quinta-feira, 3 de julho de 2025

Asas da Poesia * 44 *

 


Poema de
LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE
Pinhalão/PR

Saudade

"Dize-me, ó tu, que meu coração ama,
onde apascentas o teu rebanho?"
(Ct. 1.7)

A minh'alma está cheia de dor,
Dor perene de acerba saudade,
De saudade do mais puro amor...
Estou triste qual triste albatroz,
Não preciso escutar nada mais,
Pois ouvir eu nem posso a sua voz.

Este vento assobia lá fora...
Lentamente meu dia passou...
Vem a noite calada, agora,
Sufocar minha vida tristonha
Com o meu pensamento angustiado
- Pesadelo acordado que sonha.

Nem as cordas sonoras da lira
Inspirar melodias puderam;
Só lamento pungente se ouvira
De uma vida que vive o temor,
E, distante da face querida,
A saudade tem sulcos de dor.

Que saudade do seu rosto lindo,
Desses olhos que olharam pra mim;
Eu a vejo formosa, sorrindo,
- Primavera corando-se em flor...
Que saudade da face excitada,
Fascinando-me em taça de amor.

Quero vê-la de novo bem linda,
Com seus braços repletos de vida;
No meu lar seja sempre bem-vinda,
Casa cheia de dócil encanto;
Contagiado será seu viver,
Expulsando, co'amor, o meu pranto.
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Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES

Inquietudes

Vejo em meu rosto as marcas esculpidas.
O espelho mostra a face insatisfeita
nessas manhãs de noites mal dormidas,
que sua ausência junto a mim se deita...

prevalecendo em vão, em nossas vidas,
há sempre um fio de esperança à espreita,
e um “nunca mais” em nossas despedidas
que o esperançoso o coração rejeita!

E neste emaranhado de quimeras,
passam-se os sonhos, vão-se as primaveras,
os dias passam, tudo passa e enfim...

num misto de regressos e tristezas,
envolto no universo de incertezas…
só este amor incerto é certo em mim!
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Fui na fonte apanhar água,
molhei a ponta do lenço;
o amor de muitos homens
da minha parte dispenso.
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/ Portugal

Da pele o inebriante apelo 
incita o chamamento dos lábios
num premente e ousado anelo
de beber da fonte o fogo.

Da pele rendidos à química reação
olhos em promessa reagente
deslumbradas mãos em tentação 
num afagar de sentidos sem remissão.

Da pele traça-se relevo mapeado
navegação ausente de pontos cardeais
conquista-se o desejo pela vontade
encanto que nega a breve saciedade.

Da pele essa audível sinfonia de afetos
corpos cegos pela iridescência da paixão
Náiade sulcando as margens do meu rio 
numa promessa de eterna inspiração.
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Haicai do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

A noite sem sono
e, a lua cheia de luz,
sozinha no abandono!
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Ante a verdade pura e sem disfarce
(Maria Amélia de Carvalho e Almeida in "Ao Sabor das Marés", p. 192)

Ante a verdade pura e sem disfarce
Dos teus olhos interrogando os meus
O coração, nesse instante do adeus
Não logrou fazer mais do que entregar-se.

E vieram as lágrimas juntar-se
Nascidas dos meus olhos tão ateus
Ao enlace dos meus braços pigmeus
Onde o teu colo em dor veio aninhar-se.

O amor falou mais alto nessa hora
Em que tu desististe de ir embora
E voltaste a aquecer a nossa cama.

A lua deu lugar à luz do dia
Das trevas despontou uma alegria
E das cinzas nasceu uma outra chama.
= = = = = = = = = 

Soneto de
AMAURY NICOLINI
Rio de Janeiro/RJ

Dança dos signos

Hoje bem cedo eu tive a curiosidade
de ler o horóscopo publicado no jornal,
e se o que está escrito ali for a verdade
o dia que começa vai ser sensacional.

Conhecerei muita gente interessante,
terei mil oportunidades de progresso,
viajarei com destino a um lugar distante
e provarei o sabor doce do sucesso.

Fico pensando se você também, feliz,
e lendo o mesmo horóscopo que eu
pede que ainda mais os astros contem.

E depois, sem conseguir nada que quis,
vai descobrir o que foi que errado deu:
o jornal que a gente leu era de ontem.
= = = = = = 

Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

Ipupiara

Cravada no Sertão, jardim de flores
nasceu uma cidade hospitaleira.
Seus campos coloridos, sedutores,
tornam a vida bela e corriqueira.

Berço de heróis, poetas, escritores,
produzem versos na cidade ordeira.
O clima é quente, bom e aviva as cores
da alegria que é sempre verdadeira.

Ipupiara é flor cheia de encanto,
cuja beleza inspira o bem, porquanto
as alegrias são puras e completas.

Há de brilhar no céu, mesmo à distância,
esta Terra de amor e de elegância,
pois tu és a cidade dos Poetas!
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Poeminha de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Serra-serra,
será dor.
Cessa a serra,
será flor.
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Poema de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

A janela encantada

Se a luz do dia revela
que a noite de amor é finda,
fecho, depressa, a janela
e pensas que é noite ainda!
* * * *

A casa pobre e singela,
um dia se enriqueceu
e os pais, cheios de alegria,
a chamaram de Maria
quando a menina nasceu.

Um quarto, a sala, a cozinha,
uma porta e uma janela...
Nessa casa pequenina
cresceu, em graça, a menina
que, aos poucos, tornou-se bela!

À tarde sai à janela,
sempre no horário marcado
a olhara rua!... Risonha,
a menina pobre sonha
com seu príncipe encantado!

E é na janela o namoro...
Pede, o moço apaixonado,
ao pai a mão de Maria
e, para sua alegria,
o casamento é marcado.

O tempo passou ligeiro...
Sem a cortina de renda,
a casa em ruínas, fechada,
hoje, a janela encantada
ostenta uma placa: À VENDA.
= = = = = = = = =  

Epigrama de
BOCAGE
(Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage)
(Setúbal, 1765 – 1805, Lisboa)

A uma velha muito feia

Não veio a morte buscar-te
Com o seu chamante robusto,
Porque receia ao encarar-te
Morrer a Morte de susto.
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Soneto de
ERIGUTEMBERG MENESES
Blumenau/SC

Paleta de sentimentos

Se a paleta de cores fosse o peito
E cada cor reflexo dos humores
Seriam os casais vistos nas cores
Dos sentimentos, cada um a seu jeito.

Somente o amor real seria aceito
E não havia ciúme ou rancores.
A vida era um universo de valores
Na arte de expor o par perfeito.

O casal de afeto fiel e franco
Com sentimentos puros era o branco,
A mistura das cores sem ter regra?

E o casal que engana, trai e mente
Teria do extrato reagente
Ao sulfato a cor que mais alegra?
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Trova de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/SP

Quando esta lua indiscreta, 
me traz lembranças sem fim 
eu choro o velho poeta 
que morreu dentro de mim.
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Poema de
JÉRSON BRITO
Porto Velho/ RO

Relicário
 
Do jardim retiraste a fragrância,
Lividez se alastrou, inclemente,
Não levaste, entretanto, a semente
Que me faz encurtar a distância.
 
Em mim mesmo encerrei tua essência,
Tua graça, teu jeito elegante,
Não me aparto sequer um instante
Desse alívio pra minha carência.
 
As delícias daquele cenário
Reuni numa doce memória…
Habitante do meu relicário
 
Apesar dos caminhos cinéreos,
Indelével no peito a história
Irradia sabores etéreos.
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Haicai de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/RJ

O clarão da Lua
ressalta a torre da igreja – 
sombra na pracinha.
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Soneto de
MILTON S. SOUZA
Porto Alegre/RS, 1945 – 2018, Cachoeirinha/RS

Escravidão

Fazes de mim o que bem quer... mas não consigo
mudar o rumo desta história complicada.
Sufoco mágoas, resisto, brigo contigo...
mas volto sempre a caminhar na mesma estrada.

Na escravidão desta paixão desenfreada,
sinto morrendo uns tantos sonhos que persigo.
minha alma, às vezes, quase explode, revoltada
por ver que faço sempre o oposto do que digo.

Mas este amor, repleto de contradições,
é força imensa que inventa as próprias razões
e faz a mente parar de raciocinar.

A minha vida mais parece um labirinto:
ando sem rumo, bato portas, choro, minto...
por mais que tente, nunca deixo de te amar.
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Sextilha de
HÉLIO PEDRO SOUZA
Caicó/RN

Bate forte um coração
quando um sonho é bem sonhado,
o caminho é mais florido
fica o céu mais estrelado,
e a lua aumenta o seu brilho
se o sonho é realizado.
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Soneto de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

Flutu...ânsias

Numa doce interferência do destino, 
nossos olhos... cristalinos...se encontraram
e o mundo se tornou tão  pequenino,
ante sonhos que os destinos  projetaram.

E havia tanto encanto em nosso olhar, 
tanto brilho em nosso mar de  poesia,
que nem mesmo a luz da Lua, a flutuar, 
conseguia ofuscar a fantasia.

Nosso amor, que  era tão  adolescente
e inocente em nossa linda ingenuidade,
transformou-se em lembrança... de repente.

repousando no brilho da mesma Lua, 
diluindo-nos, com  mansa  intensidade 
na  saudade que desperta... e que... flutua.
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Trova de
ERCY MARIA MARQUES DE FARIAS 
Bauru/SP

Que bom se a gente pudesse
fazer tudo que não fez…
e a vida, a chance nos desse,
de ser criança outra vez!…
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Poema de
BENJÚNIOR
(Benevides Garcia Barbosa Júnior)
Porto União/SC

Tarde azul

Olhando por esta janela antiga,
Nem mais sei 
O que eu sou.
Já não ouço mais
Meus blues,
Nem tenho tempo
Para ver o sol nascer.
Só restam lamentos
Nas minhas tardes azuis,
Uma tristeza profunda, 
Vontade de não mais ser...
Como um espantalho
levado pelo vento
vou seguindo a vida,
esquecido dos deuses,
ermo de amores,
carente de pensamentos,
distante de tudo,
crivado de dores...
Sou agora aquele que nunca foi.
Aquele que nunca ousou,
alguém que nunca amou...
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Trova de
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

De esperanças carregada,
velejou por tantos portos;
hoje retorna a jangada,
trazendo meus sonhos mortos.
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Soneto de
BERNARDO TRANCOSO
(Bernardo Sá Barreto Pimentel Trancoso)
Vitória/ES

Loucuras de amor (I)

Torcer por um amor insano, incerto,
É ser um sonhador, ter peito aberto
Pra suportar a dor, infernizante,
Que a insegurança traz a cada instante.

É ver a alma perdida num deserto,
Sedenta e entristecida; é estar tão perto
De ser feliz na vida e tão distante
Desta felicidade, desta amante.

Passa o tempo e o desejo permanece,
Mas o corpo envelhece. Penso, então,
Que a alegria se encontra em outro plano.

Sabendo disso, um ser novo aparece
E, pretendendo alçar seu coração,
Arrisco um novo amor incerto, insano. 
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Poetrix de
RENATO BENVINDO FRATA
Paranavaí/PR

Flores

Sensível, mas perfumada
chora a rosa
lágrimas de espinho.
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Poema de
POETA SILVAIS
(Manuel Joaquim Frades Carvalhal)
Évora/Portugal

Dedicado ao mensageiro
  
Mensageiro a Poesia
Está-te muito agradecida
E o Poeta dia a dia
Dá-te rimas que são vida
 
De tristeza já esquecida
Por carinho e simpatia
A pobreza enriquecida
Dá-te amor por cortesia
 
Do pai da mãe e da tia
Do primo do neto e avô
Quero que siga a “Dinastia”
Desta herança que te dou
 
O amar a quem te amou
E amanhã quem te amará
Daquilo que não estimou
Nunca nada te dará
 
Qualquer dia venho cá
E não é pra te agradar
Quem critica ajudará
Tua vida a melhorar
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Triolé* de
MACHADO DE ASSIS
(Joaquim Maria Machado de Assis)
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908

Flor da mocidade

Eu conheço a mais bela flor:
És tu, rosa da mocidade,
Nascida, aberta para o amor.
Eu conheço a mais bela flor:
Tem do céu a serena cor
E o perfume da virgindade.
Eu conheço a mais bela flor:
És tu, rosa da mocidade.
= = = = = = = = =  
* Triolé, pequeno poema de forma fixa. Originário da França (triolet), ao mesmo tempo em que o rondel e o rondó, com os quais é confundido; o triolé tem sua própria estrutura poética. Deschamps, poeta francês medieval, julgava-o igual ao rondel, e assim há quem o considere até hoje. Caiu em desuso (completo) no século XVI e foi reerguido, na metade do século XIX, pelos poetas parnasianos. Dentre os nossos que experimentaram o triolé, destaca-se um nome ilustre, Machado de Assis.

A estrutura do triolé consta do seguinte: uma oitava, ou mais, com duas rimas apenas, de modo que o primeiro verso repete no quarto, e os dois primeiros fecham a estrofe, como o sétimo e oitavo, assim: ABaAabAB (as maiúsculas representam os versos que são repetidos como estribilho).

Consta de estrofes de oito versos, em duas rimas, com a seguinte disposição: abaaabab. O 1.º, o 4.º e o 7.º versos são iguais.
(Ricardo Sérgio – Recanto das Letras)
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Wallace Leal V. Rodrigues (O boneco)


Um dia vovó comentou que os doces feitos por ela e minha mãe naquela manhã haviam desaparecido do armário. E não sabia o que tinha sido feito deles.

Embora nenhuma das duas parecesse de qualquer forma preocupada com a ocorrência, eu imediatamente disse:

- Foram roubados.

Elas me olharam surpreendidas, mas foi vovó quem estabeleceu conversação comigo.

- Você tem certeza? Ela perguntou.

- Tenho! sustentei. E foi o Pedrinho.

Pedrinho era um dos meus irmãos. Vovó insistiu:

- Você tem certeza?

- Se tenho! Foi o Carlucho quem me contou.

- Minha filha, disse ela tranquila, passando o seu braço pelo meu, venha até o meu quarto. Quero lhe mostrar uma coisa.

No quarto ela abriu a gaveta de uma cômoda e tirou, lá de dentro, um boneco que eu nunca tinha visto.

- Veja como está bem vestido!

Eu não estava entendendo. Aquilo nada tinha a ver com o caso dos doces. Ela prosseguiu:

- Vá dizendo o que mais lhe chama a atenção neste boneco.

- Tem uma bonita roupa, uma camisa linda! Respondi ao observar os punhos, o peitilho e o colarinho impecáveis.

Assim que terminei de falar, minha avó tirou o paletó do boneco. Cai na gargalhada quando vi que da impecável camisa só havia os punhos, o peitilho e o colarinho.

Mas, de súbito, compreendendo, me tornei muito séria.

E vovó, abraçando-me a sorrir, disse concluindo:

- Veja você como são as coisas. A gente só pode crer naquilo que vê. E do que se vê, muitas vezes é preciso acreditar apenas na metade. Você percebeu por que?

Já se passaram muitos anos... Mas, sempre que sou levada, por certa irreflexão tão comum nos seres humanos, a julgar fatos ou pessoas pelas aparências, vem-me à lembrança a impecável camisa daquele boneco da vovó...
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
Wallace Leal Valentin Rodrigues nasceu em 1924, em Divisa/ES, foi para Araraquara, SP na década de 30. Estudou Ciências Econômicas em Ribeirão Preto. Foi ator e diretor de teatro, diretor de cinema, escritor, jornalista. Realizou seu primeiro filme em 1953: o documentário Aurora de uma Cidade. Foi diretor e ensaiador do TECA (Teatro Experimental de Comédia de Araraquara). Acompanhou e colaborou com a primeira escola de ballet da cidade: Escola de Ballet Mímica de Araraquara, desde sua fundação maquiando, e apoiando nos figurinos e cenários das apresentações por longo tempo. Coordenou, compôs, criou, orientou jovens e crianças em desfiles de modas ensinando como andar, sentar, colocação de mãos e pés, comportamento e postura de corpo e porte em passarela, um trabalho de alta qualificação, ensinamento europeu. Como escritor tem livros publicados no Brasil e no Exterior. Era poeta, compunha música e além do teatro, atuava junto ao grupo de rádio teatro. Em 1958 teve a ousadia de escrever, produzir e dirigir um filme: Santo Antonio e a vaca, rodado na região, sobre o folclore regional. Para tanto criou a Arabela Filmes. Além do indiscutível talento de Wallace para as artes culturais, merece nota seu trabalho na divulgação do Espiritismo, doutrina que ele assumiu aos 16 anos e divulgou por toda a sua vida. Se destacou como Redator-Chefe do jornal O Clarim e da Revista Internacional de Espiritismo. Na literatura espírita; foram dezenas de livros, uns de sua própria autoria, outros que ele traduziu e organizou. Em 1973,: passou a integrar o quadro de colaboradores da revista Planeta. Em 1973, lançou, na sede da Federação Espírita do Estado de São Paulo, seu livro Remotos cânticos de Belém, No enredo da obra, Wallace juntou histórias e personagens e os colocou num avião que é sequestrado na véspera do Natal. A mensagem que ele passa é a de que a suave melodia do Natal faz-se sentir e abranda até mesmo situações extremamente graves, como a vivida pelos passageiros. Como autor: Remotos cânticos de Belém; Meimei; Vida e mensagem; A esquina de pedra; E, para o resto da vida; Katie King. Considerado pela crítica especializada como uma das pessoas mais cultas dos últimos anos em nosso país, aos 62 anos, Wallace teve seu estado de saúde comprometido e faleceu em 1988.

Fontes: 
Biografia = Federação Espírita do Paraná
Jornal Mundo Espírita - Abril de 2000.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

Laé de Souza (Viagem do Armindalino)


Armindalino chegara em casa com a notícia de que estava tudo acertado para a viagem, no fim de semana, com os patrões para a praia. Chamou o Júnior e encheu a cabeça do garoto de conselhos e ameaças, desde corte de mesada a palmadas, se aprontasse alguma ou, então, irritasse o filho do patrão com pirraças, como era do seu feitio. Juanita saiu em defesa do moleque, avisando ao Armindalino que não era porque se tratava do filho do patrão que iria pisar no seu filho.

Aproveitou para comunicar que tinha de fazer uns gastos por conta de roupas de banho, bronzeador, protetor solar e algum vestido para sair à noite, ao que o Armindalino pediu que fosse devagar, mesmo porque os patrões eram pessoas simples e não gostavam de esnobar. 

Juanita irritou-se: “Não são? Pensa que eu não notei que as duas fulanas, no dia da festa de fim de ano, estavam em cochichos e reparando em tudo que era mulher e não tiravam os olhos de mim? Te aviso, Armindalino, que não vou que nem tonta e empregadinha, não.” 

Armindalino consentiu, mas que não exagerasse como da vez que saíram com amigos, em que ela se encheu de parafernália, numa exibição só, que deixou as coitadas das mulheres dos amigos envergonhadas diante de tantos badulaques e ostentação. Além do que, se a sua mulher estava com ouro para todo lado, o aumento pretendido por ele poderia ir por água abaixo. 

A mulher, que não era de engolir calada, retrucava, se era por isso, ele que esquecesse o aumento, porque ela não iria se apresentar para a viagem de qualquer jeito. Igual, ou melhor que as fulanas; abaixo, nem em sonho. Armindalino manifestou, levemente, a vontade de recusar o convite diante das circunstâncias, no que recebeu uma bronca da Juanita: “Nem pensar. Para depois elas ruminarem que eu estou dando uma de esnobe, recusando ou até pensarem que estou com vergonha e que me acho inferior a elas? De jeito nenhum, nós vamos nessa viagem, nem que seja toda a despesa por sua conta.” 

De nada adiantava Armindalino dizer que o motivo da viagem era somente diversão. “Fica quieto, que você não entende de society. Conheço bem esse pessoal”, dizia ela.

Ainda, ao colocar as malas no carro, Armindalino reclamava do peso e que, certamente, estava exagerando nas roupas que seriam usadas em um fim de semana e não em um mês. Melhor levar demais do que faltar ou passar constrangimento, resmungou Juanita.

Não demorou muito para Armindalino confirmar que fizera uma burrada e que aquele passeio não traria nenhum benefício ao seu pretendido aumento. A mulher não era de colaborar com os seus planos e parecia sentir prazer em mostrar-se superior e irritar as mulheres dos patrões.

Maldita hora em que resolveram jogar buraco. Juanita, nervosa por estar perdendo, não manteve a pose, quando percebeu que a mulher do patrão do marido dava uma roubadinha (coisa normal no jogo de buraco). Fez o maior escarcéu, deixando o pessoal atônito. Para ajudar, Júnior abriu um berreiro e chutou o filho do patrão que saía em defesa da mãe. O que salvou o emprego do Armindalino foram os pitos que deu na mulher, na vista de todo mundo, não dando bola para uma feminista. Embora não vá ter o pretendido aumento, por muito tempo, deu-se por feliz por ficar só nisso, porque, nestes tempos, não é hora de se perder o emprego.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
Laé de Souza é cronista, poeta, articulista, dramaturgo, palestrante, produtor cultural e autor de vários projetos de incentivo à leitura. Bacharel em Direito e Administração de Empresas, Laé de Souza, 55 anos, unifica sua vivência em direito, literatura e teatro (como ator, diretor e dramaturgo) para desenvolver seus textos utilizando uma narrativa envolvente, bem-humorada e crítica. Nos campos da poesia e crônica iniciou sua carreira em 1971, tendo escrito para "O Labor"(Jequié, BA), "A Cidade" (Olímpia, SP), "O Tatuapé" (São Paulo, SP), "Nossa Terra" (Itapetininga, SP); como colaborador no "Diário de Sorocaba", O "Avaré" (Avaré, SP) e o "Periscópio" (Itu, SP). Obras de sua autoria: Acontece, Acredite se Quiser!, Coisas de Homem & Coisas de Mulher, Espiando o Mundo pela Fechadura, Nos Bastidores do Cotidiano (impressão regular e em braille) e o infantil Quinho e o seu cãozinho - Um cãozinho especial. Projetos: "Encontro com o Escritor", "Ler É Bom, Experimente!", "Lendo na Escola", "Minha Escola Lê", "Viajando na Leitura", "Leitura no Parque", "Dose de Leitura", "Caravana da Leitura”, “Livro na Cesta”, "Minha Cidade Lê", "Dia do Livro" e "Leitura não tem idade". Ministrou palestras em mais de 300 escolas de todo o Brasil, cujo foco é o incentivo à leitura. "A importância da Leitura no Desenvolvimento do Ser Humano", dirigida a estudantes e "Como formar leitores", voltada para professores são alguns dos temas abordados nessas palestras. Com estilo cômico e mantendo a leveza em temas fortes, escreveu as peças "Noite de Variedades" (1972), "Casa dos Conflitos" (1974/75) e "Minha Linda Ró" (1976). Iniciou no teatro aos 17 anos, participou de festivais de teatro amador e filiou-se à Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Criou o jornal "O Casca" e grupos de teatro no Colégio Tuiuti e na Universidade Camilo Castelo Branco. 

Fontes:
Laé de Souza. Nos bastidores do cotidiano. SP: Ecoarte, 2018
Imagem criada por Feldman com Microsoft Bing

Contos e Lendas do Japão (O gato assombrado de Nabeshima)


As folhas de momiji (acer), que da cor verde passaram para o amarelo e depois para o laranja, agora ganhavam uma cor vermelho vivo. Não só as árvores como o chão, forrado de folhas caídas, davam a impressão de que todo o jardim do castelo de Nabeshima havia pegado fogo. Era final de outono no Japão.

O príncipe de Hizen, um membro da família honrada de Nabeshima, tinha como sua concubina favorita uma mulher charmosa, cujo nome era Otoyo. Certa ocasião, os amantes passeavam no jardim do castelo e permaneceram apreciando as flores até o pôr-do-sol. No retorno, sem que eles percebessem, foram seguidos por um enorme gato negro.

Otoyo dirigiu-se para o seu quarto e sentiu uma inesperada indisposição. Tentou manter-se acordada, mas logo dormiu. À meia-noite, foi despertada por uma estranha sensação e viu dois olhos enormes que a fixavam brilhando na escuridão. Prestando bastante atenção, percebeu que se tratava de um enorme gato negro. Porém, antes que ela pudesse gritar pedindo ajuda, o animal saltou em sua garganta e mordeu-a profundamente, estraçalhando seu pescoço até a morte. O gato, então, foi lambendo o sangue da moça e adquirindo forma humana, ficando igual a sua vítima. Então, arrastou Otoyo para baixo do assoalho e enterrou o corpo sob a varanda.

O príncipe, que de nada sabia, não desconfiou nem um pouco da bela mulher que naquela noite o procurou para fazer amor. Assim, nos dias seguintes, como um ritual, ela o procurava no meio da noite e ia sugando seu sangue sem que a vítima percebesse. Em poucos dias, o príncipe de Hizen perdeu toda a força e seu rosto estava mais pálido que uma vela. Permanecia o dia todo deitado, pois já não tinha força para se levantar.

Os médicos do palácio prescreveram vários medicamentos, mas nenhum fez o efeito desejado. Suspeitaram então que alguém estava envenenando o príncipe.

Vários samurais montaram guarda ao redor de seu quarto. Porém, quando chegou o meio da noite, todos pegaram no sono e só acordaram na manhã seguinte. Nas noites que se seguiram, as mesmas coisas aconteceram. Nenhum soldado conseguia ficar acordado.

Os conselheiros concluíram que alguma força estranha, de poder sobrenatural, estava agindo naquela alcova. Chamaram monges budistas e sacerdotes xintoístas para fazer exorcismo no quarto, já que a saúde do príncipe ia piorando dia a dia. Foram semanas de orações e rituais diversos, mas de nada adiantou, a saúde do príncipe de Hizen ia de mal a pior.

Naquela ocasião, um samurai de nome Ito Soda, que serviu na infantaria de Nabeshima, atravessou o jardim de inverno e invadiu as proximidades do quarto do príncipe. Ele solicitou aos conselheiros que permitissem a ele permanecer escondido no quarto do enfermo, para desvendar como agia o espírito maligno que estava prejudicando seu senhor.

Seu pedido foi prontamente aceito, já que todas as tentativas tinham se mostrado infrutíferas. Ito ficou firme em seu posto, no entanto, como aconteceu com os guardas que o antecederam, a partir das dez horas, começou a sentir um sono irresistível. Para espantar seu sono, espetou sua faca profundamente em sua coxa, de modo que a dor aguda o mantivesse acordado.

De repente, as portas deslizantes do quarto do príncipe abriram-se, e uma linda mulher entrou e dirigiu-se ao leito. Ela agachou na cabeceira do príncipe e esticou o pescoço como quem vai beijar o adormecido. Porém, a mulher, pressentindo a presença de mais alguém no quarto, virou a cabeça e, com olhos brilhantes, disse:

– Tem alguém aí?

Ito permaneceu escondido e em silêncio, espiando pela fresta da porta do quarto ao lado. Percebendo que alguém a observava, ela levantou e saiu do quarto às pressas.

Na noite seguinte, a cena se repetiu. Assim, por não ter sido subjugado por duas noites seguidas enquanto dormia, a saúde do príncipe melhorou consideravelmente. Para Ito Soda, ficou claro que Otoyo era alguma entidade maligna tentando acabar com a vida do príncipe de Hizen. Diante disso, traçou um plano para acabar com ela.

Fingindo ser um mensageiro do príncipe, foi até o quarto dela, para entregar um bilhete que sua alteza lhe enviara. Ao aproximar-se da falsa Otoyo para entregar o suposto bilhete, Ito sacou da espada e desferiu um golpe na direção dela. Porém, com percepção felina, ela esquivou-se da lâmina pulando para trás. Na sequência, assumiu a forma de um gato preto e saltou pela janela. Ganhou o telhado do castelo e, segundos depois, fugia em direção à montanha.

Esse gato que gostava de lamber sangue humano passou a incomodar os habitantes da montanha. Tempos depois, o príncipe de Hizen, completamente recuperado, organizou uma caçada ao gato maldito de Nabeshima. Um exército com milhares de samurais vasculhou a montanha. Somente no oitavo dia, finalmente, o gato maldito foi liquidado e a paz voltou à região.
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Comentário:
Os primeiros gatos foram introduzidos no Japão por Fujiwara-no-Sanesuke, um nobre da corte do imperador Ichijo (987–1011). Trazidos da China, esses animais de estimação eram vistos com reserva pelos japoneses. Além de não serem obedientes como os cachorros, eram considerados destrutivos por natureza, por rasgarem tatami de palhas (tablado que servia de assoalho) e fazerem furos no shoji (parede de papel) para apanhar insetos que vinham as casas atraídos pelas lamparinas. Na época, a iluminação das casas era à base de lamparina a óleo, e os gatos gostavam de lamber esse óleo combustível, muitas vezes causando incêndio. Assim como a raposa, o texugo e a serpente, o gato era considerado um animal assombrado no antigo Japão.

Fonte: 
http://www.nippobrasil.com.br/

segunda-feira, 30 de junho de 2025

Asas da Poesia * 43 *

 

Trova de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

Ao operar seu nariz
perdeu um olho, o Batista.
Vem outro louco e, então, diz
que o pagamento era... a vista!
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Poema de
MARIA SABINA DE ALBUQUERQUE
Barbacena/MG (1898 – 1991) Rio de Janeiro/RJ

Cartas de amor

Quando recebo as minhas cartas cada dia,
tenho um lindo momento de alegria! 
São notícias diversas
das criaturas amigas que, dispersas
por este mundo, aos quatro ventos,
recordam-se de mim com amizade
e, para suavizar a distância e a saudade,
vêm conversar comigo alguns momentos.
E alguém me disse um dia:
“Se tens tamanho encanto
em receber cartas amigas simplesmente,
tu que te alegras tanto,
certamente
enlouquecias de alegria,
estremecias de fervor
se estas cartas comuns fossem Cartas de Amor!

E então me recordei que no lindo romance
que foi o meu amor,
tive tudo o que estava ao meu alcance,
todo o esplendor,
a beleza, a ternura, o encanto, a ânsia,
mas não tive a Distância
nem as Cartas de Amor.

E hoje que a Eterna Ausência nos separa
e que a Distância que ninguém transpôs,
como uma Via Láctea imensa e clara
se estende entre nós dois,
como seria bom se as estrelas cadentes,
riscando a noite com seu fulgor,
pequeninos correios refulgentes,
trouxessem lá do céu minhas Cartas de Amor!
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Trova de
ARTHUR THOMAZ
Campinas/SP

Uma foto amarelada
foi, no passado, importante.
Hoje, nem sequer notada,
é esquecida numa estante…
= = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Janela azul

Na pausa do olhar
A poesia, devagarzinha
Alisa e desliza
Na janela de madeira azul
De nós trabalhados pela
Passagem do tempo
São imóveis olhares...
Há uma rústica e desbotada
Interação entre os tons de azul
Que se mesclam à madeira-
Na pausa do olhar
A delicadeza
Das mãos, agora, invisíveis
Que tantas vezes
Entreabriram a janela...
= = = = = = 

Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

- Este bolso é meritório,
nunca viu nada roubado!
Perguntam lá do auditório:
- Terno novo, Deputado?
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Onde só haja espuma sal e vento
(Sophia de Mello Breyner Andresen in "Mar novo")

Onde só haja espuma, sal e vento
Irei plantar o germe da Poesia
Deixando que ela cure essa anemia
Que mói lugar tão ermo e avarento.

Por efeito do lírico fermento
Que a pobreza do chão e ar vencia
O verso cometeu a ousadia
De florir onde não havia alento.

A frase tudo vence quando prima
Pela pujança forte dessa rima
Que é gerada na verve de um poeta.

E o poema faz-se arma de batalha
Que peleja no chão por onde espalha
O Belo que na alma se arquiteta.
= = = = = = = = = 

Triverso de
EDSON KENJI IURA
São Paulo/SP

Chuva de primavera —
O casal na correria
rindo sem parar.
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Poema de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Rei destronado

O teu lugar vazio!... E esteve cheio,
Cheio de mocidade e de ternura!
Como brilhava a tua formosura!
Que luz divina te dourava o seio!

Quando a camisa tépida despias,
- Sob o reflexo do cabelo louro,
De pé, na alcova, ardias e fulgias
Como um ídolo de ouro.

Que fundo o fogo do primeiro beijo,
Que eu te arrancava ao lábio recendente!
Morria o meu desejo... outro desejo
Nascia mais ardente.

Domada a febre, lânguida, em meus braços
Dormias, sobre os linhos revolvidos,
Inda cheios dos últimos gemidos,
Inda quentes dos últimos abraços...

Tudo quanto eu pedira e ambicionara,
Tudo meus dedos e meus olhos calmos
Gozavam satisfeitos nos seis palmos
De tua carne saborosa e clara:

Reino perdido! glória dissipada
Tão loucamente! A alcova está deserta,
Mas inda com o teu cheiro perfumada,
Do teu fulgor coberta...
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

No instante da despedida, 
arquivei no pensamento 
a tristeza da partida
e a dor do meu sofrimento.
= = = = = = 

Poema de
EFIGÊNIA COUTINHO
Balneário Camboriú/SC

Cupido

Sendo eu mulher, muito mulher,
confesso (e me penitencio, se é mister),
que não nasci para ser pobre!
Está no meu feitio desejar que a existência
se desdobre na magnificência, jamais em privações.
.
Tenho gostos, requintes de caprichos,
ambições, e, sem razão, não nego aos meus
sentidos, os gozos com que a Vida me agracia,
enaltecendo a dor apenas em teoria!

Porem, nada possuo em realidade!
Nem fausto, nem poder...
Porque, para seguir um velho ditado,
do Grande Livro, Santo e Consagrado,
o meu despotismo deve ser restrito,
e pertence, inda assim, ao meu Amado!

Em meio ao destino que me impõe,
entretanto, eu duvido, haver outra
mulher a quem Cupido generoso ofertasse
um lindo trono, com mais magnificência do que
o meu, onde governo só, como a depositaria
de um tesouro de Amor, que tocou o apogeu!

E, por muito que conte e reconte,
meu Capital de multimilionária,
eu nunca chego ao fim, porquanto de
uma fonte fecunda e inexorável se origina.

Cresce dentro de mim esta riqueza ilimitada,
sólida e genuína, que me empresta atitudes de
Princesa! E, entre as Fortunas de que tomo
a nota, a minha é que mais vale e mais ressalta,
pois dos meus bens a renda não se esgota!
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Peixinho mais mascarado 
do que aquele eu nunca vi:
- só belisca anzol marcado, 
"minhoca com... pedigre"…
= = = = = = 

Soneto de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS

Os parceiros

Sonhar é acordar-se para dentro:
de súbito me vejo em pleno sonho
e no jogo em que todo me concentro
mais uma carta sobre a mesa ponho.

Mais outra! É o jogo atroz do Tudo ou Nada!
E quase que escurece a chama triste...
E, a cada parada uma pancada,
o coração, exausto, ainda insiste.

Insiste em quê? Ganhar o quê? De quem?
O meu parceiro... eu vejo que ele tem
um riso silencioso a desenhar-se

numa velha caveira carcomida.
Mas eu bem sei que a morte é seu disfarce...
Como também disfarce é a minha vida!
= = = = = = 

Trova de
CAMPOS SALES
Lucélia/SP, 1940 – 2017, São Paulo/SP

Nosso amor foi tão verdade,
que mesmo tendo acabado,
há uma ponte de saudade,
ligando o nosso passado!
= = = = = = 

Hino de
INAJÁ/PE

Coroada esta bela cidade
Por teus filhos criados por ti
és amada e adorada por todos
esta terra de esperanças mil.

Inajá Palmeiras Pequenas
Na ribeira do Rio Moxotó
O teu nome, gravado na história
se enfeita ao clarão do luar.

És o coração deste mapa
És a estrela D'alva no céu
Esse torrão que irradia
nessa pátria imortal de harmonia.

Inajá Palmeiras Pequenas
Na ribeira do Rio Moxotó
O teu nome, gravado na história
se enfeita ao clarão do luar.

Os Raios do Sol que iluminam
os campos verdes desta terra
entre todas és a mais encantada
no Brasil Luz que brilha ao nascer.

Inajá Palmeiras Pequenas
Na ribeira do Rio Moxotó
O teu nome, gravado na história
se enfeita ao clarão do luar.

Dois que data que marca
A vitória de uma liberdade
Auriverde nas margens do rio
Nova luz ao nascer do amanhã.

Inajá Palmeiras Pequenas
Na ribeira do Rio Moxotó
O teu nome, gravado na história
se enfeita ao clarão do luar.
= = = = = = = = =  

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

A vida é um túnel estreito
que à eternidade conduz.
- Só o amor nos dá o direito
ao desembarque na Luz.
= = = = = = = = =  

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

A passagem

Quando já se passaram muitos anos,
Deus vai nos preparando este caminho.
Não somente as tristezas, desenganos,
Mas colocando a vida em desalinho.

Pouco a pouco as ações e atos humanos,
Vai tirando de nós, também carinho.
Uma febril tristeza e desenganos
Transforma nossa vida em torvelinho.

Já não faz falta mais nossa presença,
Somos transtornos sempre a qualquer hora,
É melhor a partida que a doença.

Mas, Deus que é nosso pai muito bondoso,
Vai nos mostrando aos poucos vida a fora,
Uma nova visão do eterno gozo.
= = = = = = = = =  = = = = 

Trova de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP

Abro a porta e a janela 
do meu coração em festa 
quando a manhã tagarela 
põe voz na densa floresta.
= = = = = = = = =

Spina de
VERA SALVIANO
Raul Soares/MG

Abandono

Sentindo agora, abandonada,
retira-se deveras entristecida.
Coisas da vida!

Sem saber o que pensar,
lá foi ela sem entender,
mais que triste, magoada, ferida!
As horas tombam, mortas agora.
Mais uma vez solitária, desiludida.
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