sábado, 27 de novembro de 2021

Adega de Versos 59: Luiz Antonio Cardoso (Taubaté/SP)

 

Rita Marciano Mourão (Quarto mandamento)

Confesso que sou meio nostálgica. Vivo a escarafunchar o baú das minhas lembranças, sem contudo, me deixar prender ao passado. A vida deve ser vivida cada minuto, sem pressa. Procuro vivê-la assim, com a consciência apegada aos menores acontecimentos, para que mais tarde eu não venha sentir na pele os espinhos do remorso.

Hoje, bem no fundo dos meus guardados, encontrei uma mulher que marcou para sempre meu jeito de viver. Nunca mais deixo para depois o que posso fazer agora. O depois é uma palavra que apazigua, mas pode se transformar na metáfora de um nunca mais.

Era essa mulher uma pessoa iluminada! Mãe extremosa, forte, exemplar. Seu nome era Matilde, mas, naquele sertão mineiro em que vivia, todos a conheciam como Dona Tide.

Passara a vida ali, cuidando do sítio e dos quatro filhos que lhe deixara o marido.

“Dona Tide é uma mulherzinha forte” – diziam as pessoas que presenciavam a sua luta e conheciam a sua história. “Qualquer outra se queixaria, mas dona Tide, não. É conformada, resistente. Uma árvore boa que não se curva aos vendavais”. Tinha um olhar distante, procurando (quem sabe) entender o passado e conformar-se com o presente. Acreditava firme que, se não houvesse curvas no caminho, não existiriam surpresas boas.

Quando seu homem se foi embora com a loira do povoado, ela ignorou o fato e nunca falou a ninguém sobre seus desencantos, suas preocupações. E não se acomodou diante da dura lida. Cuidava sozinha dos afazeres do sítio, das poucas vacas leiteiras e, ainda, fazia doces, biscoitinhos de nata e muitas outras guloseimas que vendia na venda do seu Justino.

“Tenho que trabalhar dobrado e dar aos meus filhos um pouco mais de estudo. Eles serão melhores do que eu” – dizia para todos. Como se no mundo pudesse haver alguém melhor do que dona Tide. Mas ela se referia ao duro trabalho que lhe pesava o corpo, às duras frustrações que lhe arranhavam a alma, guardando só para si o cansaço e as dores que a ingratidão provocara.

Os anos foram se passando e tudo foi fugindo do seu controle, do seu alcance. E uma lembrança doce foi ocupando o velho espaço de um tempo de sonhos, semeaduras. As imagens dos filhos pequenos, porém, continuavam vivas, tagarelando dentro dela. Eles haviam crescido e foram para a “cidade grande” aperfeiçoar os estudos, melhorar a vida. O último a se despedir foi Cláudio, o filho caçula. Ah, como doeu em dona Tide essa despedida! Ela sabia que acabava de perder o último carinho que lhe restara, o último companheiro para o café da manhã e para as conversas, à noite, ao pé do fogão à lenha.

Mais uma vez, dona Tide engoliu seco aquela dor e guardou-a só para si. Resignada, continuou dizendo que eram separações necessárias. A vida exigia isso.

No começo, em datas especiais, os filhos apareciam. Então era aquela festa. Nessas ocasiões o trabalho era redobrado. Fazia doces e mais doces, punha flores na jarra e ajeitava até a própria aparência. Tinha que se mostrar elegante, para as noras, para os filhos e netos. O cansaço? A chegada dos seus “meninos”, a alegria da família reunida vencia tudo. Depois, as visitas foram ficando raras, as saudades mais intensas. Dentro de dona Tide chegava a doer de tanta saudade, mas só ela sabia da existência dessa dor. Os vizinhos diziam: “Ingratos, será que se esqueceram da mãe? Qualquer dia ela morre e eles nem vão ficar sabendo”. E dona Tide, de cabeça erguida, nos lábios um sorriso que só ela sabia o quanto lhe custava, sempre encontrava meios para justificar a ausência dos filhos. “Eles ainda me amam, eu sei disso. Filhos são como pombos-correios. Vão, às vezes demoram, mas sempre voltam trazendo um ramo verde para nos ofertar”.

Naquela tarde de dezembro, dona Tide não cabia em si de tanta felicidade. Depois de muito tempo sem dar notícias, os filhos mandaram-lhe dizer que viriam passar o Natal com ela. Logo que recebeu o telegrama, dona Tide trabalhou, trabalhou que até a semana lhe pareceu mais curta. Encheu os potes de doces, biscoitinhos de nata e de tudo o que pudesse agradar o apetite dos seus “meninos”. Caprichou nos arranjos da casa e até a talha em que mantinha a água sempre fresquinha recebera cuidados especiais. Era uma velha talha impregnada de passado, mas ficara bem mais bonita depois daquele banho com sapólio. Embora sentisse que o trabalho mexera com seus oitenta e cinco anos, dona Tide estava feliz, realizada. “Tudo preparado, no capricho, agora é só esperar” – disse-me quando fui visitá-la.

Tomou um banho reconfortante, vestiu uma roupa florida e foi sentar-se na frente da antiga casinha de pau-a-pique. Dona Tide estava pronta para abraçar os filhos que não tardariam. Tudo nela era só alegria. O sorriso solto, as vestes coloridas, o diadema dourado sobre os cabelos grisalhos. Da cozinha, o cheiro das carnes e dos quitutes se espalhava pelos arredores do enorme terreiro.

Sentada e reflexiva, ela contemplava o por-do-sol mais bonito que já vira. Era um por-do-sol diferente, com cores de esperança.

Com os olhos fixos no horizonte e a respiração meio ofegante, dona Tide esperava paciente, cansada, sonolenta. Lá longe, na curva da estrada, uma tira de poeira vermelha anunciou a surpresa há muito desejada. As buzinas dos carros repicavam e um burburinho confuso foi se apossando de todos os sentidos de dona Tide.

Seus olhos pesados, ainda vislumbraram os carros e os acenos dos filhos, das noras, dos netos. Aos poucos, as imagens foram se desintegrando das suas retinas e foram se transformando em um sonho profundo, sonho bom, animado pela tagarelice dos seus meninos.

Quando chamaram por ela, dona Tide não quis mais acordar. Teve medo de sair daquele sonho grande, daquela felicidade sublime e perder de novo os filhos queridos.

Luiz Damo (Trovas do Sul) XX

A nossa felicidade
não está só no prazer,
tem prazer que é falsidade
e apenas dor vem trazer.
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Ao chegar o entardecer
e o fim da estrada chegar,
pode à vida acontecer
não ter flores pra regar.
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Ao contarmos os segundos
para sermos os primeiros,
sonhemos com novos mundos,
sem jamais ser prisioneiros.
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A praia não serve apenas
pro veranista nadar,
tem banhistas às centenas
nas margens a descansar.
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As águas do mar bravio
chegam a praia inundar,
batem no velho navio
quase fazendo-o afundar.
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As gavetas de um arquivo
do memorável passado,
talvez tem mantido vivo
o sonho mais cobiçado.
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A vida não deve ser
feita só pra batalhar,
trabalhamos pra viver,
mas não só pra trabalhar.
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Cavalgo a manhã serena
para a tarde atravessar,
às portas da noite amena
vejo o percurso cessar.
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Do nascer ao pôr do sol
faz a vida um festival,
lança à noite seu lençol
sobre seu leito estival.
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Em que mundo nós vivemos
que nem temos liberdade?
Segurança, já não temos,
só o que vemos é maldade...
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Está no favo de mel
a doçura singular,
se a vida parece um fel
mude em mel o próprio lar.
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Eu não posso dar um passo
sem recordar do passado,
se eu lembrar só do fracasso…
serei mais um fracassado.
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Madrugada lenta e calma
dá lugar pro alvorecer,
é alvorada dentro d'alma
quando a vida renascer.
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Na retaguarda não temos
nossos velhos precursores,
pela frente apenas vemos
imbatíveis contendores.
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No cantar do Uirapuru,
tão sublime melodia,
contrasta com o Inhambu
que traduz melancolia.
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No céu, de cada estrelinha,
contemplamos seu fulgor,
tendo a lua por madrinha
e o luar por precursor.
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Nunca pense estar perdida
a luta por mais intensa.
Quem participa da vida
sempre tem a recompensa.
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Os solos agonizantes
sem os micronutrientes
requerem fertilizantes
pra germinar as sementes.
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Pode ser que alguém não queira
ouvir a voz de quem grita,
mesmo assim há uma maneira
de alegrar uma alma aflita.
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Pra se tornar um herói
basta um gesto praticar,
mudando tudo o que dói
em razões para lutar.
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Quando o Sol for tua meta
na mira não falte a fé,
siga teus passos à seta
condutora do teu pé.
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Se não for bicho, nem gente,
e fantasma também não,
poderá ser simplesmente
fruto da imaginação.
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Se toda a saudade ocorre
no seio da humanidade,
cada lágrima que escorre
faz nascer nova saudade.
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Sonhar é muito importante
tanto quanto conquistar,
se o sonho estiver distante,
tão pouco vale sonhar!
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Tantos reinados mundanos
caíram, mesmo os normais,
mandai, Senhor, aos humanos
o que acabará jamais...
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Tem frango se apresentando
com ar de galanteador,
de galo já vem cantando
no terreiro sem pudor.
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Uma vida tem certas crises
que sempre são superadas,
muitas delas são reprises
das que foram enfrentadas.
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Vida: tênue vela acesa
que perdura a vida inteira,
não cessa se for coesa
tendo a morte por fronteira.

Fonte:
Luiz Damo. A Trova Literária nas Páginas do Sul. Caxias do Sul/RS: Palotti, 2014.
Livro enviado pelo autor.

Márcio Furrier (O menino e o tempo)

Talvez nenhuma imagem seja mais permanente em mim que a daquele velho…

Nove ou dez anos de idade, eu matava o tempo observando as pessoas por trás das grades de ferro da garagem da casa de minha avó. Área apertada, destinada ao fusquinha da minha tia, sempre vazia durante o dia, recoberta de cacos vermelhos de azulejo caprichosamente quebrados pelo meu avô, um a um, e juntados de maneira aleatória para compor um mosaico frio. Sobre o nicho do registro de água, eu, insuspeito do que me reservara a vida naquele dia.

Na tranquilidade da tarde, aquele era o meu espaço. Após a aula e o almoço, quando me cansava do ócio, timidamente olhava por entre o portão, à espreita das pessoas que desciam a longa rua de terra em direção ao outro lado do rio, ainda não canalizado. Olhava não, analisava, ria e me estranhava com a gente, sem dar-lhes a mesma chance de fazerem isso comigo. Aquele era meu cosmos, até onde minha experiência de menino podia alcançar.

Mas vamos ao fato. Não sei o quanto a imagem foi real e o quanto deixei que fosse retocada em meu inconsciente... Era uma tarde já com sol baixo, sinto o calor na face como se fosse agora. Meu espetáculo de periferia arrastava-se sem novidades, pessoas indo e vindo, algumas virando o rosto para o portão e me surpreendendo, ao que eu rapidamente me contraía em meu nicho e lhes negava o rosto. Tímido, indevassável como continuaria sendo por muito tempo. Talvez a moça da Avon ou do Yakult já tivessem passado, e eu já respondido que minha mãe não estava, nem estava a empregada (que nunca tivemos).

Lembro-me que meus olhos esquadrinharam aquela imagem depois da minha consciência. Súbito me notei congelado, sem atinar a razão. Dobrando a esquina de baixo, passando pela casa da Dona Sofia e atravessando a rua em minha direção, um velho, setenta anos, no mínimo. Terninho preto puído, bem justo de outros tempos de vacas ainda mais magras, camisa pretensamente branca de gola alta, ornada por uma gravatinha borboleta preta, sapatos maculados pela terra da rua e chapéu daqueles que não se usavam mais. Carregava uns dez porta-retratos de moldura espartana, mostrando uma foto preto-e-branco do Francisco Cuoco, naquela época já um ator veterano da Globo. Um movimento lento e vacilante. Andava como se pedisse licença pelo chão de terra batida. Confesso que aquela imagem caiu em mim como uma bomba. Pelo inusitado, pela força, pelo rompante da revelação. Improvável, mesmo aos olhos de um menino de 10 anos, acreditar que ele iria conseguir vender um porta-retrato daquele em uma rua pobre dos confins de São Paulo. Que razão louca ele teria para achar que tal iniciativa iria lhe prover sustento? Eu não tinha ainda lido Quixote, mas ali certamente reconheceria um.

A força dele eram seus olhos. Dignos, dignos, dignos. Os olhos castanhos se apertavam contra o sol e contra a face marcada, espreitando alguma alma para oferecer seu produto. Olhos sofridos; poder-se-ia dizer que todo o sofrimento do mundo estava lá, incontido, óbvio. Parecia que a cada passo se penitenciava de seu destino, mas não se abalava com as recusas, ou porque também desconfiava de seu absurdo, ou talvez porque só quisesse continuar caminhando pelas ruas.

Eu continuava congelado. E sim, ele tinha me visto e vinha agora me oferecer aquilo. Acho que nunca fui tomado de tanta compaixão. Ao mesmo tempo penava o coração, dava-me vontade de abrir o cadeado para abraçar aquela figura frágil. Queria talvez dizer a ele que tudo ia melhorar, talvez fazer aqueles olhos rirem uma vez que fosse. Tive também ímpetos de correr na carteira da minha mãe e pegar o que fosse necessário para comprar um porta-retrato do Francisco Cuoco. Tudo isso num segundo. Ele me olhou de maneira tímida, as mãos surradas pelo tempo me fizeram um leve movimento de oferta. Eu fitava aquele homem mas não o compreendia; estava assustado, triste e imobilizado. O máximo que consegui, juntando minhas forças, como que ele ainda me olhasse, foi um balançar negativo de cabeça. Então aqueles olhos se voltaram à rua, e nos despedimos para sempre. Sabia que não voltaria a vê-lo, que não teria mais chance de comprar seu produto, nem lhe poderia dar alento. Vendo-o já pelas costas, o magro terninho preto se afastando e ficando menor, me despedi dele em silêncio.

Só hoje faço justiça àquele velhinho ambulante: naquele exato momento deixei de ser menino. Pela primeira vez tinha entendido o poder do tempo. Tempo irreversível. A força daquela imagem me mostrou pela primeira vez a existência da velhice sem retoques, sem cortes. E que a vida não era necessariamente justa, nem nunca nos prometera isso.

Essa imagem ficou comigo e vivia me pedindo para sair, para ser compartilhada. Se não comprei o retrato nem lhe dei apoio, presto-lhe agora a mais sincera e pura das minhas homenagens. Imagino que outros profetas, velhinhos disfarçados de homem-sanduíche, vendedores de loteria, engraxates, amoladores de faca, devem vagar por São Paulo, provocando sensações parecidas em novas gerações de meninos atrás de grades.

Jaqueline Machado (Olhos de mar e de esperança)

O mar mesmo sendo de sal, consegue ser mais doce do que um profundo poço de mel. Ele é misterioso, perigoso e inquieto. Ainda assim, todos querem adentrar suas águas para pescar, se banhar e, quem sabe, se a maré for de sorte, avistar sereias... Isso acontece porque o corpo do mar é composto por sais, mas sua alma é de açúcar.

E foi percorrendo os mares da vida que um certo pescador chamado Santiago, personagem do conto, O Velho e o Mar, do notável Ernest Hemingway deixou à humanidade uma nobre lição. Ele era muito idoso, magro, sua face e pescoço eram marcados por manchas e profundas rugas. Sinais dos anos de exposição ao sol. O pescador era sozinho, pobre, sem estudos. Tudo nele parecia ser muito velho. Menos os olhos cor de mar. Ainda lúcidos, luminosos e cheios de esperanças. Sim. De esperanças. E olha que o seu mar não estava para peixe. Há oitenta e quadro dias o velho velejava e nada pescava.

Santiago tinha um amigo. Um jovem rapazinho chamado Manolin, que aos cinco anos, aprendeu com ele as primeiras lições de como ser um bom pescador. Os pais do rapaz disseram ao garoto que o velho estava definitivamente e declaradamente "salão", que é a pior forma de azar, e o rapaz fora por ordem deles para outro barco que na primeira semana logo apanhou três belos peixes. Mas o menino era um amigo fiel, e mesmo proibido de participar das pescas junto ao ancião, o visitava em sua humilde casa.

A choupana era feita de duros ramos de palmeira, a que chamam guano, e havia nela uma cama, uma mesa, uma cadeira, e um lugar no chão para cozinhar a carvão de choça. Nas paredes escuras, de achatadas e sobrepostas folhas do grosseiramente fibroso guano, havia uma gravura a cores do Sagrado Coração de Jesus e outra da Virgem de Cobre. Eram relíquias de sua mulher. Noutro tempo havia ainda uma fotografia dela na parede, mas ele tirara-a por se sentir muito só ao vê-la, e estava agora na prateleira do canto, por baixo da camisa lavada”.

Descreveu o autor em sua obra: Apesar de todos os pesares, o velho não abandonava os seus sonhos. Deseja provar o seu valor pescando um enorme peixe. O maior que o oceano pudesse lhe proporcionar. Parecia loucura almejar realizar um sonho tão grande, tendo a vida tão próxima ao fim. Mas ele não pensava no fim... Apenas nas novas oportunidades que sempre raiam junto ao sol a cada novo amanhecer. “É pecado não ter esperança” dizia ele. Até que certo dia, o mar o surpreende e a oportunidade de realizar o seu grande desejo, começa a ganhar ares de realidade. No 85º dia de espera, a maré de sua sorte muda. Um agulhão gigante, com mais de cinco metros, encosta em sua embarcação. Sendo o peixe maior que o barco, o velho e o animal travam uma intensa e honrada luta. Três dias depois, Santiago vence a batalha e consegue rebocar o peixe para o abate final.

Quando a vitória parecia garantida, surgem tubarões seguindo o rastro do sangue derramado. Mas Santiago, mesmo exausto, machucado, cambaleante, não desiste. E a luta recomeça. A essa altura do confronto qualquer outra pessoa que estivesse em seu lugar, terminaria por desistir. Mas desejando superar o improvável, mesmo depois dos tubarões terem devorado bastante a carne da grande pesca, ele vence a batalha novamente. Ao regressar a sua ilha, todos maravilharam-se ao ver a enorme carcaça do peixe capturado por aquele simplório senhor a quem ninguém depositava a menor fé. Exceto Manolin, é claro.

Apenas porque ousou crer, persistir e recomeçar, Santiago, com seus olhos de mar e de esperança, tornou-se lenda na aldeia.

Eis aí a prova do quê a força e determinação podem conseguir.
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Nota do Blog:
Com um enredo tenso que prende o leitor na ponta da linha, Hemingway escreveu uma das mais belas obras da literatura contemporânea. Uma história dotada de profunda mensagem de fé no homem e em sua capacidade de superar as limitações a que a vida o submete. Com a linguagem simples mas poderosa das fábulas, Hemingway trata de temas universais e atemporais como a perseverança em meio às adversidades e as lições que podemos tirar da derrota neste magnífico clássico do século XX.Escrito em 1952, O velho e o mar venceu o Prêmio Pulitzer de Ficção e foi fator decisivo para a premiação de Hemingway com o Nobel de Literatura em 1954. Ao lado de contemporâneos como F. Scott Fitzgerald e John Steinbeck, Ernest Hemingway foi um dos escritores mais importantes da chamada “Geração Perdida” e inspirou as gerações subsequentes de escritores americanos.


Fontes:
Texto enviado pela autora.
Nota do Blog: Amazon

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Varal de Trovas n. 536: Luiz Carlos Abritta (1935 - 2021)


Luiz Carlos Abritta, procurador de justiça aposentado, nasceu em Cataguazes, MG, a 24 de janeiro de 1935, filho do poeta e magistrado Oswaldo Abritta e de Yolanda Nery Abritta. Foi presidente da Associação Mineira do Ministério Público. Eleito Conselheiro da OAB/MG onde permaneceu por seis anos e exerceu as funções de Presidente do Tribunal de Ética daquela entidade. Presidente e Conselheiro Nato do Instituo de Ciências Penais, membro do Conselho Penitenciário de Minas Gerais.

No dia 09 de junho de 2006, o Presidente da República escolheu-o em lista tríplice e o nomeou para o cargo de Juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, categoria de jurista.
      
Foi presidente da UBT de Belo Horizonte, e Presidente da UBT/Minas Gerais. Exerceu a presidência da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais por oito anos, onde ocupou a cadeira n.150, tendo por patrono Oswaldo José Abritta. Abritta foi eleito o 5º Presidente Nacional da União Brasileira de Trovadores, para o biênio 2012 / 2013.

Foi membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, cadeira n. 82 e seu patrono é o Senador Levindo Coelho. Tem alguns livros publicados, entre eles, “Críticas criticáveis”, “Entre Montanhas e Trovas”, “Tata, Tati e Tininha”, “Um Homem Plural – A vida de Oswaldo Abritta” e “Aurora Plena”.

Participação na Antologia poética bilíngue (francês/português) de 33 escritores mineiros, lançado no Salão do Livro, em Paris, em 2012, sendo condecorado pela Academia Francesa em reconhecimento ao trabalho pela literatura.
      
Medalhas: da Inconfidência; Santos Dumont; do Ministério Público de Minas Gerais; da Justiça Federal; do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, e da Societé Académique des Arts, Sciences et Lettres – Paris – França.
    
Foi casado com a escritora Conceição Parreiras Abritta, com dois filhos: Sérgio, Procurador de Justiça e Dramaturgo, e Luís Carlos Parrreiras Abritta, Advogado e Presidente do Instituto de Ciências Penais do Estado de Minas Gerais.

Faleceu em Belo Horizonte, em 18 de novembro de 2021, aos 86 anos.

Odenir Follador (A aposta)

Acredito que é do conhecimento de muitos as histórias sobre superstições populares que eram contadas em muitas regiões do país. Principalmente quando se tratava do interior do Brasil.

Era época da colonização interiorana ocupada na maioria por imigrantes que aqui vieram se instalar, na ânsia de conseguirem melhores condições de vida em relação as de suas pátrias, que deixaram para trás e aqui vieram como verdadeiros e corajosos desbravadores, trazendo pouca bagagem, mas com um grande sonho de realizações e prosperidade nestas terras ainda virgens, como as do sul do país.

Haviam muitas descontrações nessas localidades, como reuniões nos armazéns e contíguo aos mesmos, onde existia uma bodega, na qual se jogava baralho, cachola, e outras competições típicas de suas origens, sempre acompanhados de cachaça e de cerveja. Esta era armazenada na terra através de um alçapão sob o assoalho, para proporcionar uma temperatura adequada, pois só mais tarde pôde-se contar com geladeiras a querosene. Contudo, as principais atrações eram os festejos realizados em homenagem aos Santos daquelas paróquias. Essas localidades, bastantes afastadas dos grandes centros, com suas casas distantes umas das outras. As estradas disponíveis eram para carroças ou cavalos, não havia nem mesmo iluminações nos caminhos, eram somente utilizados lampiões ou lamparinas para quebrar o negrume da noite no interior das casas. Clima este que propiciava a muitas superstições, na maioria ouvida de antigos moradores: caboclos do lugarejo. E neste contexto formado da localidade, era comum serem contados causos de assombrações. Um a um, os mais falantes iniciavam as histórias que se delineavam pela tarde até o sol se esconder no horizonte.

Firmino, o primeiro a tomar a palavra falou:

– Eu quero fazer uma aposta com qualquer um de vocês! Quero ver quem tem mais coragem! O que foi, Casimiro? Você levantou a mão para participar?... Ou é outra coisa?

- Nada não, Firmino! Só fui arrumar o chapéu.

– Então é o seguinte pessoal: Aqui perto tem um cemitério. Eu vou apostar um conto de réis que ninguém tem coragem de ir até lá, pegar de qualquer túmulo do chão a cruz que está enterrada e trazer até aqui para nos mostrar.

- Pois é comigo mesmo, Firmino... Eu vou! - gritou o sr. Fagundes - Sou cabra-macho!

- Só acredito vendo. – falou o amigo – vou até lhe separar um conto de réis.

E lá se foi o Fagundes... Era um homem de seus sessenta e poucos anos, baixo e de barriga saliente, já grisalho nas têmporas, pois lhe faltava acima o resto dos cabelos. Mas compensava pelo vasto bigode também grisalho.

Nesse meio tempo formou-se um temporal, que era um aguaceiro só. Mas não intimidou o Fagundes. Este colocou o seu enorme ponche, para proteger-se da chuva e seguiu rumo ao cemitério.

Chegou, olhou pros lados e para trás como que meio arrependido. “Cabra-macho!?” Pensou ele. “O que não faz uns goles a mais... Agora não adianta, vamos lá!” E abaixando-se sobre um túmulo no chão, agarrou a cruz e puxando com força retirou-a do lugar. Rápido como podiam ajudar as suas pernas, veio ter com os amigos e a se vangloriar da sua proeza e valentia.

- Olha aqui, Firmino!... Serve esta cruz? Ou quer que vá buscar outra? – ele ria-se todo, mostrando os poucos dentes caninos que ainda insistiam em permanecer, um de cada lado.

Todos aplaudiram o sr. Fagundes. “Esse é cabra-macho mesmo!”

- Tudo bem! – falou Firmino - Trato é trato. Sou homem de uma palavra só! Aqui está o seu dinheiro. Mas só lhe dou depois que você colocar a cruz de volta no lugar.

- É comigo mesmo, Firmino! Segure o dinheiro que já volto.

E partindo em direção ao cemitério, entrou e foi em direção à dita cova e abaixando-se empurrou com força a cruz de volta ao seu buraco. Mas eis que o destino sempre está a espreita. O ponche, devido ele haver se abaixado, ficou sobre o buraco e a ponta deste foi enterrada junto com a cruz. Ao levantar-se viu que não podia sair do lugar... Um grande terror se apoderou dele, pois achou que o defunto o segurava pelo ponche. Tomado de imenso pavor e horror por ser crédulo às superstições e histórias do além, ficou em agonia passando muito mal.

Como demorava muito para voltar, os amigos foram verificar achando tratar-se de alguma brincadeira do sr. Fagundes. Mas... quando eles chegaram ao local, qual não foi o espanto de todos? Encontraram-no já sem vida.

Um fulminante ataque cardíaco foi a causa! Caiu morto ali mesmo sobre aquele túmulo.
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Odenir Follador, nasceu em 31 de maio de 1948, em Taquaruçu, Distrito de Palmeira-PR, filho de Ricardo Guido Follador e Amandina Corsi Follador.

Formado como Técnico de Contabilidade em 1975, Licenciado em Ciências em 1979, pela Universidade Estadual de Ponta Grossa e Licenciado em Letras – Português/Inglês em 2017, pela UniCesumar de Maringá-PR. Pós-graduação “Lato Sensu” em Neuroaprendizagem, pela UniCesumar em 2019.

Atuou como Militar no 13º Batalhão de Infantaria Blindado de 1967 a 1977, e como Economiário na Caixa Econômica Federal, em Castro e Ponta Grossa, nas funções de Escriturário, Caixa Executivo, Gerente de Núcleo e Supervisor, até sua aposentadoria.

Atuou por algum tempo como professor de Matemática, e como professor de Ciências. Teve experiência por algum tempo com professor de música.

Membro correspondente da ACLAB – Academia de Ciências Letras e Artes Belforroxense, Rio de Janeiro-RJ; Membro correspondente da ALB – Academia de Letras Brasil/Suíça; Membro da ALCG - Academia de Letras dos Campos Gerais, Ponta Grossa-PR; Membro Correspondente da ALPAS 21 - Academia Internacional de Artes, Letras e Ciências ‘A Palavra do Século 21’; Membro Correspondente da ALTO – Academia de Letras de Teófilo Otoni – MG; Membro Efetivo da APLA - Academia Ponta-grossense de Letras e Artes, Ponta Grossa-PR; Membro efetivo da ARTPOP – Academia de Artes de Cabo Frio -RJ; Membro correspondente do CONINTER – Conselho Internacional dos Acadêmicos de Ciências, Letras e Artes, Rio de Janeiro –RJ; Membro correspondente da FEBACLA – Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes, Niterói-RJ; Membro efetivo do MNEL - Movimento Nacional Elos Literários, Salvador – BA; Membro correspondente da OBCH – Ordem dos Benfeitores Culturais da Humanidade, Rio de Janeiro-RJ; Membro efetivo da OMDDH da OMDDH -Organização Mundial dos Defensores dos Direitos Humanos.

Figurante do filme Cafundó em Ponta Grossa em 1999, lançado no Brasil em de 2005. Premiado em concursos de trovas, poesias e contos no Brasil e exterior. Em 2015, a Câmara Municipal de Ponta Grossa lhe confere o Título de Cidadão Honorário de Ponta Grossa, pelos relevantes serviços prestados á Comunidade e ao Município. Em 14 de maio de 2016, o Colegiado Acadêmico da ARTPOP-RJ, outorga-lhe o título Personalidade 2015, reconhecendo, distinguido, premiando e homenageando-o, por suas iniciativas durante o ano de 2015 no cenário cultural, se destacando em nossa sociedade com excelência na gestão de sua carreira, contribuindo assim, efetivamente para o desenvolvimento da Cultura de nosso país. Em 2016, O Conselho Internacional dos Acadêmicos de Ciências, Letras e Artes do Rio de Janeiro, lhe confere a Medalha no Grau Oficial “Ordem do Mérito Conìnter Artes”. Em 2016, recebe a Medalha Elos Literários. Ainda neste ano, o Conselho Internacional dos Acadêmicos de Ciências, Letras e Artes & o Instituto Comnène Palaiologos de Educação e Cultura, lhe concede a Medalha e outorga a presente Comenda da Paz Nelson Mandela, com direito ao uso do Título Honorífico de Comendador, em reconhecimento de Suas contribuições de destaque nas diversas áreas de trabalho, bem como os Seus Atos que contribuíram através de Serviços Prestados à Humanidade, através da Influência Intelectual, Científica e Artística.

Livros publicados:
Memórias de infância e outros relatos (Ponta Grossa: Estúdio Texto, 2012) e Associação dos Militares da Reserva–ASMIRE (Ponta Grossa: Estúdio Texto, 2015).

Faleceu em 23 de novembro de 2021, em Ponta Grossa.

Mais detalhes sobre as premiações e honrarias, veja em https://www.alpas21.com/odenir-follador

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Caldeirão Poético XXXIX: Ribeirão Preto/SP

Marlene Bernardo Cerviglieri
Ribeirão Preto/SP


AS MARCAS NA PAREDE


Ainda estão lá, as marcas na parede.
Dizem alguma coisa, bem sei,
É justamente para eu não esquecer!
Estão firmes e posso vê-las,
De qualquer lado, até no espaço!

As marcas na parede...
Representam um lugar no meu coração,
Num passado distante,
Onde foram guardadas
As grandes e eternas ilusões...

Representam a captação de momentos
Preciosos, talvez
Aparentes também,
Não sei.
São marcas na parede.

Volto ao presente e, indolentemente,
Vou guardando o que sobrou das
Marcas ainda permanentes
Dos retratos!
Um a um, amarelados pelo tempo,
Que agora só deixam marcas
No espaço, e nas paredes.
Do tempo que há muito já se foi.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Nelson Jacintho
Ribeirão Preto/SP


A BORBOLETA AZUL


A borboleta voa...
A borboleta voa entre as casas
da colônia abandonada.
Parece triste e sem destino.
Que aconteceu contigo
minha linda borboleta?
Pareces estar sem tino!
Olho e vejo que não é
somente tu que estás triste...
Onde estão as crianças
que brincavam contigo?
Onde estão os jardins das casas?
Criaram asas?
Voaram para outras plagas?
E as grandes mangueiras,
cujas mangas sujavam de amarelo
as bocas descoradas
e davam espinhas
nas caras maculadas?

Como era alegre a vida
nas colônias em tempos passados!
Onde estão os namorados,
as festas de Santo Antonio,
São Pedro e São João,
os buscapés que faziam
as idosas erguerem os pés?
Onde estão as tardes fagueiras,
as aquecidas fogueiras,
o esperado quentão?
Onde está o pau de sebo
que causava tanto medo
na molecada atrevida?
Morreu a vida?

É, borboleta, a vida mudou,
a cana de fazer álcool, a vida atropelou.
Desapareceu a euforia,
não há mais a vida que sorria,
a vida que dava vida à vida,
a vida recheada de alegria!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Rita Marciano Mourão
Ribeirão Preto/SP


A POESIA PEDE SILÊNCIO


Poetar é meu jeito de estar sozinha,
esquecer o mundo e suas ameaças.
A poesia pede silêncio, recolhimento.
O silêncio me leva a exorcizar os demônios
que insistem em amordaçar a minha liberdade
de ser e de amar.
A poesia me aproxima de Deus!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Waldomiro W. Peixoto
Ribeirão Preto/SP


A SEMENTE


Tentáculos a rasgar e engravidar a terra
Consumindo a seiva e perdendo a guerra.

O tronco, soberbo, à vida dos escombros reconduz,
Ignorando a morte, uma explosão de luz.
Sobre o ventre aberto da terra
Fálico ostenta até o orgulho
Másculo de crescer de pé.

O recôndito mistério de fender a terra
Joga ainda com a probabilidade
De comer a seiva e vencer a guerra.

Seca, aparentando a morte, plena
De mistérios, contida,
A semente traz, em seu ventre forte,
Uma explosão de vida.

Fontes:
= Academia de Letras de Ribeirão Preto
= Rita Mourão. Cristais Poéticos. 2021.

Marlene B. Cerviglieri (Filhotinhos da rua)

A noite estava fria e chuvosa, como sempre é no inverno. As calçadas molhadas, o céu muito escuro dando até medo. Naquela praça existiam várias casas bonitas, todas com grandes escadas. Como toda praça, aquela tinha arvores frondosas, onde muitos pássaros moravam em seus ninhos, cuidando de seus filhotinhos.

Num galho, bem alto de uma destas árvores, estava a Coruja com seus olhos enormes, atenta aos movimentos pronta para sua caça. Ali não era sua morada, pois coruja mora no chão. Fazem um buraco e formam suas ninhadas. É divertido ver as moradias das corujas, principalmente a noite quando resolvem sair.

Bem, mas não estou a fim de falar sobre corujas. É ela quem vai nos contar a estória dos filhotinhos.

Lá do alto da árvore via toda a rua, e assim viu quando uma cachorrinha vinha chegando bem morosamente, quero dizer devagarzinho. Olhou para as casas com um olhar triste e nesta olhada viu a coruja toda pomposa no alto da árvore

- Oi, amiga, qual escada será melhor para eu dormir esta noite?

- Eu diria que qualquer uma. Nesta noite fria o melhor seria entrar na casa, não é mesmo?

- Claro, sem dúvida, minha amiga! Mas como vou entrar? Tudo tão bem fechado... e se me descobrem me chutam para fora.

- Sabe, amiga cachorrinha, aprendi que nesta vida precisamos querer alguma coisa. Mas devemos merecer isto, não é só querer!

- Já vi que você com toda a sua sabedoria irá me ensinar, como?

- Simples, minha cara. Primeiro: você quer, realmente, entrar nesta casa?

- Claro, não estou para brincadeiras!

- Nem eu! - disse a coruja já andando impaciente em seu galho. – Pois então me escute: Primeiro devemos ter certeza do que queremos depois verificar se é possível e se vai valer o esforço.

- Bem, querer eu quero, pois se agora estou morrendo de frio, imagine mais tarde.

- Então, minha cara, tente alguma coisa e vá em frente.

A cachorrinha olhou para a enorme porta. Farejou e até sentiu cheiro de comida, de tanta fome que tinha. Pensou: - Se eu latir incomodo e aí me mandam embora. Bater na porta, como? É, parece que o esforço terá que ser bem maior.

Desceu as escadas, e para espanto da coruja foi embora.

- Eu sabia - pensava a coruja - já desistiu. Não esperou nem por um pedacinho de pão! Eu fico aqui horas esperando uma caça, mas fico...

Eis que dali uma hora, mais ou menos, aparece de novo a cachorrinha seguida por seus quatro filhotinhos.

Subiram as escadas, e começaram a brincar bem em frente a porta. Logo esta se abriu, e duas crianças gritaram de alegria. Pegaram os filhotinhos no colo e levaram todos para dentro.

- Mas, meus filhos, não podem ficar com todos! – dizia a mamãe já preocupada.

- Papai achará uma solução. Poderá levar dois ou três para o depósito. Vamos dar leite para os filhotinhos e comida para a mamãe deles.

E assim a cachorrinha ficou morando no depósito com dois filhinhos, os outros ficaram na casa.

É, dona coruja, seu julgamento foi errado e muito precipitado. Cada um tem seu jeito de resolver os problemas. Devemos dar-lhes liberdade de pensamento, ou seja, deixar cada um pensar do seu modo. Nunca devemos julgar os outros. Espere antes de falar porque, às vezes, você tem uma bela surpresa.

O que você nunca havia imaginado, o outro imaginou!

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Daniel Maurício (Poética) 10

 

Murilo Rubião (O homem do boné cinzento)


"Eu, Nabucodonosor, estava sossegado em minha casa, e florescente no meu palácio."
(Daniel, IV, 1)


O culpado foi o homem do boné cinzento.

Antes da sua vinda, a nossa rua era o trecho mais sossegado da cidade. Tinha um largo passeio, onde brincavam crianças. Travessas crianças. Enchiam de doce alarido as enevoadas noites de inverno, cantando de mãos dadas ou correndo de uma árvore a outra.

A nossa intranquilidade começou na madrugada em que fomos despertados por desusado movimento de caminhões, a despejarem pesados caixotes no prédio do antigo hotel. Disseram-nos, posteriormente, tratar-se da mobília de um rico celibatário, que passaria a residir ali. Achei leviana a informação. Além de ser demasiado grande para uma só pessoa, a casa estava caindo aos pedaços. A quantidade de volumes, empilhados na espaçosa varanda do edifício, permitia suposições menos inverossímeis. Possivelmente a casa havia sido alugada para depósito de algum estabelecimento comercial.

Meu irmão Artur, sempre ao sabor de exagerada sensibilidade, contestava enérgico as minhas conclusões. Nervoso, afirmava que as casas começavam a tremer e apontava-me o céu, onde se revezavam o branco e o cinzento. (Pontos brancos, pontos cinzentos, quadradinhos perfeitos das duas cores, a substituírem-se rápidos, lépidos, saltitantes).

Daquela vez, a mania de contradição me arrastara a um erro grosseiro, pois antes de decorrida uma semana chegava o novo vizinho. Cobria-lhe a cabeça um boné xadrez (cinzento e branco) e entre os dentes escuros trazia um cachimbo curvo. Os olhos fundos, a roupa sobrando no corpo esquelético e pequeno, puxava pela mão um ridículo cão perdigueiro. Ao invés da atitude zombeteira que assumi ante aquela figura grotesca, Artur ficou completamente transtornado:

- Esse homem trouxe os quadradinhos, mas não tardará a desaparecer.

Não foram poucos os que se impressionaram com o procedimento do solteirão. Os seus hábitos estranhos deixavam perplexos os moradores da rua. Nunca era visto saindo de casa e, diariamente, às cinco horas da tarde, com absoluta pontualidade, aparecia no alpendre, acompanhado pelo cachorro. Sem se separar do boné que, possivelmente, escondia uma calvície adiantada, tirava baforadas do cachimbo e se recolhia novamente. O tempo restante conservava-se invisível.

Artur passava o dia espreitando-o, animado por uma tola esperança de vê-lo surgir antes da hora predeterminada. Não esmorecia, vendo burlados os seus propósitos. A sua excitação crescia à medida que se aproximava o momento de defrontar-se com o solitário inquilino do prédio vizinho. Quando os seus olhos o divisavam, abandonava-se a uma alegria despropositada:

- Olha, Roderico, ele está mais magro do que ontem! – Eu me agastava e lhe dizia que não me aborrecesse, nem se ocupasse tanto com a vida dos outros.

Fazia-se de desentendido e, no dia seguinte, encontrava-o novamente no seu posto, a repetir-me que o homenzinho continuava definhando.

- Impossível - eu retrucava -, o diabo do magrela não tem mais como emagrecer!

- Pois está emagrecendo.

Ainda encontrava-me na cama, quando Artur entrou no meu quarto sacudindo os braços, gritando:

- Chama-se Anatólio!

Respondi irritado, refreando a custo um palavrão: chamasse Nabucodonosor!

Repentinamente emudeceu. Da janela, surpreso e quieto, fez um gesto para que eu me aproximasse. Em frente ao antigo hotel acabara de parar um automóvel e dele desceu uma bonita moça. Ela mesma retirou a bagagem do carro. Com uma chave, que trazia na bolsa, abriu a porta da casa, sem que ninguém aparecesse para recebê-la.

Impelido pela curiosidade, meu irmão não me dava folga:

- Por que ela não apareceu antes? Ele não é solteiro?

-  Ora, que importância tem uma jovem residir com um celibatário?

Por mais que me desdobrasse, procurando afastá-lo da obsessão, Artur arranjava outros motivos para inquietar-se.

Agora era a moça que se ocultava, não dava sinal da sua permanência na casa. Ele, porém, se recusava a aceitar a hipótese de que ela tivesse ido embora e se negava discutir o problema comigo:

-  Curioso, o homem se definha e é a mulher que desaparece!

Três meses mais tarde, de novo abriu-se a porta do casarão para dar passagem à moça. Sozinha, como viera, carregou as malas consigo.

-  Por que segue a pé? Será que o miserável lhe negou dinheiro para o táxi?

Com a partida da jovem, Artur retornou ao primitivo interesse pelo magro Anatólio. E, rangendo os dentes, repetia:

- Continua emagrecendo.

Por outro lado, a confiança que antes eu depositava nos meus nervos decrescia, cedendo lugar a uma permanente ansiedade. Não tanto pelo magricela, que pouco me importava, mas por causa do mano, cujas preocupações cavavam-lhe a face, afundavam-lhe os olhos. Para lhe provar que nada havia de anormal no solteirão, passei a vigiar o nosso enigmático vizinho.
Surgia à hora marcada. O olhar vago, o boné enterrado na cabeça, às vezes mostrava um sorriso escarninho.

Eu não tirava os olhos do homem. Sua magreza me fascinava. Contudo, foi Artur que me chamou a atenção para um detalhe:

- Ele está ficando transparente.

Assustei-me. Através do corpo do homenzinho viam-se objetos que estavam no interior da casa: jarras de flores, livros, misturados com intestinos e rins.  O  coração parecia estar dependurado na maçaneta da porta, cerrada somente de um dos lados.

Também Artur emagrecia e nem por isso fiquei apreensivo. Anatólio tornara-se a minha única preocupação. As suas carnes se desfaziam rapidamente, enquanto meu irmão bufava, pleno de gozo:

- Olha! De tão magro, só tem perfil. Amanhã desaparecerá.

Às cinco horas da tarde do dia seguinte, o solteirão apareceu na varanda, arrastando-se com dificuldade. Nada mais tendo para emagrecer, seu crânio havia diminuído e o boné, folgado na cabeça, escorregara até os olhos. O vento fazia com que o corpo dobrasse sobre si mesmo. Teve um espasmo e lançou um jato de fogo, que varreu a rua. Artur, excitado, não perdia o lance, enquanto eu recuava atemorizado.

Por instantes, Anatólio se encolheu para, depois, tornar a vomitar. Menos que da primeira vez. Em seguida, cuspiu. No fim, já ansiado, deixou escorrer uma baba incandescente pelo tórax abaixo e incendiou-se. Restou a cabeça, coberta pelo boné. O cachimbo se apagava no chão.

- Não falei? - gritava Artur, exultante.

A sua voz foi ficando fina, longínqua. Olhando para o lugar onde ele se encontrava, vi que seu corpo diminuíra espantosamente. Ficara reduzido a alguns centímetros e, numa vozinha quase imperceptível, murmurava:

- Não falei, não falei.

Peguei-o com as pontas dos dedos antes que desaparecesse completamente. Retive-o por instantes. Logo se transformou numa bolinha negra, a rolar na minha mão.

Fonte:
Murilo Rubião. Os dragões e outros contos. Publicado em 1965.

Jessé Nascimento (Poemas Avulsos) 2

A VIAGEM


O ser humano
aguarda a sua vez
para a partida
da viagem final.
No entanto,
alguns ansiosos
e apressados,
furam a fila
e embarcam
para jamais voltar.
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CORAÇÃO

Ah, coração preguiçoso,
acompanhe a mente
na viagem sentimental.
Ah, mente precipitada,
dê uma trégua
ao coração
ferido e cansado…
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FIM

Não tente ressuscitar
os mortos que somos
para o amor.
Tudo acabou,
restam as mágoas.
Não tente reacender
um fogo que se apagou.
Restam as cinzas.
Nada mais…
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PÁSSAROS

Pássaros teimosos,
reconstruíram tantas vezes
o ninho levado pelo vento,
destruído pela chuva.
Valeu a insistência,
o amor venceu.
Novos pássaros
voam para a vida.
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SAUDADE

Chuva.
Frio cortante.
Como cortante
é a mágoa
deixada
em meu coração.
Mas, assim mesmo,
sinto saudades
de você…
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SENTIMENTOS

Recuperar
sentimentos nobres.
Enterrar
sentimentos pobres.
A validade
da vida.
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UM GRITO NO AR*

Aiiiii!
Os gritos de agonia ecoam pelo espaço.
Os golpes se sucedem impiedosamente,
sem misericórdia.
Ninguém parece ouvir seus pedidos de socorro.
E a crueldade do ser humano aumenta a cada dia.
Nada o detém. Nada...
As vítimas vão tombando sucessivamente,
sem ter quem as escute,
sem ter quem impeça crimes tão hediondos.
O ar fica impregnado do cheiro do massacre,
que ameaça os criminosos e os demais viventes.
Inaudível ao homem, os gritos e choros
sensibilizam a natureza, que se defende como pode,
sem conseguir impedir a matança desenfreada.
Não sei...
Não está tão longe o dia
em que a floresta soltará seu último grito,
seu último gemido,
seu último pedido de socorro.
Terá sido tombada a última árvore.
Terá sido dizimada a vida na Terra...
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* Vencedora do Concurso de Poesia Livre regional - 2015, do Ateneu Angrense de Letras e Artes, tema FLORESTA
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VENTO MENSAGEIRO

Escrevi,
espionado pelo vento
que, excelente  mensageiro,
espalhou meu pensamento
para o mundo inteiro.
Na verdade,
eu queria escrever
para você
somente...

Ribeiro Couto (Clube das esposas enganadas)

Parti para Petrópolis naquela manhã mesmo. Agora, todos os perigos ficavam para trás, na planície. Perto da Raiz da Serra, quando os primeiros lírios me enviaram aromas, apoderou-se de mim um desejo imenso de saber a fundo o Direito Marítimo, a História Diplomática, o Internacional Privado. A natureza agia por contrastes: em vez de um completo abandono do meu ser ao gosto físico de respirar, eu experimentava uma vontade intensa de conhecer pelo miúdo o Tratado de Tordesilhas - e parecia-me sentir, transfigurado pela paisagem, o cheiro de papel velho dos meus volumes de ciências. O trem galgava as ladeiras. O ar balsâmico do mato infiltrava-me a consciência perfeita de uma libertação. Acompanhando a estrada, arvoredos silvestres davam na janela tapas afetuosos, com ramos longos, debruçados. Era a natureza que me enviava mensagens. Lá em cima, na cidade silenciosa (maio inaugurava a estação morta) a existência nova começaria - a paz fecunda dos estudos, a tranquilidade do quarto cheio de sol e, pela noite adiante, a boa lâmpada em vigília.

Instalei num quarto do Hotel Max Meyer um pequeno quadro-negro que levara, os mapas murais e os livros. Dali agora ninguém me arrancava, a não ser o próprio Ministro das Relações Exteriores no dia das provas escritas, quando os jornais publicassem a chamada.

Como ficaria tia Clarice, ao saber da defecção? Furiosa, naturalmente. Caprichei na longa carta que lhe escrevi. Argumentei com a verdade abundante. Entre os motivos que me assistiam estava aquela irritante indagação dos amigos, quando  agora os encontrava. "Então, Clarimundo, como vai o clube?" Outros me batiam nas costas: "Seu felizardo, então essas esposas enganadas?"

Não era possível continuar no Rio enquanto durasse aquela brincadeira. Era preciso riscar o meu nome da fachada do clube invisível. Depois, as funções de secretário, que a princípio eu julgara leves, eram trabalhosíssimas, a julgar pelas primeiras cinqunta e tantas cartas. Só a correspondência me tomaria o tempo inteiro. Assim, como o concurso se aproximava, só em Petrópolis eu poderia - em criatura de memória infiel - ter sossego para recapitular certos pontos de direito, de história, de geografia, de línguas, particularmente ingratos à minha retentiva caprichosa.

Terminava oferecendo-lhe a chave do apartamento, que deixara com Lúcia, e acrescentava:

"Espero, minha boa tia, que a senhora disporá com franqueza de todo o espaço e de todo o mobiliário. A casa é sua. Entre os meus livros, há alguns que podem interessar à biblioteca futura do clube. Permito-me desde já assinalar a Fisiologia  do casamento de Balzac."

Tia Clarice telegrafou: "Ingrato desnaturado exijo explicação insinuações Fisiologia Casamento."

Ora essa, o livro devia ser útil ao clube. Mandei-lhe então uma enorme cesta de hortênsias.

Desta vez ela tornou mansa, com um simples cartão, mas surpreendente: "Trânsfuga! Os jornais falam cada vez mais em você."

Era verdade. Tendo publicado a segunda notícia, que tia Clarice lhes enviara pelo correio, os cronistas insistiam nas referências ao meu nome. Dava para desesperar.

Tomei a resolução de não ler mais jornais. O trabalho absorveu-me. Só uma recordação vinha perturbá-lo à noite, na hora avançada (por vezes alta madrugada) em que eu me enfiava dentro dos lençóis gelados...

Sem dúvida, podia considerar-me um sujeito invejável. Deliciosa Lúcia... A modéstia, entretanto, me aconselhava a não dar importância àqueles caprichos de uma noite.

Não era de crer que Lúcia tivesse por mim um sentimento durável. Fora tudo, como no verso de Bilac, resultado da ... cumplicidade Da sombra, do silêncio, do perfume...

O cavalheirismo consistia em não lhe escrever, em não lhe dar notícias minhas. O contrário pareceria presunção de quem se inculca. Quando viesse a encontrá-la de novo no Rio, exageraria minha frieza, requintaria na polidez superficial.

No entanto, ela pediria a tia Clarice o meu endereço. E uma tarde ouvi pelo telefone uma doce voz que me chamava de malcriado, de mufle, de monstro... Essa voz tornou nítida e tentadora na minha imaginação a imagem adorável.

- Não é possível explicar coisa alguma pelo telefone...

- Então desça ao Rio. Desça hoje.

- Não é possível! - gemi.

- Bom, nesse caso, vou eu...

Meu coração bateu deliciado. Lúcia, ali no Max Meyer, sozinha comigo, na noite fria de maio, exalando "Cesoirou jamais"... Súbito, uma covardia de complicações me invadiu. O major ia chegar de um momento para outro, descobrir, fazer um escândalo... Adeus, concurso! Não poderia apresentar-me ao concurso coberto de escândalo.

- Pelo último trem. Adeus.

-Alô? Ouça...

- Pelo último trem. Adeus.

Chirriou um beijo garoto e desligou. Já no resto daquele dia não pude trabalhar. Meu desejo era ir por ali, pelas ruas ermas, sob as árvores, absorvendo no ar úmido o contentamento de viver. Da janela, eu olhava com ternura o casario da cidade.

Os vilinos estavam fechados. Nos jardins abandonados havia hortências empalidecidas e rosas que se despetalavam. Ao sol brusco, seria bom ir à toa, com Lúcia pelo braço, fazendo projetos, dizendo tolices meigas, até que a noite nos encontrasse perdidos pelos caminhos da Westfalia ou da Cascatinha.

Em todo caso, ela viria - viria quando fosse tarde, pela noite adentro, e quando uma fria neblina envolvesse o sono da cidade, com os lampiões amortecendo nas esquinas, as águas do Piabanha correndo geladas entre os barrancos.

"Da natureza jurídica do navio. Sua individualização: nome, capacidade, domicílio e nacionalidade." Era odioso, o Direito Marítimo. Desci ao bar do hotel para ouvir gramofone e preparar a alma com um tango argentino.

À noite, pelo último trem como dissera, Lúcia irrompeu na plataforma da estação, descendo ágil do carro ainda em movimento, espalhando no ar "Ce soir ou jamais". Foi-me estendendo a boca e dizendo:

- Cínico!

Voltou ao Rio no dia seguinte muito cedo.

Tonto de êxtases prolongados, vaguei por Petrópolis, achando um acordo inefável entre a minha euforia e aquela bruma insinuante, que convida aos sentimentos delicados. Era amor que eu sentia? Qualquer coisa de inquietante, sim... O princípio da paixão... Ou era apenas a alegria do episódio? Não, devia ser amor, o grande e esperado amor...

Por trás dos morros, a claridade do sol ia-se tornando mais nítida, a bruma começava a esgarçar-se. Dentro de mim parecia haver também claridades nascentes. Até então eu supunha que o amor, o grande amor que aparece nos romances e nas lendas, só se alimentava de impossibilidades - pertencia ao nobre domínio da imaginação.

Parecia-me absurdo que ele sobreviesse à força dos sentidos, revelação nova. Todas as minhas noções, até aquela data, se resumiam, mesquinhas e fáceis, no verso mesureiro da "Ceia dos Cardeais":

A conquista era tudo, a posse quase nada.

Estava perplexo. Seria verdadeiramente o amor? Nesse caso, ele nascia depois... O que eu poderia chamar a conquista provocava-me um sentimento de pesar. Teria desejado que Lúcia fosse minha sem que eu mesmo percebesse como, por um milagre do qual não guardasse memória; que a nossa vida epidérmica tivesse começado na noite dos tempos, com o aparecer sobre a terra das primeiras flores, das primeiras vozes.

Por outro lado, o que o cardeal chamava a posse não era quase nada, era tudo. A forma ideal e definitiva da existência eram aquelas horas que eu vivera, primeiro na Rua Silva Manuel, depois no sobradinho do Max Meyer, momentos antes, quando a vida universal morrera para além de quatro paredes de um quarto - coberto de mapas dos cinco continentes inúteis.

Fonte:
Ribeiro Couto. Clube das esposas enganadas. Publicado em 1933.

Estante de Livros (Melhores contos, de Ribeiro Couto)

Rui Esteves Ribeiro de Almeida Couto, conhecido como Ribeira Couto, nasceu em Santos/SP, no dia 12 de março de 1898. Foi um escritor, jornalista, promotor e diplomata brasileiro. Escreveu poesias, contos, crônicas, ensaios e romances. É autor da obra "Cabocla", que foi adaptada para a televisão. Em 1912, estreou no jornalismo ao ingressar no jornal A Tribuna. Em 1915, mudou-se para a capital, para estudar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Colaborou com os periódicos “Gazeta de Notícias” e “A Época”. Nesse período, iniciou uma amizade com o poeta Manuel Bandeira. Em 1928, Ribeiro Couto viajou para Marselha, França, onde assume o cargo de vice-cônsul honorário. Em 1931 foi transferido para Paris, como adido junto ao consulado geral. Publicou 29 livros (contos, crônicas, poesias). Ribeiro Couto faleceu em Paris, França, no dia 30 de maio de 1963.

A maior parte dos contos de Ribeiro Couto foi escrita na mocidade, antes dos 30 anos, com títulos deliciosos e instigantes, que já dão uma ideia do universo do escritor: "A Casa do Gato Cinzento", "O Crime do Estudante Batista", "Baianinha e Outras Mulheres".

Depois de dobrar o cabo dos 40, publicou apenas um volume no gênero, Largo da Matriz. (Clube das Esposas Enganadas (1933) foi classificado pelo autor como novela). A maturidade, porém, não alterou as características do escritor nem tostou o frescor e a singeleza de suas histórias. Homem atento à riqueza do cotidiano, Ribeiro Couto dele extraiu o material de suas histórias, nas quais o realismo é atenuado pelo lirismo e a nota poética. Em alguns de seus melhores contos há um mal disfarçado sentimentalismo, sem que essa tendência comprometa a alta qualidade dos trabalhos.

Na velhice, ao prefaciar a antologia Histórias da Cidade Grande, Ribeiro Couto dividiu os seus contos em três grupos, de acordo com os assuntos e os ambientes. As "histórias da cidade grande" passam-se no Rio de Janeiro, quase sempre, abordam vidas em crise ("O Crime do Estudante Batista", "O Primeiro Amor de Antônio Maria") ou momentos de transgressão ao código de bom comportamento burguês ("Uma Noite de Chuva ou Simão", "Diletante de Ambientes"), estes vistos pelo escritor com um certo sarcasmo. Bem diverso são os tipos e episódios do ciclo de "histórias da cidade pequena" ("Baiano", "Largo da Matriz"). Por último, as "histórias de meninos" ("Bilu, Carolina e Eu"), as mais caras ao escritor, nas quais há provavelmente uma origem autobiográfica.

Situados em tempos e locais diversos, estes contos estão unidos pelo espírito e a técnica, a ternura, a ironia, a compreensão das fragilidades humanas e um certo fundo discreto, muito discreto, de desencanto.

Fontes:

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Versejando 89

 

Esopo (A Velha e o Médico)

Uma velha, que tinha ficado cega, chamou um médico e  disse-lhe:

- Cure-me da minha cegueira e eu  pago-lhe bem. Mas se não me curar, não pagarei nada. Concorda?

O médico aceitou. Todas as semanas vinha à casa dela e aplicava-lhe nos olhos um falso remédio sem qualquer valor. Mas, a cada visita, levava consigo alguma coisa da casa da velha. Acabou por levar tudo o que ela possuía.

Algum tempo depois, finalmente, o médico começou a tratá-la a sério e deu-lhe um remédio que a curou.

Quando a velha voltou a ser capaz de ver, viu que a casa estava vazia e que não poderia pagar ao médico. Este, para cobrar a dívida, levou-a a tribunal.

Diante do juiz, a velha declarou:

- Este homem fala a verdade. Concordei que lhe pagaria se recuperasse a visão. E ele concordou que eu não precisaria de lhe pagar se permanecesse cega. Agora ele diz que eu estou curada. Mas eu digo que continuo cega, porque quando perdi a visão a minha casa estava cheia de objetos que agora não consigo ver!

O juiz deu-lhe razão e a velha ganhou a causa.
 
Moral da História: Quem está pronto a ganhar o que não merece, também deve estar pronto a perder.

Fonte:
Fábulas de Esopo, disponível em FalaBarão

Gislaine Canales (Glosas Diversas) XXXIV

MEU SOL


MOTE:
Chegaste, assim, de repente
na minha vida vazia,
trazendo um sol ainda quente,
quando já entardecia.

Amália Max
(Ponta Grossa/PR, 1929 – 2014)


GLOSA:
Chegaste, assim, de repente

dando muito amor, a mim.
Tua imagem atraente
pôs, na nostalgia, um fim!

Colocaste muita vida,
na minha vida vazia,
a estrada triste e comprida
transformou-se em alegria!

O teu calor envolvente
aqueceu meu coração,
trazendo um sol ainda quente,
resplendente de afeição!

Revivi, então, meus sonhos!
Trouxeste a policromia
àqueles dias tristonhos
quando já entardecia.
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TARDE VAZIA

MOTE:
Domingo, tarde vazia
uma saudade no ar
e um cheiro de maresia
que vem distante do mar.

Humberto Del Maestro
(Serra/ES)

GLOSA:
Domingo, tarde vazia

de uma acinzentada calma.
Sinto nela (qual magia)
o vazio de minha alma!

Nessa tarde - solidão,
uma saudade no ar
faz pulsar meu coração,
que já nem sabe chorar!

Sinto findar o meu dia
numa tristeza sem fim,
e um cheiro de maresia
penetra dentro de mim!

Com meu olhar já cansado,
olho, sem nada enxergar!
Só há sombra do passado,
que vem distante do mar.
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LÁGRIMA DOCE

MOTE:
Bendigo a lágrima doce
da chuva que cai lá fora.
Bom seria se assim fosse
o pranto que a gente chora!

José Valdez de Castro Moura
(Pindamonhangaba/SP)


GLOSA:
Bendigo a lágrima doce

que na tarde, cai tranquila,
pois tua lembrança, trouxe,
e é muito gostoso ouvi-la!

Essa lágrima bonita
da chuva que cai lá fora
o meu coração agita
e manda a tristeza embora!

Com esse sabor agridoce
eu sinto a chuva com gosto,
bom seria se assim fosse
as lágrimas do meu rosto!

Que bom seria, se um dia,
nos caminhos, vida afora,
que fosse só de alegria
o pranto que a gente chora!
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CANTO AO DESENCANTO...

MOTE:
Liberto a paixão contida
seco as lágrimas do pranto...
e canto... à beira da vida
o meu canto ao desencanto...

Maria Lua
(Nova Friburgo/RJ)


GLOSA:
Liberto a paixão contida

deixo-a livre pelo espaço,
nessa lembrança sentida
do calor do teu abraço!

Quero me fazer feliz!
seco as lágrimas do pranto,
colorindo a tarde gris
com um punhado de encanto!

A esperança renascida
em minha alma, me faz bem,
e canto... à beira da vida
cantando a vida, também!

Peço ao vento do Universo,
que leve a todo recanto,
no carinho do meu verso,
o meu canto ao desencanto…
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DELÍRIO

MOTE:
No delírio encontro jeito
de negar esta existência:
No vazio do meu leito
cabe apenas tua ausência.

Wanda de Paula Mourthé
(Belo Horizonte/MG)


GLOSA:
No delírio encontro jeito

de diminuir minha dor,
pois o meu sonho foi feito
de sementeiras de amor.

É difícil, eu bem sei,
de negar esta existência:
as lágrimas que chorei
já não têm mais consistência!

Aperta a dor no meu peito,
e o olhar vai à procura
no vazio do meu leito
da tão sonhada ventura!

Nesse vazio profundo,
sendo de grande abrangência,
mesmo o maior desse mundo,
cabe apenas tua ausência.

Fonte:
Gislaine Canales. Glosas. Glosas Virtuais de Trovas XVI. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. Março 2004.

Ernest Hemingway (O Velho na ponte)


Um velho usando óculos com aro de metal e roupas imundas de poeira estava sentado à beira da estrada. Um pontão cruzava o rio e por ele passavam carroças, caminhões, homens, mulheres e crianças. As carroças, puxadas por mulas, balançavam um bocado no esforço para subir a íngreme barranca após a travessia, com os soldados ajudando a empurrá-las pelos raios das rodas. À frente, abrindo passagem, iam os caminhões, deixando na traseira grande massa de camponeses que mal se deslocavam naquela terra macia que lhes cobria os tornozelos. O velho, entretanto, nem se mexia, continuava sentado ali. Estava cansado demais para prosseguir.

Minhas ordens eram as de cruzar o pontão e examinar as cabeceiras para descobrir até que ponto o inimigo avançava. Tendo-as cumprido, regressava à base, atravessando o rio em sentido contrário. Já não havia tantas carroças, nem tanta gente a pé. Mas o velho continuava ali.

— De onde é que você vem? — perguntei-lhe.

— De San Carlos! — respondeu, sorrindo para mim.

Era a sua cidade natal, e ele parecia orgulhar-se de mencioná-la.

— Quem tomava conta dos animais era eu. — explicou.

— Ah! — exclamei, sem entender muito bem o que ele queria dizer com aquilo.

— Sim! — continuou ele — Fiquei até o fim tomando conta deles e fui a última pessoa a abandonar a cidade de San Carlos.

Ele não me dava a impressão de ser um pastor, nem um boiadeiro. Examinei melhor sua roupa escura, imunda de poeira, seu rosto também empoeirado e aqueles estranhos óculos com aro de metal, e perguntei-lhe:

— Mas que animais eram?

— Vários animais. — respondeu, sacudindo desanimadamente a cabeça — Tive que abandoná-los…

Olhei então para a ponte improvisada e para aquela região do delta do Ebro, tão parecida com a África, perguntando-me quanto tempo correria até que víssemos o inimigo e mantendo os ouvidos atentos para os primeiros ruídos que pudessem assinalar esse acontecimento frequentemente misterioso a que chamamos contato. O velho, imóvel, continuava ali.

— Mas que tipo de animais eram eles? — insisti.

— Eram só três, — explicou — duas cabras e um gato. Isso sem falar em quatro casais de pombos.

— E você teve que abandoná-los?

— Sim, por causa da artilharia. O capitão me mandou sair dali, por causa da artilharia.

— Você não tem família? — perguntei-lhe sem tirar os olhos da cabeceira do pontão, onde algumas poucas carroças se apressavam em descer a ribanceira.

— Não. — disse-me ele — Somente esses animais de que lhe falei. Com o gato, naturalmente, tudo correrá bem. Um gato sempre cuida bem de si próprio, mas nem sei o que acontecerá com os outros.

— E quais são as suas ideias políticas?

— Não tenho ideia política de nenhum tipo. — respondeu-me — Sou um velho de 76 anos, percorri doze quilômetros até aqui e acho que não tenho forças para prosseguir.

— Este não é um bom lugar para ficar parado. — falei-lhe eu — Se esforçar-se um pouco mais, é quase certo que arranjará condução no lugar onde a estrada se vira para Tortosa.

— Vou descansar um pouco mais, depois irei. Para onde é que esses caminhões estão indo?

— Para Barcelona. — informei-lhe.

— Não conheço ninguém que more para esses lados, mas lhe agradeço muito pela informação. Muito obrigado, mesmo!

Olhou para mim com uma expressão vazia, desanimada, e depois, como alguém que deseja compartilhar suas preocupações, repetiu-me:

— Com o gato tudo correrá bem, estou seguro. Nem preciso inquietar-me com ele. Mas o que dizer dos outros? O senhor tem alguma ideia do que poderá ocorrer com eles?

— Acho que acabarão encontrando uma boa saída qualquer.

— Acha mesmo?

— Por que não? — respondi-lhe, continuando a olhar para a cabeceira do pontão, onde já não havia tráfego algum.

— Mas o que poderão fazer se houver fogo da artilharia, pois a mim mesmo obrigaram a dar o fora dali?

— Você deixou o pombal com as portas abertas?

— Deixei.

— Então, não há perigo. Eles voarão para longe.

— Sim, os pombos se salvarão… Mas e os outros? Nem quero pensar nisso!

— Bem, parece que você já descansou o suficiente e é melhor se pôr a caminho. Levante-se e comece a andar.

— Obrigado — agradeceu ele.

Levantou-se, balançou como um pêndulo e caiu para trás, sentando-se de novo na poeira.

— Eu cuidava dos animais — lamuriou-se.

Não se dirigia a mim, especificamente, e repetiu:

— Eu só tomava conta dos animais…

Não havia coisa alguma que eu pudesse fazer por ele àquela altura. Estávamos no Domingo de Páscoa e os fascistas avançavam na direção do Ebro. O dia estava de um cinza sombrio, com nuvens baixas no céu. Por isso mesmo não apareciam os aviões do inimigo.

Essa circunstância e o fato de os gatos serem capazes de cuidar de si mesmos eram tudo o que aquele velhinho poderia considerar boa sorte.

Fonte:
Conto publicado em 1938.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

A. A. de Assis (Saudade em Trovas) n. 18: Colombina

Colombina, pseudônimo de Yde Schloenbach Blumenschein

Prof. Garcia (Caderno de Trovas) 3

Busca teu sonho e sê bravo,
pois quem tenta a sorte a esmo,
torna-se cativo, escravo,
da escravidão de si mesmo!
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Casa de taipa, esquecida,
sem janela e sem portão...
Quanta saudade esculpida,
nas ruínas do teu chão!
= = = = = = = = = = =

Com traços angelicais,
rompe outra flor entre nós;
Laura - orgulho de seus pais
e encanto de seus avós!
= = = = = = = = = = =

Daquela casinha pobre,
rica de fé, na pobreza,
Deus faz dela o lar mais nobre:
Põe paz e pão sobre a mesa!
= = = = = = = = = = =

Da velha praça, onde outrora,
fiz da infância uma ilusão...
Tudo que me resta agora
é a sombra da solidão!
= = = = = = = = = = =

Em cada beijo roubado,
que roubo de ti, meu bem,
sinto o gosto do pecado
que um beijo roubado tem!
= = = = = = = = = = =

Filho, mesmo na amargura,
dês o exemplo da candeia:
Quanto mais a noite escura
mais ela brilha e clareia!
= = = = = = = = = = =

Lamparina sobre a mesa,
e em volta, os filhos e os pais!...
Que saudade da pobreza
dos meus antigos Natais!
= = = = = = = = = = =

Lembro da humilde casinha,
pobre, nos seus rituais...
Onde Jesus sempre vinha,
benzer os nossos Natais!
= = = = = = = = = = =

Meu verso aqui, não tem lume,
é simples, sem filigrana,
mas tem o doce perfume
do cheiro da jitirana*!
= = = = = = = = = = =

Não há gesto nobre em vão;
que Deus se lembra do nome,
daquele que estende a mão
dividindo o pão que come!
= = = = = = = = = = =

O inverno acaba a tristeza
do pó dos sertões bravios,
e os olhos da natureza
choram nos leitos dos rios!
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O mar bravo se avoluma,
se agita e depois desmaia,
pondo arabescos de espuma
nos pergaminhos da praia!
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Onde estás, doce quimera?
Essa espera me apavora...
Já voltou a primavera,
não voltaste até agora!
= = = = = = = = = = =

O pôr do sol no sertão,
toda tarde, ao fim do dia,
dobra a cor da solidão,
aos pés da Virgem Maria!
= = = = = = = = = = =

Parte a jangada a sonhar
aos sopros do mar imenso;
tremula um lenço no mar,
no cais acena outro lenço!
= = = = = = = = = = =

Pelos chinelos guardados,
posso dizer quem tu és!...
Pois, os teus velhos calçados,
fotografaram teus pés!
= = = = = = = = = = =


Pés chagados, mãos calosas,
no meu barco sem convés...
Prossigo ofertando rosas,
curando as chagas dos pés!
= = = = = = = = = = =

Por que tantos rituais
de joelhos, aos pés dos templos,
se és entre pobres mortais
o exemplo dos maus exemplos?...
= = = = = = = = = = =

Porteira velha!.., O rangido,
desta dor que te corrói...
E o teu passado esquecido
que, em teu presente, ainda dói!
= = = = = = = = = = =

Prenderam-me!... E, escravizado,
eu sinto toda tardinha...
O mesmo passo apressado
da pressa em que você vinha!
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Que a inveja, eu nunca carregue,
nem faça o mal a ninguém;
infeliz de quem prossegue
pisando os pés de outro alguém!
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Que a velhice que nos guia
enriqueça a alma da gente,
pondo mais luz e poesia
no entardecer do poente!
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Que lindo pecado santo,
entre a rosa e o beija-flor!...
O beija-flor beijou tanto,
que os dois morreram de amor!
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Se a maldade segue os passos
das injustiças reais...
Pode até prender meus braços,
mas nunca os meus ideais!
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Segue a tua caminhada
e ama teus próprios desejos,
sem riqueza sobejada
com restos de outros sobejos!
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Sê neste Natal sem brilho,
que se esqueceu de Jesus...
Um pouco da luz do filho,
que ao padecer, se fez Luz!
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Só o inverno enxuga o pranto,
de uma seca no sertão...
Pois, com chuva, em cada canto,
brota uma vida no chão!
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Todo o orgulho que se pensa,
não passa de um falso orgulho
que o tempo, com indiferença
destrói sem fazer barulho!
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* Jitirana = é uma planta trepadeira que cresce em regiões tropicais e subtropicais do mundo. Conhecida popularmente como corda-de-viola. Muito rústica de rápido crescimento. Possui flores de coloração rosa com o centro arroxeado, tendo outras variedades. Por exemplo, a Jitirana-azul é uma trepadeira anual herbácea, de ramos pilosos, nativa do continente americano, ocorrendo em grande parte do Brasil. Adorna o cenário sertanejo crescendo sobre arbustos e cercas, com suas vistosas flores azuis de garganta branca, que trazem impressas uma “estrela-do-mar”., É considerada uma planta daninha ou que causa danos ao infestar áreas agrícolas.

Fontes:
Francisco Garcia de Araújo. Cantigas do meu cantar. Natal/RN: CJA Edições, 2017. Livro enviado pelo autor.

Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020.
Livro enviado pelo autor.

Jitirana Azul, flor do sertão in Focado em Você.