domingo, 4 de junho de 2023

I Jogos Florais de Irati/PR (Trovas Premiadas)


ESTADUAL (PARANÁ)

VETERANOS

Tema: PEDRA (Lírica/Filosófica)

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VENCEDORES
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1º LUGAR
Quando o propósito é puro,
tudo serve ao bem e à paz.
– Se da pedra faz-se o muro,
também a ponte se faz.
A. A. de Assis
Maringá
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2º LUGAR
Melhor seguires adiante,
dispenso o anel e as mesuras:
a pedra é falso brilhante,
e falso o amor que me juras.
Lília Maria Machado Souza
Curitiba
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3º LUGAR
Não deixe o cientificismo
roubar-lhe o sonho e a emoção.
– Sem a seiva do lirismo,
vira pedra o coração.
A. A. de Assis
Maringá
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4º LUGAR
Depois de tanto desgaste,
do topo avisto a alvorada.
A pedra que me atiraste
serviu-me para a escalada.
Lília Maria Machado Souza
Curitiba
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5º LUGAR
Das pedras nunca se cansam
os homens, com seus exemplos:
alguns essas pedras lançam,
já outros... erguem seus templos!
Maria Helena Oliveira Costa
Ponta Grossa
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MENÇÃO HONROSA
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1º LUGAR
Quem constrói os seus caminhos
com base em reais valores,
enfrenta as pedras e espinhos
e, ainda, semeia flores!
Maria Lúcia Daloce
Bandeirantes
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2º LUGAR
Nas jornadas inseguras
pelas trilhas da emoção,
notei que as pedras mais duras
se encontram no coração.
Albano Bracht
Toledo
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3º LUGAR
Duas situações ruins
que nos aturdem, de fato:
uma é ter pedra nos rins;
outra, é pedra no sapato.
Davi Pereira
Toledo
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4º LUGAR
Desde um tempo bem distante,
as pedras tem seu valor,
podem matar um gigante,
ou conquistar um amor.
Caterina Balsano Gaioski
Irati
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4º LUGAR
Num conceito soberano,
toda pedra tem valor.
É, porém, o ser humano,
a jóia do Criador.
Albano Bracht
Toledo
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4º LUGAR
Pérola é chaga curada;
do nácar da concha, nasce.
Já foi pedrinha lascada,
deu-lhe a ostra nova face.
Lucrécia Welter
Toledo
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5º LUGAR
Quem chega a cargos honrosos
com determinantes passos,
nos caminhos pedregosos
soube afastar os fracassos!
Lucília Alzira Trindade Decarli
Bandeirantes
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ESTADUAL (PARANÁ)

NOVO TROVADOR

Tema: ROCHA (Lírica/Filosófica)

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VENCEDORES
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1º LUGAR
Feito rocha, sê bem forte,
resistente à desventura.
Mesmo estando à própria sorte,
na alegria encontre a cura.
Silvânia Maria Costa
Campo Mourão
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2º LUGAR
Na rocha dura da vida,
esculpi dores e risos.
Hoje fico agradecida
pelos traços imprecisos.
Ana Welter
Toledo
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ESTADUAL (PARANÁ)

VETERANO

Tema: CASCALHO (Humorística)

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VENCEDORES
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1º LUGAR
Setentão que “não se emenda”,
e dá “cascalho” às gatinhas,
gasta toda a sua renda
vendo a renda das calcinhas.
Olga Agulhon
Maringá
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2º LUGAR
No forró, por bebedeira,
Zé tropeçou num cascalho
e ficou a tarde inteira,
“carta fora do baralho”!
Leonilda Yvonneti Spina
Londrina
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3º LUGAR
Anel de lata e cascalho
foi o presente do amado.
É isso, meu bem, que valho?
Não! Te dei o anel trocado.
Lucrécia Welter
Toledo
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4º LUGAR
Nas rimas que eu desencalho
esta foi fácil de achar,
mas o achado pra cascalho
dei pra sogra procurar!!!
Maria Lúcia Daloce
Bandeirantes
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5º LUGAR
Para todos no garimpo,
eu gritei: Pepita de ouro!
Deixei o achado, bem limpo.
Era cascalho, o tesouro.
Maria Eunice Silva de Lacerda
Toledo
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ESTADUAL (PARANÁ)

NOVO TROVADOR

Tema: CASCALHO (Humorística)


1º LUGAR
Do desprender do cascalho,
eu fiz uma arte na vida.
Um lindo penduricalho,
sai sambando na avenida.
Marli Voigt
Curitiba
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2º LUGAR
Filhos são bem engraçados:
não gostam quando trabalho,
vivem todos bagunçados
e só gastam meu cascalho!
Luiz Henrique Sormani Barbugiani
Curitiba
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NACIONAL

VETERANOS

Tema: PEDRA (Lírico/Filosófico)

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VENCEDORES
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1º LUGAR
Na derradeira rodada
do bingo da solidão,
tu foste a pedra “cantada”
que me fechou o cartão...
Edmar Japiassú
Miguel Pereira / RJ
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2º LUGAR
Pedra... Fogo... a seca ataca...
E sol, língua em combustão,
lambe os ossos de uma vaca
que a fome esqueceu no chão.
Manoel Cavalcante
Pau dos Ferros / RN
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3º LUGAR
Chão de pedras, sem guarida,
na agreste visão do estio,
na invernada espalha a vida
no leito firme do rio...
Sérgio Ferreira da Silva
São Paulo / SP
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4º LUGAR
Por entre as pedras e o limo,
um fio de água corrente,
canta feliz sendo o arrimo
da sede de muita gente.
Cipriano Ferreira Gomes
São Paulo / SP
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5º LUGAR
No flagelo das pedradas,
confia em teus atributos,
que as pedras são atiradas
nas árvores de bons frutos...
Edmar Japiassú
Miguel Pereira / RJ
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MENÇÃO HONROSA
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1º LUGAR
Jesus Cristo é pedra forte,
sem ter peso e nem medida...
Seu sofrer venceu a morte,
seu amor nos trouxe vida.
Wilton Di Cali
Guarulhos / SP
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2º LUGAR
Lembrança doce e singela
enchendo o peito de afago:
eu e meu pai na pinguela,
jogando pedras no lago…
Edy Soares
Vila Velha / ES
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2º LUGAR
Tolera ofensa, ameaça
e tudo o mais que se vingue
quem, antes de ser vidraça
já foi pedra de estilingue.
Sérgio Fonseca
Mesquita / RJ
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3º LUGAR
Da pedra bruta aos brilhantes,
mãos calejadas, fiéis,
servem às mãos elegantes
a vaidade dos anéis.
Cipriano Ferreira Gomes
São Paulo / SP
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3º LUGAR
Não te eximas da labuta
que conduz à perfeição...
O talento é pedra bruta
que exige lapidação!
Thalma Tavares
São Simão / SP
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4º LUGAR
Acalma tua alma irada...
segura a tua revolta
e cada pedra chegada,
que leve uma flor de volta!
Carolina Ramos
Santos / SP
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5º LUGAR
O tempo, indomável, faz
o rochedo em pedregulho,
mas segue sendo incapaz
de quebrar o teu orgulho!
Fernando Antônio Belino
S
ete Lagoas / MG
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MENÇÃO ESPECIAL
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1º LUGAR
Tropeço e, na caminhada,
se os meus pés querem parar,
não mudo as pedras da estrada;
mudo o meu jeito de andar!…
Mara Melinni
Caicó / RN
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2º LUGAR
Encanta-me ver na luta
do artista muito inspirado
emergir da pedra bruta
o gesto mais delicado...
Antônio Gonçalves Hudson
Santo Antônio do Grama / MG
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3º LUGAR
Enfrentando as enxurradas
e vencendo os desafios,
as pedras são lapidadas
nas correntezas dos rios.
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho
Juiz de Fora / MG
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NACIONAL

VETERANOS

Tema: CASCALHO (Humorística)

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VENCEDORES
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1º LUGAR
- Sem "cascalho", uma beldade
hoje investe em peça antiga.
- Compra e vende antiguidade?
- Não. Namora o avô da amiga!
José Ouverney
Pindamonhangaba / SP
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2º LUGAR
Ignorando certo aviso,
virou de pernas pra cima!!!
Raimunda, em cascalho liso,
machucou a sua...rima...
Antonio Colavite Filho
Santos / SP
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3º LUGAR
Bebum que arma cambalacho,
sem cascalho, apronta tanto,
que bebe pinga em despacho
na conta do pai de santo!
Ailto Rodrigues
Nova Friburgo / RJ
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4º LUGAR
Gaita, cascalho, dim-dim
(seja lá qual nome for),
bufunfa, grana, ai de mim,
que nunca vi sua cor!
Geraldo Trombin
Americana / SP
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5º LUGAR
Minha sogra – que trambolho! –
não cometeu ato falho.
Foi tirar cisco em meu olho
e colocou um cascalho.
Antônio Francisco Pereira
Belo Horizonte / MG
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MENÇÃO HONROSA
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1º LUGAR
Tentou roubar no baralho...
Se arriscou e apostou tudo...
Mas, se a meta era um cascalho,
levou, foi mesmo, um cascudo!
Sérgio Ferreira da Silva
São Paulo / SP
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2º LUGAR
O garimpeiro se agita,
mas, são "ossos do trabalho":
se não encontra pepita,
não vê nem cor do "cascalho"!
José Ouverney
Pindamonhangaba / SP
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2º LUGAR
Te amar é desafiante,
mas vale sempre o trabalho,
pois pelo teu "diamante"
reviro qualquer cascalho!
Fernando Antônio Belino
Sete Lagoas / MG
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3º LUGAR
Comprar terras com trabalho?
Nem Cabral foi tão artista…
pois só com muito cascalho
dá pra pagar terra à vista!
Renata Paccola
São Paulo / SP
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NACIONAL

NOVO TROVADOR

Tema: ROCHA (Lírica/Filosófica)

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VENCEDORES
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1º LUGAR
Rabisco o que me angustia,
na areia, onde o vento cura;
meus instantes de euforia,
entalho-os na rocha dura!
Luciano Dionísio dos Santos
Caruaru / PE
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1º LUGAR
Cada rocha do caminho
que fere e sangra o meu pé...
É uma rocha que encaminho
aos muros da minha Fé!!!
Hudson de Almeida
Alfenas / MG
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2º LUGAR
Se mesmo a rocha que é dura
pode ser despedaçada,
que pensar da criatura
que está desesperançada...
Terezinha de Jesus Garcia Ferreira
Sidrolândia / MS
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3º LUGAR
Toda mágoa que perdura,
como rocha resistente,
é tão fria, tão escura,
que adoece toda gente.
Rodrigo Celestino Rocha
Goiânia / GO
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4º LUGAR
Se a gratidão desabrocha
na gleba do coração,
dissolve-se toda rocha
e surge flor pelo chão!
Luciano Izidoro de Borba
Tombos / MG
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4º LUGAR
Minha mãe foi mulher forte,
tal a rocha desse chão,
pois batalhou até a morte,
sem deixar faltar o pão.
Mary Guimarães
Taubaté / SP
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5º LUGAR
Não deixes que a grande rocha,
que no caminho aparece,
apague a divina tocha
que Deus representa em prece...
Renato da Silva Cardoso
São Gonçalo / RJ
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5º LUGAR
Terra, rocha flutuante,
vale um cisco no universo.
Você, terráqueo importante,
vale o tanto deste verso.
Júlio Augusto Gurgel Alves
Fortaleza / CE
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MENÇÃO HONROSA
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1º LUGAR
O mar abraça o rochedo,
mas este apenas resiste.
Sabes tu qual é o segredo?
O rochedo diz: persiste!
Adelgício Ribeiro de Paula
Franco da Rocha / SP
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2º LUGAR
Sempre que se faz preciso,
sou firme como uma rocha,
mas não seguro o sorriso
ante a flor que desabrocha.
Mônica Monnerat
Santos / SP
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3º LUGAR
Eu sou firme feito rocha,
mas quando aperta a saudade,
só quero a minha cabrocha,
para ter felicidade!
Norma Bezerra de Brito
Brasília / DF
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NACIONAL

NOVO TROVADOR

Tema: CASCALHO (Humorística)
 
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VENCEDORES
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1º LUGAR
É gíria do brasileiro
quando sem grana, trabalho,
duro, pobre, sem dinheiro,
dizer: - “Estou sem cascalho!!!”
Hudson de Almeida
Alfenas / MG
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2º LUGAR
Malandro pra ter cascalho
faz tudo, menos labuta.
Ganha a vida no baralho
e no dado faz disputa.
Carlos Carvalho Cavalheiro
Sorocaba / SP
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3º LUGAR
Minha mulher ordenou:
- Vá pegar nosso cascalho!
Minha sogra então zombou:
- Além de pobre, um paspalho!
Renato da Silva Cardoso
São Gonçalo / RJ
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4º LUGAR
O pedreiro embriagado
trocou alho por bugalho:
fez do arroz cimento armado;
comeu feijão com cascalho.
Wanda Cristina da Cunha e Silva
São Luís / MA
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Fonte:
Resultado enviado por A. A. de Assis

Nilto Maciel (Menino Ofendido)

Moisés estava morrendo. Lentamente. Coberto de chagas. No mundo inteiro mulheres choravam. Cenas de histeria e desespero. Jornais e televisões exploravam o infausto fim daquele homem tão glorioso.

No ápice de sua glória, Moisés inventou um dos mais fascinantes espetáculos de prazer. Era sua Roma, sua Sodoma. Mistura de motel e cassino. Cinco pavimentos, mais de cem quartos. Uma entrada, com bilheteria. Como nos cinemas e teatros. Galeria de arte, labirintos, saunas, piscinas. Proibida entrada de homens e travestis. Permanência de uma hora, no máximo. Preço do ingresso: dez dólares.

A fortuna de Moisés se fez em pouco mais de três anos, após a fase de modelo e manequim. Considerado um dos homens mais bonitos e atléticos do mundo, nunca se casou. Jamais esteve unido a qualquer mulher.

— Para não atrapalhar os negócios. — dizia.

E como teve início aquele império do sexo?

“Comparável a Hollywood”, afirmou uma revista.

— Meu primeiro passo foi um pequeno anúncio. Recebia em meu apartamento mulheres carentes de amor. Em troca de alguns dólares.

— Mas isso não era novidade nenhuma, Moisés.

— Eu era a novidade. Os outros se vendiam há muito tempo.

Logo depois o modelo alugou uma mansão, contratou meia dúzia de belos rapazes e inaugurou seu primeiro bordel.

— Não convidei o governador, o prefeito, deputados, empresários, homem nenhum.

— Essa gente gostaria de conhecer seus Apolos.

— Mas eu nunca gostei dessa gente.

A vaidade, ou outra ilusão, fez Moisés despedir seus pupilos. E ficou só. As clientes não gostaram da ideia. Muitas desapareceram. Fazia-se a seleção da clientela.

— Você também foi ator.

— Sim, de inúmeros filmes. E também diretor. Além disso, editei revistas. As primeiras onde homens posavam nus.

Apesar de toda a dedicação ao trabalho, Moisés viajava muito. Conheceu quase o mundo todo. Dinheiro e fama não lhe faltavam.

— Como surgiu a ideia do Palácio dos Prazeres?

— Tive um sonho. Eu não era um, porém muitos. Como se multiplicado por espelhos. Então arquitetei a casa de cem quartos. Eu poderia estar em todos eles e receber cem mulheres ao mesmo tempo. O verdadeiro harém.

Formavam-se filas diante do portão. Mulheres de todos os tipos. A maioria coberta de xales. Outras usavam óculos escuros. Porém todas dentro de carros de luxo.

Os quartos eram numerados, e muitas mulheres acreditavam serem determinados números propícios a elas. E esperavam horas e horas pela desocupação do quarto número tal. Porém alguns números vinham acompanhados de cores e nomes. Assim, havia o quarto vermelho, o quarto de Lucrécia Bórgia, o quarto azul da orgia divina, etc.

— E a coisa dos sorteios?

— Quem me encontrasse, recebia de volta o dinheiro do ingresso, com direito de participar do próximo sorteio.

— E quem o encontrasse no quarto tinha direito a que mais?

— A uma hora de prazeres de todos os tipos, sobretudo os sonhados pela cliente.

— E agora, morrendo, coberto de chagas, o que dizer da vida?

Moisés se pôs a chorar, feito menino ofendido.

Fonte:
Enviado pelo autor.
Nilto Maciel. Pescoço de Girafa na Poeira. Brasília/DF: Secretaria de Cultura do Distrito Federal/Bárbara Bela Editora Gráfica, 1999.

Lucy Hay (Como escrever e publicar um livro) – 3, final –

PUBLICANDO SEU LIVRO


1 – Pense sobre a possibilidade de contratar um agente.

Estes são pessoas que trabalharão para você e o ajudarão a fazer com que seu texto seja publicado e vendido. Elas têm contatos no meio para ajudá-lo. Os agentes também são evasivos e difíceis de se conseguir quando você é novo no ramo.

Nem sempre um agente será necessário. Caso pretenda seguir o caminho da autopublicação, talvez não precise dos serviços de um. Procure por agentes em sites especializados. Neles, você pode encontrar perfis e ver que tipos de trabalho estão sendo publicados.

Leia as diretrizes de envio do agente antes de mandar seu material. O mais comum é precisar de:

Uma carta de apresentação de uma página que descreva seu trabalho.
 
Uma sinopse do livro, contendo um resumo breve da sua história.
 
Uma proposta de não ficção, caso tal seja o gênero do seu trabalho.
Este é um documento bastante detalhado, geralmente contendo de 20 a 30 páginas, que delineia sua justificativa para a publicação do livro.
 
Capítulos de amostra ou o manuscrito inteiro.

2 – Pesquise editoras diferentes.

Você pode escolher a autopublicação, mas ser publicado por uma editora de renome é a melhor forma de atingir uma audiência mais ampla.

Algumas empresas escolhem publicar ou ler somente materiais solicitados, manuscritos que passaram por um agente.

Os agentes e as editoras também gostam de materiais que venham de autores ou escritores já conhecidos. No entanto, isso não quer dizer que você não vai conseguir a atenção de nenhum dos dois. Essas pessoas vão querer saber que você tem seguidores e que está se promovendo bastante nas mídias sociais.

Algumas editoras também recebem seu manuscrito, mesmo que você não tenha um agente.

Verifique as opções de autopublicação. Esta pode soar como uma maneira de contornar um grupo de pessoas que só dirá "não", mas é difícil, e o motivo pelo qual há pessoas que publicam livros é porque elas sabem melhor como fazê-lo.

Caso decida seguir tal caminho, você precisará encontrar um bom distribuidor para as cópias físicas. Também é possível publicar sua história como e-book por meio do site da Amazon.

3 – Reduza suas opções de publicação.

Depois que escolher algumas editoras (quanto mais, melhor), comece a pesquisar sobre elas mais a fundo.

Certas empresas escolhem publicar somente para adultos e em gêneros específicos, enquanto outras podem ter uma gama maior de livros aceitos.

Toda a informação deverá estar disponível nos sites das editoras. Algumas têm políticas diferentes e limites de palavras, ou só aceitam livros solicitados.

Quase todas exigem um manuscrito em cópia física (impressa) da sua história. Lembre-se também das especificações. Há empresas que preferem linhas com espaçamento duplo, com um certo tipo de fonte em um certo tamanho etc.

Atenha-se ao que for especificado. Não mande cópias por e-mail ou em CDs, a menos que esteja declarado que você pode.

Nunca envie sua cópia original ou única de nada. Talvez você não receba os materiais de volta.

4 – Considere publicar on-line você mesmo.

A autopublicação de um ebook é uma opção popular e viável, e a maior oportunidade para esse método é o Kindle Direct Publishing da Amazon. Você só precisa fazer o upload do seu manuscrito para o programa e começar a vender cópias.

O serviço KDP é gratuito para uso, porém a Amazon ficará com até 70% dos seus lucros.

Caso escolha a autopublicação, leve seu livro para ser editado por um profissional e contrate um designer gráfico para criar a capa. Usando esse método, todo o trabalho de promover seu livro também ficará por sua conta.

Seja realista. É mais provável que você não se torne o próximo grande hit no seu primeiro livro. A fama não virá da noite para o dia. Na maioria dos casos, são necessários várias obras e muitos anos para se obter uma reputação sólida.

5 – Aguarde e seja paciente.

Envie suas cópias para todas as editoras disponíveis que puder.

Pode levar quatro meses ou mais até que seu livro seja revisado.

Caso consiga um "sim" de uma editora, parabéns! Você verá seu livro nas lojas. No entanto, pode ser que a empresa não faça a divulgação dele para você. Essa tarefa ficará a cargo do agente. A boa notícia é que conseguir um depois que a obra for aprovada é mais fácil. Mas lembre-se de que, na maioria dos casos, a parte do marketing costuma ficar por sua conta.

DICAS

– Lembre-se de que, não importa a sua idade, a maioria das editoras ainda publicará sua história se ela for boa. Prepare-se para aceitar críticas e usá-las de maneira sábia.

– Sempre edite seu próprio trabalho antes de enviá-lo. Nenhuma editora o aceitará se o texto estiver cheio de erros gramaticais e ortográficos ou inconsistente.

– Considere também contratar um editor profissional para ajudar você.

– Continue escrevendo. Embora cada um tenha um estilo de edição diferente, a maioria das pessoas acha melhor produzir o máximo possível enquanto as ideias estão frescas e revisar a história depois.

– Jogue fora as "regras de escrita". Existem mecânicas na linguagem como pontuação, estrutura geral das frases e outras, mas não se prenda ao que ler online quanto a regras como: "nunca escreva na voz passiva" ou "nunca use advérbios". A edição sempre pode vir mais tarde e limpar seu trabalho.

– Lembre-se da etiqueta para editoras e agentes. Sempre siga as regras de envio. A paciência é a chave. Após um mês ou dois sem resposta, talvez você possa procurar outras opções. Não se esqueça de que o trabalho não solicitado costuma ser deixado para depois e pode levar meses até ser revisado.

As editoras nem sempre vão anunciar seu livro. Essa tarefa fica a cargo do autor. A empresa vai vendê-lo, mas não fazer a divulgação dele, a não ser talvez no site.

– Dê a notícia aos amigos e aos familiares e espalhe folhetos pela sua cidade. Crie páginas nas mídias sociais para criar uma expectativa. Às vezes, você pode até conseguir fazer com que uma livraria local divulgue seu livro.

– Procure várias editoras. Algumas vão se interessar por você, outras não.

– Caso tenha uma ideia, comece a escrever e não pare se ficar desanimado. Sentar-se para cumprir essa tarefa pode ser a parte mais difícil.

– Atenha-se à história que está escrevendo atualmente. Se tiver outra ideia, anote-a e veja se pode inseri-la sem levar o texto para outra direção completamente diferente.

– Não tente saber se as pessoas vão gostar ou não. Não tem como um só gênero e tipo de história agradar a todos.

– Planeje a história primeiro para correr menos risco de se afastar dela. Assim também será mais fácil lembrar-se de pequenos detalhes.

REFERÊNCIAS
1. http://www.greatwriterssteal.com/2014/01/24/gws-lecture-notes-stephen-kingsmasterclass-at-umass-lowell/
2. https://www.eduplace.com/graphicorganizer/pdf/5Ws.pdf
3. https://www.reddit.com/r/writing/
4. http://www.theguardian.com/books/2012/jun/14/importance-good-book-editing
5. http://www.authoright.com/author-advice/importance-proper-editing/
6. https://janefriedman.com/find-literary-agent/
7. http://www.publishersmarketplace.com/
8. https://janefriedman.com/start-here-how-to-write-a-book-proposal/
9. http://lifehacker.com/how-to-self-publish-your-own-book-1610916214
10. http://www.amazon.com/gp/seller-account/mm-summary-page.html?
topic=200260520

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Lucy V. Hay é uma autora, roteirista e blogueira que ajuda outros escritores através de workshops, cursos e de seu blog, Bang2Write. Lucy é produtora de duas séries de suspense britânicas e seu romance de estreia, "The Other Twin', está sendo adaptado pela Free@Last TV, que também produziu a série indicada ao Emmy "Agatha Raisin".
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sábado, 3 de junho de 2023

A. A. de Assis (Jardim de Trovas) 28

 

Silmar Böhrer (Croniquinha) 85

Santa delícia o ventinho balançando os galhos da pitangueira ali no portão, enquanto aqui ao abrigo, o calor é escaldante.

Nuances do tempo!

Como também são as nuances da vida.

Passamos calorões por aflição, tristeza, medo, dores, nalgum momento. Mas temos o outro lado também - bons ventos de alegrias, bem-estar, sucessos, regozijo, vida vibrante.  Esperanças.

A vida, o tempo e o vento!

Fonte:
Texto enviado pelo autor

George Abrão (Tempo)

Com o passar do tempo nossas emoções afloram: avivam-se as lembranças, aumentam as saudades, vem a nostalgia.

E tudo isso nos leva a reviver o passado: os bons momentos vivenciados, as pessoas conhecidas, os lugares que visitamos.

Hoje, remexendo no meu baú de relíquias, que guardo no mais recôndito da minha memória, encontrei preciosidades que nele guardei durante a minha vida:

– Um joguinho de madeira composto de pequenos retângulos pintados com os quais se formava casinhas;

– Um trenzinho de plástico pintado de dourado no qual se dava corda e ele corria em círculos soltando fagulhas provocadas por uma pedra usada em antigos isqueiros;

– Um pião de lata colorido em listras, propulsionado por uma haste, que girava e tocava música

– Um caleidoscópio manufaturado com réguas de vidro montadas em forma de triângulo, cobertas com papel e tendo no seu interior pedrinhas coloridas, pétalas de flores e miçangas para que se formassem os desenhos.

– Um pião de madeira com sua fieira, com o qual brincava com os amigos na rua

– Um papagaio confeccionado com varetas de bambu e papel de seda e que empinava no mês de agosto, quando ventava;

– Um cavalinho de pau feito com cabo de vassoura;

– Um carrinho de lata cheia de areia que eu puxava com um barbante;

– Um estilingue para caçar pássaros (ou espantá-los na maioria das vezes);

– A minha primeira cartilha: “Cartilha do Bitu”;

– Minha primeira caneta composta de uma haste de madeira e pena removível de metal que eu molhava no tinteiro, escrevia e secava com o mata-borrão;

– A primeira revista (gibi) que li: “Sesinho”;

– Minha coleção de tampinhas de garrafa;

– Minhas bolinhas de gude multicoloridas (tinha algumas maiores que chamávamos de “carretão”);

– As figurinhas de balas Zequinha com as quais se jogava “bafo”;

– Meus saquinhos (que minha avó costurava e enchia de arroz) para jogar “três-marias”;

Encontrei também as brincadeiras de rua: esconde-esconde, polícia e ladrão, balança caixão, mãe com pique, passa-passa e tantas outras.

E revi meus familiares: bisavós, avós, pais, irmãos, tios, primos;

E meus primeiros amigos, com os quais brincava na rua empoeirada;

E minha primeira sala de aula no Grupo Escolar Isabel Branco, onde a minha querida professora Edi de Almeida Faria pacientemente ensinou-me o bê a bá;

E no recreio, vi-me sentado no cantinho da escada, local onde sempre comia a minha merenda;

E depois, da correria com os colegas de classe e da brincadeira de esconde-esconde;

E revi meus bons vizinhos, pois éramos como que uma só família;

E as excursões ao Chafariz, que sempre me pareceu um local mágico;

Os banhos de rio;

A procura de frutas nos campos do cerrado;

A matinê no cinema, onde na hora do “perigo do meio” dos seriados batíamos os pés;

As festas de aniversário dos amigos e primos nas quais nos esbaldávamos de comer brigadeiro e beber guaraná;

As festas juninas onde sempre havia pinhão e fogueira...

E tantas outras coisas boas da minha infância, que a emoção me tomou e fechei o meu baú.

Fonte:
Enviado pelo autor.
George Roberto Washington Abrão. Momentos – (Crônicas e Poemas de um gordo). Maringá/PR, 2017.

Artur de Azevedo (contos em versos) Juvenal

(contos cariocas)
 
 Chegado há pouco de Nápoles,
Mal completara treze anos
A flor dos italianos,
O formoso Juvenal.
Vendia as folhas diárias;
Cansava as perninhas nuas,
Gritando por essas ruas:
— Cruzeiro! Globo! Jornal! —

Coitado! Vivia o mísero
Como um cãozinho sem dono,
Ao mais completo abandono,
Ora aqui, ora acolá,
A dormir um sono plácido
À noite, nas horas mortas,
Sobre o batente das portas
Deitava-se ao Deus dará!

Da saúde a cor púrpura
Não lhe alterara o desgosto:
Juvenal tinha no rosto
Da infância o róseo matiz.
Era o inocente notívago,
No seu viver lastimoso,
Um miserável ditoso,
Um desgraçado feliz.

O fato não é poético,
Mas à verdade não fujo:
O pequeno andava sujo,
Sujo que metia dó;
Braços, pernas, rosto — ó lastima! —
Enegrecidos estavam,
E o pescoço lhe abraçavam
Negros colares de pó.

Dos seus fregueses no número
Havia um sor. conselheiro:
Ia levar-lhe o Cruzeiro
Cedinho, pela manhã.
No topo da escada nítida
Quem a folha recebia
E pagava, todo o dia,
Era a formosa Nhã-nhã.

Nhã-nhã, um anjo pulquérrimo!
Pálida, triste, franzina...
Era mais do que menina
E menos do que mulher;
Desabrochava-lhe esplêndida,
Entre douradas quimeras,
Flor de quinze primaveras
Em lábios de rosicler.

De vê-la o pobre alegrava-se,
E se acaso não a via,
No fundo da alma sentia
Misterioso torpor...
Um sentimento novíssimo
Entre o respeito e a vontade;
Muito mais do que amizade,
Muito menos do que amor.

Como não a visse um sábado,
Juvenal, todo inocência
Disse consigo: — Paciência;
Eu hei de vê-la amanhã —;
Mas que aflição! que suplício!...
Quantas mágoas e agonias!...
Passar assim vinte dias
Sem que ele visse Nhã-nhã!

Vinte dias! Louco, atônito,
No vigésimo primeiro
A escada do conselheiro
O pobrezinho subiu...
Estava na sala um féretro,
Por tochas alumiado,
Numa eça colocado
Que de surpreso o feriu.

Penetrou na sala, trêmulo,
Vexado como um patife,
E, ao chegar junto do esquife,
Lívido, parvo, estacou...
Nhã-nhã morrera! De lágrimas
Houve tamanha enxurrada,
Que ele de cara lavada
A vez primeira ficou.

Fonte:
Disponível em Domínio Público.
Arthur de Azevedo. Contos em verso (contos cariocas). Publicado originalmente em 1909.
Português atualizado por J.Feldman

Cecy Barbosa Campos (O retorno)

Sentiu, de repente, aquela necessidade de voltar às suas origens. Enquanto sacudido pelos buracos da estrada, olhava pela janela a paisagem que corria diante de seus olhos, revia o seu tempo de criança. Lembrava do menino esperto que brincava, pés descalços e camisa aberta ao peito, sentindo o vento que trazia um cheiro de mato revigorante. Respirou avidamente como se estivesse de volta àqueles dias.

Foi tomado por emoção indescritível. Tanto tempo longe e, agora, a sensação de nunca ter saído. Sua ansiedade beirava o medo. Como estariam a casa onde nascera, a escola, as pessoas com quem lidara no seu dia a dia? Seria reconhecido? Com o coração batendo descompassadamente, chegou à Rodoviária.

Antes de procurar o hotel, resolveu fazer o reconhecimento do lugar. A praça, a igreja, tudo estava igual. A escola continuava no mesmo local, apenas mais velha, desbotada. Depois, procurou a casa, a "sua" casa e não a encontrou. A princípio, pensou que se havia enganado, e que ela poderia estar mais à esquerda ou mais para a direita... Não, teve que reconhecer a verdade — a casa não existia mais. Com o coração apertado, examinou a construção moderna que existia em seu lugar.

Decepcionado, verificou que os rostos que passavam por ele também eram diferentes. "Não se pode voltar ao passado", refletiu. Decidiu-se a tomar o primeiro ônibus e retornar ao presente.

Cansado pelas emoções do dia, caminhou devagar para a rodoviária, levando consigo as recordações de uma vida que ficara para trás.

Fonte:
Cecy Barbosa Campos. Recortes de Vida. Varginha/MG: Ed. Alba, 2009.
Enviado pela autora.

Lucy Hay (Como escrever e publicar um livro) – 2 –

Editando seu livro e preparando-se para publicá-lo


1 – Categorize seu livro.

Depois que terminar sua história, veja se ela segue a política da editora. Por exemplo, a editora australiana Allen & Unwin exige o seguinte:

Ficção infantil.
Para leitores iniciantes, entre cinco e 8 anos, o tamanho é de 5.000 a 10.000 palavras

Para leitores confiantes, entre sete e 10 anos, de 10.000 a 30.000 palavras.

Para leitores médios, entre 11 e 14 anos, de 30.000 a 55.000 palavras.

Romances infanto-juvenis.
Para leitores adolescentes, entre 13 e 16 anos, de 40.000 a 60.000 palavras.

Para leitores mais velhos, com 15 anos ou mais, de 40.000 a 100.000 palavras.

Para obter uma lista completa e mais informações sobre escrita e publicação, visite o site de uma editora e verifique a seção de envio de originais.

2 – Verifique e edite sua história novamente.

Não pense que precisa parar de olhar para ela a partir de certo ponto. Edite-a quantas vezes precisar. Embora você precise editar e dar o máximo de atenção possível ao processo, se não mais do que à escrita em si, também deve descansar.

Você ficou vivendo dentro dessa história que criou, e agora é hora de umas férias. Dar um tempo a si mesmo ajudará você a entrar no espírito da edição, pois como editor, precisará olhar para o próprio trabalho com uma certa frieza e estar pronto para cortá-lo e fazer alterações.

Quando começar, edite o máximo que precisar, mas não continue se não souber qual é o problema. Caso não tenha uma solução concreta, você cortará a história e não saberá como montá-la novamente.

O excesso de edição é possível e perigoso, portanto peça para outras pessoas verificarem o seu trabalho. Um segundo par de olhos pode visualizar lacunas que você perdeu por estar muito próximo do texto. Chame alguém em quem confia para fazer anotações e lhe dar um feedback. Até agora, você operou de modo isolado, mas haverá partes que precisarão de ajustes e que você dificilmente perceberá sozinho.

Leia as notas dos outros e guarde-as. Você provavelmente não vai gostar delas, portanto leia-as, relaxe e, depois de um tempo, volte e incorpore as que forem úteis. Descarte as que não forem.

3 – Chame um editor para ler seu livro.

Depois que tiver editado seu trabalho uma ou várias vezes, é hora de chamar um editor de verdade para lê-lo. Editar não é o mesmo que escrever; você precisará de alguém que saiba desconstruir uma obra, encontrar os problemas e dar a você conselhos sobre como montá-la novamente.

Um editor profissional será especialmente valioso se você mesmo for publicar o trabalho. A última coisa que você quer ver é um erro de ortografia gritante, ainda que bobo, depois de todo o seu esforço. O editor certo dará clareza e fluidez a sua narrativa sem alterar sua voz de escritor.

O profissional trará um olho objetivo necessário a sua obra e ajudará você não só a consertar pequenos erros, mas também a encontrar a história verdadeira por baixo de todas as coisas extras desnecessárias.

O editor também fará com que seu livro pareça profissional.

4 – Faça uma revisão final para ter certeza de que está pronto para publicar.

Depois que você e o editor tiverem revisado o livro até a última forma, cheque se está tudo em ordem.

Veja se você tem um bom título que está pronto para usar.

Comece a chamar a atenção nas mídias sociais. Crie uma página no
Facebook e um perfil no Twitter para seu livro e poste frequentemente
atualizações sobre o que está acontecendo, os próximos passos e outras
informações empolgantes.
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Lucy V. Hay é uma autora, roteirista e blogueira que ajuda outros escritores através de workshops, cursos e de seu blog, Bang2Write. Lucy é produtora de duas séries de suspense britânicas e seu romance de estreia, "The Other Twin', está sendo adaptado pela Free@Last TV, que também produziu a série indicada ao Emmy "Agatha Raisin".
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continua…

Fonte:
https://pt.wikihow.com/Escrever-e-Publicar-um-Livro

sexta-feira, 2 de junho de 2023

Tertúlia da Saudade 06: Helena Kolody



Monsenhor Orivaldo Robles (Gente que ainda existe)

Num dia desta semana, encontrei por acaso duas amigas queridas. Trocamos algumas palavras. Conversa entre amigos não segue planejamento nem conhece trava ou segredo. É papo aberto, que brota da liberdade e da confiança, sobre qualquer assunto. Não se sujeita à censura, nem fiscaliza as palavras. É inevitável sair algo que estranhos tomariam por grosseria. Como um daqueles despautérios do personagem Chaves, da TV, que, após soltá-lo, corre logo a desculpar-se: “Me escapuliu!”. Uma das amigas falava sobre seu filhinho, que se mostra sempre atento às necessidades dos outros. Deu um exemplo para ilustrar. A uma senhora que, por pouco, não tinha levado um tombo capaz de feri-la com gravidade, ele perguntou: “A senhora está bem? Está precisando de alguma coisa?” Isso lá é conversa de um menino de cinco anos? Mal tinha a mãe contado o episódio, fui tomado pelo espírito do Chaves. Sem refletir, soltei em voz alta: “Vai ser um bobo a vida inteira”. Eu não pensava só no garotinho. Nem me referia diretamente a ele. Tinha em mente o meu velho e o seu peculiar jeito de enfrentar a vida.

O pai foi, em todos os seus dias, um daqueles que hoje a maioria das pessoas chama de tonto. Nunca foi capaz de admitir mentira. Acreditava piamente no que escutava. Aferrava-se à verdade com paixão. Não sabia enganar. Não conseguia puxar o tapete de quem quer que fosse. Menos ainda, passá-lo para trás, de qualquer maneira. Se topasse na rua com um pacote de dinheiro, com certeza não ia sossegar enquanto não achasse o dono. Na época em que nasci, era proprietário de um sítio em sociedade com tio Chico Zangali (Em casa sempre ouvi contar maravilhas sobre o sítio da Santa Bárbara, que não tive oportunidade de conhecer). Na mesma época o pai sofreu uma cirurgia de estômago. Quiçá para pagar tratamento de saúde – os filhos jamais cobraram explicação –, ele vendeu ao tio Chico a sua parte do sítio. Nunca mais foi dono de um palmo de terra. Sequer do lote em que repousam seus ossos, por mim conseguido, trinta anos depois.

Não precisei, felizmente, explicar às amigas porque o filhinho de uma delas ia ser um bobo, vida afora. Bastou contar poucas “aventuras” do pai. Minha amiga pôs-se a discorrer sobre as do seu que, para sua felicidade, ainda vive. Embora mais novo, a escola da vida em que se formou comprova que o tempo não introduziu mudanças no seu conteúdo programático. Ambos nossos pais pertencem àquela espécie de homens que supomos inencontráveis no nosso infeliz mundo de hoje. Ela contou coisas lindas a respeito dele, homem bom, destituído de qualquer malícia. Não desconfia da maldade de ninguém. Para ele todos são bons. Se familiares colocam reparo na ingenuidade do seu julgamento, ele se contraria: “Vocês não acreditam em ninguém. Pensam que só existe gente ruim”.

Há tempo venho refletindo nessas coisas. As notícias ajudam a formar nossa opinião sobre fatos e pessoas. Mas só se noticiam coisas ruins. Ninguém escuta, por exemplo, que mães são capazes de passar fome pelos filhos. Que pais trabalham à exaustão para lhes garantir um futuro digno. Na mídia pessoas humildes só aparecem como bandidos ou vítimas. No entanto são elas que carregam o mundo nas costas. A maioria absoluta da humanidade é formada de pessoas humildes e boas. Onde encontrá-las? Em nossa casa, em nossa rua. Basta olhar nosso pai, nossa mãe. E todos os que parecem com eles. Esses são os construtores do mundo bom que queremos.

Ainda bem que existem.

Fonte:
Blog do Rigon, 01/12/2012
https://angelorigon.com.br/2012/12/01/gente-que-ainda-existe/

Solange Colombara (Ramalhete de Versos) 4


PAZ INTERIOR


Assim sou eu...
Um alegre e colorido mundo
Repleto de delicados vieses.

Assim sou eu...
Não busco a perfeição
Sou eterna evolução.

Essa sou eu...
Alma leve e alva
Imperfeita, feito joia rara.
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POEMA PARA MEU FILHO GUILHERME

Vida pulsando
Dentro da minha vida
Vida emaranhada
Vida que nasce
E encanta meu ser.
Sentimento vivo
Sentimento ímpar
Se dar, se doar.
Vida vivida
Vida sentida
Vida feita a partir
Da minha vida.
Parte da minha história
Parte da minha vida
Parte da minha parte
Parte do meu viver.
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POR DO SOL

Todos os dias ele se vai...
Lentamente...
Deliciosamente...
Sinto seu toque
Em minha pele.
Meu rosto sorri feliz...
Porque sei que amanhã ele volta.
E depois...
E depois...
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REFLEXÃO

Um momento a sós
Comigo mesma.
Pura calmaria
Pura imensidão
Em pensamentos.
Me sentindo...
Me imaginando...
Reclusa em meus pensamentos
Tento entender... tento compreender...
É complicado, sem sentido...
Mas em minha introspecção
Percebo com clareza,
Ainda assim
Tento compreender...
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SENSAÇÕES E OPORTUNIDADES

Permita-se vez ou outra
Admirar o por do sol,
Sentir o vento em seu cabelo,
Sem se importar
Se vai chover ou não...

Permita-se vez ou outra
Se deixar iluminar pela lua,
Caminhar descalça na areia,
Sem se importar
Em qual estação do ano está...

Permita-se vez ou outra
Uma loucurazinha,
Um desejo...
Sem se importar com o amanhã...

Permita-se vez ou outra
Se permitir...
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SIMPLESMENTE UMA PAIXÃO
 (Poema para a Mooca* no seu 459° aniversário)

Parece até cidadezinha do interior,
Onde todos se conhecem.
E se não conhece,
Nada como um "bom dia"
Para uma bela amizade iniciar.
Aqui tem um povo unido,
Aqui tem hino, tem bandeira
E uma só voz;
Forza Juve!"
459 primaveras...
Uma linda garota...
Quanta formosura
Quanta beleza
Quanto esplendor...
Minha Mooca querida
Nossa Mooca amada...
Te oferecemos flores,
Alegria e muito...
Muito amor…
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* Mooca é uma bairro da cidade de São Paulo.

Fonte:
Solange Colombara. Dançando com as palavras. SP: Futurama, 2018.
enviado pela autora.

Estante de Livros (Uma princesa de Marte, de Edgar Rice Burroughs)


Uma Princesa de Marte (A Princess of Mars, no original) é um romance de fantasia científica de Edgar Rice Burroughs, o primeiro de sua série Barsoom. Repleto de lutas de espadas e proezas audazes, o romance é considerado um exemplo clássico da literatura pulp do século XX. É também um exemplo seminal do romance planetário, um subgênero da fantasia científica que se tornou muito popular nas décadas após a sua publicação. Seus primeiros capítulos contêm também elementos de faroeste. A história se passa no Planeta Marte, imaginado como um planeta moribundo com um ambiente de deserto inóspito. Esta visão de Marte foi baseado nos trabalho dos astrônomos Percival Lowell e Camille Flammarion sobre os supostos canais de Marte.

Foi publicado pela primeira vez na revista pulp All-Story com título "Under the Moons of Mars" em 1912, Mais tarde foi publicado como um livro pela A.C. McClurg em 1917.

A série Barsoom inspirou uma série de bem conhecidos escritores de ficção científica do século XX, incluindo Jack Vance, Ray Bradbury, Arthur C. Clarke, Robert A. Heinlein, e John Norman. A série também foi inspiradora para muitos cientistas nas áreas de exploração do espaço e a busca por vida extraterrestre, incluindo Carl Sagan, que leu A Princess of Mars quando ele era uma criança. A obra encontra-se em domínio público, porém os herdeiros de Burroughs ainda possuem direitos da marca registrada.

No Brasil o livro só foi publicado em 2010 pela Editora Aleph.

PERSONAGENS PRINCIPAIS

John Carter, é um nativo de Virginia humana, EUA. Enquanto morava na Terra lutou na Guerra Civil no lado confederado, servindo como capitão. Ele descobriu uma mina de ouro por isso é imensamente rico. Fugindo um grupo de índios pele vermelha entra refúgio em uma caverna onde ele entra em um estado de sonolência. Ao acordar ele se encontra em Mars.

Capitão James K. Powell, um nativo de Richmond, Virginia, é um oficial confederado, especialista em minas e um experiente caçador de índios.

Dejah Thoris, filha de Mors Kajak e neta de Tardos Mors Jeddak de Helium. Ela é uma princesa marciano do reino Helium dos homens vermelhos, de aparência humana e excepcionalmente bela. Ele é corajoso e decidido e muitas vezes em perigo mortal. Ela é o interesse amoroso de John Carter.

Tars Tarkas, marciano verde, grande guerreiro, feroz, cruel e corajoso.

Alone, uma marciana verde, filha secreta de Tars Tarkas é de bom coração e bons sentimentos, o que torna Thark um traidor de seu povo.

Woola, uma espécie de cão marciano monstruoso e gigantesco, com cabeça de sapo e presas. Professa lealdade absoluta para John Carter.

Sarkoja, um marciano verde, nove anos de idade, pérfido, cruel e traiçoeiro.

Tal Hajus, um verde marciano Jeddak de Thark, famoso por sua extrema crueldade e ferocidade com prisioneiros que caem em suas mãos.

GÊNEROS

Enquanto o romance é muitas vezes classificado como fantasia científica, também pertence aos subgêneros romance planetário e espada e planeta, que possuem afinidades com a fantasia e a espada e feitiçaria. Distingue-se pela sua inclusão de elementos científicos (ou pseudo-científicos). Tradicionalmente, romances planetários ocorrem na superfície de um mundo alienígena, e muitas vezes incluem lutas de espadas; monstros; elementos sobrenaturais, tais como: habilidades telepáticas (em oposição a magia), culturas semelhantes a do Planeta Terra em épocas pré-industriais, especialmente com as estruturas sociais teocráticos ou dinásticas. Naves espaciais podem aparecer normalmente, mas não são fundamentais para a história. Esta é uma diferença fundamental da space opera, em que geralmente naves espaciais são fundamentais para a narrativa. Embora existam exemplos anteriores nos gêneros, A Princesa of Mars e suas sequelas são os mais conhecidos, e eles foram uma influência dominante em autores posteriores.

O romance também compartilha uma série de elementos de faroestes, como ambientações desérticas, mulheres sendo raptadas, e um climático confronto de vida ou morte com o antagonista.

FILMES

Em 2009 foi lançado um filme diretamente em vídeo intitulado "Princess of Mars" com os atores Antonio Sabato Jr. no papel de Carter e Traci Lords como Dejah Thoris.

Em 9 de março de 2012, a Disney lançou o filme "John Carter: Entre Dois Mundos", dirigido por Andrew Stanton, com Taylor Kitsch no papel de John Carter.

Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Princess_of_Mars

Aparecido Raimundo de Souza (Final surpresa)

O OVO NÃO QUERIA mais saber de ficar encarcerado dentro do invólucro apertado que o impedia de ver a vida lá fora, de forma plena e prazerosa. Fora de si, sobretudo apressado e agastado, enjoado e abatido, arranjou um jeito de se livrar daquela prisão que o oprimia e intimidava, e fazia dele um ser inferior e desgraçado, pequeno e detestável. Na verdade, o Ovo precisava se sentir leve e solto, sem amarras, experimentando o frescor do vento balançando as folhas das árvores, e o calor aconchegante de um impecável sol radiante.

A Clara, sua amiga inseparável, sabedora dessa vontade quase doentia do velho zigoto, estava disposta a ajudar o amigo em seus anseios corroborando acirradamente para que as suas pretensões fossem atendidas e levadas à efeito. Assim pensando, foi ter uma conversa de pé de ouvido com a amiga Gema.

Clara:
— Gema, sabia que o nosso querido amigo Ovo fugiu da caixa onde vivia com seus onze irmãos?

Gema:
— Me falaram. E agora você me trazendo essa confirmação, fico mais tranquila. Mas e daí? Ele está realmente livre, leve e solto... ou...?!

Clara:
—... Quem dera, minha amiga. Quem dera! Você nem imagina o que aconteceu! Meu Deus, só de pensar...

Gema:
— Fala de uma vez. Deixe de rodeios. Vamos direito ao ponto...

Clara:
— O nosso amigo Ovo está numa frigideira de cabo preto em cima do fogão...

Gema:
— Jesus, Maria, José!

Clara:
— Precisamos fazer algo, amiga Gema. E urgente, ou nosso amigo virará, dentro em pouco, numa bela fritada, sem contar que irá parar na barriga dos filhos tresloucados da patroa.

Gema:
— Que horror!

Clara:
— Bota horror nisso, amiga. Bota horror nisso.

Gema:
— Como aconteceu?

Clara:
— Na hora da fuga, o Ovo, ao atravessar para os lados de uma dispensa pouco usada, se viu pego numa armadilha pela empregada, a esquisita da Célia da Boca Torta, que passou a mão no coitado, lhe deu vários tapas pelo corpo, e, assim, que o viu pelado, o jogou com tudo, para dentro de uma frigideira. Aliás, é essa em que ele está agora.

Gema:
— Que azar amiga, coitadinho!

Clara:
— Só não virou comida, pelo menos por enquanto, em face de ter faltado óleo e a Célia da Boca Torta se debandar às carreiras até o supermercado, possivelmente a mando da patroa.  

Gema:
— Então vamos agir?

Clara:
— Sem mais delongas.

Gema:
— Por onde começamos?

Clara:
— Tenho um plano. Tomara que dê certo. Seguinte: você vigia a Célia Boca Torta. Enquanto isso, eu passo a mão no Ovo e o tiro das incertezas do além.

Gema:
— OK. Vamos nessa.

Clara:
— “Demorô!”.

Numa corrida contra o tempo, Clara partiu para onde estava o Ovo, sem roupa, estirado na frigideira a alguns centímetros apenas do bico do fogo. Em sentido oposto, Gema se precipitou para a porta da sala e se postou à espreita da empregada. O azar, contudo, se faz presente e pegou as duas amigas de surpresa. Astolfo, um dos filhos da patroa entrou inopinadamente na cozinha, e, de forma estabanada, ao se apoderar de uma panela, de arroz, derrubou a pesadona peça em Clara, esmagando-a contra a tampa do fogão.

Em seguida, logo atrás, veio, no vácuo dele, o irmão Astulfo. Não vendo a Gema de olhos arregalados no portal de entrada que acessava a sala, adentrou às carreiras e estraçalhou sobre seus sapatos a desditosa, misturando seu pobre corpo a um velho e surrado capacho. Com esse gesto violento, o rapaz levou a desventurada que igualmente a malfadada Clara (que estavam prestes a salvar o Ovo do seu desditoso porvir) aos grilhões do nunca mais. Por falar no Ovo, esse também não teve como se livrar de sua longa senda sem retorno. Envolto a uma pitada de sal, cebolas picadas, massa de tomates e pedacinhos de linguiça, se transformou, num piscar de pálpebras, em uma bela e saborosa omelete.

Quem se banqueteou com essa guloseima? Antes de responder, o autor do texto quer agradecer penhoradamente aos que não fizeram parte ativa de toda essa horrenda situação, em que o pobre Ovo se viu frente a frente com a desgranhenta Senhora Dona da Foice. Aqui uma lembrança em tempo hábil: não somente o Ovo se viu em palpos de aranha. Com ele, se ferraram, de verde amarelo, e, igualmente, se viram aprisionados pelas voracidades do eterno, a Clara e a Gema. Clara, levada pela ação inconsequente de Astolfo perdeu a vida com uma panelada cheia de arroz diretamente em sua cabeça.  

Ao esmo tempo, Astulfo esmagou a Gema, ao se posicionar em vigia à empregada no portal de acesso à sala. Partiu dessa vida sem tempo de se defender, ou dar um berro, sem, mesmo norte, soltar um pio, comprimida debaixo das solas esmagadoras e assassinas de um infeliz destrambelhado que sequer se dava ao trabalho de olhar para onde transitava. Assim, dessa maneira um tanto azarada e cruel, pungente e acrimoniosa (
mordaz), terminou a carreira de três inocentes criaturas que só queriam viver felizes em seus respectivos mundinhos.        

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

quinta-feira, 1 de junho de 2023

Varal de Trovas n. 582

 

Contos e Lendas do Paraná - 16 (Origem e nomes de localidades e cidades)


GENERAL CARNEIRO
O Passo do Inferno

Este relato nos faz voltar em meados do ano de 1890, entre as localidades do Iratim e Marco Quatro, hoje denominada Estrada Velha. Naquela época essa região era o corredor de passagem dos tropeiros. Neste local havia um riacho pequeno, chamado na época de Passo por possibilitar a travessia dos animais.

O local, porém, transformava-se num grande atoleiro durante a passagem das tropas. Como consequência, os tropeiros sofriam um enorme desgaste físico na tentativa de salvar os animais, que acabavam encalhando. Muitas vezes, os tropeiros não tinham sucesso na travessia de todos os animais, por este motivo deram o nome ao local de Passo do Inferno.

Conta-se que um fazendeiro, neste mesmo ano, ao retornar de São Paulo, após efetuar a venda da sua boiada, trazia sobre o lombo dos animais uma considerável quantia de moedas de ouro e prata, avolumadas em bruacas. Nas proximidades do Passo do Inferno teve a impressão de estar sendo seguido por homens estranhos. Com medo de um assalto, resolveu pernoitar nos arredores. Antes, no entanto, enterrou o tesouro no mato. Ele, como temia, foi assaltado. Por não portar nenhum valor em moedas foi morto pelos malfeitores.

Após esse acontecimento, cidadãos que por ali passavam avistavam vultos estranhos. Muitos tentaram encontrar o dinheiro enterrado pelo fazendeiro, porém nunca se ouviu falar que alguém tenha encontrado alguma coisa. Mas, as bruacas com as moedas de ouro e prata continuam enterradas lá. No Passo do Inferno.
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PALMEIRA
Surgimento de Palmeira

Conta uma lenda indígena, que certa vez um forte e destemido índio do planalto, filho do cacique, pediu ao pai para conhecer o mar. Ao conhecer os carijós, no litoral, apaixonou-se por uma indiazinha, estes estavam para casar. Quando retornou para pedir a bênção do pai, este não concordou com a união e invocou o espírito do mal, a fim de petrificá-los.

Os carijós, tristes pela perda de sua irmã, recorrem a Tupã, mas este, não podendo tirar esse encantamento, apenas atenuou o mal, transformando-os em duas bonitas e simbólicas árvores. Ao belo índio deu a forma do pinheiro e à indiazinha, uma esbelta e graciosa palmeira. E quando o vento sopra, leva os suspiros do elegante pinheiro à sua bem amada e os dela ao seu amor.

Correram os anos. Um dia, por vontade de Tupã, um velho fazendeiro vai até o litoral e leva sementes da bela palmeira, mais alguns anos e a fazenda Palmeira se tornou a mais linda dos Campos Gerais. Fiel à tradição, doou o velho fazendeiro, no rincão dos buracos, meia légua de campos à Nossa Senhora da Conceição. Surgiu, então, a primeira capela. Envolto em brumas, fica, porém, um fio de verdade dessa lenda selvagem das araucárias: o elo da amizade que ora une Paranaguá a Palmeira.
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A lenda do Véu da noiva

Uma moça, filha de um fazendeiro que morava perto de um rio, onde havia uma linda cachoeira, gostava de um dos seus empregados e dizia que queria casar com ele. Usaria no seu casamento um véu bem comprido e largo. Seu pai, que era um homem ambicioso, a deu em casamento para um homem rico e desconhecido, que ela não conhecia.

Ela, vendo que a data se aproximava e não conseguia de jeito nenhum terminar aquele noivado indesejável, foi à cachoeira, escorregou lentamente no lugar mais perigoso das pedras. Os seus longos cabelos, levados pelas águas, se abriram enroscando-se nas raízes e pedras e ela morreu. Quando acharam o corpo, chamaram aquele lugar de Véu da Noiva.
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TAPEJARA
Lenda da Cidade

No norte do Paraná habitava uma tribo. Ubirajara era o cacique. Um certo dia, Ubirajara pescava nas margens do rio e viu um branco navegando. Chamou a sua tribo e o prenderam. Na tribo havia uma índia bonita que se chamava Tapejara, era noiva do cacique, mas não era de sua vontade.

Com o passar dos dias, ela começou a gostar do prisioneiro, ele também correspondia ao seu amor. O cacique descobriu e mandou-a para fora da tribo e matou o prisioneiro. Mas apesar de tudo, ele amava a índia. Colocou-a em uma linda floresta, lá havia lindos frutos dos quais ela se alimentava e havia uma fonte onde ela bebia água. Ao correr dos anos, começaram a chegar os pioneiros e se o cacique não desse permissão para os brancos entrarem nas terras, haveria luta. Mas logo a índia entrou em contato com sua tribo, pois ela sabia que o cacique ainda a amava. Então logo propôs para o cacique:

– Eu caso com você, e você deixa os brancos habitarem essa terra.

Assim, o cacique aceitou. Os brancos começaram a derrubar a floresta e formar uma cidade. Quando foram derrubar a floresta em que Tapejara tinha morado vários anos, os índios pediram para não derrubá-la, pois os brancos deviam um favor a ela e atenderam o pedido.

Chegou a hora de colocar o nome na cidade, puseram-lhe o nome de Tapejara, em homenagem à índia. Passaram-se anos e atualmente é a Tapejara que nós conhecemos. A floresta que a índia pediu para não ser derrubada é atualmente o bosque da cidade, onde nasce uma fonte cristalina, que hoje abastece a cidade.
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RIO BRANCO DO IVAÍ
Lenda do Rio Ivaí

Uma linda índia, aparecida aos canoeiros que subiam e desciam o rio, levava-os aos lugares com mais pedras e dizia a eles: vai por aí. E os canoeiros iam por lugares que a índia indicava e ficavam envolvidos nas pedras sem poder sair.

Os canoeiros, amedrontados, iam contar o ocorrido e juntavam as palavras para pronunciar, dizendo Ivaí, que significa: índia-vai-aí; por todo o percurso do rio. Ficando Ivaí, no início da colonização.
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CRUZEIRO DO IGUAÇU
Lenda do Miserável

A ocupação efetiva da região do sudoeste, que fez parte do Território do Iguaçu, e está dentro da faixa de fronteira, começou com os primeiros posseiros na década de 1930. Em 1936, chega à região do sudoeste a família de Atanásio da Cruz Pires, proveniente do sul, fixando residência às margens dos rios Iguaçu e Chopim, hoje Foz do Chopim, município de Cruzeiro do Iguaçu.

Para o sustento da família, Atanásio utilizava-se do que a natureza oferecia em abundância, numa região coberta de mata nativa: a caça e a pesca. O couro dos animais era comercializado e a carne que não era consumida, jogada fora. Com isso, Atanásio ia conhecendo o território e a ele atribuindo suas nomeações históricas, hoje lendárias.

Numa época de muita chuva, Atanásio, acompanhado por seus filhos, seguia pela costa do rio Chopim, até a barra do Divisor, atual Rio Cruzeiro. Naquele local permaneceram por vários dias acampados sem pegar caça e pesca alguma. A chuva era torrencial e constante. Acabando o estoque de alimento e a fome aumentando, Atanásio acabou matando uma das suas cachorras de caça para se alimentar.

Nessa passagem, o velho disse aos seus filhos:

– Esse local é tão miserável que nem caça e pesca dá! A partir de hoje, matamos somente a caça que podemos comer”

Seu Atanásio considerou esse episódio um castigo, pois num dado momento haviam matado doze antas e jogado a carne ao rio. Em razão desses acontecimentos o local passou a dominar-se rio Miserável; mais tarde, deu a origem ao “Povoado Miserável”, hoje Cruzeiro do Iguaçu.

Fonte:
Renato Augusto Carneiro Jr (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná.
Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005.

Caldeirão Poético LXIII


Gioconda Labecca
(Campanha/MG, 1931 – 2020, São Paulo/SP)

ASPIRAÇÃO

Se eu pudesse, morrer, morrer olhando,
daqui desta janela bem defronte,
o Céu, a Vargem, a Campina e o Monte,
e junto a mim a minha Mãe orando...

E a natureza toda me embalando
ao som de salmos, murmurando a fonte,
e o sol tépido e morno no horizonte
e sorrateiramente se escambando...

Ver meus irmãos em orações funéreas,
mandando aos Céus em espirais etéreas
a fumaça do incenso, espesso véu...

E eu, vendo a vida plena de esplendores,
dizer, sorrindo nos meus estertores:
— Que tarde azul para subir ao Céu!
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João Rangel Coelho
(Juiz de Fora/MG, 1897 – 1975, Rio de Janeiro/RJ)

MÃOS

As tuas longas mãos alvinitentes,
despetalando rosas ao luar,
são brancas, "como dois lírios doentes"
no lago emocional do meu olhar.

Meu triste amor!... Nas horas mais pungentes
da minha vida boêmia e singular,
as tuas mãos de seda, transparentes,
teceram meu destino, a acarinhar.

Quando partiste, as tuas mãos esguias,
num derradeiro gesto de agonias,
tremularam de manso aos olhos meus

e, com saudade imensa e dolorida,
deixaram para sempre a minha vida
na balada tristíssima do adeus.
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JG de Araujo Jorge
(Tarauacá/AC, 1914 – 1987, Rio de Janeiro/RJ)

BOM-DIA, AMIGO SOL!

Bom-dia, amigo Sol! A casa é tua!
As bandas da janela abre e escancara!
Deixa que entre a manhã sonora e clara
que anda lá fora alegre pela rua!

Entra! Vem surpreendê-la quase nua!
Doura-lhe as formas de beleza rara...
Na intimidade em que a deixei, repara
que a sua carne é branca como a Lua!

Bom-dia, amigo Sol! É esse o meu ninho...
Que não repares no seu desalinho,
nem no ar cheio de sombras, de cansaços...

Entra! Só tu possuis esse direito
de surpreendê-la, quente dos meus braços,
no aconchego feliz do nosso leito!...
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Lilinha Fernandes
(Rio de Janeiro/RJ, 1891 – 1981)

A CASA ONDE NASCI

Era minha esta casa. Eu a conheço...
Janelas amplas... larga porta... a escada
por onde agora em pensamento desço
para ver como nasce uma alvorada.

O laranjal cheiroso, o mato espesso...
O poço onde era a roupa bem lavada.
No pátio, bem no centro, eu não me esqueço,
a amendoeira por meu pai plantada.

Dava guarda ao portão um jasmineiro
que de flor se vestia o ano inteiro
e hoje está triste e velho como eu.

Casa velha! deixaste de ser minha...
Assim, tudo que amei, tudo que eu tinha,
deixou, há muito tempo, de ser meu!

Fonte:
Vasco de Castro Lima. O mundo maravilhoso do soneto. 1987.