e etérea despedida -
Uma saudade, uma lágrima
Que se aquieta em tua fotografia…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Vera Lucia Cordeiro
AVIPAF | Cadeira 15
Patrono | Fernando Pessoa

VIDA: UMA PASSAGEM SÓ DE IDA

Repare na vida
da linda e gentil borboleta.
Tão efêmera!
Mas intensa e gloriosa!
Na natureza é preciosa!

Sigamos seu exemplo!
Ela faz valer a pena cada segundo de seu viver.
Assim também façamos
com que nossa vida seja leve e serena,
repleta de Amor, Paz e Gratidão!
Numa grandiosa passagem só de ida,
uma explosão de luz,
que reproduz este espetáculo que é a Vida!

Fonte:
enviado por Isabel Furini

Wanderley Dias Jr. (Sovaco ilustrado)

Paranaguá antigamente

José Wanderley Dias faz parte da história da nossa centenária Econômica Federal, à qual serviu por quase quarenta anos. Nesse convívio, amealhou a amizade, o respeito e a admiração de toda a classe.

Muitos foram os seus ensinamentos, alguns só compreendidos anos depois, e outros tantos a serem ainda decifrados...

Wanderley Pai nunca foi de fazer pose, ao contrário. Simples, jamais deixou que os degraus galgados ao longo da sua vida subissem à cabeça. Alegre e bonachão. Sempre com o anedotário em dia, fez da vida uma canção de amor junto à sua eterna companheira Neuza.

Fumou muito, durante vários anos. Com o primeiro enfarte, divorciou-se do cigarro. Beber, nem pensar - quando muito uma Coca diet, após suculenta feijoada, brincando que era para não engordar.

Assim era o Wanderley. Cristão convicto, gente acima de tudo, sem vícios, de hábitos saudáveis. Caminhava bastante, lia muito, até os anúncios, tendo na coleção de erros de imprensa o seu hobby predileto, aliás curiosa e divertidíssima. Paizão, amigo, companheiro de todas as horas, todos os momentos. Tive dois privilégios a mais do que meus irmãos; o fato de eu ser o primogênito e, assim, ter convivido um pouco mais do que eles com Neuza e Wandeerey; ter tido o pai, nosso mestre de vida, também como professor na faculdade - FAE. Suas aulas eram puro sentimento, os exemplos vinham dele próprio, na sua vivência cristã de um homem atento a tudo o que se passava. Com ele todos aprendiam. Também dava o peixe, mas, com certeza, ensinou a pescar durante toda a sua vida...

Na Caixa também era assim. Aliás, na vida, no seu dia-a-dia ele era assim. Um dos raros momentos em que deixou transparecer sua raiva, foi quando um imbecil daqueles que acha que cada qual tem o seu preço, saiu-se com uma proposta indecorosa para o velho. A cortada veio imediata, definitiva, mas mesmo assim o idiota sentiu-se no direito de aumentar a "oferta". 

Naquele dia a antiga sede da CEF , um predinho de cinco ou seis andares onde acha-se erguido o atual Edifício-Sede (Praça Carlos Gomes), tremeu. Wanderley, forte de espírito e também fisicamente, levantou a "figura" jogando-a porta afora com divisória e tudo. Foi um arraso!

A gente começa a falar da mãe e do pai e viaja na mente e no coração (e que somos filhos-coruja, modéstia a parte, com sobra de razão para isso!). Mas voltemos ao título.

O pai viajava muito pela CEF e numa descida a Paranaguá, sabendo de que lá os apelidos proliferam, perguntou aos colegas qual era o dele. O gerente local mostrou-se em situação desconfortável, ao que o então diretor da carteira hipotecária da Caixa no Paraná reiterou: "Qual o apelido que os irmãos parananguaras me deram?" A resposta veio tímida: "Sovaco Ilustrado, doutor. Desculpe!"

Foi uma gargalhada só. Era comum ver Wanderley Dias com uma pilha de jornais e revistas em baixo do braço, daí o apelido certeiro. 

Memórias da Caixa de outrora. Lembranças da vida. Saudades do "Sovaco Ilustrado" e de sua musa.

Fonte:
300 Histórias do Paraná: coletânea. Curitiba: Artes e Textos, 2004.