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quarta-feira, 26 de março de 2025
Luciana Soares Chagas (A poção do amor)
No coração de uma floresta, viviam três bruxas irmãs: Dorotéa, Mimosa e Grizelda. Não eram bruxas malignas, mas também não eram exatamente confiáveis. Seu passatempo favorito era ler o destino dos viajantes incautos que passavam pela floresta, usando búzios, tarô e, ocasionalmente, uma bola de cristal trincada.
Certa noite, sob uma lua cheia, um jovem chamado Tadeu atravessava a trilha da floresta, carregando uma rosa vermelha e um suspiro apaixonado. Estava a caminho da vila vizinha para declarar seu amor a Catarina, uma moça encantadora que nunca lhe dera atenção. Ao verem o rapaz desavisado, as bruxas entreolharam-se com malícia.
— Olhem só esse pobre coitado! — exclamou Mimosa.
— Cheira a coração partido! — acrescentou Grizelda.
— Vamos dar um empurrãozinho? — sugeriu Dorotéa, esfregando as mãos.
Convidaram Tadeu para um lanche e, entre um biscoito de gengibre e outro, puxaram as cartas. "A Torre", "O Enforcado", "O Diabo"... nada promissor.
— Hum... parece que você está numa enrascada, querido. Mas não tema! Temos uma poção infalível para o amor! — anunciou Grizelda.
Tadeu, tolo de paixão, aceitou de pronto. As bruxas misturaram ervas, assopraram búzios e jogaram um punhado de pó de morcego na poção borbulhante. Deram a ele um vidrinho cor de esmeralda e o instruíram:
— Borrife isto na moça, e ela se apaixonará por você! — garantiu mimosa.
E lá se foi Tadeu, esperançoso. Mas, em sua ansiedade, tropeçou na soleira da casa de Catarina, jogando a poção para o alto. O líquido perfumado caiu... nele mesmo.
No instante seguinte, um frio na barriga e um calor no coração. Tadeu se olhou no espelho e, apaixonou-se perdidamente pelo próprio reflexo. Sussurrou galanteios para si mesmo, piscando e mandando beijos para a vidraça.
Catarina, que assistia à cena de sua janela, caiu na gargalhada. Gostou tanto daquilo que resolveu dar uma chance ao rapaz. Afinal, um homem que se ama assim só pode ter muito amor para dar.
E assim, o feitiço das bruxas funcionou... ainda que não do jeito planejado. Tadeu e Catarina acabaram juntos, e as três irmãs comemoraram com um brinde de vinho de abóbora.
Mas volte aqui... vem cá... Eu sei que copiou receita, mas, cuidado onde você joga a poção do amor! Hahaha.
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LUCIANA SOARES CHAGAS é do Rio de Janeiro/RJ. Doutoranda em Educação, Mestre em Psicanálise, Saúde e Sociedade. Especialista em Gestão de Recursos Humanos. Formação em Pedagogia Empresarial. Especialização em Mídias e Tecnologia na Educação pela Universidade Veiga de Almeida e Licenciatura em Pedagogia. Docente há mais de 10 anos dos cursos de MBAs do Núcleo de Negócios e das Pós Graduação de Educação. Palestrante nas Jornadas presenciais para os alunos da EaD. Atuou como Instrutora comportamental em empresas como ABRADECONT, Marinha de Brasil-EMGEPRON, Miriam S.A., CIPA Administradora (BKR-Lopes e Machado), IBEF, Casa de Cultura (SevenStarmarketing). Diretora e sócia da Prassos Treinamento Empresarial. Autora de diversos E-books de disciplinas da área de Pedagogia na Universidade Veiga de Almeida e Organizadora do Livro E-Book da Coletânea de textos sobre inclusão escolar: Pedagogia.
Fontes:
Texto enviado pela autora.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
Vereda da Poesia = 233
CAROLINA RAMOS
Santos/SP
PROTESTO DO RIO
Quando Deus fez surgir, do nada, o mundo,
recortou-o de rios que em Seu plano
tinham valor imenso e tão profundo
quanto o fluxo arterial do corpo humano!
A terra floresceu. O amor fecundo
povoou lares. E o homem, sempre ufano,
o Éden que recebeu tornou imundo,
semeando em cada canto o desengano!
Ar e águas poluiu... E os próprios veios,
com seus desmandos, vícios e mazelas!...
E hoje... os rios ocultam, em seus seios,
as angústias das vozes sufocadas
pelos surdos gemidos das sequelas,
num protesto de artérias infartadas!
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Soneto de
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA
PASSARINHO NA GAIOLA
Sempre que a lida me isola
nas grades do dia-a-dia,
abro a porta da gaiola
com a chave da poesia.
Nesta vida quanta gente
na incerteza do arriscar,
olha o mundo aberto à frente
porém tem medo de voar...
Teu amor, gaiola aberta;
meu coração, passarinho
que por nada se liberta
das grades do teu carinho.
= = = = = = = = =
Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES
PROFISSÃO DE FÉ
Folhearei as Tuas escrituras
em busca de melhor discernimento,
de compreender o mundo e o sentimento
que envolve o Criador e as criaturas.
Respeitarei, Senhor, Teu mandamento
para que um dia eu possa, nas Alturas,
estar em meio as almas fiéis e puras
que aqui seguiram Teu ensinamento…
Mas, me perdoa, ó Deus, se Te questiono
ao ver tantas famílias no abandono
entre os escombros mórbidos da guerra.
Falsos pastores traem nossa fé;
conspiram nos porões da Santa Sé...
Não Te esqueças da gente aqui na Terra!
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO
Morena, quando eu morrer,
me enterre no mesmo dia;
Eu quero ser enterrado
no coração de Maria.
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Poema de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
A DUAS FLORES
São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez no mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu…
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.
Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar…
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!
= = = = = = = = =
Poema de
CRIS ANVAGO
Setúbal/ Portugal
O TEU ENCANTO
Tudo em ti é beleza
mesmo nas horas de tristeza
és um ser simples e natural
Fazes tudo com paixão
Tens uma força visceral
que me arranca o coração
Já não és só poema és canção!
Deslumbras quem te conhece e,
sem saberes, até parece que és tu
que todos queres conhecer
Tens ímã no sorriso
e a luz nos teus olhos
são botões de rosa
que espalhas aos molhos
pelos que por ti passam
nem tens noção do bem que fazes
e, quando te elogiam
ficas sem saber qual a razão
Quando falas, as tuas palavras
são gotas de água fresca
que caem em cascata
refrescam a mente mais sombria
Tu nunca és noite és sempre dia
Sempre motivas quem se cruza contigo
És conselho sem saber e abrigo
= = = = = = = = =
Haicai do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
A velha candeia,
piscava quase sem luz;
ó, que noite feia!
= = = = = = = = =
Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
COMO QUEM NÃO TEM MAIS ONDE IR
(verso de Ana Margarida da Silva Ferreira)
Como quem não tem mais para onde ir
Fui buscar nas palavras o acalanto
Que lavem as poeiras do quebranto
Que me deram os anos de existir.
Qual bálsamo, poção ou elixir
As palavras trouxeram-me o encanto
Que eu havia perdido num recanto
Do canteiro que não chegou a abrir.
As palavras me envolvem como um véu
E do chão levam-me ao azul do céu
Num crescendo de sons e de magia.
E os dias, em fortuna, tão avaros
Fazem-se mais ridentes e mais claros
Quando me beija a sombra da Poesia.
= = = = = = = = =
Soneto de
MACHADO DE ASSIS
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908
O DESFECHO
Prometeu sacudiu os braços manietados
E súplice pediu a eterna compaixão,
Ao ver o desfilar dos séculos que vão
Pausadamente, como um dobre de finados.
Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilhão,
Uns cingidos de luz, outros ensanguentados...
Súbito, sacudindo as asas de tufão,
Fita-lhe a águia em cima os olhos espantados.
Pela primeira vez a víscera do herói,
Que a imensa ave do céu perpetuamente rói,
Deixou de renascer às raivas que a consomem.
Uma invisível mão as cadeias dilui;
Frio, inerte, ao abismo um corpo morto rui;
Acabara o suplício e acabara o homem.
= = = = = =
Haicai de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP
BOM ENTARDECER
solzinho de outono
aquece a novata haijin —
sua luz inspira
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Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP
VERSOS DA NOITE
É noite. O céu azul, todo estrelado,
a brisa perfumada vem do mar,
lembrando aquele sonho do passado,
a teu lado viver, sorrir e amar...
Por que será, destino malfadado,
que a ventura se foi sem começar?
Hoje vejo em ruínas meu reinado
nesta noite tão bela a me saudar.
Breve os clarões da loura madrugada
vão surgir, como prece, em clarinada,
e em borbotões meus versos vão jorrar.
Para que ao lê-los, saibas da verdade:
aqui tens um poeta sem vaidade
que, os teus pés, inspirado vem beijar!
= = = = = = = = =
Poeminha de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Fantástico evento:
o fascinante momento
em que o botão
vira rosa.
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Dobradinha Poética de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP
AMOR PLATÔNICO
De repente, o seu olhar
encontrei na multidão
e vi a vida passar...
Ele esqueceu... mas, eu não!
* * *
Desconheces que te amo e, com certeza,
não supões quanto eu sofro ao te encontrar.
Em meio à multidão, com que tristeza,
o meu olhar procura o teu olhar!
E passas sem me ver... eu, indefesa,
sufoco a dor, tentando disfarçar
a emoção que mantém a chama acesa
dessa paixão, que só me faz penar!
Ouço a razão... Mas, antes de partir
atendo o apelo do meu coração.
Quero passar por ti... e me iludir
que o teu olhar, amor de minha vida,
encontre, enfim, em meio à multidão,
meu triste e meigo olhar... de despedida!
= = = = = = = = =
Poema de
JÉRSON BRITO
Porto Velho/ RO
RETRATOS
Partiste, mas tenho no peito ferido
Guardadas as cenas, lembranças pungentes
Dalguma esperança talvez as sementes
Ou meros resquícios do amor destruído.
Resgato o retrato das tardes prazentes,
Concertos suaves, jardim colorido,
Romance perfeito, casal embebido
Em mélicos sonhos, desejos ardentes.
Não deixo que o tempo cruel amarele
Aquelas imagens sublimes, bonitas,
A plena expressão de felizes instantes.
Queria sorrir, celebrar como dantes
Em minhas quimeras, senhora, inda habitas.
Não pude esquecer esse olor, essa pele...
= = = = = = = = =
Poema de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
COLO DE MÃE
Mudei de cadeira, mudei de xícara,
joguei fora o adoçante
e recriei meu café da manhã.
De nada adiantaram as mudanças,
tudo tem outro gosto, tudo é fastio,
tudo é uma esquisitice aguda.
Estou macambúzia, gripada, mas nada dói em meu corpo.
Minha gripe é na alma, congestionada de saudade.
Ah, meu Deus! Dá-me a canequinha de lata,
o tamborete antigo e o colo de mãe
que foram deixados numa cozinha farta de aconchego.
Dá-me o fogão à lenha, o café de um coador de pano
e os meus despreocupados anos de infância .
Hoje eu quero um remédio que me cure
dessa dor inquietante de não ser mais criança.
= = = = = = = = =
Soneto de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ
COLIBRIZANDO
Fotografei, num flash, um beija-flor.
peguei-o distraído a distrair-me,
movi-me cauteloso e ele ali, firme,
polinizando o meu tímido amor.
Que pássaro feliz... sinto assim,
voando... quando faço poesias,
criando minhas doces fantasias
com cada flor que enfeita meu jardim.
Amei aquele lindo passarinho
tão frágil, com a lírica missão
de abençoar alguém que ele nem vê...
Por isso é que oferto meu carinho
a que quem conversa com meu coração
no instante mais feliz com que me lê.
= = = = = = = = =
Poema de
ÓGUI LOURENÇO MAURI
Catanduva/SP
MULHER...A VIDA!...
A partir dela, começa nova vida...
Mulher, gênese maior da concepção!
Faz-se ímpar protetora do embrião,
Num sublime encargo, por Deus escolhida!
Em seu ventre, traz o feto com amor.
Dá à luz!... A espécie que se perpetua!
Amamenta, por missão somente sua;
No crescer da cria, dá-lhe mais calor.
Vive, dos filhos, as vitórias e fracassos;
Muitas vezes, no lugar de mãe e pai.
São momentos em que sempre sobressai
A intuição do ser mulher ao dar os passos.
Mulher... A vida!... Missão polivalente!
Ela é mãe, tão companheira e tão amante!
Para o homem, faz-se trunfo exuberante,
É com ela que ele põe a vida à frente!
Mulher... A vida!... Coberta só de glória!
Competência a impulsionou rumo à conquista,
Eis que pela sociedade agora é vista
Pari passu ao homem, a fazer a História.
= = = = = = = = =
Poema de
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro RJ, 1901-1964
MÚSICA
Noite perdida,
Não te lamento:
embarco a vida
no pensamento,
busco a alvorada
do sonho isento,
puro e sem nada,
— rosa encarnada,
intacta, ao vento.
Noite perdida,
noite encontrada,
morta, vivida,
e ressuscitada...
(Asa da lua
quase parada,
mostra-me a sua
sombra escondida,
que continua
a minha vida
num chão profundo!
— raiz prendida
a um outro mundo.)
Rosa encarnada
do sonho isento,
muda alvorada
que o pensamento
deixa confiada
ao tempo lento..
Minha partida,
minha chegada,
é tudo vento...
Ai da alvorada!
Noite perdida,
noite encontrada…
= = = = = = = = =
José Feldman (Dilema da Sopa no Quartel)
Era uma manhã ensolarada no quartel do Exército da Vila Militar. O soldado Carlos, um jovem sempre alegre, mas que às vezes exagerava, estava se recuperando de uma leve gripe. Ele havia contatado sua mãe, Dona Edna, e comentou que não estava se sentindo bem. Preocupada, ela decidiu preparar seu famoso prato de sopa de galinha e foi direto para o quartel.
— Vou levar a sopa do meu menino! — disse Dona Edna, com um sorriso no rosto e o prato bem embrulhado em suas mãos.
Ao chegar na entrada do quartel, ela foi recebida por um soldado de plantão.
— Bom dia, senhora! O que deseja? — perguntou ele, firme.
— Bom dia! Eu sou a mãe do soldado Carlos e trouxe uma sopa para ele! — respondeu Dona Edna, com entusiasmo.
— Desculpe, senhora, mas não posso deixar você entrar! — disse o soldado, com um ar sério.
— Mas é só uma sopa! Ele não está se sentindo bem! — insistiu Dona Edna, já começando a se preocupar.
— Senhora, não posso fazer exceções. É contra as regras. — respondeu o soldado, sem mudar a expressão.
Nesse momento, o sargento Almeida passou e ouviu a conversa.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou, franzindo a testa.
— Sargento, essa senhora quer entrar com uma sopa para o soldado Carlos — explicou o soldado, apontando para Dona Edna.
— A senhora não pode entrar — disse o sargento, tentando ser firme.
— Mas eu sou a mãe dele e estou preocupada! — Dona Edna começou a gesticular. — Ele precisa de carinho, de uma sopa quentinha!
— Senhora, eu entendo, mas regras são regras — insistiu o sargento.
Dona Edna, já irritada, decidiu que não ia se deixar abater.
— Olha aqui, meu filho está doente! Eu não vou embora sem ver o Carlos! — disse ela, cruzando os braços.
Nesse momento, o capitão Ferreira apareceu, ouvindo o barulho.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou ele, com um ar de autoridade.
— Capitão! Esta senhora quer entrar com uma sopa! — disse o sargento, gesticulando para Dona Edna.
— Sopa? Isso é sério? — perguntou o capitão, olhando para Dona Edna. — Senhora, não podemos permitir isso. Se cada mãe trouxer sopa, vai ser uma bagunça.
— Mas é só uma sopa! — gritou Dona Edna, já começando a perder a paciência.
— Isso é uma questão de disciplina! — interveio o major Souza, que agora se juntara ao grupo.
— Disciplina? Olha, eu só quero ver meu filho e dar a ele essa sopa! — Dona Edna estava quase em lágrimas.
— Senhora, se a senhora entrar, não vai ser só a sopa. Vai ter que trazer um banquete! — disse o major, tentando manter a situação sob controle.
Dona Edna estava prestes a explodir quando Carlos decidiu intervir.
— Mãe! Eu estou aqui! Posso vê-la? — gritou ele, saindo da sala.
— Carlos! — exclamou Dona Edna, aliviada ao ver o filho.
— O que está acontecendo? — perguntou Carlos, percebendo a confusão.
— Eu só queria trazer a sua sopa! — disse Dona Edna, com a voz embargada.
— É só isso? — Carlos olhou para os oficiais, que estavam todos com expressões de cansaço da situação embaraçosa.
— Sim, e todos esses senhores não me deixam entrar! — disse Dona Edna, apontando para o sargento, o capitão e o major.
— Olha, mãe, eu aprecio sua preocupação, mas... — começou Carlos, mas foi interrompido.
— Você não pode ficar doente! — disse Dona Edna, já entrando na conversa. — Você precisa de sopa, carinho e descanso!
— E você precisa aprender a seguir as regras! — disse o major, tentando manter a ordem.
Nesse momento, Dona Edna virou-se para o major.
— E quem disse que a sopa não é uma regra? É uma regra da boa alimentação! — ela retrucou, com uma expressão determinada.
Os oficiais estavam tão cansados da discussão que começaram a olhar uns para os outros, sem saber o que fazer.
— Olhem, vamos resolver isso de uma vez por todas! — disse o capitão, já exasperado. — Carlos, você pode sair com sua mãe e levar a sopa para casa. Assim, a senhora pode cuidar de você.
— É isso mesmo! — exclamou Dona Edna, com um sorriso triunfante. — Vamos, meu filho!
— Mas, e quanto à disciplina? — perguntou o sargento, confuso.
— A disciplina pode esperar! — disse o major, já perdendo a paciência. — Todo mundo aqui já teve mãe! Deixe o soldado ir!
Carlos, aliviado, pegou a sopa de sua mãe e saiu do quartel, seguido por ela, que estava radiante.
— Obrigada, senhores! — ela gritou, enquanto se afastava. — E lembrem-se: sopa é amor!
Os oficiais, exaustos, começaram a rir da situação.
— Nunca mais vou subestimar o poder de uma mãe — disse o capitão, balançando a cabeça.
E assim, o soldado Carlos e sua mãe foram para casa, deixando para trás um quartel que nunca mais esqueceria aquela "sopa".
Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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terça-feira, 25 de março de 2025
Carina Bratt (Como uma turista extraviada)
O TEMPO. Sempre ele. Este tempo, o mesmo que não nos dá tempo, que nos tira o tempo, que nos rouba em surdina. Este tempo nada mais é que um urdidor invisível. Como tal, entrelaça as nossas vidas com fios de lembranças, muitas delas adormecidas no passado. Deitada na minha varanda, a rede balouçando vagarosamente, contemplo o céu lá no infinito. Um infinito mavioso e sem nuvens, embeleza meus olhos. Os prédios à minha frente, do outro lado da alameda, parecem mudos, tristes, vazios e sem vida. Só parecem. Sei que formigam vidas em todos os andares.
Contudo, nem todos os apartamentos refletem o magnetismo do pleno cotidiano com todo o alvoroço de uma comunidade buliçosa. Meu andar é alto. As construções horizontais ao alcance dos meus olhos, me permitem vasculhar cada canto, cada desvão. São condomínios de doze e quinze andares, enquanto o meu, de vinte, me deixa contemplar o topo de cada um, às vezes até sem ser vista. Estou acima das caixas d’água, das casas dos elevadores, da moradia do porteiro... neste momento, rindo das tramas que rolam em cada pavimento.
Ontem mesmo me lembrei que antes de me mudar para esta torre, morava numa rua estreita em Araçás (bairro próximo aqui da Praia da Costa) onde as casas ao redor pareciam sussurrar segredos. As janelas com seus rostos antigos, as flores murchas em vasos acondicionados nos parapeitos, davam conta de histórias de velhos amores e desencontros. Crianças (como eu) corriam pelas adjacências, descalças, riam alto, promoviam algazarras enquanto trocavam olhares desencontrados e distantes de qualquer aparência de felicidade.
Nesse tempo, as tardes se alongavam, e o sol se punha devagar tingindo o céu (o mesmo que agora contemplo da minha varanda enorme), com a diferença de que os tons se faziam mais claros. Os abraços dos que cruzavam (fossem indo ou vindo) tinham um tempo mais comprido, como se o calor daquele encontro objetivasse frear o tempo. Todavia, o meu tempo, o ontem dos meus idos de menina, avançava e deixava na poeira dos olhares as risadas, os sonhos, os abraços...
Coisa de uma semana atrás, fui passear num desses bairros onde morei aqui em Vila Velha. O bairro Araçás. As casas, agora, têm novas janelas, as pedras e a terra batida das vielas foram substituídas pelo asfalto. As crianças do meu tempo se fizeram adultas e num piscar de futuro, se espalharam pelos confins de outras localidades. Uma das muitas ruas, notadamente a que onde morei, a Montevidéu, mudou a sua personalidade. As interrogações de sorrisos delongados são apenas resquícios da minha memória.
O passado se dissolveu. Virou pó. Se fez envelhecido e em profunda solidão. O passado do meu tempo de outrora, se evaporou das cores originais e, hoje, o preto e o branco, tomaram conta das minhas fotografias sobre o piano. De tudo ficou um tempo obumbrado. O que vi nos idos das minhas tranças em meus cabelos, das minhas bonecas de porcelana, dos afagos de meu pai, das comidas de vovó e das guloseimas de mamãe, restou o cheiro gostoso de um ontem que se fez glorioso. Sabores e sensações, idem. Pedaços desencontrados de risadas e abraços, de quando em vez, me fazem afagos, mas parecem rupturados de cores vivificantes.
Imagino que o tempo que não nos dá tempo, da mesma forma que nos tira o tempo que não mais temos, nada mais é que um infeliz desalmado. Um ser vazio, infame, que tem o condão de mudar tudo. Tudo, menos o meu céu azul lá no infinito. O azul sem nuvens segue colorindo meus pensamentos, os prédios a minha frente, apesar de mudos, vazios e sem vida, continuam imutáveis. O meu passado não está só no que o meu tempo quer me mostrar.
Ele está presente dentro do meu ‘eu’ universo. Uma espécie de caixinha de recordações que ninguém de fora consegue acessar. Ninguém! Eu, da minha rede, envolvida no balanço dela, olhando o céu, vasculhando os apartamentos, perscrutando cada canto... às vezes capturando cenas engraçadas, outras participando de brigas e confusões, sorrio matreira. Também não me escapam casais se amando em contradições de sexo despudorado, pessoas indo embora, outras chegando. Não importa. Eu sou inteiramente feliz. Na verdade, euzinha, SOU A DONA DO MEU TEMPO.
Fonte:
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
Vereda da Poesia = 232
CAROLINA RAMOS
Santos/SP
E O CARNAVAL COMEÇA
Rompem-se os diques da alma. Nas retinas,
confundem-se as visões do Bem e o Mal.
Momo sacode os guizos! Nas esquinas
e nos salões, estronda a bacanal!
No entanto, há mais Pierrôs e Colombinas,
Palhaços e Arlequins, na vida real,
que os que atiram confetes... serpentinas,
alegria a fingir no Carnaval!
Cinzas! Máscaras rolam! Mas... só a morte,
a derradeira máscara é quem tira.
Momo sorri - talvez da própria sorte!
E o amargor numa dúvida se expressa:
- O Carnaval findou?! - Cruel mentira!
– A vida marcha... E o Carnaval começa!...
= = = = = = = = =
Soneto de
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA
SE QUISERES
Se quiseres palmilhar o meu caminho
abandona tuas asas e teu ninho
que impedem teu livre caminhar.
Se quiseres pernoitar na minha tenda
retira, antes de entrar, a venda
que não te deixa ver a estrela-guia.
Se quiseres repousar na minha cama
remove do teu corpo a lama
comprada no igapó das ilusões.
Se quiseres meu amor, rasga teu peito
e arranca dele o preconceito
que não te deixa ver-me como sou.
E se afinal quiseres decifrar meu canto,
destrói na sarça ardente o cetro e o manto
e só então verás a essência do meu ser.
= = = = = = = = =
Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES
O MEU SERTÃO IV
O meu sertão virou quase cidade:
as terras divididas em herança
vão partindo os talhões pela metade
e aproximando, assim, a vizinhança.
Ganhou a noite tanta claridade
e incrivelmente chega a insegurança,
na gente que era só simplicidade
e sofre o destempero da mudança.
Os vagalumes, feito lamparinas,
faziam noites tão mais genuínas,
o céu mais parecia um véu de estrelas…
Mas já não vejo tantas qual outrora,
com tanta luz, eu acho, vão-se embora…
e eu olho o céu e não consigo vê-las!
= = = = = = = = =
Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO
Coração de pedra dura,
da mais dura que houver;
eu jurei de te amar,
enquanto vida tiver.
= = = = = = = = =
Poema de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
CANÇÃO DO BOÊMIO
Que noite fria! Na deserta rua
Tremem de medo os lampiões sombrios.
Densa garoa faz fumar a lua,
Ladram de tédio vinte cães vadios.
Nini formosa! por que assim fugiste?
Embalde o tempo à tua espera conto.
Não vês, não vós?... Meu coração é triste
Como um calouro quando leva ponto.
A passos largos eu percorro a sala
Fumo um cigarro, que filei na escola...
Tudo no quarto de Nini me fala
Embalde fumo... tudo aqui me amola.
Diz-me o relógio cinicando a um canto
"Onde está ela que não veio ainda?"
Diz-me a poltrona "por que tardas tanto?
Quero aquecer-te rapariga linda."
Em vão a luz da crepitante vela
De Hugo Garcia uma canção ardente;
Tens um idílio — em tua fronte bela...
Um ditirambo— no teu seio quente...
Pego o compêndio... inspiração sublime
Pra adormecer... inquietações tamanhas...
Violei à noite o domicílio, ó crime!
Onde dormia uma nação... de aranhas...
Morrer de frio quando o peito é brasa...
Quando a paixão no coração se aninha!?...
Vós todos, todos, que dormis em casa,
Dizei se há dor, que se compare à minha!...
Nini! o horror deste sofrer pungente
Só teu sorriso neste mundo acalma...
Vem aquecer-me em teu olhar ardente...
Nini! tu és o cache-nez dest'alma.
Deus do Boêmio!... São da mesma raça
As andorinhas e o meu anjo louro...
Fogem de mim se a primavera passa
Se já nos campos não há flores de ouro...
E tu fugiste, pressentindo o inverno.
Mensal inverno do viver boêmio...
Sem te lembrar que por um riso terno
Mesmo eu tomara a primavera a prêmio..
No entanto ainda do Xerez fogoso
Duas garrafas guardo ali... Que minas!
Além de um lado o violão saudoso
Guarda no seio inspirações divinas...
Se tu viesses... de meus lábios tristes
Rompera o canto... Que esperança inglória...
Ela esqueceu o que jurar lhe vistes
Ó Paulicéia, ó Ponte-grande' ó Glória!...
Batem!... que vejo! Ei-la afinal comigo...
Foram-se as trevas... fabricou-se a luz...
Nini! pequei... dá-me exemplar castigo!
Sejam teus braços... do martírio a cruz!…
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Poema de
CRIS ANVAGO
Setúbal/ Portugal
A música faz sonhar
Lembrar, sorrir
Ficar sentada
Fluir no oceano
Que nos acolhe
E escolhe o que merecemos
E queremos tudo de bom
Porque queremos
Ser como somos
Ser nós!
Com os abraços amigos
Sem estarmos sós
Queremos o som
E, na madrugada
Saborear fruto bom
Antes de irmos para a estrada
Somos quem somos
E, não temos de ser mais nada!
Chegamos, partimos
Andamos a deambular pela estrada
Sempre pensamos em quem nos ama
Sempre somos acarinhados pelos amigos
Somos nós
Com todas as imperfeições
e. se não estivermos sós
somos bons nas nossas relações
de amizade, da amor e carinho
assim vamos caminhando
nesta estrada dura do destino!
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Haicai do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
Aquele sem teto,
que tem a noite por leito,
precisa de afeto!
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
DOS GESTOS COM QUE AMOR SE MANIFESTE
(Maria Amélia de Carvalho e Almeida in "Ao Sabor das Marés" p. 206)
Dos gestos com que Amor se manifeste
De todos o sorriso é tão primeiro
Que sendo puro, aberto e verdadeiro
Parece a luz que vem do azul celeste.
Se de um sorriso o olhar se enfeita e veste
O nosso coração bate ligeiro
Parece o peito ser quente braseiro
E de rubor o rosto se reveste.
Quando o sorriso nasce nada é feio
E as almas ficam presas nesse enleio
Que tanta coisa diz sem dizer nada.
Ficam palavras presas na garganta
E aquela que de todas mais encanta
É no fundo da alma que é guardada.
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Soneto de
AMAURY NICOLINI
Rio de Janeiro/RJ
TENTE MAIS TARDE
O destino, às vezes, contraria
aquilo que imaginamos ser o certo
e transfere sempre para outro dia
tudo que imaginávamos estar perto.
Achamos que é defeito do destino,
mas no final as coisas vão mostrando
que nos faltava o principal: o tino
para saber o quê, o onde e o quando.
O que termina foi melhor assim,
e sábio, o destino armou o fim
que de algum jeito foi anunciado.
Veja o exemplo que ocorre a mim,
que tento te ligar e ouço enfim
que está fora do ar ou desligado.
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Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP
PERSISTÊNCIA
Sou persistente como o garimpeiro
que busca a joia rara e deslumbrante,
cavando a terra, construindo aceiro,
para encontrar, altivo, o diamante.
Sou incansável pelo tempo inteiro,
busco a palavra e o brilho fascinante
do verso ardente, puro e verdadeiro
que brilha como o sol, inebriante.
Ninguém me deterá neste garimpo,
irei, se for preciso até o Olimpo
buscar minha divina inspiração.
E nestes versos pobres, mas floridos
meus sonhos ficarão mais coloridos,
oriundos do Amor, do coração!
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Poeminha de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Ninguém é grande
sozinho.
Mesmo o Amazonas,
gigante,
de afluentes precisou.
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Poema de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP
HERANÇA POÉTICA
(Homenagem a Mário Quintana)
Pede cautela a razão,
no labirinto da vida...
mas, sei que o meu coração
também conhece a saída.
* * *
Na sua ruazinha sonolenta,
a velha casa, onde nasceu, resiste.
Da porta aberta quando à noite, venta
do "catavento" eu ouço o canto triste.
Sua "cadeira de balanço" tenta
ninar meus sonhos... quanto pede e insiste!
Mas, a saudade chega e ciumenta
ocupa o seu lugar e não desiste.
Abro o "baú de espantos", comovida!...
Seu "sapato florido", ao ganhar vida,
vai procurar seu dono... e, por instinto,
eu levo o seu "espelho com magia",
que me fará cativo da poesia
e hei de encontrar você no "labirinto".
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Poema de
JÉRSON BRITO
Porto Velho/ RO
PLANGÊNCIA
Disseste adeus, pereci nesse instante,
Faltou-me o chão, foi-se o brilho da vida,
Senti cravado um punhal lacerante,
Resta aqui dentro a saudade doída.
Os arrebóis não mais têm formosura,
Lágrimas rubras me escorrem na face
Extravasando a perversa tristura,
Sofro lembrando o cruel desenlace.
Sem teus afagos decerto definho,
Prevejo ser a ruína completa,
Um negro manto recobre o caminho
Em que vagueio, princesa dileta.
Eis o meu brado plangente, sincero
Se decidires voltar, inda espero.
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Poema de
MILTON S. SOUZA
Porto Alegre/RS, 1945 – 2018, Cachoeirinha/RS
NEM SEI PORQUE SOU ASSIM
Nem sei porque sou assim:
Cada sonho que acalento
Se agarra tanto aqui dentro
Que vira parte de mim.
Fui assim desde criança
Sonhadora incorrigível
Procurando no impossível
Uma luz ... uma esperança.
Pareço pombinha mansa
Mar não gosto de enganar
Se um sonho me faz voa
Nem um corisco me alcança.
O sonho nos assegura
Que o céu não é tão distante
Ele grita... e nos garante
Que vale a pena a procura.
Quem sonha se transfigura
Mudando o brilho do olhar,
Que sonha pode mudar
Qualquer sorte... por mais dura.
Nem sei porque sou assim:
cada sonho que acalento
se agarra tanto aqui dentro
que vira parte de mim.
Por isso é que choro tanto
Ao ver um sonho morrer
Sonhar é mais que viver:
É da vida ter o encanto.
Cada sonho é um acalanto
Que embala nossa alma...E traz
Um misto de guerra e paz
No feitiço do seu canto.
Um sonho pode fazer
O inverno virar verão,
Pode entrar num coração
Quietinho...sem ninguém ver
Pode até mesmo acender
Alguma estrela apagada,
E as vezes, sem trazer nada
Enche a gente de prazer.
Sonhar é uma forma bonita
De atender o que a alma exige
Somente um sonho corrige
qualquer vida mal escrita.
E quando agente acredita
Torna reto o rumo torto
E até mesmo um sonho morto
Muitas vezes ressuscita.
Se sonhando eu sempre vim
Porque é assim meu coração,
Pouco me importa a razão
Desse meu sonhar sem fim.
Nem sei porque sou assim:
cada sonho que acalento
se agarra tanto aqui dentro
que vira parte de mim.
= = = = = = = = =
Soneto de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ
SERENANDO TUA DOR
Tu serenas, quando o verso que tu traças,
descompassa tua dor e harmoniza
todo amor que ainda tens e que suaviza
teu silêncio, pois desfaz tuas mordaças.
E são tantas... tantas vezes te calaste
ante cada infeliz perspectiva
de viver uma aventura expressiva,
quando nela, muito mais te aprofundaste.
O nostálgico sentir te dissocia
do amor que tu precisas despertar.
mas se a dor é a artéria da poesia,
tua doce fantasia há de mostrar
o caminho que produz toda magia
que conjuga, na poesia, o verbo... amar.
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Poema de
ÓGUI LOURENÇO MAURI
Catanduva/SP
ESTANCA TEU PRANTO!
Não!... Não chores, estanca teu pranto;
Doutro Plano, não sejas omisso!
Tinhas que sofrer o desencanto
Pra quitar, de vez, um compromisso.
Nesta tão prematura partida
De alguém muito querido em teu lar,
Não te olvides, é etapa vencida
De um pretérito a se resgatar.
Apesar de profunda essa dor
Do trespasse de um filho querido,
Agradece aos Céus, ao Criador,
O ditoso resgate assumido.
A agonia que sentes agora
Não é síndrome que te convém.
Calma, pois o ser que foi embora
Certamente te espera no Além!
A presente Passagem é acúmulo
De um saber tal que se perpetua.
E ele mostra que além do vil túmulo,
Nossa vida, por Deus, continua...
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Poema de
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro RJ, 1901-1964
MOTIVO
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
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