sábado, 12 de novembro de 2011

José Feldman (Trova Ecológica 43)

Carolina Ramos (Lançamento do Livro de Poesias "Destino")

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Fonte:
A Poetisa

Carlos Drummond de Andrade (O Poeta Singrando Horizontes IX)


A VIDA PASSADA A LIMPO

Ó esplêndida lua, debruçada
sobre Joaquim Nabuco, 81.
Tu não banhas apenas a fachada
e o quarto de dormir, prenda comum.

Baixas a um vago em mim, onde nenhum
halo humano ou divino fez pousada,
e me penetras, lâmina de Ogum,
e sou uma lagoa iluminada.

Tudo branco, no tempo. Que limpeza
nos resíduos e vozes e na cor
que era sinistra, e agora, flor surpresa,

já não destila mágoa nem furor:
fruto de aceitação da natureza,
essa alvura de morte lembra amor.

Itabira do Mato Dentro - MG - 1902

ATRIZ

A morte emendou a gramática.
Morreram Cacilda Becker.
Não era uma só. Era tantas.
Professorinha pobre de Pirassununga
Cleópatra e Antígona
Maria Stuart
Mary Tyrone
Marta de Albee
Margarida Gauthier e Alma Winemiller
Hannah Jelkes a solteirona
a velha senhora Clara Zahanassian
adorável Júlia
outras muitas, modernas e futuras
irreveladas.
Era também um garoto descarinhado e astuto: Pinga-Fogo
e um mendigo esperando infinitamente Godot.
Era principalmente a voz de martelo sensível
martelando e doendo e descascando
a casca podre da vida
para mostrar o miolo de sombra
a verdade de cada um nos mitos cênicos.
Era uma pessoa e era um teatro.
Morrem mil Cacildas em Cacilda.

AINDA QUE MAL

Ainda que mal pergunte,
ainda que mal respondas;
ainda que mal te entenda,
ainda que mal repitas;
ainda que mal insista,
ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima,
ainda que mal me julgues;
ainda que mal me mostre,
ainda que mal me vejas;
ainda que mal te encare,
ainda que mal te furtes;
ainda que mal te siga,
ainda que mal te voltes;
ainda que mal te ame,
ainda que mal o saibas;
ainda que mal te agarre,
ainda que mal te mates;
ainda assim te pergunto
e me queimando em teu seio,
me salvo e me dano: amor.

ANTEPASSADO

Só te conheço de retrato,
não te conheço de verdade,
mas teu sangue bole em meu sangue
e sem saber te vivo em mim
e sem saber vou copiando
tuas imprevistas maneiras,
mais do que isso: teu fremente
modo de ser, enclausurado
entre ferros de conveniência
ou aranhóis de burguesia,
vou descobrindo o que me deste
sem saber que o davas, na líquida
transmissão de taras e dons,
vou te compreendendo, somente
de esmerilar em teu retrato
o que a pacatez de um retrato
ou o seu vago negativo,
nele implícito e reticente,
filtra de um homem; sua face
oculta de si mesmo; impulso
primitivo; paixão insone
e mais trevosas intenções
que jamais assumiram ato
nem mesmo sombra de palavra,
mas ficaram dentro de ti
cozinhadas em lenha surda.
Acabei descobrindo tudo
que teus papéis não confessaram
nem a memória de família
transmitiu como fato histórico
e agora te conheço mais
do que a mim próprio me conheço,
pois sou teu vaso e transcendência,
teu duende mal encarnado.
Refaço os gestos que o retrato
não pode ter, aqueles gestos
que ficaram em ti à espera
de tardia repetição,
e tão meus eles se tornaram,
tão aderentes ao meu ser
que suponho tu os copiaste
de mim antes que eu os fizesse,
e furtando-me a iniciativa,
meu ladrão, roubaste-me o espírito.

ASPIRAÇÃO

Tão imperfeitas, nossas maneiras
de amar.
Quando alcançaremos
o limite, o ápice
de perfeição,
que é nunca mais morrer,
nunca mais viver
duas vidas em uma,
e só o amor governe
todo além, todo fora de nós mesmos?
O absoluto amor,
revel à condição de carne e alma.

Carlos Drummond de Andrade (Amor)


Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você esta esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente divino - o amor.

Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida.

Se você conseguir, em pensamento, sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado...

Se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados...

Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...

Se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...

Se você tiver a certeza que vai ver a outra envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela...

Se você preferir morrer, antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida. É uma dádiva.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro. Ou às vezes encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.

Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o AMOR!

Paraná em Trovas Collection - 1 - A. A. de Assis (Maringá/PR)

Yêda Schmaltz (Poesias Avulsas)


POEMA BISSEXTO
Aos nascidos em 29 de fevereiro

Num ano não bissexto
de meses absurdos
e de horas escritas,
o teu dia não existe,
o teu dia absoluto.
Hoje é a véspera, mas amanhã acabou.
Agora, é cedo ainda
pra eu ir cantar na tua porta,
mas amanhã, é tarde, Inês é morta.

Uma interrogação escorre luminosa
sobre o imponderável
do teu dia não-dia,
mas eu dou uma rosa
pro teu dia não-dia,
ante-dia,
adversus,
carpe-diem.

No teu ante-aniversário
que não fazes este ano
porque amanhã é primeiro,
não será mais fevereiro,
quisera ver o teu rosto:
a face triste do baiano
e o riso largo do mineiro.

Perdido nas estrelas
de um zodíaco azul
ficou teu dia
nadando, peixenauta,
pelo espaço,
— olhando para o céu é que te abraço
enquanto estabilizas tua idade
de sempre criança,
de sem gravidade.

E nem temos taças para o ritual,
nem temos a nós mesmos
(dançamos um longínquo carnaval)
nem tenho teus braços
que o vento, que o tempo,
que a nave levou.
Mas um vidro parco
ou acrílico largo
tilinta: trim!
A festa acabou.

O DESVIO

A mim pouco me importa
aberta ou fechada a porta,
vou entrar.

E pouco me importa estar
sendo amada ou não amada:
vou amar.

Que a mim me importa tanto
eu mesma e o sentimento,
quanto!

A mim pouco me importa
se a tua amada é doente,
se a tua esperança é morta.

E me importa muito menos
se aceitas solenemente
a nossa vida parca e torta.

Porque a mim me importaria
deixasse de ser eu mesma
e a poesia.

A mim pouco me importa
se a lira quebrou a corda:
vou cantar.

E pouco me importa estar
no picadeiro do circo:
vou rodar.

Que a mim me importa tanto
eu mesma e o sentimento,
quanto!

A mim pouco me importa
se estamos todos presos
por uma invisível corda.

E me importa muito menos
sermos todos indefesos
ante o destino que corta.

Porque a mim me importaria
deixasse de ser eu mesma
e a poesia.

AMOR

Amor, se houve, eu tive.
De lembrar o amor
em poesia,
minha alma
sobrevive.

CAVALO DE PAU

Quando amo, sou assim:
dou de tudo para o amado
— a minha agulha de ouro,
meu alfinete de sonho
e a minha estrela de prata.

Quando amo, crio mitos,
dou para o amado meus olhos,
meus vestidos mais bonitos,
minhas blusas de babados,
meus livros mais esquisitos,
meus poemas desmanchados.

Vou me despindo de tudo:
meus cromos, meu travesseiro
e meu móbile de chaves.
Tudo de mim voa longe
e tudo se muda em ave.

Nos braços do meu amado,
os mitos se acumulando:
um pandeiro de cigana
com mil fitas coloridas;
de cabelo esvoaçando,
a Vênus que nasceu loura.
(E lá vou eu navegando.)

Nos braços do meu amado,
os mitos se acumulando,
enchendo-se os braços curtos
e o amado vai se inflando.

— O que de mais me lamento
e o que de mais me espanto:
o amado vai se inflando
não dos mitos, mas de vento
até que o elo arrebenta
e o pobre do amado estoura.

(Nenhum amado me agüenta.)

OITANTE

Alguém fabricou para mim
Uma estrela particular;
Este calor sem-fim.

Receita para se fabricar
uma estrela: é só queimar
átomos de hidro/gênio
por meio da fusão do olhar,
isto é, nuclear.

Fórmula: Bill Gates
que é igual a Olavo Bilac,
ouvindo as janelas,
(E acreditar que vai brilhar, ter fé.)

Mas não se esqueça:
amai para entendê-la.
Quantos celulares fantasmas
há por aqui! Cibernéticos na linha.
Ai, que saudade que eu tenho
do tempo de Ivanhoé!

BACANTE A OESTE

A manhã mastiga
o canto do melro:
pão de trigo e mel.
Nossa vida é de sal
e de vinagre
apesar do passarinho
e o sal da terra.

Meu canto a Dionísio
é benfazejo
e o que desejo,
é amenizar os caminhos
do homem
com cristais de doçuras
de mulher.

E a poesia é doidivanas,
louca e séria
e vai arando
nossos caminhos de sede
e de torturas,
nossos caminhos de fome
e de miséria.

De noite
os pirilampos vagam
seus vagos lumes
pelos campos de buritis
e guarirobas.
— Cocos iluminados
de lantejoulas.

A POBREZA II
(DECLARAÇÃO DE BENS)

Escolhi para mim
— cabeça de poeta,
adolescência pura —
o que não deveria escolher
vivendo no Terceiro Mundo:
dediquei minha vida
à Educação e à Cultura.
Professora da Universidade Brasileira,
não pude comprar fazenda,
chácara, terreno ou boi,
( essa goiana maneira de ser ).
Eu só pude criar,
no meu curral de sonho,
o canto do cavalo,
o canto da boiada
em poesia aberta e hermética;
essa boiada que tanto aflige,
ruminando na janela
da minha aula de Estética.

Apenas com um salário de sucata,
sustentei o filho e as filhas
que partilhei ao gerar,
mas que não dividi na hora
dos divórcios, das partilhas.
(Apenas com o salário,
pois dispensei o tal “alimento”
da descasada profissional.)

Fiquei com a Poesia,
esse bagulho
terceiromundista,
este meu Bem;
fiquei com a Pobreza,
o meu orgulho:
nunca roubei ninguém.
Não fui grileira e nem
posseira de nada
e, se invadida,
como fui, certa vez,
por astutas fazendeiras,
ora, que bobagem!
A minha obra está datada.
A Poesia
é o meu Patrimônio:
a palavra certa,
a palavra dura.
A poesia canta
e eu fico muda,
de espanto.

Meu Patrimônio maior
é a Literatura.

A POETISA

Canto
o prazer e a esperança,
a loucura e a liberdade.

Cabelos soltos
véus diáfanos
minha flauta
e minha jarra

de vinho.
Que Deus inventou a uva
e Baco inventou o vinho
com seus efeitos.

(Cabelos punk
eus de afanos
minha falta
e minha farra.)

Ao coração humano
medroso, dou alegria
e coragem.

Cabelos soltos
véus diáfanos
minha flauta
e minha garra.

Fonte:
Antonio Miranda

Yêda Schmaltz (1941 – 2003)


Nasceu em Tigipió (PE) a 8 de novembro de 1941. Recém-nascida foi levada para Goiás, passando a residir em Ipameri (GO), terra do seu pai. Faleceu a 10 de maio de 2003, em Goiânia.

Bacharel em Letras Vernáculas e em Direito. Professora da Universidade Federal de Goiás, Instituto de Artes.

Recebeu inúmeros prêmios e distinções, cabendo destacar o da Associação Paulista de Críticos de Arte, melhor livro de poesia, 1985 (Baco e Anas brasileiras); Remington de prosa e poesia, RJ/1980; Simon Bolivar, Fondi, Itália, 1998; prêmio nacional Itanhangá de poesia/1985; Simon Bolivar, Fondi, Itália, 1998; Hugo de Carvalho Ramos /1973-1975-1985 e 1995; IV Concurso Nacional de Literatura da Fundação Cultural de Goiás/1979; José Décio Filho (GO), 1990; BEG de Literatura (GO), de 1996 e 97; Cora Coralina (GO), 1996, etc.

Yêda, com Cora Coralina, a voz feminina da poesia de Goiás ganhou altura insuspeitável.

Destacou-se igualmente como artista plástica.

Participou da fundação do GEN (Grupo de Escritores Novos).

Bibliografia:
Caminhos de mim (poesia), Goiânia, Escola Técnica Federal de Goiás, 1964;
Tempo de Semear (poesia), Goiânia, Cerne, 1969;
Secreta ária (poesia), Goiânia, Cultura Goiana, 1973;
Poesias e contos bacharéis II (antologia, c/ Teles, J. Mendonça e Jorge, Miguel) Goiânia, Oriente, 1976;
O peixenauta (poesia), 1ª edição, Goiânia, Oriente, 1975; 2ª edição, Goiânia, Anima, 1983;
A alquimia dos nós (poesia), Goiânia, Secretaria da Educação e Cultura, 1979;
Miserere (contos), Rio de Janeiro, Antares,1980;
Os procedimentos da arte (ensaio), Goiânia, UFG, 1983;
Anima mea (seleção de poemas), Goiânia, Anima, 1984;
Baco e Anas brasileiras (poesia), Rio de Janeiro, Achiamé, 1985;
Atalanta (contos), Rio de Janeiro, José Olympio, 1987;
A ti Áthis (poesia), Goiânia, Sec. Cultura e Prefeitura, 1988;
A forma do coração (poesia), Goiânia, Cerne, 1990;
Poesia(antologia poética) , Oficina Literária da Funpel,(xerox), Goiânia,1993;
Prometeu americano (poesia), Goiânia, Kelps, l966;
Ecos (poesia), Goiânia, Kelps, l966; Rayon (poesia), Goiânia, Cerne / Funpel, 1997;
Vrum (poesia), Goiânia, Edição da autora, 1999;
Chuva de ouro (poesia), Goiânia, Cegraf/UFG, 2000;
Urucum e alfenins – Poemas de Goyaz , Goiânia, Cegraf/UFG,2002

O Peixenauta recebeu o Prêmio Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos - Concurso da União Brasileira de Escritores de Prefeitura de Goiânia.

Fontes:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/yeda_schmaltz.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Y%C3%AAda_Schmaltz

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 393) Para Descontrair


Uma Trova Nacional

Na praia, o gordo nudista
nenhum problema oferece:
é tanta barriga à vista
que o resto nem aparece!
–THEREZA COSTA VAL/MG–

Uma Trova Potiguar

Desconfiado, faz a trama
e ao chegar fora de hora,
vê, surpreso, o seu pijama
a correr de rua a fora!
–FABIANO WANDERLEY/RN–

Uma Trova Premiada

2008 - Bandeirantes/PR
Tema: TRABALHO - M/E

Tive um trabalho danado
com a vaca, hoje cedinho:
não deu leite empacotado
nem quis sentar no banquinho...
–RUTH FARAH/RJ–

Uma Trova de Ademar

Ponho todo o meu futuro
nesse meu duro trabalho:
comer, dormir, pichar muro,
beber e jogar baralho.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Duas coisas neste mundo
podemos contar a dedo:
livro que volta a seu dono,
mulher que guarda segredo...
–ALBERTINA CARVALHO/RJ–

Simplesmente Poesia

Que Corno que Nada!
–CHICO DE SOUSA/PB–

Um cientista me disse
que estava já convencido
que ser corno só ruim
para quem é inibido;
chifre ficou foi para o homem
o boi usa de atrevido.

Pesquisando sobre chifre
fiquei bastante contente,
descobri que esse troço
não existe, felizmente;
isso é coisa que a mulher
põe na cabeça da gente.

Estrofe do Dia

Nos meus estudos finais
eu cheguei a conclusão
que sempre chama atenção
mulher que anda demais,
com saídas anormais
que não tem hora marcada,
pode ser uma cilada
em busca de aventura;
antes porém, da censura,
deve ser observada!
–AUGUSTO MACÊDO/RN–

Soneto do Dia

Visita à Casa da Sogra.
–ITAMAR SIQUEIRA/PE–

Como urubu que regressasse ao ninho,
a ver se ainda um bom caminho logra,
eu quis também rever a minha sogra,
o meu primeiro e virginal carinho.

Entrei. Pé ante pé, devagarzinho,
o fantasma, talvez, daquela cobra...
Tomou-me as mãos, olhou-me bem, de sobra...
E levou-me para dentro, de mansinho.

Era este quarto, oh! se me lembro, e quanto...
Em que, à luz da lua que brilhava,
o pau roncava forte, tanto e tanto,

no costado da gente, sem piedade,
Um cassetete bem grosso lá no canto...
Minhas costas choraram de saudade...

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Zenilton de Jesus Gayoso Miranda (Poesias Avulsas)


LÍRIOS

Doem os teus lírios solitários
Em casa
Na mesa escura
Nos jarros entretecidos
Onde sufocam o colorido
E o aroma é incerto
As gotas sombrias, todas,
Voltam-se perplexas
A refletir o ar parado
De vereda invernal
De bosque úmido
Nos olhos de antes
Fuga e cristais

Mas não somente os lírios e as varandas
O ar
A mesa e a casa plena de ócio
Mais o duplo aquém, estático,
Suspenso,
Na plácida impressão
Do ausente alarido dos lírios
Das vozes dos lírios
Que denunciam saudades geminais.

VAZIO

O vazio
que não o só
É construto de partes
Irreconciliáveis voltas
No vasto escuro exposto
Da que tensa
Em mim debela:
A parte que me cabe
Do vazio renitente
De outros vazios pares

AVES FORA ...

Ave estreita
Furtiva figura
Em um dia cego
Nesse ante vôo razoado
Alinho, calado
De pé ante pé descalço,
E com uma réstia fria
Pelo teu bico calvo
Inconteste te laço.

Sob castas de moscas vítreas
Em festivo alvoroço
Dou-te um véu sisudo
E espumas largas
Ao teu pescoço
Para repousares salva desse tremendo escorço
Das vagas e ventos funéreos
Donde despencas vertida em tédio.

Ave implume
Moléstia do dia
Veste teu manto
Desce teu séqüito
Trina no corte
Dessa faca pífia
Serena na noite em que vagando faltas
Emplastro votivo
Aves fora vasta.

CHUVA GRANULAR

Na granularidade da chuva
Vejo dardos hirsutos
Arremeterem farpas
Sobre meus músculos expostos.
À parte de mim
Adentram cartilagens flácidas
Que empedernidas crescem
Enquanto atônito durmo.

Ferem essas agulhas comensais
As delicadas pústulas
Os passos e as sombras
Do caminho destro que sigo.
Bravias, abstraídas de nexos e subcutâneos medos
Avançam convexas
Sobre minha carne puramente nervos.

Absorto,
A parte de mim,
Esse corpo nu, corpo retrorso,
Não é mais estípulas ou véus,
Vive minimamente,
Mas absorve, laivos de gotas.

TEUS OLHOS

“Pois morro da vida que vivo
E vivo da vida que morro”.
Edgar Morin

Sempre haverá beleza
Enquanto puder tocar
A face mais simples da vida
E não duvidar
Que mais suave que a brisa
Tua face sempre há de estar
No tempo
Desperta e risonha
Na íris desses olhos vazados
Qual flor que às estações ignora.

Enquanto houver primaveras
Sempre viverão
Floras de amores cingidas
E flores no amor impressas
Que teus olhos colherão,
E mais que em sonhos
Verdades
Aos meus apascentarão.

Mais dias, mais dores, mais vastos
Eu sei, repousarão
Nos braços dos teus socorros
Os calos dos dias que levo
Pois quanto mais vivo
Mais calo
“Pois morro da vida que vivo
E vivo da vida que morro”.

Em dias de brisas caladas
E brumas no tempo caídas
Meus pés caminharão
A via da imagem impressa
No verbo solidão.

Estou fatigado, mas corro
Com os pés descalços
plantados nesse vasto
Deserto de cardos
Que jorra,
Em amenidades assíncronas,
Um coração em cortes.

Fonte:
Antonio Miranda

Zenilton de Jesus Gayoso Miranda (1975)


Poeta nascido no Maranhão, em 1975, residente em Brasília.

Graduado em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília (1999), mestrado em Ciências da Informação (2001) e especialização em Inteligência Organizacional e Competitiva (2006), pela mesma instituição. Atualmente Analista de Nível Superior da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, Unidade Cerrados.

Na área ambiental atua em Botânica (Taxonomia de Bromeliaceae e Orchidaceae), especialização pela Escola de Paisagismo de Brasília, e Desenvolvimento Sustentável e Direito Ambiental, Organização e Gestão da Informação Ambiental, com ênfase em Biodiversidade e Plantas Ornamentais.

É ilustrador científico de espécies do cerrado e também de obras artísticas.

Fonte:
Antonio Miranda

Pedro Gontijo (Poesias Avulsas)


QUISERA EU ESTAR AO TEU LADO, DONA DE PALAVRAS

Quisera eu estar ao teu lado, dona de palavras
brincando com elas como se fizesse prosa
como se fizesse garoa
sobremesa de goiabada, vôo de pipa
passeio de metrô.

Dona? antes mestra
e serva das que não se deixam domar
só apreciar, poéticas
como é próprio de todas as palavras.

Palavras? antes musas
a suave mística de estar sem ser
fingir sem que seja preciso
errar sem ter ao menos necessidade
senão a de errar.

Errar? antes amar
que não é senão errar sem medo
servir sem senhorio
andar pela cidade (ou pelas minas, planaltos)
apenas pelo prazer de andar.

E nisso és mestra, poetisa
das palavras, das minas e das gentes
da liberdade, ainda que tardia
do que vês, do que pensas, do que sentes
da prosa fina, poesia arredia
e da vontade sem receio de aprender.

Brinca comigo, simples servo
das palavras, musas, erros, amores
todos pomposos, impávidos senhores
do meu escrever e prosear
com goiabada com queijo, garoa fina
passeio de metrô, vôo de pipa.

OXI, DIRÁ, CONTAR MUTRETAS

Oxi, dirá, contar mutretas
só de olhar do parapeito
da rodoviária.

Lá elas passam
feito formiga
de formigueiro pisado.

Andam de lado
sem disfarçar
a sem-vergonhice

E impressionado
contará as peias
pesteando o ar.

Calma, velho
não é só de arrombo
que se faz o dia.

AINDA QUE QUEIRA PERDER-ME

Ainda que queira perder-me
Faça com a clareza dum beijo
que não mente, atrasa ou faz-de-conta
e só compraz a que apronta a alma

Perca-me baixinho, melhor, em silêncio
De beijo calado
Não faça lampejo, não dê volta e meia
Tome o ensejo firme e perene
obstinada

A nada permita que não me faça perder
Decidida, fatalmente perca-me
Invariável, eternamente perca-me
Faça-me perder, num repente, sem que eu perceba
e me arrependa.

EU, RETIRO DOS QUE AMO

Eu, retiro dos que amo
De íntimo ansioso por acolher
Alma abrigo de almas.

Espero, se já não esperasse
A porta a bater, o suspiro a sussurrar
Os olhos, sinceros, a deitarem-se aos meus

Não movo contudo
e não busco e não penso
A mente distante, o coração alhures
e os olhos agora sem terem onde pousar

Eu, recanto de minha alma
pastor relapso e leviano.

SOLTEI O AMOR PARA CORRER LIVRE E ELE LARGOU-ME

Soltei o amor para correr livre e ele largou-me
Entretido com as sementes emplumadas que suspendiam no ar
Esqueceu-se de meus dedos entrelaçados, minha barba meio deixada
Da minha música de ninar
Dormir era a última coisa que se passava na cabeça do amor.

O amor rolava na grama, e molhava os tornozelos no regato
E subia na árvore, e comia jabuticaba
Feliz da vida
As pedras ele quicava no lago, com os caroços dava cusparadas
E mais cantava e mais ria sozinho

E eu, eu vi as plumas no céu qual estrelas
Constelação dançante, sem lua
E lembrei-me do amor

E cansei-me sem valer a pena
E compus melodias só aos meus ouvidos
E molhei os tornozelos na água.

PENSANDO BEM, SOZINHO

Pensando bem, sozinho
era tenramente livre
como se estivesse de braços abertos
sem fechar os olhos.

Liberdade tenra e pesada
como uma chuva a cair esquisito
lastro descompassado com cheiro de terra.

Dos braços soltava-se
como se solta dos livros ao fechá-los
da prosa ao contá-la
dos amigos ao abraçá-los
solto, sorvido em besteiras
feliz de tudo.

Via, e olhava, e via outra vez
a carranca da cidade
com os olhos de dentro
Porque não podia fechá-los
porque não conseguia fechá-los
de tanto que havia de ser visto.
Pensava bem, e mal se via
por todo lado, numa vontade imensa
de correr, docemente livre
abrindo arregaçadamente
os olhos do mundo.
–––––––––––––-
Pedro Gontijo Menezes nasceu em Brasília, em 1982. Desde pequeno é apaixonado pela história e geografia, e também pela música. As duas paixões, juntas em sua poesia, ainda o acompanham: formou-se em Relações Internacionais na Universidade de Brasília, em 2005, e toca clarineta.

Conquistou o 1º lugar no Concurso Laís Aderne de Literatura, gênero poesia, em novembro de 2007, com a obra "O pastor leviano".

Fonte:
Antonio Miranda

Zulmira Ribeiro Tavares (Jóias de Família)


Análise por Ana Paula Pacheco

Em Jóias de Família (1990), a escritora Zulmira Ribeiro Tavares toma como metáfora da construção da tradição familiar a história arquitetada por um juiz em torno de um anel de rubi dado de presente de noivado à sua futura esposa. O referido anel passa a emblematizar o futuro núcleo familiar que ora começa a se formar. A família Munhoz passa a se identificar na jóia e a ser identificada socialmente por ela. Vemos, portanto, que as tradições (principalmente as tradições familiares) são construções que garantem a continuidade do grupo. Continuidade essa possibilitada pela memória e seus objetos. No caso do romance em questão esses objetos são corporificados, essencialmente, no rubi e em um cisne de Murano, ostentados pela família desde seu princípio. Em suma: as tradições são como as jóias de família, que passam de geração a geração, cercadas de histórias.

Como podemos perceber, a narrativa possui como foco a jóia, o “legítimo rubi sangue-de-pombo”, sendo que todos os personagens e o enredo se tecem e centram em torno da importância e significado da jóia.

Logo no inicio do livro, é clara a criação da ilusão, do engano, da teatralidade, quando é apresentada a personagem protagonista Maria Bráulia, dona do anel rubi sangue-de-pombo que ganhou do juiz Munhoz no dia de seu noivado como presente. Maria Bráulia é apresentada como sendo idosa, mas de idade não definida. Esta personagem apresenta dois rostos: um “rosto particular” e um “rosto social”, vivenciando o mundo como palco.

A narrativa se inicia, no tempo presente, com o encontro de Maria Bráulia com Julião Munhoz, em ocasião de um almoço em sua casa. Devido à insistência de seu sobrinho-secretário para que a tia mandasse suas jóias para que fossem avaliadas, Maria Bráulia sugere que tal avaliação comece pelo seu anel rubi-sangue-de-pombo. Tal passagem pode ser exemplificada no trecho que se segue:

Depois de meses de insistência, de amolação mesmo, reconhecia – finalmente a tia havia concordado na semana passada que fosse feita uma avaliação criteriosa de todas as suas jóias, aos poucos (…) E a tia por fim o deixara profundamente emocionado quando lhe havia ainda dito inesperadamente quase na hora de se separarem: Vamos começar pelo meu rubi sangue-de-pombo. Acho que é o que tenho de mais precioso.

O sobrinho revela à sua tia, através da exposição do resultado da avaliação realizada por um joalheiro de renome, que a jóia é falsa. A tia não concorda e fica exaltada mas, por fim, ignora a informação. “Com esse jogo, esquiva-se da ganância do sobrinho e, sem sentimento de culpa ou frustração, teatralmente goza as memórias, falsas ou verdadeiras, que tece para os outros.”

A estrutura do romance se forma como uma imensa metáfora a todas as falências.

A primeira dessas falências é econômica. Zulmira narra a vida de Maria Bráulia Munhoz. Filha de uma família rica, ainda moça, nos anos 1930, casa com um respeitado juiz de direito. Na velhice, viúva e sem filhos, vive do aluguel de alguns imóveis. Embora longe da riqueza de sua mocidade, mantém todos os rituais que a fortuna a ensinou.

Segue-se uma falência moral. Toda vida de Bráulia foi escudada em conceitos rígidos, mas que ao longo da narrativa vão sendo apagados, anulados pela seqüência de fatos que revelam intensas imposturas. Ela mesma vai compreendendo todo esse estranho mecanismo e, claro, se moldando a ele de maneira até cínica. Não abre mão da impostura, pois compreende o quanto ela é necessária para sua sobrevivência como gente. Afinal, precisa manter algumas ilhas de respeito, como a subserviência de Maria Preta.

Só que este respeito é também falido, pois nasce de necessidades mais profundas. Maria a respeita por um certo hábito, enquanto Julião, o sobrinho do juiz Munhoz que deixa o jornalismo para cuidar dos negócios de Bráulia - a tia Brau -, pauta-se pela esperança de uma gorda herança. Sonhando-se muito vivo, ele desconhece toda falsidade daquele mundo familiar. A própria virtude tão cultuada de Bráulia está maculada por seu enigmático envolvimento com o joalheiro Marcel, um francês descendente de português que constrói - ele também - uma biografia escudada numa falsa santidade.

Apesar de todos os pesares, Bráulia mantém seus ritos. Sempre lava as pontas dos dedos em água de pétalas de rosas, respeita o horário da sesta, guarda as jóias em cofre, preserva a memória de uma família mesmo conhecendo o quanto de falsidade e falência há nisso tudo. Mas cada gesto deve ser recorrentemente realizado. E novamente surge a necessidade da sobrevivência e do sentido para a vida. Ela - a vida - foi toda construída sobre as falências e não há mais como mudá-la.

Um mundo envelhecido. Este é o ambiente em que vive a protagonista. Tudo é denso e escuro. Mesmo as felicidades - inexistentes no presente - quando chegam vêm conduzidas pelas lembranças falsificadas, o que desnuda a verdade das alegrias. E embora tudo isso se passe em São Paulo, sob o mundo crescido com os pés de café, tudo se traduz em universalidade. Zulmira conta a saga de Bráulia buscando entender e denunciar o legado de hipocrisias das grandes famílias ocidentais.

Assim as jóias falsas guardadas nos cofres servem como metáfora para as falências daquele mundo. Foram anos em que o discurso da dignidade do trabalho escondeu a prática do ócio, a defesa dos gestos humanitários encobriu a ação autoritária e preconceituosa, a riqueza aparente encobriu o ouro escurecido, o sofá puído, as cortinas empoeiradas. Tudo foi consumido pelo tempo, até a pele sedosa de Bráulia, mas mesmo este fato ela encobre com o excesso de cremes e maquiagem.

No entanto, em Jóias de família nada é explícito, claro. Zulmira age como um pintor expressionista, deforma as imagens, cria enigmas como a presença do cisne de Murano. Aliás, tudo isso se resume de maneira brilhante no breve capítulo final. Ele consegue instigar ainda mais a leitura, pois salienta a necessidade de se olhar esse mudo por mais tempo que o necessário para a leitura de um breve romance.

Jóias de família afasta-se do quadro da ficção brutalista e da ficção marginal mais significativa, representando o todo social a partir de outro ponto de vista. A novela faz das encenações da elite paulistana sua matéria, elegendo centralmente o foco de uma mulher que aprendeu a se valer das falsas aparências,vigentes em seu meio. Avizinha-se, em linha de continuidade, também da prosa machadiana, de um ângulo relativamente novo, que é o da mulher rica, ou de família rica, agarrada às ruínas do antigo patrimônio.

A identidade de Maria Bráulia Munhoz é desvendada ao leitor por meio de uma intrincada trama envolvendo falseamento e autenticidade de um anel de noivado, que ocupa o centro do enredo. A réplica da gema valiosíssima guardada no cofre esconde um casamento de aparências e duplica outra gema igualmente falsa, a “original”, no fundo a mesma — a duplicação é mágica feita pelo noivo de extração social mais baixa, para impressionar a família da noiva. Acompanhando sucessivas peripécias, seguimos as perplexidades da moça, que entretanto aprende com o tempo a se adaptar muito bem às circunstâncias.

Vamos citar algumas das peripécias centrais, para que tenhamos em mente o andamento movimentado do enredo: perda da réplica, descoberta de que esta é tão perfeita que fez Bráulia confundir-se e perder, na verdade, a original; percepção de que seu marido, o juiz Munhoz, é amante do secretário particular; paixão entre o novo joalheiro, levado à casa pelo marido, e Maria Bráulia; desvendamento do segredo das jóias pelo joalheiro, que presenteia a matriarca com um (finalmente) verdadeiro rubi; anos depois, interesse do sobrinho pelas jóias da tia; reprodução, por parte dela, do jogo de aparências (novamente a trama das pedras verdadeiras e falsas) para livrar-se do interesseiro.

A movimentação assemelha-se à da narrativa de entretenimento, embasada em muitas peripécias e algum suspense, mas ganha força por articular-se à revelação do modo de ser de uma classe. Em alguma medida, a leveza, para leitura, da narrativa policialesca torna-se uma maneira adequada de penetrar num círculo de relações em que quase tudo é aparência, e a aparência, uma verdade social. A metáfora que serve de eixo ao livro é, a propósito, a de um cisne de Murano sobre um lago, enfeite de mesa na sala de jantar. O lago tem a profundidade enganosa do espelho e, nele, Narciso não se afoga.

O desmascaramento acontece e traz algum fundo autêntico (Maria Bráulia passa a amar Marcel, o joalheiro, o juiz Munhoz será até o fim da vida companheiro de seu secretário), mas converge afinal com a superfície das conveniências sociais (o casamento deve permanecer, e a mentira é seu acordo tácito; tia Bráulia deve fingir não perceber os móveis secretos da dedicação do sobrinho). É interessante, nesse sentido, que procedimentos da narrativa policialesca — sobretudo suspense e desmascaramentos — sejam adequados mesmo à interrogação da identidade. Acompanhando o ângulo de Maria Bráulia, que se cola ao proscênio da vida de salão, o narrador vê restarem por detrás da máscara apenas “formas apagadas, mal definidas e rugosas, como o interior pálido das ostras”, das quais emerge, todavia, “um espírito muito fino, animado e alegrinho”. A identidade diáfana, se comparada à da mulher que se impõe calibrada por muitas camadas de pó de arroz, não é como um teatro às escuras. Mesmo que no espelho a imagem apareça “esvaziada”, Bráulia se revigora com a oportunidade de estar a sós com seu segredo, o verdadeiro rubi. A técnica do suspense tem então sentido duplo: diante do desconhecimento, que é da própria personagem (sozinha no quarto, não há rosto que venha à tona), tudo são pistas para o narrador; a investigação da subjetividade, entretanto, tem a espessura do entretenimento.

A ilusão de uma subjetividade formada — a um só tempo singular e versátil — funciona ideologicamente como prerrogativa de indivíduos de uma classe. O teor do enunciado formal do livro de Zulmira Ribeiro Tavares nos devolve um retrato algo esquemático dessa dinâmica histórica (e talvez excessivamente explícito em suas metáforas), constituindo, assim, também o seu limite.

Em Jóias de família, o falseamento da realidade, posto de uma perspectiva interna (como vimos, a de uma classe que pode jogar com a realidade à sua volta), torna-se uma aposta formal astuciosa: fazer do engano marca estrutural do livro, dar representação a uma dinâmica social não só por detrás, mas na própria aparência das relações sociais e identitárias, é um dos pontos de interesse do realismo da autora ao brincar com as fachadas.

O engano diz respeito inclusive ao esvaziamento do suspense (a trama das pedras se resolve e a das identidades — quem é cada personagem para si mesma e para os outros? — vai perdendo a ênfase). Se o qüiproquó com as pedras verdadeiras/falsas seduz num primeiro momento, o enredo sofre aos poucos um efeito de esfriamento e distância, assinalado pelo foco narrativo. Este, sem prejuízo das tiradas de ensaísmo crítico, mimetiza, enquanto acompanha o ângulo de várias personagens, uma solidariedade formal com a elite. Embora estejamos diante de narrador impessoal, ele se vale de regalias com relação à narrativa afins às de classe: dentre elas, a técnica de transitar por diversos assuntos e épocas das vidas narradas, assinalando o passe de mágica ao deslizar velozmente por tudo, como o onipresente cisne de Murano; ou a técnica de colocar observações agudas em tom de comédia leve, às vezes entre parênteses, como se quisesse não mais que um olhar crítico en passant. Não é, portanto, sem ironia que o narrador de 3ª pessoa acompanha as brechas pelas quais a mocinha de família, e depois a matrona já experiente, vai aprendendo a se esgueirar (do casamento de aparências, do sobrinho interesseiro, do medo que sente das empregadas) e a se reinventar. A ironia, ambiguamente, ora indica distância com relação ao mundo narrado e sua lei de cinismos, ora revela um à vontade desconcertante, guardando seu veredicto para o final.

O cinismo de classe de Maria Bráulia ancora-se na representação de situações que dão os fundamentos materiais das astúcias da personagem, inclusive na relação com outras classes sociais — o convívio com as empregadas valeria uma análise, sobretudo porque coloca o tema atualíssimo da bondade como máscara social do medo, da qual passa longe a intenção de e o direito à igualdade. Seu jogo é “plenamente justificável”, assim como o do juiz Munhoz — “in dúbio pro reo”, diz este a Bráulia antes de morrer. A sentença poderia caber na boca do narrador que os acompanha. No último capítulo, todavia, o tom de alegreto (a um só tempo crítico e algo acomodado na distância relativa ao “material” que examina) cede lugar ao riso amargo. O clima é de fim de drama, quando baixam as cortinas; “várias cabeças rolaram”, diz ele, “umas fora da vida, outras nos travesseiros”. A piada cínica dá lugar ao patético e tudo vai se aquietando na luz branquicenta da manhã que empresta vida apenas ao que não tem chance de existir: reencontramos a imagem do cisne, “um defuntinho de pé” no fecho da narrativa.

Zulmira Ribeiro Tavares sabe que trabalhar com palavras exige silêncios. E é exatamente se valendo disso que constrói seu romance como uma pequena obra-prima. Diz tudo aquilo que quis dizer, mas, ao mesmo tempo, instiga a imaginação do leitor, o chama para uma parceria. O mundo de hipocrisia, mesmo metaforicamente descrito, está ali com todo sua intensidade. Conclusões, continuidades e similitudes que fiquem a cargo do leitor.

De certa maneira, o texto vem trazendo à luz as sombras dos acontecimentos. Mas a luz não faz com que se enxergue de fato, demonstrando, na verdade, que a identificação das sombras é o mais importante para o entendimento do “real”. O rosto de Maria Bráulia tido como natural nunca vem à tona, enquanto várias facetas do seu social é mostrado. O texto vai se revelando aos poucos, como no enredo, dando pouco a pouco uma visão da representação.

Quanto à Maria Bráulia, ela parece muito bem saber do seu valor como atriz dentro da trama. O seu mundo é um palco; um lugar de representar (por isso o uso do rosto particular e o social). Ela sabe que o mundo, não é a imagem de um mundo subitamente tornado inofensivo, que o espetáculo não imita a realidade, mas permite enxergá-la. Nesse sentido, Bráulia, tida no inicio da novela como uma personagem tímida e passiva, assume toda a manipulação da trama, tanto na ordem do narrado como na ordem da narração.

Como já foi ressaltado anteriormente, o juiz Munhoz presenteia Maria Bráulia com um anel considerado valiosíssimo, que abre as portas da casa para o futuro noivo pois os pais de Maria Bráulia ficam encantados com o presente do noivo, que evidenciava suas posses financeiras, qualificando-o como um bom pretendente. Com a afirmação de que era preciso proteger o anel, o juiz Munhoz manda fazer uma cópia do mesmo, guardando o original no banco. Com a realização da viagem de núpcias, perde-se o anel dito falso.

Posteriormente, quando o juiz manda fazer outra réplica, o joalheiro Marcel de Souza Armand afirma que a jóia que havia ficado no cofre do banco era falsa. O juiz teria se confundido, portanto o anel perdido na viagem era o anel autêntico. Conforme afirma Martins: “perdido o anel, confundido com sua representação, resta apenas o simulacro, ocupando, para sempre, o lugar privilegiado de referência e de verdade”. O falso brilhante passa a transitar todas as cenas ora como original, ora como cópia.

Em um momento da narrativa, somos informados de que o anel que ia e vinha era um só rubi e rubi nenhum. Toda a trama da jóia, a confecção de uma cópia guardada, trocada, sumida, roubada, fora fruto da imaginação do marido e sua enorme capacidade inventiva.

A protagonista consegue dissimular a realidade do anel que, mesmo nunca tendo sido verdadeiro, ela faz com que pareça que o seja. O anel, ponto fundamental da trama, na realidade nunca existiu como um anel verdadeiro, valioso que parecia ser, mas como uma cópia da cópia, multiplicidades de uma simulação. Essa simulação do anel passa a ser mais verdadeira do que o próprio anel.

Quanto ao espaço, pode-se afirmar que na narrativa é o apartamento localizado no décimo andar, em São Paulo, no bairro Itaim-Bibi. Foi neste espaço que se deu a maioria da trama de Maria Bráulia contada por um narrador onisciente. Outros espaços citados são a casa antiga do casal Maria Bráulia e Juiz Munhoz, nomeada como casa da Eugênio de Lima, e a joalheria de Marcel Armand onde a protagonista e seu amante se encontravam.

A descrição do espaço na obra se assemelha a um cenário de teatro. Isso pode ser observado em algumas passagens, como a que se segue:

A cortina está aberta e o palco iluminado e cheio de ouro é como maio derramado sobre esses prédios; uma borracha dourada vai apagando o que acontecia nesses palcos e só deixa a luz esfarinhada e brilhante sobreviver no ar da varanda embandeirada de plantas.

Os personagens, em Jóias de Família, têm a durabilidade da trama. A narrativa é apresentada sob dois focos: um linear, segundo uma abordagem cronológica, e outro que se baseia em uma análise mental no ponto de vista da protagonista. Ou seja: a narrativa acontece em um período de um dia, do amanhecer de Maria Bráulia ao momento em que ela vai repousar e as interferências do passado se fazem através das lembranças da protagonista, anacronicamente.

O tempo da narrativa gira em torno do anel de rubi, sendo o passado dos personagens retomados a partir desse foco. Não há referência anterior a esse momento e nem ao futuro das personagens. Trata-se do aprofundamento nos processos mentais dos personagens, mas feito de maneira indireta, por uma espécie de narrador onisciente que, ao mesmo tempo, os expõe e os analisa.

O narrador é onisciente e domina um saber sobre a vida das personagens e sobre o seu destino. Sabe de onde partem e para onde se dirige, na narração, o que pensam, fazem e dizem os personagens. O foco narrativo, como já vimos, é em terceira pessoa, sendo, por isso, também chamado de narrador-observador. Adota um ponto de vista para além do tempo e do espaço e como canais de informação predominam suas próprias palavras.

Mas é uma onisciência seletiva, pois a narrativa, predominantemente, limita-se a um centro fixo. O ângulo central e os canais de informação são limitados aos sentimentos, pensamentos e percepções da personagem central, sendo mostrados diretamente. Pode-se observar essa onisciência seletiva quando ocorre a exposição de fatos passados, uma vez que esses são limitados à memória de Maria Braúlia, o que se apresenta como um viés de leitura da história.

A narração permite apreender o sentido dos fatos narrados, exigindo do leitor a dedução das significações a partir de fragmentos dos movimentos, ações e palavras dos personagens, criando no leitor um efeito de dúvida. Exige-se do leitor uma posição de alerta aos silêncios da narração, as indeterminações, os brancos, o que a narrativa omite, a começar por tudo aquilo que ela faz supor ter acontecido antes de ela iniciar.

Há também a utilização de diferentes tipos de discurso, dependendo da situação de enunciação. O discurso direto – a reprodução direta da fala dos personagens – é apresentado em alguns trechos da narrativa. Possui a função de proporcionar ao texto maior agilidade e pode expressar as possíveis variações lingüísticas na fala de cada personagem.

O discurso indireto livre, combinação dos discursos indireto e direto, é utilizado em duas passagens da narrativa. Esse recurso confunde as falas das personagens com o pensamento do narrador, forma muito utilizada em textos pós-modernos. Os verbos declarativos são omitidos, o foco está sempre na terceira pessoa do discurso.

Zulmira Tavares cria com maestria, no seu texto, a ilusão, que é problemática tanto no que tange ao enredo da narrativa, como na questão de pensar a própria literatura. O texto finge o tempo todo, inclusive no próprio ato de fingimento, como se fossem criados espelhos. Mas os espelhos funcionam na obra como a afirmação de BAUDRILLARD (1991: p.79), “’Eu serei o seu espelho’ significa não ‘serei o seu reflexo’ mas ‘serei o seu engano’”.

A aparência da realidade é o mais importante. Além da idéia de simples aparência para os outros, os personagens assumem para si mesmos a idéia da aparência, do jogo teatral. O poder de Maria Bráulia na trama está em ter um certo domínio de um espaço simulado, como se de certa forma ela tivesse cordas para representar no palco de sua vida não só os acontecimentos, mas também as pessoas.

Assim, o texto vai se revelando, mas nunca totalmente, sempre deixando nas sombras ou nas possíveis inferências o que acontece.

Fonte:
Passeiweb. Análises Completas.

Pedro Ornellas (Soneto Gauchesco: Atrofia)


Buenas tardes, xiruzada, guapos e prendas, gremistas e colorados, ximangos e maragatos, indiada de outros pagos... muita gente comentou meu soneto gaúcho, mas não atinei para um detalhe. Nem todos estão familiarizados com o gauchês ou têm um dicionário gaúcho à mão, por isso eu deveria ter mandado um glossário, para melhor entendimento do dito soneto.

Pru módi isso, tô mandano agora, pra quem se interessá, após o soneto.
Pedro Ornellas
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Meu coração foi potro xucro outrora
que se assanhava ao ver passar donzelas
pudesse do potreiro saltar fora
por certo ia trotear no encalço delas.

Sempre cismou refregas e esparrelas
em campereadas pelo pago afora,
porém com medo de saltar cancelas
se abichornou... E a vida não demora.

Bagual já foi, porém amanonciado
perdeu as baldas, vive aboletado...
De se enfurnar virou matungo agora...

Quando, fogosa, passa uma potranca
solto-lhe as rédeas, bufa, mas estanca
- e não se alui nem que eu lhe chegue a espora!

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GLOSSÁRIO:
potro: cavalo novo
xucro: não domado, bravio, arisco
assanhar: inflamar, excitar
potreiro: pequeno campo cercado, para animais
trote: Andadura natural das cavalgaduras, entre o passo ordinário e o galope.
cismar: Pensar com insistência (em alguma coisa), imaginar com fixidez.
refrega: Briga, peleja, Trabalho, lida.
esparrela: armadilha, logro, engano
campereada: excursão pelo campo à procura do gado
pago: Lugar em que se nasceu, o lar, o rincão, a querência; o povoado, o município em que se nasceu ou onde se reside.
cancela: porteira
abichornar: Aborrecido, triste, desanimado
bagual: Cavalo manso que se tornou selvagem. Reprodutor, animal não castrado
amanonciar: amansado, domesticado
balda: mania, vício
aboletado: instalado, aninhado
enfurnar-se: esconder-se
matungo: cavalo velho e imprestável
potranca: fêmea de potro
estancar: deixar de correr
aluir: sair do lugar


Fonte:
Soneto enviado pelo autor

Zé Zuca (iAfter ou A Revolução na Comunicação Intermundos)


Se há alguém que pode revolucionar esta comunicação,
este alguém é Steve Jobs
Zé Zuca

Não conheço ninguém que tenha se comunicado de forma moderna e eficiente depois de partir para outra dimensão. Todas as possibilidades estão no campo da religião e não são aceitas como fato comprovável. No caso mais conhecido de comunicação do outro lado para cá, ou daqui para lá, é necessário utilizar o corpo de outro. Embora eu acredite, convenhamos, é uma manifestação algo deselegante e meio assustadora.

Mas esta incomunicabilidade pode estar prestes a acabar. Se há alguém que pode revolucionar o paradigma desta comunicação este alguém é (ou era) Steve Jobs. Já pensou? O mundo tem quatrilhões de anos e, em todo esse tempo, não surgiu qualquer ferramenta que permita a comunicação com nossos queridos que passaram para o outro lado ou deles com a gente. Já pensou se o Steve criar uma?

Poderia ser uma espécie de communicator device after death. Claro que ele sintetizaria, chamando, possivelmente, de iAfter. Um aparelho sofisticado, fino, bonito e amigável que permitiria o contato entre os daqui e os que foram para além da morte e vice-versa. Venderia muito mais do que a Aplle vendeu os iPhone, iPod e iPad juntos. É incalculável o número de pessoas que vivem lá e aqui (só aqui, 7 bilhões) que se beneficiariam deste tipo de comunicação. Imagina só: Você está ansiosa em sua casa, sentindo uma falta danada daquele seu melhor amigo que se foi. De repente o aparelhinho toca, enchendo o ar de esperança e alegria. É ele. O papo rola descontraído com uma qualidade de som impressionante, como se o amigo ou amiga estivesse aqui no Rio de Janeiro. De certa forma estaria mesmo. Com uma super webcam lá e cá você poderia ver se seu amigo estaria mais gordo ou mais magro, se entre nuvens, num quarto ou num paraíso.

Jobs, naturalmente, vai necessitar de um tempo para estudar a situação, montar uma equipe multidisciplinar muito criativa e entender as reais necessidades das duas clientelas. Vai precisar também conhecer as disponibilidades do além. De que material seria o iAfter? Que facilidades ofereceria aos comunicadores multidimensionais? Bastaria um toque num ícone ou seria necessário acessar uma espécie de Internet celestial? Vai que ele crie um teletransportador e traga a pessoa ou o espírito ao vivo ou leve alguém por algumas horas pra bater um papinho no além?

Calma aí. Por outro lado, não falta quem aposte que Steve Jobs estaria se surpreendendo por lá, embasbacado com o que encontrou: nenhuma necessidade de maquininhas para se contatar. Comunicação telepática, mente a mente, em alta velocidade, memória ilimitada. E mais, teletransporte de um lugar para o outro, usando apenas a vontade. Viagens rapidíssimas para qualquer lugar, encontrando, em segundos, quem o pensamento quiser. Jobs estaria constatando que, por lá, todos os aparelhinhos que ele inventou aqui na Terra são desnecessários. É só pensar e chegar.

Espera aí. Mesmo que no outro mundo a comunicação seja moderníssima, nunca ninguém veio pessoalmente aqui depois de partir, assim como ninguém foi lá, bateu um papinho e voltou. É aí que entra o velho Steve. Depois de um tempo de perplexidade, com sua capacidade criativa perceberá que ainda há espaço para suas invenções. E vai agir rápido. Não vai esperar que uma fatalidade possibilite a concorrência de um Bill Gates. Afinal ele chegou primeiro. Vai querer, certamente, criar algum mega dispositivo para o progresso das comunicações intermundos. Por que não o iAfter? É só uma questão de tempo.

O desafio está lançado. Façam suas apostas. Os universos nunca tiveram uma chance como esta de terem uma revolução nos contatos interdimensionais. É só esperar para receber, em breve, a comunicação do primeiro grande lançamento. Certamente, em cadeia planetária de TV, invadindo todos os computadores, em uma aparição quadridimensional espetacular entre nuvens no céu: calça jeans, camisa preta de gola rolê, ele, com algo muito desconhecido nas mãos, o próprio Steve Jobs.

Fontes:
Texto enviado por Simone Pedersen
Imagem = http://www.naopercatempo.info/tag/steve-jobs-no-ceu/

Efigênia Coutinho (Fidalgo semblante...)


De teu fidalgo semblante,
Emana suave doçura.
Do teu tranqüilo olhar,
Repousa em mim a carícia
De um sonho apaixonante.

Tem sonho em mim constante,
Leva-me a sentir na brandura,
Toda realeza do teu versejar,
Desabrochando infinda alegria
Desejo de um beijo flamejante.

Meu coração bate palpitante,
Deste sonho feito de candura,
Sinto desejos de te abraçar
E do teu gozo, sentir a delícia,
Tu em mim e eu esvoaçante.

Novembro 2011

Fonte:
Poesia e imagem enviadas pela poetisa

Cruz e Souza (O Livro Derradeiro) Parte XIV


BEIJOS

Nesta Tebaida infinita
Da vida, na sombra oculto,
Eu gosto de olhar o vulto
De uma criança bonita.

Porque afinal as crianças,
Como eu deslumbro-me ao vê-las,
Cintilam como as estrelas,
Florescem como esperanças.

Dentro de mim se projeta
A luz cambiante dos prismas
E batem asas as cismas
Qual passarada irrequieta.

E batem asas e ruflam,
Pelas artísticas plagas,
As auras que as grandes vagas
Dos fundos mares insuflam.

E digo, ó mães, se uma aurora
Fosse a minh’alma sincera,
Os clarões todos eu dera
A uma criança que chora.

Porque se a luz fortalece
Arbustos e as andorinhas,
Também por certo às criancinhas
Conforta, avigora, aquece.

E eu que aplaudo e que rimo
Tudo isso que a luz se regre,
Na vibração mais alegre
As criancinhas estimo.

Portanto, assim, sem refolhos
Beijando a Olga, beijando
Meus sonhos vão, irradiando,
Se derramar em seus olhos!

PIRUETAS

Finou-se um tal inglês
Gastrônomo e patife
Que tanto -- de uma vez
Comeu, comeu e esparramou-se em bife;
Que um dia de jejum,
Pela pança rotunda e quixotesca,
Teve um parto... comum,
Um feto original... de came fresca.

AS DEVOTAS

I

Enquanto o sino bimbalha,
Bimbalha, bimbalha e tine,
Lançai do olhar a migalha
-- Enquanto o sino bimbalha --
À raça que se amortalha
No horror que não se define...
Enquanto o sino bimbalha
Bimbalha, bimbalha e tine.

II

Perto da Igreja a senzala,
O Cristo junto aos escravos
E, pois, deveis visitá-la,
Perto da Igreja, a senzala
E procurar transfarmá-la
Da luz às palmas, aos bravos!...
Perto da Igreja a senzala,
O Cristo junto aos escravos.

III

E tão-somente por isto
Enquanto o sino bimbalha,
Bem antes de terdes visto
-- E tão-somente por isto --
Todo o martírio do Cristo,
O vosso amor que lhes valha,
E tão-somente por isto,
Enquanto o sino bimbalha.

[MEUS ESPLÊNDIDOS...]

Meus esplêndidos desejos
Emigram, como beijos,
Pelo azul espaço, em curvas,
Rasgando essas brumas turvas;
Pelo sol das primaveras,
Batendo as asas brancas,
Como, batem, quimeras...
...............................................
Voai, andorinhas francas!

NUNCA SE CALA O CALADO

Nunca se cala o Callado
E sempre o Callado, fala
Callado que não se cala,
Nunca se cala o Callado,
Callado sem ser calado,
Callado que é tão falado...
Nunca se cala o Callado
E sempre o Callado, fala.

OLHARES

Teus traquinantes olhinhos
Continhas, Ziza, parecem;
Zigzagam sempre, tontinhos
Teus traquinantes olhinhos;
Tão pretos, tão redondinhos
Olhinhos que me embevecem,
Teus traquinantes olhinhos
Continhas, Ziza, parecem.

NAS EXPLOSÕES DE BONS RISOS

Nas explosões de bons risos
Os triolés petulantes
Chocalhem, tinam, precisos
Nas explosões de bons risos,
Tilintem como mil guisos
Sonoros, raros, vibrantes
Nas explosões de bons risos,
Os triolés petulantes.

TRIOLÉ - PEGA ESTES ZOTES

Triolé -- pega estes zotes
E dá-lhes de baixo acima
Preso ao trapézio da rima
Na mais artística esgrima
D’estouros e piparotes,
Preso, ao trapézio da rima
Triolé - pega estes zotes.

GRITO DE GUERRA

Aos senhores que libertam escravos

Bem! A palavra dentro em vós escrita
Em colossais e rubros caracteres,
É valorosa, pródiga, infinita,
Tem proporções de claros rosicleres.

Como uma chuva olímpica de estrelas
Todas as vidas livres, fulgurosas,
Resplandecendo, — vós tereis de vê-las
Rolar, rolar nas vastidões gloriosas.

Basta do escravo, ao suplicante rogo,
Subindo acima das etéreas gazas,
Do sol da idéia no escaldante fogo,
Queimar, queimar as rutilantes asas.

Queimar nas chamas luminosas, francas
Embora o grito da matéria apague-as;
Porque afinal as consciências brancas
São imponentes como as grandes águias.

Basta na forja, no arsenal da idéia,
Fundir a idéia que mais bela achardes,
Como uma enorme e fulgida Odisséia
Da humanidade aos imortais alardes.

Quem como vós principiou na festa
Da liberdade vitoriosa e grande,
Há de sentir no coração a orquestra
Do amor que como um bom luar se expande.

Vamos! São horas de rasgar das frontes
Os véus sangrentos das fatais desgraças
E encher da luz dos vastos horizontes
Todos os tristes corações das raças...

A mocidade é uma falena de ouro,
Dela é que irrompe o sol do bem mais puro:
Vamos! Erguei vosso ideal tão louro
Para remir o universal futuro...

O pensamento é como o mar — rebenta,
Ferve, combate — herculeamente enorme
E como o mar na maior febre aumenta,
Trabalha, luta com furor — não dorme.

Abri portanto a agigantada leiva,
Quebrando a fundo os espectrais embargos,
Pois que entrareis, numa explosão de seiva,
Muito melhor nos panteões mais largos.

Vão desfilando como azuis coortes
De aves alegres nas esferas calmas,
Na atmosfera espiritual dos fortes,
Os aguerridos batalhões das almas.

Quem vai da sombra para a luz partindo
Quanta amargura foi talvez deixando
Pelas estradas da existência — rindo
Fora — mas dentro, que ilusões chorando.

Da treva o escuro e aprofundado abismo
Enchei, fartai de essenciais auroras,
E o americano e fértil organismo
De retumbantes vibrações sonoras.

Fecundos germens racionais produzam
Nessas cabeças, claridões de maios...
Cruzem-se em vós — como também se cruzam
Raios e raios na amplidão dos raios.

Os britadores sociais e rudes
Da luz vital às bélicas trombetas,
Hão de formar de todas as virtudes
As seculares, brônzeas picaretas.

Para que o mal nos antros se contorça
Ante o pensar que o sangue vos abala,
Para subir — é necessário — é força
Descer primeiro a noite da senzala.

ADALZIZA

Tens um olhar cintilante,
Tens uma voz dulçurosa,
Tens um pisar fascinante,
Tens um olhar cintilante
Cheio de raios, faiscante
Ó criatura formosa,
Tens um olhar cintilante,
Tens uma voz dulçurosa!...

[TEUS OLHOS]

Tão doces como os arminhos,
Esse casal de ilusões!...
Das folhagens do campo em meio da espessura,
Teus olhos -- esses carinhos,
Esse casal de ilusões
Teus olhos -- esses carinhos
Parecem ser os dois ninhos
Das minhas consolações,
Teus olhos -- esses carinhos

Fonte:
Cruz e Sousa, Poesia Completa, org. de Zahidé Muzart, Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura / Fundação Banco do Brasil, 1993.

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) O Sítio do Picapau Amarelo VIII – Tom Mix


Assim que deixou a menina, Tom Mix voltou ao lugar do assalto, a fim de orientar-se na pista de Rabicó. Descobriu logo os rastos dele na terra úmida e os foi seguindo até à floresta. Lá se guiou pelas ervinhas amassadas e outros sinais que na fuga ele fora deixando. E andou, andou, andou até que de repente ouviu um ruído suspeito.

— É ele! — pensou Tom Mix agachando-se — e, pé ante pé, sem fazer o menor barulhinho, aproximou-se do lugar donde partia o ruído suspeito. Espiou. Lá estava o marquês, rom, rom, rom, de cabeça enfiada dentro duma abóbora muito grande, tão entretido em devorá-la que não deu pela presença do terrível vingador.

Tom Mix foi chegando, foi chegando e, de repente...

— Nhoc! — agarrou o marquês por uma perna.

— Coin! coin! coin! — grunhiu o ilustre fidalgo.

— Peço perdão a Vossa Excelência — disse Tom Mix com ironia — mas estou cumprindo ordens da senhora princesa do Narizinho Arrebitado.

— Que é que Narizinho quer de mim ? — gemeu Rabicó desconfiado.

— Pouca coisa — respondeu o vingador. — Apenas uns torresminhos para enfeitar um tutu de feijão amanhã...

— Coin! coin! coin! — gemeu o marquês compreendendo tudo.

E foi com bagas de suor frio no focinho que implorou: “Tenha dó de mim, senhor bandido! Tenha piedade de mim, que lhe darei esta abóbora e ainda outra maior que escondi lá adiante...”

Tom Mix parece que não gostava de abóbora. Limitou-se a puxar pela faca e a passá-la sobre o couro da bota, como que a afiando. Percebendo que estava perdido, Rabicó teve uma idéia.

— Senhor bandido, poderá prestar-me um obséquio?

— Diga o que é — respondeu Tom Mix calmamente, sempre a afiar a faca.

— Quero que me conceda cinco minutos de vida. Preciso fazer o testamento e confiar minhas últimas palavras a essa libelinha que vai passando.

Tom Mix concedeu-lhe os cinco minutos. Rabicó chamou a libelinha.

— Amiga, darei a você um lindo lago azul onde possa voar a vida inteira, se me fizer um pequeno favor.

— Diga o que é — respondeu a libelinha, vindo pousar diante dele.

— É levar uma carta à princesa Narizinho, que deve estar no reino das Abelhas.

— Com muito prazer.

Rabicó fez a carta depressa e entregou-lha. A libelinha tomou-a no ferrão e zzzit! lá se foi, veloz como o pensamento. Mal a viu partir, deu Rabicó um suspiro de alívio, murmurando em voz alta:

“Coragem, Rabicó, teu dia não chegará tão cedo!”

— Que é que está grunhindo aí, senhor marquês? – perguntou o carrasco.

Rabicó disfarçou.

— Estou pensando na sua valentia, senhor Tom Mix. Está assim prosa porque deu comigo, que sou um pobre coitadinho. Queria ver a sua cara, se Lampião aparecesse por aqui com os seus cinqüenta cangaceiros!

— Lá tenho medo de lampiões ou lamparinas? O marquês não me conhece. Diga-me: costuma ir ao cinema?

— Nunca. Mas sei o que é.

— Se não conhece o cinema, não pode fazer idéia do meu formidável heroísmo! Não há uma só fita em que eu seja derrotado, seja lá por quem for. Venço sempre ! Sou um danado!...

Rabicó olhou-o com o rabo dos olhos, pensando lá consigo:

“Grandíssimo fiteiro é o que você é.” Pensou só, nada disse. Aquela faca embargava-lhe a voz...
––––––––
Continua... As Muletas do Besouro

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

57a. Feira de Livros de Porto Alegre (Programação de 13 de Novembro, Domingo)


Mostra Vivências criativas com jogos culturais
13/11/2011 - 09:00

Tecendo histórias para encantar
13/11/2011 - 10:30
Contação de histórias com o Grupo Fio da Palavra

Cidade das Crianças e seus olhares sobre Porto Alegre: entre sombras, traços e brincadeiras.
13/11/2011 - 14:00
Até as 20h.

Malasaventuras safadezas do Malasartes, de Pedro Bandeira
13/11/2011 - 14:00
Contação de Histórias com a equipe do QG

Canal Futura na Feira
13/11/2011 - 15:00
Canal Futura na Feira- Umas Palavras, episódios: Ariano Suassuna e Cíntia Moscovich.

O menino que aprendeu cedo demais
13/11/2011 - 15:00
Espetáculo teatral

Contação de Histórias do livro O Velho dos Cabelos de Mola, de Walmor Santos e Rodrigo Prates
13/11/2011 - 15:30

O que tem na barriga da Formiga, de Marion Cruz
13/11/2011 - 15:30
Espetáculo teatral com Trupi di Trapu

Eu... Gênio.
13/11/2011 - 15:30
Editora: Suliani Letra & Vida

O velho dos cabelos de mola (livro / CD)
13/11/2011 - 16:00
Editora: WS Editor

Entre Palavras
13/11/2011 - 16:00
Editora: SINTRAJUFE-RS

Cinema de Animação - Um diálogo ético no mundo encantado das histórias infantis
13/11/2011 - 16:30
Editora: Sulina

Contação de Histórias
13/11/2011 - 17:00
Coletânea de textos Infantojuvenis "Histórias e mais histórias"da escritora Fernanda Blaya Figueiró

Bate-papo com os autores do livro-digital de imagens O Rei que Comia Letras e outras histórias
13/11/2011 - 17:00

A sinistra casa da vovó Sinistra
13/11/2011 - 17:00
Editora: WS Editor

Uma Mesa para três - Memórias Soltas
13/11/2011 - 17:30
Editora: Editora da Ulbra

A arte em três ventos
13/11/2011 - 17:30
Editora: Revolução

A psicanálise e as ficções
13/11/2011 - 18:00
A narrativa, instrumento fundamental seja ela falada ou escrita - relação entre a psicanálise e a arte, sobretudo com a arte literária

Os potes da sede
13/11/2011 - 18:00
Encenação de poemas

Poemas no ônibus e no trem edições 2010/2011
13/11/2011 - 18:00
Editora: Editora da Cidade/SMC

De tudo fica um pouco
13/11/2011 - 18:00
Editora: Dublinense

Lendo nossos autores
13/11/2011 - 18:30
Editora: Caravela
P
resença de Vera Lúcia Marinczeck de Carvalho
13/11/2011 - 19:00
A autora de Violetas na Janela em um bate-papo sobre a gentileza e a capacidade que temos em ajudar o próximo em pequenos gestos

Cine Santander Cultural
13/11/2011 - 19:00
Sessão Comentada

Sarau Marias, Amélias e Camélias, com o grupo O Nariz Postiço
13/11/2011 - 19:00

Reflexões Filosóficas Infantis
13/11/2011 - 19:30
Editora: Palmarinca e Território das Artes

Ousadia e Paixão em Lou Andreas-Salomé
13/11/2011 - 19:30
Editora: Palmarinca e Território das Artes

Os potes da sede
13/11/2011 - 19:30
Editora: Palmarinca e Território das Artes

Cordão da Saideira: A vida não basta - Leitura Ferreira Gullar, 80 anos
13/11/2011 - 20:00
Repertório seletivo da obra desde o primeiro livro "A luta corporal" de 1954, até o livro mais recente "Em alguma parte alguma", de 2010, seguido de leituras em áudio gravada pelo próprio autor

A casa do bosque
13/11/2011 - 20:30
Editora: Petit

A mulher de vermelho e branco
13/11/2011 - 20:30
Autógrafos

Fonte:
http://www.feiradolivro-poa.com.br/programacao/data/2011-11-13/pag/7

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Wagner Marques Lopes (Trova Ecológica 42)

Carlos Drummond de Andrade (A Incapacidade de Ser Verdadeiro)


Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da-independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.

A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos. feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.

Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:

- Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.

Fontes:
ANDRADE, Carlos Drummond de. A cor de cada um. 3a. ed. RJ: Record, 1998.
Imagem = http://blogdogandolfo.blogspot.com

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 392)


Uma Trova Nacional

Busquei-o além do horizonte
nas águas do mar sem fim,
mas curvando a minha fronte
senti Deus dentro de mim.
–RITA MOURÃO/SP–

Uma Trova Potiguar

Nunca juntei-me aos tristonhos,
jamais chorei despedidas.
Eu sou pescador de sonhos
nas enxurradas da vida.
SEBASTIÃO SOARES/RN–

Uma Trova Premiada

1991 - Amparo/SP
Tema: FONTE - 4º Lugar

Sem avistar horizontes,
no vale do meu desgosto,
meus olhos são duas fontes,
regando o chão do meu rosto.
–DIVENEI BOSELI/SP–

Uma Trova de Ademar

Descobri no envelhecer
que a musa que me enaltece
não deixa o verso morrer,
pois musa nunca envelhece!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Para matar as saudades,
fui ver-te em ânsias, correndo...
– E eu, que fui matar saudades,
vim de saudades morrendo!
–ADELMAR TAVARES/PE–

Simplesmente Poesia

Imagem da Paz.
–EFIGÊNIA COUTINHO/SC–

Poeta, tu conheces da alma a moradia:
é uma trama urdida em ouro pelo Espírito.
Tem compaixão desses reis sem autonomia;
por este caminho escutem o meu grito!

Nos olhos de todos vejo o receio
que como eu, eles sobem a montanha.
A fraga de Sísifo perguntando creio,
da vida o objetivo que existe e sonha!

Dessa montanha elevemos ao cume,
onde sombra e sol brincam sob o átrio,
uma cidade – espelho de verdadeiro lume
oferecendo às almas, todo amor mátrio!

A alma não foi feita de pedra bruta,
sente olhares enternecidos e espera.
E é na tua voz que sempre escuta
a esperança de Paz numa nova esfera!

Estrofe do Dia

Deus, nos mandou para cá
com destinos diferente,
um nasce para enricar
outro, pra ser penitente,
um nasce para o evangelho,
nasce um para morrer velho
e outro para morrer novo;
nasce um crente, nasce um ateu
e Ademar velho nasceu
pra fazer versos pra o povo!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

Assim São Meus Versos
–SÔNIA SOBREIRA/RJ–

Assim são meus versos, enigmáticos,
como ventos que bailam nas andanças,
são mistérios, são fúlgidas lembranças,
luzeiros cintilantes, mas estáticos.

São girassóis altivos e fleumáticos,
são quimeras, retalhos de esperanças,
cantilenas que embalam as crianças,
fantasias dantescas de fanáticos.

Frágeis anseios a rimar cansaços,
que choram seus lamentos nos meus braços,
num desconsolo que jamais se acalma.

São espectros com dedos gigantescos,
desenhando nas pedras arabescos,
que entrelaçam pedaços de minh'alma.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Francisco Macedo (Lançamento do Jornal O Trovador, 4. Bimestre de 2011)


Exuberância de vida...
- É a natureza, nas flores!
Primavera ressurgida,
no jardim dos trovadores...
Francisco Macedo (RN)

Francisco Macedo (do Rio Grande do Norte), me enviou o jornal O Trovador, o qual scaneei e você poderá fazer o download AQUI.

Notícias, Trovas Potiguares, Trovas Premiadas, Trove Lá...que eu Trovo Cá..., Formas Poéticas, Canto do Poeta tendo a entrevista com o poeta Manoel Cavalcante de Souza Castro, etc.

Ou solicite o jornal por correio, ao Francisco Macedo em vatemacedo@yahoo.com.br