quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Cecy Barbosa Campos

Cecy Barbosa Campos, é natural de Juiz de Fora (MG), Bacharel em Direito e licenciada em letras (inglês) pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Especialização em Teoria Literária e diversos cursos de aperfeiçoamento em inglês nos Estados Unidos e na Inglaterra. Professora de Literatura Inglesa e Norte-Americana, aposentada em 1991 na UFJF. Leciona nos cursos de graduação e pós-graduação do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Desenvolve pesquisas sobre escritores afro-descendentes.
Tem artigos de pesquisa literária publicados em revistas especializadas e anais de congresso e trabalhos em prosa e verso premiados em concursos.
Entidades a que pertence
Academia Juizforana de Letras. Academia Granberyense de Letras, Artes e Ciências. Academia de Letras Rio-Cidade Maravilhosa; Academia Rio Pombense de Letras, Ciências e Artes. Academia de Letras e Artes de Fortaleza, Clube de Escritores de Piracicaba. Academia de Letras do Brasil/ Mariana. Academia de Letras do Brasil/Seccional Suiça. Ateneu Angrense de Letras e Artes. Associação Brasileira de Literatura Comparada. Academie Mérite et Dévouement Français. Divine Academia des Arts, Lettres et Culture Française
Publicações:
The Iceman Cometh: a carnavalização na tragédia ; O Reverso do Mito e outros ensaios ; Recortes da Vida: contos e crônicas ; Cenas (poemas) ; Crepusculares (aldravias) ; Caleidoscópio (poetrix)
Participações:
– Coleção Prosa e Verso, do Grupo Sul-mineiro de Poesia e Academia Varginhense de Letras; - Modernos Contos Brasileiros; - Antologia da Academia Dorense de Letras; - Antologia Letras Contemporâneas; - Prêmio Missões; - Antologia del`Secchi; – Antologia da Academia Chapecoense de Letras; – Antologia Lumens (prêmio Walmir Ayala, 2012); – A Écrivains contemporains du Minas Gerais (França); – Livro das Aldravias (Portugal), etc.. Capítulo A Poética de Conceição Evaristo, no livro Um Tigre na Floresta dos Signos: estudos sobre poesia e demandas sociais no Brasil (2010), organizado por Edmilson de Almeida Pereira.

Olivaldo Júnior (O diário)

   
Não, não era o diário da Anne Frank, a da Segunda Guerra, nem o da Helena, da novela Por Amor, de Manoel Carlos. Era o diário de uma moça que não tinha namorado, nem sabia se teria. Por isso, talvez muito por isso mesmo, enchia as bordas de cada página com mil anjinhos e florzinhas, corações e doces símbolos, como adolescente. Não, já não era mais mocinha. A mulher em que se tornara escrevia seu diário num papel rosado, como a dizer para si mesma, feito Edith Piaf, que "via a vida em rosa". Rosa. Eis a cor de que mais gostava. Por que a vida não podia ser só nessa cor?
  
  Noite a noite, chegava, tomava um coffe, comia uns biscoitos e já pegava seu "querido diário", louca para lhe contar as novidades!... O caso é que não havia muitas, não. Na verdade, quase nenhuma. Levava uma vida sem graça, previsível, presumível, resumível a poucas linhas inéditas, sendo que as sequentes poderiam conter apenas a expressão: idem às anteriores. Pode ser mais sem graça que isso? Perdera a conta de quantos romances tinha lido, de a quantas novelas e filmes tinha visto, sonhando, como a "rosa púrpura do Cairo", que o herói saltaria direto da tela para sua vida.
 
Nunca levava o diário para lugar nenhum. Mas houve uma vez... Vixi! Ela o levou. Estava com alguns minutos a mais de almoço, então aproveitaria o tempo com seus escritos. Pra quê! Não sei se foi quando se sentou no último banco do ônibus, mas ela o perdera... Um pouco de la vie em rose com que sonhava estava para sempre perdida!... Bem, às vezes o que se perde pode ser achado. Foi com esse pensamento que se pôs a divulgar o sumiço do diário. Passava noites navegando na Internet, para ver se alguém falava que tinha encontrado suas confidências por aí, sem saber.
 
    Desanimada, passado mais de um mês do sumiço do motivo de seus sonhos, decidiu se esquecer de que, um dia, tinha tido um diário. Aproveitando, limpou as gavetas, jogou uns papéis fora, amassou lembranças que não lhe faziam (nem fariam) bem. A gente acumula coisas e, quando vê, parece uma mula, um burrinho de carga, com o mundo nas costas. Ser leve era bom. Não mais encontraria o diário de sua vida. Pronto. Aceitava. Mas, ao puxar a última gaveta do armário para limpá-la, notou um velho livro e, logo abaixo, uma pequena florzinha à mostra. Puxou o livro de cima e... voilà! Era o danado do diário, que ela escondera na noite anterior ao "sumiço", com medo de que o sobrinho, que a visitaria com sua irmã no dia seguinte, arteiro como o quê, rasgasse o querido diário de sua alma. Nunca mais o largou. Seu príncipe nerd viria.

Fontes:
O Autor
Imagem - http://diariodoiniciante.blogspot.com

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Contos Populares Portugueses (A Bela e a Cobra)

Era uma vez um rei que tinha três filhas, uma das quais era muito formosa e ao mesmo tempo dotada de boas qualidades. Chamava-se Bela. O rei tinha sido muito rico, mas, por causa de um naufrágio, ficou completamente pobre.

Um dia foi fazer uma viagem. Antes, porém, perguntou às filhas o que queriam que ele lhes trouxesse.

- Eu - disse a mais velha - quero um vestido e um chapéu de seda.

- Eu – disse a do meio – quero um guarda-sol de cetim.

- E tu que queres? - perguntou ele à mais nova.

- Uma rosa tão linda como eu - respondeu ela.

- Pois sim - disse ele.

E partiu.

Passado algum tempo, trouxe as prendas de suas filhas. E disse à mais nova:

- Pega lá esta linda rosa. Bem cara me ficou ela!

Bela ficou muito preocupada e perguntou ao pai porque é que lhe tinha dito aquilo. Ele, a princípio, não lhe queria dizer, mas ela tanto insistiu que ele lhe respondeu que no jardim onde tinha colhido aquela rosa encontrara uma cobra, que lhe perguntou para quem ela era. Respondeu-lhe que era para a sua filha mais nova e ela disse que lhe havia de levar, senão que era morto.

Consolou-o a menina:

- Meu pai, não tenha pena, que eu vou.

Assim foi. Logo que ela entrou naquele palácio, ficou admirada de ver tudo tão asseado, mas ia com muito medo. O pai esteve lá um pouco de tempo e depois foi-se embora. Bela, quando ficou só, dirigiu-se a uma sala e viu a cobra. Ia deitar-se quando começaram a ajudá-la a despir. Estava ela na cama quando sentiu uma coisa fria. Deu um grito e disse-lhe uma voz:

- Não tenhas medo.

Em seguida foi ver o que era e apareceu-lhe a cobra. A menina, a princípio, assustou-se, mas depois começou a afagá-la. No outro dia de manhã apareceu-lhe a mesa posta com o almoço. Ao jantar viu pôr a mesa, mas não viu mais ninguém. A noite foi deitar-se e encontrou a mesma cobra. Assim viveu durante muito tempo, até que um dia foi visitar o pai. Mas quando ia a sair ouviu uma voz que lhe disse:

- Não te demores acima de três dias, senão morrerás.

Lá seguiu o seu caminho, já esquecida do que a voz lhe tinha dito. E chegou a casa do pai. Iam a passar os três dias quando se lembrou que tinha de voltar. Despediu-se de toda a sua família e partiu a galope. Chegou já à noite e foi deitar-se, como tinha de costume, mas já não sentiu o tal bichinho. Cheia de tristeza, levantou-se pela manhã muito cedo, foi procurá-lo no jardim e qual não foi a sua admiração ao vê-lo no fundo dum poço!

Ela começou a afagá-lo, chorando, e caiu-lhe uma lágrima no peito da cobra. Assim que a lágrima lhe tocou, a cobra transformou-se num príncipe, que ao mesmo tempo lhe disse:

- Só tu, minha donzela, me podias salvar! Estou aqui há uns poucos de anos e, se não chorasses sobre o meu peito, ainda aqui estaria cem anos mais!

O príncipe gostou tanto dela que casaram e lá viveram durante muitos anos.

Fonte:
Viale Moutinho (org.) . Contos Populares Portugueses. 2.ed. Portugal: Publicações Europa-América.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Maria Helena Calazans Machado Duarte (Caderno de Trovas)



1
A educação é candeia,
faz da treva o amanhecer,
nas campinas que semeia
vê-se o futuro nascer.
2
A sogra morre aos noventa,
deixa ao genro uma bolada.
Trancafiado ele comenta:
– “Só grana falsificada”.
3
A tenista, uma vedete,
deu no parto um trabalhão;
foi um sufoco a raquete
que o nenê tinha na mão!
4
– Babá é gente também?
- Claro, meu filho, por quê?
- É que o papai diz: “Meu bem,
de que planeta é você??!!”
5
Comete um atroz pecado
o tempo, em seu transcorrer,
roubando o instante sonhado
que acabamos de viver.
6
Com imprevistos sem conta,
 segue-se a estrada escolhida.
 Certeza é um lápis sem ponta
 que tenta escrever a vida.
 7
Consegue a paz verdadeira
 quem, ao levar sua cruz,
 transforma os nós da madeira
 em claros fachos de luz.
8
De Deus o céu nós roubamos
e é de Deus a nossa voz,
quando, em silêncio, deixamos
que o amor discurse por nós.
9
Diz a boca à dentadura:
“Fique firme, ande na linha,
não me faça a diabrura
de dar uma escapadinha!”
10
“Do peitoril da sacada
ele pulou, coitadinho,”
diz a viúva transtornada,
“só dei um empurrãozinho!!”
11
Em trambiques pela rua
não consegue mais lembrar
se a mulher é mesmo sua
ou se acabou de trocar.
12
Esperança é um passarinho
que, mesmo em desigualdade,
mantém o calor do ninho
na fúria da tempestade.
 13
“Fiz três bolos, tirei um,
quanto sobra, garotada?
Os guris: - nenhum, nenhum,
bolo aqui não sobra nada!
14
Fogo em casa, que sujeira,
e o dono, um bêbado, enérgico:
– “Bombeiro, largue a mangueira.
Água não, que eu sou alérgico!”
15
Funcionário em treinamento
contra incêndio, ao zelador:
– “Pus fogo num pavimento.
Só me esqueci do extintor!”
16
Ganha o pobre num transplante
o cérebro de um barão.
Voltando a si, já garante:
“Pago à vista ou no cartão.”
17
Gota de sonho e magia,
sopro de um anjo... tão leve...
orvalho, suave poesia,
que a noite, inspirada, escreve.
18
"Mas que preguiça'' e, no escuro,
o pau-d'água, chave à mão,
espera, encostado ao muro,
que ali passe o seu portão!
19
- Mas, “seu” guarda, por favor,
ao apito obedeci.
Culpado é o muro, senhor,
que não deu ré... e eu bati!!!
20
Mostra bem mais que coragem
 quem, na fonte do poder,
 não sorve a doce vantagem,
 prefere o amargo dever.
21
Na vida, a grande virtude
não é correr na jornada,
mas, sem pressa e em plenitude,
completar a caminhada.
22
O outono chegou de manso
e em teu rosto, bem fininhos,
pôs traços que não me canso
de apagar com meus carinhos.
23
Passado... viva candeia,
embora há muito afastado;
um livro que se folheia,
que não se guarda fechado.
24
Põe luz em tua jornada,
pois o que importa na vida
não é o tamanho da estrada,
mas como foi percorrida.
 25
Quando o dia, enfim, se acalma
e uma ausência faz sofrer,
abro os braços de minha alma
para a saudade acolher.
26
Se dramas a chuva escreve,
sem piedade, todo dia,
a garoa, renda leve,
veste a terra de poesia.
27
Sem brinquedo, a sós na rua,
pede a criança, baixinho:
– "Senhor Deus, me empresta a lua
para brincar um pouquinho".
28
Se o fracasso te magoa,
guarda a coragem e avança,
que o brilho vem da pessoa,
não das honras que se alcança.
29
Se um adeus é dor tamanha,
estilhaça o coração,
regresso é um imã que apanha
cada pedaço no chão...
30
Sob a teia da garoa,
fiandeira sem igual,
teu amor, vagando à toa,
fez um ninho em meu beiral.
31
Só na cultura repousa
o progresso da nação:
– ela é o giz, e o povo, a lousa
que recebe a informação.
32
Sou garota e quero espaço,
meu sonho é um nonagenário
com safena e marcapasso
e um belo saldo bancário!!!
33
Vencedor é quem no mundo
ao falso brilho diz “não”
e após um labor fecundo,
ergue um brinde à retidão.
34
Vendo o assalto começar
lembra o genro, gentilmente,
com vontade de ajudar: 
– “Leve a sogra de presente!”