sábado, 10 de outubro de 2020

Varal de Trovas n. 403

 


Silmar Böhrer (Croniquinha) 10

Neste mundo velho sem porteira - como diz um amigo - são constantes os reclamos de que já não é mais como foi "antigamente " - tanta bandalheira, preconceito, desfaçatez, desrespeito, vida à deriva. Parece verdade que isto é coisa dos nossos dias.

Nas pesquisas para os anais da Academia Caçadorense de Letras sobre "Fatos Históricos de Caçador", achamos um "achado", pequeno livro publicado por autor caçadorense, cujo título é NOSSO MUNDO TÁ VIRADO (Edição do Autor, 1946).

E o mensageiro escreve com verve e linguagem totalmente sáfara, inculta, popular. Domínio de proseador: " Nosso mundo tá virado / anda de pata pro á, / assim há muito tempo / eu vejo o povo falá. / Já preguntei pra muitos, / ninguém sabe me contá / proquê que o mundo / anda de pata pro á ".

Leio, releio, me enleio, permeio ideias e reflito: nosso mundo natural é sempre o mesmo, com suas mutações cíclicas. O que muda com constância é a cabeça do habitante comumente devastador - o bicho-homem.

Por que será que as coisas boas não perduram ?
Por que o avanço traz retrocessos?
Estou mal das ideias, algum abcesso ?
Mundo mau, quero recesso !

Fonte:
Texto enviado pelo autor

Carolina Ramos (Paixão à Primeira Vista...)



Foi mesmo assim, paixão à primeira vista. Sempre pensei que isso não existisse!

Aconteceu numa tarde, quando eu encerrava as compras natalinas daquele ano. Olhei para ele, ele olhou para mim e os sininhos tocaram! De ambos os lados, talvez? Incendiaram-se os meus sentidos! O verbo ter sobrepujou qualquer outro. Mas, não cedi à tentação, prontamente. Continuei a caminhar sem pressa, examinando, com cuidado exagerado, mercadorias que, por certo, não seriam compradas — demonstrava até certo alheamento pelo que, realmente me interessava.

Caminhei pela grande loja encantando os olhos, fascinada pelas luzes, cores e brilhos que a cada ano despertavam o espírito natalino, transportando almas para um mundo diferente onde, só em dezembro, todos falavam a mesma língua.

Depois de andar à roda, fechei o círculo em frente a ele. E, aí, não deu para esconder, nem disfarçar o meu real interesse.

Fitamo-nos olhos nos olhos e, sem mais ponderações, capitulei — aquele Papai Noel de três palmos de altura, cabelos longos, barbas branquinhas e vestido com requinte, seria meu, sem importar quanto custasse, mesmo porque, com a chegada da bisneta, qualquer quantia seria válida para comprar-lhe um sorriso.

O olhar azul do Bom Velhinho fixou-se no meu, cativando-me em definitivo. Quase voltei a ser criança quando, ao pressionar um botão, ouvi novamente soarem os sinos, a modular canções natalinas enquanto o boneco movia cabeça e braços ao ritmo das melodias. Numa das mãos, um saco de presentes e, na outra, uma lanterna acesa.

Que festa, voltar no tempo e sentir renascer as mesmas ingênuas emoções outrora sentidas!

Um Pai Noel como aquele não poderia faltar numa Noite de Natal em que um pequenino anjo, redundantemente chamado Ângela, fazia seu debut natalino.

Foi mágico o instante em que Angela pousou seus olhos no Papai Noel surpreendente, que se mexia e tocava sininhos invisíveis! Fascinação total! Tanto por parte do anjo, de apenas dez meses de idade, como dos que, enlevados, observavam a cena!

Findo o êxtase, difícil foi estabelecer limites protetores que preservassem a integridade do Bom Velhinho indefeso, exposto à curiosidade exacerbada de duas mãozinhas indóceis. No primeiro descuido, a lanterna trocou de dono, indo parar nas mãos angelicais, que quase a destruíram!

Passados os ecos do Natal, o Dia de Reis exigia que os vestígios natalinos desaparecessem nas caixas, nas gavetas e nos armários. A árvore tradicional, despida de luzes e enfeites, galhos dobrados, sumiu numa caixa comprida, no alto de um armário. O presepe, com carinho desmontado. As velas e os arranjos típicos, que enfeitavam mesas e móveis das salas, recolhidos.

Faltava ele! Só o Papai Noel, com suas barbas branquinhas e lanterna em punho, permanecia no posto, à espera de outra visita de Angela, para que o visse, uma vez mais, antes da sua forçada hibernação até o Natal vindouro.

Passaram-se quinze dias...e… Ângela não veio! Por várias vezes, ao me sentir solitária, acionei aquele botão mágico que me deliciava com melodias escolhidas para prolongar as emoções recentes do que poderia ser, quem sabe, meu último natal.

Questionei-me: — Por que me apegara tanto àquele Papai Noel tão meigo?! Por que não o doara, definitivamente a Ângela, já que evidentemente o comprara pensando nela?! As respostas não foram tão fáceis quanto as perguntas. Tentei justificar-me perante mim mesma; — Talvez porque, inconscientemente, eu quisesse atraí-la para mais perto de mim, para nos deliciarmos, juntas! Ela, com a magia dele emanada. Eu, com o encantamento que as duas presenças me proporcionariam.

Olhei-me, frente a frente, e então, a verdade aflorou. Ângela, minha tão querida bisneta, fora apenas um pretexto para justificar a compra daquele Papai Noel, que um dia será dela!

Simplesmente, porque a magia daquele Velhinho trazia à tona lembranças doces de natais felizes, (tão felizes!) que nunca mais voltarão, é que o fiz descer da prateleira da loja, trazendo-o para casa!

Comprei-o, sim! Impossível negar... comprei-o para mim mesma!

E com tristeza maior... sem mais esperas, engavetei o meu Papai Noel!

Fonte:
Carolina Ramos. Feliz Natal: contos natalinos. São Paulo/SP: EditorAção, 2015.
Livro enviado pela autora.

Prof. Garcia (Trovas que Sonhei Cantar) 10


Anjo do Bem bate palmas,
mostra as mãos com seus sinais;
sê paz e perdão das almas
que encorpam nossos Natais!
- - - - - -
A solidão - dobra quando,
no fim da tarde, eu medito,
ao ver o Sol se apagando
na solidão do infinito!
- - - - - -
Beijaste a flor ressequida
e a rosa mudou de cor;
teu beijo de amor, querida,
mudou a vida da flor!
- - - - - -
De uma roseira, tão pobre,
que lindo gesto o da flor:
Perfuma a casa do nobre,
enche a do pobre de amor!
- - - - - -
Em minhas preces pequenas,
faço um pedido, e afinal...
Quero apenas Pai, apenas,
ser feliz neste Natal!
- - - - - -
Enquanto a noite se aninha,
a saudade me seduz
e a tarde, bela e sozinha
enche os meus versos de luz!
- - - - - -
Escravo, do teu assédio,
refém de tua ternura,
sofro, por não ter remédio,
para um mal que não tem cura!
- - - - - -
Esse orgulho que te ronda,
que entulha o teu peito aflito;
impede que o amor responda
aos apelos do teu grito!
- - - - - -
Hoje, eu despertei cantando,
molhando os pés no mormaço
das nuvens soltas brincando
tecendo rendas no espaço!
- - - - - -
Lembranças, são pergaminhos,
onde o tempo, por maldade,
vai rabiscando os caminhos
dos perfis da mocidade!
- - - - - -
Não temo o tempo que avança!
Envelhecer, na verdade...
É voltar a ser criança
no fim da terceira idade!
- - - - - -
O artista que a tarde pinta,
mostra aos ateus e ao descrente,
que alguém sem pincel nem tinta
pinta a dor do sol poente!
- - - - - –
O cego percebe o filho,
pelo cheiro do suor!...
Por trás desse olhar, sem brilho,
brilha um olhar, muito maior!
- - - - - -
O poeta encontra meios,
de às vezes, mesmo sozinho...
Ser feliz, sem ter receios
da solidão do seu ninho!
- - - - - -
Por descartar teus conselhos,
mas por teu beijo roubado...
Beijo os teus lábios vermelhos
no guardanapo encharcado!
- - - - - -
Por mais que outro alguém te ofenda,
mantém firme a compostura,
que a mão, do tempo, remenda
a cicatriz da amargura!
- - - - - -
Quando a tarde me entristece,
roubando a luz da razão,
pinta no ocaso uma prece
com versos de solidão!
- - - - - -
Rondando o circo do sonho,
num suspiro derradeiro,
velho, o palhaço tristonho,
diz adeus ao picadeiro!
- - - - - -
Saudade!... Eu sei quem tu és;
e em cada sonho desfeito,
fica a sombra de teus pés
tatuada no meu peito!
- - - - - -
Se a cruz redime o pecado,
seu peso nos leva á Luz...
Eu quero o peso dobrado
nos braços de minha cruz!
- - - - - –
Semeia filho, a semente
do amor, que te dei um dia!...
Que um neto meu, certamente,
há de colher alegria!
- - - - - -
Se o remorso se agasalha,
num coração descontente...
Sem gume, é velha navalha
cortando o peito da gente!
- - - - - -
Somos pobres passarinhos,
que a vida, em seus rituais,
dá-nos os mesmos caminhos
com destinos desiguais!
- - - - - -
Tempo!... ó tu, que me devoras,
não sejas ingrato assim!...
Se és tu, meu pastor das horas,
prendas as horas por mim!
- - - - - -
Vivi tão pouco ao teu lado,
mamãe! Contigo sonhei.
Devia ter te beijado
bem mais, do que te beijei!


Fonte:
Professor Garcia. Trovas que sonhei cantar. vol.2. Caicó: Ed. do Autor, 2018.  Livro enviado pelo autor.

A. A. de Assis (Maringá Gota a Gota) Grande Doutor Altino

Os primeiros jornais e revistas de Maringá tiveram o privilégio de contar com um megaelenco de colaboradores: Dom Jaime Luiz Coelho, Hélenton Borba Cortes, Mário Urbinatti, Túlio Vargas, Ademaro Barreiros, Emílio Germani, Ricarte de Freitas, Luiz Carlos Borba, Ary de Lima, Duque Estrada, Tertuliano dos Passos. E entre eles um que eu costumava chamar de Dom Altino, talvez porque o achasse com jeito de príncipe – o Doutor Altino Borba.

Paranaense de Palmeira, o Doutor Altino formou-se em Direito em 1940 pela Universidade Federal do Paraná. Veio para Maringá no comecinho da década de 1950, porém já chegou aqui com uma biografia bem substantiva. Em Curitiba, no tempo de estudante, havia sido craque de futebol (bicampeão pelo Atlético Paranaense – 1929-30), depois árbitro, cronista esportivo, e durante alguns anos funcionário da Rede Ferroviária Federal. Em Guarapuava, foi vereador, prefeito e suplente de deputado estadual.

Em Maringá, pela sua competência jurídica e notável talento como orador, logo de início conquistou a admiração da comunidade pioneira. Foi também o primeiro professor de língua portuguesa no Ginásio Municipal (precursor do Colégio Estadual Gastão Vidigal) e um dos diretores da Sociedade Telefônica do Paraná, juntamente com o empresário e depois deputado Ardinal Ribas. Nessa função, participou da implantação da telefonia automática na cidade.

Com tanta atividade, Doutor Altino ainda achava tempo para ser jornalista, poeta e apaixonado torcedor do nosso velho e glorioso Grêmio. Escreveu para todos os jornais e revistas que aqui circulavam na época e por longo tempo foi o orador do antigo Clube de Rádio e Imprensa de Maringá, cujo presidente era o inesquecível Ivens Lagoano Pacheco.

Poeta de nascença, deixou um belo acervo de trovas, sonetos e poemas livres e ajudou muito nos primeiros eventos literários da cidade. Lembro-me de um concurso nacional de trovas em que ele presidiu a comissão julgadora. Como vieram mais de mil trovas do Brasil inteiro, Doutor Altino propôs que um de nós fizesse a leitura de uma por uma, em voz alta, para que selecionassemos as melhores como finalistas. Mas qual seria o critério?

Ele explicou: “As que, ao serem lidas, provocarem um arrepio serão consideradas boas; as demais serão de pronto deixadas de lado”. Estava assim inaugurado o “arrepiômetro” como método de avaliação de poesia. E querem saber de uma coisa?... Deu certo. As dez classificadas como vencedoras eram realmente ótimas. Grande Doutor Altino.

De futebol ele gostava tanto que, num certo dia em 1966, sem nenhum rodeio, chegou em casa e perguntou a Dona Stella: “Topas ir à Inglaterra ver a Copa?”. Ela topou. Foram. Na volta ele contou tudo num livro-reportagem que fez enorme sucesso: “Maringá na Taça do Mundo”.

Amou o Grêmio até o último minuto de sua linda vida. Infartou no dia 14 de fevereiro de 1982, no Estádio Willie Davis, no momento em que o Galo do Norte fez o segundo gol contra o Internacional de Porto Alegre, na vitória por 2 a 0. Foi um dos homens mais queridos da história de Maringá.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo - Maringá – 24-9-2020)

Fonte:
Texto enviado pelo autor

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Varal de Trovas n. 402

 


Daniel Maurício (Poética) 5

 


Olivaldo Júnior (O Catador)


Fazia um frio descomunal na Cidade. Quatro, cinco horas da manhã, e lá se ia. Não era velho nem jovem. Estava ao meio da vida e à margem de si. Sussurro seu nome, mas ele não ouve. Nem a ninguém, nem a mim. Sua única preocupação é passar a madrugada nas ruas fazendo o menor barulho possível. Assim, é fácil catar o lixo das casas, que dormem, sonham, esperam o dia. Para ele, o dia não vem. Quando chega, está em casa, na cama, coruja humana que só vai despertar com o primeiro raio lunar em seu rosto. Então, como se fosse um artista, paramenta-se todo e, com a cara limpa, palhaço às avessas, conversa com o cão que cria com restos de janta e se vai. Logo, não é nem mais visto com seu carrinho de lata, com sua cara de quem já teve outra vida. Vivo, fareja a sucata que pode lhe dar um pão mais quentinho, um leite mais puro no dia seguinte. Tento esperá-lo, mas o sono me vence e nunca o encontro. Triste, me deito e, de vez em quando, num sonho qualquer, lá está ele, o catador que se infiltra nas latas de lixo, em nossas calçadas, no vão das lixeiras, em busca de... Não, não pode ser! Detrás de seu rosto, outro rosto se vê! Não, não pode ser!... O catador de meus sonhos, quem diria, sou eu!

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Vivaldo Terres (Poemas Escolhidos) XVI


AMOR PURO

Meu amor, tu pensas e até às vezes me dizes,
Que o amor, não sendo puro, em si, não cria raízes.
Foi pensando nestas frases, no teu modo de expressar,
Que acabei acreditando que o amor, não sendo puro,
Não chega a germinar.

Mas o nosso amor, querida, tu sabes o quanto é seguro,
Nosso amor é o mais belo,
E o maior amor do mundo.

Graças a Deus te encontrei,
Quando mais eu precisava,
Tu vieste em meu socorro,
Quando tudo em mim faltava,
A mim deste carinho, ternura e compreensão,
Falando coisas tão lindas que alegrou-me o coração.
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ESTOURANDO DE SAUDADE


Vivo a sonhar!
Um sonho que jamais...
Tornasse-a realidade!
Sendo assim morro...
Com o peito estourando de saudade.
Daquela que amei e me deixou.

Minh̛̛ alma e o meu coração.
Já não comportam...
Tanta dor!

Pelo seu gesto brusco e repentino!
Ando no mundo qual um peregrino.
Que já perdeu a esperança no amor!

Ah! Como era belo!
Quando ainda sonhava...
Que tinha encontrado,
Um tesouro valioso!
Pois para mim,
Ela era esse tesouro...
Que me deixava feliz e encantado.
E era eu um eterno apaixonado!

Hoje somente a tristeza impera!
Nesse coração e nessa alma errante.
Que mesmo sem mais esperança!
Seu nome não me sai da mente.
Nem por um instante.
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O TEMPO VAI PASSANDO


Persegue-me infindável
A boca linda e falsa
E com o belo sorriso
Engana a quem ama
Ferindo o coração

E a alma já cansada
Destruindo os sonhos
E matando o amor
Com todo o seu rigor

E o tempo vai passando
E a alma ainda acreditando
No seu belo sorriso
E palavras de carinho
Mas quando descobre
Que está sendo traída
O que ouvia era mentira
E não existia o amor

Aconteceu comigo
Na bela juventude
Conheci alguém
Que dizia me amar
Com seu sorriso, e sua linda boca
E com seu beijo divino
Me fez delirar

Apesar do tempo
Não queria lembrar-me
Do que passou
E de quem me enganou
Mas infelizmente
O coração a tudo gravou
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SENTIDAS LÁGRIMAS


Quando a tristeza nos fere a alma
E a saudade ataca o coração,
É resultado de um amor distante
Que no passado
Nos deu alegria.
E ao nos deixar
Causou decepção.
 
É nos lembrar
De tempos tão queridos,
Onde a tristeza não aparecia,
Nem pensávamos em saudades,
Pois este amor,
Estava conosco todos os dias.

Hoje ao revermos cartas
Ou presentes.
Que nos fora dado,
Pela pessoa amada.
A saudade aumenta velozmente,
Ao revê-las enche-nos os olhos
De sentidas lágrimas.

Fonte:
Poemas enviados pelo poeta.

Luís da Câmara Cascudo (Carro Caído)


O negro vinha da Aldeia Velha, servindo de carreiro. O carro tinha muito sebo com carvão nas rodas e chiava como frigideira. Aquilo não se acaba nunca.

Sua Incelência já reparou os ouvidos da gente quando está com as maleitas? Pois, tal e qual.

O carreiro era meu charapim (xará): acudia pelo nome de João, como eu.

Deitou-se nas tábuas, enquanto os bois andavam para diante, com as archatas merejando (escorrendo) suor que nem macaxeira encruada.

Levavam um sino para a Capela de Estremoz.

Na vila era povo como abelha, esperando o brônzio para ser batizado logo.

João de vez em quando acordava e cutucava a boiada com a vara de ferrão:

- Eh, Guabiraba!, eh, Rompe-Ferro, eh, Manezinho!

Era lua cheia.

Sua Incelência já viu uma moeda de ouro dentro de uma bacia de flandres? Assim estava a lua lá em cima.

João encarou o céu como onça ou gato-do mato. Pegou no sono, e o carro andando...

Mas a boiada começou a fraquejar, e ele quando acordava, zás! - tome ferroada!

Os bois tomaram coragem à força. Ele cantou uma toada da terra dos negros, triste, triste, como quem está se despedindo. Os bois parece que gostaram e seguraram o passo.

Então ele pegou de novo no sono.

Quando acordou, os bois estavam de novo parados.

- Diabo!, e tornou a emendá-los com o ferrão!

A coruja rasgou mortalha. João não adivinhou, mas a coruja era Deus que lhe estava dizendo que naquela hora e carregando um sino para a casa de Nosso Senhor não se devia falar no Maldito.

Gritou outra vez:

- Diabo!

O Canhoto então gritou do Inferno:

- Quem é que está me chamando?

João a modo que ouviu e ficou arrepiado. Assobiou para enganar o medo; tornou a cantar a toada, numa voz de fazer cortar o coração, como quem está se despedindo.

Pegou ainda no sono uma vez. A luz da lua escorrendo do céu era que nem dormideira!

Quando acordou - aquilo só mandando! - a boiada estava de pé.

- Diabo!

O Maldito rosnou-lhe ao ouvido:

- Cá está ele!

E arrastou o carro para dentro da lagoa com o pobre do negro, os bois e tudo. Ele nem teve tempo de chamar por Nossa Senhora, que talvez lhe desse socorro.

Mas ainda está vivo debaixo d'água, carreando...

Sua Incelência já passou por aqui depois da primeira cantada do galo no tempo da Quaresma? Quando passar, faça reparo: – canta o carreiro, chia o carro, toca o sino e a boiada geme...

Fonte:
Luís da Câmara Cascudo. Lendas Brasileiras para Jovens.

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Varal de Trovas n. 401

 


Arquivo Spina 16 (José Feldman)

 


Aparecido Raimundo de Souza (Coriscando) 1: Se Eu Contar, Ninguém Acredita

 


FUI BUSCAR MEUS AVÓS na rodoviária e, quando chegamos na portaria do prédio onde eu morava com minha família, ao procurar pelas chaves (havia esquecido principalmente a da entrada do edifício), toquei o interfone. Na primeira e segunda vez, ninguém deu sinal de vida. Insisti e, finalmente, na sexta vez, a Francisca, nossa empregada, atendeu, afobada:

— Quem é?

— Abre, Francisca.

— Quem é?

— Eu...

— Eu quem?

— Troncoso

— Ok. Abriu?

— Não...

— Abriu?

— Não...

— E agora?

— Abriu.

Neste interregno, entre o chato indigesto e causticante do abre e o não abre do mecanismo ao ser acionado, meu avô Serafim (lá do interiorzão de Andirá, no Paraná), exumou da sua cabeça branca um velho ensebado e surrado chapéu de palha, se virou para minha avó Lucinda e observou, muito sério:

— Tá vendo, amor? Vê se pode! Nosso neto pensa que somos besta. Espia! Está falando com a parede.
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Nota: Coriscando é o título alusivo a série de contos/crônicas de Aparecido Raimundo de Souza, que hora se inicia, referente a Corisco (faísca, brilho instantâneo), por serem muito breves. Nome sugerido pelo autor do blog, ou seja, eu, José Feldman.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Cecim Calixto (Cajado de Sonetos) VI


CADÊNCIA E RIMA

E com razão eu idolatro a musa,
Por ela eu tenho excepcional encanto.
Se alguém a enfrenta em formação confusa
Sofre o reverso e se debruça em pranto.

Quando tropeço tenho logo a escusa,
Recebo aplausos quando é belo o canto.
E quando a quero ela jamais recusa
E a gentileza é de causar espanto.

Não deixarei esta paixão genuína,
Pois seu carinho é de elegância fina
Na conclusão do pensamento extremo.

Brado ao sentido que do peito arranco,
Uso a textura e a divergência tranco
Para elevá-la ao pedestal supremo,
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ELA GOSTA DE MIM

A inspiração está chegando intensa
E como sempre com perfil prendado.
E a pena minha satisfeita pensa
Que novamente vou sair premiado.

Por ela meu amor torna-se crença,
Por isso a cuido com denodo agrado.
Se está comigo não permito a ofensa
Nem no esmerado verso algum quebrado.

Ela merece o pedestal da glória
E é dela toda singular história
Da perfeição que vou lhe dar um dia.

Esta humildade se tornou tão franca
Que desfraldei minha bandeira branca
À santa guerra à prosa sem poesia.
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ETERNAMENTE VIVO

O nome Dela me enternece ainda
E traz a paz da qual viver consigo.
E Ela percebe que será bem-vinda
Com todo ardor de verdadeiro amigo.

O amor primeiro é a estação mais linda
No calendário que a cultuar prossigo.
Reminiscência que o passado brinda
O coração de quem lhe deu abrigo.

É na velhice que a saudade aponta
Certo ciúme não levado em conta
Pela indulgência carinhosa e boa.

Certas lembranças de tamanho gosto
Trazem rubores ao vetusto rosto
Se as confidências o presente entoa.
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FORA DA VEZ


Ela me disse: "Você que escreve, Cecim, faça
Agora algo, olhando para mim,
Sobre o final da vida


A tia Zaine, extremamente terna,
Tem o segredo de acolher família.
E no seu rosto a floração materna
Ressalta o olhar que de ternura brilha.

Mostra carisma na oração fraterna
E nos conselhos o esplendor da trilha.
Aos descendentes, na razão moderna,
Transmite agrado que a emoção fervilha.

O seu pedido atenderei depois...
Saiba, querida, que terá nós dois
Sempre ao seu lado, sem dizer-te talvez!

A nossa vida está ligada à sua
E o seu recado no meu senso atua,
Porém... espere... não chegou a vez.
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SAGRADA MISSÃO


Às delicadas mãos de um padre amigo
Eu fiz chegar um livro meu versado.
Certeza eu tinha, não daria abrigo
Às más versões meu espontâneo agrado.

Escrevo verso no modelo antigo:
Cadência e rima sem nenhum enfado,
E a presenteá-lo, com prazer, prossigo
A quem cultua esse pendor amado.

Com devoção nesta missão eu sigo
Porque recebo onde plantar o trigo
E a terra boa que à colheita induz.

Bem certo estou de que o cristão aceita
E está comigo na missão perfeita
De expor o verbo da divina luz.

Fonte:
Cecim Calixto. Flores do meu cajado: sonetos. Curitiba: Juruá, 2015.

Sammis Reachers (Como Quem Guarda uma Cidadela)


Fiz o bolo preferido dele, chocolate com recheio de chantilly. Todo ano eu faço seu bolo. Meu bebê. Que Deus cuide de você, meu anjinho!

Acordei cedo pra limpar o quarto dele. Avisei à dona Eurásia que não trabalharia; ela, cada vez mais velhinha e dependente, me pareceu entristecida ao telefone, mas entendeu. Sempre entende, desde o primeiro ano. Troquei a roupa de cama, passei pano no chão. Peguei pra lavar o velho boné da Porto da Pedra, onde ele era ritmista. Não era muito do samba, mas dizia que participava em memória do pai, um dos fundadores da escola, com quem só conviveu até os sete anos, que a cachaça o levou.

Hoje é o Dia Onze de Agosto, o principal dia da vida, o principal dia desse mundo morno. O dia do meu meninão. São oito anos que choro este dia, comemoro, me esparramo por dentro. Há oito anos que meu único filho, Godrigo, saiu de casa para se divertir. Iria a um baile funk, uma desgraça de baile funk, mas ele gostava. O baile era do outro lado da Baía de Guanabara, na cidade do Rio. Bairro de Vila Kennedy. Tanto baile aqui nos bairros de São Gonçalo, na Covanca, no Salgueiro... Foi sozinho, que meu menino era assim, tinha seus defeitos, mas não era de andar de patota.

Todos os anos, em janeiro e setembro, vou até a 34ª Delegacia Policial, em Bangu. Nunca há informações sobre o caso; mas não desisto, sou mãe, sou a persistência. Um dia o caso se esclarecerá... Ser mãe é não ter opção.

Na delegacia os policiais mudam, mas não o destrato. Devem aprender na academia, se é que isso existe. Ou desaparecidos há muitos, e eles já não se importam. Quem sabe é a velha norma pátria, a reação à cor de nossas peles, que define a saudação, seja sorriso, seja disparo, que se colhe?

Nos olhares arredios, de desinteressados a cínicos, percebo que querem, anseiam por dizer, ainda que num jato de vômito: “Seu filho está morto, dona. Pare de nos aporrinhar”. Mas não dizem. E que diferença faria? Sem corpo não há evidências, e eu mantenho minha esperança como quem zela pela própria honra, como quem guarda uma cidadela.

Quando faço café pela manhã, oito anos, meu Deus!, ainda me pego distraída, colocando pó suficiente para dois cafés. Um dia talvez ele entrará por aquela porta, e poderá estar sujo, fedido, esfarrapado; pode vir sozinho ou já com uma família, com um neto. Eu vou esperar. Um dia depois do outro.

Num sábado em maio, na véspera do Dia das Mães, fui a uma reunião de mães de desaparecidos. Lá ganhei um livreto de informações sobre a ONG que promovia o encontro, e no livrinho havia muitas frases sobre o que é ser mãe. Muitas delas tão bonitas que cheguei a decorar, e vou bordar num pano de prato para deixar na cozinha.

Em meio a tantas frases bonitas, uma ali me perturbou. Achei triste, mas depois entendi, alguma coisa em mim entendeu. E aquilo foi estranho, aquela frase me deu força, me amamentou. A frase é de uma pessoa chamada Maeterlink, não sei se homem ou mulher pois dela nunca ouvi falar: “As mulheres jamais se cansam de ser mães: embalariam até a Morte, se ela viesse dormir em seus joelhos.”

É difícil de entender. E ao mesmo tempo é isso.

Com o tempo uma mãe sozinha como eu, “viúva de pai e filho”, a quem o mundo lá fora tanto fez para apequenar, sem perceber vai ficando tão maior que a morte que quando dá por si já não a teme; vai cabendo nela que a morte não pode lhe arrancar o estado de mãe. Mesmo doído, o coração se agiganta, passa por sobre a morte e suas aparências como um trator.

Vivo ou morto, meu filho é eterno. Tudo se resume a uma medida de distância.

Uma mãe é tão maior que a morte que chego a sentir verdadeira piedade dos que não me entendem, dos que meneiam a cabeça quando me veem passar; sinto mesmo uma profunda pena desses que sentem essa tão rasa pena de mim.

Fonte:
Texto enviado pelo  escritor.

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Varal de Trovas n. 400

 


Rudyard Kipling (Como o Camelo Ganhou a Corcova)


No início dos tempos, quando o mundo era tão novo, e tudo o mais, os animais mal estavam começando a trabalhar para o homem, havia um camelo que vivia no meio de um deserto dos lamentos, porque não queria trabalhar; além disso, ele próprio era um lamentável absurdo. Comia galhinhos, espinhos, plantinhas, doído de tão preguiçoso; quando alguém falava com ele, só dizia:

- Uma ova! - só isso - uma ova! - e nada mais.

Uma manhã de segunda-feira, o cavalo chegou para ele, sela às costas e freio na boca, e disse:

- Camelo, ó camelo, venha aqui trotar conosco.

- Uma ova! - disse o camelo - e o cavalo foi embora e contou para o homem.

Veio o cachorro, com uma vareta na boca e disse:

- Camelo, ó camelo, venha aqui catar conosco.

- Uma ova! - disse o camelo - e o cachorro foi-se embora e contou para o homem.

Depois veio o boi, com uma cangalha no pescoço e disse:

- Camelo, ó camelo, venha aqui arar conosco.

- Uma ova! - disse o camelo - e o boi foi embora e contou para o homem.

No fim do dia, o homem chamou o cavalo, o cachorro e o boi e disse:

- Três, ó três, lamento muito por vocês (nesse mundo tão novo-e-tudo-o-mais); mas aquela coisa-ova no deserto não consegue trabalhar, senão já estaria aqui agora. Por isso, vou deixá-lo sozinho lá e vocês vão ter que trabalhar dobrado para compensar.

Isso deixou os três furiosos (naquele mundo tão novo-e-tudo-o-mais) e foi um palavrório, uma confusão, um comício escandaloso na beira do deserto. O camelo veio mascando uma mamona, doído de tão preguiçoso e ficou rindo deles. Depois disse:

- Uma ova! - e foi-se de novo.

Veio chegando o Djinn que reinava sobre todos os desertos, rolando numa nuvem de poeira (os Djinns sempre viajam assim, porque é magia), e parou para um palavrório e um comício escandaloso com os três.

- Djinn de todos os desertos - disse o cavalo - pode alguém ser tão preguiçoso, nesse mundo tão novo-e-tudo-o-mais?

- Certamente que não - disse o Djinn.

- Bem - disse o cavalo - tem uma coisa no meio do deserto dos lamentos (e ele é o próprio lamentável absurdo) com um pescoço comprido e pernas compridas, que não moveu uma palha de trabalho desde a manhã de segunda-feira. Ele nem trota.

- Puxa! - disse o Djinn, dando um assovio - é o meu camelo, por todo o ouro da Arábia! O que é que ele diz disso?

- Ele diz "uma ova!" - disse o cachorro - e nem pega nem carrega.

- Ele diz alguma outra coisa?

- Só "uma ova!" e ele nem ara - disse o boi.

- Muito bem - disse o Djinn - eu vou ovacioná-lo, se vocês fizerem a gentileza de esperar um minuto.

O Djinn se enrolou no seu casaco de poeira, determinou sua posição no deserto e achou o camelo doído de preguiça, olhando seu próprio reflexo numa poça d'água.

- Meu amigo comprido e borbulhante - disse o Djinn - que é que eu ando ouvindo de você não querer trabalhar, nesse mundo tão novo-e-tudo-o-mais?

- Uma ova! - disse o camelo.

O Djinn sentou-se, queixo na mão, e começou a pensar numa grande magia, enquanto o camelo continuou olhando seu reflexo na poça d'água.

- Você fez os três trabalharem dobrado desde a manhã de segunda-feira, só porque fica doído de preguiça - disse o Djinn - e continuou pensando magias, com o queixo na mão.

- Uma ova! - disse o camelo.

- Eu não repetiria isso, se fosse você - disse o Djinn - você pode falar demais da conta. Bolas, eu quero que você trabalhe.

E o camelo disse:

- Uma ova! - de novo.

Mas logo que falou, viu suas costas, das quais tinha tanto orgulho, estufando, estufando, até virar uma enorme corcova.

- Viu só? - disse o Djinn - foi a sua própria preguiça que você trouxe como um peso às suas costas, por não querer trabalhar. Hoje é quinta-feira e você não trabalhou nada desde segunda, quando começou o trabalho. Agora, você vai trabalhar.

- Como é que eu posso - disse o camelo - com essa corcunda nas minhas costas?

- Foi de propósito - disse o Djinn - porque você faltou esses três dias. Agora você vai poder trabalhar três dias sem comer, porque você vive da sua corcunda-uma-ova, que vai ser sua corcova; e nunca diga que nunca fiz nada por você. Saia do deserto e vá com os três, comporte-se. Corcove-se!

E o camelo corcoveou-se, corcova e tudo, e foi juntar-se aos três. E desde aquele dia, o camelo sempre teve uma corcova-uma-ova (a gente chama de corcunda, hoje, para não magoá-lo, lembrando "uma ova!"); mas ele nunca compensou os três dias que faltou no começo do mundo; e até agora ainda não aprendeu a se comportar.

2º Concurso de Trovas da UBT-Recife – Humorísticas (Trovas Premiadas)


Tema: TRAIÇÃO

1° Lugar
Pergunta, a beata ao padre,
no meio da confissão:
- Se o Tonho é meio compadre,
conta meia traição?
NÉLIO BESSANT
Pindamonhangaba/SP
- - - - - –

2° Lugar

O vírus que o mundo arrasa,
para a esposa, é salvação:
com marido preso em casa,
acabou-se a traição!
RENATA PACCOLA
São Paulo/SP
- - - - - –

3° Lugar

Pôde o galo descobrir
que traição, houve de fato,
vendo a ninhada eclodir
toda com bico de pato.
DULCÍDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO
Juiz de Fora/MG
- - - - - -

4° Lugar

Noite e dia, a traição
tentam conter...não há como:
a babá “pega” o patrão
e o patrão “pega” o mordomo!
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Miguel Pereira/RJ
- - - - - -

5° Lugar

O cara, ao temer traição
trancava a mulher, cabreiro,
mas não prestava atenção
na rotina do chaveiro.
JERSON LIMA DE BRITO
Porto Velho/RO
- - - - - -

6° Lugar

Toda vez que vovô some
pra traição...é uma agonia...
O velho quase não come,
mas a vassoura “comia”!
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Miguel Pereira/RJ
- - - - - -

7° Lugar

Entro em teu quarto e o primeiro
que ali vejo é  teu marido...
Perdoe-me se fui grosseiro
mas eu me senti... traído!...
JOSÉ OUVERNEY
Pindamonhangaba/SP
- - - - - -

8° Lugar
O azar da traição foi duro!
e sem desculpa sequer...
"Pegou"... na festa, no escuro,
a sua própria mulher...
ROBERTO TCHEPELENTYKY
São Paulo/SP
- - - - - -

9° Lugar

- Já me traiste, amorzinho?
- Só quando foste prefeito,
pois não terias sozinho
os votos pra ser eleito!
RENATA PACCOLA
São Paulo/SP
- - - - - -

10° Lugar

Traição. (não tem sentido)
Exclama o amante: "Infiel!!"  
Vendo a mulher com o marido
na saída do motel.
JUAREZ FRANCISCO MOREIRA DA SILVA
Rio das Ostras/RJ
- - - - - -

11° Lugar

Manoel zurra e mostra o casco,
ao descobrir a traição
da Maria, que ama o Vasco,
mas torce pelo Mengão.
DULCÍDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO
Juiz de Fora/MG
- - - - - –

12° Lugar

Meu vizinho,  que loucura,
quando rangeu o portão,
de quatro metros de altura
pulou, em trajes de Adão.
SILVIA MARIA SVEREDA
Irati/PR
- - - - - –

13° Lugar
Traição, mas sem fuzuê,
a morte não deu em nada.
O juiz: - matou com quê?
E o traído: - com chifrada!!!
CEZAR AUGUSTO DEFILIPPO
Astolfo Dutra/MG
- - - - - -

14° Lugar

Ela fez um juramento
abominando a traição,
mas mudou de pensamento
quando viu o Ricardão.
MASSILON SILVA
Poço Redondo/SE
- - - - - -

15° Lugar

Ele a flagrou toda nua,
é traição, foi ou não foi...
Hoje, ao passar pela rua
alguém muge como boi.
CEZAR AUGUSTO DEFILIPPO
Astolfo Dutra/MG

2º Concurso de Trovas da UBT-Recife – Líricas/Filosóficas (Trovas Premiadas)


ÂMBITO METROPOLITANO (RECIFE)

Poesia, com tal brio,
corre sempre livremente.
Deságua tal qual um rio
de amor na vida da gente.
ANA LÚCIA POTTES DE VASCONCELOS
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Âmbito Estadual (PERNAMBUCO)

Tema: "Cativar é criar laços"

VENCEDORES

1º LUGAR
“Cativar é criar laços”,
é desatar tantos nós
que nos separam dos braços
sempre abertos para nós!
CARLOS ALBERTO DE ASSIS CAVALCANTI
Arcoverde
- - - - - -

2º LUGAR
Quem aos amigos confirma
ajudá-los nos fracassos,
faz valer o que se afirma:
“Cativar é criar laços”.
CARLOS ALBERTO DE ASSIS CAVALCANTI
Arcoverde
- - - - - -

3º LUGAR
“Cativar é criar laços”
que haverão de unir as vidas
e deixar, nas vidas, traços
das saudades revividas!
CARLOS ALBERTO DE ASSIS CAVALCANTI
Arcoverde
- - - - - -

4º LUGAR
Tu me disseste a sorrir:
– “Cativar é criar laços”...
E eu sem pensar no por vir,
me arrebentei nos teus braços.
MARIA DULCE DE LIMA PESSOA
Tabira
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5º LUGAR
A vida com entrelaços,
enlinha todo novelo.
Cativar é criar laços,
e enfeitar tudo com zelo.
ANA LÚCIA POTTES DE VASCONCELOS
Recife
- - - - - -

MENÇÕES HONROSAS

6º LUGAR
Na vida juntei pedaços,
E aprendi esta lição:
“Cativar é criar laços”
Nas veias do coração!
MARIA DULCE DE LIMA PESSOA
Tabira
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7º LUGAR
Disse a Rosa, em euforia:
– “Cativar é criar laços”...
mas no jardim, que ironia,
esqueceste os meus abraços.
MARIA DULCE DE LIMA PESSOA
Tabira

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NOVOS TROVADORES

Âmbito Nacional/Internacional

Tema: "Dia dos Namorados”

1º LUGAR
Simples gesto de carinho
no dia dos namorados,
o abraço torna-se ninho,
dos amores comungados.
ALICE GERVASON MARCO FERNANDES
Juiz de Fora/MG
- - - - - -

2º lugar
Meu coração é um diário
guardando amores passados
que releio, solitário,
no Dia dos Namorados.
PAULO CEZAR TÓRTORA
Rio de Janeiro/RJ
- - - - - -

3º LUGAR
O Dia dos Namorados
Para nós é todo dia.
Um ao outro devotados,
Em perfeita sintonia.
ALBANO BRACHT
Toledo/ PR
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4º LUGAR
No dia dos namorados
chorei, revivendo a dor...
Ao ver sonhos sepultados
onde jaz meu grande amor.
LUCÉLIA SANTOS
Patu/RN
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5º LUGAR
Amor, presente e carinho
são meus felizes achados,
para não ficar sozinho
no dia dos namorados...
FÁBIO SIQUEIRA DO AMARAL
Bom Jesus dos Perdões/SP
- - - - - -

MENÇÕES HONROSAS

6º LUGAR
Todo dia, o dia inteiro,
É dia dos namorados.
Se o amor é verdadeiro,
Serão dois abençoados.
MARIA EUNICE SILVA DE LACERDA
Toledo/PR
- - - - - –

7º LUGAR
No dia dos namorados
o amor em versos e prosa:
promessas de apaixonados,
carinho em botões de rosa.
ELIZABETH APARECIDA DE CASTRO MENDONÇA FONTES
Joinvile/SC
- - - - - -

8º LUGAR
No Dia dos Namorados
punge mais a relevância
dos corações separados
pelo pesar da distância.
PAULO CEZAR TÓRTORA
Rio de Janeiro/RJ
- - - - - -

9º LUGAR
O dia dos namorados
Traz em si mais fantasia
Sustentando os já casados
Com mais amor e alegria.
JOSÉ GARCIA DE SOUZA
Toledo/PR
- - - - - –

10º LUGAR
O dia doze de junho
é dia dos namorados,
dia de dar testemunho
dos casais apaixonados...
CARLOS DE SOUZA
Amparo/SP
- - - - - -

MENÇÕES ESPECIAIS

11º LUGAR
Faça do amor uma rima,
Entre sons bem aflorados;
Que os acordes sejam clima
No Dia dos Namorados.
ANA WELTER
Toledo/PR
- - - - - -

12º LUGAR
Faça desse amor poesia
Com arranjos delicados;
Entre os versos, harmonia,
No Dia dos Namorados.
ANA WELTER
Toledo/PR
- - - - - -

13º LUGAR
O dia dos namorados
É doce recordação
Para os que são bem casados
Vem somar a gratidão.
JOSÉ GARCIA DE SOUZA
Toledo/PR
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TROVADORES VETERANOS

Âmbito Nacional/Internacional

Tema: "Dia dos Namorados"

VENCEDORES

1º LUGAR
Aquele   " sim "  foi   magia
dos   sonhos  mais   encantados ,
pois  transformou  cada   dia
em "  Dia  dos  Namorados ".
MARIALICE  ARAUJO VELLOSO
São Gonçalo/RJ
- - - - - -

2º LUGAR
Nosso  amor , que  hoje  mantém
 laços  bem  perpetuados ,
 é  tão  grande   e   vai   além
do  "  Dia   dos   Namorados ".
MARIALICE  ARAUJO VELLOSO
São Gonçalo/RJ
- - - - - -

3º LUGAR
Tantos amores passados,
e hoje a solidão me invade…
No dia dos namorados
o meu presente é a saudade!
RENATA PACCOLA
São Paulo/SP
- - - - - –

4º LUGAR
O amor nos fez quase iguais
depois de estarmos casados...
Assim, cada dia é mais
um dia dos namorados.
LUIZ VIEIRA
Irati/PR
- - - - - -

5º LUGAR
No calendário do amor,
à luz dos apaixonados,
o dia... seja qual for,
é "dia dos namorados"!...
ROBERTO TCHEPELENTYKY
São Paulo/SP
- - - - - -

6º LUGAR
É Dia dos Namorados?
Confesso, nem me dei conta...
Estamos apaixonados
toda vez que o sol desponta!
JERSON LIMA DE BRITO
Porto Velho/RO

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MENÇÕES HONROSAS

7º LUGAR
Há tantos anos casados,
vivendo em paz e harmonia...
o Dia dos Namorados
não tem data, é todo dia.
JESSÉ FERNANDES DO NASCIMENTO
Angra dos Reis/RJ
- - - - - -

8º LUGAR
É "dia dos namorados"...
e a distância, por maldade,
que nos deixa separados,
cria o "dia da saudade"...
ROBERTO TCHEPELENTYKY
São Paulo/SP
- - - - - -

9º LUGAR
Quatro pessoas na cama
(dois filhos em nós grudados)...
e a gente sorri e se ama,
no Dia dos Namorados...
MAGNUS KELLY
São Gonçalo do Amarante/RN
- - - - - -

10º LUGAR
Meu "Dia dos Namorados"
é hoje... amanhã... depois...
- São frutos consolidados
de um plantio feito a dois!
JOSÉ OUVERNEY
Pindamonhangaba, SP
- - - - - -

MENÇÕES ESPECIAIS

11º LUGAR
No Dia dos Namorados,
das juras em tom solene,
que os casais apaixonados
tornem a data perene.
DULCÍDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO
Juiz de Fora/MG
- - - - - -

12º LUGAR
Nosso amor dá testemunho
do quanto estamos ligados:
todo dia é doze, é junho,
é Dia dos Namorados!
JERSON LIMA DE BRITO
Porto Velho/RO
- - - - - -

13º LUGAR
No Dia dos Namorados
eu te vi a vez primeira.
E ao dia dos “bem casados”
brindamos a vida inteira!
LEONILDA YVONNETI SPINA
Londrina/PR
- - - - - -

14º LUGAR
No Dia dos Namorados,
para que o amor se refaça,
troque os presentes comprados
por atenção... que é de graça.
MANOEL CAVALCANTE
Pau dos Ferros/RN
- - - - - -

15º LUGAR
O mundo anda muito triste
e estamos todos cansados...
Mas que bom que ainda existe
um dia dos namorados!
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
- - - - - -

16º LUGAR
Ah se pudesse a poesia
manter-nos sempre abraçados,
fazendo de cada dia
um dia dos namorados!
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
- - - - - -

17º LUGAR
É dia dos namorados
todo dia em suas vidas,
quando dois apaixonados
têm as vidas sempre unidas.
PLÁCIDO FERREIRA DO AMARAL JÚNIOR
Caicó/RN
- - - - - –

18º LUGAR
No Dia dos Namorados,
juras de eternos amantes,
apagam passos errados;
reacendem traços marcantes...
MAGNUS KELLY
São Gonçalo do Amarante/RN
- - - - - -

19º LUGAR
No Dia dos Namorados,
as flores chegaram cedo;
mas, nos ramos decorados,
teu adeus vinha em segredo.
LILIA MARIA MACHADO SOUZA
Curitiba/PR
- - - - - -

20º LUGAR
Todo aquele que é poeta
compõe versos inspirados
e com beijo os interpreta
no Dia dos Namorados.
LÓLA PRATA
Bragança Paulista/SP
- - - - - -

21º LUGAR
Respeito,  paz e harmonia,
sorte no amor, bem casados.
Para nós dois,  todo dia...
é dia dos namorados!
JOSÉ ARTHUR BASAGLIA  
São Paulo/SP
- - - - - -

22º LUGAR
Embora há tempos casados,
temos do amor, tal magia,
que o dia dos namorados
para nós é todo dia.
CEZAR AUGUSTO DEFILIPPO
Astolfo Dutra/MG
- - - - - -

23º LUGAR
Duas vidas, venturosos,
olhares apaixonados...
Celebra o casal de idosos
o Dia dos Namorados.
JESSÉ FERNANDES DO NASCIMENTO
Angra dos Reis/RJ
- - - - - -

24º LUGAR
A velhice, por magia,
   nos mantém apaixonados,
   transformando cada dia,
   no Dia dos Namorados!
ERCY MARIA MARQUES DE FARIA
Bauru/SP
- - - - - -

25º LUGAR
As doces recordações
dos dias dos namorados
amargam nos corações
dos amantes separados.
ARLINDO TADEU HAGEN
Juiz de Fora/MG

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Varal de Trovas n. 399

 


Carina Bratt (Quase)


Para Luiz Fernando Veríssimo a quem atribuíram um ‘Quase’, que ele jura de pés juntos que nunca  escreveu.
____________________

Não fosse por ele, o QUASE, eu não estaria mais aqui. Acho que em nenhum lugar. Ao menos, respirando, sorrindo, curtindo e vendo a vida em toda a sua plenitude, beleza e graça, formosura e elegância. Não fosse por ele, Meu Deus!...

Não fosse por ele, o QUASE, com a sua velhacaria e altivez, sua percepção e esperteza, sua dedicação e carinho, agora, neste momento, eu estaria sozinha, solitária, vagando feito uma peregrina desmiolada nos trópicos malditos.

Certamente, para variar, com o coração em frangalhos, batendo descompassado, desvairado, numa espécie de arritmia tresloucada, como uma palpitação desconexa, sem saber o que fazer, que atitude tomar, e pior de tudo, por qual caminho seguir, e o mais importante ainda: como ir em frente, avançar, seguir, seguir, seguir e seguir...

Exatamente: seguir. Eis o ponto. Seguir, caraca, para onde?! Foi e quero crer nisto. Foi por ele, foi por ele sim, pelo QUASE, num raro momento de conformação interior que consegui me manter em pé.

Algo, reconditado em meu interior, que deveria ter se apagado, permaneceu inalterado, intocadamente camuflado. Em nenhum momento se melindrou, nem se feriu, como aquela florzinha virgem, ainda não totalmente socializada pelo frescor de outras plantas do imenso jardim que floresce e cerca a nossa primavera de modo particular.

Todas nós temos uma primavera eterna em nossas vidas. Apenas, por questões outras, pela miopia catastrófica da nossa cegueira, não conseguimos divisar ou entrever, perceber e descortinar de uma vez para sempre, como seria o certo e o justo.

Por isso, euzinha entrava e saia, saia e entrava, numa espécie de labirinto intrínseco e despropositado. Me via alvoroçada, desordenada, confusa, balburdiada, literalmente acorrentada num semi-escuro seguindo como uma 'nômada', sem destino certo, sem saber para onde ir, tipo um barco sem rumo, à deriva, prestes a ser engolida por um mar raivoso.

O mar é um eterno ser tristonho, como uma pessoa que vive a choramingar. Furioso e malvado, o mar em seu oceano de águas, espanca as pedras do litoral que bloqueiam o seu passar. Daí, viver se lastimando para o sol radiante e o luar feérico, dizendo que não se acalmará jamais.

Neste tom de cores, as mais variadas que enfeitam meu agora mítico, confesso, não fosse por ele, repito, não fosse por ele, o QUASE prestimoso e amável, diligente e benéfico, eu continuaria encarcerada em meus medos e ansiedades, voragens e fobias, pavores e receios, deixando de perceber o mais importante: atrás de mim, logo ali, ao meu alcance (bastava me virar). Havia um milagre.

Eu não perdi  tempo. Me virei. Sem pestanejar, me virei e estava, ou melhor, percebi que havia às minhas costas um mundo envolvente, calmo, tranquilo, espetacular, me esperando, me aguardando, me vigiando, de braços abertos, apesar de meus escuros tenebrosos e de meus pavores e assombramentos, fraquezas e sobressaltos. Eis o milagre celebrado em todo o seu arrojo e, bravura, galhardaria e generosidade.   

Não canso de repetir e o farei infinitamente enquanto a vida eu tiver. Foi por ele, por ele foi, quase perdida a lembrança de tudo, incluindo a magia de eu ter regressado um passo à retaguarda. Foi por ele, sem sombra de dúvidas, que estanquei meus passos, por ele me virei e a minha estrada voltou a ser como dantes.

Asfaltada por novos sonhos, coberta por quimeras ainda não vívidas; pavimentada por esperanças e devaneios; idealidades e afigurações que nem eu mesma pensava existirem dentro de meu âmago.

De repente, como um pássaro aprisionado que o destino abriu a portinhola da gaiola, eu escapei de todos os malefícios, de todos os dissabores e corri pressurosa num mavioso voo esguio. Graças ao QUASE.

Descobri, em todas nós, meninas e mulheres, jovens e não jovens, mais hoje ou amanhã, ainda que demore o depois, não importa. Seremos beneficiadas pelo QUASE. Sempre haverá um à nossa espreita, esperando o momento certo de nos levar para cima, de nos fazer aflorar para a vida plena.

Devemos esquecer o sombrio ‘QUASE morri; QUASE caí na besteira de fechar a porta para a felicidade; o lastimoso QUASE desisti de meus sonhos; o insondável QUASE fui à ruína de minha vida inteira; o degradante QUASE me atirei da ponte buscando a morte num suicídio agourento, cruel, danoso, inevitável e decisivamente letal...’.

O suicídio em meu entendimento, é visto pelos fracos como uma luz muito forte e intensa, todavia, acesa no fim de um túnel imaginário. Quando tudo parece sombrio, devemos pensar no QUASE como uma dádiva inesperada, uma porta secreta de escape, como uma rota de fuga que se fez materializada.

‘QUASE fui, o QUASE, entretanto, me salvou.’ Em resumo, o QUASE para mim, ou melhor posto, para nós, para todas nós, deve ser sempre encarado como um alento, uma bafagem  de robustez um misto de sonhos e realidades, entusiasmos e animações, com fartos recheios de alegrias e júbilos, euforias e exultações. Me empolguei tanto com o QUASE que quase me esqueci de colocar um ponto final. Pronto. Ponto final. Domingo que vem  eu volto.

Fonte:
Texto enviado por Aparecido Raimundo de Souza. .