sábado, 14 de setembro de 2024

Varal de Trovas n. 611

 

Trovador Homenageado do Dia: Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho (Trovas em preto e branco)


1
Após a noite que embaça
a janela do viver,
ressurge a luz na vidraça
com um novo amanhecer.
2
Capiau faz dentadura
sem ter o dente frontal,
pois deste modo assegura
um sorriso natural.
3
Dia das Mães! Não se esqueça
dos presentes de ninguém:
por incrível que pareça,
sua sogra é mãe também!
4
Enquanto a gente descansa
na metade de um caminho,
um outro qualquer alcança
a outra metade sozinho.
5
Galopando sem receio
um indomável equino,
vou pela vida em rodeio
no cavalo do destino.
6
Há uma lição que sem cola
pelo estudante é sabida:
– na vida a melhor escola
é a grande escola da vida.
7
Mostra a vida, mostra a história,
que a prática da coerência,
determina a trajetória
de uma correta existência.
8
O amanhecer se vislumbra
quando o sol em sua ida,
se elevando da penumbra
irradia a luz da vida.
9
O migrante em sua andança
parte do amado rincão.
Leva consigo a esperança
mas deixa o seu coração.
10
Pela sua grande crença,
salvou-se, na Arca, Noé:
- não há dilúvio que vença
um homem cheio de fé!
11
Quando me sinto estressado,
fugindo da realidade,
vou do presente ao passado
pelo túnel da saudade.
12
Se alastrando lentamente
qual um glaucoma, o rancor,
impede os olhos da gente
de enxergar a luz do amor.

As Trovas de Dulcídio em Preto & Branco
por José Feldman

As "Trovas de Dulcídio" são uma bela coleção de versos que refletem temas como a vida, a esperança, e as relações humanas. Cada estrofe traz uma mensagem profunda e poética.

SIGNIFICADO DAS TROVAS; TEMÁTICA E RELAÇÃO COM LITERATOS DE DIVERSAS ÉPOCAS

1. Renascimento e Esperança
A imagem da luz que ressurgem após a noite simboliza renovação. A noite representa dificuldades ou desafios, enquanto o amanhecer sugere que sempre há uma nova oportunidade para recomeçar.

William Wordsworth, em poemas como "Daffodils", celebra a beleza da natureza e a esperança que ela traz, mostrando como momentos simples podem rejuvenescer o espírito.

2. Autenticidade e Simplicidade
A figura do capiau que faz dentadura sem o dente frontal reflete a beleza da imperfeição. Isso sugere que um sorriso genuíno, mesmo que não perfeito, é mais valioso e autêntico.

Em "Ode à Simplicidade", Pablo Neruda exalta a beleza nas coisas comuns, destacando a autenticidade que reside na vida cotidiana.

3. Dia das Mães
O tom humorístico destaca a importância de reconhecer todas as figuras maternas em nossas vidas. A sogra, muitas vezes vista com desconfiança, é lembrada como parte da família, enfatizando a necessidade de inclusão e amor.

Adélia Prado frequentemente explora a dinâmica familiar e as relações, revelando a complexidade e a profundidade do amor familiar.

4. Caminhos da Vida
A metáfora de um caminho dividido ilustra a singularidade de cada experiência de vida. Enquanto alguns descansam, outros avançam, ressaltando que cada um tem seu próprio ritmo e jornada.

Rainer Maria Rilke em "Cartas a um Jovem Poeta", discute a importância de seguir o próprio caminho, enfatizando a singularidade da experiência humana. Rafael Cortez aborda questões da vida moderna e as emoções que a cercam, refletindo sobre a condição humana de forma íntima. Marco Antônio Camelo aborda a vida a partir de suas experiências, refletindo sobre a passagem do tempo e as emoções que isso provoca.

5. Cavalo do Destino
A imagem do cavalo indomável simboliza a vida em sua essência selvagem e imprevisível. A ideia de "rodeio" sugere que, apesar dos desafios, devemos abraçar a jornada com coragem e determinação.

Fernando Pessoa, em "Mar Português", a aceitação do destino e a busca pela liberdade são temas centrais, refletindo a luta interna e a busca por significado.

6. Escola da Vida
Esta trova enfatiza que as lições mais valiosas vêm das vivências, não dos livros. A "grande escola da vida" é um convite a aprender com as experiências cotidianas.

Mário Quintana (frequentemente aborda a sabedoria que vem das experiências cotidianas, mostrando que a vida é a melhor professora.

7. Coerência e Existência
A coerência é apresentada como um guia moral. A trajetória de vida de alguém é moldada por suas ações e valores, indicando que viver com integridade é fundamental para uma vida plena.

Cecília Meireles, em seus poemas a busca pela verdade e a integridade moral são temas recorrentes, refletindo a importância de viver de acordo com os próprios valores.

8. Luz e Esperança
Este poema celebra a luz que vem com o amanhecer, simbolizando novas oportunidades e a beleza que surge após tempos difíceis. É uma reflexão sobre a importância da esperança.

Vinicius de Moraes no "Soneto de Separação", fala sobre a luz que traz esperança mesmo em momentos de tristeza, mostrando a dualidade da vida.

9. Migrante e Esperança
O migrante carrega consigo a esperança, mas também a dor da separação. Essa dualidade ilustra os desafios enfrentados por aqueles que buscam novas oportunidades, mas que deixam para trás o que amam.

Alfonsina Storni busca por um lugar no mundo e a nostalgia de laços perdidos, refletindo a experiência da mulher em um mundo em transformação.

10. Fé e Resiliência
A referência a Noé simboliza a força da fé em tempos de adversidade. A mensagem é que a fé pode ser uma âncora em meio a tempestades, permitindo que se supere as dificuldades.

Carlos Drummond de Andrade em poemas como "A Máquina do Mundo", aborda a condição humana e a necessidade de fé para enfrentar as incertezas da vida.

11. Nostalgia e Reflexão
A saudade é vista como um túnel que conecta passado e presente, permitindo ao eu lírico escapar do estresse da realidade. Refere-se ao poder das memórias e como elas nos confortam.

Em Alberto Caeiro (Fernando Pessoa), a simplicidade e a reflexão sobre a natureza e o tempo trazem uma forte sensação de nostalgia em sua poesia. A obra de Marília Gabriela traz uma profunda reflexão sobre sentimentos e memórias, semelhante à nostalgia presente nas trovas de Dulcídio.

12. Emoções Conflitantes
O rancor é comparado a um glaucoma, que obscurece a visão do amor. Isso sugere que a raiva e o ressentimento podem nos impedir de enxergar a beleza e a luz que o amor oferece.

Sylvia Plath explora emoções profundas e conflitantes, especialmente o amor e a dor, revelando a complexidade da experiência humana. Ana Cristina César explora a complexidade das emoções humanas e a busca por identidade, semelhante à introspecção de Dulcídio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As Trovas de Dulcídio dialogam com uma vasta tradição poética, refletindo temas universais que ressoam através dos tempos. A busca pela autenticidade, a reflexão sobre a vida, e a luta entre emoções opostas são comuns a muitos poetas, mostrando que, apesar das diferenças culturais e temporais, a essência da experiência humana permanece constante.

Dulcídio se destaca por sua capacidade de traduzir sentimentos complexos em uma linguagem acessível e direta, o que o torna um precursor da poesia contemporânea que busca conectar-se com o público em um nível mais íntimo. A forma como ele explora a beleza nas imperfeições e nas nuances do cotidiano pode servir de inspiração para poetas atuais adotarem uma abordagem semelhante, celebrando as experiências comuns que, muitas vezes, passam despercebidas.

Além disso, seu uso do humor e da ironia em questões familiares e emocionais permite um espaço de reflexão e leveza, incentivando novos poetas a abordarem temas pesados com um toque de leveza. Essa dualidade de emoção é uma característica marcante da poesia contemporânea, que frequentemente lida com a complexidade das relações humanas.

A influência de Dulcídio também é evidente na valorização da cultura popular e na oralidade, elementos que muitos poetas contemporâneos incorporam em suas obras. Essa conexão com as raízes culturais e a tradição oral enriquece a literatura atual, promovendo uma poesia que é tanto um espelho da sociedade quanto uma celebração das experiências individuais.

Por fim, a reflexão sobre a vida, a busca por sentido e a aceitação das emoções conflituosas, presentes nas trovas de Dulcídio, dialogam diretamente com as inquietações da poesia contemporânea. Poetas atuais continuam a explorar e expandir esses temas, criando uma tapeçaria rica e variada que honra a tradição enquanto se projeta para o futuro.

Assim, ele não apenas deixou um legado significativo, mas também pode ser uma fonte de inspiração para a nova geração de poetas/trovadores, que encontram em suas trovas uma forma de expressar a universalidade da experiência humana em suas próprias vozes. A intertextualidade que surge entre sua obra e a poesia contemporânea reforça a ideia de que a literatura é um diálogo contínuo, onde o passado e o presente se entrelaçam, criando novas significações e possibilidades.
Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. IA Open. vol.1. Maringá/PR: Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Flavius Avianus (O menino e o ladrão)

Ao lado de um poço profundo, um menino fingia que chorava. Derramava, pois, lágrimas de falsa e simulada tristeza.

Um ladrão astuto, vendo-o assim, perguntou-lhe, diligentemente, a causa de sua tristeza, dizendo-lhe:

— Diz-me, belo rapaz, por que com olhos lacrimejantes, choras tão impetuosamente?

Lastimando-se, respondeu o rapaz:

— Aqui vim com um balde de ouro para buscar água. Mas, quando a apanhava, a corda partiu-se, e o balde caiu dentro do poço. É por isso que cheio de tristeza, eu choro.

Ouvindo tais palavras, o ladrão, astuto e ganancioso, tirou a capa e, pondo-a perto do garoto, desceu ao poço à procura do balde.

Depois, tendo já o ladrão chegado ao fundo do poço, o menino tomou-lhe a capa, e com ela fugiu à floresta, onde se escondeu. 

O ladrão demorou-se muito procurando o balde de ouro, mas, vendo que não podia achá-lo, e notando que perdia tempo naquela busca infrutífera, esforçou-se por sair do poço, e começou a procurar pela capa em todos os lugares. Constatando que a capa não estava em lugar algum, porque não caíra inadvertidamente ao chão, disse cheio de tristeza e angústia:

— Ó deuses de todos os povos! O quão justos fostes vós em vossa sentença! Os que como eu — loucamente, com grande cobiça e avareza, atraídos por um engodo — acreditam que vão achar um balde de ouro num poço, devem ser punidos com o infortúnio, e por justa razão.

Ninguém deve, assim, ser tão ganancioso, e nem se deixar atrair pelas coisas alheias, pois corre o risco de perder aquelas que lhe pertencem. Bem-aventurados os que se acautelam das armadilhas alheias.

Fontes: Flavius Avianus. Fábulas. século V. versão em português de Paulo Soriano, a partir de tradução anônima espanhola de 1489.
Imagem, criação por José Feldman com IA Microsoft Bing

Vereda da Poesia = 110 =


Trova de 
ALICE ALVES NUNES
Rio de Janeiro/RJ (1896 – ????)

Que toda pedra que rola
não cria limo, é verdade.
Toda alma que a dor imola
perde o limo da maldade.
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Sextilha de
JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

Quando menino, eu queria
Ser homem, com rapidez,
Porém, contabilizando
Tudo que o tempo me fez,
Hoje morro de vontade
De ser menino outra vez!
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Trova de
LUCÍLIA A. T. DECARLI
Bandeirantes/PR

Apesar do sofrimento
ser o algoz daquele adeus,
lembrar de um feliz momento
traz alento aos dias meus.
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Soneto de
SÉRGIO BERNARDO
Rio de Janeiro/RJ

Surdez urbana

Os grilos cantam… Vibram no ar ruídos,
atrapalhando-os nesta hora absurda.
Apenas eu, talvez, lhes dê ouvidos…
Os grilos cantam, mas a tarde é surda.

O rush é um monstro abrindo as negras asas
na rua que enlouquece de repente.
Seus gritos vão entrando pelas casas.
(E os grilos cantam nos jardins da frente.)

Tem fim mais uma cotidiana luta,
com sons vibrando em enervante alarde.
Pessoas se atropelam…Não se escuta

Que os grilos cantam no cair da tarde…
Já fui do bando de homens intranquilos…
Troquei buzinas pela voz dos grilos.
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Trova de
FERNANDO PESSOA
Lisboa/Portugal (1888 – 1935)

A rosa que se não colhe,
nem por isso tem mais vida.
Ninguém há que te não olhe,
que te não queira colhida.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de
SEBASTIÃO FERREIRA MACEDO
Londrina/PR

Teatro

Corpo e cara, cara e corpo à sua frente
evoluindo, ora lenta, ora freneticamente
as mãos, o aceno, um traço
o corpo, o equilíbrio, o espaço
os pés, o palco, o chão
a plateia, os aplausos, o coração
como um garçom sem rosto
com uma taça, um prazer, um gosto
é a paixão, é a peça, é a cena
é a oficina, o tablado, é a arena
é a expressão, é a voz, é o gesto
é a emoção, é a energia, é o manifesto
cara e corpo, no toque, no sentido, na ação
no momento experimentado
no sugar da satisfação
é o fato, espancado, derramado, espremido
é o ato, lavrado, suado, servido
para ser mais exato, a porção exaurida
eis o TEATRO, uma criação
uma forma intensa de vida
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Popular

Os males que me circundam
são como as ondas do mar:
atrás de uma vêm outras,    
sem nunca poder cessar.
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Poema de
MARIA LUA
Nova Friburgo/RJ

Vestígios

De longos caminhos andados
trago vestígios na alma…

Cicatrizes de ternuras perdidas
nos aflitos desamores …
Marcas de lágrimas contidas
em noites de ausências…
Rugas de desejos congelados
nos rituais absurdos…
Sombras de saudades doídas
em luares de silêncios…
Rastros de sonhos partidos
em esquinas de desencontros…
Pegadas de naufrágios loucos
nos mares do coração…

De longos caminhos andados
trago vestígios na alma…
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Trova de
LUIZ DAMO
Caxias do Sul/ RS

Pode até ser que não tenha
um adeus confortador,
nem ferida que não venha
carregada de uma dor.
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Poema de
NADIR GIOVANELLI
São José dos Campos/SP

Ser Poeta

Ser poeta é gostar da poesia.
É observar, apreciar a natureza.
Encantar-se, ouvir seu ruído com euforia,
um suave encontro de rara beleza.
O poeta sentindo a vida, a música, a melodia,
consegue com as palavras brincar...
Canta em versos, deixa livre
o que se sente ou pensa, para questionar!...
Desabafa sua dor sem medo de errar.
A dor dói, mas a dor do outro, ninguém 
nem mesmo o poeta, pode expressar.
Quero me alimentar, beber da poesia,
de sonhos, de fantasias, semear flores do bem. 
Antes de tudo agradecer meu viver! 
Orar como Anjo, pois a oração é poesia, 
de súplica ou de gratidão, um círculo de alegria.
Quero me sentir leve, livre para me inspirar...
Ser poeta é viver para amar!
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

Um banhista, ante os apelos,
tenta salvar o Manduca
agarrando os seus cabelos.
Só que ele usava peruca!
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Poema de
DARLY O. BARROS
São Francisco do Sul/SC, 1941 - 2021, São Paulo/SP

Inexplicavelmente

Se, no mundo físico
as células do meu corpo
são a expressão concreta
viva e pulsante
da matéria fluida, etérea
de que são feitos os sonhos;
se o incorpóreo
ganha corpo em mim
aglutina-se
funde-se;
se, numa simbiótica autofagia
nós dois nos suprimos
simultaneamente
devorando-nos
alimentando-nos
um do outro;
se não somos partes de um inteiro
mas o todo
um cerne
um núcleo
uno
inexplicavelmente indissolúvel
eximir-me como de suspeição
ao falar de sonhos?...
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Trova de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Velho trem me faz lembrar
os meus tempos de menino,
em que eu me punha a cismar
qual seria o meu destino...
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Poema de
RUBENS CAVALCANTI DA SILVA
Santo André/SP

Vamos!

Vamos repartir o pão
O chão, o céu

Vamos dividir o amor
A dor, o destino

Vamos cortar em vários pedaços
A tolerância, a esperança, o esplendor
E jogá-los ao povo que chora
Neste planeta

Vamos todos nos juntar
E depois de almoçar
Acabar com as guerras
Com as feras e com a feiura
Do preconceito.

Vamos?
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Trova de
NABOR FERNANDES PINHEIRO
Valença/RJ

Aquele que desejar
viver na paz do Senhor,
deve cumprir e aceitar
as normas do bom humor.
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Soneto de
ARLINDO TADEU HAGEN
Juiz de Fora/MG

Sonho cordial

Tenho na vida um sonho fraternal
que espero, em ânsias, vê-lo florescer
antes que Deus decrete o Seu final
na história pessoal do meu viver.

Sonho um mundo mais justo, mais leal,
onde a cordialidade possa ser
uma espécie de língua universal
na qual os homens possam se entender.

Que, independente às cores das bandeiras,
idiomas, línguas, crenças e fronteiras,
todos os homens possam dar-se as mãos.

Que prevaleçam sobre a Humanidade
os preceitos saudáveis da amizade,
e o mundo seja um mundo só de irmãos! 
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Humorística de
NEWTON MEYER
Pouso Alegre/MG , 1936 – 2006

"Não sou empregado avulso"!
Adão pede a Deus arrego.
 "Sem essa de TÊJE EXPULSO,
e o seguro desemprego?"
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Soneto de 
ALBA HELENA CORRÊA
Niterói/RJ

Semeadura do bem

Imita o agricultor em tua vida;
verás o quanto é nobre semear.
Repara – sempre a terra agradecida,
com flores, frutos, vai recompensar.
.
O ser humano que na sua lida
espalha o bem sem disso se ufanar,
terá colheita farta, garantida,
e, lá, no céu, terá o seu lugar.
.
Sejamos, pois, fraternos lavradores;
sem esperar por glórias ou louvores,
plantemos, na existência, o bem-querer.
.
Qual árvores deixemos sombra amiga;
talvez o nosso esforço alguém bendiga
ao estender as mãos para colher!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Da mãe à filha querida: 
– Obrigada, meu bebê... 
Fui eu quem lhe dei a vida, 
mas minha vida é você!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Pantum de
MIFORI
(Maria Inez Fontes Rico)
São José dos Campos/SP

Roda Viva

A suave brisa levando
o aroma da primavera...
Entre as folhagens soprando,
seu coração se acelera.

O aroma da Primavera,
as árvores farfalhando,
seu coração se acelera,
seus olhos claros brilhando!

As árvores farfalhando
folhas e flores incríveis,
seus olhos claros brilhando,
tão vivos e irresistíveis.

Folhas e flores incríveis
novos quadros vão formando,
tão vivos e irresistíveis
A suave brisa levando...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova da Princesa dos Trovadores 
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Quem se agarra a uma quimera,
quem persegue uma utopia,
age como se soubera
que sem sonhos... morreria!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Hino de São Bento/MA

São Bento meu doce berço de amor
São Bento minha vida te darei
No meu peito estarás onde for
Longe de ti saudades moverei

Tuas aves povoam minha alma
A esperança é o teu verde a tua luz
Tua terra é teu pão que me alimenta
O teu campo com flores me seduz

O saber é o ouro do teu povo
E a glória o futuro da cidade
Construíste com trabalho tua honra
Ilumina-te o sol da "Liberdade".
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de 
JOSÉ MOREIRA MONTEIRO
Nova Friburgo/RJ

O meu cabelo grisalho 
que a marca do tempo fez
foram anos de trabalho
perseverança e honradez.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de 
HÉRON PATRÍCIO
Ouro Fino/MG, 1931 – 2018, Pouso Alegre/MG

Colheita

É no riscar do solo, no trabalho
que torna o chão estéril em fecundo;
é na escolha do bom e melhor talho
que o arado irá ferir, de leve ou fundo…

É, do nascer do sol que seca o orvalho
até depois que o dia, moribundo,
busca da noite o fúnebre agasalho,
que o lavrador não pára, um só segundo…

E é, juntando esperanças às sementes,
com chuva certa e sol – sempre presentes -,
que a recompensa vem, mais que perfeita,

pois o plantio, para Deus, é prece
que tem resposta pronta… quando a messe
transborda no celeiro, na colheita!…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de
ARI SANTOS DE CAMPOS
Balneário Camboriú/SC

Vou partir mais uma vez:
não parei, desde menino,
dessa vida sou freguês,
mala e cuia é meu destino.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

O tesouro e os dois homens

Um pobretão, enfim, um desgraçado,
Que a miséria mais negra padecia,
Achando a vida um fardo bem pesado,
Quis pôr um termo à existência um dia.

Compra um metro de corda, arranja um prego,
E sem mais reflexão, sem mais conselho,
Quer realizar o seu desejo cego
Numa parede dum casebre velho.

Oscila enfim o prego; e às marteladas
Esboroa-se todo o pardieiro,
E do buraco feito com as pancadas
Saem rios e rios de dinheiro!

«Oh, céus! — exclama bem contente, enfim —
Sou rico!... Sou feliz!... Quero viver!
Ao diabo o suicídio, hoje para mim
Tudo são festas, hinos e prazer!...

Mas chega horas depois o avarento,
Que vinha contemplar o seu tesouro;
E encontra, em vez dos seus punhados de ouro,
O muro aberto onde atravessa o vento.

E enforca-se por fim o desgraçado
À corda que do muro vê pender!…
É pois bem certo o popular ditado:
Guardado está o bocado
Para quem o há de comer.

Dicas de Escrita (Como escrever em primeira pessoa) – 1


texto por Stephanie Wong Ken

Escrever em primeira pessoa pode ser um desafio divertido, permitindo que você explore o ponto de vista em primeira pessoa na página. Você pode escrever uma história breve, um romance ou um artigo de opinião. Criar uma narrativa eficaz em primeira pessoa requer habilidade e consistência, além de uma boa revisão depois de terminar.


MÉTODO 1 = ESCOLHENDO UM TEMPO VERBAL PARA A NARRATIVA EM PRIMEIRA PESSOA

1. Use o presente para levar a história adiante. 
A perspectiva da primeira pessoa tem dois tempos verbais diferentes, passado e presente. No presente, as ações e pensamentos se concentram no que está se desenvolvendo no momento. Pode ser uma boa opção se você deseja levar a história adiante, carregando o leitor através de uma narrativa com eventos e momentos em progressão.

Por exemplo, a narração da primeira pessoa do presente pode ser:
 “Eu abro a janela e grito para ele me deixar em paz. Eu fecho a janela e tento me concentrar no capítulo novo da novela.”

2. Experimente usar o passado para explorar o histórico do personagem. 
O passado é uma boa opção se você está escrevendo uma história que explora a vida do personagem principal ou narrador. É um tempo verbal mais popular que o presente e geralmente mais fácil de escrever.

Escrever no passado pode dar a entender que a história está sendo contada, em vez de estar acontecendo no momento.

Por exemplo, um narrador em primeira pessoa no passado diria: 
“Eu abri a janela e gritei para ele me deixar em paz. Eu fechei a janela e tentei me concentrar no capítulo novo da novela”.

3. Ao discutir um trabalho, a melhor opção é o presente. 
Na maioria dos casos, a narrativa em primeira pessoa não é a mais recomendada para trabalhos acadêmicos. No entanto, seu instrutor pode permitir que você escreva dessa forma se for falar sobre um trabalho de literatura, por exemplo.

Use o presente para dar à discussão urgência e um tom mais íntimo.

Se for seguir as regras da ABNT, use a perspectiva em primeira pessoa para discutir suas etapas de pesquisa em um artigo. Por exemplo, você pode escrever:
“Eu estudei a amostra A” ou “Eu entrevistei o sujeito B”. 

No geral, o recomendável é evitar a primeira pessoa em um artigo e usá-lo apenas de vez em quando.
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continua…

Fonte: