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sábado, 15 de junho de 2024
José Feldman (Analecto de Trivões) 31
Aparecido Raimundo de Souza (O choro de uma simples folha de papel em branco)
“Todo mundo chora, até um simples mosquito atormentado pela presença de uma lata de Multi Inseticida, ainda que a embalagem esteja vazia.”
Bicó Marajá, de Realengo (Morador de rua)
EM UM CANTO bem lá atrás da sala de aula enorme, esquecida, abandonada à sorte no banco de uma carteira, jazia uma folha de papel. Uma dessas simples A4 expulsa da resma por ninguém fazer uso dela. Apenas mais uma entre tantas. Todavia, essa folha, em especial, se sentia diferente de todas as suas demais consanguíneas. Não pelas angustias que carregava, ou pelas palavras que chegavam aos seus ouvidos. Em absoluto. Ela acumulava no âmago e isso lhe afligia, como um látego martirizante. O total estado de abandono e a mais dolorosa falta de companheirismo. Não havia nenhum embaraço em especial, porém, a sua dor se propagava pela história que nunca foi devidamente contada.
Ou melhor, disseminada como deveria. Sendo assim, ela ouvia nitidamente o coro das algazarras; os sons das carteiras sendo arrastadas; o tec-tec das gotas da chuva; quando caia temporal; as conversas abafadas pelos celulares nos corredores. E não ficavam de fora as vozes barulhentas dos professores; as risadas das funcionárias; o som das campainhas dos celulares; o metálico das moedas dadas em pagamento de algum lanche comprado de última hora na cantina; à música no rádio do carro da diretora; o vai-e-vem dos veículos passando lá fora; tanto de um lado, como de outro; as freadas bruscas dos ônibus (havia um ponto próximo do prédio onde funcionava a escola. Apesar disso, ninguém ouvia as suas dores.
Tampouco alguém se importava, ou dava a mínima para os seus medos e inseguranças. Suas aflições e desesperos. Ela queria (e somente pretendia) ser mais que uma mera expectadora. Na verdade, almejava fazer parte viva e pulsante da história de alguém. Em seus devaneios, lembrou de um caso passado. De uma recordação acontecida há anos. Certa vez, e esse “certa vez” se prolongava longevo, a lágrima desgarrada de uma menina triste, macambúzia igual a ela, caiu sem querer sobre seu corpo. Era uma lágrima; verdade seja dita; dorida; de enorme tristeza; de melancolia infinda derramada por uma mocinha que acabara de sair do banheiro da escola e ir se acomodar lá nos cafundós em uma carteira apartada.
A folha de papel, por puro milagre, estava jogada à sorte, esperando ser recolhida por uma das zeladoras que limpavam as dependências, quando as aulas, final da tarde cessavam. Não sabendo como explicar a magia desse acontecimento, por puro acaso, ou milagre, a menina começou a chorar. Num dado momento, uma lágrima caiu em seu corpo. A folha, também por pura sorte do destino, absorveu essa lágrima. Sentiu seu peso, a frieza com a qual saiu do mais profundo da garota, bem ainda, sugou a salinidade que viera junto. Naquele momento, ela não se sentiu apenas uma folha de papel sem nada. Ao contrário, se fez, ou melhor dito, se transformou numa confidente silenciosa da dor e dos percalços humanos da indefesa e desabrigada criança.
De repente, igual a princesinha, a folha de papel se pôs igualmente a chorar. Não por si mesma. Possivelmente pela tristeza pegajosa e pela desinquietação que testemunhava. Ela queria, ou melhor, carecia de oferecer algum tipo de conforto e de atenção à jovenzinha. Incansável, uma pergunta que não calava dentro de si: como poderia? Puxa vida, como, de que forma, tal aspiração se faria real e palpável? Coitada! Não passava de uma simples folha de papel. No entanto, naquele instante de umidade e sal, ela se tornou mais que isso. Se fez uma página em branco diferenciada, cheia de vida, avivada, dona de si, onde novos começos ainda não percebidos poderiam ser escritos e a esperança desenhada em sua melhor forma de expressão.
Nesse tom meio que bucólico, a pacata e tristonha folha de papel em branco lembrou que mesmo o mais simples dos objetos (mesmo uma desprezível e esquecida folha de papel) poderia sorver uma nova lágrima, e, nesse ato de sugar, transformar toda a sua infelicidade em harmoniosa esperança de horizontes melhores. E de alguma forma a ser descoberta, ameigar, ou pelo menos tentar tirar do desassossego, da angustia, uma nova alma grandemente vazia e conturbada. Quem sabe, ainda (e isso se consubstanciava num só talvez), fosse o suficiente para que a sua solidão pesada voasse, de vez, para algum lugar distante, bem longe de seu peito dilacerado pela infelicidade de ser apenas e tão somente uma folha de papel abandonada ou esquecida numa carteira de uma sala de aula de uma escola qualquer. Desanimar, nunca. Tampouco gritar a plenos pulmões, como Tisbe, em Shakespeare... “Oh! Perversa, perversa parede...”. Isso, jamais.
Fonte: Texto enviado pelo autor
Vereda da Poesia = 34 =
ROZA DE OLIVEIRA
Não cresceu... Ficou baixinha,
tem, da tesoura o viés
porque a língua, coitadinha,
corre mais do que os seus pés!...
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Soneto de Vila Velha/ES
EDY SOARES
A dor de um poeta
A dor de sentir a perda de alguém
é feito arrancar pedaços da gente…
Ferida profunda e tão permanente,
que não se conhece a cura em ninguém.
É tão singular em cada vivente
que não se compara a dor que se tem
àquela que fere o peito de quem
consegue escondê-la inerte e latente.
Quisera que o tempo andasse ao contrário,
nascer bem velhinho e rumo ao berçário
rejuvenescer, viver sem as pressas…
E a vida, ao final de um ciclo fraterno,
quem sabe voltasse ao corpo materno!…
Quisera viver a vida às avessas…
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Aldravia de Ipatinga/MG
MARÍLIA SIQUEIRA LACERDA
minh’alma
constrói
madrugadas
poéticas:
solitárias
palavras
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Soneto de São Paulo/SP
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
Lar… doce lar…
Volto à casa, que “era minha”,
risco a calçada e, feliz,
vou pular amarelinha
mas, o pranto apaga o giz!
Hoje, saudosa, eu volto ao lar antigo
e escancarando a porta semiaberta,
procuro em vão… vasculho o doce abrigo…
Nem pai… nem mãe… a casa está deserta!
E volto ao lar, que dividi contigo…
– Vaivém dos filhos, pela porta aberta…
– Visita alegre de um ou de outro amigo…
E, hoje, é a saudade que o meu peito aperta.
Mas, por deixar pegadas nos caminhos,
não fiquei só!… Cercada de carinhos,
eu sou feliz!… Se volta o sonho louco
do teu amor, acalmo o coração
pois, ao sentir que chega a solidão,
no amor dos filhos eu te encontro um pouco.
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Trova Premiada em Itanhaém/SP, 1999
ELEN DE NOVAIS FELIX
Rio de Janeiro/RJ
Mesmo numa noite triste
quando meu mar se encapela,
minha canoa resiste:
é que Deus vai dentro dela.
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Poema de Itajaí/SC
SAMUEL DA COSTA
Solitude ad aeturnus (teu silêncio em mim)
Só posso entender...
O teu silêncio como recusa
Do meu amor que declaro a ti!
Nessa hora de dor extrema
Fico a pensar nos beijos
Que ainda não te dei.
Penso no sofrimento
Que me condenas
Na vida vazia que tenho...
Sem a tua presença ao meu lado
Sem tu aqui e para sempre ao meu lado
Ouço o teu silêncio com angústia
Que me constrange
No meu desespero
Penso no resplendor do teu sorriso
No teu belo rosto emoldurado
Pelos longos e trigais cabelos.
São frutos dourados do sol
Nos teus belos olhos postados em mim
Que alegra os meus trágicos dias
Amenizam os dias cruéis
Sem a tua doce presença
Ao meu lado.
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QUADRA POPULAR
Após um dia tristonho
de mágoas e agonias
vem outro alegre e risonho:
são assim todos os dias.
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Soneto de Porto Alegre/RS
IALMAR PIO SCHNEIDER
Soneto à mulher morena
Linda manhã radiosa me convida
a prosseguir nos passos rumo ao mundo,
porque sonhar amando é tão profundo,
que mais e mais, também prolonga a vida !
Mas se eu pudesse ser um vagamundo,
sem conhecer a estrada percorrida,
com certeza, conceberia a lida
de procurá-la até em um submundo…
Eu sei que vou lhe amar a todo o instante,
com seu sorriso límpido e brilhante,
qual se fosse de Alencar – ´´A Iracema´´!…
E para consagrar meu preito à bela
morena, que não sai da minha tela,
eis o soneto que ainda é o poema !
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Trova de Campinas/SP
ARTHUR THOMAZ
No momento da partida,
o beijo cala um adeus
e uma lágrima incontida
vem molhar os lábios teus.
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Poema de Floriana/ Malta
OLIVER FRIGGIERI
Uma Estrofe Sem Título
Dá-me as palavras de teus olhos, a noite escreve
Uma estrofe purpúrea sobre teu bonito rosto,
Brilha o orvalho, tuas bochechas um branco universo
De onde nada dá um passo descalço sem dor,
Toca estas mãos e sente o despedaçado coração
E nota o sangue quente, o pranto solene.
Pomba, não voes distante come de minhas mãos,
Este é o grão que não mata, água pura.
Monótono o sino que dá a hora
Para que te vás desta janela entreaberta
Por mim para ti, monótono o suspiro
Gravado como ilusão que vem e vai.
Não voes distante, e diga comigo esta oração:
“Há raios de luz de lanterna enfocados em mim,
Há uma humilde estrela que brilha só para mim,
Há uma flor selvagem que se abre em meu peito,
Há uma chama de vela vacilante só para mim.”
(Tradução: José Feldman)
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Haicai de Maringá/PR
A. A. DE ASSIS
Hai…tchim!!!
Filas nos postinhos.
Em meio a espirros e tosses,
velhinhos papeiam.
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Setilha de Fortaleza/CE
NEMÉSIO PRATA
Somos três
(Ao Francisco Pessoa e José Feldman, sobre a “mardita” diabetes)
De doce todos gostamos,
seja de leite ou goiaba,
de caju, mamão ou coco,
até banana e mangaba;
para completar a vez,
agora somos os três,
"doces" vítimas da "diaba"!
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Trova de Porto Velho/RO
JERSON LIMA DE BRITO
Sentindo o golpe certeiro
da paixão que me extasia
louvo teu sorriso, arqueiro
de notável pontaria.
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Glosa do Rio Grande do Sul
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS
Ruas do Céu
MOTE:
Este céu tem lindas ruas
e Deus, para enriquecê-las,
de prata pintou as luas
e bordou o chão de estrelas.
Sarah Rodrigues
Belém/PA
GLOSA:
Este céu tem lindas ruas,
cheias de encanto e harmonia,
de tristezas, estão nuas,
nelas, só existe alegria!
São as mais belas de todas
e Deus, para enriquecê-las,
deu-lhes luz de eternas bodas...
Impossível descrevê-las!
Pra não ver mais cores cruas,
com seu pincel de emoção,
de prata pintou as luas
com a mão do coração!
Quis belezas extasiantes
e, assim, para poder tê-las,
pintou as luas distantes
e bordou o chão de estrelas.
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ
MARIA BEATRIZ DEL PELOSO RAMOS
Mar
arado
pelos
olhos
colho
saudade
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Soneto de Belo Horizonte/MG
SÍLVIA ARAÚJO MOTTA
Segredo da despedida
Ao meio dia, alegres dois ponteiros,
cantaram juntos para a paz buscar;
o sol tornou dois corpos mais inteiros,
brilho no rio quis logo espelhar!
Testemunhou paixão febril, no olhar,
firmes mãos dadas, toques bem ligeiros
no tim-tim-tim que o copo fez cantar,
canção vibrante quis os tons primeiros.
Água que passa suja, leva tudo,
No entardecer, relógio, chama agora:
-Já são seis horas...tempo fica mudo.
Na despedida penso:-Quero tê-lo!
Tal qual criança sofre e vai embora...
Tristonha vou...não posso mais detê-lo.
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Trova Premiada em Natal, 2022
MARIA HELENA URURAHY
Angra dos Reis/RJ
O sabor do beijo ousado,
naquele adeus na estação,
deixou comigo, guardado,
o amargo da ingratidão...
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Poema de Fortaleza/CE
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
1949 - 2020
No falado paraíso
Onde nasceu a manhã
Onde a primeira maçã
Tirou do homem o juízo
Extraído o dente ciso
Com o velho boticão
Da boca do velho Adão
Fato que não se malogra
Mas Adão foi sorteado
E por Deus presenteado
Pois nunca teve uma sogra!
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Triverso de Guarulhos/SP
ANTONIO LUIZ LOPES TOUCHÉ
A Maria-sem-vergonha
Como a rosa e a margarida,
Cumpre a sina: floresce.
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Spina de São Paulo/SP
NEUMA TOLEDO
Recado
Soprando, o vento
me contou que
você roubou Deus.
Tirou todo azul do céu
pôs nos seus lindos olhos,
esqueceu de tingir os meus
que são escuros como graúnas
lembram petróleo cheio de breus.
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Trova de Ribeirão Preto/SP
NILTON MANOEL ANDRADE TEIXEIRA
1945 – 2024
Cavalgando sem rodeios
por galáxias estreladas,
o poeta em seus anseios
tece trovas requintadas.
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Pantum de São José dos Campos/SP
MIFORI
(Maria Inez Fontes Rico)
Doa-se um coração
Doa-se um bom coração...
Muito afoito e destemido!
Já viveu tanta paixão,
apesar de ter sofrido...
Muito afoito e destemido,
um eterno sonhador.
Apesar de ter sofrido
da solidão tem horror.
Um eterno sonhador,
por muitos, manipulado.
Da solidão tem horror;
quer amar e ser amado.
Por muitos, manipulado
mas ainda em condição...
Quer amar e ser amado!
Doa-se um bom coração...
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Poetrix de Paranavaí/PR
RENATO FRATA
Manhã
Gemido de amor que se cala,
cão vadio que se deita:
– madrugada que se esvai…
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Soneto de Santo Amaro da Purificação/ BA
ERÁCLIO SALLES
Teu Presente
Pensei que a terra, por demais escura,
Manchasse o alvor de teus formosos braços.
E arrojei-me, quixótico, aos espaços,
Sorvendo aos tragos a amplidão da altura.
Penetrei mundos de celeste alvura,
Cansando o olhar, multiplicando os passos.
Venci desertos, esmaguei cansaços,
De um presente trazer-te, indo à procura.
Fiquei cego de ver tanta miragem,
Fitando estrelas, no ansiar profundo.
Nem só uma escolhi – tantos cuidados! -
Nada te posso dar dessa viagem.
Mas sei, no entanto, que te trouxe um mundo
Na memória dos olhos apagados.
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Trova de Juiz de Fora/MG
MAURO MACEDO COIMBRA
É magia que me encanta
e que a Deus mais enaltece:
a raiz sustenta a planta,
mas quase nunca aparece!
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Poema de Portugal
ANTÓNIO GEDEÃO
(Rómulo Vasco da Gama de Carvalho)
Lisboa, 1906 – 1997
Poema da malta das naus
Lancei ao mar um madeiro,
espetei-lhe um pau e um lençol.
Com palpite marinheiro
medi a altura do Sol.
Deu-me o vento de feição,
levou-me ao cabo do mundo.
pelote* de vagabundo,
rebotalho** de gibão.
Dormi no dorso das vagas,
pasmei na orla das praias
arreneguei, roguei pragas,
mordi peloiros*** e zagaias****.
Chamusquei o pelo hirsuto,
tive o corpo em chagas vivas,
estalaram-me a gengivas,
apodreci de escorbuto.
Com a mão esquerda benzi-me,
com a direita esganei.
Mil vezes no chão, bati-me,
outras mil me levantei.
Meu riso de dentes podres
ecoou nas sete partidas.
Fundei cidades e vidas,
rompi as arcas e os odres.
Tremi no escuro da selva,
alambique de suores.
Estendi na areia e na relva
mulheres de todas as cores.
Moldei as chaves do mundo
a que outros chamaram seu,
mas quem mergulhou no fundo
do sonho, esse, fui eu.
O meu sabor é diferente.
Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.
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* Pelote = Peça de vestuário antiga, de abas largas e grandes
** Rebotalho = refugo
* * * Peloiros = bala de metal
* * * * Zagaias = lança curta
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Recordando Velhas Canções (Coisas Nossas)
Queria ser pandeiro
Pra sentir o dia inteiro
A tua mão na minha pele a batucar
Saudade do violão e da palhoça
Coisa nossa
Muito nossa
O samba, partidão e outras bossas
São nossas coisas
São coisas nossas
Menina que namora na esquina
e no portão
Rapaz casado com dez filhos
sem tostão
Se o pai descobre
o truque dá uma coça
Coisa nossa
Muito nossa
O samba, partidão e outras bossas
São nossas coisas
São coisas nossas
Baleiro, jornaleiro, motorneiro
Condutor e motorista
Prestamista, vigarista
E o carro que parece uma carroça
Coisa nossa
Muito nossa
O samba, partidão e outras bossas
São nossas coisas
São coisas nossas
Malandro que não bebe, que não come
Que não abandona o samba
Pois o samba mata a fome
Morena bem bonita lá na roça
Coisa nossa
Muito nossa
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A Alma do Samba e a Identidade Brasileira em 'São Coisas Nossas'
Com a gradual implantação do som no cinema brasileiro, Wallace Downey, um americano ligado à nossa indústria fonográfica, percebeu que a produção de filmes musicais poderia ser um negócio muito lucrativo. Assim apoiado pela empresa Byington & Cia., de São Paulo, realizaria em 1931 o curta-metragem “Mágoa Sertaneja” e o longa “Coisas Nossas”, os musicais pioneiros do nosso cinema. Inspirado, talvez, pelo título deste último, Noel Rosa compôs o samba homônimo (também conhecido por “São coisas nossas”), em que “filosofa” espirituosamente sobre hábitos, manias e “outras bossas” tipicamente brasileiras — “O samba, a prontidão e outras bossas / são nossas coisas, são coisas nossas...”. “Coisas Nossas” e mais outros quatro sambas foram lançados por Noel em discos Columbia, empresa que na época havia instalado um estúdio de gravação no Rio de Janeiro (A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34).
Noel Rosa começa a música expressando um desejo poético de ser um pandeiro, um instrumento essencial no samba, para sentir o toque constante da mão de alguém especial. Essa metáfora inicial já estabelece a importância do samba e dos instrumentos musicais na vida cotidiana. Ele menciona a saudade do violão e da palhoça, elementos que remetem à simplicidade e à autenticidade da vida rural e das rodas de samba. A repetição da frase 'coisa nossa' reforça a ideia de pertencimento e identidade cultural.
A letra também aborda a figura do malandro, um personagem típico do samba, que vive de maneira despreocupada, mas fiel à sua cultura. Noel Rosa destaca que, mesmo sem beber ou comer, o malandro não abandona o samba, pois ele é uma fonte de sustento emocional e cultural. Além disso, a música menciona diversos personagens do cotidiano urbano, como o baleiro, o jornaleiro e o condutor, todos representando a diversidade e a riqueza da vida nas cidades brasileiras. A música termina com uma cena familiar e comum, de uma menina namorando na esquina e um rapaz casado com muitos filhos, reforçando a ideia de que essas são 'coisas nossas', elementos que compõem a identidade brasileira.
'São Coisas Nossas' é, portanto, uma ode ao samba e à vida simples, celebrando a cultura e a identidade brasileira através de suas figuras e cenários mais autênticos. Noel Rosa, com sua habilidade lírica, consegue capturar a essência do Brasil e transmitir um sentimento de orgulho e pertencimento. Através de metáforas e referências culturais, ele pinta um retrato vibrante e autêntico do Brasil dos anos 1930.
Fontes:
Estante de Livros (“Memórias do cárcere”, de Graciliano Ramos)
Durante o período que permaneceu na secretaria da educação revolucionou os métodos de ensino da época. No entanto, devido as suas ideias, consideradas "extremistas", foi demitido em 1936.
Ainda nesse ano, precisamente no dia 3 de março, é preso sob a acusação de ligação com o Partido Comunista. A acusação é falsa, pois Graciliano só entraria para o PCB em 1945. Mesmo sem acusação formal ou julgamento, é deportado para o Rio de Janeiro, onde permanece encarcerado até 1937. Dessa experiência resultou a obra "Memórias do cárcere", que só começou a ser escrita em 1946 “Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos”.
A obra "Memórias do cárcere", publicada somente em 1953, foi transformada em filme por Nelson Pereira dos Santos.
Depois de ser libertado da prisão, Graciliano ficou morando no Rio de Janeiro em um quarto de pensão, com a mulher e os filhos menores.
“Estou a descer para a cova, este novelo de casos em muitos pontos vai emaranhar-se, escrevo com lentidão - e provavelmente isto será publicação póstuma como convém a um livro de memórias.”
Em Memórias do Cárcere, publicação póstuma, Graciliano Ramos ocupou seus últimos anos, tornando públicos, “depois de muita hesitação”, acontecimentos da sua e da vida de outras pessoas, políticos ou não, intelectuais ou não, homens e mulheres, presos durante o Estado Novo.
Nos três primeiros parágrafos do livro ele se explica, justificando a demora de dez anos. E, depois, resolvido a escrever, sabe que sua narrativa será amarga: “Quem dormiu no chão deve lembra-se disto, impor-se disciplina, sentar-se em cadeiras duras, escrever em tábuas estreitas. Escreverá talvez asperezas, mas é delas que a vida é feita: inútil negá-las, contorná-las, envolvê-las em gaze”.
O intuito de Graciliano se realizou. Fiel aos acontecimentos, não escondeu, não negou, não exagerou: “Escreveu, realmente, com exatidão espantosa, com rigor excepcional. Tudo o que é negro, em sua narração, é negro pela própria natureza, o que é sórdido porque nasceu sórdido, o que é feio é mesmo feio. Não há pincelada do narrador no sentido de frisar traços, de agravar condições, de destacar minúcias denunciadoras.”(Nélson Werneck Sodré, prefácio de Memórias do Cárcere).
Em 1936, quando esteve preso no pavilhão dos primários, na Casa de Detenção, Graciliano conheceu Vanderlino, “um homem útil”, habilidoso, capaz de esculpir peças de um jogo de xadrez depois de dividir um cabo de vassoura em 32 pedaços iguais. Criminoso comum, homem humilde, foi ele quem, mais tarde, na Colônia Correcional, apresentou um amigo a Graciliano. “Admirou-me a franqueza de Vanderlino ao dizer o nome e o ofício do personagem: - Gaúcho, ladrão, arrombador.”
Gaúcho virou amigo de Graciliano, querendo aparecer em seus livros (“Eu queria que saísse o meu retrato”) e, além de personagem em Memórias do Cárcere, é citado também no conto “Um Ladrão”, de Insônia, história da ineficiência de um aprendiz seu num roubo que fizeram juntos. Esta foi uma das muitas histórias que Gaúcho contou a Graciliano, ouvinte atento. E assim a amizade entre eles cresceu, dentro dos muros, desinteressada e sincera.
Quando estuda o testemunho de Graciliano sobre a prisão, Nélson Werneck Sodré lembra que “Cubano e Gaúcho”, criminosos comuns, saltam destas páginas para adquirirem dimensões humanas, denunciam-se como criaturas, apesar de terem vivido sempre entre comparsas.” (Adaptado de Viviana de Assis Viana, em Lit. Comentada: Graciliano Ramos).
Fonte> Artigo por Jayro Luna (editor), em http://www.jayrus.art.br/Apostilas/LiteraturaBrasileira/Modernismo30/Prosa_de_30/Graciliano_Ramos_Memorias_do_Carcere.htm. Acesso em 16.11.2020
sexta-feira, 14 de junho de 2024
Coelho Neto (Pombos viajantes)
Na brenha cerrada da minha tristeza, onde os sorrisos já não fazem ninho, viviam, pousados na árvore seca da melancolia, três pombos carinhosos.
Dia e noite arrulhavam; ao por do sol, porém, um deles, turturinando, trazia-me ao coração mágoas; acerbas indefiníveis — era o mais escuro.
O menor, branco, niveamente branco, durante as noites de luar gemia, mas a sua voz, posto que fraca, tinha mais alegria muito mais alegria do que a voz soluçada do primeiro.
O último, um grande pombo forte, de asas triunfadoras, capazes de voos temerários, dia e noite, cantava no ramo seco, olhando ora o sol, ora as estrelas.
Para viver melhor com eles dei-lhes nomes.
Chamei ao primeiro Saudade, ao segundo Amor e Esperança ao terceiro.
Um dia, à hora mansa da tarde, tomei no punho o primeiro pombo e soltei-o no ar. Fiz o mesmo ao segundo, fiz o mesmo ao terceiro.
Voaram, ruflando as asas, foram-se, muito alto, como se tomassem o rumo do céu, como se fossem mariscar as claríssimas sementes que a noite começava a espalhar pelo espaço.
Foram-se!
Solitário, pus-me a pensar na madrugada próxima e na volta dos meus mensageiros.
Que me traria o pombo Amor de novo e os outros dois que novas me trariam?
Assim a pensar fitei os olhos no mesmo ponto — a brenha enchia-se de lantejoulas brilhantes. A proporção que a treva ia se fazendo mais espessa, apontavam mais estrelas e mais vagalumes apareciam como reflexos sidéreos.
Extrema solidão!
Meus olhos, por mais que se alongassem, não conseguiam descobrir a luz das choças; a cantiga melancólica do zagal, no alto do monte, não me chegava aos ouvidos.
Olhar o céu! Olhar o céu! Fitei a vista nas estrelas.
Subitamente um gemido... outro mais doloroso... uma ruflalhada em torno de mim.
Voltei-me... e ia levantar-me quando alguma coisa rápida saltou para o meu ombro, depois para o meu punho, gemendo, gemendo sempre.
Corri à claridade, cheguei-me à luz da lua e olhei.
Eterna companhia! Não pôde viver longe do coração... Sombra da vida extinta, espectro das lágrimas e dos sorrisos.
Eterna companhia! Era a Saudade, o pombo escuro.
O Amor e a Esperança passam de quando em quando junto de mim, demoram-se alguns instantes, mas, pela madrugada, fogem, voam turturinando.
Ele só não me abandona, o pombo escuro, o que eu chamei Saudade, o triste, o melancólico, o dolente.
Fonte: Coelho Neto. Rapsódias. Publicado originalmente em 1891. Disponível em Domínio Público.
Vereda da Poesia = 33 =
ALOÍSIO BEZERRA
Massapê/CE, 1925 – ????, Fortaleza/CE
- Ao andar, sinto cansaço.
Que me aconselha, doutor?
- Nenhum remédio lhe passo,
só tome um táxi, senhor!
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Apenas um menino
Queria me tornar uma criança
Diante da tristeza que há no mundo,
Sem precisar usar minha esperança
E nem me entristecer em um segundo.
Queria ter nos olhos a inocência...
No coração, a chama da bondade
E não saber o que é intransigência,
Nem arrogância, medo...ou maldade.
Queria a pureza de um menino
Sorrindo para o gesto pequenino
De um outro menininho... nada mais.
Assim, num novo mundo eu viveria,
Criando sempre nova fantasia
Diante da magia que há na paz
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ
MARILZA DE CASTRO
Solicitude
só
lícita
se
verdadeira
atitude
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Soneto de São Paulo
FRANCISCA JÚLIA
(Francisca Júlia da Silva Munster)
Eldorado/SP (antiga Xiririca) 1874 – 1920, São Paulo/SP
Rainha das águas
(a Alberto de Oliveira)
Mar fora, a rir, da boca o fúlgido tesouro
Mostrando, e sacudindo a farta cabeleira,
Corta a planura ao mar, que se desdobra inteira,
Na esguia concha azul orladurada de ouro.
Rema, à popa, um tritão de escâmeo dorso louro;
Vão à frente os delfins; e, marchando em fileira,
Das ondas a seguir a luminosa esteira,
Vão cantando, a compasso, as piérides em coro.
Crespas, cantando em torno, as vagas, à porfia,
Lambem de popa à proa o casco à concha esguia,
Que prossegue, mar fora, a infinda rota, ufana;
E, no alto, o louro sol, que assoma, entre desmaios,
Saúda esse outro sol de coruscantes raios
Que orna a cabeça real da bela soberana.
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Trova Premiada de Bauru/SP
ERCY MARIA MARQUES DE FARIA
Relendo o livro da vida
quando a solidão me invade,
em cada página lida,
sempre encontro uma saudade…
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Poema de São Paulo/SP
SOLANGE COLOMBARA
Talvez a velha saudade
seja apenas um embalo
do vento olhando a lua.
O rascunhar de um poema
nas estrelas, o sorriso
desenhado, o pranto solto,
quem sabe o doce bailar
das águas idolatrando
o amor, cálido, sereno,
na sua poesia nua.
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Quadra Popular de Olhão/Portugal
DEODATO PIRES
Quer tenha ou não tenha sorte
na vida que Deus lhe deu,
não pode fugir à morte
todo aquele que nasceu.
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Soneto de Lisboa/Portugal
CARMO VASCONCELLOS
Sem lutos
De vós, amados, quero ao vos deixar:
sentidos poemas, flores, melodias,
riso e lembranças de felizes dias,
e sem lutos a minh’alma há-de voar.
E já volátil, há-de então acenar-vos
a fina poeira, da ida e vã matéria,
depois... montada numa gota etérea,
hei-de baixar na chuva a visitar-vos.
Porém, se alguns de vós eu vir chorosos,
pérola d’água, os olhos lavarei
aos que em saudade mostram olhar fosco.
E pra secar os olhos lacrimosos,
flamas ao sol brilhante roubarei...
Que amar-vos não será chorar convosco!
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Trova de Fortaleza/CE
NEMÉSIO PRATA
Descendo esta escadaria
Onde ela vai me levar?
Se eu soubesse eu desceria;
Como não sei, vou ficar!
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Poema de Portugal
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESSEN
Lisboa, 1919 – 2004, Porto
Quero
Quero
Nos teus quartos forrados de luar
Onde nenhum dos meus gestos faz barulho
Voltar.
E sentar-me um instante
Na beira da janela contra os astros
E olhando para dentro comtemplar-te,
Tu dormindo antes de jamais teres acordado,
Tu como um rio adormecido e doce
Seguindo a voz do vento e a voz do mar
Subindo as escadas que sobem pelo ar.
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Haicai de Serra/ES
HUMBERTO DEL MAESTRO
Três dias de chuva:
No terreno alagadiço
Concerto de rãs.
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Sextilha de Caicó/RN
PROFESSOR GARCIA
No momento da triste despedida
todo mundo que fica se apavora,
fica alguém soluçando na calçada,
na janela, quem fica também chora;
é o instante mais triste desta vida
quando alguém diz adeus e vai embora!
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Trova de Ribeirão Preto/SP
RITA MARCIANO MOURÃO
Bilhetes de amor... saudade
que a lembrança hoje cultua
onde a tal felicidade
era o carteiro da rua!...
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Glosa do Rio Grande do Sul
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS
Carnaval Fantasia
MOTE:
Meu carnaval mais risonho,
foi aquele em que eu vesti
as fantasias de um sonho
que até hoje eu não vivi…
Elisabeth Souza Cruz
(Nova Friburgo/RJ)
GLOSA:
Meu carnaval mais risonho,
cheio de felicidade,
eu lembro hoje entressonho,
numa forma de saudade.
Foi um tempo de alegria,
foi aquele em que eu vesti
a minha alma de poesia…
Disso, nunca me esqueci!
A todos, hoje eu proponho
viver muitas fantasias…
as fantasias de um sonho
não deixam as mãos vazias…
Quisera realizar
tudo aquilo que senti
e a grande emoção de amar
que até hoje eu não vivi…
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Aldravia de Vitória/ES
MATUSALÉM DIAS DE MOURA
paradoxo:
frente
fria
aquece
minha
alma
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Soneto do Rio de Janeiro
DANTE MILANO
Rio de Janeiro/RJ, 1899 -1991, Petrópolis/RJ
O espectro
O canto não imita a realidade
Como as palavras. Fica sobrevoando,
E da boca feroz se libertando,
Como o vôo de um pássaro, se evade.
Desaparece sem deixar saudade,
Perde-se na existência, como quando
A água de uma carranca borbotando
Se irisa em trêmula diafaneidade.
Não quero o sentimento que da treva
Do ser traz qualquer coisa de aflitivo,
Que quer ser voz e a voz profunda eleva,
Despertando um espírito latente
Que estilhaça os cristais num vingativo
Riso de espectro lívido e estridente.
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Trova Premiada em Maringá/PR, 2013
LICÍNIO ANTONIO DE ANDRADE
Juiz de Fora/MG
É no afago dos seus braços
que me enlaçam com calor,
que eu me esqueço dos cansaços
quando chego do labor.
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Poema de Santos/SP
CLÁUDIO DE CÁPUA
São Paulo/SP, 1945 – 2021, Santos/SP
Amo
(para Carolina Ramos)
Eu amo a lua, que me encanta, bela,
a ressaltar, da noite seus valores;
amo a cascata que borbulha espumas,
amo das brumas hibernais alvores,
Eu amo a brisa que suspira, calma,
deixando na alma o murmurar de amores;
amo dos astros o fulgente lume,
amo o perfume essencial das flores.
Eu amo tudo a que minha alma assiste,
tudo de belo que no mundo existe,
tudo que vibra em mim e amor requer.
Mas... se a tudo consagro um grande amor,
o que amo na terra com maior fervor,
é a inteligência, numa só mulher!
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Triverso do Rio de Janeiro/RJ
MILLÔR FERNANDES
(Milton Viola Fernandes)
1923 – 2012
Não tem nexo
Tudo é apenas
Reflexo
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Spina de Francisco Beltrão/PR
RICHARD ZAJACZKOWSKI
Violações
Sedentos pela fonte,
ignoraram as leis.
Selaram seus destinos.
Emoções à flor da pele,
era tudo que eles anelavam.
Via-se que são bem ladinos.
Retiam eles, arte da astúcia
em enlevos de seres libertinos.
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Trova de Maringá/PR
A. A. DE ASSIS
A ciência hoje é um colosso,
com tudo fora de centro:
faz laranja sem caroço,
gravidez sem filho dentro...
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Dobradinha Poética de Bandeirantes/PR
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI
Fuga
De mim mesma eu quis fugir,
deixar a vida desdita,
mas sem saber aonde ir
curvei-me à sorte prescrita…
Fugir de insípida vida
por não ver outra saída,
quantas vezes desejei...
Fugir da espera sofrida,
do desamor, da partida,
aos quais não me acostumei.
Fugir, mas fugir de tudo,
do sofrimento desnudo,
do amor que em mim acordei..
Fugir da infelicidade,
deixar atrás a saudade,
que, sem querer, preservei.
Fugir de alguém que não vem,
que embora seja o meu bem,
nem sabe o quanto eu o amei.
Fugir da desesperança,
apagar toda lembrança
que em minha mente gravei.
Fugir desta solidão,
da amarga desilusão,
dos segredos que guardei.
Fugir do tempo inclemente,
do meu destino incoerente,
mas para onde?!... Não sei.
(Ninguém consegue fugir de si mesmo,
nem da própria sorte.)
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Poetrix de Santo Antonio de Jesus/BA
RONALDO RIBEIRO JACOBINA
problemas, eis a questão
Não me envolvo em novelos:
Se posso resolve-los, resolvo, sem alaridos.
Se não, já estão resolvidos.
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Poema de Lisboa/Portugal
ANTERO JERÓNIMO
Figura sem estilo
Ia eu pela rua, figura de estilo na lua
Sem siso, piso o piso molhado, mas que aliteração
Escorrego numa inadvertida metáfora
Por pouco não me estatelava no chão.
Podem pensar que é uma hipérbole
Mas acreditem que não é exagero não
É que até os pombos se riram
Na sua mais astuta personificação.
O meu joelho é que gemeu coitado
Desesperado com tanta falta de jeito
Pobre de mim, figura sem estilo.
Num mundo sem tino, valha o eufemismo
Um mundo que tropeça à beira do abismo.
Muito eu poderia discorrer sobre o assunto
Mas já chega desta conversa fiada
As palavras são como as cerejas, valha-nos a comparação
Ainda bem que tive o bom senso, de não usar paralelismos nesta descrição.
Sacudo das vestes toda a ironia
E siga, pronto para mais um dia!
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Trova de Paranacity/PR
ANTONIO TORTATO
Este amor que te declaro
é tão puro e tão bonito
que, ao medi-lo, eu o comparo
à grandeza do infinito!
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Poema de Santos/SP
CAROLINA RAMOS
Conselhos de mãe
Meu filho, a vida é dura e fere... e nos magoa...
mas, trata-a com respeito e guarda a dignidade.
Ainda que a alma inteira sem clemência doa,
não permitas que o mal altere o que é verdade!
Sonha bem alto e segue o voo do teu sonho
sem pressa de alcança-lo e tendo-o sempre à vista!
Cada dia que passa é um dia mais risonho,
quando o amanhã promete as glórias da conquista!
“Segura a mão de Deus!” Segue o rumo sem medo.
Os caminhos, verás, se abrirão à medida
que teu passo provar firmeza e, sem segredo,
revelar o sentido e o Ideal da tua vida!
Não temas opressões nem quedas. Persevera!
Se achares que ao final o saldo não convence,
reage, continua... a vida tens à espera!
Confia em teu valor! Trabalha! Luta! E vence!
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