sábado, 20 de junho de 2009

Trova XXV

Obras de Shakespeare no Cinema



Seus textos literários são verdadeiras obras de arte e permaneceram vivas até hoje, onde são retratadas freqüentemente pelo teatro, televisão, literatura e cinema. As principais obras do bardo inglês foram transpostas para o cinema - segundo o "Guinness Book" é o autor com maior número de adaptações para a tela (para o cinema e tv são 736 adaptações) -, principalmente "Hamlet" e "Romeu e Julieta".

Até o cinema brasileiro já se inspirou nele, justamente com a tragédia "Romeu e Julieta", que serviu de paródia na chanchada "Um Candango na Belacap", de Roberto Farias, 1961; na comédia "O Casamento de Romeu e Julieta", de Bruno Barreto, 2005, com Luana Piovani e Marco Ricca; e no drama "A Herança", 1970, de Ozualdo Candeias.

Baseados na tragédia "Romeu e Julieta":
"Amor Sublime Amor", de Robert Wise, 1961, com Richard Beymer e Natalie Wood;
"Romeu e Julieta", de George Cukor, 1936, com Norma Shearer e Leslie Howard;
"Romeu e Julieta", de Renato Castellani, 1954 com Laurence Harvey;
"Romanoff e Julieta", de Peter Ustinov, 1961, com Sandra Dee e John Gavin;
"Romeu e Julieta", de Franco Zeffirelli, 1968, com Olivia Hussey e Leonard Whiting;
"Romeo + Juliet", de Baz Luhrmann, 1996, com Leonardo di Caprio e Claire Danes.

Baseados na tragédia "Hamlet":
"Hamlet", de Laurence Olivier, 1948, com Laurence Olivier;
"Homem Mau Dorme Bem", de Akira Kurosawa, 1960;
"Hamlet", de Grigori Kozintsev, 1964, com Innokenti Smoktunovski;
"Hamlet", de Bill Colleran e John Gielgud, 1964, com Richard Burton;
"Hamlet", de Tony Richardson, 1969;
"Hamlet", de Franco Zeffirelli, 1990, com Mel Gibson e Glenn Close;
"Rosencrantz e Guilderstern Estão Mortos", de Tom Stoppard, 1990, com Gary Oldman e Richard Dreyfuss;
"Hamlet", de Kenneth Branagh, 1996, com Kenneth Branagh e Kate Winslet;
"Hamlet", de Michael Almereyda, 2000, com Ethan Hawke e Julia Stiles;
"O Banquete", de Feng Xiaogang, 2006.

Baseados na comédia "A Megera Domada":
"A Megera Domada", de 1929, com Mary Pickford e Douglas Fairbanks;
"A Megera Domada", de Franco Zeffirelli, 1967, com Elizabeth Taylor e Richard Burton;
"Dá-me um Beijo", de George Sidney, 1953, com Howard Keel e Kathryn Grayson;
"Dez Coisas Que Eu Odeio em Você", de Gil Junger, 1999, com Julia Stiles;
"A Megera Domada", de David Richards, 2005.

Baseado na comédia "A Tempestade":
"Céu Amarelo", de William A. Wellman, 195 com Gregory Peck;
"Planeta Proibido", de Fred M. Wilcox, de 1956, com Walter Pidgeon e Anne Francis;
"A Tempestade", de Derek Jarman, 1979,
"A Tempestade", de Paul Mazursky, 1982, com Gena Rowlands e John Cassavetes;
"A Última Tempestade", de Peter Greenaway, 1991, com John Gielgud.

Baseados na tragédia "Otelo, o Mouro de Veneza":
"Othello", 1952, de Orson Welles, 1952, com Orson Welles;
"Otelo", de Sergei Yutkevich, 1955, com Sergei Bondarchuk;
"Othello", de Oliver Parker, 1995, com Laurence Fishburne;
"Jogo de Intrigas", de Tim Blake Nelson, 2001, com Josh Artnett e Julia Stiles.

Baseados na comédia "Sonho de uma Noite de Verão":
"Sonho de uma Noite de Verão", de William Dieterle e Max Reinhardt, 1935, com James Cagney e Olivia de Havilland;
"Sonho de uma Noite de Verão", de Woody Allen, 1982, com Woody Allen e Mia Farrow;
"Sonho de uma Noite de Verão", de Michael Hoffman, 1999, com Kevin Kline e Michelle Pfeiffer.

Baseados na tragédia "Macbeth":
"Macbeth", de Orson Welles, 1948, com Orson Welles;
"Trono Manchado de Sangue", de Akira Kurosawa, 1957;
"Macbeth", de Roman Polanski, 1971, com Jon Finch
"Homens de Respeito", de William Reilly, 1991, com John Turturro.

Baseado na tragédia "Rei Lear":
"Rei Lear", de Petrer Brook, 1971, com Paul Scoffield;
"Rei Lear", de Grigori Kozintsev, 1971;
"Ran", de Akira Kurosawa, 1958;
"Terras Perdidas", de Jocelyn Moorhouse, 1997, com Michelle Pfeiffer, Jessica Lange e Colin Firth.

Baseados na tragédia "Júlio César":
"Júlio César", de David Bradley, 1950, com Charlton Heston;
"Júlio César", de Joseph L. Mankiewicz, 1953, com Marlon Brando;
"Júlio César", de Stuart Burge, 1970, com John Gielgud.

Baseados na comédia "O Mercador de Veneza":
"O Mercador de Veneza", de John Sichel, 1973, com Laurence Olivier;
"O Mercador de Veneza", de Michael Radford, 2004, com Jeremy Irons e Al Pacino.

Baseados na comédia "Como Gostais":
"Como Gostais", 1936, de Paul Czinner, 1936, com Laurence Olivier;
"Como Quiser", de Kenneth Branagh, 2006, com Kevin Kline.

Baseado na comédia "Muito Barulho Por Nada":
"Muito Barulho Por Nada", de Kenneth Branagh, 1993, com Emma Thompson e Keanu Reeves.

Baseado na tragédia "Antônio e Cleópatra":
"À Sombra das Pirâmides", de Charlton Heston, 1972, com Charlton Heston.

Baseado na comédia "Noite de Reis":
"Ela É o Cara", de Andy Fickman, 2006, com Amanda Bynes.

Shakespeare ainda foi personagem em "Shakespeare Apaixonado", de John Madden, 1982, interpretado por Joseph Fiennes.

Fonte:
Blog Demais

Antonio Brás Constante (Poesias)

Pintura de Iman Maleki (O Estudante)
O QUE É SER POETA...

É descrever o ritmo na batida do coração,
Utilizar asas imaginárias para poder sair do chão,
Soprar brisas no deserto,
Desenhar nuvens no ar,

Trilhar caminhos incertos,
Criar um brilho no olhar,
Pintar arco-íris com rimas,
Brincar com letras no papel,
É mesmo acordado poder voar pelo céu,

É bordar as estrelas no firmamento,
Salgando lágrimas,
Adoçando beijos,
Transformando o cinza em alegria,
Ser poeta é misturar sabores,
É temperar frases com um gostinho de poesia.
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CARTAS MOLHADAS, SEGREDOS PERDIDOS.

Quantas cartas espalhadas sobre uma cama molhada.
Do forro gotejam goteiras. Furtivas lágrimas da intensa tempestade.

Escritas borradas embaralham palavras envelopadas.
Confidencias gravadas que mancham colchas ensopadas,
desenhando marcas em tecidos de tergal.

A gota, a cama, a água imóvel no ventre do móvel.
A letra, o papel, a cumplicidade em forma de cartas,
abandonadas em um quarto de motel.

Finda a chuva, seca a cama, sobram as cartas ali deitadas.
Sumiram seus símbolos.
Perderam-se seus segredos.
Cessaram suas palavras.
Pedaços de papel inútil, vítimas de uma chuvarada.
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Antonio Brás Constante (Contos da Delegacia Brasil)



- Alô? Aqui é da Delegacia Brasil, policial Farrapos falando.

- Socorro! Ladrões estão tentando arrombar a minha casa.

- Nossa que horror. Acabei de atender outro cidadão que tinha o mesmo problema da senhora. Que mundo violento...

- Olha, preciso de uma viatura aqui e agora!

- Infelizmente não posso lhe ajudar. É que a única viatura que temos está estragada. E mesmo que funcionasse, faz tempo que o tanque dela está vazio. Mas o pior é que como não temos garagem aqui, a viatura tem que ficar na rua. A senhora acredita que outro dia roubaram as rodas dela? Hoje em dia não respeitam nem a policia...

- O senhor tem que me ajudar! Mande os policiais de táxi então. Eu pago.

- Mandaria, se houvesse outros policiais, mas com os cortes públicos na área de segurança, eu sou o único policial de plantão aqui hoje aqui. E se abandonar meu posto, quem vai atender as ocorrências?

- Mas, o que eu faço então?

- A senhora já tentou acender a luz e fazer barulho? Muitos meliantes fogem quando percebem que tem pessoas em casa. Ou tente negociar com eles, quem sabe se a senhora der alguma colaboração, eles não desistem do assalto?

- O senhor é um louco?! Vou negociar com eles sim. E dizer para irem até aí, assaltar o senhor e levarem a sua arma, Que pelo visto não serve para nada mesmo.

- A única arma que eu tinha, doei para a campanha do desarmamento, pois estava enferrujada e sem munição. Com esta atitude espero estar fazendo a minha parte para um mundo menos violento. Se lhe serve de consolo, alguns meliantes já vieram aqui e levaram tudo que tinha na delegacia. Só sobrou um banquinho que trouxe de casa, e este telefone velho, que de tão velho foi deixado para trás.

- Ao menos então anote a ocorrência, para que eu possa acionar o seguro depois.

- Como lhe disse antes, aqui não tem nada além do banquinho e do telefone. Não tenho caneta, minha senhora. E o único papel que eu tinha, tive que utilizar em uma emergência estomacal, lá no banheiro.

- Meu Deus! Eles entraram! Alô? Alô? Policial?

- [Esta é uma gravação, o telefone para o qual ligou, acaba de ser cortado por falta de pagamento. ‘CLICK’]

Fonte:
Recanto das Letras

Antonio Brás Constante (Hoje é seu Aniversário! "Prepare-se")


Livro de Crônicas, que pretende ser um genérico ao do escritor Luis Fernando Veríssimo (também é fã do Veríssimo), ou seja, autor diferente, mas com o mesmo princípio ativo: O HUMOR. Os textos são temperados com generosas pitadas humorísticas, para jovens dos oito aos oitenta anos e também de outras faixas etárias. Textos leves e similares a uma ave-maria (pois eles também são cheios de graça), que poderão ser saboreados até a última letra.

Caso queira conhecer um pouco mais sobre seu trabalho como escritor basta acessar o site: http://recantodasletras.uol.com.br/autores/abrasc

Os exemplares do livro poderão ser adquiridos no site da editora AGE: http://www.editoraage.com.br/ .
Ele estará presente na 25a. Feira de Livros de Canoas.
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Sobre o autor:
Antonio Brás Constante é natural de Porto Alegre. Residente em Canoas RS. Bacharel em computação, bancário e cronista de coração, escreve com naturalidade, descontraída e espontaneamente, sobre suas idéias, seus pontos- de- vista, sobre o panorama que se descortina diferente a cada instante, a nossa frente: a vida. Membro da ACE (Associação Canoense de Escritores).

Fonte:
O autor.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Trova XXIV

5a. Semana do Escritor de Sorocaba

25a. Feira de Livros de Canoas

A programação voce encontra em http://sites.google.com/site/pavilhaoliterario/25a-feira-do-livro-de-canoas
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Fonte:
Neida Rocha

Edgard Steffen (Pelos caminhos da Índia)



Entendemos mal os costumes deles, mas os intercambistas indianos também terão dificuldade para entender porque, no Brasil, 'a novela das oito' começa às nove...

Em abril/maio, num IGE (Intercâmbio de Grupo de Estudos) patrocinado pela Fundação Rotária, os Rotary Clubes do Distrito 4.620 hospedaram indianos. Durante 30 dias, profissionais liberais e homens de negócio, liderados por um rotariano, percorreram municípios da região, ao mesmo tempo em que grupo de brasileiros viajou pelo distrito emparceirado na Índia. Os intercambistas visitaram famílias, clubes, cidades, empresas, autoridades enquanto se familiarizavam com meio ambiente e costumes diversos dos seus. Nas reuniões rotárias, apresentam clipes ou vídeos com informações geopolíticas e culturais do país de origem. Como o que acontece na TV estimula a curiosidade, durante a estadia, o grupo deverá ser crivado de perguntas sobre a Índia. Tive oportunidade de conversar rapidamente com o arquiteto Paul K. Jacob, na primeira visita de sua programação. Como não poderia deixar de fazer, perguntei-lhe se havia visto 'O Caminho das Índias' e o que achara. O líder do grupo parece não ter gostado do que assistiu. Antes de voltar-se à instalação e ajustes do vídeo-show, falou: -Non sense. It's only soap opera!

O linguajar novelesco anda criando neologismos que deverão desaparecer logo após o último capítulo. Palavras como 'are baba' (poxa! Oh, Deus!), 'arebaguandi' (ah, meu Deus!), 'firanghi' (estrangeiro), 'tik' (sim), 'baldi' (pai), 'mamadi' (mãe) pululam nas conversas dos que se amarram na novela das oito. Entendemos mal os costumes deles, mas os intercambistas indianos também terão dificuldade para entender porque, no Brasil, 'a novela das oito' começa às nove...

Gosto de minisséries, mas não costumo acompanhar novelões. Coincidências - filme indiano vencedor do Oscar, recente leitura da biografia de Gandhi, artigos que publiquei neste espaço e, agora, o IGE dos indianos - acabaram por me prender à telinha, especificamente para acompanhar exotismo dos cenários e comportamento excêntrico dos personagens hindus. Não vou negar, estou me divertindo! Pena que, para tanto, precise acompanhar aquelas improváveis estórias que ocorrem no Rio.

No cenário carioca, doentes e doenças me despertam a atenção: psiquiatra com TOC (transtorno obsessivo compulsivo), personalidade psicopática (Letícia Saba... pra lá de bela!), dois esquizofrênicos (um deles, corretíssimo na interpretação dos surtos).

Como pediatra, não devo ignorar a estenose hipertrófica do piloro do filho da Duda. A referida estenose, mais encontrada no sexo masculino, é malformação comum e se manifesta por vômitos persistentes desde os primeiros dias de vida. A partir da segunda semana, o estreitamento do piloro (ponto de comunicação entre estômago e duodeno) impede a passagem do leite ingerido. O nenê vomitador acaba gravemente desidratado e desnutrido. O reconhecimento da doença, realizado pelo personagem-cirurgião, apenas pela ausculta do bebê, é licença poética de novela. O diagnóstico clínico seria possível na criança emagrecida, se a palpação mostrasse o 'sinal da oliva' (espessamento do duodeno com tamanho e consistência de pequena azeitona). Para confirmar a suspeita ele precisaria usar radiografia contrastada do estômago-duodeno; o estreitamento do piloro apareceria como imagem que lembra o 'seio materno com bico'. Pelo tempo virtual da trama, acredito que o personagem-nenê tenha 3 meses de idade. Na vida real, dificilmente uma criança resistiria tanto tempo a essa obstrução alta do sistema digestório; desidratação, desnutrição e suas conseqüências teriam levado o portador a incrementar as estatísticas de mortalidade infantil.

Cirurgia para corrigir o defeito é muito simples: pequeno corte no anel musculoso que envolve o piloro traz resultados excelentes e rápida recuperação do pacientezinho. Agora, diante das baixas remunerações e riscos de processos na Justiça, impossível mesmo é encontrar profissional que se arrisque a operar um bebê contra a vontade da mãe.

Diante das dificuldades que a classe médica vem enfrentando, no Brasil, só mesmo exclamando Are baba! Are baguandi!...

Fontes:
Publicado na edição de 30/05/2009 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno A.
Douglas Lara

5ª Semana do Escritor de Sorocaba e Região com Inscrições Abertas

A 5ª Semana do Escritor de Sorocaba e Região será realizada de 21 a 25 de julho na Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba – Fundec e contará com várias atrações literárias.

Muito já se falou sobre a importância da Semana do Escritor, criada e organizada por Douglas Lara, já em sua quinta edição, por ser um evento que congrega escritores, jornalistas, artistas, editores, e público em geral, em torno de várias ações culturais como saraus de poesia, lançamentos de livros, performances, apresentações musicais etc.

A Semana do Escritor é uma grande oportunidade de encontro entre profissionais afins porque além de ser uma grande festa literária, propicia um clima para conversas inteligentes, criação de projetos, possibilidades de trabalho e parcerias, troca de informações sobre o mercado editorial, enfim, estabelece-se uma verdadeira rede de relacionamentos profissionais pautada em qualidade, experiência, seriedade e abertura para novos contatos. Um verdadeiro “networking”.

"Neste ano, continuamos com o objetivo de reunir um grande número de escritores e visitantes, todos circulando pelo evento, conversando com os autores e adquirindo exemplares a custos baixos em exposição.

A ‘Semana do Escritor’ continua sendo uma excelente oportunidade para autores realizarem seus novos lançamentos e divulgarem suas obras, constituindo-se também numa ótima oportunidade para dar visibilidade aos escritores de Sorocaba e Região", comenta Sonia Orsiolli, administradora do evento.

Como nos anos anteriores, a semana literária reunirá dezenas de autores independentes e seus editores, com sessões de autógrafos, lançamentos e palestras.

O Roda Mundo, coletânea de prosa e poesia, também organizada por Douglas Lara, publicada pela Ottoni Editora, é um grande veículo para realizar o desejo de publicar trabalhos e participar da Semana do Escritor. Esta obra contempla escritores nacionais e internacionais e conta com todo apoio da mídia e favorece mais visibilidade junto aos pares e leitores.

A cada nova edição do Roda Mundo amplia-se o universo de novos escritores e a sedimentação dos que já participaram. Com bom acabamento gráfico, capa criativa, apresentação feita por um grande nome do meio acadêmico, essa obra ocupa um lugar de destaque na produção editorial contemporânea.

Muitos rodam o ‘Mundo’ em busca de oportunidades, em busca de realizações, em busca de um amor e ainda tem aqueles que rodam para conhecer o ‘Mundo’.

Na verdade, as pessoas viajam para conhecer lugares diferentes, andando, voando, navegando de lá para cá, é possível ter a noção de como é grande esse ‘Mundo’.

Algumas preferem se aventurar de outras formas, observando e analisando, lendo e escrevendo, teclando e viajando ciberneticamente, estudando e ensinando, etc. Todos têm a necessidade de viajar e adquirir conhecimento independentemente da fórmula inicial. O livro Roda Mundo em sua 6ª Edição, como em anos anteriores, continua reunindo pessoas de todos os cantos. A Antologia é rica pela sua diversidade de conteúdo, há diferentes culturas, gêneros, ideias, visões de mundo entre outras riquezas que se podem ter ao reunir pessoas de várias localidades. Através desta obra é possível ‘Rodar o Mundo’ sem ao menos sair do lugar.

Na obra contém crônicas, contos, poemas, ensaios e textos em diversas línguas, todas com o mesmo ideal: expressar o seu conhecimento e sentimento.

O livro é publicado em sistema de cooperativa, com escritores experientes ou não, participam da obra pessoas de diferentes áreas e também as que querem publicar os seus primeiros textos em um livro.

Idealizado pelo escritor Douglas Lara e editado por Mylton Ottoni, o Roda Mundo teve a sua primeira publicação em 2004, reuniu 43 autores de 12 países. Nesse caminho de sucesso, o Roda Mundo 2006 atingiu o recorde com 50 participações.

No ano passado o lançamento do Roda Mundo 2008 foi uma grande festa e pelo reconhecimento e valor da idealização, Lara recebeu o colar de membro da ONE - Ordem Nacional dos Escritores.

Neste ano, o Roda Mundo continua trilhando o seu caminho e será lançamento durante a 5ª Semana do Escritor de Sorocaba e Região

A antologia Rodamundinho 2008, lançada durante a 4ª Semana do Escritor de Sorocaba, é uma coletânea infanto-juvenil que reúne 25 autores de até 15 anos de idade. É uma seleção de textos com poesias, contos e crônicas, sobre amor, natureza, escola, família, viagens, entre outros.

O projeto recebeu inscrições no início do mês de maio de 2008, foram selecionados 25 autores de Sorocaba e Região para participarem gratuitamente dessa antologia. Cada jovem participou com quatro páginas do livro que contém 114 páginas. Todo o projeto tem o objetivo de estimular a leitura e a escrita aos jovens. No dia do lançamento os participantes receberam, gratuitamente, quatro exemplares do Rodamundinho 2008 e um do Roda Mundo 2008.

O projeto foi idealizado pelo escritor sorocabano, Douglas Lara e pelo ex-presidente da Fundec Alexandre Latuf, com o patrocínio do editor Mylton Ottoni. A organização da jornalista Cintian Moraes, apoio do suplemento infanto-juvenil Cruzeirinho do Jornal Cruzeiro do Sul, do Gabinete de Leitura Sorocabano e da Fundec.

Autores interessados em divulgar suas obras na Semana do Escritor devem entrar em contato pelo telefone (15) 3228.6209 ou pelo e-mail hagentecomunicacao@gmail.com .

A Semana do Escritor de Sorocaba e Região será realizada de terça-feira a sábado, das 14h às 22h com entrada gratuita.

Fundec tem sua sede no antigo Teatro São Rafael, construído em 1844, em pleno coração da cidade, já serviu de abrigo à Prefeitura Municipal de 1935 a 1980 e à Câmara Municipal de 1982 a 1999. Restaurado e modernizado, o prédio conta com auditório e espaço para as mais variadas mostras artísticas.

A Fundec fica na Rua Brigadeiro Tobias, 73.
A R. Brigadeiro Tobias liga a R. Cel. José Prestes com a R. Monsenhor João Soares.Faz cruzamento com as ruas Santa Cruz, Cel. Cavalheiros e XV de Novembro.Tem como travessas as ruas Cel. José de Barros, Dr. Afonso Pena, Ubaldino do Amaral e Dom Pedro II.

Fontes:
Douglas Lara
Sonia Orsiolli = Hágente de Comunicação

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Trova XXIII

Victor Giudice (O Arquivo)



Já no seu livro de estréia, O Necrológio (1971), o carioca Victor Giudice nos revelava esta pequena obra-prima que é O Arquivo, na qual o imaginário do autor consegue fundir tão bem o fantástico com o humor, como um bom discípulo de Kafka, Dino Buzzati ou Cortázar. Giudice escreveu outros livros de contos, além do romance Bolero. Foi crítico de música clássica do Jornal do Brasil. Morreu antes de consolidar sua obra.
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No fim de um ano de trabalho, João obteve uma redução de quinze por cento em seus vencimentos.

João era moço. Aquele era seu primeiro emprego. Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se. Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.

No dia seguinte, mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o salário reduzido, podia pagar um aluguel menor.

Passou a tomar duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.

Dois anos mais tarde, veio outra recompensa.

O chefe chamou-o e lhe comunicou o segundo corte salarial.

Desta vez, a empresa atravessava um período excelente. A redução foi um pouco maior: dezessete por cento.

Novos sorrisos, novos agradecimentos, nova mudança.

Agora, João acordava às cinco da manhã. Esperava três conduções. Em compensação, comia menos. Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos rosada. O contentamento aumentou.

Prosseguiu a luta.

Porém, nos quatro anos seguintes, nada de extraordinário aconteceu.

João preocupava-se. Perdia o sono, envenenado em intrigas de colegas invejosos. Odiava-os. Torturava-se com a incompreensão do chefe. Mas não desistia. Passou a trabalhar mais duas horas diárias.

Uma tarde, quase ao fim do expediente, foi chamado ao escritório principal. Respirou descompassado.

- Seu João. Nossa firma tem uma grande dívida com o senhor.

João baixou a cabeça em sinal de modéstia.

- Sabemos de todos os seus esforços. É nosso desejo dar-lhe uma prova substancial de nosso reconhecimento.

O coração parava.

- Além de uma redução de dezesseis por cento em seu ordenado, resolvemos, na reunião de ontem, rebaixá-lo de posto.

A revelação deslumbrou-o. Todos sorriam.

- De hoje em diante, o senhor passará a auxiliar de contabilidade, com menos cinco dias de férias. Contente?

Radiante, João gaguejou alguma coisa ininteligível, cumprimentou a diretoria, voltou ao trabalho.

Nesta noite, João não pensou em nada. Dormiu pacífico, no silêncio do subúrbio.

Mais uma vez, mudou-se. Finalmente, deixara de jantar. O almoço reduzira-se a um sanduíche. Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil. Não havia necessidade de muita roupa. Eliminara certas despesas inúteis, lavadeira, pensão.

Chegava em casa às onze da noite, levantava-se às três da madrugada. Esfarelava-se num trem e dois ônibus para garantir meia hora de antecedência.

A vida foi passando, com novos prêmios.

Aos sessenta anos, o ordenado equivalia a dois por cento do inicial. O organismo acomodara-se à fome. Uma vez ou outra, saboreava alguma raiz das estradas. Dormia apenas quinze minutos. Não tinha mais problemas de moradia ou vestimenta. Vivia nos campos, entre árvores refrescantes, cobria-se com os farrapos de um lençol adquirido há muito tempo.

O corpo era um monte de rugas sorridentes.

Todos os dias, um caminhão anônimo transportava-o ao trabalho.

Quando completou quarenta anos de serviço, foi convocado pela chefia:

- Seu João. O senhor acaba de ter seu salário eliminado. Não haverá mais férias. E sua função, a partir de amanhã, será a de limpador de nossos sanitários.

O crânio seco comprimiu-se. Do olho amarelado, escorreu um líquido tênue. A boca tremeu, mas nada disse. Sentia-se cansado. Enfim, atingira todos os objetivos. Tentou sorrir:

- Agradeço tudo que fizeram em meu benefício. Mas desejo requerer minha aposentadoria.

O chefe não compreendeu:

- Mas seu João, logo agora que o senhor está desassalariado? Por quê? Dentro de alguns meses terá de pagar a taxa inicial para permanecer em nosso quadro. Desprezar tudo isto? Quarenta anos de convívio? O senhor ainda está forte. Que acha?

A emoção impediu qualquer resposta.

João afastou-se. O lábio murcho se estendeu. A pele enrijeceu, ficou lisa. A estatura regrediu. A cabeça se fundiu ao corpo. As formas desumanizaram-se, planas, compactas. Nos lados, havia duas arestas. Tornou-se cinzento.

João transformou-se num arquivo de metal.

Fonte:
COSTA, Flávio Moreira da (organizador). Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal. 5.ed. RJ: Ediouro, 2001.

Victor Giudice (1934 – 1997)



Victor Marino del Giudice nasceu em Niterói, no dia 14 de fevereiro de 1934. Seus pais eram artesãos: Marino Francisco del Giudice, de origem italiana, fabricava chapéus enquanto ainda se usavam chapéus; Dona Mariannalia del Giudice, católica, era exímia bordadeira, com suas mãos "barrocas" de "fada branquíssima", como o filho a descreveria (ou fantasiaria) no conto Minha mãe. A maneira como se referia aos pais pela ausência, presente também no conto A única vez, este sobre o pai, só faz enfatizar a importância da tia Elza, professora de piano com quem o pequeno Victor convivia mais intensamente e a quem chamava de "mãe".

Quando Victor tinha cinco anos, a família mudou-se para o bairro de São Cristóvão, no Rio, que se tornaria seu "país" ficcional e referência de origem para sempre. "Quando se nasce e se cresce em São Cristóvão, logo se aprende que em São Cristóvão todas as coisas são de São Cristóvão", diria o personagem semi-autobiográfico do seu conto A glória no São Cristóvão. Victor foi um menino popular, que magnetizava os colegas de rua com suas histórias. Começou, portanto, a se desenvolver na infância uma das facetas mais sedutoras de sua personalidade carismática. Com as astúcias de um legítimo entertainer, que mistura lembrança e invenção de maneira indistinguível, ele enredou pela vida afora todos os que cruzaram seu caminho.

Aos cinco anos de idade, ele já aprendia a amar a grande música. O pai o levava ao Teatro Municipal do Rio para ver em ação o célebre maestro Arturo Toscanini. Com a tia Elza iniciou os estudos de piano e canto, que mais tarde aprofundaria com professores renomados. Aos nove anos, frequentava recitais de piano e óperas. Aos 11, leu alguns volumes da censurada Coleção Verde, de romances eróticos, e uma descoberta revolucionou o seu futuro: escrever era um prazer. Foi quando Victor produziu o primeiro dos seus contos, Os três suspiros de Helena.

O gosto pelas letras nunca mais o abandonou. Seguiram-se leituras de Rider Haggard, Conan Doyle, Poe, Camões, Sartre, Machado de Assis. Balzac - cuja obra foi devorada nas incursões de adolescente às estantes da biblioteca do vizinho e futuro sogro, Dr. Azevedo Lima, patriarca de uma família numerosa - tornou-se uma paixão eterna. Aliás, começou ali o namoro com Leda, a filha caçula e hoje professora de literatura, com quem se casaria e teria os filhos Maurício, matemático, e Renata, jornalista. Victor formou-se em Letras pela UERJ em 1975, depois de cursar parcialmente Ciências Estatísticas nos anos 1950 e Direito nos anos 1960. Sua segunda mulher, Eneida Santos, foi uma colaboradora devotada e a primeira leitora de todos os seus rascunhos a partir de 1984.

O Édipo Rei, de Sófocles, lido aos 12 anos, revelou-lhe o fascínio das histórias de mistério. Com os seriados do Cinema Fluminense, compreendeu o valor do suspense e da imprevisibilidade, atributos que iriam impregnar toda a sua obra literária. Os perigos de Nyoka, O Fantasma, Flash Gordon, Capitão Marvel, Império submarino - as chamadas "fitas em série" - figuram entre os primeiros objetos de cinefilia de Victor. Filmes dos franceses Henri-Georges Clouzot e André Cayatte também alinham-se entre suas influências inaugurais.

Por volta dos 13 anos, as visitas freqüentes aos estúdios da Cinédia lhe renderam uma ponta no filme Pinguinho de gente, de Gilda de Abreu. Bem mais tarde, tornou-se aluno da famosa atriz Dulcina, com quem aprendeu os mistérios da interpretação. No entanto, Victor sempre foi um ator nato, além de imitador impagável. Suas performances-relâmpago ou a compenetrada declamação dos poemas do português Antonio Nobre eram um deleite para quem tinha a sorte de estar por perto.

A cinefilia infantil se perpetuaria na vida adulta, com um afeto especial pelo cinema clássico europeu: Visconti, Fellini, os primeiros filmes de Monicelli, os de Totò, Carné, Clouzot, as comédias inglesas dos anos 40 e 50 e a nobreza de Laurence Olivier à frente de adaptações shakespearianas como Ricardo III. Já o cinema americano era capaz de lhe despertar sentimentos conflitantes. Ao mesmo tempo em que admirava a eficiência e verossimilhança de suas narrativas, abominava seus chavões e a superficialidade na abordagem dos temas. Os filmes de Orson Welles e grandes musicais como O mágico de Oz, Cantando na chuva e Um americano em Paris estavam acima de qualquer restrição. Quanto ao cinema nacional, irritava-se com freqüência diante dos sinais de amadorismo que o infestavam até o final da década de 70.

Apesar de não ter concretizado nenhum projeto nessa área - o final dos 60 e começo dos 70 registram uma obscura experiência de curta-metragem e alguns audiovisuais didáticos - , Victor gostava de rascunhar eletrizantes prólogos de filmes imaginários, capazes de deixar eventuais leitores com água na boca.

O desenho e a fotografia também o atraíram desde muito cedo. A começar pelos ladrilhos da casa, que ele, subversivamente, estimulava os companheiros de infância a decorar com seus próprios traços. Comprava filmes baratos em bobinas e punha-se a fotografar a Quinta da Boa Vista, o Campo de São Cristóvão e principalmente os amigos, naquilo que foi o início de um duradouro culto aos portraits. O amor pela fotografia seria uma constante na vida de Victor. Ele teve fotos publicadas na revista O Cruzeiro (1969) e no semanário Crítica (1974). Durante vários anos, um dos cômodos de sua casa funcionou como laboratório de revelação fotográfica.

Aos 16 anos, Victor perdeu o pai. A família morava então em Macaé (RJ), mas logo voltaria a São Cristóvão. Empregou-se aos 21 anos como artefinalista numa pequena agência de publicidade. Pintou anúncios em cortinas de teatro e, já nos anos 60, formado em Estatística, trabalhou como desenhista de gráficos para órgãos públicos. Mais tarde, ao consagrar-se como escritor, não se furtou ao prazer de criar as capas de seus livros Necrológio, Salvador janta no Lamas e O museu Darbot e outros mistérios, além de uma revista de comércio exterior editada pelo Banco do Brasil. Durante toda a vida, Victor cultivaria na intimidade os retratos e caricaturas de pessoas conhecidas, feitos em bico de pena, o esboço gráfico de personagens, e teve mesmo uma fase de pinturas em aquarela.

Funcionário do Banco do Brasil por mais de 20 anos, Victor se comprazia em transformar os jargões e absurdos reais da burocracia em ficção de sabor kafkiano. O Arquivo, seu terceiro conto, tornou-se um clássico no Brasil e foi publicado em oito países, mostrando um homem que "progride" na empresa à medida que seu salário vai sendo reduzido e ele próprio vai se convertendo num objeto. No ambiente austero do Banco do Brasil, Victor fazia o terror da hierarquia e as delícias dos colegas, com sua irresistível tendência a satirizar o cotidiano, jogar pelos ares as formalidades e se lixar para os imperativos de um mito da época: uma boa carreira no BB. Os formulários burocráticos lhe serviam para fazer intervenções poéticas e a rotina do trabalho lhe inspirava situações de comédia.

O homem e o escritor se confundiam na relação visceral mantida com a cidade do Rio de Janeiro. O tradicional restaurante Lamas, onde se passa a ação do conto Salvador janta no Lamas, era apenas um dos muitos templos gastronômicos cariocas que Victor freqüentava com regularidade e fervor quase religiosos. Ele podia se deliciar tanto com queijos finos e doces sofisticados, quanto com os salgadinhos mal encarados de uma lanchonete de esquina. Domesticamente, sua faceta de chef materializava-se em papas portuguesas, estrogonofes, haddocks ao leite, uma receita própria de "Peixe à Salvador", bolos de chocolate, quindões e manjares marmorizados.

Em Victor Giudice conviviam um intelectual de gosto refinado e um homem simples e popular. Ele mantinha longas relações amistosas não só com artistas e escritores, mas também com guardadores de carro, lanterneiros, porteiros de prédios etc. Na sua teia de laços e afetos, crianças e adultos tampouco recebiam tratamento diferenciado.

Este homem em permanente trânsito social manifestava-se também na relação com a geografia da cidade. Seu coração estava, sem dúvida, na Zona Norte, mas os túneis eram caminho diário rumo a livrarias, lojas de discos e vídeos, restaurantes, casas de amigos etc. Comutar entre as diversas zonas geográficas, culturais e econômicas da cidade era parte do estilo de vida de Victor Giudice, um homem cujo espírito desconhecia fronteiras de qualquer natureza.

A faceta místico-esotérica foi outro traço marcante da personalidade de Victor. Ele aprendeu leitura de mãos na juventude e dizia-se um apaixonado pelo ocultismo. Nos anos 80, estudaria profundamente o tarô e colecionaria dezenas de baralhos, de várias modalidades e procedências. Chegou a "botar" cartas informalmente, e criou o protótipo de uma certa Mandala Divinatória, jogo de números e peças geométricas que conformaria toda a vida do consulente. Existem fortes razões para se suspeitar de que o esoterismo um tanto jocoso era, no fundo, mais uma ferramenta de elaboração ficcional de que Victor lançava mão nas incansáveis peripécias de sua imaginação.

Depois de aposentar-se em 1986, Victor retomaria a carreira de professor de teoria e criação literária, interrompida na década anterior. Os anos 90 estiveram entre os mais produtivos de sua carreira: além de dar aulas, lançou dois livros, escreveu grande parte de outros dois - o romance Do catálogo de flores e um volume de teoria da significação intitulado O que significa isto? -, inspirou admiração e respeito como crítico de música erudita do Jornal do Brasil, ministrou cursos livres sobre ópera e música sinfônica, oficinas literárias e conferências em diversas partes do país, e ainda prestava consultoria à programação de óperas em vídeo do Centro Cultural Banco do Brasil.

Em agosto de 1996, já acometido pelos primeiros sintomas do que seria mais tarde diagnosticado como um tipo raro de tumor cerebral, ele realizou o sonho de comparecer ao Festival de Bayreuth, na Alemanha, para cultuar in loco o ídolo Richard Wagner. Victor, cuja vida fora um incessante diálogo com a cultura internacional, tinha medo de avião. Por isso fez poucas viagens ao exterior: esteve em Buenos Aires, Bogotá, fez três passagens rápidas por Nova York e empreendeu esta derradeira fuga a Bayreuth, com breve escala em Paris, primeiro e último vislumbre de uma Europa mitificada.

Um mês depois, Victor iniciaria seu longo e lento duelo com a morte. Ela sairia vencedora na madrugada de 22 de novembro de 1997. Mas não na clínica da Zona Sul, onde ele havia passado os últimos meses, e sim na Tijuca, bairro onde moravam seus dois filhos, ali bem perto de São Cristóvão. Ou seja, dentro do perímetro mágico da sua lavoura criativa.

Carreira Literária

A personalidade de Victor Giudice pode ser rastreada através dos vestígios autobiográficos deixados em sua obra literária. Ele foi a própria materialização, declarada ou subentendida, de personagens como o ser mutante do conto O homem geográfico, a filha mesmerizada pelos mistérios familiares de Minha mãe, o solitário apaixonado por Haydn em A criação: efemérides, o avô que declamava trancado na sala de banho em Os banheiros ou o narrador do inacabado Do catálogo de flores.

Sua primeira oportunidade de publicação surgiu em 1969, quando o escritor José Louzeiro, que à época editava o Jornal do escritor, publicou O banquete, também o primeiro de seus minicontos, formato que ele iria sofisticar progressivamente nos anos vindouros. Por pouco Louzeiro não teria salvo outras centenas de páginas datilografadas, que Giudice havia deitado fora alguns dias antes, por julgá-las imprestáveis.

O segundo conto publicado, In perpetuum, é protagonizado por um funcionário de banco que passa 30 anos procurando uma diferença de 10 centavos. Nascia ali uma das principais vertentes da criação literária de Giudice, alimentada por suas experiências como funcionário do Banco do Brasil por mais de 20 anos (ver A Vida). Esta é a matéria-prima também de O Arquivo, um dos contos brasileiros mais conhecidos internacionalmente, editado em oito países.

O Arquivo abre o primeiro volume de contos de Victor Giudice, Necrológio (1972), começando já na capa do livro. Victor não queria perder tempo nesse fulminante início de carreira como escritor. O livro ganhou uma recepção entusiástica por parte da crítica. Experimental e ousado, submetia o texto a uma feroz segmentação, usava o espaço da página com invenções concretistas e propunha um texto polifônico, onde se podia "ouvir" uma instigante simultaneidade de "vozes". O conto Carta a Estocolmo viria a ser publicado na prestigiosa revista Antaeus (inverno 1983, Nova York), ao lado de um texto de Gabrielle D'Annunzio, e considerado um dos dez melhores relatos de ficção científica aparecidos naquele ano nos EUA.

A afirmação em três livros Apesar do sucesso da estréia, Giudice levaria sete cabalísticos anos para trazer a público o seu segundo livro, Os banheiros, de 1979. O Brasil vivia então o apogeu do contismo. Caio Fernando Abreu saudou, numa resenha da revista Veja, a consagração de Giudice "definitivamente, como um dos nomes mais expressivos da ficção brasileira contemporânea". Esse livro deixava clara a paixão de Giudice pelo conto policial, o seu fascínio pelos mecanismos do gênero. Esta matriz estaria subjacente a grande parte de sua obra. No início da carreira, ele havia publicado contos no Mistério Magazine de Ellery Queen. Foi também organizador da Coleção Enigma, de livros policiais, da Editora José Olympio.

A Narrativa do número um, incluída em Os banheiros, era, na verdade, um trailer do romance Bolero, que Giudice traria à luz em 1985. Um palhaço que consegue produzir esferas de prata somente com a força da imaginação assume ares de metáfora para a força do pensamento contra a ordem opressiva e a dominação. O Brasil começava a sair da ditadura e Giudice nos dava um romance caudaloso (veja trecho), lidando sem panfletarismo com o Brasil do pesadelo militar, das desigualdades profundas e das falsas mudanças. Para o crítico Valentim Facioli, o leitor tinha "diante de si um bizarro logogrifo literário, sério, circense, dramático, histrião; da mais intensa atualidade e permanência enquanto a história for a pré-história do Grande Circo burguês".

Em 1989, Giudice retornou ao terreno dos contos com Salvador janta no Lamas, distinguido com o prêmio anual da Associação Paulista de Críticos de Arte na categoria de ficção. Os contos desse volume apresentam um estilo extremamente visual, nos limites do argumento de cinema. O homem geográfico poderia figurar numa antologia do corte (no sentido cinematográfico do termo); Bolívar nada mais é que um pequeno filme policial em que, significativamente, o cinema é repetidamente citado. As palavras, ali, tinham a generosidade e o desespero de se darem a ver, de se deixarem sentir.Salvador consolidava, ainda, dois traços de estilo que o escritor importava de sua própria vida: as referências recorrentes ao plano concreto da cidade (antecipando, de certa maneira, Paul Auster em relação a Nova York) e, já a partir do desenho da capa - o tarô na mesa de bar -, a atração pelo esoterismo (ver Vida).

Maturidade premiada Estava pavimentado o caminho para aquela que muitos consideram a obra-prima de Victor Giudice: O museu Darbot e outros mistérios (1ª e 2ª edição). Temos aí nove contos primorosos, que revelam um escritor no pleno domínio de seu ofício. Para eles parecem convergir todos os rumos da ficção giudiciana: a fantasia familiar (A única vez, A história que meu pai não contou), as obsessões do culto à arte (A criação: efemérides, O museu Darbot), o mistério introjetado no cotidiano (Cavalos), a narrativa policial (Jurisprudência), a metáfora política (O hotel), a sátira de uma nobreza imaginária (A festa de Natal da Condessa Gamiani) e o miniconto (Relatividade em nome de Borges). O livro mereceu a maior distinção literária do país, o Prêmio Jabuti de 1995, conferido pela Câmara Brasileira do Livro.

Se Bolero havia sido gestado ao longo de sete anos e tivera vários fragmentos publicados previamente, o segundo romance de Giudice seria escrito num só jato, em não mais que 52 dias. A trama de O sétimo punhal, de 1995, era assim apresentada pela poeta Susana Vargas na orelha do livro: "Uma mulher às voltas com seis crimes (ou seriam quatro?) e um casamento de muitos anos. Um criminoso a bordo de um Monza cinza e a cinzenta história de um estranho namoro". Em O sétimo punhal,, o escritor atinge a maturidade no uso dos ingredientes da história policial, gênero relativamente raro no Brasil, do qual ele se firmou como um dos melhores cultores.

Giudice deixou inacabado o seu terceiro romance, Do catálogo de flores, que colocava um escritor brasileiro septuagenário no centro de uma trama misteriosa na Londres do ano 2018. O escritor tinha sido o único amigo de um certo Pedro Maravella, poeta brasileiro desconhecido que escrevia, no século anterior, uma série de poemas denominada Catálogo de flores. Descobre-se, então, uma estranha relação entre os sonetos de Maravella e as pesquisas científicas desenvolvidas por uma fundação britânica. "A história mostra de que modo uma fraude pode indicar o caminho da verdade", definia o autor numa sinopse.

Poesia, teatro, crítica Os sonetos de Maravella nada mais são que um eco do próprio Victor Giudice poeta. Entre um livro e outro, Giudice mantinha uma produção marginal de sonetos, a maioria desconhecidos do público leitor e mesmo de seus amigos mais íntimos. Nas décadas de 80 e 90, ele participou com amigos de uma espécie de arcádia, em que toda a correspondência se dava em sonetos de versos decassílabos. Seu pseudônimo não escondia eficientemente o autor: Judicis Marinus. A uma série de fundo social ele deu o sonoro título de Sonetos do operário e do patrão.

Giudice produziu também para teatro, refletindo outra de suas grandes paixões. Em 1991, o Centro Cultural Banco do Brasil montou seu monólogo Ária de serviço, com direção de Marco Antonio Braz e a atriz Bete Mendes no papel da dona de casa infeliz que prepara o espírito para receber o marido ao final de um dia de trabalho. Teve seu conto Bolívar encenado por Domingos Oliveira na Biblioteca Nacional dentro do evento Teatro do texto, em 1991, e fez uma adaptação do Don Juan, de Molière, para alunos da Uni-Rio. Exercitou-se, ainda, como compositor de trilhas musicais para teatro (ver A Música). Giudice deixou inédito o texto da peça O baile das sete máscaras, mais uma investida demolidora no universo burguês a que ele próprio pertencia à sua maneira peculiar.

O crítico e ensaísta literário surgiu na década de 1970 em jornais do Rio de Janeiro. Carlos Drummond de Andrade costumava mandar-lhe bilhetes agradecendo suas resenhas. Escritores como Machado de Assis, Arthur Schnitzler e o dramaturgo Nelson Rodrigues foram objeto de iluminados ensaios. Mas esta foi uma carreira bissexta, caracterizada basicamente pelo seu prazer de ler e pela independência de suas opiniões. Esta última qualidade rendeu-lhe, pelo menos uma vez, uma represália. Em julho de 1988, ele publicou em O Globo uma resenha irônica com relação ao sucesso de um best seller da mesma editora que à época examinava seus originais da coletânea de contos O último coração da noite. No dia seguinte, a editora devolveu-lhe os textos com uma carta seca de indeferimento. O livro acabaria saindo no ano seguinte, pela José Olympio Editora, com o título de Salvador janta no Lamas .

Para um escritor que tematizava as hipocrisias e disfunções da sociedade contemporânea, episódios como esse não representavam maior percalço. Pelo contrário, traziam novas idéias que ele rapidamente levava ao papel. Em Victor Giudice, a vida e o ofício bebiam da mesma fonte.

Fontes:
http://www.victorgiudice.com/
Foto de Veronica Peixoto, de O Globo

Nilton da Costa Teixeira (O Poeta de Ribeirão Preto)



Três de Maio:- Dia Municipal da Poesia

O vereador Corauci Neto apresentou em 21 de agosto de 1.997, o projeto a lei 391, que se tornou a lei 8.294/98, Instituindo o Dia Municipal da Poesia, no município de Ribeirão Preto, a ser comemorado a todo Três de maio.

Na justificativa do documento camarista, o vereador Corauci Neto, destaca: " O dia 3 de maio, é a data própria para estimular os poetas da cidade. É a data do nascimento do poeta Nilton da Costa Teixeira, escritor, jornalista, literato, representante da geração de 1.945, com grande destaque nas lides culturais de nossa cidade nos anos sessenta, com o maior número de trabalhos editados pelos jornais: A Cidade, Diário da Manhã, Diário de Notícias e O Diário. Lançou a pedido do ex-prefeito Antonio Duarte Nogueira, em 1.970, Versos à Ribeirão Preto, em homenagem aos 114 anos de nossa cidade, ocasião em que se inaugurava o salão nobre do Palácio Rio Branco. A partir daí com as movimentações com os Jogos Florais, Ribeirão Preto cresceu e hoje pode e precisa prestar uma homenagem a este que foi um baluarte de nossa poesia.”

Nilton da Costa Teixeira, nasceu na cidade de Monte Alto, interior de São Paulo, em 03 de maio de 1920, filho dos portugueses Manoel dos Santos Teixeira e Conceição da Costa Teixeira. Veio com a família para Ribeirão Preto, prosseguindo os estudos no Grupo Escolar Guimarães Júnior, onde concluiu em 1930/31. Trabalhou desde a infância, tendo sido prático de farmácia, depois ser provador de café e, na mesma firma, passou a exercer funções na contabilidade, enquanto prosseguia seus estudos no ginásio do Estado, hoje Otoniel Mota. Na Escola da Biblioteca dos Pobres foi cursar o “guarda livros”, mais tarde na Escola de Comércio São Sebastião, Contabilidade e científico no colégio Progresso.

Dedicou-se à contabilidade e ao comércio. Aposentou-se por tempo de serviço em 1.976. A contabilidade exerceu-a até os últimos dias de sua vida. Era associado do Conselho Regional de Contabilidade e graças ao vasto conhecimento contábil, assessorava colegas nas constantes mutações do setor..

Faleceu a 5 de novembro de 1983; casado com d. Ophélia de Andrade Teixeira.

Carreira Literária

Teve participações esportivas e literárias. Na literatura, 45 anos de atividades. Em 1936, co-fundara o Grêmio Literário Humberto de Campos.

Na imprensa, Nilton sempre editou crônicas, contos, poemas, trovas, sonetos, divulgando parte de sua produção literária, nos jornais de Ribeirão Preto, oferecendo subsídios para que professores e alunos trabalhassem, nas escolas, seus projetos de poesia. Em torno da Fonte Luminosa, da praça XV de novembro, por vários anos, estiveram expostas as trovas dos Jogos Florais de Ribeirão Preto, em placas pintadas, com as trovas vencedores. Nilton sempre tinha alguma premiada.

Como professor, na Escola dos Pobres, estimulava o alunado à vida literária e o que continuou fazendo no correr dos anos. Sua esposa também lecionava na entidade. Prefaciou diversos livros. Gostava de escrever sobre a cidade.

No correr dos anos, durante campanhas eleitorais, à pedido de candidatos compunha “marchinhas” de campanha eleitoral e, num só pleito, viu candidatos eleitos com o apoio suas mensagens poético-eleitorais. Era comum, ao passar por cartórios de paz, ser solicitado a fazer trovas de homenagem a casamento ou nascimento. O poeta gostava do que fazia e fazia com inspiração.

No ano de 1966, foi um dos vencedores dos I Jogos Florais de Ribeirão Preto, numa promoção do Clube dos Antônios com o patrocínio do jornal O Diário, tendo duas de suas trovas premiadas. O tema da promoção era Santos Dumont. A respeito, no dia 6 de novembro de 1967, o dr. Antonio Rocha Lourenço, presidente do Clube, se manifestou: Ao ofertar-lhe o prêmio que sua inteligência conquistou, não deseja o Clube dos Antônios, deixar embora em poucas palavras, de dizer o quanto agradece a sua destacada participação. Foi premiado em diversos concursos de trovas e sonetos. Era considerado uma usina poética e conseguia produzir centenas de trovas de um mesmo assunto ou tema.

Em 1970, a pedido do dr. Antônio Duarte Nogueira, então prefeito, editou Versos à Ribeirão Preto. O historiador Prisco da Cruz Prates, destacava-o em seus textos como o príncipe regional da trova ribeirãopretana. O trabalho literário de Nilton merecia elogios nos mais diferentes recantos do país.

Em 19 de junho de 1977, trovadores de diversas cidades e estados, estiveram reunidos na casa do poeta. Ocasião festiva e literária, onde cada um demonstrava a sua versatilidade. O escritor e acadêmico santista Walter Waeny ao partir deixou em manuscrito a mensagem:

Esta alegria maior,
Sempre guardá-la prometo:
visitei, hoje, o melhor,
poeta de Ribeirão Preto”.

O trovador José Valeriano Rodrigues, mineiro de diversas academias, assim escreveu:

“Senti-me de tal maneira
à vontade neste lar,
como na casa mineira
para a qual eu vou voltar”.

Deixou vários inéditos, mas na imprensa diária divulgada boa parte daquilo que produzia. Suas constantes premiações literárias, perpetuam seus textos em livros de resultados de concursos. A biblioteca municipal e a Casa da Cultura têm as edições dos livros de jogos florais de Ribeirão Preto.

Vem sendo organizada uma antologia com os textos dos escritores da família Teixeira. O poeta Lauro da Costa Teixeira (irmão, freqüentava a Casa do Poeta Lampião de Gás), Nilton Manoel e Ivan Augusto (filhos) e alguns sobrinhos do poeta com prêmios e vida literária.

Nilton fez parte de várias comissões de Jogos Florais de Ribeirão Preto.
Nilton, co-fundador e vice-presidente da seção municipal da União Brasileira de Trovadores, instalada por Luiz Otávio (príncipe dos trovadores). Co-fundador da União dos Escritores de Ribeirão Preto e membro correspondente de academias pelo Brasil. Hoje é patrono de cadeiras acadêmicas.

No decorrer dos anos conquistou prêmios, nos Jogos Florais da Bahia, pela Academia Castro Alves de Letras, Academia Valenciana de Letras, Grupo Alec de Corumbá, Academia Pedralva de Letras e Artes, Sesc Três Rios- RJ, União Brasileira de Escritores, Revista Brasília, centenária Sociedade Legião Brasileira Civismo e Cultura, em Ribeirão Preto, monografia sobre Padre Euclides, Casa da Cultura de Ribeirão Preto, Clube da Velha Guarda, Jogos Florais de Ribeirão Preto, Santos, Rio de Janeiro,etc.

Na antologia Poetas de Ribeirão Preto, terra da poesia, editada por Nilton Manoel, em 1979, figura com um agrupamento de textos sob o título “Encanto dos meus dias” onde são encontrados sonetos, poemas e trovas, concebidos em verdadeiros estados de graça. Foi haicaísta.

A FONTE LUMINOSA

Da fonte luminosa, emergem espargidos,
contínuos jatos de água em cores variantes,
que , em suaves vai-vens, tão sempre repetidos
em mesclas divinais de encantos e corantes.

Seus azuis celestiais, nos jatos expelidos,
parodiam, no céu, os azuis contagiantes,
enquanto pela relva, os grilos escondidos
teimam a musicar esses vai-vens constantes

Sempre a água sobe e desce e sofre mutações,
imita nossa vida onde há tão falsos pomos
colhidos cegamente em muitas ocasiões...

A fonte é um painel de passageiras cores,
a vida é um painel de mentirosos cromos,
dois cromos celestiais, cromos enganadores.

Com a difusão de informativos, jornais, revistas, colunas de poesia em jornais O Diário, Diário de Notícias, Diário da Manhã, A Cidade e em Folha do Subúrbio (do Eduardo Cavalcanti da Silva, Camaçari - BA), a coluna de Trovas da Gazeta Esportiva, assinada pela jornalista Maria Thereza Cavalheiro, Almanaques como o Santo Antonio, da Editora Vozes, a folhinha do Sagrado Coração de Jesus, álbuns e revistas acadêmicas, os poemas de Nilton da Costa Teixeira popularizam-se cada vez mais, principalmente, em volantes, editados para distribuição gratuita a alunos de nossas escolas. O movimento literário de Ribeirão Preto, tomou vulto com as edições diárias do poeta, considerado o marco de nacionalização da literatura ribeirãopretana.

TROVAS DISPERSAS

A vida triste fantasia,
que abriga tanta ilusão,
é o caminhar dia a dia,
para um funéreo caixão.
*
Nossa vida é uma viagem
de turismo e avaliação,
em que o peso da bagagem
é feito no coração.
*
Tenho a casa pobrezinha
Um prato e uma colher,
E a esperança toda minha
De arranjar uma mulher.
*
Durante suas andanças,
Jesus Cristo foi fecundo,
recolocando esperanças,
entre as descrenças do mundo.
*
Quem passar por Ribeirão,
fatalmente,ira deixar,
pedaços do coração,
que um dia virá buscar.
( 1.956 – I Centenário de Ribeirão Preto)
*
Ribeirão - tu sobranceiro,
és do interior, no presente,
o município, primeiro,
porque caminhas à frente...

Nos Jogos Florais de Ribeirão Preto, oficializados pelo executivo, por ser o evento que consagrou a cidade no mundo internacional da literatura, realizados em modalidades: estudantil, municipal, internacional, Nilton conseguiu diversas e boas trovas vencedoras, entre elas:

Neste abraço em que te aperto,
Com a beatitude de um monge,
Sinto meu amor tão perto...
Minha esperança tão longe!

Para salvar aparências,
Nós pela vida, mentindo,
Entre silêncios e ausências,
Sofremos sempre sorrindo.

O Judas de hoje, moderno,
Maneiroso, demagogo,
Não teme os clarões do inferno,
Porque dança sofre o fogo.

Despreocupado com a morte
Para quem tão pouco resta,
Mesmo os rigores da sorte
São verdes sonhos de festa!

Comentários sobre o poeta:

“... vemos o perfil de um homem, que foi inspirado cultor do sonho e requintado burilador do verso. Sei que foi, em sua terra natal, por várias gerações, um dos seus valores mais dignificantes, que, se o presente tanto o admirou, a posteridade saberá respeita-lo”.

Um poeta adormeceu,
e, porque tanto sonhou,
se algo, aqui, se escureceu,
todo o céu se iluminou
”.
Helvécio Barros- Bauru-SP.:

Com profundo pesar recebemos a infausta notícia do falecimento do poeta Nilton da Costa Teixeira, que enluta as letras de Ribeirão Preto e entristece seus irmãos trovadores de todo o Brasil”..
Carolina Ramos, presidente da União Brasileira de Trovadores –secção de Santos-SP

Trovador e poeta que todos aprendemos a estimar e admirar”.
Jornalista Paulina Martha Frank, Campinas,SP.

"O Brasil inteiro precisa ler o que ele escreve, para render homenagem a um talento e a uma versatilidade assim tão grandes”.
Walter Waeny, trovador da Academia Santista de Letras
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Na literatura de Ribeirão Preto sua prosa e poesia fez a nossa história literária e, ficou comprovado nos certames em que foi premiado. Seus livros: A Mansão do Morro Branco, Versos à Ribeirão Preto, Mãe, Minha Trova em Ribeirão Preto, Sonetos de várias datas,Restos de Ventura, entre outros, enriquecem o mundo literário desta cidade que tanto amou.
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Fontes:
- Nilton Manoel.
– Corauci Neto

Glorinha Rattes (Cristais Poéticos)



DESABAFO

Sou uma pessoa querida
pelos recantos da vida
deste mundo encantador.
E por mais que dissimule ou drible,
há sempre os recalques da vida
querendo tornar-me sofredor.
Qual fantasmas de carrascos
seguem perto os meus rastros,
impingindo-me a dor.
Sempre insistem em abrir ferida
no peito da minha vida
e se jogam com furor.
Mas esses fantasmas sem sucesso,
que empurro ao retrocesso,
no vasto mar do vingador,
não conseguem o seu intento,
não me prendem ao sofrimento –
na vida sou vencedor.
Sou guerreiro forte, previdente,
transformo-me em Noé,
embarco na Arca da Vida
e espero baixar a maré.
=======================

ESPELHO

No afã de contemplar minha imagem,
do espelho curiosa me aproximei.
E ao invés de retratar-me, vi miragens
dos anos que passaram e não notei.
Vi minha infância: eu feliz, despreocupada,
brincando de roda, cabra-cega e de pegar.
Corria alegre dando boas gargalhadas
e minha mãe me pedindo para parar.
E o espelho retratando minha vida,
a juventude nele então projetou:
eu era bela, tão alegre, tão querida
que, em minha face uma lágrima rolou.
Enxuguei-a com um lenço todo branco
em homenagem à pureza daquele tempo
que, por um beijo, um abraço, levava um tranco
dos pais que diziam:
- Ele só quer passatempo!
E o espelho minha vida revelava:
momentos de alegrias e tristezas,
mas, a verdade do agora não mostrava
e é esta imagem que eu mostro pra vocês.
=======================

EXEMPLO DE VIDA

Sentindo-me cansada,
triste, desanimada,
sentei-me à beira da estrada
e fiquei a pensar na vida...
Entregue aos meus pensamentos,
senti com o sopro do vento
que estava semi-protegida
pela sombra de uma árvore ressequida
que antes fora frondosa, florida.
E atentamente a observá-la,
vi um viçoso broto surgindo
que me impulsionou a imitá-la;
retomei minhas forças, fiquei sorrindo...
Sorrindo e meditando...
Se, em uma árvore aparentemente ressequida,
ressurge a esperança da vida,
por que julgar-me debilitada,
frágil, perdida?
E analisando o exemplo daquela árvore,
arvorei-me de esperança...
e acreditei na vida!
=======================

O QUE FICA

Oh! Bendito que semeias
e em poesia me enleias
para eu criar e produzir...
E nos meus versos singelos,
decantar tudo que é belo
e do meu jeito colorir...
Sinto que o mundo é encantador...
Mas não posso assim senti-lo
que não plantarei uma flor.
Quando partir deste mundo
rastros deixarei marcados...
Vida se esvai num segundo,
fica o que está comprovado;
filhos, árvores e livros,
são mandamentos que cumpri;
registrei-os nos arquivos
dos tempos em que já vivi.
Sei! Tudo passa na vida...
Passa época, para o tempo,
fica a lembrança contida
no livro do assentamento.
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SUBLIME AMOR
(à minha filha, em 18/06/1987)

Estás junto a mim,
caminhas ao meu lado,
dominas o meu ser!
Não te locomoves do leito,
mas trago teu coração no peito,
sentindo-o fortemente pulsar.
Tua imagem, minha companheira
que me envolve a vida inteira,
desde que entraste no meu mundo!
E quando aqui, não mais eu estiver
e se porventura, permaneceres,
tornar-me-ei uma estrela,
sempre ansiosa por vê-la,
meu brilho a ti refletir.
E os sons desordenados
por ti balbuciados,
chegar-me-ão com clareza
e não terei mais incerteza
de estar te entendendo ou não!
E quando junto de mim estiveres,
gozando as maravilhas do infinito,
não serei mais esta mãe, mulher
que estremece ao som de dilacerante grito.
- Não... Não serei mais uma pecadora qualquer
lá, com você ao meu lado querida!
Serei a mais bela estrela cintilante,
brilhando no universo de qualquer vida.
=================================
Sobre a Autora
Glorinha Rattes, nome literário adotado por MARIA DA GLORIA AVIEIRA DE REZENDE RATTES que, em 1997 foi eleita Rainha dos Trovadores na Convenção de trovadores realizada em Conceição da Barra – ES. Membro titular da Cadeira n.13, da Academia Brasileira de Poesia Casa de Raul de Leoni.

Classificada em diversos concursos, tanto em Petrópolis-RJ, como em várias outras cidades do Brasil. Em 1988 foi classificada com seleto grupo de 10 poetas, sem ordem de classificação, para receber o prêmio de Melhor Poeta do Estado do Rio de Janeiro. É madrinha da Academia Poética da Escola Municipal Vila Felipe – Petrópolis-Rj, pertence ao Clube de Poesia do Petropolitano FC, ao Arte de Poetar, do SESC-Petrópolis-RJ. Tem publicado os livros: Raio de Luz - poemas e trovas; No Jardim dos Trovadores: UBT-Trovas e Recanto e Minhas Lembranças, crônicas.
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Fonte:
Academia Brasileira de Poesia da Casa de Raul de Leoni

Machado de Assis (Hoje avental, amanhã luva)



Publicada originalmente A Marmota, Rio de Janeiro, março de 1860.
Transcrita em Páginas Esquecidas , de Machado de Assis, Rio de Janeiro: Ed Casa Mandarino, 1939.

Comédia em um ato imitada do francês por Machado de Assis

PERSONAGENS
DURVAL
ROSINHA
BENTO


Rio de Janeiro — Carnaval de 1859.
(Sala elegante. Piano, canapé, cadeiras, uma jarra de flores em uma mesa à direita alta. Portas laterais no fundo.)

Cena I

ROSINHA (Adormecida no canapé);
DURVAL (entrando pela porta do fundo)

DURVAL
Onde está a Sra. Sofia de Melo?... Não vejo ninguém. Depois de dois anos como venho encontrar estes sítios! Quem sabe se em vez da palavra dos cumprimentos deverei trazer a palavra dos epitáfios! Como tem crescido isto em opulência!... mas... (vendo Rosinha) Oh! Cá está a criadinha. Dorme!... excelente passatempo... Será adepta de Epicuro? Vejamos se a acordo... (dá-lhe um beijo)

ROSINHA
(acordando)
Ah! Que é isto? (levanta-se) O Sr. Durval? Há dois anos que tinha desaparecido... Não o esperava.

DURVAL
Sim, sou eu, minha menina. Tua ama?

ROSINHA
Está ainda no quarto. Vou dizer-lhe que V. S. está (vai para entrar) Mas, espere; diga-me uma coisa.

DURVAL
Duas, minha pequena. Estou à tua disposição. (à parte) Não é má coisinha!

ROSINHA
Diga-me. V. S. levou dois anos sem aqui pôr os pés: por que diabo volta agora sem mais nem menos?

DURVAL
(tirando o sobretudo que deita sobre o canapé)
És curiosa. Pois sabe que venho para... para mostrar a Sofia que estou ainda o mesmo.

ROSINHA
Está mesmo? moralmente, não?

DURVAL
É boa! Tenho então alguma ruga que indique decadência física?

ROSINHA
Do físico... não há nada que dizer.

DURVAL
Pois do moral estou também no mesmo. Cresce com os anos o meu amor; e o amor é como o vinho do Porto: quanto mais velho, melhor. Mas tu! Tens mudado muito, mas como mudam as flores em bo­tão: ficando mais bela.

ROSINHA
Sempre amável, Sr. Durval.

DURVAL
Costume da mocidade. (quer dar-lhe um beijo)

ROSINHA
(fugindo e com severidade)
Sr. Durval!...

DURVAL
E então! Foges agora! Em outro tempo não eras difícil nas tuas beijocas. Ora vamos! Não tens uma ama bilidade para este camarada que de tão longe volta!

ROSINHA
Não quero graças. Agora é outro cantar! Há dois anos eu era uma tola inexperiente... mas hoje!

DURVAL
Está bem. Mas...

ROSINHA
Tenciona ficar aqui no Rio?

DURVAL
(sentando-se)
Como o Corcovado, enraizado como ele. Já me doíam saudades desta boa cidade. A roça, não há coisa pior! Passei lá dois anos bem insípidos — em uma vida uniforme e matemática como um ponteiro de relógio: jogava gamão, colhia café e plantava ba tatas. Nem teatro lírico, nem rua do Ouvidor, nem Petalógica! Solidão e mais nada. Mas, viva o amor! Um dia concebi o projeto de me safar e aqui estou. Sou agora a borboleta, deixei a crisálida, e aqui me vou em busca de vergéis. (tenta um novo beijo)

ROSINHA
(fugindo)
Não teme queimar as asas?

DURVAL
Em que fogo? Ah! Nos olhos de Sofia! Está muda da também?

ROSINHA
Sou suspeita. Com seus próprios olhos o verá.

DURVAL
Era elegante e bela há bons dois anos. Sê-lo-á ainda? Não será? Dilema de Hamlet. E como gosta va de flores! Lembras-te? Aceitava-mas sempre não sei se por mim, se pelas flores; mas é de crer que fosse por mim.

ROSINHA
Ela gostava tanto de flores!

DURVAL
Obrigado. Dize-me cá. Por que diabo sendo uma criada, tiveste sempre tanto espírito e mesmo...

ROSINHA
Não sabe? Eu lhe digo. Em Lisboa, donde viemos para aqui, fomos condiscípulas: estudamos no mes­mo colégio, e comemos à mesma mesa. Mas, coisas do mundo!... Ela tornou-se ama e eu criada! É verda de que me trata com distinção, e conversamos às vezes em altas coisas.

DURVAL
Ah! é isso? Foram condiscípulas. (levanta-se) E conversam agora em altas coisas!... Pois eis-me aqui para conversar também; faremos um trio admirável.

ROSINHA
Vou participar-lhe a sua chegada.

DURVAL
Sim, vai, vai. Mas olha cá, uma palavra.

ROSINHA
Uma só, entende?

DURVAL
Dás-me um beijo?

ROSINHA
Bem vê que são três palavras. (entra à direita)

Cena II

DURVAL e BENTO

DURVAL
Bravo! A pequena não é tola... tem mesmo muito espírito! Eu gosto dela, gosto! Mas é preciso dar-me ao respeito. (vai ao fundo e chama) Bento! (descendo) Ora depois de dois anos como virei en­contrar isto? Sofia terá por mim a mesma queda? É isso o que vou sondar. É provável que nada perdes se dos antigos sentimentos. Oh! decerto! Vou começar por levá-la ao baile mascarado; há de aceitar, não pode deixar de aceitar! Então, Bento! mariola?

BENTO
(entrando com um jornal) Pronto.

DURVAL
Ainda agora! Tens um péssimo defeito para bo leeiro, é não ouvir.

BENTO
Eu estava embebido com a interessante leitura do Jornal do Comércio: ei-lo. Muito mudadas estão estas coisas por aqui! Não faz uma idéia! E a política? Esperam-se coisas terríveis do parlamento.

DURVAL
Não me maçes, mariola! Vai abaixo ao carro e traz uma caixa de papelão que lá está... Anda!

BENTO
Sim, senhor; mas admira-me que V. S. não preste atenção ao estado das coisas.

DURVAL
Mas que tens tu com isso, tratante?

BENTO
Eu nada; mas creio que...

DURVAL
Salta lá para o carro, e traz a caixa depressa!

Cena III

DURVAL e ROSINHA

DURVAL
Pedaço d'asno! Sempre a ler jornais; sempre a ta garelar sobre aquilo que menos lhe deve importar! (vendo Rosinha) Ah!... és tu? Então ela... (levanta-se)

ROSINHA
Está na outra sala à sua espera.

DURVAL
Bem, aí vou. (vai entrar e volta) Ah! recebe a caixa de papelão que trouxer meu boleeiro.

ROSINHA
Sim, senhor.

DURVAL
Com cuidado, meu colibri!

ROSINHA
Galante nome! Não será em seu coração que farei o meu ninho.

DURVAL
(à parte)
Ah! É bem engraçada a rapariga! (vai-se)

Cena IV

ROSINHA, DEPOIS BENTO

ROSINHA
Muito bem, Sr. Durval. Então voltou ainda? É a hora de minha vingança. Há dois anos, tola como eu era, quiseste seduzir-me, perder-me, como a muitas outras! E como? mandando-me dinheiro... dinheiro! — Media as infâmias pela posição. Assentava de... Oh! mas deixa estar! vais pagar tudo... Gosto de ver essa gente que não enxerga sentimento nas pessoas de condição baixa... como se quem traz um avental, não pode também calçar uma luva!

BENTO
(traz uma caixa de papelão)

Aqui está a caixa em questão... (põe a caixa so bre uma cadeira) Ora, viva! Esta
caixa é de meu amo.

ROSINHA
Deixe-a ficar.

BENTO
(tirando o jornal do bolso)
Fica entregue, não? Ora bem! Vou continuar a minha interessante leitura... Estou na gazetilha — Estou pasmado de ver como vão as coisas por aqui! — Vão a pior. Esta folha põe-me ao fato de grandes novidades.

ROSINHA
(sentando-se de costas para ele)
Muito velhas para mim.

BENTO
(com desdém)
Muito velhas? Concedo. Cá para mim têm toda a frescura da véspera.

ROSINHA
(consigo)
Quererá ficar?

BENTO
(sentando-se do outro lado)
Ainda uma vista d'olhos! (abre o jornal)

ROSINHA
E então não se assentou?

BENTO
(lendo)
Ainda um caso: "Ontem à noite desapareceu uma nédia e numerosa criação de aves domésticas. Não se pôde descobrir os ladrões, porque, desgraçadamente havia uma patrulha a dois passos dali."

ROSINHA
(levantando-se)
Ora, que aborrecimento!

BENTO
(continuando)
“Não é o primeiro caso que dá nesta casa da rua dos Inválidos." (consigo) Como vai isto, meu Deus!

ROSINHA
(Abrindo a caixa)
Que belo dominó!

BENTO
(indo a ela)
Não mexa! Creio que é para ir ao baile mascarado hoje...

ROSINHA
Ah!... (silêncio) Um baile... hei de ir também!

BENTO
Aonde? Ao baile? Ora esta!

ROSINHA
E por que não?

BENTO
Pode ser; contudo, quer vás, quer não vás, deixa-me ir acabar a minha leitura naquela sala de espera.

ROSINHA
Não... tenho uma coisa a tratar contigo.

BENTO
(lisonjeado)
Comigo, minha bela!

ROSINHA
Queres servir-me em uma coisa?

BENTO
(severo)
Eu cá só sirvo ao Sr. Durval, e é na boléia!

ROSINHA
Pois hás de me servir. Não és então um rapaz como os outros boleeiros, amável e serviçal...

BENTO
Vá feito... não deixo de ser amável; é mesmo o meu capítulo de predileção.

ROSINHA
Pois escuta. Vais fazer um papel, um bonito papel.

BENTO
Não entendo desse fabrico. Se quiser algumas lições sobre a maneira de dar uma volta, sobre o governo das rédeas em um trote largo, ou coisa cá do meu ofício, pronto me encontra.

ROSINHA
(que tem ido buscar o ramalhete no jarro)
Olha cá: sabes o que é isso?

BENTO
São flores.

ROSINHA
É o ramalhete diário de um fidalgo espanhol que viaja incógnito.

BENTO
Ah! (toma o ramalhete)

ROSINHA
(indo a uma gaveta buscar um papel)
O Sr. Durval conhece a tua letra?

BENTO
Conhece apenas uma. Eu tenho diversos modos de escrever.

ROSINHA
Pois bem; copia isto. (dá-lhe o papel) Com letra que ele não conheça.

BENTO
Mas o que é isto?

ROSINHA
Ora, que te importa? És uma simples máquina. Sabes tu o que vai fazer quando o teu amo te indica uma direção ao carro? Estamos aqui no mesmo caso.

BENTO
Fala como um livro! Aqui vai. (escreve)

ROSINHA
Que amontoado de garatujas!...

BENTO
Cheira a diplomata. Devo assinar?

ROSINHA
Que se não entenda.

BENTO
Como um perfeito fidalgo. (escreve)

ROSINHA
Subscritada para mim. À Sra. Rosinha. (Bento escreve) Põe agora este bilhete nesse e leva. Voltarás a propósito. Tens também muitas vozes?

BENTO
Vario de fala, como de letra.

ROSINHA
Imitarás o sotaque espanhol?

BENTO
Como quem bebe um copo d’água!

ROSINHA
Silêncio! Ali está o Sr. Durval.

Cena V

ROSINHA, BENTO, DURVAL

DURVAL
(a Bento)
Trouxeste a caixa, palerma?

BENTO
(escondendo atrás das costas o ramalhete)
Sim, senhor.

DURVAL
Traz a carruagem para o portão

BENTO
Sim senhor. (Durval vai vestir o sobretudo, mirando-se ao espelho) O jornal? Onde pus eu o jornal? (sentindo-o no bolso) Ah!...

ROSINHA
(baixo a Bento)
Não passes na sala de espera. (Bento sai)

Cena VI

DURVAL, ROSINHA

DURVAL
Adeus, Rosinha, é preciso que eu me retire.

ROSINHA
(à parte)
Pois não!

DURVAL
Dá essa caixa a tua ama.

ROSINHA
Vai sempre ao baile com ela?

DURVAL
Ao baile? Então abriste caixa?

ROSINHA
Não vale a pena falar nisso. Já sei, já sei que foi recebido de braços abertos.

DURVAL
Exatamente. Era a ovelha que voltava ao aprisco depois de dois anos de apartamento.

ROSINHA
Já vê que andar longe não é mau. A volta é sempre um triunfo. Use, abuse mesmo da receita. Mas então sempre vai ao baile?

DURVAL
Nada sei de positivo. As mulheres são como os logogrifos. O espírito se perde no meio daquelas combinações...

ROSINHA
Fastidiosas, seja franco.

DURVAL
É um aleive: não é esse o meu pensamento. Contudo devo, parece-me dever crer, que ela irá. Como me alegra, e me entusiasma esta preferência que me dá a bela Sofia!

ROSINHA
Preferência? Há engano: preferir supõe escolha, supõe concorrência...

DURVAL
E então?

ROSINHA
E então, se ela vai ao baile é unicamente pelos seus bonitos olhos, se não fora V. S., ela não ia.

DURVAL
Como é isso?

ROSINHA
(indo ao espelho)
Mire-se neste espelho.

DURVAL
Aqui me tens

ROSINHA
O que vê nele?

DURVAL
Boa pergunta! Vejo-me a mim próprio.

ROSINHA
Pois bem. Está vendo toda a corte da Sra. Sofia, todos os seus adoradores.

DURVAL
Todos! Não é possível. Há dois anos a bela senhora era a flor bafejada por uma legião de zéfiros... Não é possível.

ROSINHA
Parece-me criança! Algum dia os zéfiros foram estacionários? Os zéfiros passam e mais nada. É. o símbolo do amor moderno.

DURVAL
E a flor fica no hastil. Mas as flores duram uma manhã apenas. (severo) Quererás tu dizer que Sofia passou a manhã das flores?

ROSINHA
Ora, isso é loucura. Eu disse isto?

DURVAL
(pondo a bengala junto ao piano)
Parece-me entretanto...

ROSINHA
V. S. tem uma natureza de sensitiva; por outra, toma os recados na escada. Acredite ou não, o que lhe digo é a pura verdade. Não vá pensar que o afirmo assim para conservá-lo junto de mim: estimara mais o contrário.

DURVAL
(sentando-se)
Talvez queiras fazer crer que Sofia é alguma fruta passada, ou jóia esquecida no fundo da gaveta por não estar em moda. Estais enganada. Acabo de vê-la; acho-lhe ainda o mesmo rosto: vinte e oito anos, apenas.

ROSINHA
Acredito.

DURVAL
É ainda a mesma: deliciosa.

ROSINHA
Não sei se ela lhe esconde algum segredo.

DURVAL
Nenhum.

ROSINHA
Pois esconde. Ainda lhe não mostrou a certidão de batismo. (vai sentar-se ao lado oposto)

DURVAL
Rosinha! E depois, que me importa? Ela é ainda aquele querubim do passado. Tem uma cintura... que cintura!

ROSINHA
É verdade. Os meus dedos que o digam!

DURVAL
Hein? E o corado daquelas faces, o alvo daquele colo, o preto daquelas sobrancelhas?

ROSINHA
(levantando-se)
Ilusão! Tudo isso é tabuleta do Desmarais; aquela cabeça passa pelas minhas mãos. É uma beleza de pó de arroz: mais nada.

DURVAL
(levantando-se bruscamente)
Oh! Essa agora!

ROSINHA
(à parte)
A pobre senhora está morta!

DURVAL
Mas, que diabo! Não é um caso de me lastimar; não tenho razão disso. O tempo corre para todos, e portanto a mesma onda nos levou a ambos folhagens da mocidade. E depois eu amo aquela engraçada mulher!

ROSINHA
Reciprocidade; ela também o ama.

DURVAL
(com um grande prazer)
Ah!

ROSINHA
Duas vezes chegou à estação do campo para tomar o wagon, mas duas vezes voltou para casa. Temia algum desastre da maldita estrada de ferro!

DURVAL
Que amor! Só recuou diante da estrada de ferro!

ROSINHA
Eu tenho um livro de notas, donde talvez lhe possa tirar provas do amor da Sra. Sofia. É uma lista cronológica e alfabética dos colibris que por aqui têm esvoaçado.

DURVAL
Abre lá isso então!

ROSINHA
(folheando um livro)
Vou procurar.

DURVAL
Tem aí todas as letras?

ROSINHA
Todas. É pouco agradável para V. S.; mas tem todas desde A até o Z.

DURVAL
Desejara saber quem foi a letra K.

ROSINHA
É fácil; algum alemão.

DURVAL
Ah! Ela também cultiva os alemães?

ROSINHA
Durval é a letra D. — Ah! Ei-lo: (lendo) “Durval, quarenta e oito anos de idade...”

DURVAL
Engano! Não tenho mais de quarenta e seis.

ROSINHA
Mas esta nota foi escrita há dois anos.

DURVAL
Razão demais. Se tenho hoje quarenta e seis, há dois tinha quarenta e quatro... e claro!

ROSINHA
Nada. Há dois anos devia ter cinqüenta.

DURVAL
Esta mulher é um logogrifo!

ROSINHA
V. S. chegou a um período em sua vida em que a mocidade começa a voltar; em cada ano, são doze meses de verdura que voltam como andorinhas na primavera.

DURVAL
Já me cheirava a epigrama. Mas vamos adiante com isso.

ROSINHA
(fechando o livro)
Bom! Já sei onde estão as provas. (vai a uma gaveta e tira dela uma carta) Ouça: — "Querida Amélia...

DURVAL
Que é isso?

ROSINHA
Uma carta da ama a uma sua amiga. "Querida Amélia: o Sr. Durval é um homem interessante, rico, amável, manso como um cordeiro, e submisso como o meu Cupido..." (a Durval) Cupido é um cão d'água que ela tem.

DURVAL
A comparação é grotesca na forma, mas exata no fundo. Continua, rapariga.

ROSINHA
(lendo)
“Acho-lhe contudo alguns defeitos...

DURVAL
Defeitos?

ROSINHA
“Certas maneiras, certos ridículos, pouco espírito, muito falatório, mas afinal um marido com todas as virtudes necessárias...

DURVAL
É demais

ROSINHA
“Quando eu conseguir isso, peço-te que venhas vê-lo como um urso na chácara do Souto.

DURVAL
Um urso!

ROSINHA
(lendo)
"Esquecia-me de dizer-te que o Sr. Durval usa de cabeleira." (fecha a carta)

DURVAL
Cabeleira! É uma calúnia! Uma calúnia atroz! (levando a mão ao meio da cabeça, que está calva) Se eu usasse de cabeleira...

ROSINHA
Tinha cabelos, é claro.

DURVAL
(passeando com agitação)
Cabeleira! E depois fazer-me seu urso como um marido na chácara do Souto.

ROSINHA
(às gargalhadas)
Ah! ah! ah! (vai-se pelo fundo)

Cena VII

DURVAL
(passeando)
É demais! E então quem fala! uma mulher que tem umas faces... Oh! é o cúmulo da impudência! É aquela mulher furta-cor, aquele arco-íris que tem a liberdade de zombar de mim!... (procurando) Rosinha! Ah! foi-se embora... (sentando-se) Oh! Se eu me tivesse conservado na roça, ao menos lá não teria dessas apoquentações!...Aqui na cidade, o prazer é misturado com zangas de acabrunhar o espírito mais superior! Nada! (levanta-se) Decididamente volto para lá... Entretanto, cheguei há pouco... Não sei se deva ir; seria dar cavaco com aquela mulher; e eu... Que fazer? Não sei, deveras!

Cena VIII

DURVAL e BENTO (de paletó, chapéu de palha, sem botas)

BENTO
(mudando a voz)
Para a Sra. Rosinha. (põe o ramalhete sobre a mesa)

DURVAL
Está entregue.

BENTO
(à parte)
Não me conhece! Ainda bem.

DURVAL
Está entregue.

BENTO
Sim, senhor! (sai pelo fundo)

Cena IX

DURVAL
(só, indo buscar o ramalhete)
Ah!ah!flores! A Sra. Rosinha tem quem lhe mande flores! Algum boleeiro estúpido. Estas mulhe res são de um gosto esquisito às vezes! — Mas como isto cheira! Dir-se-ia um presente de fidalgo! (vendo a cartinha) Oh! que é isto? Um bilhete de amores! E como cheira! Não conheço esta letra; o talho é rasga do e firme, como de quem desdenha. (levando a cartinha ao nariz) Essência de violeta, creio eu. É uma planta obscura, que também tem os seus satélites. Todos os têm. Esta cartinha é um belo assunto para uma dissertação filosófica e social. Com efeito: quem diria que esta moça, colocada tão baixo, teria bilhetes perfumados!... (leva ao nariz) Decidida mente é essência de magnólias!

Cena X

ROSINHA (no fundo) DURVAL (no proscênio)

ROSINHA
(consigo)
Muito bem! Lá foi ela visitar a sua amiga no Botafogo. Estou completamente livre. (desce)

DURVAL
(escondendo a carta)
Ah! és tu? Quem te manda destes presentes?

ROSINHA
Mais um. Dê-me a carta.

DURVAL
A carta? É boa! é coisa que não vi.

ROSINHA
Ora não brinque! Devia trazer uma carta. Não vê que um ramalhete de flores é um estafeta mais segu ro do que o correio da corte!

DURVAL
(dando-lhe a carta)
Aqui a tens; não é possível mentir.

ROSINHA
Então! (lê o bilhete)

DURVAL
Quem é o feliz mortal?

ROSINHA
Curioso!

DURVAL
É moço ainda?

ROSINHA
Diga-me: é muito longe daqui a sua roça?

DURVAL
É rico, é bonito?

ROSINHA
Dista muito da última estação?

DURVAL
Não me ouves, Rosinha?

ROSINHA
Se o ouço! É curioso, e vou satisfazer-lhe a curio sidade. É rico, é moço e é bonito. Está satisfeito?

DURVAL
Deveras! E chama-se?...

ROSINHA
Chama-se... Ora eu não me estou confessando!

DURVAL
És encantadora!

ROSINHA
Isso é velho. E o que me dizem os homens e os espelhos. Nem uns nem outros mentem.

DURVAL
Sempre graciosa!

ROSINHA
Se eu o acreditar, arrisca-se a perder a liberda de... tomando uma capa...

DURVAL
De marido, queres dizer (à parte) ou de um urso! (alto) Não tenho medo disso. Bem vês a alta posição... e depois eu prefiro apreciar-te as qualidades de fora. Talvez leve a minha amabilidade a fazer-te um madrigal.

ROSINHA
Ora essa!

DURVAL
Mas, fora com tanto tagarelar! Olha cá! Eu estou disposto a perdoar aquela carta; Sofia vem sempre ao baile?

ROSINHA
Tanto como o imperador dos turcos... Recusa.

DURVAL
Recusa! É o cúmulo da... E por que recusa?

ROSINHA
Eu sei lá! Talvez um nervoso; não sei!

DURVAL
Recusa! Não faz mal... Não quer vir, tanto melhor! Tudo está acabado, Sra. Sofia de Melo! Nem uma atenção ao menos comigo, que vim da roça por sua causa unicamente! Recebe-me com agrado, e depois faz-me destas!

ROSINHA
Boa noite, Sr. Durval.

DURVAL
Não te vás assim; conversemos ainda um pedaço.

ROSINHA
Às onze horas e meia... interessante conversa!

DURVAL
(sentando-se)
Ora que tem isso? Não são horas que fazem a conversa interessante, mas os interlocutores.

ROSINHA
Ora tenha a bondade de não dirigir cumprimentos.

DURVAL
Mal sabes que tens as mãos, como as de uma patrícia romana; parecem calçadas de luva, se é que uma luva pode ter estas veias azuis como rajadas de mármore.

ROSINHA
(à parte)
Ah! Hein!

DURVAL
E esses olhos de Helena!

ROSINHA
Ora!

DURVAL
E estes bravos de Cleópatra!

ROSINHA
(à parte)
Bonito!

DURVAL
Apre! Queres que esgote a história?

ROSINHA
Oh! não!

DURVAL
Então por que se recolhe tão cedo a estrela d'alva?

ROSINHA
Não tenho outra coisa a fazer diante do sol.

DURVAL
Ainda um cumprimento! (vai à caixa de papelão) Olha cá. Sabes o que há aqui? um dominó.

ROSINHA
(aproximando-se)
Cor-de-rosa! Ora vista, há de ficar-lhe bem.

DURVAL
Dizia um célebre grego: dê-me pancadas, mas ouça-me! — Parodio aquele dito: — Ri, graceja, como quiseres, mas hás de escutar-me: (desdobrando o do minó) não achas bonito?

ROSINHA
(aproximando-se)
Oh! decerto!

DURVAL
Parece que foi feito para ti!... É da mesma altura. E como te há de ficar! Ora, experimenta!

ROSINHA
Obrigado.

DURVAL
Ora vamos! experimenta; não custa.

ROSINHA
Vá feito se é só para experimentar.

DURVAL
(vestindo-lhe o dominó)
Primeira manga.

ROSINHA
E segunda! (veste-o de todo)

DURVAL
Delicioso. Mira-te naquele espelho. (Rosinha obedece) Então!

ROSINHA
(passeando)
Fica-me bem?

DURVAL
(seguindo-a)
A matar! a matar! (à parte) A minha vingança começa, Sra. Sofia de melo! (a Rosinha) Estás esplêndida! Deixa dar-te um beijo?

ROSINHA
Tenha mão.

DURVAL
Isso agora é que não tem grata!

ROSINHA
Em que oceano de fitas e de sedas estou mergulhada! (dá meia-noite) Meia-noite!

DURVAL
Meia-noite!

ROSINHA
Vou tirar o dominó... é pena!

DURVAL
Qual tirá-lo! Fica com ele. (pega no chapéu e nas luvas)

ROSINHA
Não é possível.

DURVAL
Vamos ao baile mascarado.

ROSINHA
(à parte)
Enfim. (alto) Infelizmente não posso.

DURVAL
Não pode? e então por quê?

ROSINHA
É segredo.

DURVAL
Recusas? Não sabes o que é um baile. Vais ficar extasiada. E um mundo fantástico, ébrio, movediço, que corre, que salta, que ri, em um turbilhão de harmonias extravagantes!

ROSINHA
Não posso ir. (batem à porta) [à parte] É Bento.

DURVAL
Quem será?

ROSINHA
Não sei. (indo ao fundo) Quem bate?

BENTO
(fora com a voz contrafeita)
O hidalgo Don Alonso da Sylveira y Zorrilla y Guclines y Guatinara y Marouflas de la Vega !

DURVAL
(Assustado)
É um batalhão que temos à porta! A Espanha muda-se para cá?

ROSINHA
Caluda! Não sabe quem está ali? É um fidalgo da primeira nobreza de Espanha. Fala à rainha de chapéu na cabeça.

DURVAL
E que quer ele?

ROSINHA
A resposta daquele ramalhete.

DURVAL
(dando um pulo)
Ah! Foi ele...

ROSINHA
Silêncio!

BENTO
(fora)
É meia-noite. O baile vai começar.

ROSINHA
Espere um momento.

DURVAL
Que espere! Mando-o embora. (à parte) É um fidalgo!

ROSINHA
Mandá-lo embora? Pelo contrário; vou mudar de dominó e partir com ele.

DURVAL
Não, não; não faças isso!

BENTO
(fora)
É meio-noite e cinco minutos. Abre a porta a quem deve ser teu marido.

DURVAL
Teu marido!

ROSINHA
E então!

BENTO
Abre! abre!

DURVAL
É demais! Estás com o meu dominó... hás de ir comigo ao baile!

ROSINHA
Não é possível; não se trata a um fidalgo espanhol como a um cão. Devo ir com ele.

DURVAL
Não quero que vás.

ROSINHA
Hei de ir.(dispõe-se a tirar o dominó) Tome lá...

DURVAL
(impedindo-a)
Rosinha, ele é um espanhol, e além de espanhol, fidalgo. Repara que é uma dupla cruz com que tens de carregar.

ROSINHA
Qual cruz! E não se casa ele comigo?

DURVAL
Não caias nessa!

BENTO
(fora)
Meia-noite e dez minutos! então vem ou não vem?

ROSINHA
Lá vou. (a Durval) Vê como se impacienta! Tudo aquilo é amor!

DURVAL
(com explosão)
Amor! E se eu te desse em troca daquele amor castelhano, um amor brasileiro ardente e apaixona do? Sim, eu te amo, Rosinha; deixa esse espanhol tresloucado!

ROSINHA
Sr. Durval!

DURVAL
Então, decide!

ROSINHA
Não grite! Aquilo é mais forte do que um tigre de Bengala.

DURVAL
Deixa-o; eu matei as onças do Maranhão e já estou acostumado com esses animais. Então? Vamos! Eis-me a teus pés, ofereço-te a minha mão e a minha fortuna!

ROSINHA
(à parte)
Ah... (alto) Mas o fidalgo?

BENTO
(fora)
É meia-noite e doze minutos!

DURVAL
Manda-o embora, ou senão, espera. (levanta-se) Vou matá-lo; é o meio mais pronto.

ROSINHA
Não, não; evitemos a morte. Para não ver correr sangue, aceito a sua proposta.

DURVAL
(com regozijo)
Venci o castelhano! É um magnífico triunfo! Vem, minha bela; o baile nos espera!

ROSINHA
Vamos. Mas repare na enormidade do sacrifício.

DURVAL
Serás compensada, Rosinha. Que linda peça de entrada! (à parte) São dois os enganados — o fidalgo e Sofia (alto) Ah! ah! ah!

ROSINHA
(rindo também)
Ah! Ah! Ah! (à parte) Eis-me vingada!

DURVAL
Silêncio! (vão pé ante pela porta da esquerda. Sai Rosinha primeiro, e Durval, da soleira da porta para a porta do fundo, a rir às gargalhadas)

Cena última

BENTO
(abrindo a porta do fundo)
Ninguém mais! Desempenhei o meu papel: estou contente! Aquela subiu um degrau na sociedade. Deverei ficar assim? Alguma baronesa não me desdenharia decerto. Virei mais tarde. Por enquanto, vou abrir a portinhola. (vai a sair e cai o pano)

FIM

Fonte:
Teatro de Machado de Assis, org. de João Roberto Faria, São Paulo: Martins Fontes, 2003.