terça-feira, 11 de junho de 2019

Concurso Nacional de Trovas da ACLAPTC (Resultado Final e Programação)


A Academia Capixaba de Letras e Artes de Poetas Trovadores, ACLAPTC divulgou nesta quinta feira, dia 06 de Junho de 2019, o Resultado Oficial e final do Concurso Nacional e Estadual de Trovas com o tema Anchieta, devendo constar na Trova, as palavras Anchieta e Cultura. 

Foram recebidas um total de 810 Trovas, de 276 Trovadores de diversas cidades brasileiras, fato considerado um sucesso, já que foram apenas três meses de divulgação. 

O Concurso foi lançado oficialmente em solenidade realizada em Cariacica, ES, no dia 14 de março e encerrado no dia 05 de Junho. 

Para efeito de julgamento e, em razão da elisão, a palavra Anchieta foi contada com três sílabas poéticas. 

A Trova classificada em primeiro lugar é de Autoria da Trovadora e Comendadora Adircilene Lerilda Batista e Silva, Presidente da Academia Lagopratense de Letras de Lagoa da Prata, cidade localizada no centro oeste de Minas Gerais a 200 quilômetros de Belo Horizonte. 

A premiação ocorrerá durante o XVI Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores a ser realizado de 04 a 07 de Julho de 2019, no Plenário Urias Simões dos Santos da Câmara Municipal de Anchieta, cidade localizada ao sul do Estado do Espírito Santo a 80 quilômetros da Capital Vitória.


Adircilene; Dulcídio; Leonilda e Marina.

TROVAS NÍVEL NACIONAL

1o. Lugar
Adircilene Lerilda Batista e Silva
Lagoa da Prata/MG

Oh! Anchieta, seu esplendor 
mostra com arte e emoção 
que a vida tem mais valor 
com Cultura e Educação. 

2o. Lugar 
Leonilda Yvonneti Spina
Londrina/PR

Jesuíta dedicado, 
cultura e saber profundo. 
Anchieta é consagrado: 
Santo e herói do novo mundo! 

3o. Lugar
Marina Gomes de Souza Valente
Bragança Paulista/SP

Padre José de Anchieta, 
tendo a Virgem como tema, 
com cultura e sem caneta 
traçou na areia um poema. / 

Medalhas de Honra ao Mérito e Diplomas de Vencedores: 

Márcia Jaber e Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho (ambos de Juiz de Fora, MG);
Roque Aloísio Weschenfelder (Santa Rosa/RS); 
Amilton Maciel Monteiro, (São José dos Campos/SP); 
Paulo Roberto de Oliveira Caruso (Niterói/RJ); 
Raimunda Pinheiro de Souza Frazão (São José do Ribamar/MA);
Rogério Marques Siqueira Costa (Itaocara/RJ); 
Almir Zarfeg (Teixeira de Freitas/BA);
Elias Botelho (Teixeira de Freitas/BA); 
Olympio da Cruz Simões Coutinho (Belo Horizonte/MG); 
Wanda Cunha (São Luis/MA); 
Francisco Gabriel (Natal/RN) e 
Maria Marlene Nascimento Teixeira Pinto (Taubaté/SP).

TROVAS NÍVEL ESTADUAL

Do Estado do Espírito Santo foram recebidas um total de 132 trovas de 69 trovadores Capixabas 

1o. Lugar
Albércio Nunes Vieira Machado
Serra/ES

É litorânea a Cidade 
de Anchieta. Que formosura! 
Também tem a qualidade: 
ser o Berço da Cultura. 

Medalhas de Honra ao Mérito e Diplomas de Vencedores:

Nealdo Zaidan (Anchieta/ES); 
Hawany Nawar Everton Maranhão (Piúma/ES);
Val Bernardino (Barra de São Francisco, Norte do ES); 
Emílio Soares da Costa (Vitória/ES);
Ângela Lino Veríssimo (Serra/ES); 
Geraldo Fernandes (Vitória/ES); 
Lenaldo Ferreira da Silva [Aldo Veranatto] (Guarapari/ES); 
Max Miller (Serra/ES); 
Zenaide Emília Thomes Borges (Carapina/ES); 
Givaldo Inácio da Silva [Mestre Gil] (Serra/ES); 
Denise Moraes (Vitória/ES).

MELHORES POESIAS

A Comissão Julgadora também divulgou a lista de classificados com as melhores Poesias do Concurso Nacional com o tema “Maravilha de Anchieta.” Este ano a Comissão resolveu optar em divulgar a relação de todos os classificados. A escolha dos três melhores poemas será feita durante o Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores. O classificado lerá, no sábado à tarde, o seu poema se tiver presente. Caso não possa comparecer indicará alguém para ler o seu poema. Uma Comissão Julgadora escolhida na hora dentre os presentes ao Congresso escolherá os três primeiros lugares que receberão troféus e Diplomas. 

Todos participantes receberão Medalha de honra ao Mérito e Diplomas. 

Classificação dos Poetas: 
Jacimar Berti Boti (Colatina/ES); 
Nealdo Zaidan (Anchieta/ES); 
Max Miller (Serra/ES); 
Anne Mahin (Guarapari/ES); 
Paulo Roberto de Oliveira Caruso (Niterói/RJ); 
João Roberto Vasco Gonçalves (Vitória/ES); 
Edilson Celestino Ferreira (Vitória/ES); 
Maria Marlene Nascimento Teixeira Pinto (Taubaté/SP); 
Hawany Nawar Everton Maranhão (Piúma/ES); 
Francisco Gabriel (Natal/RN); 
Lenaldo Ferreira da Silva [Aldo Veranatto] (Guarapari/ES);  
Raimunda Pinheiro de Souza Frazão (São José de Ribamar/MA). 

Os Congressos Brasileiros de Poetas Trovadores foram iniciados em 1981 com a denominação de Seminários Nacionais da Trova, sempre na primeira Semana de Julho para comemorar o Aniversário do Clube dos Trovadores Capixabas, CTC, fundado a 1º de Julho de 1980. Em novembro de 2017, o CTC transformou-se em Academia de Letras e Artes de Poetas Trovadores, ACLAPTCTC, com 50 Acadêmicos Fundadores Titulares e 40 Acadêmicos Correspondentes de diversas Cidades brasileiros e do Exterior. Este ano de 2019, além do Congresso em Anchieta está previsto para o período de 14 a 17 de Novembro o XVII Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores na Cidade de Iúna, na Região do Caparaó, onde está o Pico da Bandeira, na divida entre Minas e Espírito Santo, com apoio da Academia Iunense de Letras através do seu Presidente José Salotto e da Prefeitura local.

HOTÉIS PARA O EVENTO
Na Sede do Município a recomendação é para o “Recanto, Restaurante e Pousada”, na Avenida Rauta, 631, no bairro Alvorada, Telefone: 28 – 999 71 22 91, falar com Camila e informar que é uma reserva para o evento do Congresso de Poetas Trovadores. 

Os preços são especiais, com Café da manhã. A diária do quarto individual com ventilador é R$ 45,00. A diária do quarto com Ar Condicionado, Individual R$ 65,00 e Casal R$ 130,00. 

Na Pousada Beira Mar, com Café da manhã, a diária de Solteiro com banheiro no corredor e recepção é de R$ 70,00 e Casal na Suíte: R $ 140,00. 
Reservas: Tel.: 28 - 999 53 30 21. Com café da Manhã. No Centro existe ainda a Pousada Sergipana Tel.: 28 - 999 72 20 75, com preços semelhantes. 

Existem as opções de hotéis e pousadas nas praias de Iriri, Castelhanos e Ubú, localizadas próximo ao Centro da Cidade, que poderão ser encontradas pelo Web Site da Prefeitura Municipal: www.anchieta.es.gov.br;

PROGRAMAÇÃO 

Anchieta - Espírito Santo 

De 04 a 07 de julho de 2019 

Evento totalmente gratuito aberto para a participação de qualquer pessoa: professores, estudantes e povo em geral. 

Palestras, Desfile dos poetas, lançamento e relançamento de livros de escritores de Anchieta, Vitória, Rio e São Paulo. Serenata dos trovadores. Missa em Trovas. 

Local: Auditório Da Câmara Municipal De Anchieta 

DIA 04 De Julho, QUINTA FEIRA. 

INÍCIO AS 18 HORAS 

Local Auditório Da Câmara Municipal. 

Abertura Solene, com o presidente da ACLAPTCTC, Clério José Borges. 

Homenagem aos vencedores dos concursos de poesias e trovas. 

Concurso do melhor bolinho de arroz de Anchieta: Culinária e música. 

Trovas. 

Poesia. 

Homenagem Aos Artistas De Anchieta. 

DIA 05 De Julho, SEXTA FEIRA 

10 Horas 

Passeio. 

Início do concurso relâmpago de trovas com o tema “O luar de minha cidade” 

15 Horas 

Auditório Da Câmara Municipal. 

Início das Palestras. 

Sarau Poético. 

Escolha do melhor poeta de Anchieta. 
Venha se candidatar lendo duas poesias de sua autoria. 

Oficina de Trova. 

O que é prosa é poesia? 

Quem foi Florbela Espanca? 

Quem foi Cora Coralina? 

Quem foi Cecília Meirelles? 

O que é haicai e acrostico? 

19 Horas 

Serenata Pelas Ruas Da Cidade. 

Saída da Câmara Municipal até a Praça São Pedro. 

Venha cantar músicas antigas de serenata. Traga seu violão... 

DIA 06 De Julho, SÁBADO 

10 Horas 

Troveata. 
Desfile pelas ruas de Anchieta com distribuição de livros, poesias e trovas. 

De 15 As 21h30m 
Auditório da Câmara. 

Palestras e Lançamento de Livros de autores de Vitória, Anchieta, Guarapari, Rio De Janeiro e São Paulo. 



Palestras: 
O que são moedas virtuais; 
Os milagres de Anchieta; 
Marco zero de Anchieta local da primeira aldeia indígena; 
Como montar um livro para publicação. 
“Anchieta em verso e prosa”, por Roberto Vasco. 
“Doces Lembranças” em Anchieta, por Maria Cândida Vasco Gonçalves. 

Sarau Poético. 
Venha E Declame Sua Poesia. 

Entrega Solene De Comendas 
Homens: Grande Oficial Consul Da Paz 2019. 
Senhoras: Embaixadora Consulesa Da Paz 2019. 

Dia 07 De Julho, Domingo 

10h30m 
Missa Em Trovas, com Frei Firmino. 

11h30m 
Auditório Da Câmara Municipal 
Premiação aos vencedores do concurso relâmpago de trovas. 
Encerramento solene do Congresso.

Presidente Clério José Borges – cj-anna@bol.com.br;
Secretário Geral: robertovasco@hotmail.com; Tel.: 27 99963 04 71
Diretor de Relações Públicas: Lenaldo Ferreira - lenaldo@live.com; 

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Silmar Bohrer (Gamela de Versos) 4


Geraldo Magela (Poemas Avulsos)


URUBUSERVANDO

Sou seu urubu rei
Ave de rapina em franca extinção
Atrás de banquete sempre irei
Do lixo luxo e as doenças evito a disseminação
Não trago augúrio e tampouco desgraça
Em terra santa ou beira de rio
Meu almoço é a sua nobre carcaça
Vivo em bandos a revoar
Sentinela urubuservadora da carniça
Minha asa se abre a frufrulejar
Em cima da tripa ou o podre da linguiça
Vivo sem rumo no rumor da morte
Nas garras levo seu fígado, o duodeno e o baço
Minha asa é um véu negro
Vivo da putrefação e do martírio
No meio ambiente eu sou íntegro
O gosto e o desgosto são meu delírio
Enfim o funeral e os olhos pressagos
Dum corpo vivo agora extinto
De ossadas em ossadas entre lagos
O fedor e a náusea é meu instinto.

O PLEITO

Em época de eleição
todo candidato é bom
para tudo tem solução.
O povo só tem direito
todo eleitor tem razão
os candidatos só dizem sim
nunca dizem não.

Depois que passa a eleição
tudo vira contradição
se dizemos sim
eles dizem não
até o beija— flor
se transforma em gavião.

Os da direita atropelam
os que estavam na contra mão.
Jogados para escanteios
ficam os que pegam
o boi bravio do sertão.
Ai, meu Deus.
Quanta decepção!

IMPORTÂNCIA

Do filho do patrão
nossa! quanta!?!?

Do filho do empregado
nenhuma.

Todos são iguais
por conveniência
imputam lhes diferenças.

Idolatram condutas
antes subestimadas.

São caminhos
que nunca bifurcam.

MUNDO DOS SEM FUNDOS

Senhor Clarimundo,
pergunta pro senhor Reimundo
para onde vai este mundo
infestado de vagabundos?

Para o mundo dos sem fundos.
Responde o senhor Reimundo.

POETA

Poeta sem fama
Não tem cama.
Na grama
Ao relento

Suavizado pelo vento.
Dorme e chama
Por alguém que
Não o ama.

Dele se conhece bem pouco
Seu poema e
Seus versos
São verdades
Sem credibilidade
Num mundo oco.

Geraldo Magela (1956)


Geraldo Magela Cardoso nasceu em Guaraciama (MG) em 1956, filho da professora e poetisa Maria Lisbela Cardoso e  de José Gonçalves Cardoso, boiadeiro. Radicou-se em Curitiba desde 1972. Poeta, prosador, ativista cultural, produtor cultural, editor, dramaturgo, performer, ex-articulista do Correio de Notícias, entre outros. Co-fundador da Feira do Poeta, 1981 e da Associação Afro-Brasileira de 1982 a 1985.

Trabalha na Fundação Cultural de Curitiba, já foi mediador de leituras, contador de histórias e coordenador de bibliotecas, casas de leituras e do Clube do Xadrez. Atualmente Geraldo Magela Cardos e Luiz Carlos Brizola são coordenadores da Feira do Poeta de Curitiba.

Cadeira n. 43 da AVIPAF – Academia Virtual Internacional de Poesia, Arte e Filosofia, tendo por patrono Emiliano Perneta.

Foi jurado em vários concursos literários como: Petrobras, FIEP, Casa do estudante universitário luterano, colégio Marista, colégio estadual do Paraná; como editor lançou livros de mais de 150 autores. Publicou artigos no jornal Estado do Paraná e no extinto Correio de Notícias, além de várias revistas, sites e portais da internet.

Autor dos projetos: Varal da poesia, 1983; Domingo na Feira, projeto de incentivo a pratica da leitura, 2008; Leitura no Banheiro Público e nas Praças Pública, 2011; CuTUCando a Inspiração, intervenções poéticas, 2013.

Recebeu, entre outras honrarias, a Medalha Mérito Cultural do Projeto Poetizar o Mundo. 

Publicações:

Os Calombos dos Quilombos, poesia afro, 1983, 
Bendita Boca Maldita, poesia, 1982, 
Se Metamorfosse, poemas concretos, 1984, 
Poesygynyka, poesia em rolo de papel higiênico - Feira do Poeta, 1986, 
Os Mamilos de Vênus, poemas eróticos, 1986, 
Welcome to Curitiba Capital do Freezer, teatro, 1992, 
Curitiba Nunca se Sabe, contos, 2015, 
Marmitexto - Antologia poética, 2015, 
O Homem é Produto do e-mail, contos, 2016, 
O Rebu do Urubu e o Legado do Leão, infanto-juvenil, 2017. 
Parnaso Poética, antologia de poemas, 2017. 

Fonte:

Carlos Drummond de Andrade (Na Delegacia)


— Madame, queira comparecer com urgência ao Distrito. Seu filho está detido aqui.

— Como? O senhor ligou errado. Meu filho detido? Meu filho vive há seis meses na Bélgica, estudando física.

— E a senhora só tem esse?

— Bom, tenho também o Caçulinha, de dez anos.

— Pois é o Caçulinha.

— O senhor está brincando comigo. Não acho graça nenhuma. Então um menino de dez anos foi parar na polícia?

— Madame vem aqui e nós explicamos.

A senhora correu ao Distrito, apavorada. Lá estava o Caçulinha, cabeça baixa, silencioso.

— Meu filho, mas você não foi ao colégio? Que foi que aconteceu?

Não se mostrou inclinado a responder.

— Que foi que meu filho fez, seu comissário? Ele roubou? Ele matou?

— Estava com um colega fazendo bagunça numa casa velha da rua Soares Cabral. Uma senhora que mora em frente telefonou avisando, e nós trouxemos os dois para cá. O outro garoto já foi entregue à mãe dele. Mas este diz que não quer voltar para casa.

A mãe sentiu uma espada muito fina atravessar-lhe o peito.

— Que é isso, meu filho? Você não quer voltar para casa?

Continuava mudo.

— Eu disse a ele, madame — continuou o comissário —, que se não voltasse para casa teria de ser entregue ao Juiz de Menores. Ele me perguntou o que é o Juiz de Menores. Eu expliquei, ele disse que ia pensar.

— Meu filho, meu filhinho — disse a senhora, com voz trêmula —, então você não quer mais ficar com a gente? Prefere ser entregue ao Juiz de Menores?

Caçulinha conservava-se na retranca. O policial conduziu a senhora para outra sala.

— O que esses garotos estavam fazendo é muito perigoso. Brincavam de explorar uma casa abandonada, onde à noite dormem marginais. Madame compreende, é preciso passar um susto nos dois.

A senhora voltou para perto de Caçulinha, transformada:

— Sai daí já, seu vagabundo, e vamos para casa.

O mudo recuperou a fala:

— Eu não posso voltar, mãe.

— Não pode? Espera aí que eu te dou não pode.

E levou-o pelo braço, ríspida. Na rua, Caçulinha tentou negociar:

— A senhora me deixa passar em Soares Cabral? Deixando, eu volto direito para casa, não faço mais besteira.

— Passar em Soares Cabral, depois desse vexame? Você está louco.

— Eu preciso, mãe. Tenho de pegar uma coisa lá.

— Que coisa?

— Não sei, mas tenho de pegar. Senão me chamam de covarde. Aceitei o desafio dos colegas, e se não trouxer um troço da casa velha para eles, fico desmoralizado.

— Que troço?

— O pessoal diz que lá dentro tem ferros para torturar escravo, essas coisas. Eu e o Edgar estávamos procurando, ele mais como testemunha, eu como explorador. Mãe, a senhora quer ver seu filho sujo no colégio, quer? Tenho de levar nem que seja um pedaço de cano velho, uma fechadura, uma telha.

A mãe estacou para pensar. Seu filho sujo no colégio? Nunca. Mas e o perigo dos marginais? E a polícia? E seu marido? Vá tudo para o inferno. Tomou uma resolução macha, e disse para Caçulinha:

— Quer saber de uma coisa? Eu vou com você a Soares Cabral.

Fonte:
Carlos Drummond de Andrade. 70 Historinhas.

domingo, 9 de junho de 2019

Odenir Follador (Poemas Avulsos)


A ESSÊNCIA DA NATUREZA

Pensativo à sombra
de uma linda palmeira,
eu observo a natureza
e vejo quanto beleza
ela pode nos proporcionar!

Vejo o mar agitando as ondas,
 lançando espumas prateadas
que caminham lentamente
ao encontro do continente,
como querendo lhe abraçar.

Vejo o pescador no seu barco 
que se lança ao mar, destemido,
nem se importa com o perigo;
só quer  as suas redes  lançar
para o seu sustento granjear.

Vejo que ruma ao sol nascente
que nesse momento, no horizonte,
lança seus dourados raios
às águas lindas e puras do oceano!

Ouço o trinar das lindas gaivotas
que bailam ávidas sobre as águas;
olhar atento como das águias,
a procura de algum alimento.

Sinto a bruma branca e úmida
que impregna o ar que respiro;
sinto, que até eu faço parte
desta natureza, em cor e arte!

A FORÇA DE UM ABRAÇO

Quando me sinto um tanto
só, não sei mais o que faço,
me desperto por encanto
na força do teu abraço.

Meu coração bate forte
transfiguro-me, renasço;
Agradeço a Deus a sorte,
da força do teu abraço.

Feliz é quem une seu coração
 em outro, num único compasso;
sem tristeza... só emoção,
na força de um abraço!

O ÉDEN!
(Poema em redondilha maior)

Deus criou o Paraíso
o Céu e todo o Universo...
Mas, o homem perdeu o juízo
ao criar um mundo inverso!

E destruiu nossas matas
pensando só em riqueza;
olhando às famílias castas,
ignorando a pobreza!

Fez máquinas e conduções
pra bem menos trabalhar ;
não pensou que essas ações,
iriam poluir o ar!

Criaram até redoma
pra poderem respirar;
milhares até em coma
implorando pelo ar!

Que importa tantas luzes
para o mundo iluminar?...
Inserindo tantas cruzes,
por toda arma que criar?!

CORDEL: “O VELÓRIO”

01 
Vou contar-lhes uma história
Que aconteceu num velório
Na capela São José,
Onde velavam seu Honório
Padrinho da Filomena
Que era filha de Tenório.

02 
A Filomena e a Rosalva
Amigas de longa data,
Foram à noite a capela   
Numa atitude sensata,
Levando vasos de flores
Envoltos em papel prata.

03 
E chegando à funerária
Pelo morto procuraram, 
Eram tantos os velórios...
Num deles elas entraram
Pensando ser o padrinho
Os pêsames desejaram!

04 
Pasmo levanta um senhor
Que estava junto ao caixão,
Falando em alto e bom tom
O que é isso? Quem vocês são?
- Filomena logo disse:
Eu te conheço, é o Romão?

05 
O professor de história?
- Nunca te vi, sou pintor,
E acho tudo muito estranho
Saiam daqui, por favor,
E levem também as flores
Senão chamo o zelador!

06 
Assustadas as amigas
Saíram em correria,
Descobriram que o padrinho
Fora enterrado outro dia!
E nossas flores Rosalva
Deixamos com o vigia?

07 
- Nada disso diz Rosalva
Vou levar para o coitado!
Mas o cemitério em frente
Já se encontrava fechado,
Pensou em pular o muro
Mas era muito elevado.

08 
Enfim elas resolveram
Voltar à floricultura
Pedir de volta o dinheiro,
Pois nem foram à sepultura
Os seus vasos com as flores
Parceiros desta aventura!

09
Voltam pra casa às amigas
Sem velarem o defunto,
Lembraram-se da capela
E ficaram rindo muito,
Pois a Filó nunca vira
Aquele senhor tão bruto!

10
Fica então só a decepção...
As flores são devolvidas
E o dinheiro recebido,
Voltam muito ressentidas…
E do seu padrinho Honório
Só recordações vividas!

Fonte:
O Poeta

Nilto Maciel (As Fantásticas Narrações das Meninas do São Francisco)


Quase sempre estávamos sentadas nas ribanceiras, ou nas pedras lisas das redondezas, ou caminhando ao longo do rio, pisando aquelas areias ribeirinhas, ou passeando de barco, rio acima, rio abaixo, contando intermináveis histórias para nosso pai que nos ouvia atentamente e, às vezes, rindo, como se disséssemos as palavras mais engraçadas do mundo. Retirávamos nossas histórias do mais fundo de nossa memória de crianças nascidas na beira do rio e nos sentíamos como pequenos animais indomesticáveis, livres e puros. Ele nos ouvia, calado, muito pensativo, como se disséssemos grandes e irrefutáveis verdades, como se fôssemos sábios antigos, a quem estivessem confiados todos os segredos da Terra. Para que não falássemos nós apenas, permitíamos que ele fizesse perguntas, que interrompesse nossas narrações, que fizesse reparos, quando nos deixássemos levar pela pura imaginação. Mesmo assim, ele permanecia calado ou sorridente, os olhos brilhando de muita alegria. Então, alguma de nós fazia perguntas, muito tolas, às vezes, para forçá-lo a falar, a perguntar, ao menos. Mas ele apenas sorria ou levava a sério o que estávamos fazendo, como se fôssemos criaturas superdotadas, incapazes de dizer tolices, como se não fôssemos apenas suas filhas, mas criaturas de outro mundo, que tivessem vindo com a exclusiva missão de contar-lhe histórias.

À noite, na nossa cabana, iluminada pela lua e pelas estrelas, ele escrevia como um louco, sem parar, apressadamente, enchia cadernos e mais cadernos, enquanto dormíamos, cansadas da tagarelice e dos passeios diurnos, incrivelmente felizes, como se tivéssemos praticado os melhores atos do viver, como se tivéssemos erigido pirâmides, repletas de alívio, como se tivéssemos jogado fora os grandes fardos que pesavam dentro de nossas cabeças. Muitas vezes, quando acordávamos, ele ainda estava a escrever, com a mão esquerda, os olhos quase pregados no papel, sonolento.

Muitas das histórias que contávamos eram essencialmente horrorosas, cruéis, desumanas, e nos faziam sofrer muito e chorar demais. Sofríamos e chorávamos juntos, nós e ele. E nos compadecíamos uns dos outros, nós dele e ele de nós. E era pior, mil vezes pior do que a solidão. Ele então nos prometia brinquedos, para que não nos atormentássemos tanto. Jurava que desceria o São Francisco em busca de pérolas, de caracóis, de querubins, de totens e mil outras coisas que desconhecíamos. E saíamos juntos na nossa barca, descíamos o grande rio, dias e noites sobre as águas, na direção do mar que nunca víramos, esperançosas de encontrar na foz não o que ele nos havia prometido, mas nossa mãe perdida ou levada por pescadores aventureiros, causa maior de todo o nosso tormento. Contávamos então histórias de sereias, de serpentes marinhas, de grutas no fundo do mar e, quando sentíamos saudades de nossa cabana, abandonávamos a barca e regressávamos, esquecidas do mar desconhecido, dos brinquedos prometidos e de nossa mãe perdida, caminhando às margens do rio. E corríamos, brincávamos e contávamos histórias de peregrinos e perdidos. Quando cansávamos, deitávamos-nos nas ribanceiras solitárias, sonhávamos com morcegos violadores de virgens, acordávamos, assustadas, gritando estranhas palavras, e passávamos a contar histórias tão alarmantes quanto nossos sonhos. Nosso pai se retorcia, abria e fechava os olhos, resmungava e voltava a roncar. E, quando regressávamos, fazíamos uma festa em cada lugar: na cabana, dentro do rio, debaixo das árvores, nas ribanceiras, no alto dos coqueiros. Fantasiávamos-nos de mil maneiras, imitando os pássaros, os peixes, as serpentes e os quadrúpedes.

Muitas vezes, sentados ou deitados debaixo das árvores, dormíamos e sonhávamos transformadas em figuras que jamais imaginávamos possíveis. Quando acordávamos, nosso pai estava escrevendo, como se dormisse, os olhos cerrados. Corríamos para perto dele, olhávamos para o papel e nada entendíamos. Ele se sobressaltava e começava a rir, a rir muito, como se não fosse mais possível deixar de fazê-lo. Nós o acompanhávamos no riso, até que pedíamos a ele que lesse, em voz alta, o que estava escrito. Assustávamos-nos, então, porque havia grande diferença entre o que contáramos e o que ele lia. Pensávamos que tínhamos perdido a memória e chorávamos, desesperadas. Ele ficava triste, chorava também e dizia que, na verdade, não disséramos aquilo, mas que ouvira nossas vozes interiores, enquanto dormíamos. Íamos então tomar banho no rio, para nos tornarmos leves e delgadas, capazes de falar do mais fundo de nós mesmas. Brincávamos com as piranhas, sem medo nenhum, nadando e mergulhando, ele nos protegendo com seu olhar, sentado à beira do rio ou navegando em sua galera, como chamávamos, por brincadeira, cada nova canoa que ele fabricava.

Nessa época vivíamos uma grande crise de medo, que era horrível e nos deixava muito tristes, chorosas, magras, feias, pálidas e lerdas, medo que esquecíamos quando começávamos a contar histórias para nosso pai. Nos nossos céus voavam gigantescos morcegos, em grande algazarra, aos bandos, gritando assustadoramente e batendo as asas com estardalhaço. Sabíamos de sua sede insaciável de seiva, pois as árvores murchavam, secavam, como se um sol de fogo as queimasse, e os frutos apodreciam ou desapareciam, como se invisíveis pássaros sorvessem-lhes o suco, deixando-nos sem alimentos para as ceias da manhã, e as pessoas eram cruelmente raptadas e conduzidas para as alturas mais distantes, em voos espetaculares, onde eram violentadas, exauridas e lançadas, abobalhadas ou sem vida, às beiras dos rios, que desapareciam, os menores, ou se reduziam a riachos, os maiores, como o nosso São Francisco, e os peixes, nossa alimentação predileta, eram devorados aos milhares.

Dizia nosso pai, em momentos de lucidez ou de maior crise, que os tais monstros vinham do norte, afugentados pela matança dos índios. Dizíamos nós, no entanto, que eles vinham de mais longe, das estrelas, pois só apareciam em noites de grande escuridão. Mas pensávamos que nada disso existia, que tudo não passava de fantasia de nosso pai, pois não nos recordávamos de que os tivéssemos visto alguma vez. Críamos até que tudo não passava de mais uma longa história por nós contada, pois costumávamos passar dias, semanas e meses contando uma só história, que absorvia todo o nosso tempo, que tomava conta de nossa vida, que se tornava nossa própria vida.

Um dia, ancorou diante de nossa cabana uma enorme galera e dela descarregaram umas malas antigas. Nosso pai conversou com os desconhecidos, que não pisaram a terra, durante algum tempo, e depois carregou as malas para dentro da cabana. Quando voltamos, a galera já estava perto do mar. Nosso pai nos chamou, abriu as malas e nos mostrou muitos livros, que disse serem as nossas histórias em inglês, francês, alemão, espanhol, russo e outras línguas desconhecidas. Folheamos, um a um, os grossos volumes, rimos das figuras, sem nada entendermos. Ele então começou a olhar para as páginas e a falar umas falas estranhas, mas que logo entendemos. E tal era a pujança de sua voz, que os pássaros pousaram sobre nossas cabeças, silenciosos, e as águas do São Francisco pararam de correr. Foi então que vimos pela primeira vez um monstruoso morcego parado no ar. Não nos assustamos mais. Apenas olhamos para o céu e o vimos subir em direção ao sol, para nunca mais voltar.

Fonte:
Nilto Maciel. Tempos de Mula Preta, contos. Secretaria da Cultura do Ceará: 1981.

Isabel Furini (História de Escritores)


Escritores! Todo mundo sabe que os escritores gostam de reunir-se. Associações, academias, grupos de leitura, seminários, debates.  Mas, em pouco tempo, descobrem que não suportam os colegas. Afinal, um ego de escritor já preenche qualquer sala por maior que seja. Já muitos egos de escritores na mesma sala tornam o local asfixiante. Alguns egos escorregam nas palavras dos outros. Os outros chutam as costas dos egos que falaram. Os que não falam nada esperam o momento oportuno para jogar o título de seu novo livro na cabeça de qualquer escritor.

O título de seu novo livro na cabeça de qualquer escritor? Perguntarão os que desconhecem a tribo dos escritores. Poucas pessoas alheias a tribos sabem disso. Eu vou fazer uma revelação: os títulos dos livros são seres vivos. Sim. Eles atraem e rejeitam. Jogados na cabeça de um escritor inimigo machucam a subjetividade.  O escritor atingido grita: Ai! Fui atingido por um título desse escritor maluco! Socorro!

Socorro! Grita o escritor machucado, e imediatamente é retirado da sala e considerado bipolar com mania de perseguição.

Mania de perseguição é uma doença traiçoeira. Disse a senhora de óculos. É verdade, disse o velhinho de paletó cinza. Estamos reunidos para falar de nossos livros! Grita o homem de barba. Imediatamente os egos crescem. Qual será o livro escolhido para a ocasião? Será o livro novo livro de papel reciclado?

Papel reciclado? Papel é papel, grita o escritor de camisa azul mexendo o celular. Todos olham para ele. Acanhado, desliga o celular. Temos que fazer livros virtuais, exclama veementemente. E um dos escritores, vestido de terno marrom, muito serio, apoia-o. O futuro é livro na internet, e-book, livro virtual, o nome que vocês desejem. O nome não é importante, o importante é... O homem de terno marrom se cala, olha todo mundo e começa a tossir. Quase disse a verdade. E isso seria tão inconveniente.

Tão inconveniente é dizer a verdade que há alguns meses um escritor fora banido da tribo por dizer a verdade. Dizer a verdade! Ninguém merece! Teria gritado um jovem. A juventude está sempre inovando, disse o escritor de terno marrom e blá, blá, blá. Não revelou que defende o livro virtual porque acaba de criar uma editora virtual. Afinal, livro é produto. E produto é para lucrar. Viva o lucro!

Viva o lucro! Pensa o escritor de terno marrom e olha de ladinho para seu sócio, o homem de gravata vermelha. O homem de gravata vermelha entende o recado. Levanta-se e começa um longo discurso sobre as vantagens do livro virtual. Repete os argumentos. São poucos e precisa repeti-los para fortalecer seu ponto de vista.

Seu ponto de vista parece-me excelente, disse a senhora de blusa amarela.  E aplaude. Todos aplaudem. Entre escritores é comum aplaudir. Afinal, todos gostam de receber aplausos, elogios. Bom, quase todos. Existem poucos exemplares de uma raça em extinção que não gosta de aplausos. Isolados, raramente são entrevistados pela mídia.

Raramente são entrevistados pela mídia. Existe um problema maior que esse para um escritor? Afinal, o mais importante não é escrever bem, mas ser um escritor de sucesso. Sucesso é tão bom. Todo mundo sonha com o sucesso.

Todo mundo sonha com sucesso. A maioria dos escritores sonham com o Prêmio Nobel de Literatura - mas ninguém quer confessar. Sonhos são parte da subjetividade humana. Sonhos revelam muito das pessoas, por isso é difícil falar dos sonhos. Bom, Prêmio Nobel de Literatura é difícil, mas talvez um Prêmio Nacional ou Internacional pode se tornar realidade. Sempre é bom ter sucesso.

Sucesso! Sucesso quer dizer ser o melhor escritor do mundo. E nunca pergunte. Nunca. Qualquer escritor dirá que você está errado. E é aqui o ponto central de minha história: Quando ao declamar um poema o velhinho de paletó cinza caiu morto, os escritores aproximaram-se dele e escutaram as últimas palavras do velho. "Sou o melhor escritor do mundo!"

Afastaram-se.  - Que ilusão! - disse a senhora de blusa amarela - O melhor escritor do mundo?

E todos, em silêncio, pensaram a mesma frase: O melhor escritor do mundo sou eu!

Fonte:
Isabel Furini, in Recanto das Letras