sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 334)


Uma Trova Nacional

Busquei na noite desejos
porém não encontrei nada;
terminei roubando beijos
da boca da madrugada.
–JUNIOR ADELINO/PB–

Uma Trova Potiguar

Já se passou tanto tempo,
mas, pra mim, nada passou...
Sinto o teu cheiro com o vento
que o ingrato tempo levou.
–MARA MELINI/RN–

Uma Trova Premiada


2010 - Curitiba/PR
Tema: MADRUGADA - M/H

Madrugada, por que insistes
- na solidão que apavora –
em arrastar horas tristes...
se eu anseio pela aurora?
–THEREZA COSTA VAL/MG–

Uma Trova de Ademar

Descalço, pelos caminhos
nas caminhadas cruéis,
não vi flor, somente espinhos
que machucaram meus pés...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Tudo sempre se renova
por extensão do progresso,
tudo cabe numa trova...
Mesmo as coisas do Universo.
–AGOSTINHO CARDOSO/CE–

Simplesmente Poesia


O Disfarce
–BERNARDO TRANCOSO/SP–

Cobre a máscara
O jeito verdadeiro que tens.
Quando estás próxima a mim,
Veste-a e finge ser um falso alguém.
Teu cheiro mostra-me o teu disfarce.
É por modéstia?
Temes não me agradar, pois,
Por inteiro, sendo honesta.
Mas, mesmo que eu
Deteste-a ao ver quem és,
De fato,
Vou primeiro partir por tua mentira
Ante a moléstia.
Se existe algum problema,
Algum motivo prá enganação,
Permite-me ajudá-la agora,
Antes que eu pense
Estar errado ao te amar.
Já tem sido inofensivo - não mais -
Meu coração que, hoje, te fala
Em forma de um soneto
Disfarçado.

Estrofe do Dia

No presídio o bandido violento
se rebela temendo a cela ingrata,
o cansaço não mata mas maltrata
o mendigo do corpo feridento
que alta noite sozinho no relento,
se revolta e blasfema contra a vida,
passa a unha na casca da ferida
chega o sangue do corpo se derrama;
o mistério noturno enfeita o drama
no teatro da noite mal dormida.
CHICO SOBRINHO/PB–

Soneto do Dia

Sol
–DOROTHY JANSSON MORETTI/SP–

Hoje estás escondido. Olhando para fora,
em meio à névoa densa, em vão eu te procuro.
Que falta fazes quando, ao se esboçar a aurora,
vejo o céu carrancudo e tão cinzento e escuro!

És tu que trazes vida, a ausência eu te censuro.
Sem ti sofre a semente a emergir para a flora,
falta a luz dos teus raios ao trigo maduro,
esmaecem os tons quando te vais embora.

De repente, através de uma nesga apareces...
Com que força vital a alma da gente aqueces
e afastas tão depressa as nuvens de tristeza!

És dono do universo, a nada te comparas;
e ao sentir teu calor reconfortando as searas,
feliz volta a sorrir, de novo, a Natureza!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A. A. de Assis (Trovas Ecológicas) - 16

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 333)


Uma Trova Nacional

Do que tenho adquirido
da melhor forma usufruo,
pra nunca ser possuído
pelas coisas que possuo.
–GERALDO AMÂNCIO/CE–

Uma Trova Potiguar

Covarde, pobre e mesquinho;
quem durante a caminhada
ante às pedras do caminho,
decreta o final da estrada.
–MANOEL CAVALCANTE/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - CTS-Caicó/RN
Tema: OCASO - 15º Lugar

Mesmo no ocaso da vida
do pranto, não sinto o gosto,
que a esperança, comovida,
esparge luz no meu rosto!
–ADILSON MAIA/RJ–

Uma Trova de Ademar

De tanto adubar o amor
sem usar inseticida,
eu fiz brotar uma flor
no outono da nossa vida!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Tirem-me tudo. Eu aceito.
Nunca os meus sonhos porém...
Sonhar, por certo, é um direito
que o ser humano inda tem.
–ALBERTO FERNANDO BASTOS/RJ–

Simplesmente Poesia

Não Precisa Sonhar
–DJALMA MOTA/RN–

Dorme... Dorme querida!
Repousa o seu cansaço.

Sonhar?
Não precisa sonhar!
Talvez o sonho seja tentador.

Apenas ao acordar, lembre de mim!
Por quê?...
Estarei sempre torcendo por você!

Estrofe do Dia

Eu encontro poesia,
quando vem a madrugada
e quando surge a alvorada
trazendo a barra do dia;
a passarada em folia
da dormida despertando,
de dois em dois debandando
a procura de comer,
em tudo isto se vê
a poesia jorrando.
–ZÉ DE CAZUZA/PB–

Soneto do Dia

Imaginemos um Mundo Melhor
–JOÃO COSTA/RJ–

Imaginemos um mundo perfeito,
com liberdade e direitos iguais,
onde não haja nenhum preconceito,
jamais as discriminações raciais.

Vamos imaginar um mundo feito
de amor e de ternura, onde jamais
se ouça falar em guerra, em desrespeito,
em violência, em miséria... não mais!...

Imaginemos toda a Humanidade
em meio a uma aura de felicidade,
saudável, próspera e em harmonia.

Vamos dar asas à imaginação!
Vamos sonhar, abrir o coração!
E que Deus abençoe nossa utopia!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Pedro Ornellas (As Artes do Pedro VI)


A FIGUEIRA

Orgulho da casa de outrora, na frente,
altiva figueira, frondosa se erguia...
Seu porte soberbo me fez reverente
sem nunca supor que tombasse algum dia!

Mas num vendaval que se armou de repente,
partiu-se a figueira e, sem crer no que via,
então constatei que a gigante imponente
por dentro era podre e ninguém percebia!

Também muita gente que bem nos parece
perdendo valores por dentro apodrece
mantendo por fora a aparência altaneira.

Ilude algum tempo com falsa nobreza,
porém, cedo ou tarde, terá com certeza
o mesmo destino da velha figueira!

Trovas:

Ouço um tropel de boiada,
olho a estrada, olho a distância...
Mas o som não vem da estrada
- é tropel que vem da infância!

A dor no peito é mais crua
de quem a muitos quer bem
porque sente a dor que é sua
e a dor dos outros também!

Humorísticas:

Minha sogra é uma figura,
provoca riso na prole
quando põe a dentadura
pra comer maria mole!

Pior que a esposa queixando
que o feijão tinha acabado
foi ver a sogra chegando
trazendo junto o cunhado!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Vendaval de Trovas (UBT-São Paulo) Parte I


ANA CRISTINA DE SOUZA

És tudo que sempre espero
tomando posse de mim,
quando murumuro "não quero"
e tu respondes "quer sim"!

Foi punhal atravessado,
que me feriu mortalmente,
o desprezo disfarçado
em teu sorriso descrente…

Na saudade, de horas loucas,
tento ouvir, num sonho vão,
tua voz em frases roucas
de um murmúrio de paixão.

No fim da nossa jornada,
o amor dói feito ferida.
-Porcelana delicada
manchada pela vida...

Teu amor é sedução,
é carinho, é bem-me-quer,
na perfeita tradução
dos meus donhos de mulher...

MYRTES NEUSALI SPINA DE MORAES
Delegada da UBT Atibaia - SP

Naquela casa da esquina
a minha infância passei.
Quando ainda era menina
doce paz eu vivenciei.

No inverno, um pobre mendigo,
com frio, e fome sorriu,
quando um maltrapilho amigo
com velha manta o cobriu.

Poesia é o doce marulhar
que vem das ondas cantantes.
É a borboleta a bailar,
sobre flores por instantes.

Quando a saudade dorida
sufocar-lhe o coração,
busque em Deus uma saída
pois só Ele é a solução.

MARIA VANEIDE ANJOS BLANCO –

Foi no Pátio do Colégio
que Anchieta vislumbrou
de São Paulo, o sortilégio
que o futuro confirmou!

MARIA CECÍLIA QUARTIN BARBOSA –

Vida - princípio da morte,
Morte - final desta vida;
ficando ao sabor da sorte,
o metro dessa medida.

CECÍLIA AMARAL CARDOSO

Em qualquer tema se ajeita,
faz trova o bom trovador.
É como a orquídea perfeita
que em qualquer tronco dá flor!

BEATRIZ SANDOVAL CAMARGO

Infância lembra alegria,
tecida só de ternura.
Se pudesse voltaria,
nesses anos de candura.

Inverno cobre minha alma,
vazia na solidão...
Levo, gravados na palma,
rastros de buscas em vão.

De flores, toda vestida,
surgiu a linda donzela.
Perfumou caminhos, vida,
tornando a Terra mais bela.

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Se, a foto, o orvalho umidece
-depois que o amor teve fim -
à minha ilusão parece
que ainda choras...por mim!

Passado o tempo, eu percebo
-e o teu regresso me atesta-
que, desse amor, só recebo
migalhas de fim de festa!

Em silêncio, ante a proposta
da vida, a razão assunta...
Quando decora a resposta
a vida muda a pergunta!

Por meu pranto...por meus ais...
por meu viver infeliz...
sei que a saudade é bem mais
do que o dicionário diz!

CAMPOS SALES

Nos telhados da cidade,
a garoa não cai mais,
somente a minha saudade
ainda escorre nos beirais!

A chama aos poucos se apaga
velando este amor desfeito,
enquanto a saudade afaga
o sonho morto em meu peito!

Lembro o sertão, seu encanto,
a lua cheia tão minha,
sem nada eu ter, tinha tanto,
naquele nada que eu tinha!

Nossas culpas divididas,
por castigo ou por maldade,
dividiram nossas vidas,
sem dividir a saudade!

MARILÚCIA REZENDE

Eu suplico: "Volte breve",
num bilhete... e na verdade,
a esperança é quem escreve
e quem assina é a saudade!...

Teu retrato, enraivecida,
eu rasguei sem embaraços...
Mas a saudade atrevida
juntou de novo os pedaços.

Resisto...mas, distraída,
minha razão nem percebe
quando a emoção atrevida
abre a porta...te recebe!

Se voltas, não sei ao certo,
mas a emoção, sem cautela,
deixa a esperança por perto,
rondando a minha janela!

Melhor entretenimento
não existe para mim:
é ver, a cada momento,
mais flores no meu jardim!

Cai o orvalho ,de mansinho,
nesta aridez do sertão...
e o povo aceita o carinho
que ameniza a insolação!

Semeaste tanto amor
pelos jardins desta vida
que a saudade se fez flor,
depois da tua partida!

Nas carícias, em meu rosto,
tu finges não perceber
os sinais que, de mau gosto,
o tempo brinca ao fazer.

Quando os teus olhos eu fito,
tua meiguice, tão pura,
toca os sinos do infinito,
louvando tanta ternura!

Tua deixaste o teu recado,
sem palavras...mas, no olhar,
meu coração abalado
discerniu: não vais voltar...

Oh chuva, molha o meu rosto
e esconde a lágrima triste
que verteu pelo desgosto
do amor, que não mais existe!

Andei por verdes colinas,
pela imensidão do mar...
mas o amor, só tu me ensinas
na luz deste teu olhar.

ANO NOVO! A humanidade
faz promessas, "simpatia",
não vê que a felicidade
se conquista dia a dia!

Não vou por esse caminho
que é sem censura e sem prumo;
prefiro seguir sozinho
e traçar meu próprio rumo!

Esperança é combustível
no engenho do bom viver,
mas labor é imprescindível
para tudo acontecer!

Ondas que vêm e vão
mar a dentro, a rebuscar
um sonho...ou a ilusão
de um barquinho a despontar!

Lá estão as borboletas...
coloridas, no infinito;
nas asas levam facetas
do meu sonho mais bonito!

A verdadeira bondade
é genuina canção
que enaltece a humanidade
pois vem lá do coração!

Fonte:
UBTrova

Machado de Assis (O Alienista) Capítulos I e II


CAPÍTULO I – DE COMO ITAGUAÍ GANHOU UMA CASA DE ORATES

As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico, o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Estudara em Coimbra e Pádua. Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não podendo el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra, regendo a universidade, ou em Lisboa, expedindo os negócios da monarquia.

—A ciência, disse ele a Sua Majestade, é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo.

Dito isso, meteu-se em Itaguaí, e entregou-se de corpo e alma ao estudo da ciência, alternando as curas com as leituras, e demonstrando os teoremas com cataplasmas. Aos quarenta anos casou com D. Evarista da Costa e Mascarenhas, senhora de vinte e cinco anos, viúva de um juiz de fora, e não bonita nem simpática. Um dos tios dele, caçador de pacas perante o Eterno, e não menos franco, admirou-se de semelhante escolha e disse-lho. Simão Bacamarte explicou-lhe que D. Evarista reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Se além dessas prendas,—únicas dignas da preocupação de um sábio, D. Evarista era mal composta de feições, longe de lastimá-lo, agradecia-o a Deus, porquanto não corria o risco de preterir os interesses da ciência na contemplação exclusiva, miúda e vulgar da consorte.

D. Evarista mentiu às esperanças do Dr. Bacamarte, não lhe deu filhos robustos nem mofinos. A índole natural da ciência é a longanimidade; o nosso médico esperou três anos, depois quatro, depois cinco. Ao cabo desse tempo fez um estudo profundo da matéria, releu todos os escritores árabes e outros, que trouxera para Itaguaí, enviou consultas às universidades italianas e alemãs, e acabou por aconselhar à mulher um regímen alimentício especial. A ilustre dama, nutrida exclusivamente com a bela carne de porco de Itaguaí, não atendeu às admoestações do esposo; e à sua resistência,—explicável, mas inqualificável,— devemos a total extinção da dinastia dos Bacamartes.

Mas a ciência tem o inefável dom de curar todas as mágoas; o nosso médico mergulhou inteiramente no estudo e na prática da medicina. Foi então que um dos recantos desta lhe chamou especialmente a atenção,—o recanto psíquico, o exame de patologia cerebral. Não havia na colônia, e ainda no reino, uma só autoridade em semelhante matéria, mal explorada, ou quase inexplorada. Simão Bacamarte compreendeu que a ciência lusitana, e particularmente a brasileira, podia cobrir-se de "louros imarcescíveis", — expressão usada por ele mesmo, mas em um arroubo de intimidade doméstica; exteriormente era modesto, segundo convém aos sabedores.

—A saúde da alma, bradou ele, é a ocupação mais digna do médico.

—Do verdadeiro médico, emendou Crispim Soares, boticário da vila, e um dos seus amigos e comensais.

A vereança de Itaguaí, entre outros pecados de que é argüida pelos cronistas, tinha o de não fazer caso dos dementes. Assim é que cada louco furioso era trancado em uma alcova, na própria casa, e, não curado, mas descurado, até que a morte o vinha defraudar do benefício da vida; os mansos andavam à solta pela rua. Simão Bacamarte entendeu desde logo reformar tão ruim costume; pediu licença à Câmara para agasalhar e tratar no edifício que ia construir todos os loucos de Itaguaí, e das demais vilas e cidades, mediante um estipêndio, que a Câmara lhe daria quando a família do enfermo o não pudesse fazer. A proposta excitou a curiosidade de toda a vila, e encontrou grande resistência, tão certo é que dificilmente se desarraigam hábitos absurdos, ou ainda maus. A idéia de meter os loucos na mesma casa, vivendo em comum, pareceu em si mesma sintoma de demência e não faltou quem o insinuasse à própria mulher do médico.

—Olhe, D. Evarista, disse-lhe o Padre Lopes, vigário do lugar, veja se seu marido dá um passeio ao Rio de Janeiro. Isso de estudar sempre, sempre, não é bom, vira o juízo.

D. Evarista ficou aterrada. Foi ter com o marido, disse-lhe "que estava com desejos", um principalmente, o de vir ao Rio de Janeiro e comer tudo o que a ele lhe parecesse adequado a certo fim. Mas aquele grande homem, com a rara sagacidade que o distinguia, penetrou a intenção da esposa e redargüiu-lhe sorrindo que não tivesse medo. Dali foi à Câmara, onde os vereadores debatiam a proposta, e defendeu-a com tanta eloqüência, que a maioria resolveu autorizá-lo ao que pedira, votando ao mesmo tempo um imposto destinado a subsidiar o tratamento, alojamento e mantimento dos doidos pobres. A matéria do imposto não foi fácil achá-la; tudo estava tributado em Itaguaí. Depois de longos estudos, assentou-se em permitir o uso de dois penachos nos cavalos dos enterros. Quem quisesse emplumar os cavalos de um coche mortuário pagaria dois tostões à Câmara, repetindo-se tantas vezes esta quantia quantas fossem as horas decorridas entre a do falecimento e a da última bênção na sepultura. O escrivão perdeu-se nos cálculos aritméticos do rendimento possível da nova taxa; e um dos vereadores, que não acreditava na empresa do médico, pediu que se relevasse o escrivão de um trabalho inútil.

— Os cálculos não são precisos, disse ele, porque o Dr. Bacamarte não arranja nada. Quem é que viu agora meter todos os doidos dentro da mesma casa?

Enganava-se o digno magistrado; o médico arranjou tudo. Uma vez empossado da licença começou logo a construir a casa. Era na Rua Nova, a mais bela rua de Itaguaí naquele tempo; tinha cinqüenta janelas por lado, um pátio no centro, e numerosos cubículos para os hóspedes. Como fosse grande arabista, achou no Corão que Maomé declara veneráveis os doidos, pela consideração de que Alá lhes tira o juízo para que não pequem. A idéia pareceu-lhe bonita e profunda, e ele a fez gravar no frontispício da casa; mas, como tinha medo ao vigário, e por tabela ao bispo, atribuiu o pensamento a Benedito VIII, merecendo com essa fraude aliás pia, que o Padre Lopes lhe contasse, ao almoço, a vida daquele pontífice eminente.

A Casa Verde foi o nome dado ao asilo, por alusão à cor das janelas, que pela primeira vez apareciam verdes em Itaguaí. Inaugurou-se com imensa pompa; de todas as vilas e povoações próximas, e até remotas, e da própria cidade do Rio de Janeiro, correu gente para assistir às cerimônias, que duraram sete dias. Muitos dementes já estavam recolhidos; e os parentes tiveram ocasião de ver o carinho paternal e a caridade cristã com que eles iam ser tratados. D. Evarista, contentíssima com a glória do marido, vestiu-se luxuosamente, cobriu-se de jóias, flores e sedas. Ela foi uma verdadeira rainha naqueles dias memoráveis; ninguém deixou de ir visitá-la duas e três vezes, apesar dos costumes caseiros e recatados do século, e não só a cortejavam como a louvavam; porquanto,—e este fato é um documento altamente honroso para a sociedade do tempo, —porquanto viam nela a feliz esposa de um alto espírito, de um varão ilustre, e, se lhe tinham inveja, era a santa e nobre inveja dos admiradores.

Ao cabo de sete dias expiraram as festas públicas; Itaguaí, tinha finalmente uma casa de orates.

CAPÍTULO II - TORRENTES DE LOUCOS

Três dias depois, numa expansão íntima com o boticário Crispim Soares, desvendou o alienista o mistério do seu coração.

—A caridade, Sr. Soares, entra decerto no meu procedimento, mas entra como tempero, como o sal das coisas, que é assim que interpreto o dito de São Paulo aos Coríntios: "Se eu conhecer quanto se pode saber, e não tiver caridade, não sou nada". O principal nesta minha obra da Casa Verde é estudar profundamente a loucura, os seus diversos graus, classificar-lhe os casos, descobrir enfim a causa do fenômeno e o remédio universal. Este é o mistério do meu coração. Creio que com isto presto um bom serviço à humanidade.

—Um excelente serviço, corrigiu o boticário.

—Sem este asilo, continuou o alienista, pouco poderia fazer; ele dá-me, porém, muito maior campo aos meus estudos.

—Muito maior, acrescentou o outro.

E tinha razão. De todas as vilas e arraiais vizinhos afluíam loucos à Casa Verde. Eram furiosos, eram mansos, eram monomaníacos, era toda a família dos deserdados do espírito. Ao cabo de quatro meses, a Casa Verde era uma povoação. Não bastaram os primeiros cubículos; mandou-se anexar uma galeria de mais trinta e sete. O Padre Lopes confessou que não imaginara a existência de tantos doidos no mundo, e menos ainda o inexplicável de alguns casos. Um, por exemplo, um rapaz bronco e vilão, que todos os dias, depois do almoço, fazia regularmente um discurso acadêmico, ornado de tropos, de antíteses, de apóstrofes, com seus recamos de grego e latim, e suas borlas de Cícero, Apuleio e Tertuliano. O vigário não queria acabar de crer. Quê! um rapaz que ele vira, três meses antes, jogando peteca na rua!

—Não digo que não, respondia-lhe o alienista; mas a verdade é o que Vossa Reverendíssima está vendo. Isto é todos os dias.

— Quanto a mim, tornou o vigário, só se pode explicar pela confusão das línguas na torre de Babel, segundo nos conta a Escritura; provavelmente, confundidas antigamente as línguas, é fácil trocá-las agora, desde que a razão não trabalhe...

—Essa pode ser, com efeito, a explicação divina do fenômeno, concordou o alienista, depois de refletir um instante, mas não é impossível que haja também alguma razão humana, e puramente científica, e disso trato...

—Vá que seja, e fico ansioso. Realmente!

Os loucos por amor eram três ou quatro, mas só dois espantavam pelo curioso do delírio. O primeiro, um Falcão, rapaz de vinte e cinco anos, supunha-se estrela-d’alva, abria os braços e alargava as pernas, para dar-lhes certa feição de raios, e ficava assim horas esquecidas a perguntar se o sol já tinha saído para ele recolher-se. O outro andava sempre, sempre, sempre, à roda das salas ou do pátio, ao longo dos corredores, à procura do fim do mundo. Era um desgraçado, a quem a mulher deixou por seguir um peralvilho. Mal descobrira a fuga, armou-se de uma garrucha, e saiu-lhes no encalço; achou-os duas horas depois, ao pé de uma lagoa, matou-os a ambos com os maiores requintes de crueldade.

O ciúme satisfez-se, mas o vingado estava louco. E então começou aquela ânsia de ir ao fim do mundo à cata dos fugitivos.

A mania das grandezas tinha exemplares notáveis. O mais notável era um pobre-diabo, filho de um algibebe, que narrava às paredes ( porque não olhava nunca para nenhuma pessoa ) toda a sua genealogia, que era esta:

—Deus engendrou um ovo, o ovo engendrou a espada, a espada engendrou Davi, Davi engendrou a púrpura, a púrpura engendrou o duque, o duque engendrou o marquês, o marquês engendrou o conde, que sou eu.

Dava uma pancada na testa, um estalo com os dedos, e repetia cinco, seis vezes seguidas:

—Deus engendrou um ovo, o ovo, etc.

Outro da mesma espécie era um escrivão, que se vendia por mordomo do rei; outro era um boiadeiro de Minas, cuja mania era distribuir boiadas a toda a gente, dava trezentas cabeças a um, seiscentas a outro, mil e duzentas a outro, e não acabava mais. Não falo dos casos de monomania religiosa; apenas citarei um sujeito que, chamando-se João de Deus, dizia agora ser o deus João, e prometia o reino dos céus a quem o adorasse, e as penas do inferno aos outros; e depois desse, o licenciado Garcia, que não dizia nada, porque imaginava que no dia em que chegasse a proferir uma só palavra, todas as estrelas se despegariam do céu e abrasariam a terra; tal era o poder que recebera de Deus.

Assim o escrevia ele no papel que o alienista lhe mandava dar, menos por caridade do que por interesse científico.

Que, na verdade, a paciência do alienista era ainda mais extraordinária do que todas as manias hospedadas na Casa Verde; nada menos que assombrosa. Simão Bacamarte começou por organizar um pessoal de administração; e, aceitando essa idéia ao boticário Crispim Soares, aceitou-lhe também dois sobrinhos, a quem incumbiu da execução de um regimento que lhes deu, aprovado pela Câmara, da distribuição da comida e da roupa, e assim também da escrita, etc. Era o melhor que podia fazer, para somente cuidar do seu ofício.—A Casa Verde, disse ele ao vigário, é agora uma espécie de mundo, em que há o governo temporal e o governo espiritual. E o Padre Lopes ria deste pio trocado,—e acrescentava,—com o único fim de dizer também uma chalaça: —Deixe estar, deixe estar, que hei de mandá-lo denunciar ao papa.

Uma vez desonerado da administração, o alienista procedeu a uma vasta classificação dos seus enfermos. Dividiu-os primeiramente em duas classes principais: os furiosos e os mansos; daí passou às subclasses, monomanias, delírios, alucinações diversas.

Isto feito, começou um estudo aturado e contínuo; analisava os hábitos de cada louco, as horas de acesso, as aversões, as simpatias, as palavras, os gestos, as tendências; inquiria da vida dos enfermos, profissão, costumes, circunstâncias da revelação mórbida, acidentes da infância e da mocidade, doenças de outra espécie, antecedentes na família, uma devassa, enfim, como a não faria o mais atilado corregedor. E cada dia notava uma observação nova, uma descoberta interessante, um fenômeno extraordinário. Ao mesmo tempo estudava o melhor regímen, as substâncias medicamentosas, os meios curativos e os meios paliativos, não só os que vinham nos seus amados árabes, como os que ele mesmo descobria, à força de sagacidade e paciência. Ora, todo esse trabalho levava-lhe o melhor e o mais do tempo. Mal dormia e mal comia; e, ainda comendo, era como se trabalhasse, porque ora interrogava um texto antigo, ora ruminava uma questão, e ia muitas vezes de um cabo a outro do jantar sem dizer uma só palavra a D. Evarista.
–––––––––––––
continua… Capitulo III – Deus sabe o que faz; Capítulo IV – Uma teoria nova
––––––––––––-
Fonte:
ASSIS, Machado de. O Alienista.

Hermoclydes S. Franco (O Segredo da Vida)


Quando rapaz, amigo dos amigos,
Não cometi, jamais, um ato falho...
Tratei com cortesia aos inimigos,
- Desses gratuitos, que nos dão trabalho!...

A alguns, com frio, cedi agasalho
Amenizando-lhes pobres abrigos...
E, aos abastados, levei pelo orvalho
Em serenatas, nos moldes antigos!

Passado o tempo, ao recordar de tudo,
Sinto, em minha alma, afagos de veludo
Por todo o bem que faço e me compraz...

Tantas lembranças, boas de verdade,
Ainda me mostram que, na realidade,
O SEGREDO DA VIDA está na Paz!

Lumiar, 23 de junho de 2009

Fonte:
Soneto enviado pelo autor

Hans Christian Andersen (A Agulha de Cerzir)


Era uma vez uma agulha de cerzir, tão fina que imaginava ser uma agulha de costura.

- Vejam bem o que estão segurando! - disse aos Dedos que a pegaram, a Agulha de Cerzir - não me percam! Se eu cair no chão, é bem possível que eu nunca mais seja encontrada, de tão fina que sou.

- Para isso há jeito - disseram os Dedos, apertando-a na cintura.

- Estão vendo? Estou seguida de grande comitiva! - volveu a Agulha de Cerzir.

Puxava atrás de si uma linha comprida, na qual, porém, não havia nó.

Os Dedos levaram a agulha diretamente para o chinelo da cozinheira, onde tinha de ser costurado o couro de cima, que se partira.

- Isso é trabalho de baixa categoria! - protestou a Agulha de Cerzir - nunca conseguirei varar isso! Vou quebrar! Vou quebrar!

E de fato quebrou.

- Eu não disse!? Sou fina demais para isso!

Agora ela não presta mais para nada, concluíram os Dedos. Mas tiveram, apesar disso, de segurá-la. A cozinheira pingou lacre na agulha, e espetou-a no lenço que trazia ao pescoço.

- Veja, agora sou alfinete de adorno! - disse a Agulha de Cerzir - sempre tive a sensação de alcançar um posto honroso. Quando se é alguém nesta vida, sempre se chega a ser mais alguma coisa.

E riu-se por dentro, pois nunca se vê, de fora, quando uma Agulha de Cerzir está rindo. Lá estava ela, pois, tão orgulhosa como se estivesse numa carruagem de luxo, olhando para todos os lados.

- Posso ter a honra de perguntar se o Sr. é de ouro? - perguntou ela ao Alfinete, seu vizinho - o Sr. tem magnífico aspecto, inclusive na cabeça, mas é muito pequeno! Deve tratar de crescer, pois nem todos podem ser lacrados na extremidade.

Assim dizendo, a Agulha de Cerzir ergueu-se com tanta altivez que escapou do lenço e caiu na gamela de lavar louça, no momento em que a cozinheira ia despejá-la.

Agora vamos viajar! - disse a Agulha de Cerzir - tomara que eu não fique fora para sempre!

Mas ficou.

- Sou fina demais para este mundo - disse ela, já na sarjeta - tenho a consciência do que sou, e isso sempre causa certo prazer.

E a Agulha de Cerzir manteve-se erecta, sem perder o bom humor.

Por cima dela navegavam os mais variados objetos - varinhas, palha, pedacinhos de jornal.

- Lá vão eles, navegando! - disse a Agulha de Cerzir - nem sabem o que há por baixo deles, que eu estou em baixo deles! Sou eu! Vejam só! Lá vai uma varinha, que não pensa em outra coisa neste mundo senão em varinha, isto é, em si própria. Lá vai um colmo! Olhem, como ele vira, como dá voltas! Não penses tanto em ti mesmo, colmo, que assim vais bater de encontro às pedras. E ali bóia um jornal. Já caiu no esquecimento tudo quanto nele está escrito, e ainda assim ele se abre e se espalha todo! Eu, porém, continuo aqui quieta e paciente. Sei o que sou e o que continuo a ser.

Um dia alguma coisa brilhou pertinho dela, e a Agulha de Cerzir julgou que se tratava de um diamante. Era um caco de garrafa. Sendo, porém, um objeto brilhante, a Agulha de Cerzir dirigiu-lhe a palavra, e apresentou-se como sendo alfinete de gravata.

- O sr., com certeza, é um diamante, não é?

- Sim, sim... Qualquer coisa assim.

Desse modo, um ficou pensando que o outro era algo de muito precioso, e puseram-se a comentar o quanto o mundo era cheio de vaidade.

- Pois é. Morei num estojo, em casa de uma jovem - disse a Agulha de Cerzir - ela era cozinheira. Tinha cinco dedos em cada mão. Nunca vi, em toda a minha vida, algo tão cheio de vaidade como aqueles cinco dedos. Queriam ser grande coisa, eles, que só serviam para me segurar, me tirar do estojo e nele me recolocar. Não tinham nenhuma outra função...

- E tinham algum brilho - perguntou o Caco de Garrafa.

- Brilho! Tinham soberba, vaidade, nada mais! Eram cinco irmãos, todos da mesma família, todos dedos. Viviam enfileirados, retos, um ao lado do outro, embora fossem de comprimento diverso. O primeiro, do lado de fora, Mata-Piolho, era gordo e baixo, andava fora do grupo, e só dobrava as costas num ponto, mas dizia que se fosse cortado da mão de um homem, o homem inteiro estaria estragado, inutilizado para o serviço militar. O seguinte, Fura-Bolos, entrava no doce e no amargo, apontava o Sol e a Lua, e era quem apertava mais, quando a mão escrevia. Pai-de-Todos olhava por cima da cabeça dos outros. Seu-Vizinho andava de anel de ouro na barriga, e o pequenino Minguinho não fazia nada o dia inteiro, do que muito se orgulhava. Enfim, era tudo ostentação, fanfarronadas, e quem foi para a gamela fui eu!

- E agora estamos aqui, brilhando - disse o Caco.

Nesse momento afluiu mais água à sarjeta, que transbordou, alagando todas as margens e arrastando consigo o Caco de Vidro.

- Ele foi promovido - disse a Agulha de Cerzir - eu permaneço aqui. Sou fina demais, orgulho-me disso, mas este é um orgulho justificado e legítimo!

E continuou ali, reta, pensando muito.

- Eu poderia até pensar que nasci de um raio de Sol, de tão fina que sou. Me parece, de fato, que o Sol sempre me procura em baixo da água. Sou tão fina que minha mãe não me consegue encontrar. Se eu tivesse meu velho olho, que se partiu, creio que eu poderia chorar, embora, com certeza, não o fizesse, pois chorar não é elegante.

Um belo dia, uns garotos de rua estavam remexendo na sarjeta, à procura de pregos velhos, moedas e outros cacarecos. Aquilo era uma porcaria, mas o faziam por sua própria vontade. Logo...

- Ai! - gritou um deles, que se picara ao tocar na Agulha de Cerzir - que sujeito!
- Não sou um sujeito, sou uma senhorita! - protestou a Agulha de Cerzir, mas ninguém lhe deu ouvidos.

O lacre caíra, e ela se tornara preta. Mas a cor preta emagrece, e a agulha pensava que assim parecia mais delgada ainda que antes.

- Lá vem boiando uma casca de ovo - disseram os meninos.

- Paredes brancas, e eu preta! - disse a Agulha de Cerzir - isso é bom. Assim serei vista, contanto que eu não sinta enjôo, pois teria de me dobrar ao meio. Mas ela não sentiu enjôo em sua embarcação, nem precisou dobrar-se ao meio.

- Contra enjoos do mar, é bom ter estômago de aço e estar sempre lembrando de que se é um pouco mais que um ser humano. Agora me sinto bem. Quanto mais fina se é, tanto mais se suporta isso.

- Crrrac! - disse a casca de ovo.

Um carroção carregado passara por cima dela.

- Como isso aperta! - queixou-se a Agullha de Cerzir - assim acabarei enjoada, apesar de tudo. Vou quebrar! Vou quebrar!

Mas ela não quebrou, conquanto por cima dela passasse todo o peso de um carroção carregado. Ela estava deitada em posição longitudinal... E assim pôde ficar, sem maiores riscos.

Fonte:
Hans Christian Andersen. Fábulas. SP: Ática

Alma Welt (Livro de Sonetos)


PARADOXO

Que mais posso escrever? perguntaria,
Se preciso fosse achar assunto...
Mas aquilo que nascer precisaria
Virá à luz sem aquilo que pergunto

Pois tão imperioso é o poema
Que tantas vezes temo o que virá,
E o suspense que antecede o tema
É prazer, sofrimento e... Deus dará.

Aquilo que surgiu é verdadeiro
Pelo fato de estar no mundo agora
Como filho de alguém que foi embora,

E que é melhor nem saber o paradeiro.
Mas qual a fonte mesma deste verso
Que falhou em refletir meu universo?

A MOIRA

Ser prudente, modesta, equilibrada,
São coisas que nunca consegui;
Aceitar a pequenez como jornada
No mundo real em que me vi,

Jamais pude acatar e me rebelo
Somente por ser Alma e ignorar
Tudo o que mesmo não for belo
Ou que em beleza não possa transformar.

Meu consolo é que pouco desta vida
Não se pode em arte e graça revelar
Em sua bela imagem refletida.

Só a Moira me é ainda estranha
Como uma estrangeira em nosso lar
Que há muito se hospedou e não se banha...

ANTI-SONETO

Hoje decidi não escrever.
Sinto muito, não haverá soneto.
Não se trata de inspiração não ter,
Mas me faltou este quarteto.

O segundo me parece duvidoso:
É este que só quer aparecer.
Sem ter realmente o que dizer
Poderá criar um círculo vicioso.

Então me reduzi a um terceto:
O próximo, se este me resvale
E seja só um prólogo ou moteto.

Mas pensando bem, é melhor não:
Esta montanha é apenas o seu vale,
Ou uma torre que é só o rés do chão...

AMOR E ARTE (II)

Francamente eu preferia a Morte
Se na vida não mais houvesse Arte.
Sei que é radical e muito forte
Proclamá-lo aqui e em qualquer parte.

Mas Amor é básico e irradiante
E faz rodar a Terra no seu eixo,
O sol e outras estrelas, disse Dante,
(para citar il Vate no seu fecho)...

Se é a Arte que a vida nos sublima
Com as cores mais belas da paleta,
O Amor é quem pinta e ilumina,

Faz obra-prima de simples garatuja,
Cria um Iris em pincelada preta,*
E torna lindo o filho da coruja...

UM ETERNO RETORNO

Os vikings, germanos e outros mais,
Morrer só desejavam com bravura,
Assim como os antigos samurais,
Pra voltar à mesma senda e vida dura.

Assim também est’Alma louca aqui,
Cedo tomada pela arte da Poesia,
Bem cedo irei morrer em nostalgia
Desta vida que, escrevendo, revivi.

Embora alguns bem cheios de revolta,
Acredito que os poetas são divinos...
Mas Deus com suficiente à sua volta

Relança sobre a terra os mais sofridos
Pela saudade dos ventos e dos sinos.
E bá! Tome mais cantos e alaridos!

O MESMERISTA

Meu irmão convidou um jogador,
Seu colega aventureiro e “mesmerista”,
Que dizia anular qualquer pudor
Até de antiga freira ou normalista.

E que usara esse poder para vencer
No pôquer, o que quase lhe custara
A vida e mais um olho de sua cara
Retirado a canivete, sem tremer.

Mas a pedido dele em reservado,
Deixei caolho-rei dos fascinantes
Exercer o seu dom em pleno prado...

E voltei com o olhar esgazeado
Com passos abertos, claudicantes,
E o ar pleno e perdido das amantes...

A RISADA DA CAVEIRA

O estranho fato de existir a Morte
Só pode ser de Deus a brincadeira
De mau gosto, feia, um tanto forte.
Senão, vejam a risada da caveira:

Seu riso alvar, sarcástico, grotesco,
E o corpo estilizado de fantoche
Do mais puro estilo picaresco
De escultor chegado no deboche.

Também não dá pra gostar da fedentina
Do banquete dos vermes que outrora
Os poetas chamavam de vermina.

Perdoe-me o fiel que tanto reza,
Que acha tudo belo e tudo preza,
E não vê o absurdo sob a aurora...

DE POETAS E POESIA

Poetas somos poucos, não adianta
Dizerem que é qual serviço público
Ou que poeta almoça mas não janta,
Que hoje o leitor é tão abúlico...

A poesia não morreu, está presente
Nas letras das canções que o povo canta
E deixa n’alma a tal rara semente
Que morre, germina e logo encanta.

A Poesia está em tudo, é parceira
Do homem do povo no seu dia,
Que sem ela ninguém suportaria

Vir ao Hotel Mundo em dura estada
Ou nascer de cruel parto sem parteira,
Se não temos mais Queen Mab, nossa fada...

O VÍCIO DO SONETO


Sim, preciso afinal me confessar:
Estou mesma viciada no soneto,
E como em consultório não me meto,
Esse vício vai por certo me matar.

Pois já ando com lápis e bloquinho,
E até com o toco atrás da orelha,
Como o da padaria, lá, do Minho,
Pro verso que me dará na telha,

Pulando um riacho ou na campina,
A brincar com os infantes no jardim,
Até no leito, que não mais de menina,

Onde em ondas de múltiplos orgasmos
Me pego a ver tercetos dentro em mim,
E sílabas contar por entre espasmos...

A VIDA

A vida, meu amigo, é tão estranha
Que não fosse o risco de uma rima
Eu diria que é a teia de uma aranha
E no centro está aquela que dizima.

Ou então que a vida é uma aventura
Num trem fantasma de verdade
Em que os companheiros de tortura
Vão sumindo a cada feia novidade.

Ou ainda que a vida é uma trapaça
E que somos nós o trapaceiro
Vendedor de elixires de cachaça

Para nós e até para os amados
A quem amor juramos, verdadeiro,
Quando mal suportamos nossos Fados.

O SENTIDO DA VIDA

Viver é já por si um bom mistério
Sem resposta no plano da razão
E somente um suposto plano etéreo
Vem ainda alimentar nossa ilusão.

Pois se pensarmos muito no sentido
De estar aqui a comer e ver televisão,
Mesmo sendo um filme divertido,
Ou pior: americano e... de ação,

É pouco, muito pouco e fim de linha
Para uma caminhada tão sofrida,
Já que a humanidade assim caminha.

Mas ser poeta é encontrar o tempo todo
A beleza até na Morte, para a Vida,
A tal da flor a brotar em meio ao lodo...

O PACTO

A vida, meu amigo, não perdoa
O menor engano, erro ou deslize
E cobrará de modo que te doa
Seja aqui, em Paris ou em Belize.

Não poderás fugir pra Patagônia
Se na hora mesma da conquista
Trocares uma rosa por begônia,
E essa não for a flor bem quista.

E se pela atração de suas peles
Casares com um ser incompatível,
Acordo que nem sabes quando seles

E que o Tempo cobrará, embora lento,
Verás que os orgasmos de um momento
Se tornaram essa tua vida horrível…

Fonte:LinkOvermundo

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A. A. de Assis (Trovas Ecológicas) - 15

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 332)


Uma Trova Nacional

A vida não vale nada
Se a gente nada produz.
Tanto a pena, quanto a enxada,
abrem veredas de luz!
–THALMA TAVAVES/SP–

Uma Trova Potiguar

Das sementes de amizade
que plantamos no jardim
nasceu um pé de saudade
que floresceu para mim.
–LUIZ XAVIER/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - Curitiba/PR
Tema: IMAGEM - Venc.

Cuidemos, irmão, da imagem;
sem exagero, contudo.
- Muito mais do que a embalagem,
o que conta é o conteúdo.
–A. A. DE ASSIS/PR–

Uma Trova de Ademar

Perdão... Palavra bonita
que até nos causa emoção,
se realmente for dita
pela voz do coração!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

De gente lusa e remota,
herdei, eu tenho certeza,
ser altiva na derrota
ser humilde na grandeza!
–ALBERTINA MOREIRA PEDRO/RJ–

Simplesmente Poesia

Prece
–MARIZE CASTRO/RN–

Quem aqui me trouxe
brincava de ser Deus.
Banhou-me em águas turvas.
Desenlaçou-me.
Se não sou amada, adoeço.
Sigo para o último abismo.
Vou ao encontro da fêmea
tatuada de auroras.
Ajoelho-me.
Oro pela fragilidade das horas.

Estrofe do Dia

No sertão quando inverno é pesado
o relâmpago incendeia a capoeira,
um taurino se solta e faz carreira
com um pedaço de corda pendurado,
corre um rato nas ripas do telhado
a biqueira solfeja uma canção,
a barata inicia o seu baião
entre as tábuas imprensadas de uma mesa
o cinema maior da natureza
é um dia de chuva no sertão.
–ARNALDO CIPRIANO/PB–

Soneto do Dia

Inveja
– DIAMANTINO FERREIRA/RJ –

- Como invejo as estrelas!... Como invejo
a placidez da lua, o brilho intenso
dos astros cintilantes... Quando penso
no que existe de belo e malfazejo!...

Ausente das disputas de um pretenso
mundo estéril, malévolo e sem pejo,
sua apatia é tudo quanto almejo
para esquivar-me aos que não têm bom senso...

Desejo vão!... Porém, fosse verdade...
Pudesse olhar, do céu, toda a maldade...
As coisas vis, de lá pudesse vê-las!...

Como seria bom!... Infelizmente,
Tais coisas acontecem tão somente
Quando a mente vagueia entre as estrelas...

Fonte:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = Gifs para Scrap

Roberto Tchepelentyky (Livro de Trovas)


A caminho do infinito,
prossigo a minha viagem...
Levo o que é de mais bonito:
O nosso amor na bagagem!

A minha sogra eu veria,
não importa em que planeta,
se pudesse, todo dia...
Claro, por uma luneta!!!

Amor, estranha magia,
do coração e da mente.
Com toda sua alquimia,
nos faz um adolescente.

A paz que tanto nos falta,
deixando a vida feroz,
é uma criança peralta
oculta dentro de nós!

A vida é “fogo de palha”
e o tempo se mostra algoz,
mais parece uma fornalha,
onde a palha... “somos nós”!...

"Bate" a inspiração na gente...
Verso nenhum se aquieta,
quando Deus, onipotente,
nos permite ser poeta!

"Cidade Poema" tem,
em sua história, esplendor,
por "sempre" ninar alguém,
em berço de trovador!…

Comprei um rádio importado,
pensei que fosse chinês,
mas me senti enganado:
Só falava “em português”!!!

Deixa o que passou "de lado",
a vida é um ensinamento...
Pois lamentar o passado,
é correr atrás do vento!

Depois de tanta cachaça,
jurou não beber mais nada
pela tamanha desgraça:
Viu a sogra duplicada!!!

Na alegria do chorinho,
a tristeza tinha fim,
ao se ouvir o Brasileirinho
com Jacob do Bandolim!

Na rua, tão traiçoeiro,
chega o momento de apuro
e o milagre de um banheiro,
há de estar atrás de muro!!!

O chão do quarto molhado...
A sogra pagou o mico
após seu grito abafado:
- Meu Deus! Errei o penico!!!

O silêncio traz a paz
do universo e se engrandece,
com amor que o homem faz
do silêncio sua prece.

O teatro é fantasia,
mas, às vezes, como tal,
ninguém o diferencia
da nossa vida real...

O vento faz serenata
e o mar se põe a cantar
versos, em ondas de prata,
de uma poesia... ao luar...

Político que faz "rolo",
bem ou mal ele se arranja,
pois no meio do seu "bolo",
tem recheio de "laranja"!!!

Pra aquela visita chata,
o que me deixa mais louco,
é ouvir a frase insensata:
- Já vai? Fica mais um pouco!...

Rompeu com a namorada
ao ver a sogra... Que apuro!
Livrou-se de uma gelada:
Viu a amada no futuro!…

Ter amor é coisa boa
por alguém que está presente,
pois indo embora a pessoa...
Leva um pedaço da gente.

Um amor que já floresce,
escondido, não se assume.
É uma flor que nem parece...
Mas que exala seu perfume!

Uma sociedade forte
é que constrói um país
e nela, como suporte,
tem na família: a raiz.

Um casal tão agitado
no sofá de namorico,
parecia ter tomado
um banho de pó-de-mico!...

Fontes:
http://www.recantodasletras.com.br/trovas/3061930
http://www.recantodasletras.com.br/humor/3061823
Alma de Poeta
Concurso de Trovas da Academia Mageense de Letras 2011

Daladier da Silva Carlos (O Enigma do Sonhador)


Sonhar à tarde não parece agradável ao espírito,
O clarão do dia, ao penetrar o quarto, é perturbador,
Caso não ligue adormecer de qualquer modo,
Este hábito de gastar as horas mornas que passam
Ou de apagar da memória um sentimento negado,
Ainda que o desejo se guarde, triste e abandonado.

Sonhar à tarde desarruma as oportunidades noturnas,
Vez que o sonhador dispensa a presença da ternura,
Porque, à noite, insistirá nos cenários da vigília.
Com parcimônia, finge desinteresse pela aventura amorosa,
Tendo ainda o insuspeitado cuidado de não revelar emoções,
Porque o mal não está no amor, mas no próprio sonhador.

Sonhar à tarde é manter as relações decapitadas,
De modo que as cabeças e os olhares jamais se procuram,
A mão estranha o aperto da outra, até o menor roçar.
Parece não haver sede que sacie as bocas fechadas,
Com seus versos partidos e ecos espalhados pelos cantos,
Então, os momentos são breves, são cárceres de expressões.

Sonha à tarde reduz o significado da esperança,
Ora, as novidades clamam pelos melhores inventores,
Cuja coragem terá de rasgar os panos das mordaças.
Há certamente muito para ser dito na trama dos discursos,
Porém, difícil sempre será interpretar as íntimas diferenças,
Afinal, o lugar do sonhador é menos o sonho e mais o enigma.

Fonte:
Poema enviado pelo autor

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Poesia, Soneto e Trova IV) Especial 3 em 1


Contraste
ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG


Você é fogo, a chama mais ardente,
Semente a germinar em pleno cio,
É luz que o sol espalha suavemente,
É toque de prazer, é arrepio...

É água cristalina da nascente
Que corre lentamente para o rio,
Paixão que vem assim, tão de repente,
Deixando o coração por quase um fio.

Você é o meu passado mais presente...
Calor a me aquecer durante o frio,
Loucura que enlouquece loucamente!

Você é como um sonho inocente,
É brisa mansa em manhã de estio
E muitas vezes temporal fremente!

Amante é quem ama
LUIZ GILBERTO DE BARROS
(Luiz Poeta)

Somos amantes sem sê-lo,
Mesmo epidermicamente,
Somos mesmo sem sabê-lo,
Somos amantes na mente.

Se um corpo alheio, ao vê-lo,
Sentimos um calor fremente
E, num átimo, por tê-lo,
Ansiamos de repente...

Mesmo estando tão presente
A pessoa que nos ama,
Mesmo estando até na cama
Em carícias envolventes...

Traímos o que nos sente,
Sem todavia traí-lo,
Sentimos o amante ausente,
Sem entretanto senti-lo.

E não depende da gente
Lembrar alguém no momento
Do amor mais forte e envolvente,
Repleto de sentimento.

Traímos no pensamento,
Sem toques e sem contatos,
Portanto, se não há ato,
Não traímos, tão-somente.

Se em pensamentos traímos...
Traímos! ...mas quem reclama ?
Porque, quando nos unimos,
Amante é aquele que ama.

TROVAS
A. A. DE ASSIS (Maringá/PR)

Mesmo soltas e espalhadas,
as pétalas são formosas;
porém somente abraçadas
é que elas se tornam rosas!
****************
Curvada ao peso da idade,
a vovó, serena e bela,
distrai o tempo e a saudade
entre o novelo e a novela...
****************
Xô inverno... vá-se o frio...
volte depressa o calor...
que as rosas já estão no cio,
à espera do beija-flor!
****************
Os cisnes
JÚLIO SALUSSE

1872 / 1948

A vida, manso lago azul algumas
Vezes, algumas vezes mar fremente,
Tem sido para nós constantemente
Um lago azul sem ondas, sem espumas,

Sobre ele, quando, desfazendo as brumas
Matinais, rompe um sol vermelho e quente,
Nós dois vagamos indolentemente,
Como dois cisnes de alvacentas plumas.

Um dia um cisne morrerá por certo:
Quando chegar esse momento incerto,
No lago, onde talvez a água se tisne,

Que o cisne vivo, cheio de saudade,
Nunca mais cante, nem sozinho nade,
Nem nade nunca ao lado de outro cisne!

Delírio
ANTÔNIO MANOEL ABREU SARDENBERG


Fera ferida de morte,
Ave presa na gaiola,
Errante, sem tino, sem norte,
Cantador sem ter viola.

Vida sem eira, nem beira,
Noite sem brisa a soprar,
Fogo brando de fogueira,
Peixe morto à beira mar!

Sino sem tanger seu toque,
Vontade ardente de ter,
Imagem sem foco ou enfoque,
Pedra atirada em bodoque,
Aprendiz sem aprender.

Passo sem rumo ou espaço,
Cena que virou rotina,
Fama que virou fracasso,
Água parada da tina!

Rio sem leito ao relento,
Pipa perdida no ar,
Corpo pedindo acalento,
Alma louquinha pra amar.

TROVAS
ADEMAR MACEDO (Natal/RN)

Na vida o que me conforta,
está nesta frase bela:
“Deus jamais fecha uma porta,
sem que abra uma janela”!
***************

Entregue ao próprio abandono,
eu vi na rua um menino,
igualmente um cão sem dono
sem lar, sem pão, sem destino...
***************

Eu beijei tantas “donzelas”
nesta minha vida, a esmo,
que quando me lembro delas
sinto nojo de mim mesmo!...
***************

Apoteose
ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG
São Fidélis/ RJ

Na bruma densa de um mar revolto,
Em manhã fria de um inverno intenso,
Sinto um medo aprisionado e envolto
Na cena fria de um terror imenso.

As ondas fortes entram pela praia
Lambendo a areia fina e cristalina,
A espuma branca vem beijar a saia
Já desbotada da pobre menina.

Do céu pesado com nuvens escuras
Faíscam raios, vêm as trovoadas,
As gaivotas fogem em revoadas...

E os meus olhos saem à procura
Do Criador, o nosso Deus Supremo,
Na apoteose de um pavor extremo!

Num dia de Chuva
MARIA NASCIMENTO S. CARVALHO

Rio de Janeiro/RJ

Num dia de chuva,
o trovão bramia,
o mar se agitava,
e o sol se escondia
nas nuvens cinzentas
dos ermos do dia...

Num dia de chuva,
a lua dormia,
o frio gelava,
o vento gemia,
e, em sonho, eu vagava
nos ermos do dia...

Num dia de chuva,
de céu sem estrelas,
eu sentia medo
saudade eu sentia,
e a luz se embaçava
nos ermos do dia...

Num dia de chuva,
de tarde sombria,
eu te divisava
em tudo que via,
mas não te encontrava
nos ermos do dia...

Num dia de chuva,
a morte matava,
e mais aumentava
a dor que trazia,
mas não recuava
nos ermos do dia...

Num dia de chuva ,
eu, triste, rezava ,
e a reza amainava
a minha agonia...
E a chuva lavava
os ermos do dia...

Num dia de chuva,
quando eu mais rezava,
minha fé crescia...
E a vida ensinava
que, nem DEUS parava,
nos ermos do dia.

TROVA

Eu não troco as ilusões
pelos caminhos mais certos.
Meu sonho de abrir portões
despreza portões abertos.
ARLINDO TADEU HAGEN
Juiz de Fora/MG

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 331)


Uma Trova Nacional

Na vida insisto em tirar
sempre o máximo de mim.
Só digo um não se esgotar
todas as chances de um sim!
–ARLINDO TADEU HAGEN/MG–

Uma Trova Potiguar

Nas flores de meu terraço,
cultivo o amor à beleza,
e assim preservo um pedaço
do primor da natureza.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Uma Trova Premiada

2000 - Bandeirantes/PR
Tema: SEMBLANTE - Venc.

Por maior que tenha sido
a mágoa que te revolta,
o semblante entristecido
não leva a mágoa de volta...
–EDMAR JAPIASSÚ MAIA/RJ–

Uma Trova de Ademar

De nada eu tenho ciúme,
nem mesmo da mocidade;
pois hoje eu sinto o perfume
da flor da terceira idade!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Ando perdido a buscar-te
e busco, em vão, te esquecer.
Tenho medo de alcançar-te,
por medo de te perder!
–ALBANO LOPES DE ALMEIDA/RJ–

Simplesmente Poesia

Parabéns Ademar!
–DELCY RODRIGUES CANALLES/RS–

Que és do mês da independência,
afirmo sem nenhum medo,
pois tu brilhas na existência,
poeta Ademar Macedo.

Tuas mensagens poéticas
vivificadas no verso,
são bonitas e são éticas
e atingem nosso universo.

Continuas, Ademar,
“poeta do amanhecer”
nos ensinando a amar,
nos ajudando a viver!

Permanece como agora,
divulgando a sã poesia;
tu representas a aurora,
no ocaso de cada dia!

Estrofe do Dia

Ontem eu fiz sessenta anos de idade
e confesso pra vocês com alegria:
tudo o que eu mais queria, na verdade,
era ganhar de presente uma poesia;
mas eu me vendo envolto num dilema,
com medo de ficar sem um poema
eu comecei escrever assim a esmo,
e compus esses versos com louvores
para em nome de todos meus leitores
eu mandar Parabéns para mim mesmo!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

Homenagem a Ademar Macedo
–MARIA NASCIMENTO/RJ–

Caro Ademar Macedo, meu irmão,
é seu aniversário e neste dia.
eu lhe desejo muita inspiração
e inesgotável fonte de alegria.

Que a vida seja plena de harmonia,
que abrigue muito amor no coração
e em sua alma, seu templo da poesia
guarde os frutos divinos do perdão.

Querido irmão e amigo trovador
deus o premie com infinito amor,
e com bênçãos no seu aniversário...

Para que numa vida salutar,
alegremente possa ultrapassar
com lucidez, feliz , um centenário.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = http://www.orkugifs.com

domingo, 11 de setembro de 2011

A. A. de Assis (Trovas Ecológicas) - 14

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 330)


Uma Trova Nacional

Na pimenta se concentra
um ardor que não se esvai:
se arde e queima, quando entra
queima e arde quando sai !...
–HÉRON PATRÍCIO/SP–

Uma Trova Potiguar

Com Deus quero me cuidar,
que o diabo morra de sede.
“Santo” que não me ajudar
não penduro na parede!
–ZÉ DE SOUSA/RN–

Uma Trova Premiada

2006 - Pitangui/MG
Tema: REZA - M/E.

Homem com muitos trejeitos,
mulher com muita feiura,
para mim são dois defeitos
que nem com reza tem cura!
–FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Uma Trova de Ademar

Matuto “fraga a muié”
na cama com o Ricardão,
e, pra manter a honra em pé
toca fogo no colchão.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Ao ver o “dono” chegar,
grita o louro salafrário:
- a encrenca vai começar
tem homem dentro do armário!
–ALBERTINA MOREIRA PEDRO/RJ–

Simplesmente Poesia

Mulher bonita e cachaça
é coisa que mais adoro,
as vezes por mulher choro
mas depois eu acho graça,
eu chego no meio da praça
com o meu copo na mão,
no bolso nenhum tostão
pra tomar uma birita;
cachaça e mulher bonita
foi a minha perdição.
–ALCIDES GERMANO/PB–

Estrofe do Dia

Quando moço fui vadio
fiz tudo o que quis fazer,
eu fiz até acender
lamparina sem pavio;
aceitava desafio
viesse do satanás,
se hoje não faço mais
porque o fogo apagou-se,
se a lamparina furou-se
é besteira botar gás.
–AUGUSTO MACÊDO/RN–

Soneto do Dia

A Uma Doutora
-JROBERTO JUN/SP-

Dirigi-me até um posto de saúde,
E lá, atendeu-me uma Dra. bem bonita.
Tentei controlar-me, porém, não pude,
A pressão subiu, desceu, ficou esquisita.

Ela, a Dra. encantadora e bem bonita,
Soltou a voz dizendo: Me ajude!
Pois este pobre poeta não faz fita,
E precisa ir refrescar-se no açude.

Em seguida, sussurrou ao meu ouvido,
Perguntando-me se eu havia entendido
A data exata para a minha volta.

Apressado eu disse a ela: Sim, senhora!
Aqui estarei nesse dia e nessa hora
E por favor, me abrace, me beije, e não me solta!..

Fonte:
Textos enviados pelo Autor
Soneto = Recanto das Letras

Hermoclydes S. Franco (Adeus, Caboclinho) Poema á Memoria de Silvio Caldas


Vai , querido Caboclinho,
Da voz forrada de arminho,
Fazer serestas, no céu...
Vai cantar nossa Aquarela,
Que lá no céu, da janela
Um anjo abrirá o véu...

As “gaivotas e “andorinhas”,
Que ouviam sempre, às tardinhas,
Seu canto de paz e amor,
Farão vôos de saudade,
Nessa tristeza que invade
Velhas tardes de esplendor.

“Marias” e “Florisbelas”,
em homenagens singelas,
jamais irão esquecer,
as noites febris de festas,
de iluminadas serestas,
com seu cantar de prazer!...

Uma saudade imortal,
Ficará, qual pedestal,
A sustentar seu violão...
No cantar de um seresteiro,
Neste Brasil, brasileiro,
Vibrará seu coração!

Do seu “palco iluminado”,
Agora triste, apagado,
As luzes, vamos retê-las...
Nesta triste despedida,
Chorando a sua partida,
Cantaremos “Chão de Estrelas”!…

Fonte:
Poema enviado pelo autor

Pedro DuBois (Obséquio)


Obsequio o soneto: digo em versos,
o muro erguido em tijolos diversos
guarda espaços inatingíveis, empilha
frutos ao relento. Recubro o soneto em ventos
soprados na expressão do verbo. Realizo
em sons o tormento do mar sobre as pedras.
Sobre as pedras ergo o muro: tijolo
resultante do cozimento do barro; início
cristalizado separa mundos: declamo
obsequioso o soneto. Silencio
paredes e portas em adjetivos.

Fonte:
Poema enviado pelo autor

Pintura = http://artesdiolanda.blogspot.com/

JB Xavier (Izo Goldman)


"A Trova, Acima de Tudo, faz Amigos".

Desprendido ao ponto de ser um judeu que possui uma das maiores coleções de imagens de São Francisco de Assis; um gaúcho cosmopolita que conheceu a Trova em Niterói, mas a desenvolveu em São Paulo, onde na década de 70, colocou de pé a combalida Seção da UBT local. E fê-lo dando um passo atrás, retrocedendo a Seção a Delegacia, porque sabia que este passo de retrocesso resultaria na maior seção da UBT do Brasil. Um homem que possui quase 900 trovas premiadas, incontáveis troféus, dois títulos de Magnífico Trovador e dois Lilinha Fernandes; que foi o criador deste Informativo, há 33 anos; que compôs o Jogral em Trovas, peça que inclusive já foi aula inaugural no Curso Superior de Literatura de Bragança Paulista. E a lista iria longe se dispuséssemos de espaço para descrever todas as suas realizações e conquistas no universo Trovadoresco.

Portanto, homenagear Izo Goldman é uma tarefa ao mesmo tempo hercúlea e delicada, prazerosa e árdua, realizadora e desafiante, particular e monumental. Isto porque, para descrever a noite, temos o ocaso que a precede; para descrever o dia, temos a aurora que no-lo antecipa, para descrever o vendaval, temos a calmaria que lhe serve de parâmetro; para descrever o sol temos a lua como referência de seu oposto; para descrever o calor, temos o morno que lhe serve de transição. Mas, para descrever Izo Goldman, não temos transição! Izo não nos concede o beneplácito da análise fácil, da conclusão óbvia, ou da previsibilidade. Não! Nele tudo é intenso! Nele vibram os opostos, em luta visceral, um tentando se sobrepor ao outro, numa tessitura finíssima, sutil, mas inexorável, só perceptível aos que se mantém atentos, e ainda assim, vibrando no mesmo diapasão que move o substrato do seu ser.

“Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca".
( Apocalipse 3:16).

Esta passagem bíblica ilustra bem a índole de Izo Goldman. Como nas cidades de Colossos e Hierápolis, com suas águas frias e quentes, pessoas mornas não lhe caem bem, tal como a água tépida de Laodicéia enjoava a quem a bebia.

Izo Goldman é ao mesmo tempo o verso e o inverso, o preto e o branco girando num vórtice sobre si mesmos numa luta infindável onde seu vulcão interior só pode ser medido - mas poucas vezes compreendido - pelas atitudes fortes, mas raramente injustas, em defesa de suas causas.

Izo Goldman não serve para colega, porque colega, por definição, é o amigo com o qual não se pode contar. Com Izo se pode contar. Sempre! Em qualquer circunstância, se estivermos advogando uma causa na qual acreditamos. Portanto Izo Goldman é para se ter como amigo. Ou inimigo!

Com Izo não há espaço para sub-repções, disfarces, máscaras, teatralidade, banalidade ou quaisquer outros modos de proceder que não sejam autênticos. Também não há espaço para o idolátrico, porque seu pragmatismo está sempre atento. Portanto, pouquíssimas coisas o impressionam. São inumeráveis os trovadores de sucesso que, ou foram por ele iniciados na Trova, ou recorrem a ele em busca de esclarecimentos quanto a conteúdo e forma desse gênero.

Como bom pragmatista, Izo divide os trovadores em duas grandes categorias: Os que trabalham pela Trova, e os que fazem trova, e luta para que esses dois tipos coexistam numa só pessoa, que eu, ousadamente, chamaria de Trovador Pleno. O melhor exemplo é o próprio Izo, cujas realizações em prol da Trova e composições no gênero são memoráveis.

Sobre Izo Goldman disse Sérgio Ferreira da Silva, outro Magnífico Trovador:

“Suas trovas fogem aos lugares-comuns e convidam o leitor a refletir com profundidade sobre os temas que propõem. O Título de seu livro ‘Trova de Quem Ama a Trova’ é o resumo perfeito para uma vida dedicada à trova e à União Brasileira de Trovadores”.

Creio que a frase que melhor define Izo Goldman foi dita por Voltaire:

“Posso não concordar com o que você diz, mas defendo até a morte o seu direito de dizê-lo”.

A palavra que melhor define Izo Goldman é “diferente”. E sobre os “diferentes” escreveu um dia Artur da Távola, o magnífico cronista brasileiro:

A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os pouco capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão tesouros da ternura humana. De que só os diferentes são capazes. Não mexa com um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois.”

Fonte:
http://www.recantodasletras.com.br/homenagens/3208778

Ialmar Pio Schneider (Livro de Sonetos IV)


SONETO ENEASSILÁBICO 1

Sol, bendito Sol que me alumias
quando permaneço solitário,
e sinto que transcorrem meus dias
como as contas bentas de um rosário...

Ouvindo o gorjeio de um canário,
vou lembrando velhas fantasias,
com as quais fui formando um hinário,
a minha bagagem de poesias.

E quando meu espírito for
pairando leve em outras esferas,
não esquecerei jamais do amor

que vivo cantando neste mundo,
nos invernos e nas primaveras,
com ânimo total e profundo !

SONETO ENEASSÍLABO 2

Apesar de só, me contenho
para não turvar o dia claro;
pois, há muito tempo meu empenho,
é conseguir na luz, amparo.

Sei o quanto ser feliz é raro
e por isto humildemente venho
pedir a Deus o clarão de um faro,
que me conduza a um bom desempenho.

Amei e fui amado e por isso
acredito no amor, no feitiço
que representa esta Divindade...

Vou morrer um dia, não sei quando,
mas, minh´alma vai viver sonhando,
que só no sonho há felicidade !

SONETO HENDECASSÍLABO

Às vezes sinto vontade de viver
os velhos tempos que não voltam jamais
e nesse sentimento parece haver
a saudade dos cândidos madrigais.

Versos simples, juvenis, tristes demais,
quando lia nos poetas o prazer
de lançarem ao mundo sentidos ais
que os faziam lamentar e padecer...

Por esta estrada em que segui caminhando,
encontrei algumas rosas com espinhos
que me feriram, mas me deram amor...

Se por muitos momentos passei sonhando
e tive desgostos e também carinhos,
eu fui apenas um escrevinhador...

SONETO 15073

Eu recordo dos tempos de criança,
quando me apaixonei perdidamente,
por uma linda jovem, de repente,
bem assim como nasce uma esperança...

Porém, não tive sorte, pois somente
tivemos uns olhares de confiança,
e neste mundo louco, em contradança,
nos perdemos na vida, totalmente...

E nunca mais nos vimos depois disso;
entretanto, conservo seu feitiço
no pensamento como a cicatriz

que fica sempre na alma de quem sofre;
porque meu coração é um velho cofre
que guarda os sonhos em que fui feliz !

SONETO 15063

A vida teve muita solidão,
enquanto suscitava um grande amor;
e que chegou em forma de paixão,
para um dia qualquer do sonhador...

Por isso é que dizemos, a ocasião
é que faz conseguir-se mais ardor
para chegar ao beijo de ladrão
e que sempre terá melhor sabor.

Lembranças vão e voltam num momento,
assim como levadas pelo vento,
que faz tremer a rama da folhagem...

Quando nós encontramos quem nos falta,
os versos fluem e a poesia assalta
o coração que sofre sem coragem.

SONETO 15060

Um dia ela passou em minha vida
e me disse a sorrir: - Triste poeta,
por que fazes dos versos tua lida?
O que tua alma tanto desinquieta?

Eu vi que era uma musa preferida
que me fez esta pergunta indiscreta,
e no instante ficou sendo a escolhida
para viver no sonho que me inquieta...

Entretanto, depois de tudo isso,
não tive a glória de viver com ela,
quem sabe, por ter sido tão remisso

de não acreditar ter vindo dela
a frase que me disse e que o feitiço
que me fez, foi de uma sereia bela !...

SETE DE SETEMBRO

Dia sete de setembro, dia de glória,
Dia em que o Brasil festeja radiante,
Que o sol é mais risonho e mais brilhante
E a nossa vida é menos merencória !

Dia de ouro para nossa bela história,
Pois neste dia que já vai distante,
Dom Pedro ergueu um grito trepidante,
Um grito de grandeza e de vitória...

Um brado ressoou pelo infinito,
Desde o extremo sul ao extremo norte,
Rasgando as nuvens este enorme grito

Retumbou num alarme grande e forte
Que transformou-se num ditoso mito
Da frase da “Independência ou Morte”.

PATRIARCA DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

José Bonifácio – Nascimento em 13.6.1763 - Morte 6.4.1838

Foi o Patriarca da Independência,
homem sábio e romântico poeta,
cujos versos “Teu Nome”, com paciência,
cantaram sua musa predileta...

Nobre cultor de escrita tão correta,
trilhou pelos caminhos da ciência,
e logrou atingir a sua meta
ao longo de fantástica existência...

Mas também teve sua frustração,
quando o nome da musa se apagou
nos troncos e nas praias e na estrela...

“Murchou nas flores”; e na solidão
por horas infelizes mergulhou,
e talvez nunca mais pôde revê-la…

Fonte:
Sonetos enviados pelo autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 329)


Uma Trova Nacional

Entre os errados e os certos
busco escolher o segundo,
o mundo é dos mais espertos
mas não Vivo Neste Mundo!
–JÚNIOR ADELINO/PB–

Uma Trova Potiguar

As dúvidas me atormentam,
nas verdades que busquei.
Incertezas acrescentam...
Nem sei se sei o que sei.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Uma Trova Premiada


1999 - Cachoeiras de Macacu/RJ
Tema: CORRENTEZA - M/E

Minha vela foi ao fundo
na primeira tempestade,
e a correnteza do mundo
me arrastou sem piedade
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Nós somos tão um do outro,
que fico, às vezes, pensando
que em nossos abraços loucos
sou eu que estou me abraçando!
–ADRIANO CARLOS/RJ–

Uma Trova de Ademar

Palavras de ingratidão
deixaram-me desse jeito:
com mágoas no coração
e com feridas no peito...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Simplesmente Poesia

Vida
–VICENTE ALENCAR/CE–

O contorno do teu corpo
dá-me a medida maravilhosa da vida.
– E o que é a vida?
Um momento,
um beijo,
um afago.
Um corpo abraçado e amado.
A vida é um sonho
de momento,
uma chama.
Um minuto de felicidade.
A vida é um encontro
de sentimentos.

Estrofe do Dia

Numa cerca de avelós
depois do sol amparado,
o vaga-lume assustado
fica testando os faróis,
os pescadores de anzóis
embocam na água fria,
ficam naquela agonia
se uma piaba belisca;
termina roubando a isca
depois da morte do dia.
–MANOEL FILÓ/PE–

Soneto do Dia

À Minha Primeira Professora
–GILSON FAUSTINO MAIA/RJ–

Como eu faria a minha poesia,
escreveria neste meu caderno,
não fosse de Maria, o gesto terno,
pegar na minha mão com simpatia?

Do Carmo, paciente com mestria,
com as bênçãos do nosso Pai Eterno,
transformou minha vida, pôs no interno
do meu pobre existir, sabedoria.

A escola era na roça, na fazenda,
e Maria do Carmo, com ternura,
dividia o seu tempo, sua agenda.

Quatro turmas, coitada, a criatura,
do saber transformou-se em oferenda,
num celeiro de amor e de cultura.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor
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