sábado, 27 de julho de 2024

A. A. de Assis (Jardim de Trovas) 51

 

Mensagem na Garrafa = 129 =


SILVANA DUBOC

Trem da vida

Há algum tempo atrás, li um livro que comparava a vida a uma viagem de trem. Uma leitura extremamente interessante, quando bem interpretada.

Isso mesmo, a vida não passa de uma viagem de trem, cheia de embarques e desembarques, alguns acidentes, surpresas agradáveis em alguns embarques e grandes tristezas em outros.

Quando nascemos, entramos nesse trem e nos deparamos com algumas pessoas que julgamos, estarão sempre nessa viagem conosco: nossos pais. Infelizmente, isso não é verdade; em alguma estação eles descerão e nos deixarão órfãos de seu carinho, amizade e companhia insubstituível... mas isso não impede que, durante a viagem, pessoas interessantes e que virão a ser super especiais para nós, embarquem.

Chegam nossos irmãos, amigos e amores maravilhosos.

Muitas pessoas tomam esse trem apenas a passeio. Outros encontrarão nessa viagem somente tristezas. Ainda outros circularão pelo trem, prontos a ajudar a quem precisa. Muitos descem e deixam saudades eternas, outros tantos passam por ele de uma forma que, quando desocupam seu acento, ninguém nem sequer percebe.

Curioso é constatar que alguns passageiros que nos são tão caros, acomodam-se em vagões diferentes dos nossos; portanto, somos obrigados a fazer esse trajeto separados deles, o que não impede, é claro, que durante o trajeto, atravessemos com grande dificuldade nosso vagão e cheguemos até eles... só que, infelizmente, jamais poderemos sentar ao seu lado, pois já terá alguém ocupando aquele lugar.

Não importa, é assim a viagem, cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperas, despedidas... porém, jamais, retornos. Façamos essa viagem, então, da melhor maneira possível, tentando nos relacionar bem com todos os passageiros, procurando, em cada um deles, o que tiverem de melhor, lembrando, sempre, que, em algum momento do trajeto, eles poderão fraquejar e, provavelmente, precisaremos entender porque nós também fraquejaremos muitas vezes e, com certeza, haverá alguém que nos entenderá.

O grande mistério, afinal, é que jamais saberemos em qual parada desceremos, muito menos nossos companheiros, nem mesmo aquele que está sentado ao nosso lado.

Eu fico pensando se quando descer desse trem sentirei saudades ... acredito que sim. Me separar de alguns amigos que fiz nele será, no mínimo dolorido. Deixar meus filhos continuarem a viagem sozinhos, com certeza será muito triste, mas me agarro na esperança que, em algum momento, estarei na estação principal e terei a grande emoção de vê-los chegar com uma bagagem que não tinham quando embarcaram... e o que vai me deixar feliz, será pensar que eu colaborei para que ela tenha crescido e se tornado valiosa.

Amigos, façamos com que a nossa estada, nesse trem, seja tranquila, que tenha valido a pena e que, quando chegar a hora de desembarcarmos, o nosso lugar vazio traga saudades e boas recordações para aqueles que prosseguirem a viagem.

Laé de Souza (Férias)

Finalmente chegaram e, como sempre, ficaram umas coisas para a última hora. Do carro  calibrou pneus, abasteceu, deu aquela caprichada no som, arrumou umas fitas novas do Zezé di Camargo & Luciano e, para não ser chamado mais uma vez de machista, uma antiga do Roberto para sua mulher. Só não deu para trocar as pastilhas, mas também em estrada quase não se usa freio, matutava. Das coisas de uso coletivo e individuais, a mulher se encarregara e com certeza, como de hábito, ficariam algumas no esquecimento.

Já tinha falado; "Vamos sair na madrugada e não quero atraso." Dito e feito. Lá pelas dez horas, já estavam descarregando as coisas na casa alugada na Praia Grande. A caixa de isopor com cerveja, o litro de 51 e o limão ficaram no carro, já de frente para a rua. Antes das onze, o Arisco (nome dado carinhosamente ao Gol) estava estacionado na areia, com porta-malas aberto para expandir mais o som. No abrir das portas, o guri de cinco anos correu para o mar sem dar a mínima para os gritos de pavor e raiva da mãe. Garibaldini, normalmente nervoso, e ainda mais com umas na cabeça, arrastou o moleque da água até a mãe pela orelha, fora os cocorotes na cabeça jogando-o aos pés dela e dizendo a ela que aprendesse a agir e ensinar com mais rigor em lugar de ficar aos gritos sem resultado prático. 

Um gorducho, sentado na areia, que estava se sentindo incomodado com aquele barulhão da música e agora com o choro do garoto, olhou feio. Um outro com dedo em riste, falou-lhe sobre o direito e estatuto da criança, ameaçando encanar o Garibaldini por infringir o artigo 5° da Lei 8.069/90. Coisa que logo passou, pois o fulano percebeu em pouco tempo que o moleque não era brincadeira e aprontava uma atrás da outra. Como ele mesmo disse tomando um gole da caipirinha: "É, seu Garibaldini, esse pra educar, vai ter que ser nos trancos mesmo." Sob reprovação no olhar da Dona Tidinha que se ensaboava com o bronzeador. 

Com o sol já se pondo, Garibaldini reclamava que a mulher quase não tinha ido na água e estava toda vermelha. Com certeza não ia aguentar até o fim das férias. E se era só para tomar sol, que ficassem na represa. 

Tidinha que sempre ficava na dela, mas tinha tomado uns goles de batida de abacaxi, respondeu que nem se compara o sol de água salgada com o de doce. E tinha outra: que ele maneirasse nas olhadelas para uma fulana deitada numa esteira em frente, senão ela ia aprontar uma boa, ainda mais altinha como estava.

Ao cabo de dez dias de praia, chegaram de viagem tarde da noite. No dia seguinte, no banco, Garibaldini, não bastasse o ardor das queimaduras, abria a boca de sono e preguiça e pensava; que férias são estas, que cansam mais e ainda deixam preocupações em cobrir cartão de crédito e estouro de conta. E reclamava para o colega ao lado: "Vida de bancário não está fácil não."

Fonte: Laé de Souza. Acredite se quiser. SP: Ecoarte, 2000. Enviado pelo autor.

Vereda da Poesia = 68 =


Trova Humorística de Porto Alegre/RS

IALMAR PIO SCHNEIDER

Quem come pizza demais,
pode saber, com certeza,
que os efeitos especiais
vão ser sua sobremesa.
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Poema de Lancram/Romênia

LUCIAN BLAGA
(1895 – 1961)

Aos leitores

Aqui é minha casa. Ali ficam o sol e o jardim com colmeias.
Vocês vêm pela trilha, olham da porta por entre as grades
e esperam que eu fale.  ... Por onde começar?
Creiam em mim, creiam em mim,
sobre seja o que for pode-se falar quanto se queira:
sobre o destino e sobre a serpente do bem,
sobre os arcanjos que lavram com o arado
os jardins do homem,
sobre o céu para onde crescemos,
sobre o ódio e a queda, tristezas e crucifixões 
e acima de tudo sobre a grande travessia.
Mas as palavras são as lágrimas de quem teria desejado
tanto chorar e não pôde.
São tão amargas as palavras todas,
por isso... deixem-me
passar mudo por entre vocês,
sair à rua de olhos fechados.

(tradução: Caetano Waldrigues Galindo)
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Aldravia de Osório/RS

MARILENE BORBA

Em
meus 
versos
líricos
nostálgica
saudade.
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Soneto de Salvador/ BA

RAYMUNDO DE SALLES BRASIL 

Árvore
 
Abrigas, sem vaidade, a tantos quantos,
vindos de lutas, buscam refrigério;
não cobras um real por serem tantos,
não usas esse sórdido critério.
 
Ao que sorri feliz, ao triste, ao sério,
dás, a todos, os mesmos acalantos…
és um delubro* puro e sem mistério,
templo das alegrias e dos prantos.
 
E ainda dás o fruto ao que tem fome,
sem sequer perguntar nem mesmo o nome
ao cansado e faminto repousante.
 
Oh! Árvore! tu és, não só um templo,
és, também, um belíssimo exemplo
de bondade – frondosa e verdejante! 
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* delubro = templo pagão
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Trova Premiada em Maranguape/CE, 2014

ANA MARIA NASCIMENTO 
(Aracoiaba/CE)

Quando o coração faz greve 
deficitário de amor, 
nenhum médico prescreve 
alivio para essa dor. 
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Poema de Manaus/AM

SILVIAH CARVALHO

O Silêncio da poesia

Quem pode encher as palavras de sustento?
Se no silêncio da alma há tão pouco alimento!
O vazio das respostas inibe as perguntas
Quando nem você é aquilo que vejo ou invento
 
Se posso criar minha paz viveria eu em guerra?
O silêncio desta pergunta ecoará no tempo
E não haverá resposta, pois isso se torna um delito
Já que, há aqueles que, não vivem sem seus conflitos
 
Onde errei quando decidi acertar?
Quando ao invés de só falar de amor resolvi amar
Saio do sonho, passo a viver a realidade
Entro na vida pra vivê-la em sua totalidade
 
Quem me dirá não tendo Deus dito Sim?
Agora que este vazio encheu-se de mim
Recolho do mundo meu sentimento
Minhas palavras, meu coração...
 
Deixo minha poesia vagando pelo ar?
Sim, buscando qualquer porto a ancorar
Descomprometida e responsável
A poesia tem em si, um todo razoável.
 
Quem eu gostaria que me amasse 
Senão aquele a quem amo?
Minha vida deixou de ser só e vazia
Voltarei para escrevê-la um dia...
 
 Vim apenas deixar,
 O meu silêncio nesta poesia...
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Trova Popular

Os olhos de meu benzinho
são joias que não se vendem,
são balas que me feriram,
são correntes que me prendem.
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Soneto de Belo Horizonte/MG

SÍLVIA ARAÚJO MOTTA

Aquela passagem perdida

Data perdida, tempo já passado!
Dinheiro não resgata voo, mas alerta;
o novo cheque pôs destino alado,
ao salvador da pátria, em mente aberta.

As horas passam, basta ver marcado
por certo ao centro ter poltrona certa;
ponteiros voltam, checam sinal dado,
razão à AM que vê desculpa incerta.

Trânsito em aços, transporte não anda!
Aeroporto cheio! Todos clamam!
Os passageiros cobram, mais demanda...

Vários eventos não serão mais feitos!
Aeromoças testam, nem reclamam:
– A gripe mata, mostra causa e efeitos.
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

ANIS MURAD
(1904 – 1962)

Há uma lâmpada encantada,
acesa no coração,
que tem a chama sagrada,
que se chama inspiração.
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Poema de Joinville/SC

ELSE SANT´ANNA BRUM

Independência

Do alto de uma colina
Espalhou-se aos quatro ventos
O brado de independência.
Independência menina
Deste Brasil que a amou.
Tornou-se a linda menina
A eterna companheira
Desta terra brasileira
Que seu povo fez crescer.
Quando há difíceis momentos
Vê-se o aceno da menina
Que do alto da colina
Faz o Brasil reviver.
Porque ser independente
É o grande e maior presente
Que um país pode ter.
Quando de setembro a aragem
Envolve aquela colina
Ouve-se, então, da menina,
Uma sublime mensagem:
- Brasil, o teu povo é forte,
Teu povo sempre venceu.
Entre "Independência ou Morte"
A Independência escolheu!
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Trova Humorística de Juiz de Fora/MG

VERA MARIA DE LIMA BASTOS

De remédios tem mania
a coroa Soledade.
Na farmácia, todo dia
pergunta: - "tem novidade"?
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Uma Dobradinha Poética* de Bandeirantes/PR

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI

Bendição

Em versos, sementes espalho;
meu solo é o papel, que aceita…
Entrego a Deus o trabalho
e espero pela colheita!…

Bendigo, aqui, a grandiosa obra de Deus:
o sol, a lua, estrelas – maravilhas.
Todo o ar da terra; a vida em jubileus;
montanhas, vales, rios, mares e ilhas!

Bendigo os homens – nobres e plebeus -
e os outros animais em suas trilhas;
todas as plantas que em seus apogeus
se reproduzem entre vastas milhas!

Da Natureza, assim, bendigo a lida,
com força ativa, segue destemida
a perpetuar a criação, perfeita.

Bendito o grão, que é dado a semear,
bendita a chuva, pois irá germinar…
Bendito o lavrador, pela colheita!
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* Dobradinha poética = inicia com uma trova e em seguida um soneto.
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Trova de São Fidélis/RJ

JOSÉ MOREIRA SOBRINHO

Abra um livro, leia, estude...
Não conte sempre com a sorte.
Siga em frente com atitude,
mostre ao mundo o quanto é forte...
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Spina de Francisco Beltrão/PR

RICHARD ZAJACZKOWSKI

Astro

Traçada na alma,
desenhada nas estrelas,
escrita no coração.

Nos holofotes da vida celestial,
repousam as glórias da esfera.
Mundo rotundo repleto de adoração.
Espíritos sequiosos de paz cordial,
mitigam anseios anímicos com afeição.
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Trova de São Paulo/SP

SOLANGE COLOMBARA

As inúmeras metades
que habitam meu coração,
às vezes gritam saudades,
noutras, choram de emoção.
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

WALDIR NEVES
(1924 – 2007)

Minha casa

Ela é um velho chalé de toques suburbanos.
Modesta, do portão à fachada singela,
nada existe invulgar, por fora ou dentro dela,
capaz de comover sicranos nem beltranos.

Mas é a mesma onde vi, já se vão tantos anos,
pela primeira vez abrir-se uma janela
aos raios matinais da ensolarada umbela,
sublime no esplendor dos halos soberanos.

No seu mesmo aconchego acolhedor de outrora,
intensamente eu vivo, em meu “aqui e agora”,
a paz familiar e as bênçãos da amizade.

Em saudade é comum que ela more na gente;
mas Deus me deu, estranha e afortunadamente,
a ventura maior de morar na Saudade...
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Trova Premiada em Natal/RN, 2005 

JOSÉ OUVERNEY 
(Pindamonhangaba/SP)

Meu filho, que Deus te ajude
e a tua fé te incentive
a plantar o que eu não pude
e a colher o que eu não tive!
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Poema de Lisboa/ Portugal 

AMÁLIA RODRIGUES
(Amália da Piedade Rodrigues)
1920/22 – 1999

Ó Gente da Minha Terra

É meu e vosso este fado
Destino que nos amarra
Por mais que seja negado
Às cordas de uma guitarra

Sempre que se ouve o gemido
De uma guitarra a cantar
Fica-se logo perdido
Com vontade de chorar

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi

E pareceria ternura
Se eu me deixasse embalar
Era maior a amargura
Menos triste o meu cantar

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi.
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Haicai de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

De pai para pai:
Caro colega Noel,
só quero carinho.
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Setilha de Porto Alegre/RS

GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Vemos com grande emoção:
se aproxima a primavera,
cheia de cor e beleza;
se vai a estação severa.
Nascem novas esperanças,
ansiosas como crianças...
Terminou a nossa espera!
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Trova de Taubaté/SP

JUDITE DE OLIVEIRA

Vendo o fogo que a devora
e toda a fauna enlutada,
a linda floresta chora,
antes de morrer queimada.
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Hino de Aquidauana/MS

Viva sempre esta terra idolatrada
Este belo torrão de Mato Grosso,
E as belezas sem fim deste colosso,
Da minha grande pátria sempre amada.

Viva sempre esta terra encantadora,
E o bom sonho de gênio altipotente,
Desta raça valente e vencedora,
Que um astro bem tirou do céu luzente.

Juntos cantemos, e alto proclamemos,
Quer aqui, quer também em toda parte,
A bravura, o trabalho, e o amor destarte,
Que, em folhas d'ouro sempre guardaremos.

Salve o Brasil, seus homens e sua história,
Que, tornando o sertão bendita terra,
Elevaram o país que tudo encerra,
Belezas naturais, grandeza e glória.

Honra e glória aos heroicos fundadores,
Desta linda Aquidauana fulgurante,
Graciosa filha do Brasil gigante,
Cheia de vida, repleta de esplendores.

Galante sob um céu risonho e azul,
Ela, a cidade, espelha-se num rio,
Que, em formosura, faz-lhe desafio,
Num calmo deslizar, de norte à sul.
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Aquidauana: Um Hino de Amor e Orgulho
O 'Hino de Aquidauana - MS' é uma celebração poética e musical da cidade de Aquidauana, localizada no estado de Mato Grosso do Sul. A letra exalta a beleza natural e a importância histórica da região, destacando o orgulho dos habitantes por sua terra natal. Desde o início, a música enaltece a 'terra idolatrada' e as 'belezas sem fim' do lugar, criando uma imagem de um paraíso natural que é parte integrante da grande pátria brasileira.

A canção também faz referência à bravura e ao trabalho dos habitantes de Aquidauana, descrevendo-os como uma 'raça valente e vencedora'. Essa descrição não só reforça o orgulho local, mas também conecta a cidade à história mais ampla do Brasil, celebrando os esforços e conquistas dos seus fundadores. A letra menciona a importância de preservar a memória e os feitos desses heróis, guardando-os 'em folhas d'ouro'.

Além disso, o hino presta homenagem ao Brasil como um todo, reconhecendo a contribuição de Aquidauana para a grandeza e glória do país. A cidade é descrita como uma 'graciosa filha do Brasil gigante', refletindo a sua beleza e vitalidade. A imagem final da cidade espelhando-se num rio sob um 'céu risonho e azul' encapsula a tranquilidade e a majestade natural de Aquidauana, reforçando a conexão íntima entre a cidade e seu ambiente natural.
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Poetrix de Ipiaú/BA

JUSSARA MIDLEJ

troca-se

O luar e a gente do sertão
Pelas chuvas e o verde
De outra região!
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Soneto de São Paulo/SP

DIVENEI BOSELI

Lucidez 

Se eu te disser que sou feliz agora,
nesse momento em que a razão cochila
e, na modorra, enxerga só a mochila
que carregavas quando foste embora;

que o meu rancor, agora, não destila
o fel que dentre estas paredes mora,
e que saudade alguma hoje devora
o coração que recobri de argila;

se eu te disser que a porta do meu quarto
por onde tu partiste foi o parto
da solidão que eu quis, sem dor, sem ira,

por hoje, podes crer, mas toma tento:
È falsa a lucidez do meu tormento
e tudo o que eu disser, hoje, é mentira!... 
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Trova de Curitiba/PR

VANDA ALVES DA SILVA

O trem, na sua partida,
leva o sonho... e por maldade,
volta trazendo escondida
a bandida da saudade!
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O rato caseiro e o rústico

Convida, uma vez, ratinho
Mui galante e cortesão,
Certo arganaz* montesinho
A sobras dum perdigão.

Em guedelhudo* tapete
Luzia o esplêndido talher.
São dois, mas valem por sete.
Que apetite! Que roer!

Foi folgança* regalada;
Nada inveja um tal festim.
Se não quando, na malhada*,
Pilha-os súbito motim.

Passos à porta da sala...
Param os nossos heróis.
E o terror, que pronto os cala,
Lança em pronta fuga os dois.

Foi-se a bulha*. Muito à mansa
Vêm-se chegando outra vez.
“Demos remate à folgança,
Diz o da corte ao montês.

— Nada. Mas vem tu comigo
Jantar amanhã; bem sei
Que lá me não gabo, amigo,
Desta vidinha de rei.

Mas ninguém me turba em meio
Do jantar; sobra o lazer.
Que pode aguar um receio,
E adeus. Figas ao prazer.”
(tradução: José de Sousa Monteiro)
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*Vocabulário: 
Arganaz = pequeno roedor parecido com esquilo.
Bulha = gritaria, desordem.
Folgança = folguedo, farra.
Guedelhudo = cabeludo.
Malhada = toca.

Fabiane Braga Lima (Ela se reconstruiu)

Todos os dias ela sonhava com ele. Ela tímida, nunca disse os seus verdadeiros sentimentos. Nem precisava ser perceptível o quanto ela queria. E a saudade era grande, mas fez com que ela caminhasse e pudesse se enxergar. Aliás viver de fantasia era exaustivo e inexato.

O tempo passou rápido e a saudade foi aumentando, também ela nunca se abriu com ele, seria tempo perdido. Certo dia, ela se olhou no espelho, olhou para dentro do seu interior e por fora, estava pálida. E por dentro indecifrável, não havia palavras para definir. Tudo que viveu, era um verdadeiro delírio. 

Bom! Acho que ela nunca quis a suposta paixão, queria mostrar somente a sua arte. Viver de arte. Mas com tanta mentira em sua volta, não havia outra esperança. Então, ela acordou para vida, com objetivos novos, e o mais resoluto de todos foi enxergar a mentira, na qual vivia.

Ninguém que seja lúcido engana- se por tanto tempo! E, o próprio tempo nos mostra. Não a conheci, mas admiro sua coragem de enfrentar seus demônios....! Enfim, viva a arte. A arte!

Fonte: Texto enviado por Samuel da Costa.

Recordando Velhas Canções (Retrato em branco e preto)


Compositores: Chico Buarque e Tom Jobim

Já conheço os passos dessa estrada
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cor
Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali sozinho
Eu vou ficar tanto pior
E o que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto e que, no entanto
Volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos tristes, velhos fatos
Que num álbum de retratos
Eu teimo em colecionar

Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer
Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever
Pra lhe dizer que isso é pecado
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado e você sabe a razão
Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração
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A Melancolia do Amor em 'Retrato Em Branco e Preto'
A música 'Retrato Em Branco e Preto', composta por Tom Jobim, é uma expressão lírica da melancolia e da resignação diante de um amor que persiste apesar da dor e da consciência de sua natureza infrutífera. A letra revela um eu-lírico que conhece bem o caminho do amor, suas dificuldades e armadilhas, mas que, mesmo assim, se vê incapaz de resistir ao encanto que esse amor exerce sobre ele.

A repetição dos 'passos dessa estrada' e o conhecimento dos 'segredos' e das 'pedras do caminho' sugerem uma relação amorosa que se repete em ciclos, onde o sofrimento é uma constante. A imagem do álbum de retratos serve como metáfora para as memórias que o eu-lírico insiste em guardar, mesmo sabendo que elas apenas reforçam a dor de um amor que parece condenado. A referência ao 'retrato em branco e preto' evoca uma sensação de algo antigo, imutável e desprovido de vida ou cor, simbolizando a estagnação emocional do protagonista.

A música também aborda a dificuldade de se libertar de um amor que já causou sofrimento, mas que ainda assim é objeto de desejo e inspiração para a poesia. O 'soneto' e o 'retrato em branco e preto' que o eu-lírico decide colecionar são representações desse amor que, apesar de tudo, continua a 'maltratar' seu coração. A canção é um retrato da complexidade dos sentimentos humanos, onde amor e dor coexistem e se entrelaçam de maneira inextricável.

Segundo sua irmã Helena, Tom Jobim compôs o tema “Zíngaro”, inspirado em um violinista cigano, que “na verdade era ele próprio, radicado naquele estranho mundo (os Estados Unidos) e sentindo saudade de seu país”.

Em 1965, a composição foi incluída no elepê A certain Mr. Jobim, gravado numa igreja transformada em estúdio, em Manhattan com a participação de um de seus arranjadores favoritos, o alemão Claus Ogerman.

O título “Retrato em Branco e Preto” surgiu depois, com a letra dramática de Chico Buarque, que trata de um amor desesperado (“Lá vou eu de novo como um tolo / procurar o desconsolo / que cansei de conhecer / novos dias tristes / noites claras / versos, cartas, minha cara / ainda volto a lhe escrever”).

Mais uma vez, Tom Jobim oferece uma lição de economia e inteligência. Os três primeiros compassos, criados sobre uma melodia de quatro notas vizinhas ré, dó sustenido, mi e dó natural — são idênticos, mas, com harmonizações diferentes. O intervalo inicial da canção, uma segunda menor, vai sendo ampliado e explorado de várias maneiras à medida que a melodia avança, aumentando a tensão, a dramaticidade, o que é muito bem aproveitado no poema do Chico.

Ritmicamente dos dezesseis compassos de “Retrato em Branco e Preto”, treze são absolutamente iguais, formados por oito colcheias. Tais observações podem primeira vista, levar à conclusão de que a canção é repetitiva e até pobre quando na realidade é exatamente o oposto, um tratado sobre o que possível fazer com um intervalo de duas notas. Tom Jobim sabia como ninguém partir de uma célula simples e enriquece-la ao máximo.

Em 1968, “Retrato em Branco e Preto” seria gravado pelo próprio Tom com o Quarteto 004. Esta foi a primeira de uma série de interpretações emocionantes como as de Chico Buarque, Elis e Tom, João Gilberto (em três registros diferentes) e a do trompetista Chet Baker, que em gravação filmada para o documentário “Let’s Get Lost”, feita pouco antes de sua morte, realizou num improviso comovente um autêntico hino de amor a Jobim (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).