sábado, 15 de fevereiro de 2025

José Feldman (Guirlanda de Versos) * 19 *

 

S. Weir Mitchell (Um dilema)

Eu tinha apenas trinta e sete anos quando meu tio Philip morreu. Uma semana antes desse evento ele mandou me chamar; e aqui deixe-me dizer que nunca lhe tinha posto os olhos. Odiava a minha mãe, mas não sei porquê. Ela me contou muito antes de sua última doença que não preciso esperar nada do irmão do meu pai. Ele era um inventor, um engenheiro mecânico capaz e engenhoso e ganhou muito dinheiro com sua melhoria nas rodas das turbinas. Ele era solteiro; morava sozinho, preparava suas próprias refeições e pedras preciosas coletadas, especialmente rubis e pérolas. Desde quando ganhou seu primeiro dinheiro, ele teve essa mania. Como ele enriqueceu-se, possuiu o desejo de possuir joias raras e caras mais e mais. Quando comprou uma pedra nova, carregou-a em seu bolso por um mês e de vez em quando tirava e olhava para ele. Em seguida, foi adicionado à coleção em seu cofre na empresa fiduciária.

Na época em que ele me mandou chamar, eu era escriturário e era pobre o suficiente. Relembrando as palavras da minha mãe, a mensagem dele me deu, sendo ele único parente, sem novas esperanças, mas achei melhor ir.

Quando me sentei ao lado de sua cama, ele começou, com um sorriso malicioso:

“Suponho que você me ache estranho. Eu vou explicar.” O que ele disse que certamente era estranho o suficiente. “Eu tenho vivido com uma renda anual na qual coloquei minha fortuna. Ou seja, eu tenho sido, quanto ao dinheiro, metade concêntrica da minha vida para me capacitar ser tão excêntrico quanto quis o resto. Agora eu arrependo-me de minha maldade para com todos vocês e desejo viver na memória de pelo menos um da minha família. Você acha que eu sou pobre e tenho apenas minha renda anual. Você ficará lucrativamente surpreso. Nunca me separei das minhas pedras preciosas; eles serão suas. És o meu único herdeiro. Levarei comigo para o outro mundo a satisfação de fazer um homem feliz.

“Sem dúvida você sempre teve expectativas, e eu desejo que você deva continuar a esperar. Minhas joias são o meu seguro. Não sobrou mais nada.”

Quando agradeci, ele sorriu em todo o seu rosto magro, e disse:

“Você terá que pagar pelo meu funeral.”

Devo dizer que nunca ansiava por qualquer despesa com mais prazer do que com o que me custaria colocar ele na terra. Quando me levantei para ir, ele disse:

“Os rubis são valiosos. Eles estão no meu cofre na empresa fiduciária. Antes de desbloquear a caixa, tenha muito cuidado ao ler uma carta que esteja em cima dela, e certifique-se de não fazê-lo agitando a caixa.” Eu pensei que isso fosse estranho. “Não force. Não vai apressar as coisas.”

Ele morreu naquela semana e foi lindamente enterrado. Um dia depois, seu testamento foi encontrado, deixando-me seu herdeiro. Eu abri seu cofre, não encontrei nele nada além de uma caixa de ferro, evidentemente de sua própria autoria, pois ele era um trabalhador habilidoso e muito engenhoso. A caixa era pesada e forte, cerca de dez polegadas de comprimento, 20 centímetros de largura e 20 centímetros de altura. Nele estava um carta para mim. Estava escrito assim:

“Querido Tom: Esta caixa contém um grande número de rubis finos de sangue de pombo e muitos diamantes; um é azul — a beleza. Existem centenas de pérolas únicas, as famosas pérolas verdes e um colar de pérolas azuis, para os quais qualquer mulher venderia sua alma —ou seus afetos.” Pensei em Susana. “Desejo que você continue tendo expectativas e continuamente para lembrar seu querido tio. Eu teria deixado essas pedras para alguma caridade, mas odeio tanto os pobres como odeio muito mais o filho da sua mãe — sim.

“A caixa contém um mecanismo interessante, que irá com certeza ao desbloqueá-lo e explodir dez onças do meu dinamite — melhorado e supersensível, para ser preciso, são apenas nove onças e meia. Duvida de mim, e abre isso, e você será transformado em átomos. Acredite em mim, e em você continuará a nutrir expectativas que nunca serão cumpridas. Como homem atencioso, aconselho extremo cuidado manuseando a caixa. Não se esqueça do seu carinhoso 
Tio.”

Fiquei chocado, com a chave na mão. Era verdade? Era mentira? Eu tinha gasto todas as minhas economias no funeral, e estava mais pobre do que nunca.

Lembrando a estranheza do velho, sua malícia, sua esperteza nas artes mecânicas, e o explosivo patenteado que tinha ajudado a torná-lo rico, comecei a sentir como isso era muito provável que ele havia dito a verdade nesta carta cruel.

Levei a caixa de ferro para meu alojamento e a coloquei no chão com cuidado em um armário, coloquei uma chave nele e tranquei o armário.

Então sentei-me, ainda esperançoso, e comecei a engendrar a minha engenhosidade nas formas de abrir a caixa sem ser morto. Devia haver uma maneira.

Depois de uma semana de pensamentos vãos, um dia pensei em mim, que seria fácil explodir a caixa desbloqueando-a à distância segura, e arranjei um plano com fios, que parecia como se respondesse. Mas quando refleti sobre o que faria acontecer quando a dinamite espalhasse os rubis, eu sabia que eu não deveria ser mais rico. Durante horas seguidas sentei-me olhando para aquela caixa e manuseando a chave.

Finalmente pendurei a chave no meu guarda-relógio, mas então ocorreu-me que poderia ser perdido ou roubado. Temendo isso, eu escondi, com medo de que alguém pudesse usá-lo para abrir a caixa. Esse estado de dúvida e medo durou semanas, até que me tornei nervoso e comecei a temer que algum acidente pudesse acontecer com aquela caixa. Um ladrão pode vir e carregá-lo corajosamente e forçá-lo a abrir e descubra que foi uma fraude perversa do meu tio. Até mesmo o estrondo e a vibração causados pelos carros pesados na rua se tornou um terror.

Pior de tudo, meu salário foi reduzido, e eu vi que aquele casamento estava fora de questão.

No meu desespero consultei o Professor Clinch sobre o meu dilema e quanto a alguma maneira segura de chegar aos rubis. Ele disse que, se meu tio não tivesse mentido, não havia ninguém que não estragaria as pedras, especialmente as pérolas, mas sim foi uma história boba e totalmente incrível. Ofereci-lhe o maior rubi, se quisesse testar sua opinião. Ele não desejou fazê-lo.

Dr. Schaff, médico do meu tio, acreditou na carta do velho, e acrescentou uma cautela, que foi totalmente inútil, por isso tinha hora em que eu tinha medo de estar na sala com aquela caixa terrível.

Por fim, o médico gentilmente me avisou que eu estava em perigo de perder a cabeça pensando demais nos meus rubis. Na verdade, não fiz mais nada além de inventar planos selvagens para chegar a eles com segurança. Passei todas as minhas horas livres em uma das grandes bibliotecas lendo sobre dinamite. Na verdade, falei sobre isso até os atendentes da biblioteca, acreditando que sou um lunático ou um dinamitador, recusaram-se a me agradar e falaram com a polícia. Suspeito que por um tempo fui taxado como suspeito, e possivelmente criminoso. Desisti das bibliotecas e, ficando cada vez mais temeroso, coloquei minha preciosa caixa num embaixo de um travesseiro, por medo de ser sacudido; pensando nisso, até a possibilidade absurda de ser perturbado por um terremoto me perturbou. Tentei calcular o montante de tremor necessário para explodir minha caixa.

O velho médico, quando o vi novamente, implorou-me que parasse tudo, pensou no assunto e, como senti, quão completamente eu era escravo de uma ideia despótica, tentei aceitar o bom conselho assim me dado.

Infelizmente, encontrei, logo depois, entre as folhas da Bíblia do tio, uma lista numerada das pedras com o seu custo ao lado. Estava datado dois anos antes da morte dele. Muitas das pedras eram bem conhecidas e seu valor enorme me surpreendeu.

Vários dos rubis foram descritos com cuidado e histórias curiosas deles foram fornecidas em detalhes. Dizia-se que um era o famoso “Sunset ruby,” que pertenceu à Imperatriz-Rainha Maria Teresa. Um deles foi chamado de “Blood ruby,” não, como foi explicado, por causa da cor, mas por conta dos assassinatos que ocasionou. Agora, enquanto leio, isso parecia novamente ameaçar a morte.

As pérolas foram descritas com cuidado como uma coleção inigualável. Em relação a dois deles, meu tio escreveu o quê eu poderia chamar as biografias delas — pois, na verdade, elas pareciam ter feito muito mal e algum bem. Uma, uma pérola negra, foi mencionada em uma antiga nota fiscal como “She”— o que parecia estranho para mim.

Foi enlouquecedor. Aqui, guardado por uma visão repentina mortal, era riqueza “além dos sonhos de avareza.” Eu não sou um homem inteligente ou engenhoso; Eu sei pouco além de como manter um livro-razão, e então eu era, e sou, sem dúvida, absurdas muitas das minhas noções sobre como resolver esse enigma.

Certa vez pensei em encontrar um homem que aceitasse o risco de desbloquear a caixa, mas que direito eu tinha de sujeitar mais alguém ao julgamento que não ousei enfrentar? Eu poderia facilmente largar a caixa de uma altura em algum lugar, e se ela não explodisse poderia então desbloqueá-la com segurança; mas se explodisse quando caísse, adeus aos meus rubis. Meu, de fato! Eu era rico, e eu não estava. Fiquei magro e mórbido, e tão miserável que, sendo um bom católico, finalmente levei meus problemas para um padre confessor. Ele achou isso simplesmente uma brincadeira cruel da parte do meu tio, mas não estava tão ansioso por outro mundo a ponto de estar disposto a abrir a minha caixa. Ele também me aconselhou a parar de pensar sobre isso. Céus! Sonhei com isso. Não para pensar sobre isso era impossível. Nem meu próprio pensamento, nem ciência, nem a religião, foi capaz de me ajudar.

Dois anos se passaram e eu sou um dos homens mais ricos na cidade, e não tenho mais dinheiro que me manterá vivo.

Susan disse que eu estava meio maluco como o tio Philip e rompi o noivado com ela. Em meu desespero anunciei no “Journal of Science,” e tiveram esquemas absurdos me enviados às dúzias. Por fim, como falei muito sobre isso, a coisa ficou tão conhecida, que coloquei o horror em um cofre, no banco, Eu estava prontamente desejando retirá-lo. Tinha medo constante de ladrões e minha senhoria me deu aviso para sair, porque ninguém ficaria em casa com aquela caixa. Agora sou aconselhado a imprimir minha história e aguardar conselhos da engenhosidade da mente americana.

Mudei-me para os subúrbios e escondi a caixa e mudei meu nome e minha ocupação. Isto fiz para escapar da curiosidade dos repórteres. Eu deveria dizer isso quando o funcionários do governo souberam da minha herança, eles mesmos razoavelmente desejando cobrar o imposto sucessório sobre a propriedade do meu tio.

Fiquei encantado em ajudá-los. Contei a minha história a um colecionador, e mostrei-lhe a carta do tio Philip. Então ofereci-lhe a chave, e pediu tempo para chegar a meia milha de distância. Isso o homem disse que iria pensar bem e voltar mais tarde.

Isto é tudo o que tenho a dizer. Fiz um testamento e deixei os meu rubis e pérolas para a Sociedade para a Prevenção da Vivissecção Humana. Se algum homem pensa que este relato é uma piada ou uma invenção, deixe-o imaginar friamente a situação:

Dada uma caixa de ferro, conhecida por conter riqueza, que supostamente contém dinamite, disposta para explodir quando a chave puder desbloqueá-lo — o que qualquer homem são faria? O que ele aconselharia?
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SILAS WEIR MITCHELL (1829–1914) médico pioneiro em doenças nervosas e um autor de sucesso. Mitchell começou sua carreira médica pesquisando veneno de cascavel. Com a eclosão da Guerra Civil, ele mudou de foco, começando a trabalhar como cirurgião contratado no Turner's Lane Hospital da Filadélfia, especializado em doenças nervosas. Mitchell também desenvolveu um tratamento para os diagnósticos para neurastenia (exaustão física e mental) e histeria. Além de sua pesquisa médica e prática privada, Mitchell também fez carreira como autor. Publicou vários contos, 19 romances, uma biografia de George Washington e 7 livros de poesia.

Fonte:
Modern Short Stories: A Book for High Schools. New York: The century Co., 1921. (traduzido do inglês por GP Dell’Orso). Disponível em Domínio Público. 
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Vereda da Poesia = 216


Trova de
DIAMANTINO FERRREIRA
Campos dos Goytacazes/RJ

Escrevem tanta besteira!
Parem com isso, de vez!
Pois quem des…fralda  bandeira
de… frauda   o  bom  português!…
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Soneto de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009

PROFISSÃO DE FÉ

Meu verso quero enxuto mas sonoro
levando na cantiga essa alegria
colhida no compasso que decoro
com pés de vento soltos na harmonia.

Na dança das palavras me enamoro
prossigo passional na melodia
amante da metáfora em meus poros
já vou vagando em vasta arritmia .

No voo aliterado sigo o rumo
dos mares mais remotos navegados
e em faias de catraias me consumo.

É meu rito subscrito e bem firmado
sem o temor do velho e seu resumo
num eterno retorno renovado.
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Trova de
WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR

O tempo mostrou com calma,
que apesar dos seus desvelos,
não pôde polir minha alma
sem respingar meus cabelos.
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Poema de
LYGIA MENEZES
Maceió/AL (1913 – ????)

CONSOLO

Jamais chores, mulher, jamais lamentes
a dor profunda que te punge a alma.
Não digas a ninguém o mal que sentes,
sofres em silencio e tua dor se acalma.

Nas horas longas de tormento infindo
não te deixes vencer. Mulher, canta,
disfarça sempre a tua dor sorrindo
e finge que o tormento não te espanta.

Jamais recues no meio da jornada,
prossegue até o fim do teu caminho.
— Para colher a rosa aveludada,
a mão às vezes fere-se no espinho.
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Trova de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN (1876 – 1901) Natal/RN

A morte não vence a vida,
por muito que a desarrume.
Tomba a rosa fenecida,
o céu recolhe o perfume.
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

QUIS O TEMPO QUE NESTE TEMPO ESPERE
(Joaquim Sustelo, in "No Silêncio do Tempo", p. 74)

Quis o tempo que neste tempo espere
Lento, o correr das horas e dos dias
E o vento vai ditando as profecias
Com que o tempo o meu peito sangra e fere.

Por muito que eu estime e considere
O saber que em teu seio me trazias
Eu noto que também tu me escondias
O limbo que a vil morte nos confere.

Passa em mim sem causar ruína ou dano
Faz do meu ser um templo mais humano
Liberto de dor, mal, culpa ou pecado.

Estarei aqui pronto a receber
A vida que me queiras conceder
Cumprindo humildemente esse meu fado.
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Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Os erros que fiz na vida
quero apagar sem alarde
mas, a consciência revida
e, aos brados, me diz: é tarde!
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Poema de
LAÉRCIO BORSATO
Poços de Caldas/MG

COMO UM PÁSSARO

Desperta! Como pássaro vá àquele monte
E sinta a fragrância disposta nos ares;
Vislumbra encostas e a imensidão dos mares:
Vê raiar a aurora, na fímbria do horizonte!

Dessas maravilhas me fale, me conte.
Traga no olhar, quando um dia voltares,
A total independência de teus cismares:
Andando descalça, bebendo da fonte.

Conte- me, gesticule grite e entusiasme,
Com tal euforia, que a ouvi-la me pasme,
Ao ver reflorir total deslumbramento...

Porque assim me farás contente e feliz!
Fazê-la feliz é tudo o que sempre quis:
Ai estará o limiar de meu contentamento!
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Trova de 
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

No viver o que mais cansa 
são estas andanças vãs, 
correndo atrás da esperança 
e perseguindo amanhãs.
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Soneto de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

SEM FRONTEIRAS 

Viajo com as nuvens. Sou poeta. 
Gosto de dar vazão ao pensamento. 
Sou capaz de chegar ao firmamento 
e voltar para a terra como atleta. 

Na terra, pego a minha bicicleta, 
vou pedalando mesmo contra o vento, 
enquanto os versos nascem no acalento 
de uma paixão suave e não secreta. 

Não há fronteiras, pois o amor é brando, 
poetas são assim, vivem sonhando 
com um mundo feliz e mais humano. 

Não importa se a vida é muito breve, 
o amor é intenso e o fardo fica leve 
quando o perdão se torna soberano.
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Trova de
CHICO MOTA
Caicó/RN

Nem que venha uma avalancha
por um raio abrasador,
nada no mundo desmancha
o nosso ninho de amor.
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Limerique de
NILTON MANOEL
Ribeirão Preto/SP, 1945 – 2024

LIMERIQUES URBANOS III

Professor, é com letra de mão?
Sim! cursiva nesta lição.
Quem escreve de pé
tendo no aluno fé,
é professor de profissão.
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Poema de
TERESINKA PEREIRA
Ohio/Estados Unidos

O MESMO DE SEMPRE

Pouco posso ver
debruçada na janela
que é a minha plataforma
para vigiar o mundo.
Mais que tudo, vejo as árvores
que tapam os edifícios em frente.
Não conheço meus vizinhos,
mas sei das horas que saem
e regressam de seus trabalhos
em seus carros sempre novos.
Minha vida continua
sem mudanças, porque
desejo esta simplicidade.
O futuro e' uma mistificação
do caminho pelo qual
temos que passar
para seguir vivendo.
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Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Lá se vão os retirantes!
Deixam seus campos... seus bois...
- O coração morre antes!
- O corpo morre depois... 
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Hino de 
ESPLANADA/ BA

Oh Esplanada que alegria!
O mundo reconhece seu valor
A mais querida da Bahia
Um povo cheio de amor

Oh Esplanada que alegria!
Cantar em versos seu esplendor
Terra tão linda e abençoada
Pelo Cristo Redentor

Cedinho depois das estrelas
Antes do Sol nascer
Esplanada com seu povo se levanta e canta
Fazendo o futuro acontecer

Canta, canta Esplanada, canta
Que a alegria e
A esperança é tanta
Todo mundo vem te admirar

A beleza das lagoas
Suas praias, o seu mar,
O teu clima tão gostoso
Faz o teu povo cantar!

Eu amo Esplanada, eu amo Esplanada
Esplanada minha vida, meu amor
Eu amo Esplanada, eu amo Esplanada
Abençoada pelo Cristo Redentor

Eu amo Esplanada, eu amo Esplanada
Abençoada pelo Cristo Redentor
Eu amo Esplanada, eu amo Esplanada
A minha terra, a minha vida, meu amor!

No brilho do Sol
Apitava o trem
Trazendo os Capuchinhos
pra fazer o bem (2x)

O teu solo generoso
Tudo que se planta dá
Pecuária, agricultura
Tem lavoura, tem fartura,
Tem petróleo a jorrar

Cantarei seu nome
Aonde quer que eu vá
Esplanada minha terra
Sempre, sempre irei te amar.

Eu amo Esplanada, eu amo Esplanada
Esplanada minha vida, meu amor
Eu amo Esplanada, eu amo Esplanada
Abençoada pelo Cristo Redentor

Eu amo Esplanada, eu amo Esplanada
Abençoada pelo Cristo Redentor
Eu amo Esplanada, eu amo Esplanada
A minha terra, a minha vida, meu amor! 
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

SER POETA

Poeta chora ou ri durante a vida,
sempre buscando amor e sentimentos
que o levem a viver sem ter lamentos,
e num certo  momento se divida.

Ser poeta é lidar com atrevimentos
e tornar esta vida enternecida...
É tornar-se o pastor e dar guarida
às almas tão carentes de argumentos.

Na jornada mantém o bom humor,
transformando em beleza seus momentos...
Mesmo nos tristes acrescenta o amor.

Ser poeta é trazer a boa nova
libertada de todos os tormentos.
Para integrar-se ao mundo se renova.
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Trova de
CLARINDO BATISTA
Natal/RN

O contraste que amargura
a maioria indefesa
é uns, com tanta fartura,
e tantos sem pão na mesa!
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Lengalenga de Portugal
O BENTO
  
 Lengalenga inerente aos jogos de “o mestre manda”, em que uns têm de seguir tudo o que o mestre mandar fazer.
   
- Bento que bento é o frade!
- Frade!
- Na boca do forno!
- Forno!
- Cozinhando um bolo!
- Bolo!
- Fareis tudo o que o mestre mandar?
- Faremos todos!
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Trova Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Amarelo – desespero
encarnado – linda cor;
seja falso quem quiser
serei firme ao meu amor.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

CHUVA DE SAUDADE

O barulhinho da chuva,
Deslizando no telhado
Deságua em versos
Tece um poema de amor,
Saudade que cintila,
Quando a lágrima
Escapa e deixa
A janela entreaberta...
Apaga-se o incenso.
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Trova de
ÁLVARO POSSELT
Curitiba/PR

O pássaro canta doce
um chorinho de viola
mas eu queria que fosse
fora de sua gaiola.
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Lima Barreto (O desconto)

Como foi contado, o khanato de Al-Bandeirah, depois de arrotar muita farofa, que fazia e acontecia, acabou por comprar a não invasão das tropas de Abu-al-Dhudut por bom dinheiro.

Essa província de Al-Bandeirah, como se sabe já, é governada por vários magnatas e algumas famílias, entre aqueles conta-se o sidi Cinsin-ben-Nhato que é, a bem dizer, o general da oligarquia do khanato.

Ele, quando os tais cultivadores de tâmaras gastam à vontade e ficam encalacrados, corre ao sultão e diz cheio de choro e lábia:

— Majestade; os cultivadores de tâmaras estão morrendo à fome; o produto da venda não paga as despesas que dá o seu cultivo; os grandes empregam toda a sua fortuna para que ele baixe.

Aí ele faz uma pausa e continua alteando a voz:

]— É preciso que Vossa Majestade vá ao encontro das necessidades dessa pobre gente que tanto concorre para a grandeza do reino que é de Vossa Majestade.

— Mas como, sidi?

— Como? Dando-lhes dinheiro, Majestade.

— Não tenho. O meu tesouro está esgotado.

— Majestade: o poder de Vossa Majestade é grande e há um meio.

— Qual?

— Vossa Majestade decrete um imposto sobre os mendigos do reino, que haverá dinheiro para socorrer os miseráveis cultivadores de tâmaras.

Os sultões todos lhe fazem a vontade e os de Al-Bandeirah se blasonam de ricos e trabalhadores.

Há outros casos que hei de contar-lhes, mas agora quero lembrar um muito típico.

Os tais de Al-Bandeirah tinham, como já foi narrado, comprado um príncipe irmão de Abu-al-Dhudut, para que este não invadisse com as suas tropas o khanato.

O príncipe, que era seguro, foi em pessoa buscar o preço do negócio.

Trotou várias e muitas léguas em camelo e chegou à capital da província ex-semirrebelde.

Falou ao khan e este mandou ordem ao seu tesoureiro, para que lhe pagassem 350 mil piastras.

O irmão de Abu foi logo à presença do funcionário, que lhe disse:

— Príncipe: Vossa Alteza poderá ir para o palácio de Vossa Alteza que o dinheiro irá lá ter.

De fato, assim foi e um empregado do tesouro lá chegou com os sacos de ouro.

Esperou este que o príncipe contasse o dinheiro. Acabou e exclamou furioso: — Mas faltam trinta e cinco mil piastras.

— Príncipe: é a minha porcentagem. Dez por cento. 

O irmão de Abu calou-se.
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AFONSO HENRIQUES DE LIMA BARRETO nasceu em 1881, na cidade do Rio de Janeiro. Era negro e de família pobre. Sua mãe era professora primária e morreu de tuberculose quando Lima Barreto tinha 6 anos. Seu pai era tipógrafo, porém sofria de doença mental. Mas tinha um padrinho com posses – o Visconde de Ouro Preto (1836-1912) –, o que permitiu que o escritor estudasse no Colégio Pedro II. Depois, ingressou na Escola Politécnica, mas não concluiu o curso de Engenharia, pois precisava trabalhar. Em 1903, fez concurso e foi aprovado para atuar junto à Diretoria do Expediente da Secretaria da Guerra. Assim, concomitantemente ao trabalho como funcionário público, escrevia os seus textos literários.  Em 1905, trabalhou como jornalista no Correio da Manhã. Lançou, em 1907, a revista Floreal. Em 1909, o seu primeiro romance foi editado em Portugal: Recordações do escrivão Isaías Caminha. O romance Triste fim de Policarpo Quaresma foi publicado, pela primeira vez, em 1911, no Jornal do Comércio, em forma de folhetim. Em 1914, Lima Barreto foi internado em um hospital psiquiátrico pela primeira vez. Se candidatou três vezes a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, recebeu dela, apenas uma menção honrosa em 1921. Morreu em 1922.

Fontes:
Lima Barreto. Histórias e sonhos: Contos argelinos. 2. ed. 1951. Disponível em Domínio Público.  
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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Erigutemberg Meneses (Cascata de versos) 11


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JOSÉ ERIGUTEMBERG MENESES DE LIMA nasceu em Fortaleza/CE, radicou-se em Blumenau/SC. Advogado aposentado do Banco do Brasil, com graduação em Ciências Econômicas e Direito pela FURB - Fundação Universidade Regional de Blumenau, dedica-se às letras, escrevendo prosa na forma de crônicas, contos, ensaios, textos jurídicos e poesia, especialmente, sonetos. Publicou "Raptos Líricos" - Sonetos, 2005; Portas da Solidão pela Fundação Cultural de Blumenau, 1996. 

A. A. de Assis (O passado foi ontem)

Rua do Café, onde a moçada fazia o footing* nas noites de sábados e domingos

Deu-se há um tempão bem grande o anteontem do mundo – um monte de milhões de anos. Mas o ontem aconteceu há pouquinhas décadas, um século no máximo, quase assim “que nem que eu”, que nasci quando as coisas estavam apenas começando a mudar para o futuro.

Em 1940 eu menino estudava no Grupo Escolar Barão de Macaúbas, em São Fidélis-RJ. A humanidade vivia então o drama da Segunda Guerra Mundial. No Brasil vigorava a ditadura de Getúlio Vargas. Televisão era ainda um sonho. O rádio já falava e cantava, mas com chiados e um barulhinho chamado “estática”. A música era romântica: valsa, bolero, samba canção. Os pares dançavam com os rostos colados. Telefone, daqueles de manivela, era um luxo só de rico. Geladeira também. O trem era o maria-fumaça. O ônibus era daqueles de focinho com bagageiro no teto.

Havia em nossa cidadinha somente uma rua calçada, a Rua do Café, onde a moçada fazia o footing nas noites de sábados e domingos. Os rapazes ficavam em pé de um lado e do outro da rua, enquanto as garotas passavam pra lá e pra cá, de braços dados. No mês da festa do padroeiro o footing mudava para a praça em frente à igreja, em meio às barraquinhas e maxambombas.

O “veículo” mais comum era o cavalo. Umas poucas pessoas tinham charretes; outras, mais raras, tinham bicicletas. Automóveis, só dois, que funcionavam como “carros de aluguel” – o do Orbílio (um pé-de-bode daqueles com capota de lona) e o do Theodoro (um estiloso sedanzinho preto).

Aí um fato novo se deu quebrando a rotina. Um jovem e arrojado comerciante, Zito Simão, foi ao Rio de Janeiro e comprou um carrão V-8. Por falta de estradas rodáveis para o interior, ele despachou o veículo de trem. No dia da chegada, a estação lotou de gente atraída pela emoção de receber o primeiro automóvel de luxo da pacata urbe. Zito estava lá, de terno branco e gravata borboleta, pronto para pilotar o possante sob os aplausos dos conterrâneos.

Parece coisa de outroríssimas eras. Mas foi “ontem” sim. Faz só 80 anos.

 (Crônica publicada na edição de hoje do Jornal do Povo)
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* footing = local numa cidade onde se faz passeio, especialmente com objetivo de arranjar namorado(a).
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Antonio Augusto de Assis (A. A. DE ASSIS), poeta, trovador, haicaísta, cronista, premiadíssimo em centenas de concursos nasceu em São Fidélis/RJ, em 1933. Radicou-se em Maringá/PR desde 1955. Lecionou no Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá, aposentado. Foi jornalista, diretor dos jornais “Tribuna de Maringá”, “Folha do Norte do Paraná” e das revistas “Novo Paraná” (NP) e “Aqui”. Algumas publicações: Robson (poemas); Itinerário (poemas); Coleção Cadernos de A. A. de Assis – 10 vol. (crônicas, ensaios e poemas); Poêmica (poemas); Caderno de trovas; Tábua de trovas; A. A. de Assis – vida, verso e prosa (autobiografia e textos diversos). Em e-books: Triversos travessos (poesia); Novos triversos (poesia); Microcrônicas (textos curtos); A província do Guairá (história), etc.

Fontes:
https://angelorigon.com.br/2024/12/05/o-passado-foi-ontem/
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Renato Frata (Em uma tarde de outono)

Na languidez de um olhar ao poente em uma tarde de outono, como se perdido na imensidão, fundem-se as cores da saudade e nessa introspecção silenciosa a noite, de manso, acolhe para si as inspirações para bordá-las com agulhas de tricô em movimentos constantes e medidos. 

Usa o esgarçado de nuvens que o vento raleou para juntá-las aqui e ali e vai cosendo como a um véu que a cobrirá em pétalas de bons pensamentos, de bons sentimentos que o olhar saudoso carrega em si; e não há maior sinceridade que nesse instante, eis que desprovido de outro sentimento que não o amor.

Produto da lembrança, a saudade revive apenas o aprazível na mais perfeita simbiose entre o querido, o lembrado e o vivido; e consegue nele colocar de volta na mesma intensidade o sabor que se sentiu, o olor que se absorveu, a sensação que se marcou indelével e que embora invisível, se perpetua no tempo haja quantos lembrares se possa ter.

Sentimento que enlaça a ausência em abraço apertado ao fazer dela a um só tempo escudo como arma de defesa, e corpo estranho a incomodar como a de ataque. Ele nos impele a querer de novo e de novo o momento saudoso movido por um suave desejo de reproduzir à distância o que se experimentou na presença. 

Por isso sonhamos de olhos abertos, parados, absortos, vagueantes e extasiados.

É desejo impossível, claro o de reviver momentos, por isso, apesar de gratificante, a saudade consegue machucar. É como tentar atrasar voltando o ponteiro do tempo, esse que uniu urdindo no seu emaranhado a teia de nossos sentimentos e, por si, nesse alinhavo, promoveu a passagem do momento produtor da saudade lembrada.

Nesse aspecto, o tempo é ingrato e não pensa, não possui memória e nem lembrança. Na sua constância – que os homens medem por segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, séculos, eras - ele segue sem qualquer objeção nas dimensões do universo. Nós, com o nosso sentimento é que lhe damos a conotação de rapidez e de demora, o chamado ‘espaço-tempo’ na tentativa de demonstrar que são indissociáveis quando os ligamos a um acontecimento que nos faz feliz, ao tempo que coloca em nossa mente o desejo de quero mais.

Por que nessa receita há uma tarde de outono e não de qualquer outra estação do ano? Serão elas menos apropriadas ao bom sentimento saudade? Creio que não, mesmo porque a saudade não possui folhinha e nem parede onde possa ser pregada a se despetalar a cada dia. 

Outono porque é a estação mais colorida: ela possui o cinza do inverno, o brilho do verão, a vivacidade colorida da primavera e se faz, nesse contexto, a união do bom e perfeito que todas possuem.

Quem tentar, verá que tenho razão.
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RENATO BENVINDO FRATA, trovador e escritor, nasceu em Bauru/SP, em 1946, radicou-se em Paranavaí/PR. Formado em Ciências Contábeis e Direito. Além de atuar com contador até 1998, laborou como professor da rede pública na cadeira de História, de 1968 a 1970, atuou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Paranavaí, (hoje Unespar), atualmente aposentado. Atua ainda, na área de Direito. Fundador da Academia de Letras e Artes de Paranavaí, em 2007, tendo sido seu primeiro presidente. Acadêmico da paranænse Confraria Brasileira de Letras. Seus trabalhos literários são editados pelo Diário do Noroeste, de Paranavaí e pelos blogs:  Taturana e Cafécomkibe, além de compartilhá-los pela rede social. Possui diversos livros publicados, a maioria direcionada ao público infantil.

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Texto enviado pelo autor. 
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Baú de Trovas “006”


251
Seu péssimo humor é tal,
e é tal seu jeito ranzinza,
que curte, do carnaval,
somente a quarta de cinza…
A. A. DE ASSIS 
252
A beleza é uma caveira,
com luxo e gala vestida,
que se desfaz em poeira,
num leve embate da vida.
ADALZIRA BITTENCOURT
253
Ai daquele que se ilude!
Homem — és tão pequenino,
qual uma bola de gude
na imensa mão do destino!
ALICE ALVES NUNES
254
Lá se vão os retirantes!
Deixam seus campos... seus bois. .
— O coração morre antes!
— O corpo morre depois...
APARÍCIO FERNANDES
255
Ilusão — buquê de flores
cheias de encanto e poesia,
que enfeitam de lindas cores.
a vida de cada dia.
ADELAIDE PEREIRA
256
Quando encontrei desbotado
meu retrato de arlequim
no carnaval do passado,
senti saudades de mim !
ALFREDO DE CASTRO
257
Pulo mais do que ioiô,
no carnaval sou assim:
por dentro sou pierrô,
por fora sou arlequim...
ANALICE FEITOZA DE LIMA
258
No carnaval desta vida,
ou por graça ou por maldade,
a Mentira anda vestida
com a nudez da Verdade!
ARCHIMINO LAPAGESSE
259
Nesta paixão sem igual,
de alegria verdadeira,
nossa vida é um Carnaval
sem direito à quarta-feira!
ARLINDO TADEU HAGEN
260
No carnaval do desgosto,
muitas vezes de improviso,
ponho a máscara no rosto
para mostrar meu sorriso...
BATISTA SOARES
261
É provérbio muito antigo
que todos devem saber:
quem não evita o perigo,
há de nele perecer.
BENEDITO LOPES DE OLIVEIRA
262
Com esse olhar que fascina
não me queimes por quem és:
- serás minha Colombina,
- serei Pierrô a teus pés.
CARVALHO GUIMARÂES
263
Falso rubi em seu dedo,
bolsa vermelha na mão,
nos olhos... angústia e medo,
"... iniciava a profissão..."
CECÍLIA AMARAL CARDOSO
264
Nossas máscaras do dia
nem sempre nos fazem mal
a esconder dor ou alegria
de um eterno carnaval…
CLEVANE PESSOA
265
O meu riso é mascarado,
eu não sou alegre assim...
Há um palhaço amargurado
Que chora dentro de mim.
CLÓVIS MAIA
266
Veste o manto, ajeita a pluma,
põe a faixa de Rainha,
passa batom, se perfuma
e faz Carnaval… sozinha…
DARLY O. BARROS
267
No desfile à fantasia,
de um carnaval de ilusão,
a saudade é a alegoria
que enfeita meu coração!
ELIZABETE SOUZA CRUZ
268
O morro grita o seu nome
num frenesi sem igual
e vai sambando com fome
a deusa do carnaval!
FERNANDO CÂNCIO DE ARAÚJO
269
Ela se foi por maldade,
levando o amor de nós dois
e, agora, sinto saudade
do que nunca foi depois!
GABRIEL BICALHO
270
É carnaval… e em meu peito
qual um sagaz folião,
brinca o meu sonho desfeito
nas alas da solidão…
GISELDA DE MEDEIROS
271
Carnaval – Festa do povo,
dos prazeres, da folia…
Foliões buscam de novo
reviver sua alforria!…
JOAMIR MEDEIROS
272
Essa miséria que passa,
mascarando os desenganos,
é o carnaval da desgraça,
o dos farrapos humanos!
JOSÉ CORRÊA VILLELA
273
Confetes e serpentinas. 
este é o nosso carnaval... 
Depois...quantas Colombinas 
jogadas no matagal!!!
JOSÉ FELDMAN
274
A ajuda mais importante
que se pode dar a alguém,
é torná-la confiante
nos valores que ela tem!
JOSÉ HENRIQUE DA COSTA
275
Riso, disfarce, aparato,
sobre um rosto diferente:
o carnaval é o retrato
da vida de muita gente.
JOSÉ MARIA MACHADO DE ARAÚJO
276
Meu carnaval se repete
com a mesma Colombina:
faço dos versos confete
e da trova - serpentina.
JOSÉ VALERIANO RODRIGUES
277
Carnaval!... Tantas folias...
Pagodes doidos de insano!
Cai a máscara três dias
da face que a usou um ano!...
LAVÍNIO GOMES DE ALMEIDA
278
Olhando, alheio á folia,
no carnaval me comovo,
ao ver tamanha alegria
sob a miséria do povo.
LUIZ ANTONIO PIMENTEL
279
O sonho que eu tive um dia
e que a minha alma alegrou,
hoje é só a fantasia
de um carnaval que passou...
LUIZ RABELO
280
Igualzinho ao vendaval
o nosso amor começou,
terminado o carnaval
este amor se evaporou.
MADALENA CASTRO
281
Viro a chave... E a nostalgia
da solidão que me corta
é impressa na melodia
do lento ranger da porta...
MANOEL CAVALCANTE
282
Carnaval, quanta magia…
Foliões pelo salão…
Fantasias…Euforia…
Muito riso… Até paixão…!
MARIA EULÁLIA BRAZ DE OLIVEIRA
283
Às pescarias incertas,
num mar revolto e voraz,
prefiro as ilhas desertas,
onde eu planto e colho em paz!!!
MARIA MADALENA FERREIRA
284
No carnaval o sujeito,
no samba, pisou na lata,
caiu e bateu de jeito
no traseiro da mulata!...
MARISA RODRIGUES FONTALVA
285
Sem tentar - não há fracassos.
Sem ter fé - não há profetas.
Sem sorrir - não há palhaços.
Sem sofrer não há poetas!
MIGUEL RUSSOWSKI
286
Nosso povo é genial
pois remédio, em sua crença,
é sambar no carnaval,
pra curar qualquer doença.
NEUCI DA CUNHA GONÇALVES
287
Pensando bem nesta vida,
a gente quase enlouquece:
— Quanta glória imerecida
às custas de quem merece!
NICOLINO LIMONGI
288
Na rua, toda nuazinha,
escondendo a cara santa,
no carnaval da Lurdinha,
até morto se  levanta.
NILTON MANOEL TEIXEIRA
289
Triste vida a do Pierrô:
sofrer pela Colombina,
que, nos braços de Arlequim,
ri de sua triste sina!
PALUMA FILHO
 290
Carnaval. Reina a folia.
Quantos, nessa confusão,
se escondem na fantasia
para mostrar o que são!
PAULO EMÍLIO PINTO
291
Carnaval: dança e alegrias,
que têm o dom surpreendente
de sepultar, por três dias,
todas as mágoas da gente!
P. DE PETRUS
292
Carnaval - coisa engraçada
de malandro e gente bamba...
A dor do povo chorada
na letra rude do samba.
PRATA TAVARES
293
Para que um carnaval
com três dias de folia,
pois se a vida é afinal,
grande baile à fantasia?
RENATO VIEIRA DA SILVA
294
Diz o velho, em maus trejeitos:
- Como o carnaval é ingrato:
com produtos tão perfeitos,
a distância nega o prato!
RITA MARCIANO MOURÃO
295
Quando no armário espirrou,
deu mesmo um azar danado:
com o barulho acordou
o pobre esposo enganado.
SANDRO PEREIRA REBEL
296
 Quanto traje colorido
de aparência rica e nobre
traz nas dobras, escondido,
um palhaço triste e pobre!...
SARA MARIANY KANTER
 297
Em toda a existência nossa,
esta lei se estabelece:
— a virtude nos remoça
e o vicio nos envelhece.
SEVERINO SILVEIRA DE SOUSA
298
A máscara de alegria
em meu rosto, com frequência,
é apenas a fantasia
no carnaval da existência.
SYLVIO RICCIARDI
299
Flagrando a esposa e o banqueiro,
pensa bem e esquece o orgulho:
-Vou precisar de dinheiro...
e sai...sem fazer barulho!
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
300
Brilhando ao sol, em cascata,
as águas, fazendo festa,
jorram confetes de prata
no carnaval da floresta!
ZAÉ JÚNIOR