sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Drummond, Vinicius, Bandeira, Quintana e Campos (Cinco em Um)

Da esquerda para a direita: Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira,
Mário Quintana e Paulo Mendes Campos
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
PAPAI NOEL ÀS AVESSAS


Papai Noel entrou pela porta dos fundos
(no Brasil as chaminés não são praticáveis),
entrou cauteloso que nem marido depois da farra.
Tateando na escuridão torceu o comutador
e a eletricidade bateu nas coisas resignadas,
coisas que continuavam coisas no mistério do Natal.
Papai Noel explorou a cozinha com olhos espertos,
achou um queijo e comeu.

Depois tirou do bolso um cigarro que não quis acender.
Teve medo talvez de pegar fogo nas barbas postiças
(no Brasil os Papai-Noéis são todos de cara raspada)
e avançou pelo corredor branco de luar.
Aquele quarto é o das crianças
Papai entrou compenetrado.

Os meninos dormiam sonhando outros natais muito mais lindos
mas os sapatos deles estavam cheinhos de brinquedos
soldados mulheres elefantes navios
e um presidente de república de celulóide.

Papai Noel agachou-se e recolheu aquilo tudo
no interminável lenço vermelho de alcobaça.
Fez a trouxa e deu o nó, mas apertou tanto
que lá dentro mulheres elefantes soldados presidente brigavam por causa do aperto.

Os pequenos continuavam dormindo.
Longe um galo comunicou o nascimento de Cristo.
Papai Noel voltou de manso para a cozinha,
apagou a luz, saiu pela porta dos fundos.

Na horta, o luar de Natal abençoava os legumes.

-
VINICIUS DE MORAES
O HAVER


Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
- Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

--MANUEL BANDEIRA
RONDÓ DOS CAVALINHOS


Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Tua beleza, Esmeralda,
Acabou me enlouquecendo.

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O sol tão claro lá fora
E em minhalma — anoitecendo!

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Alfonso Reys partindo,
E tanta gente ficando...

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
A Itália falando grosso,
A Europa se avacalhando...

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo...
O sol tão claro lá fora,
O sol tão claro, Esmeralda,
E em minhalma — anoitecendo!

Consta que o poema acima, feito durante a "II Grande Guerra", foi escrito enquanto o autor almoçava no Jóquei-Clube do Rio de Janeiro, assistindo às corridas.

--MÁRIO QUINTANA
O MAPA


Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...

(E nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...

Ha tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Ha tanta moca bonita
Nas ruas que não andei
(E ha uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso…

--PAULO MENDES CAMPOS
POEMA DIDÁTICO


Não vou sofrer mais sobre as armações metálicas do mundo
Como o fiz outrora, quando ainda me perturbava a rosa.
Minhas rugas são prantos da véspera, caminhos esquecidos,
Minha imaginação apodreceu sobre os lodos do Orco.
No alto, à vista de todos, onde sem equilíbrio precipitei-me,
Clown de meus próprios fantasmas, sonhei-me,
Morto do meu próprio pensamento, destruí-me,
Pausa repentina, vocação de mentira, dispersei-me,
Quem sofreria agora sobre as armações metálicas do mundo,
Como o fiz outrora, espreitando a grande cruz sombria
Que se deita sobre a cidade, olhando a ferrovia, a fábrica,
E do outro lado da tarde o mundo enigmático dos quintais.
Quem, como eu outrora, andaria cheio de uma vontade infeliz,
Vazio de naturalidade, entre as ruas poentas do subúrbio
E montes cujas vertentes descem infalíveis ao porto de mar ?

Meu instante agora é uma supressão de saudades. instante
Parado e opaco. Difícil se me vai tornando transpor este rio
Que me confundiu outrora. Já deixei de amar os desencontros.
Cansei-me de ser visão, agora sei que sou real em um mundo real.
Então, desprezando o outrora, impedi que a rosa me perturbasse.
E não olhei a ferrovia - mas o homem que sangrou na ferrovia -
E não olhei a fábrica - mas o homem que se consumiu na fábrica -
E não olhei mais a estrela - mas o rosto que refletiu o seu fulgor.
Quem agora estará absorto? Quem agora estará morto ?
O mundo, companheiro, decerto não é um desenho
De metafísicas magnificas (como imaginei outrora)
Mas um desencontro de frustrações em combate.
nele, como causa primeira, existe o corpo do homem
– cabeça, tronco, membros, as pirações e bem estar...

E só depois consolações, jogos e amarguras do espírito.
Não é um vago hálito de inefável ansiedade poética
Ou vaga adivinhação de poderes ocultos, rosa
Que se sustentasse sem haste, imaginada, como o fiz outrora.
O mundo nasceu das necessidades. O caos, ou o Senhor,
Não filtraria no escuro um homem inconsequente,
Que apenas palpitasse no sopro da imaginação. O homem
É um gesto que se faz ou não se faz. Seu absurdo -
Se podemos admiti-lo - não se redime em injustiça.
Doou-nos a terra um fruto. Força é reparti-lo
Entre os filhos da terra. Força - aos que o herdaram -
É fazer esse gesto, disputar esse fruto. Outrora,
Quando ainda sofria sobre as armações metálicas do mundo,
Acuado como um cão metafísico, eu gania para a eternidade,
sem compreender que, pelo simples teorema do egoísmo,
A vida enganou a vida, o homem enganou o homem.
Por isso, agora, organizei meu sofrimento ao sofrimento
De todos: se multipliquei a minha dor,
Também multipliquei a minha esperança.

Olympio Coutinho (Histórias de trova, final) Trovas Premiadas

Abaixo, uma amostrinha das minhas trovas:Trovas premiadas
Olympio Coutinho


Por muito amar-te perdi
metade da minha vida
e agora perco, esperando,
a outra metade, querida.
I Jogos Florais de Pouso Alegre (MG) - Classificada - 1962

Felicidade... encontrei,
depois de buscar a esmo,
naquele dia em que olhei
para dentro de mim mesmo.
I Jogos Florais de Resende (RJ) – Classificada – 1963

- “Querido, diga porque
acorda sempre risonho?”
-“Um sonho lindo, você,
enfeita sempre o meu sonho”.
II Salão Campista de Trovas – Classificada - Campos (RJ) – 1964

Tenho ciúmes da lua,
ciúmes loucos, meu bem,
que passeia em tua rua
e no teu corpo também.
II Jogos Florais de Resende (RJ) – Classificada – 1965


Essas rosas que florescem
em jardins de casas pobres
são as mesmas que fenecem
enfeitando covas nobres?
I Jogos Florais da Guanabara – Classificada - Rio de Janeiro (GB) – 1965

Eu não lamento a saudade
que a tudo invade porque
é tão bom sentir saudade
quando a saudade é você.
I Jogos Florais da Guanabara – Classificada - Rio de Janeiro (GB) – 1965

A chuva que cai molhando
este chão que nós pisamos
parece Jesus chorando
pelo mundo que mudamos.
Incluída na Antologia “O Grande Rei”, organização de Aparício Fernandes

Eram alegres os meus olhos
e tristes eram os teus,
por serem tristes teus olhos
ficaram tristes os meus.
I Jogos Florais da Comunidade Lusíada –Menção Honrosa - São Paulo (SP) - 1965

Felicidade, um ranchinho
e, dentro dele, nós dois,
nove meses de carinho
e um molequinho depois.
II Concurso de Trovas do Almanaque do Recife (PE) – Classificada - 1965

Enganou-se a passarinho,
voando de flor em flor,
pensando que fossem rosas
os teus lábios, meu amor.
I Jogos Florais de Vila Isabel – Classificada - Rio de Janeiro (Guanabara) – 1965

Ao homem Deus deu a Terra
e veja o que o homem faz:
cria as hienas da guerra
e mata as pombas da paz.
Primeiro lugar no I Concurso Interno da Academia Mineira de Trovas – BH (MG) - 1999

A ciência se renova,
é a senhora da razão;
e o que melhor a comprova
é a grandeza do perdão.
3º concurso do Projeto de Trovas para uma Vida Melhor – Menção Especial - 2008

Ao Pai implorou Jesus
para os incréus piedade;
mesmo pregado na Cruz,
deu lição à Humanidade.
4º concurso do Projeto de Trovas para uma Vida Melhor – Classificada - 2008

Nos momentos de fraqueza
sofro dores, mas resisto,
toda a minha fortaleza
vem do exemplo de Cristo.
Concurso do Projeto de Trovas para uma Vida Melhor – Classificada - 2008

O trabalho do banqueiro
está no seu jogo impuro:
tem lucro com meu dinheiro
e ainda me cobra juro.
XXV Jogos Florais de Bandeirantes (PR) – Menção Honrosa/trovas humorísticas - 2008

Amor cigano, utopia,
triste busca por alguém;
quem tem um amor por dia
não tem o amor de ninguém.
XXII Jogos Florais de Ribeirão Preto (SP) - 4º lugar entre as cinco vencedoras - 2009

Um eremita perfeito
eu encontrei certo dia...
Era tão chato o sujeito
que de si mesmo fugia.
XXII Jogos Florais de Ribeirão Preto (SP) - Menção Especial (4º lugar) em trovas humorísticas - 2009

Eu creio na honestidade,
na justiça clara e reta,
no fim da desigualdade...
Não sou louco!... Eu sou poeta.
IV jogos Florais de Cambuci (RJ) – Uma das dez vencedoras – 2009

Na garganta ficou preso
o grito do meu desgosto
ao perceber que o desprezo
dói mais que tapa no rosto.
XXI Concurso Cidade de Belo Horizonte (MG) - Uma das oito vencedoras - 2009

Desprezo eu senti de fato
ao ver em seus escaninhos
aquele nosso retrato
rasgado em mil pedacinhos.
XXI Concurso Cidade de Belo Horizonte (MG) - Uma das oito vencedoras– 2009

Finges desprezo e eu não ligo,
vejo amor no teu olhar;
como diz ditado antigo:
“Quem desdenha quer comprar”.
XXI Concurso Cidade de Belo Horizonte (MG) - Menção Honrosa – 2009

Indiferença de leve
percebi nos olhos teus:
Tua boca disse: “Até breve!”
Teu coração disse: “Adeus!”
Concurso Inter-Sedes de MG – Menção Honrosa - 2009

Perdida não é a bala,
que gera um medo profundo,
mas aquele que se cala
ante a violência do mundo.
Trova de abertura do Manifesto do I Encontro dos Poetas del Mundo em BH (MG) – 2009

Leva a palha com carinho
e, depois, leva alimento;
assim é que o passarinho
mostra seu devotamento.
2º lugar no 5º concurso do Projeto de Trovas para uma Vida Melhor - 2010

Quem cultiva uma amizade
dentro do seu coração
pode morrer de saudade
mas nunca de solidão.
XI Concurso Literário Algarve/Brasil/Portugal – 2º lugar entre três vencedoras – 2010

Cultive a fraternidade
como quem cultiva a terra;
quem planta grãos de amizade
não colhe os frutos da guerra.
Juegos Florales Del Caribe - Classificada entre as dez vencedoras – 2010

O trem da vida ao destino
chega no horário marcado;
- Por que não desce o menino,
que embarcou tão animado?
Jogos Florais de Caxias do Sul (RS) – 1º lugar em trovas líricas e filosóficas– 2010

Um mau negócio o turista
faz no Rio de Janeiro,
pois enquanto vê a vista
fica a prazo sem dinheiro.
XXII Jogos Florais de Ribeirão Preto (SP) - 4º lugar entre cinco menções especiais em trovas humorísticas - 2010

Feliz de quem não permite
que o domínio da razão
seja mais forte e limite
o que sente o coração.
3º Concurso de Trovas “Helvécio Barros” – Uma das nove vencedoras - Bauru (SP) – 2010

Nas noites claras de lua,
no desenho da calçada,
vejo a silhueta tua
à minha sombra abraçada.
3º Concurso UniVersos – 1º lugar (Trova Ouro) - Caicó (CE) – 2010

Noel Rosa bem sabia
o que mata uma paixão:
A noite triste e sombria
sem luar e sem violão.
Concurso de Trovas “Antônio Roberto Fernandes” – Classificada entre as dez vencedoras em trovas líricas e filosóficas – São Francisco de Itabapoana (RJ) - 2011

Bem malandro é o Ademar,
de “fogo”, quase caindo,
entra de costa em seu lar
pra fingir que está saindo.
Concurso de Trovas “100 anos do Corpo de Bombeiro Militar de Belo Horizonte” – Menção Especial em trovas humorísticas – Belo Horizonte (MG) - 2011

A banda toca um dobrado
e o português logo diz:
- “Eta maestro apressado,
ninguém aqui pediu bis!”
LII Jogos Florais de Nova Friburgo (RJ) – 2º lugar entre as dez vencedoras em trovas humorísticas – 2011

Oferecendo a miragem
de uma vida sem escolta,
o vício vende passagem
para a viagem sem volta.
XXIV Jogos Florais de Ribeirão Preto (SP) – 1º lugar entre as cinco vencedoras em trovas líricas e filosóficas – 2011

“Cada vez mais pobre fico...”
diz, num lamento, o agiota;
e vai ficando mais rico
quanto mais conta lorota.
XXIV Jogos Florais de Ribeirão Preto (SP) – 2º lugar entre as cinco vencedoras em trovas humorísticas – 2011

Do poeta o maior sofrer
assim pode ser descrito:
é a luta para escrever
o que nunca foi escrito.
V Jogos Florais de Cambuci (RJ) - Uma das 20 vencedoras - 2011

Detento muito gabola
dá drible no seu revês:
- Eu controlo bem a bola,
mesmo com duas nos pés.
XXI Jogos Florais de Porto Alegre (RS) - Menção Honrosa - 2011

No alpendre do casarão,
em permanente vigília,
Dirceu cantava a paixão
em versos para Marília.
Concurso de Trovas da UBT-BH – Uma das cinco vencedoras - 2011

Não fuja dos seus caminhos,
buscando atalhos a esmo;
quem tem medo dos espinhos
não acha a flor em si mesmo.
Concurso de Trovas da Pindamonhangaba - Uma das cinco vencedoras - 2012

Fonte:
O Autor

Olympio Coutinho (1940)

OLYMPIO da Cruz Simões COUTINHO nasceu em na zona da Mata mineira, em 9 de outubro de 1940. Em Ubá, fez o primário e o secundário, tendo exercido diversas atividades esportivas como atleta da Praça de Esportes (natação e basquete), do Tabajara Esporte Clube (basquete e vôlei) e do Esporte Clube Aimorés (futebol).

Já fazia trovas e mantinha correspondência com trovadores como J. G. de Araújo Jorge, Luiz Otávio, Aparício Fernandes, Rodolfo Coelho Cavalcanti e muitos outros. Em 1962, foi para Belo Horizonte para estudar Jornalismo, tendo se formado em 1965: trabalhou na edição mineira da Última Hora, Folha de Minas, Jornal de Minas, Diário de Minas e Estado de Minas (onde entrou como repórter em 1967 e saiu como editor em 2003). Ainda em 1965 ingressou na Academia Mineira de Trovas e assumiu a cadeira nº 11 (patrono Casimiro de Abreu), tornando-se o mais novo acadêmico.

Em 1966, lançou a primeira edição de Festival de Trovas, que reunia 101 trovas feitas durante sua adolescência em sua terra natal, livro que ganhou como prefácio trecho de comentário de J. G. de Araújo Jorge, publicado no Jornal Feminino, suplemento literário de O Jornal, do Rio de Janeiro, em 1961:“Minas é a grande ilha no arquipélago da poesia brasileira. Terra de poetas e trovadores. Desde a primeira Escola de Poesia, com Gonzaga, Alvarenga, Cláudio Manoel da Costa, até os modernistas autênticos, como o grande Drummond, alto e de ferro, mas musicado de águas como uma montanha de Itabira. Começo com estas palavras para falar de um trovador que desponta: Olympio da Cruz Simões Coutinho, de Ubá"... Já Rodolfo Coelho Cavalcante, em carta, escreveu: “O seu livro Festival de Trovas fez-me dizer sinceramente: o Brasil tem mais um bom trovador! Tanto no lirismo como no humorismo, o amigo é um bom trovador. Sorri bastante com o seu grande humor na questão dos “pintinhos”. Fazia tempo que eu não ria com uma boa trova e não queira saber a gostosa gargalhada que eu dei”.

Em 2003, Olympio criou e edita até hoje um jornal de bairro, o Jornal Sion: atualmente, edita ainda outros dois jornais de bairro (Lourdes e Lagoa Notícias), dirigidos por sua filha. Em junho de 2007, foi convidado para trabalhar na Assessoria de Imprensa do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (IPSEMG), onde permanece. Tendo interrompido sua produção literária em 1968, voltou a fazer trovas em 2008. Em 2009, ingressou na União Brasileira de Trovadores (UBT), seção de Belo Horizonte.

Fonte:
Blog do Pedro Mello

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 675)

Uma Trova de Ademar  

Da fonte que jorra o amor,
Deus, na sua imensidão,
faz jorrar com todo ardor
as carícias do perdão.

–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional


Não há palavra nenhuma
tão grande quanto "saudade",
que em sete letras resuma
a dor e a felicidade!

–Diamantino Ferreira/RJ–

Uma Trova Potiguar


Em sinal de advertência,
pela a agressão à floresta..
a flora pede clemência:
- Preserve o que ainda resta!
Djalma Mota/RN–

Uma Trova Premiada


2009 - Nova Friburgo/RJ
Tema - SAUDADE - M/H

Partiu, deixando o seu traço
no meu caminho dos sós…
- A saudade é esse espaço
que existe sempre entre nós.

–José Valdez C. Moura/SP–

...E Suas Trovas Ficaram


Bandeira da minha terra
lindo pendão de esperança.
O teu pavilhão encerra
luta, heroísmo e bonança.

–Lorys Marchesini/PR–

U m a P o e s i a


Vinte oito janeiros me jogaram
na cadeia dos tristes desenganos,
sinto falta dos meus quatorze anos
que a soma dos meses apagaram;
os meus dias felizes lá ficaram
pela rua da infância adormecida,
a barcaça da existência fez partida
pela água do rio da saudade;
se o dinheiro comprasse a mocidade
eu seria criança toda vida.

–Erasmo Rodrigues/PB–

Soneto do Dia

A ALMA DA PEDRA.
–Hegel Pontes/MG–

Longa pesquisa. E o mestre hindu descobre
que existe uma fadiga nos metais;
que o descanso renova, do ouro ao cobre,
o reino singular dos minerais.

Eu também sinto que a matéria encobre
estranhas vibrações emocionais.
É que a pedra tem alma, simples, nobre,
sonhando evoluções espirituais.

E a alma da pedra imóvel é a energia
que evolui, na ilusória letargia,
entre seres gigantes e pigmeus.

E sonha, nos milênios que a consomem,
ser um cacto que sonha ser um homem,
ser um homem que sonha ser um Deus.

Libia Carciofetti / Argentina (Ser Poeta na Primavera)

tradução do castelhano por José Feldman

(Da janela de onde estou escrevendo, com minha cor preferida)

Ser poeta é despertar nas manhãs
e sentir que o sol te esquenta, ainda que chova
Pensar que o amor não morre nunca
e a paz existe no fragor de uma guerra.
Ser poeta é entregar-se por inteiro
sem rancores, sem medida e sem reserva
é sentir que no peito voam aves
e que fazem ninhos sobre tua cabeça.

É ter as mãos muito quentes,
quando acaricia alguém que te espera.
É ter os braços sempre abertos
à orfandade de uma criança que te espera.
Ser poeta é viver na pobreza
é igualar-se ainda com a miséria
é mirar aos olhos de quem te irrita
quando ainda te critique e não te queira.

Ser poeta é ter o coração ferido
e perdoar a teu irmão até que doa.
É semear muitas flores entre espinhos
com a esperança que elas fertilizem esta terra.
Ser poeta é contar as mariposas
que te anunciam que chegou a PRIMAVERA
é escutar o mar enfurecido
e ainda permanecer junto ao cais.

É dormir ao ar livre nas noites
e cubrir-se com o céu e as estrelas.
É usar como savana a lua
e manter sua brancura duradoura.
É ter pena por aqueles
que te chamam de louco e não o sejas
que os loucos não são loucos porque querem
mas, sim porque nunca degustaram um poema.

Ser poeta é falar com Deus no silêncio
e que faça refletir a tua consciência.
É sentir que esta vida ele te traz
para fazer-la mais feliz e placentárias.
É sentir que Seu amor pode tudo
e que só nele está a felicidade eterna.
É aceitar que sem ele não somos nada,
e que ainda lhe falhemos, sempre nos aceita.

É caminhar pelo mundo bem altivo
porque és original, e de uma jóia.
E se alguém me pergunta: porque escrevo?
De imediato lhe darei minha resposta:
Porque minha alma regojizando de felicidade
e não posso calar-la, ainda que quisera.
Deus me trouxe ao mundo com minhas letras.
E ser poeta, Senhor! … é coisa séria.

É querer abraçar-te com glicinas
perfumando-te a alma, ainda que não queiras.
É querer sair do marco de uma imagem
e dizer-te que aqui estou eu, para que vejas.

Fonte:
A Autora

História da Literatura (Classicismo) Parte Final - Gêneros Literários

A literatura da era clássica está dividida em poesia lírica, poesia pastoral, a epopéia, e no gênero dramático (tragédia e comédia).

A poesia lírica, de fundo platônico, encontra sua principal expressão em Petrarca, autor do Cancioneiro - obra com cerca de 350 poemas, na maioria sonetos - que trata do amor inacessível de Laura. Terá seguidores por todo o mundo, como Camões e Sá Miranda (em Portugal), Garcilaso de la Veja e Fernando Herrera (na Espanha).

A poesia pastoral se baseia nos poemas bucólicos de Virgílio e encontra sua maior expressão na Itália com Torquato Tasso (Aminta, 1752) e Sanazzaro (Arcádia, 1502).

O gênero épico foi a criação mais notável da Renascença: trata-se de uma narração em versos de feitos heróicos. A epopéia é a interpretação poética de um mito. Possui versos decassílabos, épicos (medida nova), apresenta rimas ricas, heróis, seres mitológicos, um narrador em 3ª pessoa (observador), e divisão em cinco partes (proposição: tema; invocação: deuses; dedicatória; narração; epílogo). O poeta exalta e glorifica os valores nacionais, legitimando simbolicamente sua nação e profetizando seu destino glorioso. A mais importante obra épica do classicismo português é "Os Lusíadas" que narra os feitos heróicos dos portugueses (os lusos, daí o nome da obra), que, liderados por Vasco da Gama, lançaram-se ao mar numa época em que ainda se acreditava em monstros marinhos e abismos. Ultrapassando os limites marítimos conhecidos - no caso o cabo das Tormentas ao sul da África - chegariam a Calicute, na Índia. Tal façanha, que uniu o Oriente ao Ocidente pelo mar, deslumbrou o mundo e foi alvo de interesses políticos e econômicos de diversas nações européias.

O teatro recupera da Antigüidade a tragédia e a comédia, agora em linguagem vulgar. Em Portugal, destaca-se Antônio Ferreira, com a tragédia Castro. A figura proeminente do período, entretanto, será William Shakespeare (1564-1618), na Inglaterra.

Bibliografia.:

Luís Vaz de Camões nasceu por volta de 1525. Ingressou no Exército da Coroa de Portugal e participou da guerra contra Ceuta, no Marrocos, durante a qual perde o olho direito (1549). De volta a Lisboa, teve uma vida boêmia até 1553 quando, depois de ter sido preso devido a uma rixa, parte para a Índia. Fixou-se na cidade de Goa onde escreveu grande parte da sua obra. Regressou a Portugal em 1569, pobre e doente, conseguindo publicar Os Lusíadas em 1572 graças à influência de alguns amigos junto do rei D. Sebastião. Faleceu em Lisboa no dia 10 de Junho de 1580. É considerado o maior poeta português. Obras: Os Lusíadas (1572), Rimas (1595), El-Rei Seleuco (1587), Auto de Filodemo (1587) e Anfitriões (1587).

Gênero Lírico.:

Após sua morte, a sua obra foi publicada no livro "Rimas" (1595).
Camões lírico é um autor bifronte, ou seja, tem duas faces:

a) Medieval:
- medida velha (redondilhos)
- cancioneiro geral e temática popular

b) Renascentista :
- medida nova (decassílabos)
- sonetos

Camões tem grande preocupação técnica: todos os 14 versos de todos os sonetos (2 quartetos, 2 tercetos) são decassílabos, e a maioria das rima segue a estrutura rítmica ABBA-ABBA-CDE-CDE. Cabe ressaltar que muitos de seus sonetos ainda têm a autoria contestada.

Também podemos subdividir sua produção renascentista em:

Renascimento: visão otimista, equilíbrio (forma e conteúdo), clareza, razão, reflexão, simplicidade, objetividade

Maneirismo (transição entre Renascimento e Barraco): visão pessimista, racional, desequilíbrio, conflito entre razão e emoção, contradições, paradoxos, sinuosidade, desarmonia, antíteses

Quanto à temática, são dois os aspectos mais representativos da produção lírica de Camões: a lírica amorosa e a lírica filosófica.

Lírica amorosa:

O amor é seu principal tema, abordado em duas vertentes:

o amor visto de modo ingênuo, simples, otimista, realizado (mais nos poemas renascentistas puros).

o amor enquanto conflito, contradição (impregnado pela visão maneirista). Aqui há uma divisão em "amor" (com letras minúsculas) e "Amor" (com a inicial maiúscula).
- amor: é individual, implica sofrimento, realidade, dor.
- Amor: é a essência, a idéia, é perfeito, absoluto.

A diferenciação entre "Amor" X "amor" ilustra a influência do neoplatonismo, contrapondo idéia (Amor) e sombra (amor), que leva à imitação. Estabelece-se um conflito entre o amor sensual e o amor platônico, espiritualizado. Camões trabalha mais com o conceito do amor do que propriamente com os sentimentos: ele os universalisa, tirando seu caráter individual.

Lírica filosófica:

Aborda reflexões sobre a vida, o homem e o mundo. O eu lírico reflete um homem angustiado e perplexo diante do seu tempo. Dentre seus principais temas podemos citar:

- Mutabilidade das coisas, da vida, do mundo.
- Desconcerto do mundo (essência é desarmonia?).
- Transitoriedade da vida e de tudo.

O conflito presente na lírica de Camões, traduzido principalmente por antíteses e pelas inversões de linguagem, prenuncia o movimento literário seguinte, o Barroco. Por esse motivo, Camões costuma ser classificado como maneirista.

Gênero Épico.:

Camões celebrou os feitos lusitanos na época das conquistas em sua obra-prima, "Os Lusíadas" (1572) .

O renascimento vai justificar a imitação das epopéias clássicas. A epopéia é épica, ou seja, caracteriza-se como uma longa narrativa, porém em versos. Seu tema nunca é a individualidade, mas sim a coletividade: idéia de nacionalidade (povo). O herói individual na epopéia representa a coletividade, sendo na realidade, um herói coletivo.

HERÓI: OBRA: ASSUNTO:
Aquiles - Ilíada - Guerra de Tróia
Ulisses - Odisséia - O retorno dos heróis
Enéias - Eneida - Fuga de Ulisses para fundar Roma
Vasco - Os Lusíadas - Saga de Vasco (cruzar o Cabo da Boa Esperança)

Os deuses greco-romanos (antropomórficos) são retomados nos Lusíadas e são representados principalmente por Baco (contra os portugueses) e Vênus (à favor).

A estrutura dos Lusíadas:

Versos em número de 8.816, todos decassílabos heróicos.
Estrofes com oito versos.
Estrutura rítmica: AB AB AB CC
A estrutura justifica a monumentalidade da obra.

Organização:
. poema dividido em dez contos
. pode ser dividido em três partes: Introdução / Narração / Epílogo

Introdução

Estende-se pelas dezoito estrofes do Canto I. Subdivide-se em três partes:

Proposição I, 1,3
Onde o tema é proposto: viagens marítimas, conquistas: expansão comercial e imperial. A fé que abre o caminho: domínio econômico - cristianizar as terras pagãs. Lembrança dos heróis do passado. Glorificação do povo português.

Invocação I, 4,5 - tradição das epopéias
Invocação para as musas (Tágires: ninfas do Tejo) darem inspiração.

Dedicatória I, 5,18
Dedica ao rei Dom Sebastião (sem bajulação) antes da batalha de 1578 contra os mouros, em que este desaparece. Henrique de Coimbra torna-se o novo rei. Mas surge o mito do Sebastianismo: Dom Sebastião, o encoberto. Portugal mergulhado em esperanças e temores: um dia o rei voltaria para reerguer o país.

Narração - I, 19 - X, 144

Relata a viagem de Vasco da Gama às Índias e os feitos do povo português. Quando se inicia essa parte, os portugueses já navegavam no Oceano.

I, 19: Já estão quase no fim da viagem: Costa Leste da África. Estrutura de tempo: "in medias res" (tradição).

I, 20: Concílio dos Deuses (mais ou menos vinte estrofes).

I, 42: Portugueses sofrem uma série de problemas.
Chegando em Melinde, o Rei fica curioso com esse povo e pede a Vasco para que conte a História de Portugal e a viagem (volta ao passado). A narração é longa: fala de Luso, da história de Inês, dos iniciadores de Portugal, dos primeiros reis, Revolução de Ávis, etc. Há ligeiras mudanças no tom narrativo. A esquadra deixa Melinde e Baco tenta usar o mar contra os portugueses, mas Vênus protege-os. Chegando à Índia, Baco os prejudica: Vasco é aprisionado. Livres, partem da Índia e recebem uma recompensa de Vênus: passam pela Ilha dos Amores e voltam a Portugal.

Epílogo - X, 145,156

X, 144: Estrofe do retorno: chegada a Portugal.

X, 145: Camões critica os portugueses. A mudança de tom vai até o fim do poema. Ele deixa claro que não pretende continuar a narração.

Fontes:
Garganta da Serpente
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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Poetrix 2 - Goulart Gomes (A Vida é Bela)


Cláudia Dimer / RS (Olha Meu Rosto)


Olympio Coutinho (Histórias de trova) Capítulo II, continuação – Meus Irmãos, os Trovadores

Em 1962, mudei-me para Belo Horizonte, onde trabalhei em banco, fiz cursinho, passei no vestibular e iniciei o curso de Jornalismo. Ainda escrevia diário e fazia trovas. Tão logo instalei-me em Belo Horizonte, cuidei de conhecer os trovadores locais: procurei o Edson Moreira, um dos três irmãos donos da tradicional Livraria Itatiaia, e ele indicou-me o José Valeriano Rodrigues, então presidente da Academia Mineira de Trovas, fundada em 3 de agosto de 1961. Por sinal, mais tarde, o Valeriano seria um dos vencedores dos Jogos Florais de Friburgo, com esta trova: 

“Não anda, só se equilibra;
não fala, só balbucia;
é neste esforço que vibra
a mais humana alegria”.


Fui à sua casa, no bairro Santo Antônio, e, instruído por ele, candidatei-me a uma das vagas: como determinava o regulamento, enviei 50 trovas. Fui aprovado e no dia 28 de novembro de 1962, tomei posse, orgulhosamente na cadeira 11, cujo patrono é o poeta Cassimiro de Abreu.

Vale registrar que eu tinha 22 anos, o que despertou curiosidade na sala, pois os demais membros da Academia eram trovadores com mais de 40 anos – o que me faz pensar na necessidade de disseminarmos mais a trova entre as crianças e os jovens. Hoje, eu que era o mais novo em 1962, sou um dos mais antigos, se não for o mais antigo membro da Casa. Foi quando conheci mais trovadores locais, entre eles o grande Paulo Emílio Pinto, premiado em um dos Jogos Florais de Nova Friburgo (tema “Vida”), com esta pérola:

“Esta engrenagem que é a vida
esmaga a todos sem dó,
e a gente aos poucos, moída
de novo volta a ser pó”.


Em 1966, fui a Nova Friburgo como assistente, pois não conseguira classificação para os III Jogos Florais (tema “Ciúme”). Tinha um irmão, Olymar Affonso, de saudosa memória, que trabalhava lá e morava em uma pensão. Lembro-me, se não me engano, do Durval Mendonça, do Anis Murad, do José Maria Machado de Araújo, do Orlando Brito e, obviamente, do Luiz Otávio e do JG. Lamentavelmente, nada registrei em fotos e do que a memória “fotografou” pouco se reteve.

Ainda em 1966, sempre entusiasmado com o movimento, editei uma segunda edição do“Festival de Trovas”, com capa azul, com muitas das 101 trovas da primeira edição e outras novas. Na abertura, como prefácio, o artigo escrito pelo JG em 1961 sobre minhas trovas e, no final do livro, trechos de outros artigos publicados e cartas recebidas falando da primeira edição do livro. E parei por aí: envolvido com a minha nova vida de repórter de jornal e com as aventuras do exercício da profissão, então romântica, deixei de frequentar a Academia e não procurei a seção mineira da UBT para inscrever-me. Acreditei também que o movimento trovadoresco havia arrefecido e deixei de fazer trovas regularmente. Só em 2008, ao tomar conhecimento de que o movimento estava mais vivo que nunca, principalmente depois de conhecer o falandodetrova, voltei a participar dos concursos, tornei-me associado da UBT e, desde então, ando beliscando umas premiações, mas tenho viajado pouco para voltar a conviver com “meus irmãos, os trovadores” e reviver, com outros, aqueles bons tempos de confraternização e congraçamento.

Continua… Trovas de Olympio Coutinho

Fonte:
O Autor

Olivaldo Junior (Trovas sobre Chuva)

O tempo responde pouco a quem pergunta muito.

Pouca chuva, ou temporal,
pouco importa, minha flor!
O que inunda meu quintal
são as "lágrimas" de amor.

Chuvarada, na cidade,
faz nascer de uma enxurrada
toda a vã eternidade
de um barquinho à molecada!

Já chorei por meu amor,
já gostei demais de alguém...
Hoje eu caio sobre a flor,
como a chuva cai também.

Fonte:
O Autor

Anônimo (O Amigo da Onça)

A literatura popular brasileira também tem seu riso próprio, suas boas histórias e seus personagens marcantes. É o caso do Amigo da Onça, que virou a marca registrada do desenhista de humor Péricles Maranhão na revista Cruzeiro dos anos de 1950. E acabou consagrando-se como uma expressão de uso corrente na nossa língua. Uma das melhores versões desta literatura de origem oral foi registrada por Lindolfo Gomes em 1931, em Contos Populares Brasileiros.

A Onça, que é bicho valente - mas nem sempre atilado, como se pensa -, estava quietinha no seu canto quando lhe apareceu o compadre Lobo e lhe foi dizendo:

- Saiba de uma coisa, comadre Onça: você - com perdão da palavra - não é, como supõe, o bicho mais valente e destemido que existe no mundo, nem também o Leão, com toda a sua prosa de rei dos animais.

- Como assim! - gritou a Onça, enfurecida. - Então, como é isso, grande pedaço de idiota? Haverá bicho mais valente e poderoso do que eu?

O Lobo, adoçando a voz, respondeu:

- Ó comadre, me perdoe. Estou arrependido de dizer tal coisa... Mas a minha intenção foi preveni-la contra um "bicho" terrível que apareceu nesta paragem. Uma pessoa prevenida vale por duas.

- Sim, não deixa você de ter alguma razão - acudiu a Onça mais acomodada. Mas sempre quero saber o nome desse bicho. Como se chama?

- Esse bicho, compadre, chama-se "homem", conforme me disse o amigo papagaio. Nunca vi em minha vida animal de mais perigosa valentia. Ele sim, e ninguém mais, é o que me parece ser mesmo o verdadeiro rei dos animais. Basta dizer que, de longe, o vi matar, com dois espirros, nada menos do que um leão e uma hiena. Ih! Compadre, com o estrondo dos espirros parecia que tudo ia pelos ares. Deus nos livre!

- Oh! Compadre, não me diga!

- É como lhe conto. E o que mais admira é ser o "bicho-homem" de pequeno porte. Parece até fraco, e é muito mal servido de unhas e dentes. Deve ser um "bicho" misterioso e encantado.

- Pois bem, compadre, estou curiosa, e desejo que, sem demora, me conduza ao lugar onde se encontra tão estranho animal.

- Ah, compadre, peça-me tudo, menos isso. Pelos estragos que, de longe, vi o homem fazer, com seus malditos espirros, nunca me atreveria a tal aventura...

- Pois queira ou não queira, tem de mostrar-me o "bicho", ou então, agora mesmo perderá a vida.

- lá por isso não seja - disse o Lobo amedrontado. - Iremos. Mas havemos de tomar todas as precauções. Eu - com a sua licença - posso correr mais do que a comadre.

Assim, levaremos uma embira daquelas que não arrebentam nunca. Amarro uma das pontas no pescoço da comadre e a outra em minha cintura. Em caso de perigo, se for preciso fugir, a comadre e eu corremos...

- Fugir! Veja lá o que diz! Você já viu, "seu" podrela, alguma vez onça fugir?

- Não me expliquei bem. Eu é que fugirei. A comadre será apenas arrastada por mim. Isso não é fugir. Está certo?

- Está bem. Faremos como propõe.

E partiram. A Onça com a embira atada ao pescoço, e o Lobo, muito respeitoso e tímido, a puxá-la.

Quando chegaram ao destino, o "bicho-homem", surpreendido ao avistá-los, tirou da cinta a garrucha e, atarantado, bateu fogo, isto é, espirrou. uma, duas vezes, que foi mesmo um estrondo de todos os diabos.

O Lobo então mais que depressa disparou numa corrida desabalada, redobrando quanto podia as forças para arrastar a Onça pela forte embira "que tinha atado no pescoço dela".

De repente, já muito distante, o Lobo sentiu que a Onça estava mais pesada. Parou então e contemplou a companheira estendida no chão, com os dentes arreganhados, sem o mais leve movimento.

O Lobo, sem perceber que a Onça havia morrido enforcada no laço da embira - antes pensando que estivesse apenas cansada -. disse-lhe, tremendo como varas verdes:

- He lá, comadre! Não ri não que o negócio é sério!

Fonte:
Flávio Moreira da Costa (org.). Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal. 5.ed. RJ: Ediouro, 2001.

Ialmar Pio Schneider (Soneto ao Dia do Gaúcho – 20 de Setembro)

Tela de Gláucia Scherer
Nobre Desfile Farroupilha
vejo pela televisão,
porque o gaúcho segue a trilha
de cultuar a Tradição !

Eu vou recordando a tropilha
das lendas do nosso rincão,
em que mais cintilante brilha
a estrela da libertação.

Este evento não é bairrismo,
mas, sim, um culto à liberdade,
forte raiz de telurismo...

A conotação da equidade
no movimento de atavismo,
deve culminar na amizade !
Fonte:
O Autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 674)


Uma Trova de Ademar  

A vida escreve-me enredos
com finais que eu abomino.
Meus sonhos viram brinquedos
nas mãos cruéis do destino...

–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional


Ao tentar pegar a rosa
qual não foi meu dissabor,
o espinho me disse, em prosa:
esta tem dono, senhor!

–Nemésio Prata/CE–

Uma Trova Potiguar


Quem a mulher discrimina,
não sabe a falta que faz
a beleza feminina
na concepção da paz.

–Expedito Jorge/RN–

Uma Trova Premiada

1991 - Ribeirão Preto/SP
Tema - CULPA - 6º Lugar.


Quem tem coração de paz
vive de culpa liberto,
porque faz do bem que faz
um céu de sol mais aberto!

–Nilton Manoel/SP–

...E Suas Trovas Ficaram


É um alpinista de fama,
mas dele a vida debocha:
por ironia se chama
Caio Rolando da Rocha.

–Waldir Neves/RJ–

U m a P o e s i a


Viajando nas asas da lembrança
igualmente uma ave migratória
nos longínquos arquivos da memória
recordei-me de quando era criança,
dos amigos da minha vizinhança,
do começo da minha puberdade,
os hormônios em alta quantidade
e o meu corpo um pouquinho transformado;
invadi o espaço do passado
viajando nas asas da saudade.

–Júnior Adelino/PB–

Soneto do Dia

RISONHO NASCIMENTO.
–Horácio Ferreira Portella/RJ–


Dourado, o sol desponta no horizonte
a dissipar das brumas a cortina.
Ouve-se o manso murmurar da fonte
que desce pela encosta da colina

disseminando o seu poder planctonte,
na verdejante mata e na campina,
para ensejar que a vida, assim, desponte
em plenitude mágica, divina.

As borboletas colorindo a festa...
As flores espargindo seu perfume...
Os pássaros, em mística seresta.

Após o parto que a natura espera
por nove meses para dar a lume
a deslumbrante filha: Primavera!

Zélia Chamusca (Poemas)

A CAMINHO DA LUZ ENCONTREI O SONHO

Parti da escuridão
A caminho da luz
E o sonho encontrei
Em tudo o que pensei
E me encantei…

A caminho da luz
Encontrei a magia
Em tudo o que me envolvia:
A paz e o amor,
A luz e a cor,
A alegria
Na plenitude da fantasia…

Sonhei…
Com o calor da amizade
Outrora realidade,
E, hoje, apenas, saudade…

Do caminho da escuridão
Para o caminho da luz
Eu encontrei
O sonho que sonhei…

VIVER

É a contínua caminhada
Por nós projetada
Seguindo sempre
Em frente,
Levados por paixões,
Ou perante fracassos
E desilusões.
É o projectar
Permanente
Em concretizar
Nossas aspirações.

Viver
É decidir
O que podemos ser
E ter
E, para isso agir,
E, até mesmo,
Decidir não decidir.

Viver
É agir
Em circunstância
E decidir
Perante essa mesma circunstância.

Viver
É ser livre
E ser
Condenado
À liberdade,
E obrigado
A agir
E ter
Que decidir
Face à liberdade.

Viver
É o que fazemos
E o que acontece
E disso termos
Consciência,
É viver-se
E sentir-se viver
No encontro com o mundo
E no mundo.

Viver
É conviver,
É viver
Em termos de relação,
Sabendo o que está a acontecer.
É ver e participar
Nos acontecimentos,
É projetos concretizar,
É amar,
É querer,
É sofrer,
É odiar,
É desejar,
É temer.


É isto viver.
Se não houver consciência
Desta existência
Não haverá vida.

Viver
É o que ninguém
Pode fazer por mim
E por si.
É um ato intransmissível,
Só por cada um possível
A vida viver.

Viver
É o dado fundamental,
Realidade primordial,
Indubitável no Universo.

INGRATIDÃO

O mais nobre sentimento
Que de mim brotou,
Se esvaiu como nuvem
Pelo vento
Esfumado,
Saindo num lamento
Das cinzas dum tormento.

Passou…
E se desfez
Nos ares do esquecimento...
Ninguém notou
No encanto
Que a vida
Tanto, tanto…
Lhes doou…

Ninguém o viu…
E se esvaiu
Na cegueira da ingratidão
Que magoou meu coração!…

O SONHO

O sonho se esvai
Na chuva que cai
E corre para o rio
Deixando o vazio…

E, ele se recria,
É pura magia,
É um renovar,
Perene sonhar…

Eu vejo, além,
Outro que ali vem,
Cor do firmamento,
É encantamento!…

ADORO-TE

Estás sempre comigo
Nos momentos de solidão
Quando todos tão distantes,
De mim, estão…

Quando meu coração aperta
E as lágrimas correm sem fim,
Te aproximas de mim
E vens meu rosto limpar,
Me acariciar…

Quando pratico o bem
E responde a ingratidão
De alguém,
Tu vens consolar meu coração…

Sempre que preciso de ajuda
És o Amigo presente.
Sempre…

Em qualquer momento,
Em qualquer lado,
És meu Ser Adorado…

Sem Ti não viveria.
És minha força de viver
De crescer e de ser.

Estás sempre comigo,
E, comigo estarás, até ao fim…
Adoro-Te…
Fontes:
E-mail enviado pelo Portal Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores
http://www.avspe.org/index.php?pg=pfautor&idu=112

Lenda Portuguesa (A Lenda do Santo Servo)

Na Câmara de Lobos, na ilha da Madeira, existe um antigo convento de franciscanos, o primeiro a ser construído fora do Funchal, conhecido como Convento de S. Bernardino.

Conta uma lenda que, em 1485, entrou nesse convento um monge humílimo que tomou por nome frei Pedro da Guarda. Foi-lhe distribuído como encargo o serviço da cozinha conventual, ofício que frequentemente se esquecia por anseio místico de oração no coro da igreja, onde ficava horas sem fim mergulhado em profundíssima meditação.

Acontecia, porém, que, apesar do esquecimento constante dos seus deveres comunitários, nunca faltava uma refeição nas escudelas dos monges às horas devidas, de tal modo que se gerou entre os franciscanos a ideia de que eram os anjos do Céu quem vinha cozinhar as refeições para que frei Pedro pudesse entregar-se à oração. E durante muitos anos se prolongou este maravilhoso viver do frade, ao qual começaram a chamar Santo Servo de Deus.

A sua figura tornou-se lendária aos olhos dos contemporâneos e conforme o tempo ia passando ia aumentando a sua aura de mistério. Assim, em breve o povo assegurava que o popular frei Pedro era profeta e por isso tinha conhecimento das mortes dos conterrâneos que morriam longe de Câmara de Lobos, ao que constava por conversar com as almas dos mortos que vinham pedir-lhe remédio para o que haviam deixado por fazer na sua terra.

Um outro dom maravilhoso deste homem era o de domar e reter consigo não só aves como animais bravios.

Quando, vinte anos depois de ter recolhido ao convento de S. Bernardino, o Santo Servo morreu, eram-lhe atribuídos, já então, muitos milagres. Diz-se que na hora da sua morte os sinos do mosteiro repicaram sem que mãos humanas lhes tocassem.

Frei Pedro, entretanto, havia previsto o dia e hora da sua morte. O seu cadáver, ao contrário do que seria natural, não exalou qualquer cheiro putrefacto e assim, muitos anos passados, mercê de umas luminárias estranhas que apareciam sobre o seu túmulo, abriram-no e encontraram corpo e hábito incorruptos, tal como, há perto de meio século, fora enterrado.

Durante os cerca de noventa e dois anos em que o corpo do Santo Servo esteve sepultado em S. Bernardino, nunca lhe faltaram fiéis, e diz-se que nesse prazo lhe atribuiu o povo para cima de seiscentos milagres.
Fonte:
Lendas Portuguesas da Terra e do Mar, Fernanda Frazão, disponível em Estúdio Raposa 

História da Literatura (Classicismo) Parte V

Epigrama: 
composição de 2 ou 3 versos com pensamentos engenhosos e de estilo cintilante;

Sextilha:
composição de seis estrofes de seis versos com uma forma muito engenhosa, em que as palavras finais dos versos de todas as outras, apenas com a ordem trocada;

EXEMPLO DE SEXTILHA
Sextina

Foge-me pouco a pouco, a curta vida,
E por caso é verdade que inda vivo;
Vai-se-me o breve tempo de ante os olhos;
Choro pelo passado; e, enquanto falo,
Se me passam os dias passo a passo,
Vai-se-me, enfim, a idade e fica a pena.
Que maneira tão áspera de pena!
Que nunca ua hora viu tão longa vida
Em que possa do mal mover-se um passo.
Que mais me monta ser morto que vivo?
Pera que choro, enfim? pera que falo,
Se lograr-me não pude de meus olhos?
Ó fermosos, gentis e claros olhos,
Cuja ausência me move a tanta pena,
Quanta se não compreende enquanto falo!
Se, no fim de tão longa e curta vida,
De vós me inda inflamasse o raio vivo,
Por bem teria tudo quanto passo.
Mas bem sei que primeiro o extremo passo
Me há-de vir a cerrar os tristes olhos,
Que Amor me mostre aqueles por que vivo.
Testemunhas serão a tinta e pena,
Que escreverão de tão molesta vida
O menos que passei, e o mais que falo.
Oh! que não sei que escrevo, nem que falo!
Que se de um pensamento noutro passo,
Vejo tão triste género de vida
Que, se lhe não valerem tanto os olhos,
Não posso imaginar qual seja a pena
Que traslade esta pena com que vivo.
Na alma tenho confino um fogo vivo,
Que, se não respirasse no que falo,
Estaria já feita cinza a pena;
Mas, sobre a maior dor que sofro e passo
Me temperam as lágrimas dos olhos,
Com que, fugindo, não se acaba a vida.
Morrendo estou na vida, e em morte vivo;
Vejo sem olhos e sem língua falo;
E juntamente passo glória e pena.
(Luís Vaz de Camões)


Ditirambo:
canto coral constituído por um poema lírico de versos e estrofes irregulares, que exprimem entusiasmo, sensualidade e paixão. Composto inicialmente para os cultos em honra ao deus Dionísio, está na origem da tragédia grega

Continua… Generos Literários

Fontes:
Garganta da Serpente
Imagem = compartilhada no facebook pela Libreria Fogola Pisa

21 de Setembro (Um Poema em Cada Árvore)

No Dia da Árvore, projeto de incentivo à leitura realiza mobilização nacional

Amanhã, dia 21 de setembro de 2012, será realizada em 83 cidades de todo o Brasil a mobilização nacional do projeto Um poema em cada árvore, uma iniciativa de incentivo à leitura que utiliza as árvores como suporte de leitura.

Neste dia, em que se comemora o Dia da Árvore, uma rede poetas, educadores, agentes culturais e sociais estarão mobilizados para levar a poesia aos locais onde o povo está.

Sobre o projeto

O Um poema em cada árvore é uma iniciativa de incentivo à leitura realizada desde agosto de 2010 na cidade de Governador Valadares, Minas Gerais.

Idealizada pelo poeta Marcelo Rocha e realizada pelo Instituto Psia, a iniciativa caracteriza-se por utilizar as árvores como suporte para a leitura, pendurando mensalmente poemas de poetas desconhecidos do grande público nos oitis valadarenses.

Esta foi uma forma encontrada para construir novos espaços de fruição poética, ampliar o acesso da população à poesia e colocar o trabalho de poetas anônimos em contato com novos públicos.

O Um poema em cada árvore foi uma das iniciativas premiadas com o Prêmio Vivaleitura 2011, concedido pela OEI - Organização dos Estados Ibero-Americanos, Ministério da Cultura, Ministério da Educação e Fundação Santillana.

Mobilização nacional

A repercussão nacional do projeto somada à sua característica pioneira e de fácil replicação permitiu que diversos poetas, educadores, agentes culturais e sociais brasileiros manifestassem interesse em realizar o Um poema em cada árvore em suas cidades.

Ao encontro dessas maravilhosas manifestações será realizado no Dia da Árvore (21 de setembro) o Um poema em cada árvore (Mobilização Nacional) em 83 (oitenta e três) cidades de 24 Unidades Federativas brasileiras, constituindo assim uma rede de poetas, educadores,agentes culturais e sociais mobilizados em fomentar ainda mais as intenções do projeto no que refere à conquista de novos espaços de fruição poética, ampliação do acesso da população à poesia, divulgação do trabalho de poetas desconhecidos do grande público e elevação do índices de leitura em nosso país.

Lista das cidades participantes
01. ALEXANDRIA - RN
02. ALMENARA - MG
03. ALTA FLORESTA - MT
04. ANÁPOLIS - GO
05. BACABAL - MA
06. BAGÉ - RS
07. BELO HORIZONTE - MG
08. BOQUEIRÃO - PB
09. BRASÍLIA - DF
10. CAMPINA GRANDE - PB
11. CAMPO GRANDE - MS
12. CAMPO NOVO DO PARECIS - MT
13. CARMOPOLIS DE MINAS - MG
14. CERQUILHO - MG
15. CHAPADA GAÚCHA - MG
16. CONSELHEIRO LAFAIETE - MG
17. CONTAGEM - MG
18. CURITIBA - PR
19. DELTA - MG
20. DOURADOS - MS
21. ENTRE RIOS DE MINAS - MG
22. ESPLANADA - BA
23. FORTALEZA - CE
24. FREDERICO WESTPHALEN - RS
25. GARÇA - SP
26. GOVERNADOR VALADARES - MG
27. GUARANÉSIA - MG
28. IBATEGUARA - AL
29. ILHÉUS - BA
30. ITABUNA - BA
31. JANUÁRIA - MG
32. JARAGUARI - MS
33. JUAZEIRO DO NORTE - PB
34. JUÍNA - MT
35. LAGAMAR - MG
36. LAPÃO - BA
37. LARANJAL - MG
38. LIVRAMENTO DE NOSSA SENHORA - BA
39. MACAPÁ - AP
40. MAJOR SALES - RN
41. MANAUS - AM
42. MARABÁ - PA
43. MARAVILHA - SC
44. MARIANA - MG
45. MARINGÁ - PR
46. MATA GRANDE - AL
47. NITERÓI - RJ
48. OSASCO - SP
49. OURO BRANCO (ITATIAIA - ZONA RURAL) - MG
50. PETRÓPOLIS - RJ
51. PIAÇABUÇU - AL
52. PIRAJU - SP
53. POÁ - SP
54. PONTE NOVA - MG
55. PORTO ALEGRE - RS
56. PORTO VELHO - RO
57. PRATA DO PIAUI - PI
58. QUELUZ - SP
59. RECIFE - PE
60. RIO DE JANEIRO - RJ
61. RIO DOCE - MG
62. RIO GRANDE - RS
63. RIO VERDE DE MATO GROSSO - MS
64. SALVADOR - BA
65. SANTA CRUZ DE GOIÁS - GO
66. SANTA CRUZ DO SUL - RS
67. SANTA MARIA - RS
68. SANTANA - AP
69. SANTIAGO (TERRA DOS POETAS) - RS
70. SÃO FRANCISCO DO CONDE - BA
71. SÃO GONÇALO DO SAPUCAI - MG
72. SÃO JULIÃO - PI
73. SÃO MATEUS - ES
74. SERRA - ES
75. TEIXEIRA DE FREITAS - BA
76. UBAÍRA - BA
77. UBERABA - MG
78. UNAI - MG
79. UNIÃO DOS PALMARES - AL
80. VINHEDO - RS
81. VITÓRIA - ES
82. VITÓRIA DA CONQUISTA - BA
83. XAPURI - AC

Mais informações:
http://www.institutopsia.org/p/mobilizacao-nacional.html


Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Antonio Roberto De Paula (Meu Lugar)

Tela  de Edgar Werner Osterroht
(retrata o Maringá Velho em 1952) 
Foi um tempo bom. Em que não havia tantas casas, não havia tanta gente. Você identificava um a um. Nas noites quentes, as pessoas colocavam cadeiras em frente à rua e ficavam até altas horas da noite quente conversando com os vizinhos.

O tempo não corria. Correr pra quê? Ia gostosamente devagar. A gente saboreava cada estação, cada jardim que renascia, cada chuva… A vida havia privilegiado todos nós. Pode parecer exagero, mas hoje é possível dizer que fizemos parte de um paraíso sem termos tido a noção disso.

O tempo foi passando. A máquina do tempo foi acelerando cada vez mais. Bruscas mudanças foram ocorrendo. Nosso lugar, uma perfeita obra de arte, foi sendo alterado até perder quase que completamente a identidade. De original ficamos nós, acuados.

Hoje, as casas estão coladas umas nas outras. Os carros aceleram no asfalto. Pessoas vêm e vão e eu não as conheço. E vez de cercas de balaústres, muros altos e grades. Na noite, estamos todos entricheirados.

O tempo corre. Já não consigo acompanhá-lo com a mesma eficiência. Vasculho recordações para tornar mais leves os dias. Deito na cama e sonho. Dou risadas com os amigos olhando para a rua vazia e o céu límpido. Uma buzina me acorda. O barulho me avisa que o paraíso ficou só na memória.
Fonte:
Da minha janela – 2003

Gente de Minha Terra: Antonio Roberto de Paula (1957)

O jornalista Antonio Roberto de Paula, sócio-proprietário da TV Clipping Maringá, nasceu na cidade paulista de Lupércio, em 17 de junho de 1957. É o primogênito dos quatro filhos de Alcebíades de Paula Neto e Rita Andrade de Paula. A mudança para Maringá ocorreu em 1959. De Paula concluiu o curso primário em 1967, em Engenheiro Beltrão (PR), onde a família residiu até meados de 1972.

Em 1968 estudou no Seminário Verbo Divino, em Ponta Grossa. De 1969 a 1976, fez o ginásio e o científico, como eram chamados na época os ensinos fundamental e médio, nos seguintes estabelecimentos de ensino de Maringá: Santo Inácio, Instituto de Educação, Gastão Vidigal e Paraná.

Foi aprovado no vestibular do curso de Letras na UEM (Universidade Estadual de Maringá) em 1981, mas desistiu do curso. Em 2001, formou-se em Jornalismo pelo Cesumar (Centro Universitário de Maringá). Em 2003, fez o curso de pós-graduação Língua Portuguesa – Teoria e Prática, pelo Instituto Paranaense de Ensino e Univale (União das Escolas Superiores do Vale do Ivaí). Atualmente, cursa Mestrado em Letras na UEM.

Sua monografia de conclusão do curso de graduação foi a apresentação do livro Os homens da Folha do Norte do Paraná , jornal maringaense fundado em 1962, pelo primeiro arcebispo de Maringá, dom Jaime Luiz Coelho, e que teve suas atividades encerradas em 1979.

Antes de atuar profissionalmente na imprensa, De Paula foi escriturário na Transparaná (1977), funcionário público municipal ( 1977 a 1979), tendo trabalhado na extinta Codemar (Companhia de Desenvolvimento de Maringá) e Secretaria de Fazenda; bancário ( 1979 a 1985), no Centro Regional do Bradesco-Maringá; e foi proprietário do Bar do Toninho ( 1985 a 1990), na avenida Dr. Alexandre Rasgulaeff, no Jardim Alvorada, em Maringá.

Desde a adolescência escreve poesias, contos, crônicas e artigos, inclusive com publicações desde a década de 1970, nos jornais O Diário do Norte do Paraná , O Jornal de Maringá e Jornal do Povo . Sua primeira experiência efetiva no jornalismo ocorreu em 1975, no Colégio Estadual Dr. Gastão Vidigal, com o jornal Skeletus , do CETA (Centro Estudantil Tristão de Athaíde).

Publicado até 1977, o Skeletus tinha como editores, além de De Paula, seus amigos Mário Sérgio Recco, José Miguel Grillo, Nivaldo Gôngora Verri, Edson Cemensati e Edson Luiz Matias. Em 1981, foi colaborador do Vôo Livre , suplemento de O Diário publicado às sextas-feiras, editado por Mário Sérgio Recco.

Seu primeiro emprego efetivo na imprensa foi no Jornal do Povo, em 1991, como colunista de futebol amador, passando depois para a editoria de esportes e escrevendo a coluna Visão de jogo. Neste mesmo ano atuou como comentarista da extinta Rádio Metropolitana (Rádio Jornal).

Em 1992 e 1993 trabalhou como comentarista em transmissões de futebol amador pela RTV Maringá. Em 1993, deixou o Jornal do Povo e se transferiu para a sucursal do Correio de Notícias, jornal curitibano que encerrou as atividades na cidade no ano seguinte. Lá, foi colunista e editor de esportes.

Ainda em 1993, deixou a RTV indo para a TV Maringá (Band) para ser editor, pauteiro e produtor do programa diário Esporte por Esporte , onde permaneceu até 1995.

Neste período, De Paula também foi produtor e comentarista do programa Atalaia Esportiva, da Rádio Atalaia de Maringá. De 1995 a 1997, trabalhou no O Diário exercendo as funções de editor de esportes, colunista do DNP Esporte, repórter de matérias políticas e locais, pauteiro e secretário de redação.

De 1997 a 1998 foi repórter da Revista M-9. De 1997 a 1999 escreveu crônicas, artigos, poesias e contos na coluna Linha Expressa, no Jornal do Povo. Em 1998 e 1999 atuou como editor-chefe do departamento de jornalismo da TV Cidade – Sistema NET. Em 2000, foi repórter, pauteiro e colunista do jornal Hoje Maringá.

De Paula e o jornalista Cláudio Viola são parceiros em composições em que incluem os hinos do Maringá Futebol Clube (1996), do Grêmio Maringá (2000) e as músicas Maringá Velho, gravada em 2003 pela cantora maringaense Márcia Mara, e Cabrito na horta , classificada no Femucic (Festival de Música Cidade Canção), gravada por Helington Lopes (que também foi um dos compositores) e o grupo Receita do Samba.

Em 2002, abriu com a jornalista Simone Labegalini a TV Clipping Maringá. No início de 2003, De Paula trabalhou como produtor, repórter e comentarista do programa Estação Comunitária , da Rádio Comunitária São Francisco FM, do Jardim Alvorada, retornando no ano seguinte. Foi responsável juntamente com seu filho Guilherme Tadeu de Paula da sucursal em Maringá do jornal londrinense Paraná Shimbun, em 2003 e 2004, e um dos produtores do programa Beca TV , da TV Clipping Maringá, com Guilherme Tadeu e Allan Oliveira, em 2004. Em 2003, publicou o livro Da minha janela, de crônicas, artigos, poemas, contos inéditos e já publicados.

Em 2004 lançou o livro A história política de um cabo de José, de Maria e de todos os Santos , em que narra a história do vereador maringaense Cabo Zé Maria e seus dez anos de mandato. Em 2005, dirigiu o videodocumetário Crônica democrática de uma cidade brasileira , sobre as Eleições 2004, numa produção da TV Clipping Maringá, com roteiro de Guilherme Tadeu de Paula e fotografia e montagem de Allan Oliveira.

Foi nomeado assessor de imprensa da Câmara Municipal de Maringá em 1997, vindo a ocupar a chefia do setor no final de 1999, onde permanece até hoje.

Fonte:
TV Clipping Maringá . http://www.tvcm.com.br/

Olympio Coutinho (Histórias de trova) Capítulo II, continuação – Meus Irmãos, os Trovadores

Na busca para corresponder-me com os trovadores, descobri endereços de Luiz Otávio, JG, Aparício Fernandes, Eno Theodoro Wanke,
Invejo a felicidade
de quem saudoso se diz:
- Quem hoje sente saudade
já foi, Um dia, feliz!


Walter Waeny,
Não te prendas mais à dor,
nem lembres quem te esqueceu,
pois quem quer morrer de amor
vive do amor que morreu.


Álvaro Faria,
Mais pobre do que não ter
nem mesmo pão em seu lar,
é ter muito a receber
e nada ter para dar


e muitos outros. Enviava trovas, pedia opinião e recebia respostas que deixavam o então jovem trovador cada vez mais entusiasmado.

O JG enviou sua resposta através de um artigo publicado na seção “No Mundo da Poesia”, página literária de “O Jornal Feminino”, suplemento de “O Jornal”, do Rio de Janeiro, com o título “Um Trovador Mineiro”, que começava assim:
“Minas é a grande ilha do arquipélago da poesia brasileira. Terra de poetas e trovadores. Desde a primeira Escola de Poesia, com Gonzaga, Alvarenga, Cláudio Manoel da Costa, até os modernistas autênticos, como esse grande Drummond, alto e de ferro, mas musicado de águas como uma montanha de Itabira. Começo com estes palavras para falar de um trovador que desponta: Olympio da Cruz Simões Coutinho, de Ubá... Quanto às trovas que me mandou, posso lhe dizer que são boas, que deve continuar a escrever, pois possui as qualidades inatas de um trovador...” E, citando uma de minhas trovas enviadas
Eu sempre que fui roubar
as galinhas dos vizinhos
fico com pena dos órfãos:
trago também os pintinhos,


terminava assim: “Continue, meu caro Olympio, como trovador.... Mas, cuidado com a Polícia”.

Esta trova rodou muito por aí e, ao longo do tempo, cheguei a vê-la como anônima em almanaques e, mais tarde, fiquei sabendo que um magnífico trovador, José Ouverney, de Pindamonhangaba, criador do site www.falandodetrova.com.br, quando mais moço, anotava trovas em um caderno e, entre elas, havia anotado a tal “trova dos pintinhos” sem saber de quem era. Ficou sabendo somente em 2008, quando passei a ter contato virtual com ele através do seu site e quando, aliás, voltei a participar dos concursos e dos jogos, depois de mais quase 50 anos longe do movimento. Recentemente, quis incluí-la em uma antologia editada pela UBT BH, mas foi brecada... Daí, dei-lhe o formato atualmente exigido, mas não gostei:
Eu sempre que vou roubar
as galinhas dos vizinhos,
para órfãos não deixar,
trago, também, os pintinhos.


O A.A. de Assis a conhecia e sabia de quem era, pois fomos meio contemporâneos ali por volta de 1960/61/62.

Em 1961, ganhei um prêmio em um concurso de trovas promovido pelo Rotary Clube de Vila Isabel, no Rio, cujo tema era “rosa”. A trova vencedora foi:
“Enganou-se o passarinho,
voando de flor em flor,
pensando que fossem rosas
os teus lábios, meu amor!”.


Fui lá, levando meus pais, pois o orgulho era grande. Aproveitei a viagem para procurar trovadores com os quais mantinha correspondência. Estive também na redação do “O Jornal” para conhecer a Elza Marzullo e também o Symaco da Costa, que já me havia escrito. O Symaco era um tipo popular, bastante crítico em relação, principalmente, ao grande número de “trovadores” que surgiam devido à divulgação do movimento e que escreviam coisas assim:
“Se eu me chamasse Maria,
que sorTE EU TEria, enfim,
tanta gente escreveria
muitas trovas para mim”.


Mais tarde, em artigo publicado, afirmou: “
Veja o enfim; foi enfiado ali a martelo”.

Na mesma oportunidade, procurei o Aparício Fernandes no banco onde ele trabalhava para conhecê-lo pessoalmente. Ele havia divulgado uma de minhas trovas no programa da Rádio Globo sobre o trovismo. O Aparício convidou-me então para ir a uma reunião em uma casa da Tijuca, onde os trovadores de então se encontravam nas tardes/noites das quintas-feiras, um happy hour trovadoresco. Fui lá: não me lembro de quem era a casa, mas me lembro, ainda que vagamente, da presença do Luiz Otávio, do JG, do Aparício e outros que a memória não guardou. O Luiz Otávio, o JG e o Aparício já conheciam algumas trovas minhas e já haviam escrito, incentivando-me. Entre as trovas, havia a seguinte, que havia sido elogiada:
“Quisera ser qual o pássaro
que no laranjal faz ninhos;
constrói a felicidade
dentro de um monte de espinhos”.


Da original que eu havia produzido, houvera duas correções, a primeira feita pelo Symaco da Costa, quando o visitei na redação do O Jornal: qual no lugar de como no primeiro verso; a segunda, feita naquela reunião: que no laranjal faz ninhos... originalmente era “que nos laranjais faz ninhos”. Mas a briga boa foi da turma tentando colocar rima dupla na bichinha... tentaram, tentaram e acabaram dizendo mais ou menos o seguinte: "Deixa como está; é boa assim mesmo!"

Ainda em 1961, resolvi fazer uma primeira edição de um livro de trovas, ao qual dei o nome de “Festival de Trovas”. Tinha capa amarela e 101 trovas. Tratei de enviar exemplares para todos os trovadores com os quais mantinha correspondência e recebi elogios e conselhos que muito me valeram de JG de Araújo Jorge, Symaco da Costa, Augusto Astério de Campos, José Dias de Moraes, Walter Waeny, Luiz Otávio, Isaías Ramirez, Walter Gomes da Silva, José Alencar Gomes da Silva e Honório Joaquim Carneiro (então presidente e secretário, respectivamente da Associação Comercial de Ubá), Fernando Burlamarqui, A. Isaías Ramirez, Synésio Fagundes, Eno Theodoro Wanke, Nordestino Filho, Dídimo Paiva, Rodolfo Coelho Cavalcanti, Camilo Lélis da Silva, Evandro Moreira, Pereira de Assunção, Renato Pacheco e Aparício Fernandes. Uma carta que também me deixou entusiasmado foi a recebida do Rodolfo Coelho Cavalcanti, de Jequié, Bahia, da qual, imodestamente, transcrevo um trecho:

"O seu livro Festival de Trovas fez-me dizer sinceramente: o Brasil tem mais um trovador!... Tanto no lirismo como no humorismo, o amigo é um bom trovador. Sorri bastante com o seu grande humor na questão dos “pintinhos”... Fazia tempo que eu não sorria com uma boa trova e não queira saber a gostosa gargalhada que eu dei. Disponha sempre do trovador popular a amigo...”

Continua
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