terça-feira, 15 de novembro de 2022

XXIII Concurso Nacional Poeart de Literatura – 2022 (Prazo: 30 de novembro de 2022)

 

(somente pela INTERNET)

Para a edição do livro Vozes de Aço (XXV Antologia Poética de Diversos Autores)
Homenagem a um renome das letras brasileiras

(PoeArt Editora – DESDE 2006 COM VOCÊ! já com mais de 70 publicações)

A PoeArt Editora de Volta Redonda RJ, institui o livro XXV Antologia Poética de Diversos Autores 2023 (depois das bem sucedidas Antologias Poéticas de Diversos Autores, Vozes de Aço da I a XXIV, depois do sucesso da I a XIII Coletânea Século XXI, do livro Cardápio Poético, 1ª e 2ª edição, I a IX Coletânea Viagem pela Escrita. Dentre os já homenageados por suas contribuições literário-culturais em nossos livros (ou em entrevistas), estão:
Adahir Gonçalves Barbosa, Adriano Espínola, Alan Carlos Rocha, Alexei Bueno, Álvaro Alves de Faria, Antonio Carlos Secchin, Antônio Torres, Astrid Cabral, Antonio Miranda, Anderson Braga Horta, Carolina Ramos, Clevane Pessoa, Denise Emmer, Evandro Sarmento, Flávia Savary, Flora Figueiredo, Geraldo Carneiro, Gilberto Mendonça Teles, João Almino, José Eduardo Degrazia, José Inácio Vieira de Melo, Lourdes Sarmento, Maria Braga Horta (in memoriam), Maria José Bulhões Maldonado, Matilde Diniz Lacerda, Mauro Mota, Menulfo Nery Bezerra, Olga Savary, Oscar Niemeyer, Pedro Albeirice da Rocha, Pedro Lyra, Pedro Viana Filho, Raquel Naveira, Roseana Murray, Reinaldo Valinho Alvarez, Ruy Espinheira Filho, Rubens Jardim, Tanussi Cardoso dentre outros.
 
Premiação
 
Os cinco melhores poemas serão publicados sem qualquer ônus.

Cada um dos cinco autores premiados receberá três exemplares da obra pelos direitos autorais, diploma e a sua foto colorida no livro.

Será cobrada apenas a taxa de envio dos livros pelos Correios.


A partir do sexto trabalho selecionado, os autores serão convidados a participar do livro pelo sistema de cooperativismo, pois serão escolhidos trabalhos de até 50 escritores ou mais, dependendo da qualidade literária.

Sem taxa de inscrição (até três poemas)

Ao efetuar a sua inscrição, o autor estará concordando com as regras do concurso, e, se selecionado, autorizando a publicação dos trabalhos no livro XXV Antologia Poética de Diversos Autores 2023.

Em caso de cópia indevida e demais crimes previstos na Lei do Direito Autoral, será responsabilizado judicialmente.
 
Tema e apresentação
 
O tema é livre.

Cada autor poderá inscrever de um a três poemas (versos livres ou poema com forma fixa), cada um em uma página, inéditos ou não, máximo de até 20 versos cada, fonte Times New Roman, corpo 12 e foto de rosto em jpg – imagem com alta qualidade.

Não é necessário pseudônimo.

Muita atenção na hora de enviar seu texto: já envie revisado para não termos futuros questionamentos. Enviar em doc. anexo contendo os trabalhos e os seguintes dados: nome completo, nº do RG, nome do concurso, títulos dos trabalhos, endereço completo, dados biográficos (no máximo dez linhas) , telefone e e-mail.

As obras que chegarem sem esses dados não serão consideradas inscritas.

Todos os trabalhos enviados (selecionados ou não) serão incinerados, após a divulgação do resultado.
 
Forma de inscrição
 
As obras deverão ser enviadas pela internet para:

poearteditora@gmail.com

Jean Carlos Gomes / organizador e editor / organização e realização: PoeArt Editora de Volta Redonda

telefone e WhatsApp (24) 99979-3205.


Apoiadores: Câmara Municipal de VR, Academias Volta-redondense de Letras e Barramansense de História, Evangélica de Letras do Brasil, Costelas Felinas Livros Artesanais, IEV – Instituto de Estudos Valeparaibanos, Val Lourenço – Cabelo e Corpo, Vitor Contabilidade a imprensa falada e escrita e redes sociais.

Fonte:
Enviado por Jean Carlos Gomes

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

José Fabiano (Muros de Trovas) 03

 

Cecy Barbosa Campos (A Visita)


Na obscuridade da tarde que caía, o céu ficava mais alto e as pessoas ficavam menores. Aquela casa me oprimia. Suas janelas me contemplavam com olhos vazios e baços, como alguém que não espera mais nada da vida.

As paredes, pele desbotada de ancião, mostravam as marcas do tempo. E eu, ali, imóvel e querendo fugir, com os pés agarrados ao solo e olhar fixo, na angústia sufocante de quem não pode reagir.

Pressentia que algo terrível estava para acontecer. Quando consegui mover-me, uma força misteriosa impeliu-me, não para longe da casa, mas para dentro do jardim, e meus passos me levaram à entrada lateral.

Entrei na casa. Um amplo salão, vestido com tapetes estilo persa e cortinas pesadas, num tom vinho, tornava-se mais escuro do que se poderia esperar naquele horário.

Olhei para o grande relógio que se encontrava de pé num dos cantos da saía e confirmei que ainda não haviam soado as seis badaladas da tarde.

Observei o local atentamente. Havia poeira sobre os móveis e a casa não parecia habitada. Entretanto, a porta não estava trancada, embora, nela houvesse ferrolhos que possibilitavam a segurança necessária para evitar a presença de intrusos.

Tive a sensação de que alguém me esperava e que providenciara para que a minha entrada tivesse sido facilitada. Procurando ser racional, pensei que isto não seria possível, já que nem eu mesma imaginara fazer tal visita.

De repente, notei uma escada ao fundo do salão. De dois lances, a escada levou-me a um pequeno "hall" que se abria para outros aposentos, provavelmente os quartos. Um aroma de rosas perfumava o ambiente, e fui inundada por uma sensação de bem estar que superou a tensão inicial.

Tranquilamente, continuei a minha investigação. Abrindo as portas, encontrei um banheiro, onde verifiquei que sabonetes novos exalavam um cheiro agradável, e me encantei com belas toalhas, que pareciam nunca terem sido usadas.

Duas portas conduziam a quartos decorados com cortinas leves e colchas coloridas, que pareciam destinadas a jovens. Ao abrir a terceira porta, senti uma presença ao meu lado. Não conseguia torcer a maçaneta. Fiquei ansiosa. Haveria alguém segurando a minha mão?

Apesar de uma breve hesitação, novamente fui movida por um estranho impulso que me fazia seguir em frente. Insisti e consegui abrir a porta. Deparei com um quarto de casal onde a cama estava coberta de flores, rosas brancas. Uma suave melodia ecoava em meus ouvidos. Um estranho torpor invadiu o meu ser e, conduzida por um toque invisível, cheguei até à janela aberta, meio escondida pelas cortinas que balançavam levemente.

Ouvi, de forma indistinta, exclamações de transeuntes assustados com aquele corpo caído no jardim. Eu não pude e talvez nem soubesse explicar o que acontecera.

Fonte:
Cecy Barbosa Campos. Recortes de Vida. Varginha/MG: Ed. Alba, 2009.
Livro enviado pela autora.

Fabiano Wanderley (Glosas) – 7


GRILO FOI AGRACIADO,
FOI UM PRESENTE DE DEUS!


Por não ser um devotado,
nem um homem penitente,
pelo Ser Onipotente,
Grilo, foi agraciado.

Foi de fato, diplomado,
através de versos seus,
quem diria, que os ateus,
louvassem, o Ente Divino
e, ainda mais, com que refino,
foi um presente de Deus!

(O Poeta Pedro Grilo (Natal/RN, 1936 – 2022) foi vencedor, num concurso de trovas, alusivas, à Santa Terezinha)
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MORREU O CANCÃO, QUE PENA,
DEIXANDO PENA PARA NÓS


O artista saiu de cena,
no palco, desce a cortina,
na terra, a missão termina,
morreu o Cancão, que pena.


Um novo show ele ordena,
pra bem distante de nós
e, num voo, sutil, veloz,
foi versar em outro evento,
foi trinar, no firmamento,
deixando pena pra nós.

( Ao poeta Cancão, falecido, a minha homenagem)
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João Batista de Siqueira, mais conhecido como Cancão (São José do Egito/PE, 1912 — 1982)
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NA BALANÇA DA VERDADE,
DEUS SABE QUEM PESA MAIS!


Quando, enfim, na eternidade
for chegado o teu juízo,
passarás no paraíso,
na balança da verdade.

Provarás tua humildade,
no convívio dos mortais,
do que tu foste capaz
e o que fizeste, de bem,
e, ao por teus males, também,
Deus sabe quem pesa mais.
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OS MEUS SONHOS DE POETA
JÁ FORAM REALIZADOS


Decidi ser um esteta,
ser a trova o meu fanal,
pois nela eu via afinal,
os meus sonhos de poeta,

E a utopia se completa,
nos versos metrificados,
em seu contexto, rimados,
me mostrando de antemão,
que os frutos da aspiração,
já foram realizados,
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POR QUE FUI FEITO DE BARRO,
EU ME CHAMO ZÉ AREIA!


Em meu nome, eu me amarro,
é bonito, com certeza,
é de argila, é natureza,
por que fui feito de barro.

Pode perecer bizarro,
mas, muito me lisonjeia,
pois, me estima, galhardeia,
sou poeta, simplesmente,
não quero ser, diferente,
eu me chamo Zé Areia!

(Ao estimado e inesquecível Poeta, Zé Areia (1901 – 1972))
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QUEM DERA, EU FOSSE A SAUDADE,
PRA VOCÊ LEMBRAR DE MIM

Para acabar a ansiedade,
os males que ela apresenta,
essa angustia, essa tormenta,
quem dera, eu fosse a saudade.

Certamente, na verdade,
mudaria tudo enfim,
quem sabe, talvez, assim,
nessa instância derradeira,
fosse a única maneira,
pra você lembrar de mim.
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QUEM SE VINGA SEMPRE ESPERA,
COM RANCOR E SANGUE FRIO


Quando a raiva se apodera
da mente sã, de um alguém,
um torpor, o faz refém;
quem se vinga, sempre espera.

Ele nunca se exaspera,
não sabe, que é doentio
que o revide é um desafio,
que lhe torna um anormal,
um verdadeiro animal,
com rancor e sangue frio.
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UMA EXISTÊNCIA DE VIDA
NA ETERNIDADE DO AMOR


Que posso eu dizer, querida!
Nós cumprimos tantos planos,
já são quase cinquenta anos,
uma existência de vida.

Com certeza, bem vivida,
ao seu lado, ao seu calor,
ao seu divino candor,
com sua tênue ternura,
secreta em nossa clausura,
na eternidade do amor.

Fonte:
Fabiano de Cristo Magalhães Wanderley. Versos Di Versos. Natal/RN, 2014.

Contos e Lendas do Mundo (Nação Sioux: Unktomee e o Alce)


"Conte-nos outra história de Unktmee, vovozinho!", gritaram muitas das crianças assim que ingressaram na tenda do velho contador de histórias naquela décima noite.

"Ah, eu imaginei que me pediriam outra!", observou com satisfação o velhote. "Existem muitas histórias de suas arteirices com o povo animal. Ele adora ficar entre todos até mesmo chega a roubar-lhes a aparência. Com isso pode fazer muitos deles de tolos com facilidade. Isto funciona muito bem por um tempo, mas geralmente não demora muito para ele gritar: "Basta!"

UNKTOMEE E O ALCE

Era o solstício de verão, o povo Alce estava banquenteando-se na encosta da montanha. Pele lisa, gorduchos e bonitos, eles pastavam aqui e ali os brotos suculentos e as gostosas ervas, bebiam no córrego da montanha e deitavam-se para descansar sossegadamente e amenizar o calor do dia à sombra verde das árvores.

Unktomee, que havia viajado desde longe estava faminto e sentia os pés doloridos, olhava para eles com muita inveja.

"Ah!", disse para si mesmo, "esta é a vida que eu quero ter! Certamente, este é o povo mais feliz na face da Terra, eles têm tudo em abundância e são tão velozes que para eles é como se o perigo não existisse!"

Ele escondeu o seu arco e o alforje cheio de flechas no oco de uma árvore juntamente com a roupa e outras armas que trazia para assim parecer despojado e inofensivo diante do tímido povo Alce. E lá foi ele. Viram que estava desarmado e permaneceram tranquilos.

"Chegou Unktomee", sussurraram eles sem muita certeza entre si.

"Ah, irmãos!", apelou ele, "vocês têm o bastante; vivem em paz com as outras tribos; contemplam do alto todo o vale e todos os outros habitantes que vivem embaixo! Ninguém é tão feliz quanto vocês! Será que nâo poderiam me tornar um de vocês?"

"Amigo!", exclamou o líder, "você não sabe o que está pedindo! Para ser exato, agora estamos no solstício do verão, nossas roupas e nossas únicas armas, os chifres, são novos; sim, há comida em abundância e parecemos felizes, porém nossos chifres ainda estão fracos e o Lobo e o Gato Selvagem estão prontos e não temem nos atacar. Nossa única esperança de escapar está em nossa rapidez, pois durante todo o dia somos vigiados pelos olhos cruéis daqueles que vivem de carne, e destes o mais perigoso é o Homem!"

"Sei de tudo isto", replicou Unktomee, "outros talvez possuam armas mais poderosas do que as suas, mas não vejo ninguém com a vossa beleza, vossa dignidade, vossa liberdade e vossa facilidade de viver. Eu imploro que me permitam partilhar de vosso mundo!"

"Se você passar no teste, nós o admitiremos!", disseram-lhe finalmente. "Observe nossos olhos — temos de permanecer sempre vigilantes; nossos ouvidos — eles estão constantemente em guarda! Pode você sentir o cheiro de um inimigo até mesmo na direção contrária ao vento? Pode você detectar o som de seus passos antes que esteja próximo?"

Unktomee passou no teste e foi decididamente admitido na Sociedade dos Alces; na verdade, ele acabou nomeado chefe do grupo, e isso era o que ele tanto queria.

"Agora", eles disseram, "nós o fizemos nosso líder. Portanto, você precisa nos guiar para que estejamos a salvo dos caçadores!"

Orgulhoso de seus longos chifres, que passaram a ser suas imponentes armas, ele os guiou vale abaixo, já correndo de volta para apressar algum que ficara para trás. Quando pararam para descansar, ele deixou-se cair embaixo de uma sombra de carvalho um pouco afastado.

De repente, todos eles começaram a pular e a fugir, assim que Unktomee gritou para eles;

"Fujam! Fujam! Fui golpeado por uma flecha!"

Quando nenhum caçador foi visto, os Alces sentiram-se tão insultados, que resmungaram entre si:

"Unktomee nos enganou! Era apenas um galho que caiu da árvore!"

Então, pela segunda vez, todos resolveram descansar e, pela segunda vez, foram advertidos em vão. Ficaram ainda mais desgostosos e um deles disse:

"Era apenas um fruto do carvalho que caiu sobre ele enquanto dormia!"

Por uma terceira vez, eles descansaram, mas desta vez os Alces fugiram furtivamente e deixaram Unktomee dormindo, pois haviam sentido o cheiro do caçador. Quando o caçador chegou, encontrou apenas o Chefe Alce ainda adormecido. Ele arremessou uma flecha e o feriu gravemente.

Unktomee agora vive em grande pânico e dor e sente-se amargurado e arrependido por ter-se tornado um Alce, pois aprendeu que a vida deles é cheia de ansiedade. Os alces lhe ensinaram que é melhor contentar-se com o que somos, pois não existe nenhuma espécie de vida que está livre da necessidade ou do perigo.

Fonte:
Elaine Goodale Eastman e Charles A. Eastman (tradução: Antonio Dorival). O talismã da boa sorte e outras lendas dos índios Sioux. SP: Landy, 2003.

Carlos Leite Ribeiro (Marchas Populares de Lisboa) Bairro de Benfica


 A origem do nome concedido à freguesia de Benfica é ainda um mistério. Foram avançadas as mais diversas propostas, desde as mais românticas e palacianas até às puramente linguísticas. Uma das teorias defende que se dizia que "bem fica” localizada esta zona. Uma ideia criada pela riqueza agrícola e pela abundância e qualidade das suas águas. Outra, conta que D. João l, ao dar a sua bela Quinta de São Domingos aos padres dominicanos, dissera a D. João das Regras que o acompanhava: “Aqui bem-fica o convento.”

O que se sabe e está registrado, é que no século Xlll já existia a localidade com esse nome. Os habitantes mais antigos, desde o princípio da nacionalidade, foram apelidados de “saloios”, palavra que vem do árabe e designava os mouros “forros” ou livres. Estes muçulmanos tinham decidido acomodar-se a algumas normas dos cristãos e puderam, por isso, continuar nas suas terras. Eram uma gente esperta, trabalhadora, astuta nos negócios, alegre e persistente.

Se, outrora, Benfica esteve fora da área limítrofe de Lisboa, hoje é uma freguesia urbanizada. Benfica de outros tempos é descrita como uma localidade onde as quintas se seguiam umas às outras, a verdadeira horta de Lisboa. Entre as quintas mais famosas encontram-se a de Pedralvas, Tojal, Charquinho e Casquinha.

Os saloios de Benfica deslocavam-se a Lisboa para venderem frutos, legumes e flores. Ao mesmo tempo, coexistia a Benfica dos palácios, quintas grandiosas e casas de campo da aristocracia que fugia da vida da cidade, refugiando-se na então distante província. As festas sempre foram uma constante do bairro.

Bastará lembrar que alguns dos mais famosos retiros de “fora de portas” ficavam nesta zona. Bailes, arraiais, fados e petiscos, eram uma constante na região. As grandes mudanças na fisionomia de Benfica ocorreu já no século XX, quando o ar rural desapareceu e deu lugar a grandes urbanizações. Hoje, é um bairro habitacional dos mais populosos de Lisboa, mas Benfica não perdeu a sua alma.

O Clube Futebol Benfica (CFB) – o popular “Fófó”, fundado em 1933, tem um passado de que se orgulha. Foi várias vezes campeão em diversas modalidades, destacando-se os Campeonatos Nacionais de Hóquei em Patins e Hóquei em Campo. Mas nada de confusões com o outro Benfica, (o Sport Lisboa), conhecido mundialmente, principalmente, no mundo do futebol.

O Clube Futebol Benfica, dedica grande parte das suas energias à causa desportiva, sem descurar a componente cultural que tem como ponto forte a Marcha de Benfica. Assim, mais de mil jovens e adultos da freguesia têm a oportunidade de ocupar os seus tempos livres em modalidades desportivas, como o futebol, voleibol, handebol de sete, basquetebol, “rugby”, atletismo, ginástica, pesca desportiva, natação, tênis de mesa e “caratê”.

 MARCHA DE BENFICA
(1935)

Letra de Norberto de Araújo
Música de Raúl Ferrão


“Eh raparigas
Isto agora é andarmos pra frente
Saltam cantigas aos molhos
Um riso nos olhos
E coração quente.

Cá vai Benfica
E quem fica não vai com certeza
Ser alegre é que é preciso
Pois quem tem o riso
Tem sempre beleza.
(Refrão)

Olha a marcha de Benfica
Qual saloia cantadeira
Que entra na festa contente
Ai, ninguém fica sem cantar
a vida inteira.

A linda marcha da nossa gente.
Haja alegria
Alegria é um bem que se abraça
Um desejo uma quimera
Por isso se espera
A marcha que passa.

Cá vai Benfica
Toda alegre e contente pra dança
Há sempre um sorriso suspenso
Um tesouro imenso
Que nos vem da herança.
 
Fonte:
Este trabalho teve apoio de EBAHL – Equipamento dos Bairros Históricos de Lisboa F.P.
http://www.caestamosnos.org/autores/autores_c/Carlos_Leite_Ribeiro-anexos/TP/marchas_populares/marchas_populares.htm

domingo, 13 de novembro de 2022

Adega de Versos 94: Jaqueline Machado

 

Sammis Reachers (A rapina bananal)


Uma fruta de apelo universal estava entre as mais cobiçadas pelos pequenos corsários de água doce da Beira Rio: A banana.

A fruta, oriunda do sudeste asiático e que árabes, portugueses e espanhóis ajudaram a espalhar pelo mundo, dava com alguma abundância ao longo das margens do rio, compondo partes da mata ciliar. O problema era que ela crescia nos fundos das casas e barracos que margeavam o Alcântara – ou seja, possuíam “dono”. Dura palavra!

E agora, como roubar uma fruta que era de difícil e o pior, barulhenta colheita? Sim, pois além das pencas estarem situadas a considerável altura, se conseguíssemos cortar todo o cacho – subindo numa árvore paralela à bananeira ou mesmo utilizando uma providencial escada – não tínhamos, crianças que éramos, força nos braços para segurar ou aparar aquela imensidão de bananas. E se cortássemos o cacho, ou mesmo a bananeira inteira, e deixássemos a carga simplesmente desabar no chão, o barulho da queda daqueles reservatórios de potássio
sempre despertava os donos.

Desgraça pouca, reza o clichê, é sempre bobagem. Tínhamos alguns agravantes. A casa cujos fundos eram mais ricos em bananas – um verdadeiro bananal – certa altura foi ocupada por moradores novos, desconhecidos. Um casal sem filhos. O valete, viemos a saber depois, era marinheiro.

A descoberta de que a casa mudara de dono deu-se da maneira mais desagradável possível: Ao lado desta casa, dentre ela e outra, ficava um beco, um beco apartadíssimo, claustrofóbico até, e que só permitia mesmo a passagem de crianças. Aquela era nossa rota usual e mais confortável para acessarmos “a beira do rio” de fato, de onde seguíamos pelos fundos das casas catando ferro velho ou vadiando à esmo.

Acontece que ninguém avisara ao marujo de que aquilo era caminho comunitário. O resultado? Por duas vezes, ao tranquilamente passar por ali, fazendo despreocupado barulho nas muitas folhas caídas do bananal – veja, nem íamos roubar bananas, que demoravam para ficar prontas – fomos recepcionados a tiros, tiros de espingarda de chumbinho. Malditas espingardas, onipresentes nos anos oitenta!

Por sorte nunca fomos atingidos – ou o marujo-milico era ruim de tiro, ou atirava para errar, buscando assustar a molecada.

Aquilo era um agravante. Doravante tínhamos que usar de toda a nossa felinidade, todo o nosso ninjitsu (aprendido nos filmes da franquia American Ninja que lotavam a Seção da Tarde) para passar por ali com o máximo de silêncio possível.

Se passar já era ruim, imagine agora para roubar as bananas! Mas você já ouviu aquele outro clichê ou ditado popular que afirma que “a necessidade faz o sapo pular”? Éramos os piratas titulares daquele rio, não seria um anônimo marujo de água salgada, caído de paraquedas em nossa favelinha, quem iria nos impedir.

Sabe-se lá quem foi o autor da façanha, o portador da chama de tirocínio roubada dos deuses da rapina, mas uma solução foi encontrada.

A ideia primava pela simplicidade, que é sempre a marca, selo das ideias revolucionárias: Munidos de um facão, entrávamos silenciosamente naquele bananal e, sempre à moda dos ninjas ou dos samurais, peritos maiores no manejo da espada, desferíamos um fulminante golpe contra o tronco da bananeira. Aqui estava a sabedoria: O golpe deveria abarcar menos da METADE do tronco, de preferência apenas um terço de sua circunferência.

Desferido o silencioso golpe, o espadachim fugia para outro ponto: em geral do outro lado do rio, de cujas margens, escondidos sob as moitas, aguardávamos os poucos minutos para que a mágica surtisse efeito. E era infalível: dentro de quatro a seis minutos, aquele talho, aquela mágoa no frágil tronco da bananeira comprometia o restante de sua estrutura e, sob o peso do cacho de bananas, a arvorezinha tombava a partir do corte, sempre com grande estrondo.

O estrondo, claro, despertava o marinheiro, aquele colonizador moreno que viera feitoriar nossas terras livres. O bruto abria a janelinha por onde costumava efetuar os disparos, olhava para todo aquele mato compacto e, não vendo ninguém, tomava por certo que alguma bananeira tombara sozinha, o que não era assim muito impossível.

A paciência é uma virtude samurai, uma diretriz mestra dos guerreiros orientais em quem nos inspirávamos. Assim, muitos minutos aguardávamos, antes de atravessar o rio e ir até o nosso cacho. Cortávamos então junto ao talo aquele butim e, segurando um de cada lado daquele pesado botijão de comida, melindrosamente saíamos daquele campo minado.

Já do outro lado do rio, era hora de preparar as coisas para livrarmo-nos de uma outra e tinhosa dificuldade: O Pedágio de Dona Maria.

Enfiávamos aquele imenso cacho inteiro num desses grandes sacos de farinha, de preferência duplo que era para impedir os muitos curiosos – e alcaguetas – do bairro de perceberem o que transportávamos. E, por cima, colocávamos jornais e o principal: Latas, muitas latas. Assim, para todos os efeitos, era ferro-velho o que transportávamos naquele pesado saco. Avançávamos então até a casa de algum dos meliantes, onde enfim dividíamos o fruto da rapina.

Mas, voltando ao pedágio, era o seguinte: Residindo pouco adiante do local do bananal, e bem na rua onde devíamos passar para chegar às nossas casas, morava uma idosa muito pitoresca, daquelas de marcar a história de um lugar, para bem ou para mal. Era dona Maria, afeita ao candomblé, mulher sem papas na língua e com quem, na infância, aprendi a xingar, ao ouvir dia após dia ela esbravejar toneladas de decibéis de impropérios do arco da velha. Éramos vizinhos de fundos e, ainda pequeno, sempre que eu era repreendido pelos palavrões que vomitava como sendo “coisa feia pra um menino dizer”, me defendia: “Dona Maria é velha e xinga, por que eu não posso xingar?”

Além de brava e amedrontadora, dona Maria costumava fiscalizar os moleques transeuntes – ou melhor, fiscalizar as “bagagens”. Assim, se passássemos com alguma bolsa de frutas ou algo que lhe chamasse a atenção, ela se adiantava e, dona daquele trecho, esbravejando com sua rouca voz de trovão ou taquara rachada, tomava posse do pedágio, sempre farto para o lado dela...

Assim, elaboramos a estratégia do saco de latas. E olha que mesmo assim a velha ainda costumava dizer, com aqueles olhos ao mesmo tempo esbugalhados e aquilinos, nos fulminando por sobre o baixo muro de sua casa:

“Estranho isso aí hein... tanto moleque para carregar um saco de lata...”

Saudosa dona Maria, matriarca de uma grande família de outras matriarcas, mulheres guerreiras que criaram seus filhos e filhas praticamente sozinhas. A velha não dava mole pra ninguém!

Fonte:
Sammis Reachers. Renato Cascão e Sammy Maluco: uma dupla do balacobaco. São Gonçalo/RJ: Ed. do Autor, 2021.
Livro enviado pelo autor.

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) 15


A existência com leveza,
quando nos faz mais velhinhos,
comparo a uma vela acesa
que vai queimando aos pouquinhos!
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A infância o tempo desfaz!
Mas em meus sorrisos francos,
mantenho o riso da paz,
na paz dos cabelos brancos!
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Antes que o Sol se descubra,
rasgando o seu branco véu...
Deixa a alvorada mais rubra
e o rubro do amor no céu!
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Ecos, sussurros, gemidos,
mãos estendidas, sem nome...
São sinais dos excluídos
mastigando o pão da fome!
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É Deus que, quando entardece,
em silêncio e sem alarde,
põe reticências na prece
das vozes do fim da tarde!
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Enquanto o fogo, na dança,
mata da planta as raízes,
a gente planta esperança
nas cinzas das cicatrizes!
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Entre o poeta e os passarinhos,
há semelhanças demais...
Quanto mais longe dos ninhos
mais tristes cantam seus ais!
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Eu só conquistei na vida,
em meio a tanto cansaço,
essa fronte embranquecida
por tudo, que fiz e faço!
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Famintas e de almas nuas,
na mendicância e sem teto,
de crianças, enchem-se as ruas
entre os monstros de concreto!
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Mãos trêmulas, passo incerto,
que exemplo, o do bom velhinho;
e há gente com o passo certo
que nunca acerta o caminho!
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Meu destino é feito um rio,
que entre escarpas e rochedos,
revela seu desafio
mas não conta os seus segredos!
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Na estação de trem antiga,
há o fantasma de um vagão
que à noite, assusta e castiga
quem volta à velha estação!
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Na igrejinha abandonada,
toda tarde um velho sino
tange em cada badalada
o planger do seu destino!
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Não me esqueço!... E, ao descrevê-la,
praça de minha ilusão!...
Seu chão forrado de estrela
era a esteira do meu chão!
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Na vida, tudo se alcança.
Se é verdade ou se é mentira...
Quanto mais a idade avança,
mais o poeta se inspira!
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No meu baú de lembranças,
revendo antigos folguedos,
encontrei muitas crianças
em meio aos velhos brinquedos!!!
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Numa luta merencória
entre um crente e um incréu...
Um leva o troféu da glória
e o outro, a cruz por troféu!
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O amor, é qual detetive
que, quando a intriga descobre,
troca o castelo onde vive
pelo barraco mais pobre!
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O mar, ao romper da aurora,
aos meus olhos, se assemelha,
a um mar que em silêncio chora
lágrimas de cor vermelha!
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O olhar mais triste e profundo,
vi no olhar de uma criança;
nossa esperança do mundo,
num mundo sem esperança!
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O poeta em seu caminhar,
é qual profeta andarilho,
que vê nos passos, no andar,
os passos do andar do filho!
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Peço que guardem meus versos
longe da traça e cupim,
que há muitos sonhos imersos
nesses pedaços de mim!
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Se acaso, o mar, ante a bruma,
perde a ternura ao se expor...
Sacode a saia de espuma
vestindo a praia de amor!
= = = = = = = = =

Quando a noite de alma nua,
desperta e põe-se a vogar...
No mar, navega uma lua,
no céu, há outra a vagar!
= = = = = = = = =

Se alguém, na aridez do amor,
fizer o bem que é preciso,
vai sim, brotar uma flor,
na fonte seca do riso!
= = = = = = = = =

Se a mágoa te embaça a vista,
ante alguém que te magoa,
não há mágoa que resista
na vida de quem perdoa!
= = = = = = = = =

Se a ti, meu pai, me assemelho,
eis o meu maior desgosto:
Não sentir mais teu conselho
nem o suor do teu rosto!
= = = = = = = = =

Tapera!... Por teus lamentos,
teu pranto!... E, neste abandono...
Até no sopro dos ventos,
ouve-se a voz do teu dono!
= = = = = = = = =

Tempo ingrato, ó quem me dera
tornar mais lentos teus passos,
deixando que a primavera
fique mais tempo em meus braços!
= = = = = = = = =

Três letras, palavra breve,
no mundo de qualquer um;
sem as três, ninguém escreve
mãe - de outro jeito nenhum!

Fonte:
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.
Livro enviado pelo trovador.

sábado, 12 de novembro de 2022

Nélio Bessant (Caderno de Trovas) 6

 

Raymundo de Salles Brasil (Não é para sentir saudade?)


Acordei hoje, eram 5 horas da manhã, mas ainda embalado por um desses sonhos gostosos, tão gostosos que a gente nem abre os olhos, pedindo para não acordar e, quem sabe, continuar sonhando. Mas aí não tem mais jeito, o sonho já foi embora (que pena!) e a gente se levanta para a realidade, às vezes dura, do agora, do presente, do cotidiano.

Eu era entre adolescente e jovem e morava na casa número 14 da Praça da Purificação, em Santo Amaro, onde passei parte da minha adolescência e toda minha mocidade, enquanto solteiro. Morava com meu pai e minha madrasta, D. Dete, ambos de saudosa memória. Aquele lugar foi o cenário do meu sonho neste finzinho de madrugada.

O passeio lá de nossa casa era a sala de estar, onde se reuniam os amigos e os irmãos de meu pai, para maravilhosos bate-papos, mormente nas épocas de festa quando estavam presentes alguns que moravam em Salvador e religiosamente visitavam Santo Amaro nessas épocas.

Para mim aquelas reuniões eram o melhor da festa. Meu pai era um homem inteligente, bem informado, um excelente epigramista, amante da palavra escrita e falada, atraía para sua porta a nossa elite intelectual. Para mim verdadeiros monstros sagrados.

Se eu, que até hoje sou mais de ouvir do que de falar, frequentador assíduo daquelas reuniões, eu era somente ouvidos, mas encantados. Eu era um componente da plateia e eles os meus atores prediletos:

Juca Salles, (José Gabriel de Salles Brasil) um ator genial, fazia rir e chorar, ora representando as suas personagens cômicas, ora contando os episódios dramáticos de São Bento do Inhatá, e da Vila de São Francisco, todos criados ou recriados por ele. Com seu jeitão descuidado de ser, cabelos por cortar, barba por fazer, e aquele corpo franzino, andando como quem pisa em ovos em virtude dos muitos calos que tinha nos pés, ele usava a sua voz de baixo profundo, os seus gestos, e as suas mãos esguias para nos fazer chorar de rir;

Professor Raimundo Salles, (Raimundo Nonato de Salles Brasil) o lirismo à flor da pele, sua poesia era de rara beleza, estava sempre a nos encantar com os seus versos, as suas trovas, os seus repentes, era um poeta de alma pura.

João Moniz Barreto de Aragão, outro grande poeta, (Santo Amaro é incrível!) o orador, mas, sobretudo o poeta, o declamador. Ainda o recordo e me deleito, ouvindo-o recitar Arthur de Salles em Subumbra, Praia em Festa, Ocaso no mar, amaciando a sua voz e dando mais colorido aos versos, como se, possível fosse, dar mais colorido aos versos do velho Arthur.

Souza Castro, (Antônio Benedito de Souza Castro) comedido, falava baixinho, mas todos nós tínhamos ouvidos atentos porque não queríamos perder uma só palavra do que ele dizia. Brilhante, o velho Souza Castro, o talento dele não se media pelos discursos, mas por uma palavra, um dito, uma frase. Um grande amigo, eu o amava como se fora meu tio.

Nestor e Aloísio Oliveira, dois irmãos de talento fulgurante, dois poetas, se o primeiro brilhava com a palavra escrita, o outro era formidável no discurso improvisado, palavra fácil, fluente e bela.

Participavam daquelas tertúlias, uns, de forma mais assídua, outros esporadicamente, meu tio Adaucto, quando de férias, trazendo o seu entusiasmo, a sua maneira inteligente e simpática de ser e de dizer as coisas; o Pe.Salles Brasil, esquecia um pouco o papa e, espirituoso que era, deixava escapar a sua verve, o seu talento, a sua cultura, enriquecendo os nossos informais bate-papos; Adroaldo Ribeiro Costa, um artista, usava como poucos a palavra, a voz e as mãos. Passaram por aquela assembleia, Eliezer e Heráclio Salles, o Maestro Gomes e tantos e tantos outros dessa mesma estirpe. Até o poeta Eurícledes Formiga, a quinta memória do mundo, e repentista fantástico, que passou por aqui esbanjando talento, participou das nossas reuniões na porta da casa de meu pai.

O Professor Édio Souza, ainda bem jovem, frequentava com assiduidade os nossos saraus e já deixava brilhar o seu talento. Ele não me deixa mentir.

Quando eu acordei hoje às 5 da manhã eu estava sonhando, exatamente, com uma dessas reuniões.

Não é para sentir saudade?

Fonte:
Recanto das Letras do autor.
https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/265150

Cecília Meireles (Antologia Poética) = 9 =

CANTIGA


Ai! A manhã primorosa
do pensamento...
Minha vida é uma pobre rosa
ao vento.

Passam arroios de cores
sobre a paisagem.
Mas tu eras a flor das flores,
Imagem!

Vinde ver asas e ramos,
na luz sonora!
Ninguém sabe para onde vamos
agora.

Os jardins têm vida e morte,
noite e dia...
Quem conhecesse a sua sorte,
morria.

E é nisto que se resume
o sofrimento:
cai a flor, — e deixa o perfume
no vento!
= = = = = = = = = = = = =

HORÓSCOPO

Deviam ser Vênus
e Júpiter, sim,
que ao menos, ao menos,
olhassem por mim,
gerando caminhos
claros e serenos
por onde passar
quem vinha nutrida
de secretos vinhos,
perdida, perdida,
de amor e pensar.

Saturno, porém,
Saturno, o sombrio,
se precipitou.
Não sabe ninguém
que rio, que rio
de luto circunda
a terra profunda
que piso e que sou;

que noite reveste
o mundo em que passo
e os mundos que penso...
Que longo, alto, imenso,
calado cipreste
sobe, ramo a ramo,
entre o meu abraço
e o abraço que amo!
= = = = = = = = = = = = =

PRAIA

Nuvem, caravela branca
no ar azul do meio dia:
— quem te viu como eu te via?

Rolaram trovões escuros
pela vertente dos montes.
Tremeram súbitas fontes.

Depois, ficou tudo triste
como o nome dos defuntos:
mar e céu morreram juntos.

Vinha o vento do mar alto
e levantava as areias,
sem ver como estavam cheias

de tanta coisa esquecida,
pisada por tantos passos,
quebrada em tantos pedaços!

Por onde ficou teu corpo,
— ilusão de claridade —
quando se fez tempestade?

Nuvem, caravela branca,
nunca mais há meio dia?
(Já nem sei como te via!)
= = = = = = = = = = = = =

REALEJO

Minha vida bela,
Minha vida bela,
nada mais adianta
se não há janela
para a voz que canta...

Preparei um verso
com a melhor medida:
rosto do universo,
boca da minha vida.

Ah! mas nada adianta,
olhos de luar,
quando se planta
hera no mar,

nem quando se inventa
um colar sem fio,
ou se experimenta
abraçar um rio...

Alucinação
da cabeça tonta!

Tudo se desmonta
em cores e vento
e velocidade.
Tudo: coração,
olhos de luar,
noites de saudade.

Aprendi comigo.
Por isso, te digo,
minha vida bela,
nada mais adianta,
se não há janela
para a voz que canta...
= = = = = = = = = = = = =

SEREIA

Linda é a mulher e o seu canto,
ambos guardados no luar.
Seus olhos doces de pranto
— quem os pode enxugar
devagarinho com a boca,
ai!
com a boca, devagarinho...

Na sua voz transparente
giram sonhos de cristal.
Nem ar nem onda corrente
passuem suspiro igual,
nem os búzios nem as violas,
ai!
nem as violas nem os búzios...

Tudo pudesse a beleza,
e, de encoberto país,
viria alguém, com certeza,
para fazê-la feliz,
contemplando-lhe alma e corpo,
ai!
alma e corpo contemplando-lhe...

Mas o mundo está dormindo
em travesseiros de luar.
A mulher do canto lindo
ajuda o mundo a sonhar,
com o canto que a vai matando,
ai!
E morrerá de cantar.
= = = = = = = = = = = = =

SERENATA

Permite que feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.

Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silêncio
e a dor é de origem divina.

Permite que volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.

Fonte:
Cecília Meirelles. Viagem. Lisboa: Império, 1938.

Whalmir Anna von Koenig (Menina no parque)


Domingo, não um daqueles ensolarados, mas um em que o frio o tornava cinzento. A Redenção aos poucos ia sendo preenchida por quem ainda confiava que a previsão do tempo estivesse, pelo menos, meio equivocada. Havia esperança de que uns raios de sol ultrapassassem as nuvens. Espalhados pelo canteiro central da José Bonifácio, entre a Oswaldo Aranha e a João Pessoa, os expositores tentavam vender seus produtos no Mercado das Pulgas, o inspirado e similar ao de Buenos Aires. As mercadorias, antigas ou nem tanto, custavam a sair, eles reclamavam, mesmo assim insistiam e seguiam em lenta espera.

Em frente ao Monumento do Expedicionário, do outro lado da calçada, aos poucos os caminhos de areia iam sendo preenchidos. O tempo passava e eu sentei em um dos bancos, explorava o movimento. Era um domingo especial. Comecei a contar as pessoas 1, 2, 3, 4, 5 e parei, eram várias e todas vinham acompanhadas. Uns empurravam bicicletas tentando manter seus pequenos ocupantes equilibrados. Outros compravam balões que acabavam subindo e subindo em direção ao céu pela inabilidade de quem os segurava. Alguns jogavam bola, dividiam e faziam piruetas com bolas de futebol estilizadas, compravam algodão doce, tentavam pular corda, carregavam bonecas sem muita intimidade, empurravam carrinhos de bebe. No ar sorrisos e choros.

Ontem, dia 12, foi o Dia das Crianças. Pais e mães, orgulhosos, comemoravam com seus descendentes na certeza que são imortais. Seus filhos garantiram a sequência dos seus genes, terão continuidade. Enquanto eles desfrutavam a companhia uns dos outros, de longe, aquela menina observava. Imaginei que teria uns dez anos, no máximo. Mal vestida e suja. Descabelada. Só. Uma das tantas crianças abandonadas, sem futuro, sem perspectiva. Eu vigiava e não me contive a uma proximidade. Com um pacote de pipoca nas mãos a seduzi para uma conversa que, na verdade, eram interrogações que eu queria ver respondidas. Me lançou um olhar desacreditado. Depois, se entregou a esses minutos de atenção. Pouco sorria. Agarrou com força e cobiça a embalagem oferecida.

Imersa em sua timidez, contemplava e parecia que nenhum sentimento a emocionava. Apenas olhava o que desconhecia, o que nunca teve no passado, nem no presente e nem terá no futuro. Sequer entende o significado de saudade. Me disse não saber o que é ter um pai, pois nunca teve um, nem conhece bem o significado dessa palavra. Às vezes alguns homens apareciam pelo barraco dividido com sua mãe e vários irmãos, mas eles meramente passavam. Nunca recebeu um afago ou palavra de carinho. Lembra tão somente de momentos tristes e demasiada violência. Entende o sofrimento. Irmãos? Cinco mas desconhece a idade, como não sabe a dela.

A menina olhava interrogativa inundada pelo que desconhecia. Quem sabe aquele seria seu dia de felicidade? Experimentar ser feliz. Afinal ser criança é acreditar que tudo é possível. Talvez alguém segurasse sua mão e a levasse até o parquinho, uma volta no carrossel ou no carrinho de choque. Nunca ganhou um presente sequer simples muito menos bem bonito, bem embalado em folhas coloridas, arrematado com um grande laço de fita. Dia da criança? O que é isso, tia? Ela estava ali, quase morava naquele local onde tentava a compaixão dos passantes para ter algo que comer. Gestos ansiosos.

Falava pouco e mal, as palavras saíam erradamente soletradas. Não conhece bem o linguajar. Em tempo algum frequentou escola. Seu olhar meigo, apesar da vivência, é triste e longo, perdido na imagem de um extenso abraço que um pai dava no seu filho retribuído com um beijo estalado. Desses que só as crianças sabem dar. Ela viveu mais um dia, simplesmente, como tantos outros, apenas passando. Permaneceu em seu interior o silêncio de todos os seus segredos. Os que não compartilha. Talvez o sigilo do que nunca começou, da tristeza por nunca ter vivido.

Carlos Leite Ribeiro (Marchas Populares de Lisboa) Bairro Alto


Ruas antigas e sinuosas onde se cruzam velhos moradores e as gerações mais novas, frequentadoras da noite. Os bares modernos, as lojas de roupa e de artesanato foram substituindo as “boites” e os “dancings”. E, apesar do ar tradicional, o bairro ganhou nova vida.

Em 1515, a Companhia de Jesus construiu uma ermida dedicada a São Roque, intercessor contra a peste. Era este o nome inicial do Bairro Alto. Nessas terras, as casas eram poucas ou nenhuma. O terreno servia, essencialmente, para a agricultura. Mas, em 1528, nasceu uma urbanização diferente das existentes até então na cidade. Vila Nova de Andrade era composta por ruas e quarteirões com traçado retilíneo. O nome deve-se ao fato de ter sido erguida na Herdade da Cotovia. O espaço dava lugar a hortas e vinhedos pertencentes a Nicolau de Andrade. Só dois séculos e meio mais tarde é que este tipo de urbanização começou a aparecer na baixa.

Nessa altura, são edificadas duas capelas: a das Chagas e a do Loreto. A primeira, foi construída, sobretudo, para os navegadores; a segunda para os italianos que visitavam ou moravam em Lisboa. Com o terremoto de 1755, parte do bairro ficou destruído. A reconstrução foi feita de acordo com a arquitetura Pombalina e obedeceu a um esquema geométrico e retilíneo.

 Devido a esta intensa modernização, o local cativou a nobreza e foram construídas residências de luxo e palácios. Em 1768, ergueu-se, no Bairro Alto, o edifício da Santa Casa da Misericórdia. A primeira Escola de Artes Marítimas e o Conservatório Nacional, a atual Escola Superior de Arte, Teatro e Cinema, também nasceram nesta zona.

Atualmente, o Bairro Alto divide-se em três freguesias: a de Santa Catarina, a das Mercês e a da Encarnação. Esta última, antiga freguesia do Loreto, viu nascer a maioria dos jornais lisboetas. Aliás, em quase todas as ruas do Bairro Alto existia um órgão de imprensa. A influência foi tal que alterou a própria toponímia da cidade. A Rua dos Calafates, por exemplo, passou a chamar-se Rua do Diário de Notícias e a Rua Paiva de Andrade era a antiga Rua da Luta.

Aqui surgiram e persistiram alguns jornais, como o “Diário de Notícias”, o “Diário de Lisboa”, o “Diário Ilustrado” e o “Jornal da Tarde”. O Lisboa Clube Rio de Janeiro resultou da fusão de outras duas coletividades existentes no bairro, em 1938. O Lisboa Clube focava as suas atividades principais nos campos cultural e recreativo.

O União Clube Rio de Janeiro estava mais vocacionado para a vertente desportiva, principalmente, para o ciclismo. Talvez por isso, a primeira atividade a ser fortemente impulsionada pelo clube foi, precisamente, a desportiva, mas dando maior destaque à luta, ao boxe, ao tênis de mesa, ao basquetebol, à ginástica e ao futebol de cinco. Na luta, a coletividade já tem cerca de quarenta atletas praticantes que competem a nível internacional e conseguem, quase sempre, excelentes resultados. Porém, o ciclismo continua a ser “a menina bonita dos olhos” da coletividade. Sem esquecer a atenção que depositam nas marchas populares do bairro, e no arraial, que são de âmbito cultural.

MARCHA DO BAIRRO ALTO
(Olhem bem o Bairro Alto)


“O Bairro Alto
Vistoso e com “Gajé”*
Mora tão alto
para mostrar quem é.

Bairro de artistas
Que colhe tanto gênio
Quer dar nas vistas
Ao chegar ao milênio!

E com vaidade
Dizer que é alguém
Nesta cidade
A quem quer tanto bem.

Bairrismo eterno
Vive em seu coração
Está mais moderno
Mas honra a tradição.

(Refrão)

Olhem bem o Bairro Alto
Cantando
Bailando
Com garbo e alegria
Olhem bem o bairro Alto
Que a “Estranja”
É canja !
Visita noite e dia.

Olhem bem o Bairro Alto
Artista
Fadista
Que mostra ter bom gosto.
Ó Lisboa que és amiga
Aceita esta cantiga
E vem cantar conosco.

No Bairro Alto
Com tascas nas vielas
Ouve-se o fado
Cantado à luz de velas.

E a juventude
Em noites de lazer
Vem amiúde
Ciosa de aprender.

No Bairro Alto
Altar desta cidade
Há sempre um beco
Onde mora a saudade.

Gente modesta
Mas sempre aberta ao gênio
Já está em festa
Sonhando com o milênio.”
===============
* Gajé = elegância, graça
 
Fonte:
Este trabalho teve apoio de EBAHL – Equipamento dos Bairros Históricos de Lisboa F.P.
http://www.caestamosnos.org/autores/autores_c/Carlos_Leite_Ribeiro-anexos/TP/marchas_populares/marchas_populares.htm

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Edy Soares (Manuscritos (Di)versos) 21: Avareza

 

Aparecido Raimundo de Souza (Sono pra lá de heteróclito)


ARMÊNIO FOI FLAGRADO enquanto dormia e roncava na sala de aula. A professora, furiosa, em vista daquela falta de atenção de seu aluno, achou por bem mandá-lo para casa. Como fora a primeira cochilada, apesar de muitíssimo chateada com a desatenção do garoto e a gozação dos demais que compunham a maioria dos presentes, daria uma chance. Perdoaria o moleque e não tomaria nenhuma decisão mais drástica junto à diretoria da escola, tampouco mandaria bilhete (via caderno) advertindo os pais para que viessem ter com ela uma conversa de pé de ouvido.

Em face desse ocorrido, dona Ximanga vendo o filho mais cedo em casa ficou com a pulga atrás da orelha, além de muito cabreira. Resolveu tirar a história a limpo. Interpelou o piá sem mais delongas:

— Ar, por que chegou antes do horário previsto em casa?

— Não cheguei mãe!

— Como não? Seu horário é cinco e meia da tarde e ainda não deu três horas. Qual o motivo do seu regresso repentino? Vamos, deixa ver se existe alguma observação enviada por algum de seus professores.

— Estou dentro do meu horário, mãe.

— Não minta.

— Seu relógio é que está errado.

— Ar, não se faça de besta e não me tire como tonta.

— Não estou tirando...

— Como não? Acaso está escrito aqui na minha testa que sou BURRA?

— Não senhora!

— O Caderno. Quero ele aqui em minhas mãos. AGORA...

Armênio procurava de todas as formas ganhar tempo:

— A professora não mandou nenhum recado para a senhora.

— Armênio, sua mãe é loira?

— Até ontem a senhora era... não sei porque pintou o cabelo de vermelho!

— Ar, não mude de assunto. E nem pense em bancar o espertinho para cima de mim. Vamos, me fale, por que chegou cedo?

— Não cheguei mãe, já disse!

— Ar, não insista em continuar querendo se fazer de idiota. Você não é. Seu nariz vai crescer. Lembra daquele menino do livro, um tal do Timóteo?

Armênio tentou se abrir numa boa e gostosa gargalhada com o nome errado do personagem, mas a mãe se manteve de semblante fechado, mais séria que lagartixa em parede:

— Não é Timóteo, mãe, é Pinóquio.

— O nome não importa. O que conta é a mentira. Vamos, desembucha...

— Eu não tenho nada para desembuchar, mãe. Já disse.

— OK. Se prepare. Vou tirar aquilo que você mais gosta...

Do quase riso, o menino fez cara de quem se abriria num berreiro medonho:

— Não, mãe, isso não. Aí a senhora está jogando sujo.

— Está resolvido. A partir de agora, você está proibido de...

Antes que a mãe completasse o que pretendia dizer, Armênio, de fato, começou a chorar copiosamente:

— Não, mãe, tudo, menos isso...

— Está decidido. Fim de papo. Vou pegar o telefone e ligar para seu amiguinho Pimpolho...

Diante da austeridade incomplacente (*) da genitora, Armênio danou a bater com a cabeça na quina dos móveis:

— Para o Pimpolho não, mãe. Nãooooooo!...

— Pode quebrar tudo... não estou nem aí. Só cuidado com a parede da sala, se resolver se machucar de verdade com alguma coisa mais pesada que a mesa e os armários aqui da cozinha.

— O que tem ela?

— Esqueceu?

— Sim...

— A parede da sala está segurando o resto da casa.

O pranto sentido do moleque se fez mais pontiagudo e contundente:

— Pelo amor de Deus, mãe. Não liga paro o Pimpolho.

— Então conte a verdade. Por que chegou mais cedo em casa?

— Está bem, mãe. Eu conto.

— Sou toda ouvidos em alerta... desembucha.

— Promete que não vai ligar para o Pimpolho.

— Canta logo o motivo, seu cachorro. Se eu não me convencer...

Armênio abriu o jogo:

— Dormi na sala de aula. A professora ficou uma arara.

— Qual matéria?

— A de português.

— Eu sabia. Também pudera! Fica grudado na frente da televisão jogando até tarde da noite com o irresponsável do Pimpolho. Ontem você foi se deitar, passava das quatro da manhã.

— Estamos num campeonato, mãe. Se a gente perder...

— Como é mesmo o nome dessa porcaria de jogo?

— CBLOL, ou “League of legends”, mãe. Hoje acontece a grande final. A gente vai acompanhar pelo canal do YouTube e votar no Craque.

— Tudo bem. Mas fica o aviso: se o senhor voltar a dormir, diga adeus à essa porcaria que não leva você à coisa alguma. Estamos entendidos?

— Sim, mãe.

— Outra coisa: se eu souber que o senhor saiu do ar na sala de aula de novo, não importa de qual professora. Corto a sua amizade com o Pimpolho e pior: vendo a televisão.
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* Incomplacente – Aquele que não tem complacência ou que não é benevolente, flexível ou obsequioso.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Cecim Calixto (Cajado de Sonetos) VIII


CARROÇÃO DE BOIS

{antiga transportadora de toras)

Meu serviçal, meu carroção vetusto
Puxado a bois, de cabeçalho ereto,
E meu parceiro que dá renda e custo
Para a família de labor completo.

Passou o tempo... meu trabalho injusto
Traçou o dano de perverso aspecto.
E a natureza me pregou um susto
Pelo confronto sem nenhum afeto.

Meu pesadelo; pinheiral caído
Que me atormenta o coração doído
Servindo ao néscio, sem ganhar dinheiro.

Desatrelei os animais da canga
E, arrependido, debelei a zanga
E de castigo fui plantar pinheiro.
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NOVAS VIRTUDES

Vou procurar na madrugada estranha
Novos enfeites para a minha musa.
Sempre distante de qualquer barganha
Ante oferenda de formal recusa.

O gesto rude e vil, realmente, assanha
E invade espaço sem pedir escusa.
Porém a glória impede a audaz façanha
Que o gênio expulsa como nódoa intrusa,

E o dever diz; olhai o irmão carente
Onde não chega o amor e o abraço ausente
Do repudiado e visionário ateu,

Atiça a brasa do fogão antigo,
Enche a panela de feijão amigo
Sem precisar dizer porque acendeu.
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PLANTA! PLANTA!

Reclama a vida por um ar mais puro,
E a natureza a repetir: Urgente!
Carece o humano, do pensar maduro,
Tomar a terra a natural semente.

Olho à distância e já não mais aturo
Este negrume pela mata ausente,
A derrubada ao florestal maduro
Devasta o mundo que se toma quente.

Tenha piedade do pequeno arbusto...
Quanto à floresta não sejais injusto,
Pois quem a cuida o nosso Mestre ajuda.

Estenda a mão ao sofredor que implora,
E a seu irmão que arrependido chora,
Rogando ao Céu que a humanidade acuda.
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SOMBRA DO AMOR

Sofrida espera no saguão deserto,
Mirando a porta de chegada sua;
Não sei do horário, nem o dia certo,
Por isto ansioso meu pensar flutua.

Na despedida não agi esperto,
Pois meu sentido devagar atua,
Assim estou com todo espaço aberto
Sempre vigiando seu chegar da rua.

Não queira nunca se ausentar de mim
Não deixe mais o meu amor assim
Possuído e triste deste mal do anseio.

Agora sei como tornar-me vivo:
Longe outra vez vou me tornar ativo,
Serei à sombra deste seu passeio.
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TELEFONE INGRATO

Quase destruo o telefone mudo,
Velho caduco que jamais me fala.
Ele bem sabe - de aflição acudo -
Ouvir a voz que o coração regala.

Esperto não usa o tom agudo,
Quando me vê transfere toda escala.
O baixo tom é o seu tenaz escudo,
Mais a esperteza da vilã cabala.

Como viver neste cruel negrume
Quando demonstra sobre mim ciúme,
De forma vil e que jamais me apraza.

Um jeito existe e bem assim não brigo:
Eu vou trazê-la a residir comigo
E colocá-lo no porão de casa.

Fonte:
Cecim Calixto. Flores do meu cajado: sonetos. Curitiba: Juruá, 2015.

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Therezinha D. Brisolla (Trov’ Humor) 06

 

Artur de Azevedo (Paga ou morre!)


O ano de 1864 foi assinalado no Rio de Janeiro por duas calamidades notáveis: a chuva de pedras e a quebra do Souto.

O Souto era o mais acreditado e o mais popular dos banqueiros havidos e por haver no Brasil; a sua casa inspirava uma confiança absoluta, e não havia homem do trabalho que, avisado e previdente, não houvesse lá depositado as suas economias.

Quando começaram a aparecer os primeiros rumores sobre o mau estado das finanças do Souto, ninguém se importou com isso: toda a gente encolheu os ombros. Supor naquele tempo que o Souto quebrasse era o mesmo que acreditar na quebra do Pão de Açúcar. O banqueiro na sua casa da Rua Direita não estava menos seguro que o famoso rochedo.

Mas os rumores sinistros foram num crescendo inquietador, até que os mais incrédulos começaram a acreditar no que se dizia: o Souto estava falido! Houve então a inevitável corrida.

A invasão dos franceses, a chegada do príncipe regente, as águas do monte, a declaração da guerra do Paraguai, a proclamação da República, a revolta de 6 de setembro, talvez não alvoroçassem tanto o espírito dos cariocas. Não se falava noutra coisa, a consternação era geral, todos se lamentavam, choravam todos o seu dinheiro perdido, e a ninguém aproveitava o ditado de que o mal de muitos consolo é.

Havia então nesta cidade um moço entre vinte e cinco e trinta anos, que, sem pai, nem mãe, sem ter tido a proteção de ninguém, levado apenas por uma grande força de vontade e por um talento ainda maior, conseguira formar-se em medicina, e sair da escola com um nome feito.

Pouco depois de formado casou-se, e a sua união foi logo abençoada, como se dizia naquele tempo: nasceram-lhe dois filhos de seguida.

Veio então ao médico o desejo natural de possuir uma casa, e, para isso, começou a economizar quanto podia, conseguindo, em 1864, ter reunidos vinte contos de réis na casa do Souto. Absorvido pela sua clínica e pelos seus estudos, ele ignorava os boatos que corriam acerca da insolvabilidade do banqueiro, de sorte que só veio ao conhecimento do fato quando a bomba estava prestes a estourar.

O seu desgosto foi profundo. Aqueles vinte contos representavam um sacrifício tremendo, porque, para ajuntá-los, ele se privara de tudo, a si e a sua família.

Desesperado, correu ao Souto, que o mandou entrar para um escritório onde trabalhava sozinho. Quando o banqueiro declarou que não lhe era possível restituir os vinte contos, ele correu à porta, fechou-a, guardou a chave na algibeira e, puxando um revólver, apontou-o contra o outro, dizendo:

- Se não me dá imediatamente o meu dinheiro, faço-lhe saltar os miolos! Paga ou morre!.

E aí está porque o Dr.... (com certeza muitos leitores lhe sabem o nome) foi o único credor do Souto que em 1864 recebeu integralmente a importância da sua dívida. Perdeu apenas os juros.

Ele nunca mais fez uso do seu revólver; mas o seu bisturi tornou-se ilustre.

Baú de Trovas LVIII


Irmanemos nossas vidas
numa união generosa,
tal como vivem unidas
as pétalas de uma rosa!
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
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Para não ver meu amor
vagar no mundo tristonho.
resguardei-o com primor
numa redoma de sonho!
ANA MARIA NASCIMENTO
Aracoiaba/CE
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Recebeu tanta coroa
o coitado do defunto,
que eu quase empurro a patroa,
para ver se ela ia junto...
ANTÔNIO CARLOS TEIXEIRA PINTO
Brasília/DF
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Sendo tão chata, a Constância
tem mesmo um nome batata,
já que desde a sua infância
constantemente ela é chata...
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ
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Quem faz o bem não concebe
que a ingratidão seja ofensa,
pois de Deus é que recebe
verdadeira recompensa.
ARCHIMIMO LAPAGESSE
Florianópolis/SC, 1897 – 1966, Rio de Janeiro/RJ
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Não queiram me avaliar,
que apenas eu mesmo sei
quanto me custou dobrar
as esquinas que dobrei.
ARLINDO TADEU HAGEN
Juiz de Fora/MG
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Eu creio em Deus, porque creio
que tudo d'Ele provém.
— do Mal não guarda receio
quem crê na força do Bem!
ATHOS    FERNANDES

Itaperuna/RJ, 1920 – 1979, Bom Jesus do Itabapoana/RJ
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Aos nubentes bato palmas
e um conselho deixo aos dois:
primeiro casem as almas,
casem os corpos depois...
BELMIRO BRAGA
Vargem Grande/MG, 1872 – 1937, Juiz de Fora/MG
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Este vazio em meu peito,
dói tanto... é dor que não finda!
...Dor da saudade... que aceito,
sem ela... dói mais ainda!
CAROLINA RAMOS
Santos/SP
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Décimo oitavo casório
de uma noiva conhecida.
No seu encanto ilusório,
diz que é pro resto da vida
CESAR AUGUSTO RIBAS SOVINSKI
Curitiba/PR
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Toda sogra faz lembrar
um monjolo impertinente:
— se não tem o que socar,
soca a paciência da gente...
CESÍDIO AMBROGI

Natividade da Serra/SP, 1893 — 1974, Taubaté/SP
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De “mau jeito” o Zé Baleia,
pescador de sorte estranha,
noivou com uma sereia,
casou com uma piranha..
CLÁUDIO DE CÁPUA
São Paulo/SP, 1945 – 2021, Santos/SP
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Nossa divergência é clara,
embora eu te guarde estima,
tu és muro que separa,
eu sou ponte que aproxima.
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Nova Friburgo/RJ
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Pecando assim, me condeno,
porém a ambição se expande:
santo — eu seria pequeno;
demônio — eu posso ser grande!
ÉLTON DE CARVALHO
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1994
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Trova! Trova abençoada!
Nesta dura escuridão,
és a porta escancarada
para a minha salvação!
ERCY M. MARQUES DE FARIA
Bauru/SP
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Eu, que não tenho certeza
de ser amado na vida,
quero viver na incerteza
das incertezas da vida.
EUCLIDES DA CUNHA
Cantagalo/RJ, 1866 – 1909, Piedade/RJ
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Sê bondoso e destemido,
vigilante em teus caminhos.
— Se não queres ser ferido,
evita plantar espinhos.
FLÁVIO ROBERTO STEFANI
Porto Alegre/RS
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As carícias em meu rosto,
tu finges não perceber
os sinais que, de mau gosto,
o tempo brinca em fazer,
GIVA DA ROCHA
São Paulo/SP
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À tardinha, junto ao cais
no meu porto de Ilusão,
como dói amar demais
a quem não tem coração !
IALMAR PIO SCHNEIDER
Porto Alegre/RS
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Debruçado na lagoa,
qual Narciso a se mirar,
pescador jamais enjoa
de sonhar e de pescar…
JAQUELINE MACHADO
Cachoeira do Sul/RS
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A vida — uma onda que avança
e volta — vaivém do mar...
Quando vai, quanta esperança!
Quanta amargura, ao voltar!
J. G. DE ARAÚJO JORGE
Tarauacá/AC, 1914 – 1987, Rio de Janeiro/RJ
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Enfrentando a adversidade,
caminho sem direção…
Mãos dadas com a saudade,
a tristeza e a solidão…
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR
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Fugir poeta, não queiras,
do que a vida preceitua:
teu destino é abrir fronteiras
e deixar que o sonho flua!
JOSÉ OUVERNEY
Pindamonhangaba/SP
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Cumpro o meu fado inclemente,
no museu dos meus fracassos,
vendo a saudade insistente
rondando sempre os meus passos.
JOSÉ VALDEZ DE CASTRO MOURA
Pindamonhangaba/SP
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De todas as despedidas,
esta é a mais triste, suponho:
— duas almas comovidas,
chorando a morte de um sonho!...
JOUBERT DE ARAÚJO SILVA
Cachoeiro de Itapemirim/ES, 1915 - 1993, Rio de Janeiro/RJ
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Num açougue não se assanha
quem comprar carne sem osso,
pois se não quiser picanha
tem costela e tem pescoço.
LUIZ DAMO
Caxias do Sul/RS
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Com retalhos de lembrança
eu costurei, sem maldade,
meus amores de criança
com suspiros de saudade...
MARIA HELENA URURAHY C. DA FONSECA
Angra dos Reis/RJ
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Morreu coroa e donzela...
foi ao céu, mas deu azar:
sentindo as pretensões dela,
disseram: — Não pode entrar!
MARIA NASCIMENTO SANTOS
Rio de Janeiro/RJ
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Não me assustam as fogueiras
das noites de Santo Antônio;
tenho medo é das solteiras
que procuram matrimônio...
ORLANDO BRITO
Niterói/RJ, 1927 – 2010, São Luís/MA
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Lendo sobre camisinha,
Joaquim logo gargalhou.
Em peça pequenininha
de agasalho ele pensou!
PAULO ROBERTO O. CARUSO
Niterói/RJ
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Tem dez filhos o ceguinho...
E a cada filho que nasce,
explode sempre o vizinho:
— Calculem se ele enxergasse!
P. DE PETRUS
São Paulo/SP, 1920-1999
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Rompeste um antigo laço,
contudo mantenho aceso
este amor que não desfaço.
mas disfarço com desprezo.
RELVA DO EGYPTO RESENDE SILVEIRA
Belo Horizonte/MG
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A semente pequenina,
sob a terra, protegida,
é assinatura divina
no grande livro da vida.
SELMA PATTI SPINELLI
São Paulo/SP
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Disse adeus... sorri, sem jeito...
cruzei a ponte, por fim...
... Nunca um rio tão estreito
foi tão largo para mim!...
SÉRGIO BERNARDO
Nova Friburgo/RJ
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Faço trova e, divertida,
em humor "me saio'' bem;
- Eu só quis mostrar à vida,
como eu sei brincar... também!
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP
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Eu sempre lutei sentindo,
nesta arena em que se vive,
a mão de Deus dirigindo
cada conquista que eu tive.
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR
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Os teus vestidos, Vitória,
e os lindos sapatos altos,
representam promissória
pela qual dou muitos saltos!
VASQUES FILHO
Teresina/PI, 1921 – 1992, Fortaleza/CE
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Se tu não gostas de mim,
não fiques me perseguindo.
— Coincidência tanta assim
não pode estar existindo...
WANDISLEY GARCIA
General Salgado/SP, 1945 – 2020, Jales/SP
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Entendo as pessoas calmas
e de corações profundos.
— Quando a fé levanta as almas,
as almas levantam mundos!
ZÁLKIND PIATIGORSKY
Rio de Janeiro/RJ, 1935 – 1979

George Abrão (A jabuticabeira do enforcado)


Onde hoje está construído o prédio do novo Grupo Escolar “Isabel Branco”, na Cidade Alta, existia um grande terreno baldio. No meio do mesmo passava uma ruela que embora não fosse oficial, era de domínio público: por ela passavam, no dia a dia, pessoas a pé ou a cavalo, carroças e até pequenos caminhões.

Nesse terreno havia algumas jabuticabeiras bem antigas. Numa delas, à beira do caminho, que tinha seus galhos bem baixos, numa manhã, foi encontrado o corpo de um senhor idoso que lá havia se enforcado. Dizia-se que o galho era tão baixo e a vontade de morrer era tanta, que o mesmo precisou ficar de joelhos para alcançar seu intento.

Muito embora para nós, moradores nas imediações, aquela rua encurtasse bastante o trajeto em direção à Cidade Baixa, quando caia à tarde nem em sonhos passávamos por lá, com medo de assombração. Apavorávamo-nos com a ideia de encontrar o velhinho enforcado.

Isso acontecia sempre comigo, tinha tanto medo que até de dia evitava passar por lá. Até que numa noite, quando brincávamos na rua e na brincadeira quem perdia era obrigado a pagar um castigo, perdi, e o meu era correr pela ruela até a fatídica jabuticabeira e ficar parado lá até que me dessem ordem para voltar. Pedi para trocarem até por dois ou mais castigos, mas em vão, meus algozes irredutíveis, confirmaram que eu teria mesmo que ir até lá.

Como a noite era de lua cheia e o caminho estava claro, enchi-me de coragem e parti preparado para o pior.

Quando cheguei ao local minhas pernas tremiam e eu transpirava por todos os poros.

Mas, enquanto esperava a chamada dos meus amigos comecei a rezar e só vi, na minha frente, a jabuticabeira iluminada pelo luar. Nada de extraordinário aconteceu, perdi o medo e, depois de chamado, voltei feliz, pois daquele dia em diante nunca mais acreditei em assombrações.

Fonte:
George Abrão. Jaguariaíva e seus 172 causos, Maringá/PR, 2009.
Ebook enviado pelo autor.

Carlos Leite Ribeiro (Marchas Populares de Lisboa) Bairro do Alto do Pina


Com o passar do tempo, as antigas quintas do senhor Pina transformaram-se. Agora, restam as lembranças das hortas e dos espaços abertos de outrora, ficou a Alameda D. Afonso Henriques com a sua Fonte Luminosa.

Alto do Pina era formado por um conjunto de quintas, outrora os grandes jardins da Capital. Verdadeiros exemplares da harmonia entre o Homem e a Natureza, propriedades das famílias abastadas de Lisboa, era nestes espaços privilegiados que trabalhava grande parte da população que residia na encosta que desce até Santa Apolónia. A maioria ganhava o seu sustento nas terras altas, as quais eram atravessadas por grandes artérias que ligavam a cidade ao interior. Eram propriedades do senhor Pina, um familiar de Pina Manique, Intendente da Polícia nos tempos de Marquês de Pombal e da rainha D. Maria l.

Assim, o nome deste bairro deve-se, essencialmente, à população que batizou as terras altas por Alto do Pina. Esta era a zona escolhida para o lazer dos habitantes, nos dias de festas, domingos e feriados, que aproveitando a sombra das árvores, cantavam fado e modinhas, acompanhados à viola e à guitarra. Ao longo dos caminhos, ficavam os “famosos retiros”, locais de boemia, de apreciadores da “boa mesa”, da Literatura e do Fado.

Estes eram tão apreciados pelo povo como pelos fidalgos residentes no Areeiro. Atualmente, este bairro representa grande parte da freguesia de São João e vai até à freguesia do Beato. Hoje, o Alto do Pina é um bairro de contrastes, onde se misturam arquiteturas da Lisboa doutros tempos com as deste fim de século, como por exemplo, as Olarias e a Fonte Monumental da Alameda D. Afonso Henriques.

Este ainda é o local de lazer escolhido pelos mais novos para brincarem e jogarem bola, e pelos mais idosos que aproveitam a sombra para descansarem e jogarem cartas. É na Rua Barão de Sabrosa que se situa o Ginásio do Alto do Pina, fundado a 11 de Novembro de 1911. Esta coletividade promove o desporto, especialmente junto das camadas mais jovens, tendo os seus sócios a oportunidade de praticar modalidades como tênis de mesa, futebol de cinco, atletismo e ginástica, entre outras. Ainda têm à disposição uma biblioteca, uma oficina de artesanato e uma seção de teatro.

Desde 1932 que durante os primeiros seis meses do ano, o Ginásio do Alto do Pina deposita grande parte das suas energias na organização da sua Marcha.
 

MARCHA DO ALTO DO PINA
(Aguarela de Lisboa)


“A marcha do Alto do Pina
Vem manter a tradição
De saudar na Avenida
Santo António e São João.
Tem o cheiro de Lisboa
Traz a chalaça brejeira
São mangericos, ai são
Perfumando Lisboa inteira.

(Refrão)
Meu bairro, é Alto Pina
É uma aguarela
Sobre Lisboa
Pintado em tela fina
Pois Santo António
Virou “Malhoa”!

As cores vieram do céu
Foi São João
Que as foi buscar
Quando do alto desceu
Ficou pra sempre
Lá a morar !

Santo António tão feliz
Como a tela que pintou
Foi ao velho chafariz
Bebeu água, descansou.
Na “Manuel dos Passarinhos”
Sentiu Lisboa num fado
Para a moça mais formosa
Arranjou-lhe um namorado.


Fonte:
Este trabalho teve apoio de EBAHL – Equipamento dos Bairros Históricos de Lisboa F.P.
http://www.caestamosnos.org/autores/autores_c/Carlos_Leite_Ribeiro-anexos/TP/marchas_populares/marchas_populares.htm