sexta-feira, 27 de julho de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 620)

Uma Trova de Ademar 
De todos os sonhos meus,
realizei o mais fecundo:
ser um Poeta de Deus
e mandar versos pra o mundo!
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional 


Se você não existisse,
já o teria inventado,
antes que a aurora surgisse,
seria meu namorado.
–Mifori/SP–

Uma Trova Potiguar 


O Poeta do Amanhecer,
é, também, do meio-dia,
da tarde e do anoitecer
na trova e na Poesia.
–Tarcísio Fernandes Lopes/RN–

Uma Trova Premiada 


2011  -  Concurso do CTC/ES
Tema  -  F É  -  6º Lugar


A Fé que você procura
às vezes sem solução,
encontrará na ternura
que existe no coração.
–Neiva Fernandes/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram 


O meu vício é controverso,
tem dependência e vicia.
sou dependente do verso,
rima, métrica e poesia!
–Francisco Macedo/RN–

Uma  Poesia 


Nestes versos vou dizer
levado pela emoção,
para agradar a mim mesmo,
deixar feliz meu irmão;
e a vocês dizer num “Oi”
que o mano “Macedo” foi...
“Corda do meu coração!”
Ademar Macedo/RN–

Soneto do Dia 

CARTAS PARA O CÉU.
–Clarisse Barata Sanches/PRT–


As cartas que te escrevo, minha mãe,
São tristes, muito tristes e saudosas.
Que Deus queira, mal cheguem ao Além,
Perfumá-las quais fossem lindas rosas!

Desejo que no Céu te encontres bem,
Rodeada p'las almas mais bondosas;
E que esperes por mim, porque também
Anseio pela Paz de que já gozas.

Nas cartas vão abraços e carinhos;
E dá, por mim, lembranças e beijinhos
Ao Augusto e à Graça, que aí estão.

E em cada, num Amor sem ter medida,
Te envio, sem saudades desta vida,
Um pouco do meu triste Coração!

Machado de Assis (Badaladas – 20 de outubro de 1872, continuação)

Dois proprietários:

– Não há como as salas pequenas com seus tetos baixos e naturalmente pequenos. Eu não posso olhar para um teto grande e alto.

— Eu sou justamente o contrário; para mim, um teto deve ser um arquiteto.

No Jornal do Comércio de quarta-feira dá G. F. a Ti o seguinte aviso: “Ontem te passei uma carta dentro da grade: desejo saber se a recebeste.” Esperei ansioso o Jornal de quinta-feira para ver a resposta de Ti e ficar tranqüilo a respeito da sorte de G. F. Céus! Nem uma linha. Em compensação, se não achei a resposta que esperava, achei estas poucas linhas merecedoras de atenção: é uma despedida.
N.

Não te posso mais escrever, apanhei agora este meio para te dizer que decididamente temos que nos separar para sempre, esquece o meu juramento, não desejo dar desgosto a minha mãe, quando eu tenha idade e tu saúde e emprego honesto, então veremos.
M.

Peço desculpa à menina M.

S. Excia. parece-me extremamente fácil em despedir o namorado. Em primeiro lugar participa aos leitores do Jornal que ele é doente e tem um emprego desonesto. Que emprego será?! Isto é o menos: O mais é isto: A menina M jurou ao seu N amá-lo eternamente como essas coisas se juram. Devo crer que falava com toda a sinceridade do coração. Mas sua mãe opõe-se ao casamento; o caso é grave; ela é sua mãe; viu naturalmente que o emprego do namorado é desonesto e que este de mais a mais não tem saúde.

Que faz a menina M?

Diz ao namorado: “esqueça o meu juramento.” E dadas tais circunstâncias, “Então veremos!” Pedir-lhe que esqueça o juramento é já muito; mas o “então veremos” permita-me S.

Excia. que lhe diga, e que lhe diga a francesa: c'est raide. Equivale a dizer: “Se daqui até lá eu não tiver outro namorado, e se você já estiver curado e honestamente empregado, então pode ser que a plausibilidade de uma esperança vaga e toda conjectural nos reúna outra vez.”

Queira perdoar se me engano. Acabava de escrever estas linhas quando me caiu à mão o Jornal do Comércio de ontem.

N aceita a despedida; declara, porém, que não se esquecerá dela nem do juramento. Com razão; vê-se que ama. Poderia acrescentar que a primeira a não esquecer o juramento devia ser ela.

Em todo o caso desejo que sejam felizes, que volte a saúde ao namorado, que nela não se apague a lembrança dele, e que, vencida a repugnância da mãe, ambos se casem e vivam muitos anos.

Fonte:
Obra Completa, Machado de Assis, Rio de Janeiro: Edições W. M. Jackson,1938. Public
ado originalmente na. Semana Ilustrada, Rio de Janeiro, de 22/10/1871 a 02/02/1873.

Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa (Parte 5: Cabo Verde – 1. Lírica)

Interessa, desde já, reter bem este facto: a partir do início da década de trinta, e mercê de circunstâncias de natureza política, social, histórica e literária, algo ocorreu nas ilhas cabo-verdianas, a que não é alheia a influência da literatura brasileira. «Ora aconteceu que por aquelas alturas, nos caíram nas mãos, fraternalmente juntas, em sistema de empréstimo, alguns livros que consideramos essenciais pro domo nostra». É Baltasar Lopes quem isto afirma, citando autores como José Lins do Rego, Jorge Amado, Amando Fontes, Marques Rebelo. E diz que «em poesia foi um 'alumbramento' a Evocação do Recife, de Manuel Bandeira». Revelação foi ainda «um magnífico livro — a Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, ao lado dos volumes, densos de investigação e interpretação, do malogrado Artur Ramos» (in Cabo Verde visto por Gilberto Freyre, 1956). Ou pode até admitir-se, também, a influência da Presença no que nela se propunha de libertação da linguagem. Uma tomada de consciência   regional   muito   nítida   se   instala   nos escritores de Cabo Verde, que decidem romper com os arquétipos europeus e orientar a sua actividade criadora para as motivações de raiz cabo-verdiana. Não é ainda uma posição anti-colonial. Não é ainda, nem nada que se pareça, algo que tenha a ver com a ideia de independência política ou nacional. Porventura o problema não se poria também nestes termos, assim precisos, logo de início, ao menos generalizadamente, aos escritores do movimento parisiense da negritude.

Mas era, em Cabo Verde, em dados de literatura, uma viragem de cento e oitenta graus: as costas voltadas aos modelos temáticos europeus e os olhos, pela primeira vez, vigilantes e deslumbrados no chão crioulo. De tal facto podem ser pontuações inequívocas não só a citada revista Claridade, como a que se lhe seguiu, em 1944, Certeza, esta sob a directa influência no neo-realismo português, o Suplemento Cultural (1958) [37] e ainda o suplemento «Sèló»; ou inclusive, o boletim Cabo Verde (1949 — 1965), órgão oficial, mas no que ele possui de mais autêntico e digno, e no campo da literatura bastante é, dado que nele colaboraram quase todos os escritores cabo-verdianos.

Aliás, em 1935, um ano antes da publicação de Claridade, Jorge Barbosa, um dos responsáveis por aquela revista, abre a estrada larga do realismo cabo-verdiano:

—    Ai o drama da chuva,
ai o desalento,
o tormento da estiagem!
—    Ai a voragem
da fome
levando vidas!
(... a tristeza das sementeiras perdidas...)
Ai o drama da chuva! [38]

Os sinais da mudança são vários. O abandono dos temas obrigatoriamente europeus, como vinha acontecendo até aí, a renúncia das estruturas poéticas tradicionais (rima, métrica e outras) e a penetração definitiva no contexto humano do Arquipélago: «o drama», «desalento», «tormento», «fome», «tristeza». Nos seus dois primeiros livros: Arquipélago (1935) e Ambiente (1941) e ainda em Caderno de um ilhéu (1956), Jorge Barbosa procede a uma radiografia do drama social do homem cabo-verdiano: a seca, a fome, a emigração, o isolamento, a insularidade, e o mar como estrada mítica da «aventura da pesca da baleia/nessas viagens para a América/de onde às vezes os navios não voltam mais». [39] Assim:

O teu destino... O teu destino Sei lá!
Viver sempre vergado sobre a terra, a nossa terra pobre ingrata querida!
Ou outro fim qualquer humilde
anónimo...
Ó cabo-verdiano
anónimo
— meu irmão! [40]

Via de regra, cada verso uma palavra, ou cada verso um sintagma, uma cadência ritmada, sincopadamente, para que a dor e o sofrimento se grave e avive dentro de nós. E mais: o processo, porventura invulgar para a época, da imanência de um «tu» logo associado a um «nós» no envolvimento da comunhão intensa de um discurso dramático. De resto, Jorge Barbosa é a voz plural que amiúde recorre a expressões como esta: «voz da nossa gente», a transformar o seu discurso na voz colectiva. A enumeração repetitiva, no caso presente adjectivada, mas noutros substantivada, aliada à evocação ou ao apelo afectivo, num recurso continuado à função expressiva, confere à poesia de Jorge Barbosa características dramáticas novas, trazidas pela intimidade, a denúncia, a epopeia do homem ilhado vivendo no drama de «querer partir e ter que ficar!». Enfim, no dizer de Jorge de Sena, um «poeta que, nos seus grandes momentos, é uma das melhores vozes da poesia contemporânea» [41]. E se ele foi o primeiro a romper a tradição de uma poesia que vinha marcando o espaço cabo-verdiano, foi também ainda o primeiro poeta das áreas africanas da língua portuguesa a lançar os fundamentos de uma nova poesia tecida numa situação colonial. A poesia de Jorge Barbosa vai dominar o panorama poético cabo-verdiano por várias décadas, de uma ou de outra maneira e com tal intensidade que só recentemente alguns poetas modernos libertaram de vez a poesia cabo-verdiana do peso estrutural barbosiano, como adiante se verá.

Jorge Barbosa teve uma ajuda, pelo menos. Nada nasce do nada. Essa ajuda, tudo leva a crer, veio dos poetas brasileiros, como assinalámos. Mas o desencadeamento catártico deu-se com a presença de António Pedro (1909-1965), um cabo-verdiano de nascimento que, em 1928, aos vinte anos de idade, visitou Cabo-Verde e ali publicou o livro de poemas Diário (1929). Era então um jovem poeta virado para o modernismo português. Sensibilizado para um certo vanguardismo, a sua poesia «cabo-verdiana» é um abanão nas estruturas tradicionais poéticas do Arquipélago. Por exemplo, sobre a Morna:

Reminiscência dum fado
que, dançado
num maxixe,
tem a tristeza postiça,
dum cansaço.

Um semicivilizado
lasso
balanço
embalado
sobre o ventre dum fetiche [42].

Era a primeira vez que alguém glosava, em nova linguagem, o tema da morna (e outros). Manuel Bandeira, Jorge de lima, Ribeiro Couto, de um lado; António Pedro, de outro, os dados estavam lançados. Nítida a semelhança da estrutura externa das estrofes de Jorge Barbosa e António Pedro. Coteje-se o excerto de António Pedro com este de Jorge Barbosa sobre o poema «A Morna»:

Canto que evoca coisas distantes que só existem
além
do pensamento, e deixam vagos instantes
de nostalgia, num impreciso tormento
dentro das nossa almas...
Morna desassossego,
voz
da nossa gente reflexo subconsciente
[43]

Mas se os pontos de contacto no espaço externo dos poemas de António Pedro e Jorge Barbosa são evidentes, já o mesmo não se dá na estrutura profunda da poesia de um e de outro. Em António Pedro é um pretexto, a voz distanciada («tristeza postiça, dum cansaço»); em Jorge Barbosa, um percurso interiorizado, para uma enunciação colectiva: «dentro/das nossas almas...» o «desassossego», a «voz/da nossa gente». Os demais poetas da primeira fase da Claridade (1935-1937) são Manuel Lopes, Osvaldo Alcântara [i. e Baltasar Lopes] e Pedro Corsino Azevedo. Destes, será Manuel Lopes o vizinho mais próximo de Jorge. Não que se fale de influências. O sinal de Manuel Lopes vem simultaneamente com o de Jorge Barbosa. Mas um dos pontos em que a poesia de Manuel Lopes se afasta da de J.   Barbosa  será  no   tom  filosofante,  no  por vezes solilóquio interrogativo:

Que importa o caminho da garrafa que atirei ao mar? Que importa o gesto que a colheu? Que importa a mão que a tocou
— se foi a criança
ou o ladrão
ou filósofo
quem libertou a sua mensagem
e a leu para si ou para os outros?

O verso é mais longo, a linguagem mais discursiva, a interpretação do mundo real cabo-verdiano mais individualizado. O «tu» em Manuel Lopes tende a ser personalizado: «Mochinho,/teu destino é seres espantalho de corvos,/tocar lata e mandar funda/de desamparinho a desamparinho/na mèrada de milho a arder» 45; e o diálogo, mais do que admirativo é interrogativo ainda quando a sua proposta poética se situa ao nível da indagação colectiva:

Que disse a Esfinge
aos homens mestiços de cara chupada?
Esta encruzilhada
de caminhos e de raças
onde vai ter?
Por que virgens paragens se prolonga?
Que significa para eles o amanhecer? **

Em Pedro Corsino Azevedo, sem livro publicado, e de escassa produção poética, pelo menos a conhecida até agora (refere-se um original perdido: «Era de ouro») é legítimo falarmos em dois mundos. Um, diríamos existencial, equacionando os sonhos e os desenganos, superando o sentido trágico da vida («Sou o atleta vencido/Renascido») [47]. Outro, o da radicação de motivações populares, como no poema muito difundido «Terra-Longe»: «Terra-longe! terra-longe!... — Oh mãe que me embalaste!/Oh meu querer bipartido!» – ou em «Galinha branca»:

Galinha branca O espectro da morte A sorte De todos.
Olha p'ra mim! Assim:
Canivetinho
Canivetão


França
A única esperança...[49]

Com este poema ele ganha o direito a ser considerado o primeiro poeta da modernidade cabo-verdiana, uma vez que nos parece ter sido escrito por volta de 1930 [50].

Osvaldo Alcântara (i. e Baltasar Lopes) é de todos os poetas de Claridade aquele que vem produzindo uma poesia mais intelectualizada. Mas nem por isso Osvaldo Alcântara deixa de ser um poeta par e passo preocupado e identificado com o seu mundo colectivo, como em «Recordai do desterro no dia de S. Silvestre de 1957»:

«O inefável invade docemente a minha tristeza./Sei que a tua espada há-de fulgurar nas batalhas necessárias/e Nicolau nunca mais voltará a ser moeda/das riquezas de Caim» [51]. E nos seus recursos imagéticos, no seu discurso não raro metafórico ou metonímico, Osvaldo Alcântara marca a sua linguagem de uma exigência estética nem sempre alcançada por outros. Poesia habitada por uma consciência dialéctica, num permanente apelo às forças da reprodução mutativa. Recobre um espaço entretecido do cósmico, do social, da tradição popular, das forças criadoras da vida e da acção, de tal modo interiorizado e fundido no impulso poético, mas redimido pela racionalização: «Quem me dera ser estereoscópio para disciplinar as minhas sensações». Um dos seus últimos poemas, publicado em 1973, sagra-se pelo registo da esperança ao ritmo de uma pulsação radiosa, e nele, e com ele, Osvaldo Alcântara firma-se no chão real do espaço e do tempo cabo-verdianos:

Onde há o Tântalo de todas as recusas
e tudo gerou nada
e o tempo desembocou no presente
e no chão podre de húmus malditos
o presente só tem para ti uma colheita clandestina
esperança esperança esperança [52].

A Claridade sucede a geração de a Certeza (1944). Nem sempre o conceito de geração corresponde a uma demarcação estética ou ideológica. Mas neste caso corresponde. O grupo de Certeza todo ele perfilha o ponto de vista neo-realista. São, portanto, marxistas. Quando os componentes do grupo tomaram conhecimento de Claridade, e logo a seguir da proposta dos neo-realistas portugueses, abandonaram os possíveis liames com um passado e assumem, na ilha, o drama colectivo que feria grande parte da humanidade: a Segunda Grande Guerra Mundial. E é já no entendimento do que ela significa que Guilherme Rocheteau diz:
«Ao longe/na distância da manhã por vir,/a indecisão das camuflagens/e do rumor da guerra,/há agonias esbatidas no negro-fumo/da pólvora/dos homens que se batem./Aquem, é a luta na rectaguarda!» [53].

Mas esta visão dialéctica exprime-a também Tomaz Martins, aliás autor de uns escassos três poemas, tal como aquele seu companheiro de jornada:
«Eu quero verte/compreendendo o fogo do camarada irmão/nesta luta incerta que é a sua certeza» [54].

Nuno Miranda (Cais dever partir, 1960; Cancioneiro da ilha, 1964) foi nessa altura uma esperança. Então ele, na ufania de si próprio, revelava-se com o pseudónimo de Manuel Alvarez:
«Numa noite qualquer [...] tombaram um por um, os falsos deuses!...» [55] — para, entretanto, vinte anos depois, se carpir no mundo confuso em que se deixou mergulhar, e com a consciência da crise que o destruía: «a nave» «tomba de leve no arquejo/das cousas caladas da noute»[56].

Arnaldo França, um dos mais dotados poetas da Certeza, teima em continuar ignorado escrevendo pouco (julgamos) e publicando nada, depois do seu breve e útil ensaio Notas sobre poesia e ficção cabo-verdianas (Sep. Cabo Verde (nova fase), n.° 157. Praia, Cabo Verde 1962). Mas o rastro por ele deixado é o de um lírico com a consciência do peso real das palavras, e ciente dos caminhos difíceis da aprendizagem poética. Há «muros altamente inacessíveis» no trânsito para «a conquista da poesia»:

Era um castelo erguido na montanha
da paisagem deserta submarina
tinha muros altamente inacessíveis
ao salto imaginário do meu pensamentos [57]

Poeta lírico mas que preenche a sua mensagem de conotações ideológicas precisas, evidentes até em títulos de poemas como «Paz» (é preciso lembrar o contexto: 1960) e exigir a paz era (é) combater a opressão, era efectuar o registo do «testamento para o dia claro». O seu discurso semeado de «sonhos», «encantamentos», «vigília», «silêncio», «distância», «pétalas dispersas», ou a «alma que se desprende em luz» ganha um relevo a um tempo tranquilo («Meus sonhos quem os fez nascer tranquilos/serenos?») e inquieto, que lhe sobe da «voz desperta». Há nele uma sabedoria que pré-anuncia um futuro na «esperança nova» porque a felicidade «só na comum seara se renova».

Mas no horizonte lívido do dia Recuam quando passa a nuvem fria Os pássaros metálicos da noite.
E na amplidão da luz que resplandece É de ti que surgiu a mão que tece A esperança nova à humana sortes [58].

Colocaríamos agora o nome de António Nunes (Devaneios, 1938; Poemas de longe, 1945) que, em 1944, mandava de Iisboa, para o n.° 2 de Certeza o «Poema de amanhã». Poema de intencionalidade unívoca, com ele António Nunes se impunha como o primeiro poeta neo-realista  cabo-verdiano   a  estabelecer  a   oposição colonizado/colonizador. Com efeito, nesse poema o «tu» é «Mamãe», a terra cabo-verdiana, mas subjacente está um «ele», o outro que dispõe dos homens, o colonizador:

— Mamãe! sonho que, um dia, estas leiras de terra que se estendem, quer seja Mato Engenho, Dàcabalaio ou Santana, filhas do nosso esforço, frutos do nosso suor, serão nossas.
E, então, O barulho das máquinas cortando, águas correndo por levadas enormes, plantas a apontar, trapiches pilando, cheiro de melaço estonteando, quente, revigorando os sonhos e remoçando as ânsias novas seivas brotaram da terra dura e seca!... [59]

Aqui, António Nunes aparta-se de Jorge Barbosa, e de várias maneiras: na estrutura externa e no ponto de vista. Mais tarde, em «Ritmo de pilão», dava-nos a complementaridade desta proposta e mais se distanciava de Jorge Barbosa que, em vincado acento dorido, falava do «nosso drama» e até «da nossa revolta». Mas que revolta? — «da nossa silenciosa revolta melancólica». E António Nunes? Este, em 1958, abria a sua área temática, em «Ritmo de pilão»: «Bate, pilão, bate/que o teu som é o mesmo/desde o tempo antigo/dos navios negreiros...» 60. Ao sonho de que as terras «serão nossas» se junta agora o incitamento a uma luta continuada. O sentido da sua mensagem encerra a visão dialéctica da mudança e a necessidade de acção.
–––––
Notas:
47    Pedro Corsino Azevedo, «Renascença» in Claridade, n.° 5, 1947, p. 16; também in M. Ferreira, No reino de Caliban, 1.° vol., 1975, p. 121.

48    Idem, «Terra-Longe» in Claridade, n.° 4,1947, p. 12.

49    Idem, «Galinha branca» in M. Ferreira, No reino de Caliban, 1.° vol., Lisboa, 1975, pp. 124-125.

50    Deve-se a Pedro da Silveira a publicação deste poema, acompanhado de uma nota, em Mensagem, Lisboa, Casa dos Estudantes do Império, ano XVI, n.° 1, julho de 1964, pp. 10-11-12.
Fala-se  de  um  original perdido  de  Pedro  Corsino  de Azevedo, «Era de Ouro».

51    Baltasar Lopes, «Recordai do desterrado no dia de S. Silvestre de 1957» in Claridade, n.° 8,1958, p. 39.

52    Idem, «Menino de outro gongon» COLÓQUIO/Letras, n.°14,1973, p. 58.

53    Guilherme Rocheteau, «Panorama» in Certeza, n.° 1,1944.

54    Tomaz Martins, «Poema para tu decorares» in Claridade, n.°4,1947, p. 37.

55    Nuno Miranda, «Revelação» in Certeza, n.° 1, 1944.

56    Idem, Cancioneiro da ilha, 1964, p. 42.

57    Arnaldo França, «A conquista da poesia» in Claridade, n.° 5,1947, p. 33.

58    Idem, «Paz-3» in Claridade, n.° 8, 1958, pp. 27-28.

59    António Nunes, Poemas de longe, 1945, p. 32.

 
Continua…Cabo Verde 1 – Lírica

Fonte:
Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa I Biblioteca Breve / Volume 6 – Instituto de Cultura Portuguesa – Secretaria de Estado da Investigação Científica Ministério da Educação e Investigação Científica – 1. edição — Portugal: Livraria Bertrand, Maio de 1977

Programa Viagem Literária - São Paulo (Cadastramento de Autores e Contadores de Histórias)

Programa cadastra autores e contadores de histórias para eventos que acontecerão nos meses de outubro, novembro e dezembro

A Secretaria de Estado da Cultura está cadastrando autores de livros de ficção e contadores de histórias (individuais ou grupos) interessados em participar do programa Viagem Literária 2012, que acontecerá nos meses de outubro, novembro e dezembro.

Viagem Literária é um programa de incentivo à leitura realizado pela Secretaria com o apoio das bibliotecas públicas de 70 municípios paulistas. São realizados encontros do público local com autores e contadores de histórias.

Esses eventos buscam aproximar pessoas que se relacionam no universo da leitura e da literatura, e estimular o vínculo entre leitores e sua biblioteca pública local.

Lançado em 2008, o programa integra um conjunto de ações afirmativas do Governo do Estado que incluem o apoio à atualização de acervos, o suporte à melhoria das práticas de gestão e da qualidade de atendimento das bibliotecas públicas municipais e ações de informação e capacitação de recursos humanos como política efetiva de formação de novos leitores e incentivo à leitura.

Transformar as bibliotecas em ambientes propícios à leitura e reflexão cultural também exige investimentos para o fomento de novas ideias para que sejam alcançados os principais objetivos do programa: difundir o gosto pela leitura e dar suporte à transformação das bibliotecas em centros de vivência sociocultural e de exercício pleno da cidadania.

Os interessados deverão inscrever-se até 7 de agosto de 2012, enviando carta ou e-mail contendo currículo e comprovantes de sua atuação como autor ou contador de histórias para a SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA – UNIDADE DE BIBLIOTECAS E LEITURA, nos endereços abaixo:

Por carta
Unidade de Bibliotecas e Leitura
Secretaria de Estado da Cultura
Rua Mauá, 51 - 2º andar
São Paulo-SP / CEP: 01028-900

Por e-mail
bibliotecaseleitura@sp.gov.br

Os profissionais/grupos cadastrados integrarão de um banco de dados e serão avaliados pela equipe de produção do Viagem Literária, podendo ser posteriormente contratados para integrar a programação oficial. O processo é semelhante ao adotado na seleção de trabalhos para o Circuito Cultural e Virada Cultural Paulista.

Fonte:
Assessoria de imprensa - SEC
Http://concursos-literarios.blogspot.com

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Nemésio Prata Crisóstomo / CE (Sextilhas Aguardando a Continuação do Sexteto em Sextilhas)

Delcy, Gislaine, Zé Lucas,
Assis, Ademar, Garcia,
cada qual mais cada qual
nas artes da poesia,
brilham agora em Sexteto
para nos dar alegria!

Ao ver o seu versejar
com primoroso rimado,
e na métrica perfeita
nos passar o seu recado,
somente posso dizer:
Eita Sexteto arretado!

Na mente de cada um
nunca falta inspiração
que descrita no papel,
em perfeita redação,
esse Sexteto pai d'égua
nos alegra o coração!

Trinta sextilhas postadas
é só para começar,
muitas outras já no prelo
estão; vamos aguardar
a sua divulgação:
não custa nada esperar!

Fonte:
O Autor (Fortaleza/CE)

Sexteto em Sextilhas (Parte 2)

31 - Assis
Gostei muito, de verdade,
dos verbos que, com primor,
Zé Lucas usou acima,
provando que é professsor
na arte em que ele se expressa
com máximo esmero e amor.

32 - Ademar
É Poeta e Trovador
e um professor eficaz,
um competente advogado
que defende Leis e Paz;
e os versos que ele já fez
confesso... que ninguém faz!

33 – Delcy
Linda verdade nos dás,
grande poeta Ademar,
pois és o que mais trabalha
pra poesia divulgar
e, inda dizes que o Zé Lucas,
é quem mais sabe trovar!

34 - Prof. Garcia
É um eterno labutar
essa luta sempre a sós;
um no Sul, outro no Norte,
e o verso frio, sem voz,
quebrando o silêncio mudo
desta distância, entre nós.

35 – Gislaine
O nosso verso veloz
tem do arco-íris a cor
e a luz de muitas estrelas...
Tem a pureza do amor,
e a grandeza da amizade
para, em nosso mundo pôr!

36 - Zé Lucas
Aonde meu verso for
leva um fluido de esperança,
a juventude dos sonhos
e um sopro de brisa mansa,
pra mostrar que, neste mundo,
todo poeta é criança.

37 - Assis
E todo  poeta alcança,
via sonho, o esplendor
da esperança e da alegria
enquanto semeia o amor
neste mundo tão carente
de paz e humano calor.

38 - Ademar
Tal qual grande Trovador,
meus versos vivem jorrando.
Quando eu apronto um na mente,
já vem um outro brotando
e antes mesmo de escrevê-lo
já tem outro se formando...

39 – Delcy
Fico, às vezes, divagando
sobre  poemas  diversos,
que primam pela beleza
das suas rimas e versos
e  sonho ser "pajador"
pra cantar os universos!

40 - Prof. Garcia
A inspiração de meus versos
vem do infinito, do além;
dos arpejos dos suspiros
que as cordas da lira tem,
e do sorriso da noite,
de todo canto ela vem!

41 – Gislaine
Sonhamos como ninguém,
pois vivemos a emoção
que nos versos descrevemos...
E nos bate o coração,
embalado na alegria,
que nos desperta a afeição!

42 - Zé Lucas
Se acaso meu coração
bater errado algum dia,
não vou procurar remédio
para cardiopatia,
porque meu mal é saudade,
meu remédio é poesia. 

43 - Assis
Da saudade eu lhes diria
o que a seguir vou dizer:
- Saudade é dor diferente,
que, doendo, dá prazer;
é dor que só dói se a gente
tem do que saudade ter.

44 - Ademar
Eu também vou lhe dizer
o que eu sei sobre a saudade:
é um grande espinho que fere
e fura só por maldade,
se hospeda dentro da gente
e dói sem ter piedade...

45 – Delcy
Penso, amigo, que a saudade
não é um mal; é  um bem,
que se mostra diferente
e entra na vida de alguém,
pra lembrar, que no passado,
houve  ventura  também!

46 - Prof. Garcia
A saudade é um grande bem
na vida de um sonhador;
pois se não fosse a saudade
que provoca pranto e dor,
não havia entre os amantes
os lindos sonhos de amor!

47 – Gislaine
Sentimento encantador,
que fez lembrar juventude
e os dias bem coloridos
vividos em plenitude,
com imensas alegrias
que desfrutar, feliz, pude!

48 - Zé Lucas
O recordar é virtude
que cresce ao correr da idade,
trazendo de volta os sonhos
longínquos da mocidade,
e as lembranças mais felizes
viram filmes de saudade.
 
49 - Assis
Verdade, amigos, verdade,
procedem seus argumentos:
a saudade sintetiza
sonhos, glórias, sentimentos,
como um filme que eterniza
nossos melhores momentos.

50 - Ademar
A saudade traz tormentos
que nem um outro arremeda,
finge às vezes ir embora,
volta e nos dá outra queda...
E o sofrimento é maior
se no coração se hospeda!

51 – Delcy
Nosso coração não veda
sentimentos que aparecem,
como as lembranças que temos
de coisas que não se esquecem:
são as saudades, que chegam,
e, em nós, se hospedam e crescem!

52 – Prof. Garcia
Nossos versos não merecem
tratamentos desiguais;
são os fiéis guardiãs
que amamos  cada vez mais,
e a mais feliz harmonia
das liras celestiais!

 53 – Gislaine
Nossos versos são sinais
de que o que é bom, inda existe,
falamos com emoção
até de uma coisa triste
e conseguimos provar
que o que é bom, em nós, persiste!

54 - Zé Lucas
Mesmo quando o verso é triste,
transmite alguma alegria,
como a flor que desabrocha
sob a luz de um novo dia:
pode até gotejar pranto,
porém não perde a magia.

55 - Assis
Isso é próprio da poesia
e é assim que eu penso também:
se o verso às vezes é triste,
e certo azedume tem,
todavia nada existe
que nos faça tanto bem.

56 - Ademar
Quando a poesia vem
munida de inspiração,
ela não goteja prantos,
e sim, com muita emoção,
goteja gotas de amor
na bica do coração.

57 – Delcy
Sou tomada de emoção,
quando versos de amizade
chegam, às vezes, a mim,
em poemas de saudade,
e eu agradeço ao destino,
que me sorri com bondade!

58 - Prof. Garcia
Se o destino na verdade
aponta o nosso caminho,
que me dê a inspiração
de um poeta passarinho,
que canta versos ao vento
e faz serestas no ninho!

59 – Gislaine
Digo com todo o carinho,
é uma bênção ser poeta,
poder divagar em sonhos,
para atingir nossa meta
e, então, sentir-se feliz,
por ser, em verdade, esteta.

60 - Zé Lucas
Quando falece um poeta,
a terra guarda seu rastro,
a bandeira da poesia
tremula triste no mastro,
cala-se uma voz no mundo,
no céu brilha mais um astro.

Teresa Lopes ( Hélix, o Caracol)

Quando se nasce caracol nunca se pode prever o destino.

Uns passeiam-se languidamente pelos campos de verde-primavera, outros pelos jardins-do-alheio e outros são caracóis-de-cidade, o que faz com que sobrevivam mais a custo já se vê.

Hélix era um caracol-de-província. Terra pequena, mas farta de jardins e de quintais que até dava gosto morder.

E foi bem no meio de um canteiro cercado de buxo que o nosso amigo nasceu. Ninguém sabe bem como, mas a verdade é que, um belo dia de sol, lá estava Hélix, pela primeira vez na sua vida, entre dois pequenos pés de jarros, a deitar os corninhos à brisa da manhã.

Espera-me uma bela vida, pensou Hélix, não deve haver nada como esta luz quente para me aquecer a casa.

Mas quando umas nuvens escuras foram entrando pela manhã e o ar ameaçou uns pinguitos de chuva, corninhos para dentro, que ele não era flor e não precisava de rega.

Dormiu todo esse dia. Pudera, não é a toda a hora que se nasce. Já muito fizera ele aventurando-se a espreitar o mundo.

E a vida de Hélix foi prosseguindo à volta disto: ora espreitava o sol, ora fugia da chuva. A sua única distracção era a figura humana mais pequena lá de casa, duas tranças a escorrer pelos ombros, saia plissada, sapato de verniz acabado de estrear, que volta e meia parava à sua frente, aninhava-se à espera não se sabia de quê, e cantava uma lenga-lenga que, aos ouvidos de um caracol, soava assim:

Tu itica, tu incói,
Tem cóninhos como um bói,
Lagarato num é tu,
Fomiguinha tamém não.
Que bichinho será tu?
Eu sou um cacarói!

Verdade, verdadinha, Hélix não achava piada nenhuma àquilo. Mas desde que aquela criatura minúscula não o incomodasse nem o calcasse, tudo bem, que cantasse o que lhe desse na real gana.

E como os caracóis não sabem o que são dias, nem meses, nem anos, o nosso amigo lá foi contando muitos sóis e muitas chuvas, que só ouvia de dentro da sua casota, muito encolhidinho.

Não era mundano nem se dava a conversas. Queria lá saber se as rosas tinham florido, se as ameixoeiras estavam carregadinhas de frutos vermelhos. Se os jarros onde morava tinham tido um destino fatal quando foram precisos para enfeitar uma sala lá de casa. Queria lá ele saber o nome dos pássaros que debicavam à sua volta e por todo o jardim, enchendo o ar com melodias que os ouvidos de Hélix não conseguiam descodificar. Queria lá ele saber.

Ele nascera só, pois só viveria. E aquele canteiro chegava e sobejava. Conhecer mais mundo, para quê?

Mas o destino tem destas coisas. Numa bela tarde de Dezembro, quando Hélix se preparava para ver que tal estava o tempo do lado de fora da sua mansão, viu cair do céu umas pérolas muito pequenas, da cor mais pura que ele alguma vez vira.

Eram leves como o esvoaçar das borboletas. Gelavam-lhe as antenas e permaneciam no chão, como que a querer chamá-lo.

Admirou-se. Nunca na sua longa vida tal fenómeno vira. E extasiou-se de tal maneira, que se esqueceu de recolher os corninhos e de se fechar a sete chaves em sua guarita.

Como a vida é bela, pensava Hélix.

E os pensamentos iam fluindo cada vez com mais lentidão.

Que felizardo que eu sou. Pois estão a ver que o céu veio visitar-me? Que as
nuvens desceram das alturas só para me cumprimentar?

E sem dar por isso, enquanto olhava os cristais de água, com aqueles olhos que só os caracóis possuem, Hélix adormeceu, penetrou no sono mais doce que uma vida de nuvens pode dar... E nunca mais acordou.

Fonte:
LOPES, Maria Teresa. Histórias Que Acabam Aqui (ilustrações de Sara Costa). Edições ArcosOnline.com (www.arcosonline.com), abril de 2005.

Mario Rezende / RJ (Sonetos dos Sete Pecados Capitais)

A PREGUIÇA

A primeira pedra poderá atirar
A pessoa que nunca comigo flertou
E deixou-se pelos meus encantos levar
Mesmo tendo consciência de quem sou

Com desânimo de se relacionar
De não ouvir o que os outros querem dizer
De sentir de pensar e de realizar
De deixar pra depois, não querer aprender

Lerdeza na vida, tédio de viver
Nunca será um herói ou um vencedor
Aquele que por mim se deixar convencer

Com lentidão no pensar e sem perceber
Sou pecado capital, lhe deixo assim
Não aproveita nem conquista, nunca vai ser

A INVEJA

Da história do homem eu faço parte
Desde o início da sua evolução
Em qualquer lugar sempre viverei com arte
Amiga do sofrimento e desilusão

Do ganho ou sucesso que qualquer outro obtém
Nem preciso que seja eu a desfrutar
Procuro reduzir sempre e com desdém
E minha mágoa eu consigo compensar

Meu trabalho, diz a crendice popular
É cobiçar, pôr olho gordo ou mal-olhado
Naquilo que o outro conseguiu conquistar

Eu sou o mal secreto, pecado capital
Muitos indivíduos comigo convivem
Mas poucos admitem. Isso é natural.

A SOBERBA

Se vive na certeza que é o máximo
Um símbolo de valor e importância
Nem admite ser comparar ao próximo
Esbanja orgulho, altivez e arrogância

Se você não admite a humildade
Venera a sua própria existência
Sem se conscientizar da realidade
Pensa que é centro e circunferência

Por mim, mais alguns vícios virão
Pois o pecado que a você domina
É, também, hipocrisia e ambição

De inocente sempre passo ilusão
Porém, da pessoa que contamino
Sou ainda seu algoz e perdição

A GULA

Assim como uma mulher linda de morrer
E de corpo escultural, sou bem desejada
Bela e harmoniosa pra você querer
E nunca pensar em me abandonar por nada

O que seus olhos vêem eu lhe faço querer
Muito mais do que necessita possuir
feito saco de vaidades você vai encher
E com voracidade mais vai consumir

Não admite que perdão você não merece
Para tudo que deseja, embora em excesso
E continua a obter o que apetece

Sou  pecado capital,  trabalho discreta
Transformado por impulso alheio à razão
Escravo do querer você será, na certa

A LUXÚRIA

Vivo para satisfazer uma paixão
Com a impulsividade desenfreada
para buscar a almejada satisfação
Que será, prazerosamente, conquistada

Procurando fugir do convencional
Desfruto do doce poder de dominar
Sou excêntrica, libertina e sensual
Pervertida é como eu sei de atuar

Desvirtuar o homem é o meu ofício
Paixão, amor, exacerbação de desejos
Sou a fuga do amor em compulsão, um vício

Pecado capital, falta de harmonia
Prazer que desordenadamente alucina
Sentimento intenso, mas pura fantasia

A IRA

Nascida de desgosto e desilusão
Permaneço no seu íntimo escondido
Posso causar sofrimento e aflição
Provocar a explosão do afeto contido

Eu sou o impulso que permite atacar
Paixão que incita agir contra alguém
Desejo descontrolado de se vingar
Ódio e raiva são forças que me mantém

Quem comigo vive muita intimidade
Deixa de controlar com rigor os impulsos
E sempre vai perder a racionalidade

Corrosiva e destrutiva emoção
Propulsora freqüente de más decisões
Firo sujeito e objeto da ação

A AVAREZA

O pecado sempre se opõe à virtude
Numa intricada trama inconsciente
Com habilidade a pessoa ilude
Agindo sempre de maneira diferente

Desordenado afã de ter e ter mais
Juntar incontrolavelmente para ser
E reter sem querer se desprender jamais
Como se para sempre pudesse viver

Quem comigo passa a vida a flertar
De pão-duro e de mesquinho é chamado
Pois nem consigo se atreve a gastar

Sofrendo a patologia do reter
Passará consumido por medos e culpas
Num poço de insegurança a viver

Fontes:
Recanto das Letras 
Indicação do poeta por Carlos Leite Ribeiro (Portal CEN)
Imagem = http://www.tuct.com.br

Machado de Assis (Badaladas – 20 de outubro de 1872)

A notícia dada por um jornal paraense de que um candidato se envenenara ao saber do resultado de alguns colégios eleitorais, tem-me dado que pensar até hoje.

O mesmo acontece ao meu moleque.

— Nhonhô, dizia-me ontem este interessante companheiro de doze anos, ser deputado é então uma coisa muito superfina. Ninguém se mata porque não tirou a sorte ou porque perdeu o primeiro ato do Ali-Babá.

— Assim é, respondi eu, conquanto uma eleição seja mais ou menos uma loteria. Poucos prêmios e muitos bilhetes brancos.

Nem será difícil achar semelhança entre uma eleição e uma mágica; avultam em ambas as visualidades e tramóias. Até há música na eleição: variações sobre motivos dos queixos. Há também fogos de. . . bengala.

Em todo caso, querido moleque meu, custa-me a engolir a notícia, que me cheira a carapetão. Ser deputado é bom, direi até excelente; mas, com seiscentos fósforos!não é motivo para entrar na eternidade!

...... O que? Se eu nego o suicídio político? Não, moleque, eu não nego o suicídio político. Eu tenho notícia da morte de Catão.

Todavia, três colégios eleitorais não fazem uma Pharsalia, nem a república expirou em Serpa.

Eu compreendia o suicídio político (ainda que anacrônico), se a eleição do candidato estivesse ligada a sorte da liberdade e da nação.

Bem, direi eu, aquilo já não se usa; ninguém se mata hoje por essas duas moças; mas em suma o candidato era um romano transviado no século XIX. Viu que depois da expressão das três urnas a constituição era simplesmente o nome de uma praça no Rio de Janeiro e uma fórmula de terminar decretos.

. . . Pátria, ao menos,
Juntos morremos!. . .

E expirava com a pátria, e eu não tinha nada que dizer nem duvidar.

Mas duvido e duvido muito. A folha do Pará tem obrigação de verificar a notícia e informar os seus leitores, em cujo número estou.

Na cidade de Porto Alegre há grandes queixas contra as badaladas... Descansem; falo das badaladas dos sinos.

Há abusos, dizem as folhas, nos toques dos sinos por ocasião de cerimônias fúnebres.

Que fez então o governador do bispado?

Ordenou imediatamente que cessasse o abuso, transcrevendo vários artigos da Constituição sinodal.

Até aqui tudo vai bem.

Notei, entretanto, na Constituição sinodal uma coisa, que naturalmente tem explicação, mas que eu não compreendo. Diz-se aí que por um homem haverá três badaladas, por uma mulher duas, e por uma criança uma, ou seja macho ou fêmea.

Ora, por que motivo os filhos de Adão terão direito a mais uma badalada do que as filhas de Eva? Um defunto é um defunto. Não há necessidade, penso eu, de indicar aos fregueses da paróquia o sexo do cristão que cessou de viver, porque o padre-nosso é um para todos, e se as três badaladas querem dizer que os fiéis devem rezar mais alguma coisa, quando se trata de um homem, há nisto uma tal parcialidade masculina, que eu não posso deixar de a denunciar ao sexo oposto, como dizia um deputado provincial.

Repito, há alguma razão que eu não compreendo, e por isso limito-me a exprimir a dúvida. Para alguns leitores fluminenses há de parecer curioso que ainda exista o uso dos toques fúnebres no Rio Grande.

Isto me faz lembrar que também o tivemos aqui, e que se acabou, naturalmente por pedido dos fiéis, o que inspirou algumas belas linhas ao folhetinista do Jornal do Comércio em 1854.

Não o tenho à mão; mas lembra-me que ele lastimava que se houvesse posto termo ao uso dos toques fúnebres e pedia a vinda de algum Chateaubriand que nos reescrevesse o que o outro havia dito da poesia religiosa dos sinos.

Não é preciso dizer que o Chateaubriand não veio. Em compensação veio o Zuavo da liberdade. Uma correspondência do Apóstolo critica um redator do Pelicano por afirmar que Galileu dissera: e pur si muove. Quer o correspondente que devesse dizer: e pur si muovere. Isto espanta-me ! Conversavam X e Z a propósito da festa da Penha. Z perguntou donde vinha o uso da romaria. O interrogado ia justamente perguntar a mesma coisa, mas não hesitou em responder:

— É um uso romano. A austera república tinha esses dias de festa, semelhantes às férias latinas, e era então que todo o povo dava largas ao prazer. Pode-se dizer que nessas ocasiões Roma ria.

DEFINIÇÕES

Calça de meia: eufemismo da perna.
Luar: — rio francês que se pode ver em toda a parte.
Bossas: — protuberâncias no crânio, onde nunca se demoram os ratoneiros, porque as passam. Verdade é que tem medo de passá-las sozinhos; passam com — C — cedilhado.
Beijo: — principio fim.
Carraspana: — forma popular do good spirit.
Olhos: — batedores do coração.

Fonte:
Obra Completa, Machado de Assis, Rio de Janeiro: Edições W. M. Jackson,1938. Publicado originalmente na. Semana Ilustrada, Rio de Janeiro, de 22/10/1871 a 02/02/1873.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 619)

Uma Trova de Ademar 

Quem tem Deus, por devoção
e é seguidor de Jesus,
no túnel do coração
tem sempre acesa uma luz!...
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional 


Grande contraste, de fato,
há na história de nós dois:
o amor - passou como um jato...
Saudade - em carro de bois...
–Larissa Loretti/RJ–

Uma Trova Potiguar 


Eu me sinto satisfeito
quando, em horas sossegadas,
vejo no cais do meu peito
as saudades ancoradas.
–Reinaldo Aguiar–

Uma Trova Premiada 


1986  -  UBT-Natal/RN
Tema  -  NETO  -  5º Lugar


Um avô, quase no fim,
junto aos netos, seus amores,
parece um velho jardim
todo cercado de flores.
–Dimas L. de Almeida/PRT–

...E Suas Trovas Ficaram 


Qualquer frase acerba e dura
que ela me atira, eu sorrio;
pois encerra tal doçura
que parece um elogio...
–Catulo da Paixão Cearense/CE–

Uma  Poesia 


Saudade é um sentimento
que nos afeta demais
é vendaval de lembranças
sobre a bandeira da paz,
cachorro que morde o dono,
calmante que tira o sono,
fogo nos canaviais!
–Wellington Vicente/PE–

Soneto do Dia 
ESTRELA DA MANHÃ.
–Hegel Pontes/MG–


Estrela da manhã que resplandece
no céu espiritual de minha vida,
vislumbro em seu olhar a mesma prece
que envolve ao longe a solitária ermida.

Brilha no azul. Porém quando escurece,
não passa de uma lágrima perdida
na imensidão da noite que aparece,
de estrelas fulgurantes, revestida.

E, levando meus sonhos noite afora,
eu posso vê-la ainda ao sol nascente,
quando as estrelas todas vão embora.

Pois só você, estrela entristecida,
não tem repouso e brilha suavemente
no céu espiritual de minha vida.

Efigênia Coutinho (Mulher Mãe e Futura Avó)

Eu vou vendo na face da terra muitos animais errabundos, são aves, peixes, quadrúpedes. Vejo o bailado das andorinhas fenderem o céu atravessando o Oceano infinito. E vi o alcião nunca repousar as asas cansadas, suspensas sempre entre o azul do céu e o azul do grande mar. Sei também que os peixes passam dum a outro mar, e que as baleias viajam dum a outro pólo. Mas nenhuma espécie destas, vive uma vida como nós os seres humanos.

Talvez eu tenha ânsia em procurar para minha vida, um sentido mais alegre, como se eu fosse um peixe, pois procuro mais a fonte que a terra, e onde ela esta se não se espelha na onda, afigura-se que está morta toda a natureza humana. Procuro a água, amiga minha, ao pé das geleiras, onde gota a gota, estilando entre os granitos, vai beijando os macios musgos e miosótis azuis.

Murmuram, ou antes balbuciavam aquela água palreira, como os sons duma criança que aprende a falar. Provei desta água, e achei-a doce como mel, continuei minha busca, desci da geleira pela encosta dos montes, e arroios, regatos e torrentes me encantavam as alegrias da água criança tornada menina.

Bebi sedenta daquela água, e achei-a mais doce ainda. Os regatos e as torrentes desciam sempre, desciam todos, procurando no leito dos rios, não sei dizer o que, talvez o puro Amor, para o qual correm com ânsia fadigosa todas as criaturas vivas. Continuei a descer os rios, que correm um após outros com fúria crescente. Provei todas essas águas, e eram sempre adocicadas.

A água criança havia-se tornado menina, e depois uma mulher, e um tempo depois uma MÃE. Todas essas águas são doces, porque são lágrimas espremidas dos olhos duma mulher Mãe, das que Amam e são Amadas, das que bendizem ao bom Deus pela vida vivida. E regatos palreiros, e torrentes ruidosas, e rios murmurantes desta vida, tem pouca água, visto como as alegrias duma Mãe que vai vendo a vida nascendo noutro ser, e o poder sublimado de Deus em ser Avó.

Fontes:
A Autora
Imagem = http://saudeoeste.blogspot.com

Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa (Parte 4: S. Tomé e Príncipe)

A evolução social de São Tomé e Príncipe teria sido paralela, em muitos aspectos, à de Cabo Verde [31]. Mas, em meados do século XH, implantando-se o sistema de monocultura, a burguesia negra e mestiça vai ser violentamente substituída pelos monopólios portugueses, o processo social do Arquipélago alterado e travada a miscigenação étnica e cultural. Mesmo assim, não podem deixar de ser considerados os efeitos do contacto de culturas. A sua poesia, de um modo geral, exprime exactamente isso; mas, na essência, é genuinamente africana.

A primeira obra literária de que se tem conhecimento relacionada com S. Tomé e Príncipe é o modesto livrinho de poemas Equatoriaes (1896) do português António Almada Negreiros (1868 — 1939), que ali viveu muitos anos e terminou por falecer em França. A última é a de um moderno poeta português, crítico, e professor universitário em Cardiff, Alexandre Pinheiro Torres, cujo título, A Terra de meu pai (1972), nos fornece uma pista: memorialismo bebido na ilha, por artes superiores de criação literária metamorfoseada na ilha «que todos éramos neste país solitário». Sem uma revista literária, sem uma actividade cultural própria, sem uma imprensa significativa, apesar do seu primeiro periódico, O Hquador, ter sido fundado em 1869, com uma escolaridade mais do que carencial os reduzidos quadros literários do Arquipélago naturalmente só em Portugal encontraram o ambiente propício à revelação das suas potencialidades criadoras. O primeiro caso acontece logo nos fins do século XIX com Caetano da Costa Alegre (1864 — 1890), {Versos, 1916) cuja obra foi deixada inédita desde o século passado. Cabe aqui, todavia, uma referência particular ao teatro a que poderemos chamar «popular», pelas características e relevância que assume no arquipélago de S. Tomé e Príncipe. Trata-se, em especial, de duas peças: O tchiloli ou A tragédia do Marquês de Mântua e de Carloto Magno e do Auto de Floripes, mas com preferência para a primeira. A segunda oriunda da tradição popular portuguesa; e O tchiloli supõe-se ser o auto do dramaturgo português do século XVI, de origem madeirense, Baltasar Dias, levado, tudo leva a crer, pelos colonos medeirenses na época da ocupação e povoamento. Reapropriados pela população de S. Tomé (e do Príncipe) estão profundamente institucionalizados no Arquipélago, principalmente O tchiloli mercê da actuação de vários grupos teatrais populares que, continuadamente, se dão à sua representação, enriquecida por uma readaptação do texto e encenação, cenografia e ilustração musical notáveis.

Parece ter sido um homem infeliz, em Lisboa, o autor de Versos, Costa Alegre: Tu tens horror de mim, bem sei, Aurora, Tu és dia, eu sou a noite espessa [32] «Aurora» aqui é um ente humano e não um fenómeno cósmico. A ambiguidade resolve-se na leitura completa do poema. Caetano da Costa Alegre utiliza este signo polissémico com a intenção, ao cabo, de ele traduzir a cor branca: És a luz, eu a sombra pavorosa, Eu sou a tua antítese frisante [33]

A poesia de Caetano da Costa Alegre, na quase totalidade, funciona espartilhada num mecanismo antitético. Exprime a situação desencantada do homem negro numa cidade europeia, neste caso Lisboa. Versos é, porventura, a mais acabada confissão que se conhece, quiçá mesmo nas outras literaturas africanas de expressão europeia, do negro alienado. Costa Alegre, não se dando conta (impossível, diríamos, no século XIX e no tempo cultural e político da área lusófona) das contradições que o bloqueavam, faz-se cativo da sua condição de humilhado:
A minha côr é negra, Indica luto e pena; És luz, que nos alegra, A tua côr morena. É negra a minha raça, A tua raça é branca,
Todo eu sou um defeito [34]

Como tenta Costa Alegre desbloquear-se desta situação? Porque «negra» é a sua «raça», «todo» ele é um «defeito». Como pode ele reencontrar o seu equilíbrio psíquico? Alienado, /«-consciencializado, batido no deserto social em que se movimenta, então cura libertar-se através de uma compensação. Revoltando-se? Clamando contra a injustiça que o atinge? Não. Contrapondo atributos morais.

«Ah! pálida mulher, se tu és bela, [...] Ama o belo também nesta aparência!» [35]. Amiúde as relacionações antinómicas vai buscá-las ao Cosmo:

«Só explendor por fora,
Só trevas é no centro!
O Sol, és meu inverso:
Negro por fora, eu tenho amor cá dentro» [36]

Com efeito, a sua poesia é a de um homem infelicitado. Amiúde recorrendo à comparação e à antítese, as figuras mais pertinentes são as que significam ou simbolizam as cores «negro» e «branco». Da erosão da sua alma transita para a obsessão infeliz, lutando por restabelecer a sua dignidade no refúgio do apelo à evidência moralizante, por norma em poemas lírico-sentimentais ou de amor. Versos fica como o primeiro e único texto onde o problema da cor da pele actua como motivo — e de uma forma obsessivamente dramática. Consideramo-lo o caso mais evidente de negrismo da literatura africana de expressão portuguesa. Alguns autores angolanos coevos de Costa Alegre deram também uma contribuição para este fenómeno, mas percorrendo um espaço menos significativo.

Perspectiva Geral

Temos deste jeito, e em resumo, o seguinte: cedo se esboça uma linha africana, irrompendo de um sentimento regional e em certos casos de um sentimento racial fundo, mas postulado ainda em formas incipientes que, tenazmente, abre um sulco profundo por entre a literatura colonial. De sentimento regional se transita para sentimento nacional, que vai dar lugar, entretanto, a uma literatura alimentada já por uma verdadeira consciência nacional e daí uma literatura africana, caracterizada pelos pressupostos de intervenção.

Ora, os fundamentos irrecusáveis de uma literatura africana de expressão portuguesa vão definir-se, com precisão, deste modo: a) — em Cabo Verde a partir do revista Claridade (1936 — 1960); b) — em S. Tomé e Príncipe com o livro de poemas Ilha de nome Santo (1943), de Francisco José Tenreiro; c) — em Angola com a revista Mensagem (1951—1952); d) — em Moçambique com a revista Msaho (1952); e) — na Guiné-Bissau com a antologia Mantenhas para quem luta! 1977.
-------------
Notas

31    Francisco José Tenreiro, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe: Esquema de uma evolução conjunta. Sep. do Cabo Verde, ano III, n.° 76. Praia, Cabo Verde, 1956, pp. 12-17.

32    Caetano da Costa Alegre, Versos, 1916, p. 26.

33    Idem, p. 26.

34    Idem, p. 47.

35    Idem, p. 61.

36    Idem, p. 100.
 
Continua… Cabo Verde – 1. Lírica

Fonte:
Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa I Biblioteca Breve / Volume 6 – Instituto de Cultura Portuguesa – Secretaria de Estado da Investigação Científica Ministério da Educação e Investigação Científica – 1. edição — Portugal: Livraria Bertrand, Maio de 1977

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Sexteto em Sextilhas (Parte 1)


01 - Assis
Zé Lucas, Delcy, Gislaine,
Assis, Garcia, Ademar:
eis o Sexteto em Sextilhas,
pronto para decolar.
Preparem-se, pois, irmãos,
porque o vôo vai começar.

02 - Ademar
Pronto estou pra decolar
e a inspiração me reveste.
Quero ser um elo forte
na construção inconteste
desta ponte de poesia
ligando o Sul ao Nordeste.

03 – Delcy
Sei, amigo, que quiseste
criar novas maravilhas,
pois és um elo bem forte
a cavalgar nas sextilhas,
e espero participar
destas pampeanas coxilhas!

04 – Prof. Garcia
São tantas as nossas trilhas
nesta nova caminhada,
que vou pedir a Jesus
inspiração renovada,
para guiar meu destino
até o fim da jornada.

05 – Gislaine
Eu peço o sonho, mais nada!
Vou continuar a sonhar...
O sonho enfeita meu mundo
e não me deixa chorar,
me dá ternura e alegria
me ajuda a vida, levar!

06 - Zé Lucas
Acostumei-me a lutar
mais do que muitos, talvez,
mas um debate tão amplo,
como este, nunca se fez,
reunindo meia dúzia
de poetas de uma vez.

07 –  A. A. de Assis
Três do Sul, Nordeste três,
seis operários da rima,
cultores da bela arte
que a fantasia sublima,
e que talvez aqui teçam,
brincando, uma obra-prima.

08 - Ademar
Buscamos a melhor rima,
pois inspiração não falta;
nossas mentes brilham mais
do que as luzes da ribalta,
e na bolsa da poesia
nosso verso está em alta.

09 – Delcy
Cada sextilha  ressalta
o  desejo que nos move,
poetizar com esmero
e que o nosso verso prove,
a  todo amigo  que o  leia,
nosso  desejo e o aprove!

10 - Prof. Garcia
Que o leitor não desaprove
nem seja incréu nem ingrato
pois este nosso trabalho
se reveste de um bom trato,
feito com muito carinho
esmero, amor e aparato.

11 – Gislaine
Este Sexteto é de fato
velho sonho que eu queria,
traz a mim,  felicidade,
junto aos astros da poesia, 
torna verdade o  meu sonho...
Vem iluminar meu dia!

12 - Zé Lucas
Este mundo da poesia
tem coisas surpreendentes,
como este belo debate
que estimula nossas mentes
a captar versos e rimas
nascidos de seis vertentes.

13 - Assis
Meia dúzia de vertentes
num permanente cantar,
jorrando paz e poesia
para este mundo alegrar
e ao final, na foz, lá adiante,
encher de sonhos o mar.

14 - Ademar
Nasci sem saber rimar,
mas eu estou aprendendo,
e tendo Assis como mestre
cada vez mais vou crescendo,
e vejo o quanto aprendi,
nos versos que eu vou fazendo.

15 – Delcy
Os versos que vens fazendo
atestam que és cantador,
independente do Assis
ou de outrem, seja quem for;
e,  nós gaúchas, pedimos:
sê  o  nosso  professor!
 
16 – Prof. Garcia
Sou apenas sonhador
em constantes desatinos,
palmilhando este debate
com versos tão pequeninos,
buscando caminhos certos
na luz de nossos destinos.

17 – Gislaine
Ouço o badalar dos sinos,
e com certeza é um sinal
que Deus também é poeta,
o Poeta Universal,
que guiará nossos versos,  
nosso destino, afinal!

18 – Zé Lucas
Na corte celestial
a luz da poesia brilha,
e é de lá que recebemos
a visão de nossa trilha
e as peças fundamentais
da construção da sextilha.

19 - Assis
"Nenhum homem é uma ilha",
disse um famoso poeta.
E é por isso que aqui estamos
cumprindo a bonita meta
de unir o Sul ao Nordeste
com nossa alma inquieta.

20 - Ademar
A minha mão só se aquieta
quando eu escrevo um repente
da transmutação dos versos
formados na minha mente,
num rasgo de inspiração
Que Deus manda de presente...

21 – Delcy
O nosso nordeste, gente,
tem grande facilidade
de divulgar repentistas
que um certo ciúme me invade,
mas, se o Senhor me ajudar,
Crescerei "barbaridade"!

22 - Prof. Garcia
Crescer, Delcy, na verdade
é nosso sonho de esteta;
no barco em que navegamos
cada barqueiro é poeta;
no balanço da sextilha
nosso verso se completa.

23 - Gislaine
Atingimos nossa meta
nesse balanço gostoso
desse mar que nós criamos,
vezes alegre ou saudoso,
pelas sextilhas surfando
num  versejar primoroso!

24 - Zé Lucas
Eu sinto o clima gostoso
de uma sextilha sonora
que me invade o coração
como o Sol invade a aurora;
ela me ferve por dentro,
um minuto, e pula fora!

25 - Assis
Aos bons parceiros, agora,
de todo o meu coração,
e a quantos outros nos leiam
por este vasto mundão,
aqui deixo um grande abraço,
mais que de amigo, de irmão.

26 - Ademar
Com a pureza do sertão
te digo sem embaraço,
que a poesia no Brasil
ganha agora um novo espaço,
pois meu verso sem o teu,
fica faltando um pedaço!

27 – Delcy
Eu envio o meu abraço
ao quinteto que sextilha,
e peço que me desculpe
o cochilo em minha trilha.
Prometo ter mais cuidado:     
tenho sangue  farroupilha!

28 – Prof. Garcia 
Nosso sexteto em sextilha
todo instante se refaz;
por cada idéia que chega
novo repente se faz,
em vez de guerra de versos,
fazemos versos de paz.

29 – Gislaine
Fazer  versos  satisfaz
nossa alma sempre sedenta,
sedenta de amor e paz.
O verso acalma a tormenta
deste mundo desigual,
onde a desventura aumenta!

30 - Zé Lucas
A poesia nos traz
um clima de amenidade,
balsamiza o coração,
mata o vírus da maldade,
desagasalha a tristeza
e aninha a felicidade.
---------
continua...

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 618)

Uma Trova de Ademar 

Meu momento mais doído
foi perder quem tanto adoro,
por isso eu choro escondido
para ninguém ver que eu choro!
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional 


Recordando o meu passado
vejo passar, no presente,
todo "passado" guardado
no espaço da minha mente!
–Nemésio Prata/CE–

Uma Trova Potiguar 


Desta saudade infinita
não guardo mágoas, porque
foi a coisa mais bonita
que me ficou de você!
–Aparício Fernandes/RN–

Uma Trova Premiada 


1992  -  Amparo/SP
Tema  -  TREVAS  -  M/H


A nossa fé é a virtude
que nos dá tanto otimismo,
que deixa ver, da altitude,
a flor nas trevas do abismo!
–Domitilla Borges Beltrame/SP–

...E Suas Trovas Ficaram 


A mentira é como a bola
de neve, descendo o cume.
Quanto mais a esfera rola,
mais aumenta de volume!
–Carolina A. de Castro/PE–

Uma Poesia 


Me inspiro nas cantilenas
e no sussurro das fontes,
no canto dos passarinhos
e no silêncio dos montes;
se a natureza me inspira,
enxergo as cores da lira
nas cores dos horizontes!
–Prof. Garcia/RN–

Soneto do Dia 

SEM PALAVRAS.
–Bernardo Trancoso/SP–


Não pode ser você quem vejo aqui!
Sim, sou... Que bom te ver! Tempo passou,
Você cresceu... Você também mudou...
Por onde andou? Aí... Muito aprendi!

Por que voltou? Saudade deu de ti!
Não fale assim... É, sim... Quem me ensinou
O amor, nunca esqueci... por isso, estou
Aqui! Prá ter de volta o que perdi!

Anos depois... Pois é... Um dia, eu cá
Pensei, não voltará! Errei... Você
Deixou-me a dor, mas cri... Quem ama, crê!

Foi tanto o que sofri! Não sofrerá!
Se depender de ti... Mudei! Virá?
Vou... Sem palavras, já... Falar, prá quê?