sábado, 21 de junho de 2008

Maria Nascimento Santos Carvalho

Sou MARIA NASCIMENTO
e por erro ou ato falho,
me esqueci, por um momento,
de acrescer SANTOS CARVALHO.

Tenho orgulho de dizer
que, entre muitas coisas boas
tive a glória de nascer
num lindo Estado: A L A G O A S.

Venho de humildes raízes,
mas a sorte generosa,
traçou minhas diretrizes
por uma estrada ditosa ...

Com seu poder sem medida,
Deus legou-me a grande sina
de abrir os olhos à vida
filha de AMPARO e MARINA.

E, me ofertou todos sãos,
como parte de um tesouro,
meus dez queridos irmãos
que para mim valem ouro.

Antônio,Telma,Angelina,
José do Amparo, Abraão,
Benedito, Carolina,
e outros nomes que virão...

Jorge Carlos, Aurelina
e, completando, o Luiz,
que a família nordestina
se é numerosa, é feliz...

O meu segundo presente,
do Bom Pai Celestial,
foi nascer, exatamente,
numa Noite de Natal.

Em que ano foi sei de cor,
mas não digo, simplesmente,
porque a idade é bem melhor
vista no rosto da gente .

Sou feliz quando me lembro
em meu rumo alvissareiro,
que, em cada mês de dezembro,
completo mais um janeiro.

A idade quem quer inventa,
mas tive sempre em meus planos,
manter, após os quarenta,
o espírito de vinte anos.

E cumpriu-se a "profecia":
Deus, como outro bom presente,
pôs em minha alma, poesia,
quando eu era adolescente...

CORURIPE foi meu berço...
Para o Rio vim embora
tendo pouco mais de um terço
da idade que tenho agora.

Com estudos incompletos,
e, ainda, quase menina,
eu vim cumprir os projetos
que o Destino me destina.

Com esforço me formei,
enfrentei muito trabalho
e anos depois me casei
com o poeta ÉLTON CARVALHO ...

As tristezas e alegrias
que a vida me concedeu,
estão todas nas poesias
que a minha verve escreveu.

E, graças ao Criador,
enriqueceram meus dias
meus livros: "Preces de Amor"
e "Batel de Fantasias"...

Como simples andorinha
que alça vôos de condor,
fiz da bagagem que eu tinha
outras "Confissões de Amor"

Alguns decênios passados,
plenos de glórias terrenas,
os meus prêmios conquistados
contam mais de três centenas! ...

Com esta Biografia,
rascunho do meu passado,
com respeito e simpatia
deixo a todos um recado ...

Seja o seu gosto qual for
Veja este site e, por fim,
leia meus versos de amor
e aprenda a gostar de mim.

Maria Nascimento Santos Carvalho (Milagres do Destino)

(Conto Poético)

Numa pequena cidade situada no Litoral Sul do Estado de Alagoas, onde eu nasci, morava uma numerosa família, cujo pai, o seu Manoel, era um pequeno agricultor que, apesar da vida sacrificada que levava, era uma pessoa muito alegre e comunicativa.
Nas poucas horas de descanso, seu Manoel , seus vizinhos sabiam que ele estava em casa porque gostava muito de cantar, principalmente a canção " Sertaneja " e as músicas do saudoso " Gonzagão ".

Como pessoa solidária que era, prestava muitos favores a quem quer que necessitasse dos seus préstimos. Sua esposa, a dona Marina, também era comunicativa, mas não encontrava nem uma "horinha" para prosear com suas amigas porque seus afazeres não lhe davam tempo nem para pensar, pois, quando não estava cuidando de um filho pequeno estava esperando outro. E, assim , acabou gerando um time de fotebol, juiz, assistentes e parte da torcida, uma vez que teve 17 filhos.

Eu era a melhor amiga da família, principalmente de seus filhos : brincávamos juntos, saíamos juntos, partilhava com eles alegrias e tristezas... Éramos iguais até na pobreza, e eu, pela amizade que nos unia, fazia parte de suas vidas.

Um dia, chegou na pequena cidade, o senhor Ladislau, um moço muito educado, para trabalhar numa das poucas Repartições Públicas da Cidade. Era o habitante mais bem vestido e perfumado que já havia colocado os pés no lugarejo. Todos o respeitavam, não só pelo posto que ocupava , mas, principalmente pelo seu irrepreensível comportamento.

Numa tarde, quando seu Ladislau passou pela porta de seu Manoel, todo garboso dentro de seu terno impecavelmente branco e engomado, o senhor Firmino, um vizinho ignorante e reconhecidamente mexeriqueiro e preconceituoso comento quase sussurrando : " ... Ele anda assim como um almofadinha porque é "diretô da Coleturia Federá " e sorrindo, exibindo o seu desfalque dentário, falou : " dizem que esse "nego" tombém é pueta, faz histora de pescadô e é adevogado...E pondo ainda mais veneno na voz, piscou um olho e disse, maldosamente : "deve ser o adevogado mais preto do mundo, pur isso veio dá com os costados nesse fim de mundo onde o Judas perdeu as botas "...

Revoltada com a discriminação , uma das filhas do casal, MARIA, como tantas outras Marias que nascem e morrem todos os dias, disse afrontosamente : " Eu sou preta e nem sei o que um adevogado faz, mas quando crescer vou ser adevogada e andar bem vestida e cheirosa como o seu Ladislau..."

Todos os presentes, até seus pais, estericamente, deram gargalhadas pelo absurdo que, segundo eles, haviam acabado de ouvir.

Como poderiam acreditar naquela "bobagem" se na cidade não havia nem escola com Curso Ginasial ? Mas Maria que até então nem sonhava ultrapassar o curso primário, deu asas ao sonho nascido naquele momento. Para ela era uma questão de honra ser advogada para cumprir a promessa que somente ela havia acreditado ser possível.

Quando completou dezoito anos, apesar dos protestos de sua família, jogou seus limitados pertences num saco, pegou carona num caminhão e muitas horas depois estava na Capital acalentando um sonho que só ela e sua esperança acreditavam.
Maria apavorou-se quando viu a "grandiosidade da cidade ". Nunca imaginou que houvesse no mundo uma cidade com tantas casas e com tanta gente circulando pelas ruas ... E as Lojas ? E a Feira do Passarinho ? E as Bancas de Revistas e Jornais ? e o Gogó da Ema ?

Tudo para ela era exageradamente grande demais até sua sorte porque uma semana depois de ter chegado já havia encontrado um trabalho numa Casa de Saúde, ajudada por sua irmã mais velha que a hospedara na casa humilde de uma vila mal cuidada e lamacenta.

Imaginem alguém arranjar um emprego de secretária de uma imensa Clinica especializada em Doenças Mentais somente com um diploma do Curso Primário ?

Imaginem alguém fazendo um teste datilográfico sem nunca ter chegado perto de uma máquina de escrever ? Era uma " coisa de doido " imaginar que seria possível ... Mas como " Deus escreve certo por linhas tortas ", colocou a sorte a seu favor e Maria, milagrosamente " mesmo sem saber fazer uso de toda aquela engrenagem, passou no teste e foi admitida. Depois de vencido o primeiro desafio, Maria saiu correndo atrás de uma escola de datilografia, fez curso intensivo, e aí, sim, estava preparada, "datilograficamente", para exercer a função.

Incentivada pelo seu ideal, fez Exame de Admissão ao Ginásio para o único Colégio Estadual e, mais uma vez, o destino a ajudou Trabalhava de dia, estudava à noite e, mentalmente, ainda tinha que alimentar a esperança de ser advogada e como era uma sonhadora inveterada queria também fazer poesias, como o seu Ladislau... Não se importaria se, voltando à sua terra natal, ouvisse seu Firmino comentando com outro vizinho fofoqueiro : " - aquela pretinha é a Maria filha do seu Manoé que foi morá na grande e agora diz qui sabe até fazê puisia cuma o seu Ladislau...

Um dia, Maria, depois de ler, repetidamente , " O Mal Secreto " , resolveu fazer uma poesia baseada nele. Não no seu conteúdo, é claro, mas obedecendo a sua harmonia, sua musicalidade. Após uma infinidade de poesias rascunhadas, sem sucesso, Maria aprendeu metrificar, colocar rimas e passar para o papel o que vinha em sua imaginação, e cada vez mais se aperfeiçoava na arte de versar.

O tempo foi passando e Maria já no terceiro ano ginasial deu asas à sua imaginação e incentivada por um amigo que gostava de ler suas poesias e acreditava no seu sucesso literário em um grande Centro Cultural, como o Rio de Janeiro, e confiando na hospitalidade de seu tio, fez um acordo trabalhista com a Casa de Saúde, onde permanecia, comprou uma passagem aérea na extinta " Cruzeiro do Sul ", colocou seus pertences na mala que substituiu o saco da primeira viagem, vestiu sua melhor roupa e voou para a Cidade Maravilhosa, num chuvoso dia 8 de novembro.

Como a sorte sempre foi sua melhor aliada, no dia 16 de novembro já começou a trabalhar no escritório de um hotel, no Centro da Cidade. Tinha uma boa caligrafia e gostando de exibi-la, escreveu :

" Homem casado quando ama
outras mulheres na rua
levanta aquelas da lama
e põe defeitos na sua ...

Displicentemente, deixou seu escrito num balcão do escritório e um Escritor de Lisboa, a serviço do Grupo de Estudos do Porto, lendo a mensagem, disse:

– que bela quadra !!! - Quem é o autor ??? E, Maria, meio sem jeito, respondeu : fui eu que escrevi de brincadeira... E ele admirado, ou talvez para testá-la, incumbiu-a de escrever outras "quadras" que publicaria num livro, motivo da pesquisa do Grupo, envolvendo literatos e ilustres vultos brasileiros. E, como cidadão íntegro, de palavra, dedicou-lhe uma página como " poetisa desconhecida, com reduzidos dados biográficos e três "quadras", como até hoje é conhecida a trova em Portugal.

Aquela publicação era o que faltava para que Maria se sentisse uma poetisa de fato... E ela, que a cada dia inventava um novo sonho, resolveu cursar a quarta série ginasial. Trabalhava o dia inteiro e estudava à noite... morava em Realengo, trabalhava no Centro e estudava em Triagem. Saía de casa às sete horas da manhã e nunca chegava em casa antes de uma hora do dia seguinte. Tudo isto correndo atrás de um ideal : a vontade de vencer... virar "gente grande ".

Depois daquele ano de estudo, que lhe pareceu um século, Maria continuou estudando e fazendo versos.

Anos depois fez o Curso Clássico, o mais apropriado para os vestibulares dos Cursos de Ciências Sociais.

Feito o vestibular, Maria foi classificada na Segunda opção jornalismo. Ainda não era dessa vez que se tornaria advogada. Fez o Curso de Jornalismo e teve oportunidade de assinar várias colunas literárias em alguns jornais de pequena e média circulação.
Foi aí que, baseada em sua própria vida, escreveu o soneto :

SONHOS DE CONDOR

Em minha vida simples, malograda,
de filha de modesto agricultor,
faltava tudo, e não faltava nada,
porque nasci num lar cheio de amor !

E, cedo, minha luta foi travada,
pois calcada em meu pai, um lutador,
não quis me sentir ave engaiolada,
e sonhei alto em vôos de condor...

Não pude ter infância e juventude,
nem mesmo DEUS nos dando amor, saúde
e a régia proteção da Deusa CERES ...

Mas, para compensar a imensa lida,
Deus, pondo poesia em minha vida,
me fez a mais ditosa das mulheres ! ...

Entusiasmada com a sua produção literária já bem aceita por renomados poetas e críticos literários, acrescentou à sua inesgotável fonte de desejos a vontade de publicar um livro, mas o projeto não saiu das folhas de papel datilografadas... Faltava-lhe o principal : a verba para para cobrir as despesas da edição.

Ingressou em algumas agremiações literárias, mas o sonho de ser advogada parecia Ter ficado para traz, o que lhe dava uma enorme sensação de fracasso.

Contudo, numa das costumeiras reuniões literárias, o destino, mais uma vez, amigo solidário de quase todas as suas horas, colocou em sua direção um renomado poeta que ela conhecia apenas de nome e, naquele momento, percebeu que se operara não apenas um encontro entre pessoas comuns, mas um encontro de almas... E esse encontro inesperado transformou-se no encontro eterno, que somente Deus que, como já frisei : " escreve certo por linhas tortas " poderia operar... E se deu ali uma infinita comunhão de almas e corações.

E para agradecer a Deus, como fazia, sempre que recebia uma graça, Maria, humildemente fez sua singela oração :

PRECE

Eu agradeço a Deus pelos dias bons,
que revigoraram minha fé ;
pelos dias maus,
que me ensinaram a viver ;
pelos dias alegres
que me inspiraram poesia ;
pelos dias tristes
em que pude ser mais sentimento que razão
e pude mergulhar na fantasia ...
Eu agradeço a Deus
por meu dote de rimar
pelos passos firmes
que me ensinou a dar,
por te dar encanto, em forma de magia ...
Eu agradeço a Deus
por haver te encontrado,
por seguirmos juntos a mesma jornada
e por nos mostrar tanta poesia ...
Eu agradeço a Deus
por tudo que não fui e que hoje sou,
e pelo maior bem que me legou,
porque não fez de mim " qualquer " MARIA
...

Os anos foram – se passando e o seu poeta, além de patrocinar seu livro de trovas, a incentivou a realizar o seu primeiro sonho manifestado, motivo das gargalhadas de seus familiares e de seu Firmino, o vizinho preconceituoso, que era ser advogada, mesmo sem saber o que um advogado fazia na vida.

Maria que já imaginava esgotados todos os milagres que o destino lhe poderia proporcionar, apesar da luta diária , movida pela energia que lhe transmitia o seu Poeta, companheiro de todas as horas, ingressou na Faculdade de Direito e, graças à sua Estrela que continuava a brilhar, concluiu o Curso que tanto almejava, com o direito e o orgulho de poder exibir o " Histórico Escolar "mais honroso" que um ser humano poderia almejar.

Com seu Diploma de Graduação nas mãos e para reforçar o cumprimento do desafio a que se propôs quando ainda era criança, Maria fez um brilhante Curso de Pós – Graduação , especializando-se em Direito Civil e Processo Civil, quando já havia publicado mais um livro de trovas...

Depois, Maria publicou seu terceiro livro contendo trovas, sonetos, poemas etc., o que a consagrou definitivamente como poetisa

Mas, como "na vida tudo passa", e a ventura não pode ser eterna, quase depois de três dezenas de amor, companheirismo e amizade, e após Maria publicar um livro de trovas, sonetos, poemas etc., seu Poeta subiu para um Plano Superior, ao encontro de outros poetas e Maria, movida pela tristeza, escreveu :

No momento em que partiste
pranteei minha viuvez ...
Foi o trajeto mais triste
que uma lágrima já fez ! ...

E, ainda sob o impacto da partida de seu Poeta, Maria tentando, imaginariamente, se convencer de que a ausência não eterna, de que o Caminho do Além pudesse Ter um retorno, num dos repetidos momentos de saudade e de amargura, guiada pela força do seu próprio desespero, seguiu ao encontro de sua

V I A C R U C I S

Foste embora e eu, sedenta de carinhos,
tentando alimentar minha ilusão,
fingia encontrar rosas nos espinhos
com que marcaste a minha solidão...
Depois, tentei seguir outros caminhos,
mas, sem achar a tua direção,
na ‘ VIA CRUCIS ‘ longas dos sozinhos
deixei pedaços de alma e coração...
E, nessa andança inútil, sem destino,
provei a dor cruel do desatino
e todo o dissabor dos desenganos...
Não te encontrei ... Por isso, em poucos meses,
meu coração parou milhões de vezes,
minha alma envelheceu mais de cem anos...

Maria que, embora com muito sacrifício tenha se tornado uma vencedora, por ter vencido todos os desafios a que se propôs, continua humilde, tanto quanto o era no tempo em que morava numa cidade tão pequena que nem constava do Mapa do Brasil, mesmo depois de quase quatro dezenas de anos distante de seus familiares continua visitando-os periodicamente e prestando toda a ajuda que lhe é possível, demonstrando todo o orgulho que sente por poder privar da amizade dos seus amigos desde a infância, de dizer que é filha do seu Manoel e da dona Marina... Que Tem 10 irmãos pobres, mas honrados, enfim, um mundo de motivos para acreditar nos MILAGRES DO DESTINO ...

Mas, o que mais a deixa feliz é perceber o quanto DEUS foi generoso permitindo que ela aniversariasse com Seu Filho : JESUS CRISTO, porque Maria, como Ele, nasceu num Dia 25 de Dezembro...

E para agradecer por esta graça divina, compôs :

LEMBRANÇAS

Quando vem o Natal, vêm - me à lembrança
as histórias que ouvia, os madrigais .. .
E tento reavivar a confiança
que, na infância, traziam meus Natais ...

Recordo a casa cheia de criança,
meus pobres natalícios sempre iguais,
mantendo acesa a chama da esperança
no " presente " de Deus para os meus pais...

Num Natal ... Vinte e Cinco de Dezembro,
há quanto tempo quase nem me lembro,
generoso, o Bom Pai Celestial

tendo pena por ver tanta pobreza,
num gesto de piedade e de grandeza,
mandou-me como um brinde de Natal ...

Depois de ler MILAGRES DO DESTINO, o leitor se perguntará : isto será realidade ou ficção ? E na dúvida, pensará : só pode ser ficção, porque como poderia alguém saber tanta coisa sobre a vida de uma simples Maria ? Uma Maria que nasceu, como tantas outras, numa minúscula cidade pobre do nordeste ?

E, silenciosamente, a voz invisível da criadora de MILAGRES DO DESTINO responde :
- Não, amigo, não é ficção ! É uma grande realidade :

... Essa pessoa orgulhosa por seus pais, irmãos e demais familiares e amigos, hoje quase sexagenária e infinitamente agradecida a Deus por tudo que, honestamente, conseguiu conquistar,
SOU EU ! ...

Fonte:
http://www.marianascimento.net

Maria Nascimento Santos Carvalho (Palestra sobre Trovas)

Autoridades presentes,
minhas senhoras, senhores,
renomados Presidentes,
meus bons irmãos – Trovadores.

A Academia da Trova
que nos acolhe tão bem
a cada dia comprova
o valor que a Trova tem...

Permitam-me apresentar
A Trova na Academia
que, agora vai ocupar
um pouquinho do seu dia.

A palestra que apresento,
humilde e quase sem brilho,
nesta Academia ostento
feito a mãe que ostenta um filho.

Abrindo o meu sentimento
eu confesso, agradecida,
que este momento é um momento
de vitória em minha vida.

Permitam-me lhes dizer
com infinita humildade
que nem sei como conter
meu grau de felicidade...

E em meio a tanta afeição
a minha emoção é tanta
que as frases de gratidão
morrem presas na garganta.
Meus amigos :

Gostaríamos, neste momento, de poder dizer Trovas de todos os nossos irmãos de sonhos, mas são tantos e tão queridos que passaríamos horas e horas fazendo desfilarem seus versos, razão porque, pedimos desculpas àqueles que, por limite de tempo, não estão incluídos em nosso modesto trabalho, o que muito nos entristece.

Como estamos na Academia Brasileira da Trova, procuramos focalizar o tema TROVA e deixar alguns esclarecimentos sobre ela : gênero, forma, metrificação, ritmo etc.

Para ilustrar o nosso trabalho, registramos a opinião abalizada do grande escritor JORGE AMADO a respeito da Trova.

“ Não pode haver criação popular que fale mais diretamente ao coração do povo do que a Trova. É através dela, que o povo toma contacto com a poesia e sente a sua força. Por isso mesmo, a Trova e o Trovador são imortais”.

A TROVA

Na antiguidade, Trova era considerada uma canção, uma quadra popular que tinha origem nas composições dos Trovadores medievais.

Na poesia trovadoresca, ou provençal que começou a partir do século XIII, a Trova podia ser :
Uma “ Cantiga de Amigo “, quando a mulher contava ao amado suas mágoas de amor. (Eram de fundo folclórico e as mais antigas e mais belas).

“ Cantiga de Amor “, quando o namorado se dirigia à amada e “Cantiga de escárnio“, com poesia satírica e picante.

As Trovas eram cantadas pelos Trovadores, geralmente nobres empobrecidos que as compunham e pelos jograis, homens do povo que se limitavam a interpretar as canções dos Trovadores.

A partir do século XVII, essas composições passaram a se chamar de Trova e foram reunidas em três cancioneiros : Cancioneiro da ajuda, Cancioneiro da Vaticana e Cancioneiro da Biblioteca de Lisboa.

Atualmente, de acordo com a definição de LUIZ OTÁVIO, o Príncipe da Trova Brasileira,
TROVA é uma composição poética contendo quatro versos setissílabos, rimando o primeiro verso com o terceiro e o segundo com o quarto, com sentido completo, como :

Ó linda Trova perfeita
que nos dá tanto prazer !
Tão fácil – depois de feita.
- Tão difícil de fazer ...
Adelmar Tavares - Rei da Trova Brasileira

As Trovas podem ser , líricas, filosóficas, lírico filosófica ao mesmo tempo, humorísticas , brejeiras, as de humor leve, cívicas, religiosas etc.

Até há mais de meio século passado, as Trovas, na maioria, eram compostas com rimas simples, ; rimando apenas o segundo verso com o quarto, o que até o presente, ainda é utilizado por um número muito reduzido de autores, não valendo esta prática para os Concursos de Trovas e Jogos Florais.

É de José Alberto da Costa, de Maceió - AL, a Trova de rima simples que diz :
Tentei fazer uma trova
e vi que não é moleza.
Se dizer tanto em tão pouco
com graça e muita beleza.

Muitas composições musicais foram feitas com versos de sete sílabas, entre elas, as mais costumeiras são as cantigas de roda e as cantigas de ninar, geralmente com rimas simples, que até hoje são exaustivamente cantadas, como :

O cravo e a rosa
O cravo brigou com a rosa
debaixo de uma sacada ...
O cravo saiu ferido
a rosa, despetalada.

O cravo ficou doente
a rosa foi visitar...
O cravo teve um desmaio
a rosa pôs-se a chorar...

O cravo tem vinte anos,
a rosa tem vinte e um ...
A diferença que existe
é que a rosa tem mais um !

Quanto às Trovas perfeitas, aquelas que rimam o primeiro verso com o terceiro e o segundo com o quarto e com rimas consideradas rimas ricas, temos :

De Luiz Otávio, o Príncipe da Trova Brasileira :
Trovador, grande que seja,
tem esta mágoa a esconder :
a trova que mais deseja
jamais consegue escrever ...

Sérgio Bernardo , de Nova Friburgo - RJ
Sem a trova, que o completa,
como aos sonhos dar vazão
o coração do poeta,
num mundo sem coração?!

Edmar Japiassú Maia – Rio de Janeiro - RJ
Quatro folhas: sortilégios...
Quatro versos: quadras novas ...
E ao poeta os privilégios
de cantar trevos e trovas!

Elisa Flores - Rio de Janeiro - RJ
Dos fios de luz dispersos
sob a prata do luar,
escrevo em trova meus versos
e os deponho aos pés do altar.

Antônio Siécola Moreira - Santa Rita do Sapucaí - MG
A Trova, que eu idolatro,
pois me encanta e me extasia,
é um "retrato três por quatro"
que tiramos da Poesia.

Em A Banda, de Chico Buarque de Holanda, com exceção da primeira estrofe, todas as demais podem ser consideradas como Trovas simples, também, por serem compostas com rimas simples, rimando apenas a o segundo com o quarto versos : Ouçamos na voz do excelente cantor Antônio Moreira.

A BANDA

Estava à toa na vida,
o meu amor me chamou
pra ver a banda passar
cantando coisas de amor.

A minha gente sofrida
despediu-se da dor
pra ver a banda passar
cantando coisas de amor.

Mas para meu desencanto
o que era doce acabou,
tudo tomou seu lugar
depois que a banda passou.

E cada qual no seu canto,
em cada canto uma dor
depois da banda passar
cantando coisas de amor.

Estão aqui presentes Trovas de excelentes Trovadores paulistas que nos brindaram com suas composições, tais como :

José Valdez de Castro Moura - Pindamonhangaba – SP
Bendigo a Trova que aflora
na minh' alma ! Que alegria !
E, sinto luzes da aurora,
no final de cada dia !

Marina Bruna – São Paulo - SP
A Trova, que lembra a rosa
no emblema dos trovadores,
é tão pura e majestosa
quanto a rainha das flores.

Pedro Ornellas - São Paulo - SP
De incompetência dão provas
os meus rabiscos bisonhos;
sobra sonho em minhas trovas,
falta a trova dos meus sonhos!

Domitilla Borges Beltrame – São Paulo - SP
A Trova, bem trabalhada
e que é feita com ternura,
é como jóia engastada
em nossa literatura !

Selma Patti Spinelli - São Paulo - SP
Recolhe o som do infinito
e a luz que a manhã renova,
prende num verso bonito,
e num milagre: eis a Trova!

Como dissemos, há muitas cantigas de roda feitas em forma de Trovas. Ora com rimas simples, ora com rimas duplas, ou perfeitas, mas todas lindas, como “ Terezinha de Jesus “, que, apesar de conter verso de pé-quebrado, como: “acudiram três cavalheiros” é tão apreciada pela garotada quanto por todos nós.

Teresinha de Jesus

Teresinha de Jesus
numa queda foi ao chão
acudiram três cavalheiros
todos três chapéu na mão.

O primeiro foi seu pai
o segundo, seu irmão,
o terceiro foi aquele
que à Teresa deu a mão.

Da laranja quero um gomo,
do limão quero um pedaço,
da menina mais bonita
quero um beijo e um abraço.

Alguns Trovadores preferem utilizar o tema nas rimas, o que, muitas vezes, dificulta muito mais a feitura da Trova, quando há poucas rimas, como sejam : Palavra, mãe, tempo, quarto etc.

Vejamos Trovas com rimas na temática: Trova :

Josafá da Silva Sobreira - Rio de Janeiro - RJ
Quem dera que minha Trova
fosse um hino de louvor
que um anjo ao meu lado aprova
e leva aos pés do Senhor !

Gislaine Canales – Porto Alegre - RS
A minha vida é uma trova,
trova de ilusão perdida,
pois a vida é grande prova,
que prova a trova da vida!

Kleber Leite - Itaocara - RJ
"Verdade!.. não faço trova...
Sou um mero Beija-flor...
Levando ao mundo, o que prova
ser ela o meu grande Amor..."

Jane Azevedo – Mauá - RJ
Quanto mais eu faço trova
mais trovas quero fazer,
parece até uma prova
de amor ... com muito prazer.

Prof. Garcia - Caicó - RN
No amor tudo se renova,
não seja escravo da dor;
faça do ódio uma trova,
do tédio um verso de amor!

Outra composição que muito nos encanta, que também é feita em forma de Trova é “Samba lelê”, mas além de se apresentar com rima simples, em seu primeiro e segundo versos encontramos a palavra TÁ, em vez de ESTÁ, e a junção de “ com a “, com a contagem de uma sílaba apenas, o que só é permitido através de “licença poética “.

Isto tornaria impossível uma classificação num Concurso de Trovas, no gênero lírico - filosófico, por entender a maioria dos julgadores que há uma imperfeição inaceitável (tá), em dois versos e uma apenas protegida por licença poética, (com a) o que caracteriza total falta de recurso para a composição perfeita da Trova.

Deliciemo-nos com um trecho de Samba lelê na expressiva voz de Antônio Moreira.

Samba lelê

Samba lelê tá doente,
tá com a cabeça quebrada ...
Samba lelê, precisava
de uma gostosa palmada. (bis)

O Rio Grande do Sul também está presente em nosso modesto trabalho, representado por Trovadores de excepcional qualidade, como :

Mílton de Souza - Porto Alegre - RS
A quadra metrificada
chama-se "trova", hoje em dia.
E a trova é a raiz quadrada
da mais perfeita poesia...

Clênio Borges - Porto Alegre - RS
Nesta trova vou contar
o que um adeus faz sentir:
quem parte, almeja ficar,
e quem fica, quer partir.

Enriquecendo esta modesta palestra, também selecionamos Trovadores de vários outros estados, com Trovas de inspirações privilegiadas, tais como :

Antônio Augusto de Assis – Maringá - PR
Na tribo dos trovadores,
entre irmãos te sentirás.
Quanto mais fraterno fores,
melhor trovador serás!

Thereza Costa Val – Belo Horizonte - MG
Na trova, que é seu veleiro,
singrando temas diversos,
trovador é marinheiro
que navega em quatro versos.

Sarah Rodrigues / Salinópolis - PA
"Na paisagem desse sonho,
no contraste de um amor,
essas trovas que eu componho
sempre afogam minha dor."

Roberto Resende Vilela - Pouso Alegre - MG
Pelas veredas singelas
da Trova e da Poesia,
se difundem as mais belas
lições de Filosofia.

No Rio de Janeiro, estamos premiados com Trovas de renomados Trovadores, o que muito nos honra e nos envaidece:

Almerinda Liporage – Rio de Janeiro - RJ
Se uma Trova me entristece,
fazê-la, sei que não devo ...
Tristeza ninguém merece
e, por isso, eu não a escrevo...

Benedita Azevedo - Mauá - RJ
Fazer trova com carinho
faz bem ao nosso viver.
Fazer da trova um bom vinho,
é só questão de querer...

Maria Madalena Ferreira - Magé - RJ
Meu dia nasce risonho;
minha emoção se renova
sempre que acordo de um sonho
e trago pronta, uma Trova...

Renato Alves – Rio de Janeiro - RJ
A trova é pequena flor
que brota do sentimento...
Com redondilhas e amor
traz à vida um grande alento!

Agora, amigos, dadas algumas informações sobre a Trova, que esperamos tenham sido proveitosas, apresentamos, a Trova de autoria do saudoso irmão – Trovador, José Maria Machado de Araújo, que representa o desejo de todos nós, que diz :

“Trovadores, meus irmãos,
vamos viver que mãos dadas,
que onde há correntes de mãos,
não há mãos acorrentadas !

Convidamos, agora, o “cantor – poeta” Antônio Moreira, para, homenageando à Academia Brasileira da Trova, seus associados e todos os Trovadores presentes, interpretar a mais bela canção já composta em homenagem aos Trovadores :

O Trovador
Jair Amorim e Evaldo Gouveia

Sonhei que eu era um dia um trovador
dos velhos tempos que não voltam mais
cantava assim a toda hora
as mais lindas modinhas
do meu Rio de outrora
Sinhá Mocinha de olhar fugaz
se encantava com meus versos de rapaz.
Qual seresteiro ou menestrel do amor
a suspirar sob os balcões em flo
na noite antiga do meu Rio
pelas ruas do Rio
eu passava a cantar
novas trovas em provas de amor ao luar
e via então com um lampião de gás
na janela a flor mais bela em tristes ais!!!

Como uma homenagem ao grande responsável pelo imenso movimento trovadoresco existente até os nossos dias, Luiz Otávio, o Príncipe da Trova Brasileira, registramos uma Trova de sua autoria, que todos nós os Trovadores aplaudimos e comungamos do seu louvável pensamento.

A Trova tomou-me inteiro
tão amada e repetida,
agora traça o roteiro
das horas da minha vida.

E, finalmente, agradecendo em meu nome e da União Brasileira de Trovadores, Seção Rio de Janeiro, à Trovadora Alba Helena Correia, membro da Diretoria da Academia Brasileira da Trova e demais associados pela oportunidade que nos foi concedida, acrescentamos :

Estou realmente encantada
por tudo que me fizeram
e levo na alma guardada
toda a atenção que me deram ...

Findando esta cerimônia
que me deixou encantada,
eu quero ter muita insônia,
para sonhar acordada.

Este conclave comprova
no calor humano infindo
que o mundo de quem faz Trova
é um mundo muito mais lindo ...

Pelo meu dom milagroso
agradeço enternecida
por Deus ser tão generoso
pondo a Trova em minha vida...

E entre amantes da Poesia
me felicito porque
trouxe para a Academia
lições de amor da UBT.

Fonte:
http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/1002380

Luiz Antonio Aguiar em Debate


Livro do mês de junho na Capital Nacional da Literatura é Confidências de um pai pedindo arrego, do escritor Luiz Antonio Aguiar

Depois da comentada vinda de Cristovam Buarque para o lançamento oficial do livro A borboleta azul, a entrega do título de doutor honoris causa da Universidade de Passo Fundo e os debates acerca da obra O tesouro na rua, livro do mês de maio na Capital Nacional da Literatura, foi a Passo Fundo o escritor Luiz Antonio Aguiar, autor de Confidências de um pai pedindo arrego, título escolhido para os debates de junho.

O Projeto Livro do Mês, promovido pela Universidade de Passo Fundo com o apoio do Arte Sesc – Cultura por toda parte, tem por objetivo reunir estudantes, de escolas públicas e particulares da cidade, para um debate com autores em uma troca de informações literárias.

Neste mês, as atividades aconteceram entre os dias 16 e 18, e envolveram acadêmicos, alunos de escolas públicos e particulares, professores e a comunidade interessada, sempre convidada a participar dos debates, realizados mensalmente desde 2006. O primeiro seminário com a presença do autor Luiz Antonio Aguiar aconteceu na segunda-feira, 16 de junho, no Campus da Universidade de Passo Fundo em Soledade, a partir das 19h30min. Já na terça-feira, 17, o escritor foi a Passo Fundo pela manhã, onde foram realizados os seminários voltados ao público das escolas estaduais e particulares da cidade, às 9h, no Teatro do Sesc Passo Fundo. No mesmo dia, às 19h30min, o autor foi ao Campus de Lagoa Vermelha, debater com os acadêmicos. O seminário para escolas municipais de Passo Fundo aconteceu no dia 18, às 9h, também no Teatro do Sesc.

Em Passo Fundo, a abertura do encontro contou com a presença da coordenadora das Jornadas Literárias, Tânia Rösing, que destacou momentos da vida e da obra de Aguiar. Ela também cumprimentou as escolas presentes e afirmou que é da vibração dos jovens que depende a luta para transformar o país.

Para Aguiar, o debate é que dá a materialidade e faz um escritor sentir que o seu trabalho não é um delírio. “O livro começa a ganhar vida porque ele sai da simples imaginação do escritor e da condição de um objeto inanimado e começa a se espalhar pelo mundo. Ver o rosto de alguém dando o retorno de seu trabalho é muito gratificante”, afirmou.

O autor conta que teve dificuldades para publicar a obra. “Por cinco anos o livro foi rejeitado por não sei quantas editoras. Eu gosto de dizer isso porque elas afirmavam que não existia uma literatura juvenil. Esta é uma obra para as crianças que já cresceram e querem ler uma coisa legal. Quando foi publicado pela editora FTD, o livro ganhou vários prêmios”, salientou.

“Confidências de um pai pedindo arrego” ganhou o Prêmio Jabuti, em 1994, e trata da história de um jovem casal que se prepara para ter um filho. Neste momento, o rapaz entra em pânico por não ter certeza se é ou não adulto. “Não que ele fosse tão garoto, mas porque a situação existencial dele é a de um cara meio solto no mundo. Ele não tem as certezas que ele acha que um adulto deve ter e com isso se pergunta como poderá ser pai”, contou. O livro trás uma série de conflitos existências do futuro pai em uma trama novelística que envolve aventura, humor e muitas peripécias.

Fontes:
http://www.onacional.com.br/
http://www.upf.br/assessoria/noticias/
http://www.agencia.fecomercio-rs.org.br/
Jornadas Literárias de Passo Fundo - Boletim Eletrônico n. 61 - 20.06.2008
Disponível em http://mundodaleitura.upf.br/boletim/61/

Notícias de Passo Fundo (RS)

Mundo da Leitura oferece sacolas especiais com livros de Erico Verissimo e da editora SM

Aos professores com regência de classe, o Mundo da Leitura oferece, desde sua criação, o empréstimo de sacolas com até 35 títulos de textos literários, que estão organizadas por séries ou gênero e são uma maneira de socializar seu acervo. Para ter acesso a esse serviço, qualquer professor interessado pode trazer um atestado de regência (o Mundo da Leitura fornece um modelo), o documento de identidade e um comprovante de residência.

Desde o fim do ano passado, o Mundo da Leitura está com algumas sacolas diferentes para empréstimo. Em função de uma doação de livros por parte da família do escritor gaúcho Erico Verissimo, foram montadas sacolas especiais com obras deste autor. Para o professor que quiser fazer uma introdução à obra de Erico Verissimo existe uma dessas sacolas que contém 31 livros divididos entre dois títulos: Ana Terra e Um certo capitão Rodrigo. Além disso, outra sacola é formada por 21 exemplares do primeiro volume de O Continente – a primeira parte da grandiosa obra O tempo e o vento – que pode ser muito bem utilizada com turmas de ensino médio.

Outra novidade são as sacolas da coleção Barco a Vapor, da editora SM, que preza pela qualidade literária com pluralidade de gêneros, temas, estilos narrativos e autores de diversas nacionalidades; e pelo respeito para com as competências e as expectativas próprias de cada faixa etária contemplada. Assim, cada uma das quatro sacolas de livros abrange uma das séries da coleção: série branca - leitor iniciante (a partir de 6/7 anos), série azul - leitor em processo (a partir de 8/9 anos), série laranja - leitor fluente (a partir de 10/11 anos) e série vermelha - leitor crítico (a partir de 12/13 anos), o que facilita na escolha do professor por uma sacola adequada a sua turma.

O Mundo da Leitura é localizado no campus I da Universidade de Passo Fundo, no Km 171 da BR 285, bairro São José, caixa postal 611 - Passo Fundo/RS e seu telefone de contato é (54) 3316-8148.

Fonte:
Jornadas Literárias de Passo Fundo - Boletim Eletrônico n. 61 - 20.06.2008
http://mundodaleitura.upf.br/boletim/61/

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Abel Fernandes (1945)

Nasceu na cidade de Marília, estado de São Paulo, no dia 27 de abril de l945. Com um ano de idade mudou-se para a capital paulista, trazido pelos seus pais e aí permaneceu durante quase a vida inteira. Passou sua infância no bairro de Vila Santa Isabel, onde conheceu Benedito N. A. Santos, ( Mão de Ferro-7º. Dan ) com o qual teve aulas de Karatê e iniciou -se no Espiritualismo. Desde criança sempre gostou de desenhar. Sua mãe, (falecida) era ótima desenhista e foi ela quem ensinou-lhe os primeiros rudimentos do desenho. Vivia desenhando por toda parte, principalmente nos seus cadernos escolares, os quais eram "roubados" pelas suas professoras. Com treze anos começou a escrever seus primeiros poemas.

Aos quatorze já possuía uma pequena biblioteca em sua casa. Gostava de ler de tudo. Aos dezesseis anos ingressou na Associação Paulista de Belas Artes onde estudou desenho durante um ano. Parte de sua juventude participou de diversas profissões, desde engraxate de sapatos, treinador de galos-de-briga, sapateiro, tintureiro, até vendedor de carnets do Baú da Felicidade. Trabalhou, também, em feiras livres como vendedor de quinquilharias, em fábricas, gráficas, metalúrgicas, foi informante comercial de diversas empresas paulistas e cariocas, trabalhou de "boy" em escritórios diversos, foi caixa de restaurante, e durante todo esse tempo nunca deixou de praticar desenho e ler muito.

Abandonou seus estudos no primeiro ano ginasial e passou a ser autodidata. Freqüentou aulas de filosofia como aluno ouvinte, assistiu inúmeras palestras sobre os mais variados assuntos e muito novo ainda ingressou na Fraternidade R. S. P., onde despertou em si o interesse pelo Esoterismo. Aluno assíduo de um dos maiores instrutores de Filosofia Rosacruciana, Astrologia e Cristianismo Esotérico. Nessa época aprofundou-se no estudo da Astrologia, Mitologia e Psicologia Esotérica. Em seguida ingressou num grupo de trabalhos de Gurdgieff, onde permaneceu cerca de cinco anos.

Nesse período, devido a crise de desemprego, passou a viver de Astrologia, dando aulas, palestras e confeccionando Cartas Natais (durante um ano). Aos vinte e um anos de idade mais ou menos começou a trabalhar como desenhista profissional de estamparia de tecidos na área de silk-screen. Nessa época estudou desenho com o grande mestre de histórias em quadrinhos Ignácio Justo. Depois entrou para o campo publicitário, onde foi layoutman, artefinalista e diagramador.

Nesse período publicou dois livros: "PENSAMENTOS" e "PENSAMENTOS II". O primeiro pela Arsgráfica Editora e o segundo pela Editora A Gazeta Maçônica. Durante todo esse tempo desenhou e escreveu muito, principalmente poemas, frases, provérbios, contos, artigos sobre Astrologia, Ocultismo, Mitologia e cartas aos amigos. Vinte e cinco anos após ter abandonado a Associação Paulista de Belas Artes voltou a freqüentá-la como aluno de Romeu Cayani, Fadel e Godoy, três mestres da pintura e do desenho. Freqüentou inúmeras seções de modelo vivo e participou de diversos salões onde obteve vários prêmios.
Fez sua primeira individual na A. P. B. A., onde posteriormente
ocupou o cargo de professor de pintura até 1998. Durante sua juventude e mocidade participou de diversos eventos artísticos, foi membro de vários grupos de poetas e escritores, colaborou para alguns pequenos jornais e revistas e, após passar anos trabalhando de empregado em várias empresas e fábricas, resolveu montar seu próprio negócio.

Começou com um atelier artístico, depois montou bancas em feiras de antigüidades (Bexiga, Masp, Praça Benedito Calixto, etc.) Logo após montou pequenas lojas em galerias de São Paulo onde passou a trabalhar com antigüidades, obras de arte, artigos colecionáveis tais como moedas, selos, cartões postais, miniaturas, livros raros. Nessa época abriu um sebo na Bela Vista e uma oficina de restauração de molduras antigas com seus filhos e irmão. Logo em seguida montou uma molduraria em sociedade com seu filho Márcio Gobbi, o qual passou a produzir as melhores molduras artísticas e artesanais da época, atendendo galerias, antiquários, marchands, leiloeiros, inclusive o grande artista plástico e colecionador Emanoel Araujo no tempo de sua administração na Pinacoteca.

Finalmente deixou seus negócios nas mãos de seus filhos Márcio Gobbi Fernandes, hoje considerado um dos mais jovens colecionadores de Arte Moderna brasileira e um dos mais bem sucedidos marchand de São Paulo e Aquiles Gobbi Fernandes, artista plástico, mestre em desenho e pintura, com vasto acervo de suas obras espalhadas em diversas coleções particulares, detentor de vários prêmios e medalhas em exposições, e passou a dedicar-se única e exclusivamente a pesquisas esotéricas e a sua carreira de pintor, desenhista, escritor e poeta.

Fonte:
http://www.abelfernandes.blogspot.com/

Abel Fernandes (A Reunião no Bosque do Sonho)

Interessante! Que coisa estranha! Como posso estar aqui? Como posso estar sonhando e sabendo que estou sonhando? Sei que estou sonhando. Posso voar! Como é bonito aqui! E que seres estranhos, aqueles! Não são homens, nem bichos... Movem-se tão rápidos. São belos e horrendos ao mesmo tempo. Agora eles vêem em minha direção! Preciso fugir! Oh! Eis ali um homem. Tem aspecto bom! Talvez possa me socorrer. Ele olha para mim... Parece que está me chamando... Faz sinal para eu ir até ele... Mas como pode estar acontecendo isso comigo? Sei que estou dormindo e sonhando. Tudo isto que está acontecendo comigo é um sonho. Preciso acordar...Mas como? Esqueci -me de como se acorda! Estou ficando com medo. Aqueles bichos, ou melhor, aquelas coisas querem me pegar. Tenho que aproximar-me daquele homem. Será que é mesmo um homem? Está de túnica azul clara. Usa sandálias. Tem um belo bigode negro. Sua cabeleira, um pouco grisalha, cai-lhe sobre os ombros. Seu olhar é firme, poderoso. Em torno de sua cabeça há uma luz rosada. Ele parece brilhar. Parece irradiar uma luz. Aproximo-me dele. Ele faz sinal para eu segui-lo. Ele voa rápido! E eu também. Estamos indo para um bosque. Os seres estranhos, monstruosos, ficaram lá embaixo... Ainda bem! Mas que bosque lindo! Está povoado de seres belos... Crianças, donzelas, duendes, fadas, todos alados... São transparentes, brilhantes, multicoloridos... Leves como plumas. Todos sorriem. E dançam... O homem de túnica azul também sorri para mim. Sigo-o Como é bom voar! Que mundo lindo! Fantástico! Oh! Agora eis ali uma clareira. Há uns homens reunidos, também de túnicas azuis, nos esperando. Parece que vai haver uma reunião. Como são simpáticos! Aquele ali parece o mais velho de todos. Sem dúvida, é o líder. Parece que quer falar comigo. Mas que estranho. Ouço ele falando dentro de mim. É como se eu falasse a mim mesmo, mentalmente. Porém sei que é ele que fala. Diz-me que tem um assunto muito importante para tratar comigo. Um assunto muito sério. Pede-me para eu prestar o máximo de atenção. Diz-me que sou um ser humano, de certa forma, diferente dos outros. Os outros estão presos aos seus corpos. Ele me mostra uma cena. Parece uma tela de cinema. Uma imagem holográfica... Homens dormindo em seus quartos e sobre cada um deles prendendo-se um segundo corpo exatamente igual ao que dorme. Porém, parecem larvas... Seus movimentos são semelhantes aos movimentos de um verme. Estão presos aos corpos físicos por fios prateados. Não aprenderam ainda a usar seu segundo corpo. (Esse que uso agora.) Eu, porém, sou diferente. Posso mover-me a vontade. Subir, descer, mexer com as mãos. Rir, dançar, voar, pensar. Agora o mais velho diz-me que daqui alguns instantes eu despertarei e não me lembrarei de nada disto tudo. Pergunta-me se eu estou disposto a auxiliá-los em seu trabalho. Questiono: que tipo de trabalho? Que fazem eles? Ele responde que todos ali presentes ajudam a humanidade. Lutam por melhorar o mundo. Projetando no ar pensamentos positivos. De amor. De paz. De harmonia. A fim de que os homens mais preparados possam captá-los e tornarem-se melhores do que são. Pergunta-me se eu quero ajudá-los nesse trabalho. Digo-lhe que sim. Gostei deles... Irradiam paz, serenidade, harmonia... Quero ficar eternamente junto deles! Lembram certos filósofos da antiguidade. Certos santos e apóstolos... Mas que devo fazer?, pergunto. Ele responde-me: Escrever coisas úteis, boas, sadias, positivas. O mundo é movido pelas palavras... As palavras, ao caírem no seio da humanidade, são como um vento que desencadeia emoções e sentimentos... E tudo isso se transforma, depois, em ações, gestos, atitudes.. Se são palavras boas, os atos são bons. Se são palavras más, os atos são maus... Tudo gira em torno das palavras! Deve-se escrever por amor, diz ele. Não por ambição ou ganância de lucros! Porém, diz-me sorrindo, como quem não está me julgando, mas apenas fazendo um comentário sem importância, você é muito materialista. Passa a maior parte do tempo cuidando do seu estômago, da sua vaidade pessoal, dos seus interesses financeiros, familiares, de coisas ligadas ao sexo, a satisfação dos desejos... É uma pena, pois você tem talento. É um bom escritor. Escreve boas poesias... Diz-me que eu devo dedicar-me mais a minha arte. Que eu posso ganhar muito com isso. Diz-me que agora vou despertar. Que não me lembrarei de nada do que houve aqui. Oh! Estranho! Estou sendo puxado, sugado. Tudo está ficando escuro. Epa! Que ruído é esse? Ah! É o despertador! São sete horas. Esquisito... Parece que tive um sonho. Porém, não consigo lembrar-me! Preciso levantar-me. Tenho que encontrar-me com meus clientes às oito no escritório. Gostaria de escrever uns contos, uns poemas... Mas infelizmente, agora não posso. Meus clientes me aguardam. Depois vou almoçar com minha secretária. À tarde irei aos bancos negociar empréstimos com meus gerentes. À noite irei com minha esposa a uma reunião social. Detesto essas reuniões! Todos só pensam em beber, fumar, exibir-se, em falar de negócios, de coisas banais, de política... Puxa, terei um dia agitado! Não vai sobrar tempo para mais nada... Mas como eu sinto desejo de escrever! Tenho tantas idéias na cabeça. Estranho. Tenho certeza que sonhei algo interessante. Mas não consigo me lembrar. Não consigo me lembrar...

Fonte:
http://abelfernandes.blogspot.com/

Abel Fernandes (Valorize o que você tem agora!)

A gente só dá valor à infância,
quando ela já passou...
Quando ela ficou lá no fundo da memória...
E não há como voltar atrás!
Não há como tirar os pelos dos rostos...
O cansaço dos músculos e ossos...
O branco dos cabelos...
Paletós empoeirados...
Não há como vestir novamente
aquelas calças curtas até os joelhos...
Não há como voltar a correr pelos campos e prados...
E depois deitar-se na grama verde
e sonhar que é um Super-homem,
ou um Batman ou um Robin!
A gente só dá valor ao amor quando ele foi embora...
Quando a casa ficou silenciosa, como agora...
Quando não há mais aquela saudosa presença,
aqueles ruídos de panelas fumegando no fogão...
E aquelas batidas fortes no coração...
Quando não há mais aquele calor gostoso na cama,
vindo da mulher que a gente ama,
aquele cafezinho quentinho de manhã...
A gente só dá valor ao amor
quando a solidão veio sentar-se no sofá da sala,
e contar-nos lindas histórias de tempos antigos,
quando os minutos eram amigos,
e se alongavam, e se derramavam lentamente
em dias cheios de alegria,
e havia esperanças de melhores dias,
e o ar era impregnado de poesias,
e havia noites estreladas,
e a gente saia por aí andando por estradas de mãos dadas somente para contemplar o luar...
Quando a gente se aquietava para ouvir melodias...
A gente só dá valor à felicidade
quando o véu cinzento da tristeza
veio envolver a nossa alma,
e tudo é vazio e frio,
e o destino é um rio
que corre silencioso pelas noites
e os fantasmas rondam pela casa vazia
e a cama fica assim tão fria...
Portanto, amigo,
acaricie sua mulher enquanto ela está aí contigo,
dê-lhe presentes enquanto ela está presente...
Abrace-a enquanto ela está bem aí na sua frente...
Diga-lhe as palavras mais carinhosas
enquanto ela não se fez ausente!
E ande, corra, se movimente
enquanto seu corpo pode,
olhe as flores, as nuvens e as estrelas
enquanto seus olhos são capazes de vê-las...
Enfim amigo, vive a vida intensamente,
não deixe que o entusiasmo se ausente,
vive, amigo, vive agora o momento presente!
Vive amigo!
Enquanto a vida está aí contigo
E também comigo...
Agora!
(São Paulo, 07 06 08)

Fonte:
http://abelfernandes.blogspot.com/

Academias Cearense e Fortalezense de Letras (Programação de Eventos)

O escritor Machado de Assis e sua relação com a Academia Brasileira de Letras são temas de palestra, hoje, de José Murilo Martins

Clássicos da literatura estimulam uma série de debates na ACL e no Centro Cultural Oboé

A Academia Cearense de Letras (ACL) realiza um ciclo de conferências em homenagem ao escritor Machado de Assis, no centenário de morte do autor de alguns dos maiores clássicos da literatura brasileira. A programação estende-se pelos meses de junho e julho, às terças e sextas, às 17 horas, na sede da ACL, no Palácio da Luz. A programação de hoje traz uma palestra de José Murilo Martins sobre o tema “Machado na Academia Brasileira de Letras”.

Na próxima semana, os destaque ficam com as palestras de Fernando Coutinho, na terça, sobre “O Cronista”; e de Linhares Filho, na sexta, focando “Machado de Assis: latência sensual consciente”. O evento da ACL ainda conta com outros quatro palestrantes: Angela Gutiérrez, Vera Lúcia de Moraes, Sânzio de Azevedo e Lúcio Alcântara.

A Academia Fortalezense de Letras (AFL) também realiza um evento literário, em que propõe um passeio por algumas das obras mais importantes do cânone mundial. Por isso, está organizando seu primeiro ciclo de conferências - e debates -, que vai acontecer na última segunda-feira de junho, agosto, setembro, outubro e novembro. A abertura do ciclo, portanto, acontece no próximo dia 30, com a palestra “Como e porque ler os clássicos”, a ser ministrada por Ednilo Soárez, presidente da AFL.

A programação contempla, ao longo do ano, cinco clássicos: “Dom Quixote” (Miguel de Cervantes), “Crime e Castigo” (Dostoiewski), “Madame Bovary” (Flaubert), “A cidade e as serras” (Eça de Queiroz) e “Dom Casmurro” (Machado de Assis). “A Obra clássica apresenta, como características, o universalismo que consiste na tendência de tornar universal uma idéia, uma religião, um sistema; o racionalismo que atribui valor à razão, ao pensamento lógico; o antropocentrismo que se distingue pela forma de pensamento que atribui ao homem toda a dimensão da realidade”, explica Ednilo.

Os livros clássicos, conforme Soárez, apresentam-se em várias dimensões: antropológica, sociológica, filosófica, política, social e psicológica. “Englobam vários saberes, muitas vezes recorrem à Mitologia Grega, exaurem os temas, vocabulário preciso, erudito e exigem sempre leituras complementares”, diz Ednilo, ressaltando a importância dos debates.

Novo sócio

O presidente do Instituto do Ceará, escritor José Augusto Bezerra, preside, hoje, às 19 horas, a solenidade de posse de novo sócio efetivo eleito, o professor Luiz de Gonzaga Fonseca Mota, que será saudado pelo sócio efetivo professor Pedro Sisnando Leite. Na mesma sessão será conferido, à senhora Heldine Cortez Campos, viúva de Eduardo Campos, o diploma de Amiga do Instituto.

PROGRAMAÇÃO - CENTENÁRIO DE MACHADO DE ASSIS

Hoje ´Machado na Academia Brasileira de Letras´, com José Murilo Martins
24 de junho ´O Cronista´, com Fernanda Coutinho
27 de junho ´Machado de Assis: latência sensual consciente´, com Linhares Filho
1º de julho ´Alencar por Machado´, com Angela Guriérrez
4 de julho ´Diálogo entre Alencar e Machado: encarnação e ressurreição´, com Vera Lúcia Albuquerque de Moraes
8 de julho ´O Poeta´, com Sânzio de Azevedo
11 de julho ´Aspectos médicos na obra de Machado´, com Lúcio Alcântara

PROGRAMAÇÃO - CLÁSSICOS DA LITERATURA

30 de junho Abertura: ´Como e porque ler os clássicos´, com Ednilo Soárez
28 de julho ´Dom Quixote´ (Miguel de Cervantes), com Pedro Paulo Montenegro
25 de agosto ´Crime e Castigo´ (Dostoiewski), com Miguel Leocádio Araújo
29 de setembro ´Madame Bovary´ (Flaubert), com Fernanda Coutinho
27 de outubro ´A cidade e as serras´ (Eça de Queiroz), com Vera Filizola
24 de novembro ´Dom Casmurro´ (Machado de Assis), com Angela Gutiérrez

Local e horários Conferências sobre Machado de Assis, terças e sextas de junho e julho, às 17h, na sede da ACL. 3253.4275. E conferências sobre clássicos da literatura, na última segunda de junho, julho, agosto, setembro, outubro e novembro, às 17h, no Centro Cultural Oboé. 3264.7038

Fonte:
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=547809
Colaboração de Douglas Lara. In
www.sorocaba.com.br/acontece

Lygia Fagundes Telles (Suicídio na granja)

Alguns se justificam e se despedem através de cartas, telefonemas ou pequenos gestos — avisos que podem ser mascarados pedidos de socorro. Mas há outros que se vão no mais absoluto silêncio. Ele não deixou nem ao menos um bilhete?, fica perguntando a família, a amante, o amigo, o vizinho e principalmente o cachorro que interroga com um olhar ainda mais interrogativo do que o olhar humano, E ele?!

Suicídio por justa causa e sem causa alguma e aí estaria o que podemos chamar de vocação, a simples vontade de atender ao chamado que vem lá das profundezas e se instala e prevalece. Pois não existe a vocação para o piano, para o futebol, para o teatro. Ai!... para a política. Com a mesma força (evitei a palavra paixão) a vocação para a morte. Quando justificada pode virar uma conformação, Tinha os seus motivos! diz o próximo bem informado. Mas e aquele suicídio que (aparentemente) não tem nenhuma explicação? A morte obscura, que segue veredas indevassáveis na sua breve ou longa trajetória.

Pela primeira vez ouvi a palavra suicídio quando ainda morava naquela antiga chácara que tinha um pequeno pomar e um jardim só de roseiras. Ficava perto de um vilarejo cortado por um rio de águas pardacentas, o nome do vilarejo vai ficar no fundo desse rio. Onde também ficou o Coronel Mota, um fazendeiro velho (todos me pareciam velhos) que andava sempre de terno branco, engomado. Botinas pretas, chapéu de abas largas e aquela bengala grossa com a qual matava cobras. Fui correndo dar a notícia ao meu pai, O Coronel encheu o bolso com pedras e se pinchou com roupa e tudo no rio! Meu pai fez parar a cadeira de balanço, acendeu um charuto e ficou me olhando. Quem disse isso? Tomei o fôlego: Me contaram no recreio. Diz que ele desceu do cavalo, amarrou o cavalo na porteira e foi entrando no rio e enchendo o bolso com pedra, tinha lá um pescador que sabia nadar, nadou e não viu mais nem sinal dele.

Meu pai baixou a cabeça e soltou a baforada de fumaça no ladrilho: Que loucura. No ano passado ele já tinha tentado com uma espingarda que falhou, que loucura! Era um cristão e um cristão não se suicida, ele não podia fazer isso, acrescentou com impaciência. Entregou-me o anel vermelho-dourado do charuto. Não podia fazer isso!

Enfiei o anel no dedo, mas era tão largo que precisei fechar a mão para retê-lo. Mimoso veio correndo assustado. Tinha uma coisa escura na boca e espirrava, o focinho sujo de terra. Vai saindo, vai saindo!, ordenei fazendo com que voltasse pelo mesmo caminho, a conversa agora era séria. Mas pai, por que ele se matou, por quê?! fiquei perguntando. Meu pai olhou o charuto que tirou da boca. Soprou de leve a brasa: Muitos se matam por amor mesmo. Mas tem outros motivos, tantos motivos, uma doença sem remédio. Ou uma dívida. Ou uma tristeza sem fim, às vezes começa a tristeza lá dentro e a dor na gaiola do peito é maior ainda do que a dor na carne. Se a pessoa é delicada, não agüenta e acaba indo embora! Vai embora, ele repetiu e levantou-se de repente, a cara fechada, era o sinal: quando mudava de posição a gente já sabia que ele queria mudar de assunto. Deu uma larga passada na varanda e apoiou-se na grade de ferro como se quisesse examinar melhor a borboleta voejando em redor de uma rosa. Voltou-se rápido, olhando para os lados. E abriu os braços, o charuto preso entre os dedos: Se matam até sem motivo nenhum, um mistério, nenhum motivo! repetiu e foi saindo da varanda. Entrou na sala. Corri atrás. Quem se mata vai pro inferno, pai? Ele apagou o charuto no cinzeiro e voltou-se para me dar o pirulito que eu tinha esquecido em cima da mesa. O gesto me animou, avancei mais confiante: E bicho, bicho também se mata? Tirando o lenço do bolso ele limpou devagar as pontas dos dedos: Bicho, não, só gente.

Só gente? — eu perguntei a mim mesma muitos e muitos anos depois, quando passava as férias de dezembro numa fazenda. Atrás da casa-grande tinha uma granja e nessa granja encontrei dois amigos inseparáveis, um galo branco e um ganso também branco mas com suaves pinceladas cinzentas nas asas. Uma estranha amizade, pensei ao vê-los por ali, sempre juntos. Uma estranhíssima amizade. Mas não é a minha intenção abordar agora problemas de psicologia animal, queria contar apenas o que vi. E o que vi foi isso, dois amigos tão próximos, tão apaixonados, ah! como conversavam em seus longos passeios, como se entendiam na secreta linguagem de perguntas e respostas, o diálogo. Com os intervalos de reflexão. E alguma polêmica mas com humor, não surpreendi naquela tarde o galo rindo? Pois é, o galo. Esse perguntava com maior freqüência, a interrogação acesa nos rápidos movimentos que fazia com a cabeça para baixo, e para os lados, E então? O ganso respondia com certa cautela, parecia mais calmo, mais contido quando abaixava o bico meditativo, quase repetindo os movimentos da cabeça do outro mas numa aura de maior serenidade. Juntos, defendiam-se contra os ataques, não é preciso lembrar que na granja travavam-se as mesmas pequenas guerrilhas da cidade logo adiante, a competição. A intriga. A vaidade e a luta pelo poder, que luta! Essa ânsia voraz que atiçava os grupos, acesa a vontade de ocupar um espaço maior, de excluir o concorrente, época de eleições? E os dois amigos sempre juntos. Atentos. Eu os observava enquanto trocavam pequenos gestos (gestos?) de generosidade nos seus infindáveis passeios pelo terreiro, Hum! olha aqui esta minhoca, sirva-se à vontade, vamos, é sua! — dizia o galo a recuar assim de banda, a crista encrespada quase sangrando no auge da emoção. E o ganso mais tranqüilo (um fidalgo) afastando-se todo cerimonioso, pisando nas titicas como se pisasse em flores, Sirva-se você primeiro, agora é a sua vez! E se punham tão hesitantes que algum frango insolente, arvorado a juiz, acabava se metendo no meio e numa corrida desenfreada levava no bico o manjar. Mas nem o ganso com seus olhinhos redondamente superiores nem o galo flamante — nenhum dos dois parecia dar maior atenção ao furto. Alheios aos bens terreirais, desligados das mesquinharias de uma concorrência desleal, prosseguiam o passeio no mesmo ritmo, nem vagaroso nem apressado, mas digno, ora, minhocas!

Grandes amigos, hem?, comentei certa manhã com o granjeiro que concordou tirando o chapéu e rindo, Eles comem aqui na minha mão!

Foi quando achei que ambos mereciam um nome assim de acordo com suas nobres figuras, e ao ganso, com aquele andar de pensador, as brancas mãos de penas cruzadas nas costas, dei o nome de Platão. Ao galo, mais questionador e mais exaltado como todo discípulo, eu dei o nome de Aristóteles.

Até que um dia (também entre os bichos, um dia) houve o grande jantar na fazenda e do qual não participei. Ainda bem. Quando voltei vi apenas o galo Aristóteles a vagar sozinho e completamente desarvorado, os olhinhos suplicantes na interrogação, o bico entreaberto na ansiedade da busca, Onde, onde?!... Aproximei-me e ele me reconheceu. Cravou em mim um olhar desesperado, Mas onde ele está?! Fiz apenas um aceno ou cheguei a dizer-lhe que esperasse um pouco enquanto ia perguntar ao granjeiro: Mas e aquele ganso, o amigo do galo?!

Para que prosseguir, de que valem os detalhes? Chegou um cozinheiro lá de fora, veio ajudar na festa, começou a contar o granjeiro gaguejando de emoção. Eu tinha saído, fui aqui na casa da minha irmã, não demorei muito mas esse tal de cozinheiro ficou apavorado com medo de atrasar o jantar e nem me esperou, escolheu o que quis e na escolha, acabou levando o coitado, cruzes!... Agora esse daí ficou sozinho e procurando o outro feito tonto, só falta falar esse galo, não come nem bebe, só fica andando nessa agonia! Mesmo quando canta de manhãzinha me representa que está rouco de tanto chorar.

Foi o banquete de Platão, pensei meio nauseada com o miserável trocadilho. Deixei de ir à granja, era insuportável ver aquele galo definhando na busca obstinada, a crista murcha, o olhar esvaziado. E o bico, aquele bico tão tagarela agora pálido, cerrado. Mais alguns dias e foi encontrado morto ao lado do tanque onde o companheiro costumava se banhar. No livro do poeta Maiakóvski (matou-se com um tiro) há um verso que serve de epitáfio para o galo branco: Comigo viu-se doida a anatomia / sou todo um coração!

Fonte:
Invenção e Memória. RJ: Editora Rocco Ltda., 2000. Disponível em
http://www.releituras.com

Millôr Fernandes (O Rei dos Animais)

Saiu o leão a fazer sua pesquisa estatística, para verificar se ainda era o Rei das Selvas. Os tempos tinham mudado muito, as condições do progresso alterado a psicologia e os métodos de combate das feras, as relações de respeito entre os animais já não eram as mesmas, de modo que seria bom indagar. Não que restasse ao Leão qualquer dúvida quanto à sua realeza. Mas assegurar-se é uma das constantes do espírito humano, e, por extensão, do espírito animal. Ouvir da boca dos outros a consagração do nosso valor, saber o sabido, quando ele nos é favorável, eis um prazer dos deuses. Assim o Leão encontrou o Macaco e perguntou: "Hei, você aí, macaco - quem é o rei dos animais?" O Macaco, surpreendido pelo rugir indagatório, deu um salto de pavor e, quando respondeu, já estava no mais alto galho da mais alta árvore da floresta: "Claro que é você, Leão, claro que é você!".

Satisfeito, o Leão continuou pela floresta e perguntou ao papagaio: "Currupaco, papagaio. Quem é, segundo seu conceito, o Senhor da Floresta, não é o Leão?" E como aos papagaios não é dado o dom de improvisar, mas apenas o de repetir, lá repetiu o papagaio: "Currupaco... não é o Leão? Não é o Leão? Currupaco, não é o Leão?".

Cheio de si, prosseguiu o Leão pela floresta em busca de novas afirmações de sua personalidade. Encontrou a coruja e perguntou: "Coruja, não sou eu o maioral da mata?" "Sim, és tu", disse a coruja. Mas disse de sábia, não de crente. E lá se foi o Leão, mais firme no passo, mais alto de cabeça. Encontrou o tigre. "Tigre, - disse em voz de estentor -eu sou o rei da floresta. Certo?" O tigre rugiu, hesitou, tentou não responder, mas sentiu o barulho do olhar do Leão fixo em si, e disse, rugindo contrafeito: "Sim". E rugiu ainda mais mal humorado e já arrependido, quando o leão se afastou.

Três quilômetros adiante, numa grande clareira, o Leão encontrou o elefante. Perguntou: "Elefante, quem manda na floresta, quem é Rei, Imperador, Presidente da República, dono e senhor de árvores e de seres, dentro da mata?" O elefante pegou-o pela tromba, deu três voltas com ele pelo ar, atirou-o contra o tronco de uma árvore e desapareceu floresta adentro. O Leão caiu no chão, tonto e ensangüentado, levantou-se lambendo uma das patas, e murmurou: "Que diabo, só porque não sabia a resposta não era preciso ficar tão zangado".

M O R A L: CADA UM TIRA DOS ACONTECIMENTOS A CONCLUSÃO QUE BEM ENTENDE.

FERNANDES, Millôr. "Fábulas Fabulosas", editado por José Álvaro - Rio de Janeiro, 1964. Disponível em http://www.releituras.com

Teatro

As novas técnicas de espetáculo e o aparecimento do cinema e da televisão foram fundamentais para a renovação da linguagem cênica e dramatúrgica. O espetáculo libertou-se do palco e a dramaturgia transcendeu a ação linear. Assim, o teatro contemporâneo tornou-se uma aventura incerta, mas profundamente estimulante.

O teatro, expressão das mais antigas do espírito lúdico da humanidade, é uma arte cênica peculiar, pois embora tome quase sempre como ponto de partida um texto literário (comédia, drama e outros gêneros), exige uma segunda operação artística: a transformação da literatura em espetáculo cênico e sua confrontação direta com uma platéia. Assim, por maior que seja a interdependência entre o texto dramático e o espetáculo, o ator e a cena criam uma linguagem específica e uma arte essencialmente distinta da criação literária. Existem também representações mudas (a pantomima, o teatro de bonecos), ou improvisadas (a commedia dell'arte), que eventualmente prescindem de um texto literariamente construído.

Durante o espetáculo, o texto dramático se realiza mediante a metamorfose do ator em personagem. À força da palavra somam-se gestos, inflexões da voz, pausas e mesmo o silêncio, segundo o ritmo da ação que se desenrola diante do espectador e de acordo com as imposições, necessidades e recursos dos demais elementos cênicos: iluminação, cenários, sonoplastia etc. A história da dramaturgia é, portanto, inseparável da história do espetáculo.

O texto dramático, que por si só consiste em gênero literário dos mais importantes como testemunho de época, sobrevive a seu próprio tempo não só como palavra, mas como ambiente, vestimenta, objetos e costumes, permitindo a reconstrução, no palco, de situações pretéritas ou prestando-se a adaptações que recolocam no tempo questões de interesse universal.

Origens e história

Antiguidade clássica

A dramatização como forma artística surgiu num estágio relativamente avançado da evolução cultural. Os rituais religiosos em honra ao deus Dioniso deram origem ao teatro grego, que mais tarde, emancipado do culto, foi o primeiro a afirmar-se como arte. Os textos teatrais gregos sobreviveram em traduções romanas.

Em Atenas -- na época dos grandes trágicos Ésquilo, Sófocles e Eurípides; e de Aristófanes, cultor da comédia antiga, essencialmente política -- o teatro era instituição pública, organizada e custeada pelo estado. As representações inseriam-se no calendário, ligadas às grandes festas nacionais. Havia estreita interdependência entre dramaturgia e cenografia, assim como profundo acordo entre poeta e público. A arte, expressão de toda uma civilização, tinha função cívica.

Com o domínio romano, no final do século V a.C., a literatura grega entrou em declínio. O fim das atividades públicas nas cidades da época helenística fez com que a arte trágica perdesse a função. A tragédia e a comédia antigas não tiveram sucessores à altura. A chamada comédia nova, cultivada por Menandro, sofreu restrições oficiais e limitou seus enredos a questões familiares e amorosas, além de focalizar exclusivamente a vida da elite, numa época desmitologizada e despolitizada.

A comédia nova influenciou os romanos Plauto e Terêncio. As melhores tragédias da época romana -- entre as quais as de Sêneca, as únicas do período que sobreviveram completas e que exerceriam influência sobre a arte renascentista inglesa -- foram escritas para recitação em pequenos ambientes fechados.

Paralelamente, uma tradição nativa e popular da comédia persistia, como nas peças phlyax (farsas acrobáticas) e nas atelanas, populares em Roma no século III a.C., cujos arquétipos parecem antecipar os da commedia dell'arte, embora nenhum vínculo entre essas formas seja historicamente comprovado.

O sensacionalismo dos grandes espetáculos oficiais -- lutas mortais de gladiadores e animais selvagens, cristãos transformados em tochas humanas -- chegou a dispensar a existência de qualquer tipo de texto teatral e marginalizou tanto os escritores como o público que desejava outro tipo de entretenimento. Tomaram a cena a pantomima (gênero burlesco remanescente da tragédia) e, principalmente, o mimo, cuja estética do grotesco se coadunava com a dos grandes espetáculos.

O Império Romano entrou em decadência, cristianizou-se e dividiu-se em duas partes. O segmento ocidental, centralizado em Roma, foi invadido pelos povos germânicos e, no século V, o teatro foi proibido, embora as cerimônias religiosas cristãs continuassem utilizando elementos dramáticos. Os registros das manifestações teatrais surgidas em torno da igreja oriental bizantina, sediada em Constantinopla (posterior Istambul), perderam-se quase completamente, após a invasão dos turcos.

Teatro medieval

Embora os textos do teatro romano continuassem acessíveis, já que a Igreja Católica manteve o latim como língua oficial, o legado da cultura clássica foi deixado de lado por mais de 900 anos. O mimo, apesar das proibições, sobreviveu e garantiu a continuidade entre o mundo clássico e a Europa moderna: a cultura popular medieval, com seus artistas ambulantes, acrobatas, malabaristas e menestréis espalhados por toda a Europa, preservou habilidades remanescentes do mimo romano e somou-as às festas pagãs agrícolas e outras tradições folclóricas. Inaugurou-se a divisão entre teatro popular e literário.

O rompimento radical com a tradição teatral clássica fez com que a evolução do teatro ocidental recomeçasse do nada. O desenvolvimento do cantochão durante o século IX levou à criação de textos para serem cantados durante a missa e, assim, novamente as cerimônias religiosas propiciaram o surgimento do teatro. Por volta do ano 1000 surgiram os tropos -- pequenos diálogos cantados, acrescentados ao texto dos Evangelhos. Logo, toda a liturgia da Páscoa ganhou forma dramática e, no final do século XIII, eram assim representadas também as liturgias da Paixão e do Natal.

Esses dramas litúrgicos, circunscritos ao interior das igrejas, inspiraram pequenas peças religiosas, que passaram ao pátio e finalmente a outros locais da cidade. Com a intenção de tornar os eventos mais claros à assistência, foram adotadas, ao lado do latim, as línguas vernáculas, e partes do texto cantado passaram a ser faladas.

No início do século XIV, era freqüente que representantes leigos das corporações de ofícios, e não clérigos, comandassem as representações. Conhecidas na Espanha como autos sacramentais e na Inglaterra e na França como mistérios, essas peças tinham textos inteiramente vernáculos. O distanciamento da solenidade religiosa e a substituição do latim abriram espaço para o surgimento de pequenos interlúdios cômicos, em forma de farsas derivadas do folclore local, que eram incorporados à trama principal. Ciclos dessas peças eram levados em praça pública, em espetáculos que se estendiam por vários dias e contavam com a participação de inúmeros atores.

Durante o século XV, desenvolveram-se as moralidades, alegorias de temática social e religiosa, protagonizadas por entes abstratos como a humanidade, o bem, o mal, a morte e a castidade. As moralidades eram um dos três principais gêneros, ao lado dos milagres, que narravam a vida de um santo, e dos mistérios. Destinadas à educação moral, surgiram na classe média nascente das cidades. Pregavam sobretudo a abstinência dos sete pecados capitais, num contexto de rápidas e irreversíveis transformações sociais que ameaçavam os valores éticos da então decadente estrutura feudal.

La Celestina ou Comedia de Calisto y Melibea (1499), obra atribuída a Fernando de Rojas, exerceu grande influência na Europa de então. Com elementos humanistas e renascentistas, representa uma etapa decisiva na gênese da comédia clássica. O português Gil Vicente, figura máxima da literatura ibérica do século XVI, criou um teatro ainda marcado por elementos medievais que prenuncia a dramaturgia renascentista.

Renascimento

A perda de importância de Roma depois da invasão dos germânicos e a revalorização das artes e as ciências que haviam florescido no antigo império determinou a imitação dos modelos clássicos gregos e romanos pelos artistas italianos, ideal que dominou todo o mundo ocidental durante o Renascimento.

A admiração por uma civilização pagã incentivou em muitos aspectos a laicização da sociedade. O humanismo colocou o homem no centro do universo e a vida terrena foi valorizada em relação à vida eterna depois da morte. A própria igreja sofreu reformulações, adaptou-se às idéias humanistas e incentivou as ciências e as artes, mesmo quando entravam em confronto com a doutrina cristã, o que resultou em grande desenvolvimento da arte profana.

A invenção da imprensa de tipos móveis por Gutenberg é contemporânea à redescoberta dos textos gregos e romanos, o que facilitou sua difusão e ampliou sua influência. Inicialmente revivido, o teatro grego e romano -- sobretudo a comédia -- logo foi imitado pelos primeiros humanistas, entre os quais Ludovico Ariosto. A descoberta da perspectiva, que passou a ser largamente utilizada em pintura, fez florescer também a cenografia. Em Vicenza, Sebastiano Serlio inventou o palco italiano, cuja perspectiva criava a ilusão de grande profundidade e que permanece até a atualidade.

Itália

A imitação italiana da tragédia grega, sempre mediada pela obra de Sêneca, teve curta duração. Já a imitação das comédias de Plauto e Terêncio -- na chamada commedia erudita, encenada por atores diletantes e dirigida a um pequeno público da aristocracia -- produziu pelo menos uma obra-prima, Mandragola (1524; Mandrágora), de Maquiavel.

A síntese do gosto popular e da comédia plautina operou-se no teatro de Angelo Beolco, natural de Pádua e conhecido como Ruzzante, organizador de uma das primeiras companhias profissionais de atores, no início do século XVI.

Os "tipos" de Ruzzante são considerados os precursores das figuras da commedia dell'arte, forma original italiana com diálogos inteiramente improvisados, personagens regionais e as maschere (Arlequim, Polichinelo, Colombina etc.). O sucesso do gênero, que chegou a alto nível de virtuosismo, foi responsável pela proliferação de grupos profissionais de atores, de formação fixa. A commedia dell'arte, de origem popular, foi recebida nos palácios e tornou-se internacionalmente famosa, sobretudo na França, onde predominou no século XVII. Sua influência, presente na obra de Molière e Shakespeare, estendeu-se ao século seguinte -- Goldoni, na Itália, baseou-se nela para criar a comédia de costumes; e Marivaux, na França, também utilizou seus personagens -- e permaneceu até o teatro do século XX.

Espanha

O drama religioso teve continuidade na Espanha, não afetada pela Reforma protestante. Paralelamente, durante a segunda metade do século XVI (o Século de Ouro espanhol), estabeleceram-se na Espanha e na Inglaterra inúmeras companhias laicas de atores profissionais. As primeiras, como a de Lope de Rueda, eram grupos de ambulantes sem nenhum recurso material. Criaram um teatro que, influenciado pela commedia dell'arte e livre das regras do classicismo, tornou-se tradicional no país.

O estabelecimento de corrales (quintais), onde eram encenados espetáculos que atraíam um público composto por representantes de todas as classes sociais, significou um meio de vida mais seguro para os atores e uma maior possibilidade de controle por parte da igreja e das autoridades.

Os primeiros autores de textos teatrais eram também empresários dos espetáculos. Sua produção artística, rápida e comercial, admitia o recurso ao lugar-comum, o emprego repetitivo de cenas preconcebidas e o plágio. Mesmo assim, algumas obras diferenciaram-se pela qualidade. Os maiores dramaturgos do Século de Ouro foram Lope de Vega, a quem se atribui mais de 1.500 peças, e Calderón de la Barca. Ambos escreveram tragédias e comédias e foram os primeiros cultores da zarzuela, gênero de teatro musical tipicamente espanhol.

Tornou-se muito popular na época o entremez, peça curta e cômica intercalada entre os atos das grandes tragédias, que teve em Cervantes seu mais importante autor. A Tirso de Molina deve-se a criação de um dos grandes tipos do teatro moderno, o Don Juan, em El burlador de Sevilla y convidado de piedra (1630; O sedutor de Sevilha e o convidado de pedra). Contribuição importante é também a de Juan Ruiz de Alarcón, mexicano radicado na Espanha e criador da comédia de caracteres, precursora do teatro francês nesse gênero.

Inglaterra

O drama neoclássico italiano teve pouca influência na Inglaterra protestante, refratária a tudo o que viesse de Roma ou pertencesse à tradição latina e, sob permanente ameaça de invasão estrangeira, apegada a elementos nacionais. Relativamente livre do modelo clássico, o teatro inglês elisabetano adaptou o drama religioso medieval a temas profanos e, ao lado do espanhol, constituiu o fundamento do teatro moderno.

O espírito da Reforma dominou as artes cênicas e fez surgirem interlúdios cômicos que satirizavam as peças católicas tradicionais. Adaptadas de milagres e moralidades, essas encenações tornaram-se estopim de tumultos e desordens. Os autores teatrais foram submetidos a crescente censura, os atores mantidos sob observação e os locais de espetáculo passaram a depender de licença oficial para funcionar.

No final do século XVI, após a derrota da armada espanhola, a Inglaterra finalmente abriu-se a novas idéias em arte e educação. Mas já então o teatro inglês definira sua personalidade. Profissionalmente organizado, financiado pelos grandes comerciantes e apoiado pela corte, o teatro de Chistopher Marlowe, William Shakespeare, Ben Jonson e John Webster manteve sua ligação com a herança medieval e o teatro popular, autoconfiante o bastante para não se deixar levar pelos preceitos neoclássicos.

Os primeiros teatros ingleses, surgidos na segunda metade do século XVI, eram ao ar livre, como os corrales espanhóis. As companhias eram também contratadas para atuar nos palácios. As três primeiras tragédias inglesas -- entre as quais Gorboduc (1561-1562), escrita por Thomas Sackville e Thomas Norton sob a inconfundível influência de Sêneca -- surgiram entre 1560 e 1570. Iniciava-se a "era das blood tragedies" ("tragédias sangrentas"). Três gerações sucessivas de dramaturgos exploraram o gênero trágico: a primeira, com Thomas Kyd e Marlowe; a segunda, com George Chapman, Shakespeare, John Marston, Cyril Tourneur, Thomas Middleton e William Rowley; a última, com Philip Massinger, Webster e John Ford.

Shakespeare, considerado o maior dramaturgo da literatura universal, escreveu comédias e tragédias. O florescimento da grande dramaturgia de sua época coincidiu com a inauguração dos primeiros teatros cobertos, no estilo italiano. Em 1642, a censura puritana impôs o fechamento dos teatros. Reabertos em 1660, com a restauração da monarquia, encontraram a elite conquistada pelo teatro clássico francês. Mesmo assim, as obras de Shakespeare, John Dryden e Thomas Otway passaram ao repertório moderno.

França

No início do século XVI, o drama religioso foi oficialmente proscrito, numa tentativa de impedir seu uso a favor do avanço do protestantismo. Ressurgida tardiamente em relação às formas barrocas da comédia espanhola, da commedia dell'arte e do drama elisabetano, a dramaturgia francesa do século XVII orientou-se pelo ideal clássico do grupo de poetas La Pléiade, entre os quais Ronsard e Joachim du Bellay. Um conjunto rigoroso de regras passou a determinar a construção do texto, independentemente da ambientação histórica e geográfica da trama, numa forma dramática fixa, rígida e formal. As obras de Molière, Racine e Corneille, primeiro exemplo de teatro moderno, predominaram na Europa e demonstraram que tais regras podiam ser respeitadas sem prejuízo da criatividade. Molière, inspirado de início na commedia dell'arte e em Terêncio, criou a comédia de costumes e de caracteres, protagonizadas por personagens arquetípicos. Racine e Corneille escreveram tragédias de grande profundidade psicológica.

Alemanha e Áustria

Envolvidos em constantes guerras, cisões religiosas e sem nenhum centro urbano preponderante que se afirmasse como núcleo cultural, os países de língua alemã não desenvolveram uma arte dramática própria nesse período. Atraíram muitos atores ingleses que, afugentados pelas restrições ao teatro na Inglaterra, praticaram ali uma arte mambembe e popular, ao ar livre, nas feiras e praças e, em virtude das dificuldades com a língua, baseada na mímica. O teatro de bonecos italiano influenciou o teatro popular austríaco. No final do século XVII, as companhias de commedia dell'arte fizeram grande sucesso nas cortes austríacas e seu estilo foi imitado.

Numa época em que não havia ensino obrigatório, em que poucos sabiam ler e escrever e em que o conhecimento e as viagens eram acessíveis apenas a alguns privilegiados, os atores ambulantes foram os principais responsáveis pelo rompimento do isolamento cultural dos países de língua alemã em relação às culturas européias vizinhas e impulsionaram o surgimento de um teatro profissional na Alemanha e na Áustria.

Teatro jesuítico

Conscientes do poder de persuasão da dramatização, os jesuítas criaram a principal vertente do drama religioso entre os séculos XVI e XVIII. Utilizado como meio de ensinar maneiras aristocráticas aos noviços e, sobretudo, como instrumento de catequese nas colônias ibéricas recém-descobertas, o teatro jesuítico deu origem ao teatro brasileiro e a vários teatros nacionais da América Latina. Legítimos representantes da vanguarda do pensamento humanista europeu, os jesuítas excederam suas intenções didáticas iniciais e, a partir do século XVII, alguns deles e seus pupilos figuraram entre os mais importantes teóricos do teatro barroco.

Drama burguês e romantismo

As primeiras reações ao neoclassicismo surgiram na década de 1730 e vieram da classe média, até então relativamente alheia à produção cultural. Entre 1773 e 1784, desenvolveu-se o movimento alemão do pré-romantismo, ao qual se filiaram Herder, Jakob Lenz e os jovens Göethe e Schiller. O novo modelo era Shakespeare, cujas primeiras traduções para o alemão surgiram entre 1726 e 1766. Logo, porém, a produção teatral caiu na estagnação, e o romantismo, sobretudo na Alemanha, não foi capaz de produzir obras dramáticas comparáveis às do pré-romantismo.

Alemanha

Posteriormente conhecido como Sturm und Drang (Tempestade e tensão), expressão extraída do título de uma peça de Friedrich Klinger, o movimento pré-romântico surgido na Alemanha afirmava que a emoção e a sensibilidade do artista eram os únicos pré-requisitos da criação, independentemente de regras formais. O Fausto, de Göethe, cuja primeira parte foi publicada em 1808, é uma das maiores obras da literatura alemã e universal. Embora iniciada em 1770 e, portanto, com raízes nessa fase, dificilmente pode ser filiada a uma corrente literária.

França

A decadência do teatro clássico francês foi retardada pelo gênio de Voltaire e pelo talento e habilidade de Marivaux. Enfim, as tendências revolucionárias infiltraram-se também na produção literária, a exemplo da comédia satírico-política de Beaumarchais, e sufocaram o classicismo.

As peças do inglês George Lillo, na década de 1730, representaram um passo adiante na busca de certo realismo. O novo mundo da burguesia seria o ponto de partida de Diderot, que se tornou o teórico do "drama burguês", gênero comprometido com a descrição realista da vida social.

Entre 1820 e 1830, Stendhal, Alfred de Vigny e Victor Hugo lançaram suas obras e, juntamente com Manzoni na Itália, inauguraram o drama romântico. Com a estréia de Hernani, de Victor Hugo, em 1830, o teatro transformou-se em verdadeira batalha, travada entre a juventude romântica e os conservadores. O triunfo do drama romântico foi, entretanto, de curta duração e o repertório clássico voltou a dominar o teatro francês, embora obras como Antoine (1831), de Alexandre Dumas, e Lorenzaccio (1830), de Alfred de Musset, insistissem na mentalidade romântica.

Realismo e naturalismo

O movimento romântico do início do século XIX despertou o interesse por temas históricos e uma preocupação obsessiva com a autenticidade de cenários e figurinos. Até mesmo cavalos vivos subiram ao palco. A veracidade dos recursos cênicos passou a exigir atitudes mais naturais também por parte dos atores.

O realismo francês, introduzido no romance por Flaubert e Balzac, continuou no teatro de Alexandre Dumas filho, autor de La Dame aux camélias (1852; A dama das camélias). Na Rússia, a obra de Gogol representou a transição do romantismo ao realismo. Depois do fracasso das revoluções de 1848, o teatro do norueguês Henrik Ibsen -- de início romântico, depois realista e, por fim, simbolista -- dominou os palcos europeus.

As companhias de teatro, até o final do século XIX, estruturavam-se basicamente em torno de um ator principal, que centralizava também as decisões administrativas. Em 1866, George II, duque de Saxe-Meiningen, assumiu pessoalmente a direção de sua companhia oficial de teatro e alcançou um nível até então desconhecido de harmonia de conjunto entre os atores. Entre 1874 e 1890, a companhia viajou por toda a Europa com grande sucesso e difundiu a nova forma de trabalho, centralizada no diretor ou encenador. As inovações tecnológicas do período, que abriram novas possibilidades de complicados efeitos cênicos, contribuíram para a mudança. Todas as diferentes tendências do teatro moderno cristalizaram-se em torno de diretores.

O primeiro drama naturalista foi Thérèse Raquin (1873), de Émile Zola. O autor propunha uma arte dramática que fosse uma "análise científica da vida", representação literal dos fatos. A escola naturalista revolucionou a estética teatral e a ela pertenceram o sueco August Strindberg; o encenador André Antoine, do Théâtre Libre (1887-1896), em Paris; Otto Brahm, do Freie Bühne, em Berlim (1889); Jacob Grein e Bernard Shaw, do Independent Theatre Club (1891-1897), em Londres; e finalmente Konstantin Stanislavski, que montou as peças de Tchekhov no Teatro de Arte de Moscou (1898-1913). Alguns dos teatros independentes surgidos a favor do naturalismo mantiveram-se -- ou desdobraram-se -- mais tarde como núcleos de teatro experimental. Na Rússia, Tolstoi, Tchekhov e Gorki lideraram a evolução da dramaturgia, de forma independente do ibsenismo.

Teatro no século XX

Três fatores determinaram a evolução da arte teatral na primeira metade do século XX: o advento do comunismo, a crise da burguesia capitalista e a invenção do cinema e da televisão, que praticamente tomaram o lugar do teatro popular.

A caracterização psicológica dos personagens integrou conceitos da psicanálise, e o desenvolvimento tecnológico modificou todo o aparato técnico que cerca o espetáculo: luzes, cenários, som e efeitos especiais diversos. A filosofia contemporânea e os valores morais e sociais, revolucionados após as duas guerras, impregnaram o pensamento e a obra de autores e diretores. O questionamento dos valores burgueses e a recém-conquistada valorização social das massas populares, trouxe a preocupação de uma criação teatral não elitista. A negação do espaço cênico tradicional, a substituição de autor e diretor pela proposta de criação coletiva, e a busca de um novo relacionamento com o espectador foram também características marcantes da experimentação teatral do período.

Reações ao realismo

Embora o realismo do final do século XIX tenha tido continuidade, as inovações mais significativas no teatro no início do século XX foram resultado de uma violenta reação ao realismo, ao naturalismo e à concepção do mundo linear e burguesa por eles representada. A detalhada reconstituição da realidade na cena foi substituída pela simplicidade e pelo uso de símbolos.

O cenógrafo suíço Adolphe Appia compreendia os recursos cênicos como meios para colocar o ator no foco das atenções e propôs a iluminação como principal criadora de ambiência, num cenário vazio e abstrato. Suas idéias foram levadas à frente pelo diretor Gordon Craig, que expôs no livro The Art of the Theatre (1905; A arte do teatro) sua concepção do "teatro total", em que o diretor seria o único responsável pela harmonização dos vários elementos da produção teatral num todo unificado.

A vocação do teatro político de massas afirmou-se sobretudo na Alemanha, onde, a partir de 1905, Max Reinhardt procurou manter o realismo na expressão dos sentimentos, sem a monótona exatidão da reprodução da realidade. Ao invés disso, encenou peças fora das tradicionais casas de espetáculo, em circos e praças. Conseguiu assim estabelecer uma nova relação com o espectador e atingir um público popular.

O futurismo italiano, iniciado por Marinetti em 1909, prefigurou a maior parte das abordagens não-realistas do teatro posterior: dadaísmo, surrealismo, construtivismo, teatro do absurdo e mesmo os happenings da década de 1960. Velocidade, loucura, o homem como máquina foram alguns dos principais temas do movimento. Os atores misturavam-se aos espectadores, quebrando a barreira que os separava.

Expressionismo

O movimento expressionista, ponto de partida da cultura de massas, atingiu todas as artes, sobretudo a pintura, a literatura e o cinema. Sua proposta básica era alcançar o significado essencial por meio da distorção das aparências. Entre os principais expressionistas do teatro estão George Kaiser e, numa fase posterior, comprometida com o ativismo político, Ernst Toller. Na década de 1920, Erwin Piscator, um militante da organização revolucionária Liga Espartaquista, procurou atingir o inconsciente do espectador por meio de uma técnica de choque e despertar o espírito de luta no proletariado alemão, traumatizado pela primeira guerra mundial e prostrado pela miséria.

No mundo capitalista, a estética expressionista, vulgarizada pelo cinema da época e alijada de seus objetivos políticos, forneceu uma visão sintética a um público exposto a uma avalanche de informações que culminaram na crise do próprio teatro, evidenciada na metalinguagem de Pirandello; na arte irracional do surrealismo e do absurdo; e nas diversas experiências de expressão do individualismo e de criação coletiva baseada na explosão do instinto e do inconsciente.

Teatro de Artaud

As proposições únicas e anárquicas de Artaud, expressas no livro Le Théâtre et son double (1938; O teatro e seu duplo), denunciaram a decadência do humanismo e pretendiam subverter a lógica convencional. Os elementos básicos de sua concepção de teatro, que ele chamou "teatro da crueldade", foram o duplo, o transe e a própria crueldade.

Teatro marxista

Experimentações como o construtivismo de Vsevolod Meyerhold, inicialmente apoiadas pelo governo de Lenin, foram banidas por Stalin a partir de 1932, em nome do "realismo socialista", que compreendia as artes apenas como um meio de educar a população segundo os ideais da revolução comunista. Os cenários tornaram-se cada vez mais detalhados e toda tentativa de abstração ou simbolismo foi condenada, como expressão de formalismo burguês e vazio. O teatro russo entrou em total estagnação.

O teatro épico de Brecht -- autor alemão que se tornou marxista no final da década de 1920 e radicou-se em Berlim oriental no final da década de 1940 -- alterou de forma irreversível a história do espetáculo teatral.

Multiplicação de tendências

No decorrer do século, tornou-se praticamente impossível classificar todas as tendências da dramaturgia, que se recombinam continuamente em novas formulações. Propostas racionais e políticas muitas vezes empregam recursos típicos do que seria o teatro metafísico e irracional e vice-versa.

O realismo, modificado pelas correntes estéticas que o contestaram, sobreviveu com Ibsen e Bernard Shaw. As peças de tese, que apresentam e defendem um ponto de vista, cresceram em importância depois de 1945, com as obras de Albert Camus e, sobretudo, Sartre. O teatro realista desenvolveu-se principalmente nos Estados Unidos e no Reino Unido.

Stanislavski, Artaud e Brecht foram os principais inspiradores do teatro contemporâneo. O método interpretativo de Stanislavski influenciou a atividade teatral no mundo inteiro, sobretudo na Rússia e Estados Unidos. O sucesso da obra de Brecht desencadeou um verdadeiro surto de teatro político nos Estados Unidos. Na América Latina, destacou-se a obra de García Lorca, reveladora dos costumes nacionais e da estrutura social patriarcal, e do mexicano Rodolfo Usigli.

A herança de Artaud perpetuou-se em diretores como Roger Blin, Maurice Béjart, Jorge Lavelli, Victor García e Peter Brook; em dramaturgos como Jean Genet e Jean Cocteau, que renovaram a literatura francesa; e em grupos como o americano Living Theater e o Teatro Laboratório do polonês Jerzy Grotowski. Eugène Ionesco, com La Cantatrice chauve (1950; A cantora careca), e Samuel Beckett, com En attendant Godot (1953; Esperando Godot), inauguraram o teatro do absurdo, que rompeu com o humanismo, os enredos psicológicos e destruiu o sentido lógico do texto.

Teatro no Brasil

Período colonial

O teatro brasileiro teve origem com os jesuítas, que utilizaram o espetáculo como instrumento de catequese. Atribui-se ao padre José de Anchieta a autoria dos textos conhecidos atualmente e encenados pelos jesuítas no século XVI. As peças, catequéticas e didáticas, eram freqüentemente bilíngües ou trilíngües, escritas em português, espanhol e tupi. Anchieta, influenciado pelos autos do português Gil Vicente, seguiu a tradição do teatro religioso medieval e escreveu peças de circunstância, porém adaptadas à nova realidade americana, com a inclusão de elementos da cultura indígena.

As primeiras manifestações teatrais desvinculadas da catequese surgiram no Brasil a partir da segunda metade do século XVIII. A construção de edifícios próprios -- as chamadas casas de ópera, onde passou a funcionar um teatro regular -- atesta o progresso das artes cênicas. Em Vila Rica (posterior Ouro Preto) foi construído provavelmente o mais antigo teatro da América do Sul. Do período colonial, poucas peças, todas de pouco valor dramático, chegaram a nossos dias. Destaca-se a qualidade da obra de Antônio José da Silva, conhecido como o Judeu, brasileiro educado em Portugal, que no entanto pertence mais propriamente à cultura da metrópole.

Comédia brasileira

A independência, proclamada em 1822, criou o ambiente em que eclodiram o romantismo e os sentimentos nacionalistas na arte brasileira. João Caetano, o primeiro grande ator brasileiro, exerceu importante papel na história do teatro nacional. Em 1833, após atuar ao lado de portugueses radicados no Brasil, formou a primeira companhia brasileira.

Em 1836, Gonçalves de Magalhães, em artigo na revista Niterói, editada em Paris por um grupo de brasileiros, chamava a atenção do público para o tema da nacionalidade. Em 1838, a companhia de João Caetano lançou Magalhães, com a peça Antônio José ou O poeta e a Inquisição, e Martins Pena, fundador da comédia de costumes brasileira, com O juiz de paz na roça. A obra de Martins Pena inclui vinte comédias e seis dramas e, embora interrompida pela morte precoce do autor aos 33 anos, representa um divisor de águas, com a introdução no teatro da linguagem popular e coloquial, da sátira social e dos retratos de situações quotidianas. Algumas de suas peças, como O noviço (1845), subsistem no repertório moderno.

Fase romântico-naturalista

A dramaturgia de Gonçalves Dias, embora inferior a sua produção poética, é a mais representativa da segunda metade do século XIX. As peças Patkull e Beatriz Cenci, ambas de 1843, fazem evidentes concessões ao gosto folhetinesco da época, embora já demonstrem grande talento. Em Leonor de Mendonça (1846), que impressiona pelo equilíbrio formal e a elegância e teatralidade do diálogo, o autor se liberta dos previsíveis clichês românticos.

A obra de Qorpo-Santo, pseudônimo do gaúcho José Joaquim de Campos Leão, foi escrita em sua maior parte em 1866, ano em que sofreu grave crise psíquica. Produziu um teatro totalmente estranho ao ambiente romântico, pelo vigor do nonsense. Considerada como uma antecipação do teatro do absurdo, a obra de Qorpo-Santo seria resgatada pelo escritor Guilhermino César na década de 1960.

Os grandes nomes da literatura nacional no século XIX não pareceram, em geral, inclinados ao teatro. Pequena importância alcançou a dramaturgia esporádica de romancistas de talento como Machado de Assis, Joaquim Manuel de Macedo e José de Alencar -- o qual declarou explicitamente que seguia modelos franceses por não existirem os nacionais. Pouco tiveram a acrescentar poetas consagrados como Álvares de Azevedo, Castro Alves e Casimiro de Abreu.

Teatro de costumes

França Júnior e Artur de Azevedo consolidaram a comédia de costumes iniciada por Martins Pena. As peças de França Júnior mostram domínio técnico e uma superação da ingenuidade romântica que aproximam sua obra do espectador contemporâneo. A sátira social se apura em Como se faz um deputado (1882), Caiu o ministério! (1884) e As doutoras (1889). A obra de Artur Azevedo representa uma reação contra os abusos do gênero ligeiro que, àquela altura, ameaçava extinguir o drama e a comédia. Seu estilo é simples, direto e de grande fluência. As burletas A capital federal (1897) e O mambembe (1904) são modelares no gênero.

Simbolismo e reação modernista

No começo do século XX, a produção dramática foi extremamente irregular. O teatro francês ditava as normas da dramaturgia. A primeira guerra mundial dificultou as comunicações com a Europa e, ainda mais, a presença das companhias estrangeiras no Brasil, o que abriu caminho para o teatro nacional. Em 1915 fundou-se no Rio de Janeiro o teatro Trianon. Destacaram-se então como dramaturgos sobretudo João do Rio, pseudônimo de Paulo Barreto, cronista brilhante e autor de Eva (1915) e A bela madame Vargas; e também Gastão Tojeiro, Roberto Gomes e Paulo Gonçalves.

A imaturidade do modelo brasileiro de dramaturgia fez com que as décadas de 1920 e 1930 se caracterizassem como o período em que se manifestou a hegemonia dos atores, cujos nomes famosos eram suficientes para atrair o público, sem que houvesse unidade estética no espetáculo quanto a cenografia, figurino, iluminação e mesmo integração do elenco. Consagraram-se assim Itália Fausta, Leopoldo Fróis, Procópio Ferreira e Dulcina de Morais, entre outros.

Contra o teatro acadêmico e indeciso investiu o movimento modernista de 1922, com Eugênia e Álvaro Moreira, fundadores do efêmero porém notável Teatro de Brinquedo, cujos cenários eram como miniaturas; Joraci Camargo, cuja peça Deus lhe pague (1932) se confunde com a primeira tentativa de teatro social no país; e sobretudo Oswald de Andrade, com O rei da vela (1934) e A morta (1937).

Formação de grupos

O teatro de arte, e não apenas de entretenimento, conquistou definitivamente seu espaço a partir da década de 1930. Em 1938, após conhecer o teatro inglês, Pascoal Carlos Magno fundou no Rio de Janeiro o Teatro do Estudante do Brasil, onde foram encenadas peças de Shakespeare, Ibsen, Sófocles e Eurípides. Ali, instituiu a figura do diretor, extinguiu o ponto (encarregado de murmurar as falas para os atores em cena, em caso de esquecimento) e valorizou a equipe de cenógrafos e figurinistas. Em São Paulo surgiram grupos experimentais que revelaram talentos como os de Cacilda Becker e Paulo Autran. Em Recife surgiu, em 1941, o Teatro de Amadores de Pernambuco.

A renovação estética efetiva do palco brasileiro se deu com a fundação, em 1941, do grupo amador Os Comediantes. A partir de sua imposição, na década de 1940, pode-se afirmar que a tônica do espetáculo passou do intérprete ao diretor. O responsável por essa mudança foi o diretor e intérprete polonês Zbigniew Ziembinski, que chegou ao Rio de Janeiro em 1941, fugindo da guerra. De linguagem expressionista, era um mestre da iluminação e passou a coordenar todos os elementos do espetáculo, o que fez sobressair no resultado final o trabalho de equipe. Em 1943, teve impacto surpreendente sua montagem de Vestido de noiva, peça que impôs o nome de Nelson Rodrigues como o autor que renovaria o teatro nacional. A estréia da peça inaugurou a moderna dramaturgia brasileira, em que se destacaram também Jorge Andrade, com A moratória (1932); Ariano Suassuna, com Auto da compadecida (1955); e Dias Gomes, com O pagador de promessas (1954).

O Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), criado em São Paulo em 1948, herdou as diretrizes de Os Comediantes. Patrocinado por um empresário paulista, manteve um elenco fixo de mais de trinta atores e dominou a produção teatral na década seguinte. Restrito quase exclusivamente a peças consagradas na Europa e Estados Unidos, levou o público de classe média ao teatro. A segunda guerra mundial trouxe também ao Brasil diretores estrangeiros como Adolfo Celi, Luciano Salce, Flaminio Bollini Cerri e Ruggero Jacobbi. Seu trabalho influenciou a formação dos primeiros diretores brasileiros: Antunes Filho, José Renato, Flávio Rangel e outros.

Como reação a esse teatro estrangeiro, surgiu no final da década de 1950 o Teatro de Arena de São Paulo, dirigido inicialmente por José Renato e depois por Augusto Boal. Em 1958, o grupo obteve o primeiro grande êxito, com a montagem de Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri, brasileiro de origem italiana. O Arena iniciou então um laboratório de dramaturgia que produziu textos, encenados um após outro, sempre com o propósito de examinar um aspecto da realidade do país. Após um período de hegemonia do diretor, firmou-se assim, no início da década de 1960, a preponderância do dramaturgo brasileiro.

O Arena encenou grandes sucessos de bilheteria e configurou-se como importante centro experimental e criador de uma linguagem autóctone de interpretação e cenografia. A primeira contribuição importante de Boal como dramaturgo foi Revolução na América do Sul (1960). O teatro épico à maneira de Brecht serviu de base à formulação de seu "sistema curinga", em que cada personagem é representado alternadamente por vários atores, que se revezam também na função de "curinga", figura que permanece fora da cena, explicando-a e comentando-a. O recurso foi utilizado pela primeira vez em Arena conta Zumbi (1965), texto escrito em parceria com Gianfrancesco Guarnieri e musicado por Edu Lobo. No Rio de Janeiro, Maria Clara Machado, autora e atriz dedicada basicamente ao teatro infantil, fundou em 1952 o grupo experimental O Tablado, que formou várias gerações de atores.

Surgido em São Paulo em 1961, o Grupo Oficina foi responsável por algumas das montagens mais importantes do teatro brasileiro contemporâneo, dirigidas por José Celso Martínez Correia. Destacou-se inicialmente a peça Os pequenos burgueses, de Gorki, encenada em 1964. Em 1967, a primeira montagem de O rei da vela, de Oswald de Andrade, texto publicado trinta anos antes, marcou o início de uma nova fase -- tropicalista e ligada ao momento político -- no trabalho do grupo e fez de José Celso uma das mais vigorosas e discutidas personalidades do teatro nacional. Seguiram-se, com texto e música de Chico Buarque de Holanda, Roda viva (1967) -- cujo elenco foi mais de uma vez agredido pela platéia e que terminou suspensa pela censura federal -- e montagens de textos de Brecht.

No início da década de 1970, após profunda crise que levou ao afastamento de vários integrantes do elenco original, o Oficina remontou alguns de seus sucessos anteriores, com os quais excursionou pelo país e cobriu prejuízos financeiros sem, no entanto, obter o mesmo impacto. O último espetáculo foi Gracias señor.

O grupo Opinião ateve-se à sátira política em forma de musical. O primeiro espetáculo, que deu nome ao grupo, foi idealizado por Augusto Boal, Oduvaldo Viana Filho, Armando Costa e Paulo Pontes. Reunia os cantores e compositores Zé Kéti e João do Vale e a cantora Nara Leão, que alternavam canções nordestinas, cubanas e sambas de morro com textos que denunciavam injustiças sociais.

Grupos independentes

A renovação do teatro brasileiro muito deve também aos grupos semiprofissionais, existentes em grande número por todo o país: somente no Rio de Janeiro, havia mais de trezentos no início da década de 1980. O grupo carioca Asdrúbal Trouxe o Trombone, surgido nessa época, montou O inspetor geral, de Gogol, e as criações coletivas A farra da Terra, Trate-me leão e Aquela coisa toda.

Final do século XX

A gaúcha Denise Stocklos consagrou-se no mundo inteiro com seu "teatro essencial", cujos espetáculos, baseados em elaborada técnica corporal, são resultado de um trabalho solitário de texto, direção e atuação. Antônio Nóbrega, ator e músico, alcançou grande qualidade na linha de teatro popular, com raízes no cordel e no circo.

A dramaturgia de Nelson Rodrigues foi redescoberta e ocupou os palcos e a televisão brasileiros em meados da década de 1990, após a reedição de suas obras completas e o lançamento de O anjo pornográfico (1994), biografia do dramaturgo escrita por Rui Castro. Experiências de linguagem continuaram a ser feitas por diretores como Gerald Thomas, Bia Lessa, Márcio Viana, Gabriel Vilela e Moacir Góis.

Teoria e crítica teatral

Fruto do trabalho de pensadores e filósofos que se dedicam a questões estéticas, de homens de teatro e também de críticos profissionais, a crítica teatral privilegiou tradicionalmente o aspecto literário da dramaturgia, em detrimento do espetáculo.

A poética de Aristóteles, escrita no século IV a.C., é o primeiro documento fundamental de teoria teatral. Estuda as leis que regem a estrutura da tragédia, da comédia e do drama satírico. Considera o teatro como imitação (mimese) de ações da vida real, com o objetivo de suscitar a compaixão e o terror e promover a purgação (catarse) dessas emoções.

O Renascimento italiano foi o ponto de partida da moderna crítica teatral, com a redescoberta e minuciosa análise dos textos greco-romanos. Uma das questões mais controvertidas da teoria teatral renascentista foi a lei das três unidades (ação, tempo e lugar), atribuída a Aristóteles mas formulada explicitamente pela primeira vez em 1570, por Castelvetro. Essa lei postulava que a ação cênica devia transcorrer, durante toda a peça, num único lugar e no tempo real. Transformadas em dogmas inquestionáveis, as proposições aristotélicas, base do classicismo, tiranizaram a produção dramática no Ocidente durante mais de um século.

Na Espanha, a indiferença às normas clássicas foi representada sobretudo pela obra de Lope de Vega. Atacado por Cervantes, veemente defensor do classicismo, Vega defendeu-se em Arte nuevo de hacer comedias en este tiempo (1609), livro em que afirma conhecer as regras mas ignorá-las propositalmente enquanto escreve, para que sua liberdade de criação não seja obstada por falsos preceitos.

Na Inglaterra, até o final do século XVIII, puritanos como Jeremy Collier atacam os homens de teatro. Enquanto isso, na França, a maior parte dos teóricos defendia resolutamente os preceitos clássicos. Apenas no final do século XVII, Saint-Évremond afirma que a Poética não contém leis válidas universalmente e Diderot, criador do drama burguês, pregou o triunfo do homem natural e de uma civilização liberta de preconceitos.

O reformulador do teatro alemão foi Gotthold Ephraim Lessing, que reestudou o sentido da catarse em Aristóteles e postulou que, para que o público de sua época pudesse se identificar com os personagens e experimentasse compaixão e terror, a cena não devia tratar de reis e príncipes, mas de burgueses. Compreendeu o teatro grego como exemplo de dramaturgia nacional e propôs Shakespeare como novo modelo. Acreditava que o gênio não precisa submeter-se às regras literárias, pois é seu criador.

Na França, no início do século XIX, os jornais diários passaram a contar com uma seção especializada em crítica de arte. Ao escrever para o público leigo, que passou a ter acesso a textos dessa natureza em seu jornal habitual, o crítico ganhou relevância social.

Victor Hugo afirmou-se como líder do romantismo a partir do prefácio ao drama Oliver Cromwell (1827), em que elogia Shakespeare, defende a liberdade do autor, proclama o valor do grotesco na arte e a coexistência de elementos trágicos e cômicos numa mesma obra, pois assim é a vida. O trabalho crítico de Zola tornou-se a teorização mais completa e minuciosa da nova corrente literária naturalista.

O romantismo alemão teve como fundadores os irmãos August Wilhelm e Friedrich Schlegel, que juntos publicaram o ensaio teórico Charakteristiken (1801; Características). Hegel e Nietzsche, dois dos mais importantes filósofos do século XIX, deixaram valiosas contribuições à análise do drama. As idéias de Hegel influenciaram mais tarde o marxismo, que por sua vez determinou a direção do teatro político de Bertolt Brecht e Erwin Piscator. Nietzsche, em Die Geburt der Tragödie aus dem Geiste der Musik (1872; O nascimento da tragédia pelo espírito da música), afirmou que a tragédia é fruto da tensão permanente entre a razão e o que há de emocional, instintivo e irracional no homem.

Na Inglaterra, Coleridge estudou Shakespeare e os outros elisabetanos. William Archer, inimigo do teatro poético, atacou-os e introduziu Ibsen nos palcos ingleses. Bernard Shaw defendeu a arte como meio de propaganda política e ideológica, advogou a peça de tese e admitiu a função educativa, de ordem prática e imediata, do teatro. Em The Quintessence of Ibsenism (1891; A quintessência do ibsenismo) colocou Ibsen acima de Shakespeare, ídolo da crítica oficial.

Já no século XX, Adolphe Appia, cenógrafo suíço, defendeu a primazia da encenação sobre o texto literário, visão condizente com o predomínio do diretor teatral a partir de então. Em Le Thêatre et son double, Artaud expôs sua concepção de teatro da crueldade e contesta o racionalismo burguês e a civilização ocidental. Propõe a renúncia à psicologia, à dissecação dos sentimentos e à presença de elementos sociais, deformados por preconceitos e religiões, na obra teatral.

Na Rússia, foi fundamental o trabalho de Stanislavski, sistematizador de uma nova teoria da interpretação que supõe implicitamente uma visão teórica e crítica do teatro. Entre seus opositores, destacou-se Meyerhold, que propunha a anulação da identidade do ator, visto como um mecanismo biológico a serviço da estética global do espetáculo.

Na Alemanha, Brecht, uma das principais figuras do teatro do século XX, produziu também uma obra crítica fundamental. Sua concepção de realismo socialista não pretende hipnotizar ou convencer o público mas, ao contrário, fomentar a discussão, por meio de um teatro épico e narrativo, preservando o distanciamento crítico do espectador. É importante também a obra de Piscator e Walter Benjamin, esse último autor de algumas das mais expressivas análises de Brecht.

Fonte:
E-Learning. DIGERATI. EL010 (CD-Rom)