sexta-feira, 11 de maio de 2018

Stanislaw Ponte Preta (O Grande Mistério)

Há dias já que buscavam uma explicação para os odores esquisitos que vinham da sala de visitas. Primeiro houve um erro de interpretação: o quase imperceptível cheiro foi tomado como sendo de camarão. No dia em que as pessoas da casa notaram que a sala fedia, havia um soufflé de camarão para o jantar. Daí...

Mas comeu-se o camarão, que inclusive foi elogiado pelas visitas, jogaram as sobras na lata do lixo e — coisa estranha — no dia seguinte a sala cheirava pior.

Talvez alguém não gostasse de camarão e, por cerimônia, embora isso não se use, jogasse a sua porção debaixo da mesa. Ventilada a hipótese, os empregados espiaram e encontraram apenas um pedaço de pão e uma boneca de perna quebrada, que Giselinha esquecera ali. E como ambos os achados eram inodoros, o mistério persistiu.

Os patrões chamaram a arrumadeira às falas. Que era um absurdo, que não podia continuar, que isso, que aquilo. Tachada de desleixada, a arrumadeira caprichou na limpeza. Varreu tudo, espanou, esfregou e... nada. Vinte e quatro horas depois, a coisa continuava. Se modificação houvera, fora para um cheiro mais ativo.

À noite, quando o dono da casa chegou, passou uma espinafração geral e, vitima da leitura dos jornais, que folheara no lotação, chegou até a citar a Constituição na defesa de seus interesses.

— Se eu pago empregadas para lavar, passar, limpar, cozinhar, arrumar e ama-secar, tenho o direito de exigir alguma coisa. Não pretendo que a sala de visitas seja um jasmineiro, mas feder também não. Ou sai o cheiro ou saem os empregados.

Reunida na cozinha, a criadagem confabulava. Os debates eram apaixonados, mas num ponto todos concordavam: ninguém tinha culpa. A sala estava um brinco; dava até gosto ver. Mas ver, somente, porque o cheiro era de morte.

Então alguém propôs encerar. Quem sabe uma passada de cera no assoalho não iria melhorar a situação?

- Isso mesmo — aprovou a maioria, satisfeita por ter encontrado uma fórmula capaz de combater o mal que ameaçava seu salário.

Pela manhã, ainda ninguém se levantara, e já a copeira e o chofer enceravam sofregamente, a quatro mãos. Quando os patrões desceram para o café, o assoalho brilhava. O cheiro da cera predominava, mas o misterioso odor, que há dias intrigava a todos, persistia, a uma respirada mais forte.

Apenas uma questão de tempo. Com o passar das horas, o cheiro da cera — como era normal — diminuía, enquanto o outro, o misterioso — estranhamente, aumentava. Pouco a pouco reinaria novamente, para desespero geral de empregados e empregadores.

A patroa, enfim, contrariando os seus hábitos, tomou uma atitude: desceu do alto do seu grã-finismo com as armas de que dispunha, e com tal espírito de sacrifício que resolveu gastar os seus perfumes. Quando ela anunciou que derramaria perfume francês no tapete, a arrumadeira comentou com a copeira:

— Madame apelou para a ignorância.

E salpicada que foi, a sala recendeu. A sorte estava lançada. Madame esbanjou suas essências com uma altivez digna de uma rainha a caminho do cadafalso. Seria o prestigio e a experiência de Carven, Patou, Fath, Schiaparelli, Balenciaga, Piguet e outros menores, contra a ignóbil catinga.

Na hora do jantar a alegria era geral. Mas restavam dúvidas de que o cheiro enjoativo daquele coquetel de perfumes era impróprio para uma sala de visitas, mas ninguém poderia deixar de concordar que aquele era preferível ao outro, finalmente vencido.

 Mas eis que o patrão, a horas mortas, acordou com sede. Levantou-se cauteloso, para não acordar ninguém, e desceu as escadas, rumo à geladeira. Ia ainda a meio caminho quando sentiu que o exército de perfumistas franceses fora derrotado. O barulho que fez daria para acordar um quarteirão,quanto mais os da casa, os pobres moradores daquela casa, despertados violentamente , e que não precisavam perguntar nada para perceberem o que se passava. Bastou respirar.

Hoje pela manhã, finalmente, após buscas desesperadas, uma das empregadas localizou o cheiro. Estava dentro de uma jarra, uma bela jarra, orgulho da família, pois tratava-se de peça raríssima, da dinastia Ming.

Apertada pelo interrogatório paterno Giselinha confessou-se culpada e, na inocência dos seus 3 anos, prometeu não fazer mais.

 Não fazer mais na jarra, é lógico.

Fonte: 
Stanislaw Ponte Preta. “Primo Altamirando e Elas”, 
Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1961

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Trova 300 - João Paulo Ouverney (Pindamonhangaba/SP)

Fonte: Facebook (Meus Irmãos Trovadores)

Arnaldo Forte ((Livro D'Ouro da Poesia Portuguesa vol. 2) II

ENVOLTA NO "MANTON" DAS ROSAS VERMELHAS...

Hás de ser minha, eu quero, é quanto basta!
Um dia, quando for, não o procuro.
E é o desejo ardente que me arrasta,
Aquel' que há de fazer vibrar-te, eu juro!

Um dia, quando for... hei de deixar
Nos seios que tu tens, beijos aos molhos!
Nodoas de lírios roxos a sangrar...
E olheiras cor da noite nos teus olhos!

Não tenhas ilusões! Nunca a tua Raça
Me vencerá a mim por mais que faça!
Quero-te. Eu sinto a ânsia de beijar!

Queimada pelo fogo dos meus beijos
Heide sentir-te louca de desejos...
Um dia, quando for... sem eu te amar!

NA PRAIA-MAR DO SONHO

Decerto tu já viste ao sol-poente,
O mar beijar a areia de mansinho.
Parado, a olha-la docemente,
Num grande sonho, louco, de carinho.

Depois é densa a treva. O mar é louco.
E briga com a areia, encapelado.
Embravecido cansa, e pouco a pouco,
Soluça a grande dor dum revoltado!

Assim, houve luar e noite escura,
Naquela doce noite de amargura,
Mistério indefinido que profundo!

Assim, é a tu'alma p'ra minh'alma,
--Ó minha maré-viva e maré-calma,
Do grande mar, da Dor em que me afundo!

A MÁSCARA LOIRA

Ó minha viciosa, estérica e perversa,
De linhas sensuais; teu corpo eterizado,
Tem frases de requinte, em lubrica conversa!
Tem lume de cigarro, loiro e opiado!

Teus olhos a boiar, são taças d'absinto.
E a tua silhuete loira e desgrenhada,
Tem risos de cristais partidos, que eu bem sinto,
Em noites de volúpia, á luz da madrugada!

Á noite, as tuas mãos, são gumes de punhal,
Depois de terem morto - alguém sem fazer mal...
Tua voz é o Fado... eu ouço-o quando passa!

No Mundo és o Drama, a Farsa, és a Comedia!
Ás vezes também és - palhaço - na Tragédia!
És a figura loira e linda da Desgraça!

ABANDONO

Decerto tu sentiste o abandono,
Que vai acompanhando o sol-poente,
Nas tardes tristes, lividas, do outono,
E quando chora o coração da gente!

Tardes pedindo ao sol a Extrema-Unção,
Numa ancia doentia de mais luz!
Decerto tu sentiste a sensação,
De ajoelhar-se em frente d'uma cruz!

Tu entraste á tarde na Igreja,
Á hora de rezar's - bendita seja,
A cor tão doentia do Outono!-

Tudo sentiste... e os olhos rasos d'água!
Que pena não sentir's a minha mágoa!
A vaga incompreensão d'este abandono!

13 LÍRIOS

Atei-os com os fios d'oiro daquela taça de
crystal «bohème» que partiste...

Encheste a minha vida d'amargura.
Encheste a minha vida de martírios.
Enchi a tua vida de ternura,
E vou encher o teu coval de lírios.

São 13 os lírios roxos que levei.
- Meus versos de saudade são p'ra ti.
Amor, num dia 13 te encontrei!
Num dia 13, Amor, eu te perdi.

Meu doce Amor perdido... hei de te ver,
Na luz que tem o céu amanhecer,
Na cor do sol-poente em que reparo!

E o nome que tiveste, ó loira e linda,
Que certa rosa branca fala ainda...
Será p'la vida fora o meu amparo!

Fonte:
Arnaldo Forte. 13 Sonetos. Lisboa: Edição do Autor, 1921

Malba Tahan (A Noiva do Xeique)

No dia em que meu pai deliberou casar-me com o xeique Ornar Bahil, assaltou-me um desespero sem limites. Triste destino o de tornar-me esposa do homem mais odiento da cidade!

A velha Zenuja, vendedora de perfumes, tintas e colares, que vinha diariamente ao nosso harém (1), vendo-me aflita e chorosa, perguntou-me, penalizada, qual a causa daquela angústia que pesava sobre mim.

Ao saber da triste verdade exclamou, exaltada:

— Não é possível, Jamile querida! Por Maomé! Não poderás te casar com esse velho Bahil, feio e perverso! Seria um crime!

— Nada poderás fazer em meu favor, Zenuja! — respondi, desolada. — Meu pai é teimoso e, além do mais, conta desde já com o valioso dote que o cheique prometeu.

Zenuja, depois de meditar um momento, perguntou-me muito séria:

— Dize-me uma coisa, ó Jamile. O xeique já viu alguma vez o teu rosto mimoso?

— Nunca, ó Zenuja! Nunca! Meu pai foi o único homem que até hoje me viu de rosto descoberto.

A velha fitando-me severa insistiu:

— Só teu pai, menina? Só teu pai?

Afligindo-me o remorso e o receio de ocultar a verdade balbuciei envergonhada:

— Meu pai e... aquele jovem mercador que viste há três dias acenar para mim à entrada do cemitério!

— Está bem Jamile! Pelas barbas do Profeta! Se assim é poderei salvar-te do xeique. Exijo apenas uma condição: Ficarei encarregada de preparar-te para a noite de teu casamento. Tranquiliza o teu namorado para que ele não faça alguma loucura e deixa o resto por minha conta. — E, sorrindo, cheia de orgulho, acrescentou:

— Estou certa de que o xeique irá desfazer o compromisso de casamento!

Confiei cegamente na velha amiga e a ela entreguei a minha sorte. Preocupava-me, entretanto, de modo impressionante, o meu próximo casamento. Que artifício iria empregar a astuciosa Zenuja para afugentar de mim o noivo detestável?

Informei, nessa mesma tarde, o meu namorado de tudo que se passava no harém e aguardei serenamente o dia indesejável de minhas núpcias.

Nesse dia a nossa casa encheu-se de parentes e convidados. Do meu quarto ouvi as risadas dos amigos de meu pai que comentavam futilidades e relembravam as pequeninas intrigas da cidade.

Dezenas de amigas vieram admirar as peças mais ricas de meu enxoval, as rendas, as toalhas e os véus. As vizinhas, sempre indiscretas, bisbilhotavam tudo.

A velha Zenuja, duas horas antes da cerimônia, apareceu no seu papel de “encarregada da noiva”. Vestiu-me uma camisa branca com pequeninas flores bordadas e uma graciosa melahfa (2) de cor clara, que se prendia aos ombros por fitinhas cor-de-rosa. Zenuja teve, ainda, ao pentear-me, cuidados especiais, e em meus cabelos que, na véspera, tingira de castanho-escuro, colocou uma meherma (3) de seda vermelha com barras brancas. O meu vestido azul-claro, com fios de ouro nas mangas e nas pontas da cambusa (4) era, na verdade, encantador.

A habilidosa Zenuja modificou, com uma tinta muito forte, a cor das minhas sobrancelhas; transformou os meus lábios em dois rubis únicos e tentadores; e, com um creme muito fino e perfumado, chegou a fazer-me morena como Fátima e muito mais belo do que eu era realmente.

Ao ver-me, tão formosa, ao espelho, exclamei:

— Pela glória do Profeta, ó Zenuja! Este alindamento que a tua arte incomparável me empresta ao rosto vai ser a causa de minha desgraça! O cheique ao ver-me assim ficará apaixonado e jamais quererá deixar-me!

— Cala-te, menina! O teu nome é Jamile e “Jamile” significa beleza! Tens que parecer bela ao teu esposo, pois só assim poderás ficar livre dele.

Essa velha está louca, pensei, horrorizada. Julga afugentar um noivo enchendo de encantos a noiva desejada. Pobre de mim! Para que fui eu confiar nessa criatura sem senso nem critério?

A minha escrava predileta cantava, numa cadência triste:

— Allah é grande! A menina vai casar...

O henné (5) é raro na casa da noiva...

A mãe saudosa deixa-se estar no tamená.

E reza ao Profeta...

— Para com essa cantoria! — gritou Zenuja, irritada.

 E com a ponta escura de um pequenino bastão fez um sinal negro bem no meio de minha face direita. Era o último retoque à maquilagem.

Com o rosto coberto por um espesso véu fui levada à presença do cádi (6) e das testemunhas.

Realizado o casamento e proferidas as preces do ritual, o meu noivo conduziu-me aos aposentos que já estavam reservados.

Notei que o cheique parecia dominado por uma ansiedade infinita, incalculável. E era natural. Qual é o marido que não deseja ver o rosto encantador daquela que vai ser sua esposa?

Ao erguer o véu o cheique ficou trêmulo, tomado de indizível espanto. O meu semblante, que a velha Zenuja tanto aformoseara, parecia causar-lhe uma impressão terrível e dolorosa.

— Por Allah! — vociferou cheio de incontida cólera. — Teu pai garantiu-me que não eras trigueira e que os teus cabelos eram castanhos-claros! É horrível! Vejo que és muito diferente daquela que eu imaginava!

E, arrebatado por um rancor inexplicável, exclamou como louco:

— Oh! Jamile! Nosso casamento é impossível! Eu te repudio três vezes! (7)

Com essa terrível declaração o meu tresloucado marido desfazia, para sempre, o nosso casamento e tornava-me livre, não podendo mais exigir a restituição do dote que já havia pago a meu pai.

A velha Zenuja não pôde receber de mim os agradecimentos do que se fizera merecedora, pois, apareceu morta, no dia seguinte, sob as tamareiras do oásis de Asbor.

Três meses depois, passada a impressão causada pelo escândalo do meu divórcio, casei-me com o jovem mercador que o meu coração elegera para meu esposo.

Um dia meu pai perguntou-me:

— Que ideia foi aquela, minha filha, de fazeres-te, na noite de teu casamento, parecida com Zobeida, a primeira esposa do cheique? Não sabias, então, que ele, preso por um juramento, estava impedido de casar-se com mulher que se parecesse com Zobeida?

Essa pergunta veio esclarecer, para mim, o misterioso episódio do meu divórcio. A velha Zenuja conhecia o segredo do cheique e valeu-se disso para salvar-me.

E ainda hoje, nas preces que faço, rogo ao Altíssimo que tenha em sua eterna paz a bondosa e fiel Zenuja, minha amiga e salvadora.

Uassalã!
____________________________ 
Notas:
1 Harém — Parte da habitação destinada exclusivamente às mulheres.

2 Melahfa, peça do vestuário feminino de uso corrente em Marrocos. É uma espécie de corpinho. 

3 Meherma, véu muito fino que as Jovens adotam para prender o cabelo. 

4 Cambusa, espécie de saiote que fica sob o vestido com a barra aparecendo.

5 Henné — substancia empregada para pintar as pálpebras e as sobrancelhas; tamená, varanda da casa.

6 Cádi — Juiz entre os muçulmanos. Julga, em geral, todas as causas de direito civil, criminal e religioso.

7 Repudiar 3 Vezes – Segundo as instituições muçulmanas, quando um marido repudia a esposa uma ou duas vezes, pode recuperá-la, sem mais formalidades, ao fim de três meses e dez dias; quando, porém, o repúdio é feito pela terceira vez, ou mediante a fórmula: — “Eu te repudio três vezes” — o casamento está definitivamente rompido e o ex-marido não pode contrair novo casamento com a mesma mulher, senão depois de se ter ela casado com outro homem e pelo novo marido ter sido, igualmente, repudiada.

Fonte:
Malba Tahan. Minha Vida Querida.

terça-feira, 8 de maio de 2018

Vivaldo Terres (Poemas Escolhidos) III


ETERNAMENTE APAIXONADO

Só tu que me fazes esquecer,
Aquele amor de outrora.
Faz tanto tempo, 
Que isso passou.
Desde os tempos de escola.
Ela era linda apesar de adolescente,
Vivia alegre e sorria a toa. 
Com seus olhos belos...
E sua tez bem clara.
Igual a ela, 
Não conheci outra pessoa 

Adolescentes iguais a mim. 
Vivíamos encantados,
Todos nos queríamos. 
Que ela nos desse um sorriso,
Um beijo ou qualquer... 
Outro agrado.

Mas ela sempre,
Não nos dava esperanças.
Mesmo assim apesar de tudo,
Um dia que foi maravilhoso.
Ela não sorriu
Perguntou-me: 
- Queres ser
meu namorado? 
Desde aquele dia... 
Eu me tornei eternamente apaixonado 

SAI SEM PENSAR EM NADA

Sai de casa sem pensar em nada.
Mais o impossível aconteceu!
Ao passar na esquina,
Por acaso encontrei a mulher;
Que me esqueceu.

Sorriu para mim com um sorriso triste...
Daqueles que não escondem a dor;

Extraída de um coração partido.
Demonstrando mágoas.
E cicatrizes...
Causadas por um novo amor.

E ao me reconhecer.
Chamou meu nome;
E em minutos contou sua vida.
De seus olhos azuis lágrimas rolaram;
Demonstrando sinal de arrependida.

E pedindo perdão disse-me assim:
- Depois que te deixei foi que compreendi!
Que sempre te amei.
E daquele dia em diante, só vegetei...
E não mais vivi.

NOITE DE INVERNO 

Era noite de inverno o vento rugia, 
A noite era longa e o frio também. 
Minh’alma coitada de tanto sofrer... 
Chorava e gemia com saudade de alguém. 

Esse alguém que no passado... 
Estava ao meu lado e sorria feliz, 
E dizia me amar, foi embora sem deixar um adeus... 
Desapareceu para nunca mais voltar. 

E o tempo passou rápido e veloz, 
Meus cabelos escarneceram. 
E as rugas em meu rosto mostram isto também. 
Que envelheci por dentro e por fora, 
Mais o que mais me devora... 
È a saudade daquela que eu sempre amei.

PALAVRAS INDEVIDAS

No dia em que ela me disse adeus, 
E foi embora senti...
Meu ser morrer de tanta dor.
Até porque ela esquecera,
Que tinha sido eu o seu primeiro amor.

Quantos beijos trocados em delírios,
Quantas palavras de amor foram sentidas.
Quantas felicidades...
Nesses momentos maravilhosos,
E por uma só palavra foram destruídas.

Hoje sinto que era ela aquela que nasceu,
Com o objetivo para me fazer feliz.
Mas por uma simples atitude...
E uma palavra indevida por mim proferida,
Destruiu meu sonho... 
E toda minha vida.

ALENTO

Procuro nesta vida complicada e dura,
Um certo alento, para ser feliz.
Sempre a procura de um alguém!
Que me ajude a amá-la,
Com seu carinho e afeto,
Tenho certeza que serei menos infeliz.

Sonho com ela um sonho de menino,
Puro divino como o lírio em flor.
O importante para mim e encontrá-la,

Porque assim encontrarei...
O meu primeiro e único amor.

OUÇO ISSO COM TRISTEZA

Porque ainda temas em dizer me, que me amas,
E que o teu amor é o mais puro do mundo!
E que a minha fisionomia está sempre diante de ti,
E por isso não podes esquecer-me nem por um segundo.

Ouço isso com tristeza prima da hipocrisia,
Pois quando estávamos juntos, fingias amar-me!
Usando uma formula que na verdade!
Eu já conhecia.

Acredito teres algum curso de teatro!
Ou quem sabe vês muita novela...
No momento vejo-te como uma atriz,
Representando o papel duma delas.

A INFORMÁTICA

Como é importante a informática,
Uma invenção de real valor,
Na era moderna como seria difícil,
Sem esse gênio o computador.

O homem moderno fica atrapalhado,
Quando esse gênio envelhece e por isso fica ás vezes parado,
Necessitando é claro de uma revisão,
Quando isso acontece,
O nosso gênio precisa de algumas peças de reposição.

Homem moderno fica sem saber o que fazer,
Quando o sistema fica sem funcionar,
Fica varias horas se lamentando, até o mesmo voltar.

Ele fica louco e se estressa,
Quando acontece algum dissabor, ele grita, esbraveja...
Quando encontra algum vírus no computador.

Mas tudo fica bem e maravilhoso
Quando o nosso gênio com saúde está...
Então o homem cheio de alegria,
Aciona o amigo para trabalhar.

Fonte: O Poeta

Contos e Lendas do Mundo (Índia: Modo correto)

Um Monge de grande devoção e instruído, atravessava uma vez um rio em um barco quando ao passar ao lado de uma pequena ilhota, ouviu uma voz de um homem que muito torpemente tentava elevar suas preces. No interior do monge não pode mais que entristecer-se.

- Como era possível que alguém fora capaz de entoar tão mal aqueles mantras? Talvez aquele homem ignorava que os mantras deviam ser recitados com entonação adequada, com ritmo e musicalidade precisas, com pronuncia perfeita.

Decidiu então ser generoso e desviando-se de seu rumo aproximou-se a ilhota para instruir aquele homem sobre a importância da correta execução dos mantras. Não era em vão que se considerava um grande especialista e aqueles mantras não tinham para ele qualquer segredo.

Quando desembarcou na ilhota, pode ver um pobre homem de aspecto sossegado cantando alguns mantras um pouco sem acerto. O monge, com serena paciência, dedicou algumas horas a instruir minuciosamente a aquele indivíduo que a cada momento mostrava efusivas mostras de agradecimento a seu instrutor. Quando entendeu que por fim aquele sujeito poderia recitar os mantras com certa capacidade despediu-se dele, advertindo-lhe:

- E lembre-se meu bom amigo, é tal a potência de estes mantras que sua correta pronuncia permite que um homem seja capaz de caminhar sobre as águas.

Mas apenas havia percorrido alguns metros com seu barco, ouviu a voz daquele homem a recitar os mantras ainda pior que antes.

- Que horror. Há pessoas que são incapazes de aprender nada de nada, assim pensou o monge.

- Ei, monge - escutou atrás de si uma voz muito perto.

Ao voltar-se viu ao pobre homem que, caminhando sobre a as águas, aproximava-se de seu barco e perguntava:

- Nobre monge, já esqueci-me tua instruções sobre o modo correto de recitar os mantras. Serias, tão amável de repeti-lo novamente?

Fonte:

Observação: Este conto, adaptado ao cristianismo, foi escrito por Leon Tolstói, não recordo bem o título, creio ser "Os Três Eremitas" ou "Os Três Monges". O enredo é o mesmo, só que eram três monges que entoavam o Padre Nosso erroneamente (JF) 

domingo, 6 de maio de 2018

Stanislaw Ponte Preta (Fábula dos Dois Leões)


Diz que eram dois leões que fugiram do Jardim Zoológico. Na hora da fuga cada um tomou um rumo, para despistar os perseguidores. Um dos leões foi para as matas da Tijuca e outro foi para o centro da cidade. Procuraram os leões de todo jeito mas ninguém encontrou. Tinham sumido, que nem o leite.

Vai daí, depois de uma semana, para surpresa geral, o leão que voltou foi justamente o que fugira para as matas da Tijuca. Voltou magro, faminto e alquebrado. Foi preciso pedir a um deputado do PTB que arranjasse vaga para ele no Jardim Zoológico outra vez, porque ninguém via vantagem em reintegrar um leão tão carcomido assim. E, como deputado do PTB arranja sempre colocação para quem não interessa colocar, o leão foi reconduzido à sua jaula.

Passaram-se oito meses e ninguém mais se lembrava do leão que fugira para o centro da cidade quando, lá um dia, o bruto foi recapturado. Voltou para o Jardim Zoológico gordo, sadio, vendendo saúde. Apresentava aquele ar próspero do Augusto Frederico Schmidt que, para certas coisas, também é leão.

Mal ficaram juntos de novo, o leão que fugira para as florestas da Tijuca disse pro coleguinha: — Puxa, rapaz, como é que você conseguiu ficar na cidade esse tempo todo e ainda voltar com essa saúde? Eu, que fugi para as matas da Tijuca, tive que pedir arrego, porque quase não encontrava o que comer, como é então que você... vá, diz como foi.

 O outro leão então explicou: — Eu meti os peitos e fui me esconder numa repartição pública. Cada dia eu comia um funcionário e ninguém dava por falta dele.

— E por que voltou pra cá? Tinham acabado os funcionários?

— Nada disso. O que não acaba no Brasil é funcionário público. É que eu cometi um erro gravíssimo. Comi o diretor, idem um chefe de seção, funcionários diversos, ninguém dava por falta. No dia em que eu comi o cara que servia o cafezinho... me apanharam.

Fonte:
Stanislaw Ponte Preta. “Primo Altamirando e Elas”, 
Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1961

Leandro Bertoldo Silva (Alforria Literária: Uma Nova Forma de Pensar Literatura!)

Começo esta apresentação com um pensamento de Mia Couto:

“O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar, a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro”.

O meu nome é Leandro Bertoldo Silva e eu sou escritor independente. Sou o criador da Árvore das Letras – um espaço de linguagem, leitura e escrita – e do selo Alforria Literária pelo qual publico os meus livros.

Durante o ano de 2017 e já início de 2018, recebi alguns contatos de leitores interessados em adquirirem os meus livros “Janelas da Alma: uma tempestade íntima, um conflito, um retorno” e “Entrelinhas Contos mínimos”. Curioso que todas as pessoas, e isso já vêm acontecendo há algum tempo, querem comprar os livros diretamente comigo, embora estejam disponíveis para venda na maioria das lojas online espalhadas pela internet e em plataformas de autopublicação. Isso é totalmente compreensível, uma vez que no final o livro sai a um preço muito alto para o leitor, e estamos falando do livro físico, que é a preferência de 10 a cada 10 leitores que me procuram…

Isso reforçou o meu posicionamento e a minha escolha de ser um escritor independente, a partir do momento que, por outro lado, eu recusei a proposta de contrato de duas editoras por não achar vantagem ao analisar todas as condições, e me ver preso simplesmente ao ego de ter os meus livros expostos em livrarias.

Foi assim que ganhou força a ideia da “Alforria Literária”, um selo criado por mim e pelo qual publico os meus livros, decidido a trilhar um caminho diferente, onde eu possa assumir todas as etapas do meu trabalho – da escrita à distribuição dos livros.

Nada tenho contra as editoras e as plataformas de autopublicação; apenas acredito em outras possibilidades, ainda mais na realidade de hoje em que a vida exige mais consciências. Por isso, na minha natureza de enxergar propósito em tudo o que faço, estou desenvolvendo a minha própria publicação sob demanda, na qual os meus livros são impressos em papel ecológico, primeiramente a capa personalizada com tinta feita de fibras de material orgânico, mas já com o pensamento para que o miolo do livro siga o mesmo padrão – tudo a seu tempo.

Esse processo já está sendo desenvolvido através da aquisição de uma verdadeira “máquina de fazer livros”, em que a sintonia entre literatura e ecologia está presente, como se verá.

MEU PROPÓSITO LITERÁRIO

Vivemos no Brasil uma crise editorial muito grande, e essa crise não é somente financeira, mas mercadológica, eu diria, até, midiática. Isso porque a maioria das editoras tradicionais valoriza apenas o que é “vendável”. Não há problema nisso se entendermos que são empresas e, como tais, privilegiam o lucro. Mas a troco de quê? O que elas devolvem ao consumidor-leitor é que é um grande questionamento, pois basta entrarmos em livrarias para nos depararmos com uma imensa quantidade de livros traduzidos e os chamados “best-sellers”. E os novos escritores? Quase sempre ficam sem espaço. Ou escrevem o que as editoras querem vender ou possuem um alto poder de investimento, o que nem sempre é possível. As consequências são terríveis, pois isso contribui, entre outras coisas, para o sumiço de uma literatura genuinamente brasileira que ficou no passado.

O escritor moçambicano Mia Couto, em uma entrevista recente, diz que até às décadas de 60/70 a literatura brasileira ainda era vista como referência para os próprios brasileiros e para outros países, como em África, por exemplo. Ele cita Jorge Amado e todo o seu universo místico, de religiosidade, capoeira, que tem raízes africanas. Cita, ainda, em outro contexto, João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa, Manoel de Barros, entre outros. Hoje já não há mais essas referências. Segundo ele, “chegam as novelas, mas não chegam os livros”. Ora, se não chegam os livros, não chegam os autores. E para um momento em que, através das inúmeras plataformas de autopublicação existentes, surgem a cada dia tantos “escritores”, onde eles estão? É claro que quantidade não é sinônimo de qualidade, mas em meio a tantos há de ter alguém, e esse alguém não é um só, são muitos.

É neste contexto que surge a Alforria Literária com o claro propósito de liberdade.

POR QUE ALFORRIA LITERÁRIA?

A Alforria Literária é mais do que um selo ou uma marca editorial, é um caminho que eu escolhi para mim enquanto escritor. E sabe por quê? Porque escolhi ser livre! Porque decidi assumir que eu sou, assim como você também é, criador da sua própria realidade. Se há uma expressão que possa definir a Alforria Literária, é: POR QUE NÃO?

Por que aceitar o que boa parte das pessoas diz sobre o caminho que a escrita e a carreira literária deveriam trilhar? Não posso ser o criador da minha própria experiência? Não posso eu definir o que eu quero e “como” eu quero? Sei que muitos pensarão: “porque é assim! Porque se você estiver fora das editoras e das lojas você estará fora do jogo”. Será?

‘Se milhares de pessoas estão indo por aqui, então vá por ali…’

Não me recordo onde eu li essa frase, mas ela tem para mim muito mais sentido, além de dialogar com a minha pergunta: POR QUE NÃO?

Ouço e leio constantemente variações de uma mesma versão que é a seguinte pergunta: ‘o que as editoras querem?’ É incrível como que o sistema com suas redes gigantescas nos pressionam e tenta nos convencer de que a maneira delas é mais do que a melhor, mas a única. E mais impressionante ainda é como boa parte das pessoas acreditam nisso e vai abandonando o prazer de guiar a própria vida e a própria escrita num verdadeiro desejo mimético. Passam a achar que é mais fácil adaptar ao que os outros consideram bom para elas do que tentar descobrir por si mesmas e abrir novas possibilidades e caminhos. E com isso, quantos escritores vão abdicando de um fundamento básico, ou pelo menos deveria ser, que é a total e absoluta liberdade de criar, não apenas o conteúdo, mas a forma…

Deixa eu dizer uma coisa: não há satisfação maior do que ser criador da nossa própria experiência, e a pergunta que eu faço através da Alforria Literária é absolutamente o contrário em relação à variação acima. Mais importante do que pensar de que há lugar para todos, é saber que esse lugar nunca será o mesmo.

O SIGNIFICADO DA MARCA ALFORRIA LITERÁRIA


O desenho representa um pince-nez, modelo de óculos utilizado até início do século XX, que utilizava uma pinça para prender na ossatura do nariz (nez = nariz).


De modo mais direto e objetivo faz referência, ao mesmo tempo homenagem, ao grande escritor Machado de Assis (1839-1908), que utilizava um pince-nez, presente em quase todas as suas fotografias.

Indica a perspicácia característica do observador do mundo, que transcreve sua visão em forma de letra. Indica o olhar profundo que enxerga a realidade além das aparências. Enfatiza mesmo o olho, janela para o mundo, espelho da alma. Neste caso, Machado de Assis é um escritor que enxerga longe, lança luz onde havia sombras. Este é um ótimo sentido para melhor compreender a Alforria Literária.

Mas há uma complementação dessa ideia trazida pelo filósofo e psicanalista Ângelo Pereira Campos que enriquece muito a Alforria Literária através de uma antiquíssima simbologia: o Olho de Hórus.


Símbolo da divindade egípcia, Hórus, filho de Osíris.  Hórus é o deus com cabeça de falcão. Não por acaso, o falcão encontra-se entre os animais de maior acuidade visual. Sua visão alcança uma pequena presa em até dois quilômetros de distância.

Os olhos de Hórus, na mitologia egípcia, sinalizam o Sol e a Lua. Trata-se de uma metáfora da luminosidade, do dia e da noite. Em batalha contra Set, Hórus perde o olho esquerdo, símbolo da Lua.

Neste caso, o olho representado na imagem da Alforria Literária é o direito, símbolo do Sol. Portanto, uma referência direta à luz, à claridade, logo, ao esclarecimento que a literatura nos ajuda a construir ao longo de nossa formação, que, claramente, dura a vida inteira. Desse mesmo modo, encontramos nestas metáforas literárias um sentido maior para a clarividência, que está a nos impulsionar para a liberdade, para a alforria.

A MÁQUINA DE LIVROS “PAULA BRITO”



O aspecto fundamental da Alforria Literária é eu ser a minha própria produção sob demanda, ou seja, eu mesmo editar e publicar os meus livros e poder enviá-los para qualquer lugar do Brasil. Para isso, foi confeccionada a minha primeira “máquina de livros”, que carinhosamente chamei de ‘Paula Brito’, em alusão a Francisco de Paula Brito, proprietário de uma livraria no antigo Lago do Rocio no século XIX, atual Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro. Mulato, autodidata e oriundo de meio humilde, Paula Brito trabalhou como tipógrafo, impressor de livros e jornais, fundando a Marmota Fluminense numa época em que o analfabetismo era gigantesco em nosso país. Além disso, sua importância foi fundamental para acolher um mocinho acanhado, também mulato, brilhante e que faria história: Machado de Assis…

Essa máquina foi cuidadosamente feita com madeira de Ipê reaproveitada de sobra de demolição e guardada por muitos anos. As mãos talentosas que a moldaram são de Egídio Souza, um luthier que, para quem não sabe, é um termo derivado do francês ‘luth’, que significa ‘alaúde’. Ele dá nome ao profissional especializado em construir instrumentos de corda, tudo feito de forma artesanal, um a um. Trata-se de uma das profissões mais antigas e que já está em extinção, mas que eu tive a sorte de conhecer um e de ter se tornado um amigo. Ainda sobre o propósito das coisas, não poderia ser maior uma vez que se institui uma parceria entre a literatura e a música, sendo eu um escritor inteiramente musical.

Isso vem mostrar que quando as coisas estão em sintonia com nossos desejos elas ganham força! A “máquina Paula Brito” está linda e já estou pronto para distribuir diretamente os meus livros que guardam outras surpresas… Um dos meus objetivos é que o livro em si, além do seu conteúdo literário — que é o meu trabalho de escritor — seja um objeto de arte digno de ser admirado e guardado.

PROCESSO DE COLAGEM



Foi realizado com muito sucesso o primeiro teste com a máquina de livros. A capa é de papel ecológico (ver detalhe) e faz parte da proposta da Alforria Literária. O projeto das capas ainda está sendo estudado para se chegar a um padrão de letras e tamanhos para a melhor apresentação possível, primando pela beleza, irreverência e elegância do exemplar. Para o teste foi utilizado no miolo o papel sulfite 75g. O utilizado no livro será o Off-set A5 75g. Utilizei uma cola especial de luthieria para fixar as folhas na lombada, o que torna o livro muito resistente.

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