sexta-feira, 21 de março de 2008

Arthur C. Clarke (O Sentinela)

A próxima vez que olhar a Lua encher no alto, para o sul, olhe com atenção o seu rebordo à direita e deixe a seu olho viajar para cima ao longo da curva do disco. Ao redor do dois do relógio, observará um círculo pequeno e escuro. Qualquer com uma visão normal o encontrará com bastante facilidade. Trata-se da grande planície murada, uma das melhores da Lua e que se conhece como Mare Crisium, o Mar das Crises. De uns quinhentos quilômetros de diâmetro e quase rodeada por completo por um anel de magníficas montanhas, não tinha sido nunca explorada até que entramos nela a finais do verão de 1996.

Nossa expedição era bastante importante. Tínhamos dois pesados cargueiros que haviam trazido em vôo nossos fornecimentos e equipe da base lunar principal situada no Mare Serenitatis, a uns oitocentos quilômetros dali. Havia também três pequenos foguetes previstos para transportes de escasso rádio de ação sobre aquelas regiões que nossos veículos de superfície não pudessem cruzar. Por sorte, a maior parte do Mare Crisium é completamente plaina. Não existe nenhuma das grandes gretas tão freqüentes e perigosas em outras partes e são muito poucas as crateras ou montanhas de qualquer tamanho. Por isso, sabíamos, nossos poderosos tratores larva não teriam a menor dificuldade em nos levar aonde quiséssemos.

Eu era geólogo, ou melhor dizendo selenólogo, se deseja ser pedante, ao mando do grupo de exploração da zona sul do Mare. Tínhamos percorrido já, em uma semana, uns cento e cinqüenta quilômetros, bordeando as saias das montanhas ao longo da borda do que em um tempo foi um mar, uns mil e milhões de anos atrás. Quando a vida se iniciava na Terra, aqui já se achava moribunda. As águas se retiravam dos flancos daqueles estupendos penhascos, para o vazio coração da Lua. Pelo território que cruzávamos, aquele oceano sem marés tinha tido um dia mais de trinta quilômetros de profundidade e agora o único vestígio de umidade era a geada que às vezes se encontrava em cavernas nas que a ardente luz do sol não penetrava jamais.

Tínhamos começado nossa viagem a primeira hora do lento amanhecer lunar e faltava ainda uma semana, segundo o tempo da Terra, para que caísse a noite. Meia dúzia de vezes ao dia devíamos abandonar nossos veículos e sair com os trajes espaciais em busca de minerais interessantes, ou a colocar marcas que servissem de guia a futuros viajantes. Tratava-se de uma rotina monótona. Não existe nada perigoso, nem sequer excitante, em uma exploração lunar. Podíamos viver com toda comodidade durante um mês em nossos tratores pressurizados e, se nos enfrentávamos com algum problema, sempre podíamos recorrer ao rádio para pedir ajuda e esperar até que qualquer espaçonave fosse a nos resgatar.

Acabo de dizer que não há nada excitante na exploração lunar; mas, naturalmente, isso não é certo. A gente pode chegar a cansar-se daquelas incríveis montanhas, muito mais escarpadas que as da Terra. Enquanto rodeávamos os cabos e promontórios daquele mar desaparecido, não sabíamos jamais que novos esplendores nos revelariam. Toda a curva sul do Mare Crisium forma um vasto delta onde, em um tempo, uma série de rios abriu caminho para o oceano, alimentados talvez pelas chuvas torrenciais que deveram bater as montanhas na breve era vulcânica quando a Lua era jovem. Cada um daqueles antigos vales era um convite, nos desafiando a subir por eles para as desconhecidas terras altas que se achavam mais à frente. Mas tínhamos que cobrir ainda uns cento e cinqüenta quilômetros e só podíamos olhar com desejo aquelas alturas que outros escalariam.

A bordo do trator, conservávamos o horário da Terra. E, às 22.00 em ponto, tínhamos que enviar a mensagem de rádio à Base e fechar o contato por esse dia. Fora, as rochas arderiam ainda sob um sol quase vertical; entretanto, para nós, seria de noite até que despertássemos de novo oito horas depois. Logo, um dos que estávamos ali prepararia o café da manhã, escutar-se-ia um grande ronronar de barbeadores elétricos e algum conectaria a rádio de onda curta emitida da Terra.

Do mesmo modo, quando o aroma das salsichas fritas começasse a encher a cabine, resultaria difícil acreditar que não nos achávamos de retorno em nosso próprio mundo. Até tal ponto era tudo tão normal e caseiro, se deixávamos de lado a sensação de ter diminuído de peso e a pouco natural lentidão com que caíam os objetos.

Tocava-me preparar o café da manhã no rincão da cabine principal, que fazia as vezes de cozinha. Depois de tantos anos, posso recordar aquele momento de uma forma muito vívida, posto que na rádio acabavam de tocar uma de minhas melodias favoritas, a antiga toada galesa do David na Rocha Branca. Nosso condutor já estava fora, com seu traje espacial, inspecionando nossas bandas. Meu ajudante, Louis Garnett, encontrava diante, na posição de controle, realizando algumas notas no Jornal do dia anterior.

Enquanto me achava de pé ao lado da frigideira, aguardando, como qualquer dona-de-casa terrestre, a que se dourassem as salsichas, deixei que meu olhar errasse ocioso pelas paredes da montanha que cobriam todo o horizonte sul e se estendiam, até perder-se de vista, para o Este e o Oeste, por debaixo da curva da Lua. Pareciam estar a só uns três quilômetros do trator; entretanto, eu sabia que a mais próxima se achava a trinta quilômetros. Naturalmente, na Lua não se perdem os detalhes com a distância, pois não existe nenhuma das quase imperceptíveis neblinas que, na Terra, peneiram e às vezes desfiguram as coisas longínquas.

Aquelas montanhas tinham três mil metros de altura e ascendiam abruptamente da planície, como se umas eras atrás alguma erupção subterrânea as tivesse arrojado para o céu através da fundida casca. Inclusive a base da mais próxima ficava oculta pela curvadíssima superfície da planície, já que a Lua é um mundo muito pequeno e, de onde eu me encontrava, o horizonte se achava a só uns três quilômetros.

Elevei os olhos para os picos aos que não tinha ascendido jamais nenhum homem; umas cúpulas que, antes do princípio da vida terrestre, tinham contemplado os oceanos em retirada afundando-se sombriamente em suas tumbas e levando consigo a esperança e a promessa do amanhã de um mundo. A luz solar se estrelava contra as cúpulas com um esplendor que fazia machuco à vista; só um pouco por cima delas, as estrelas iluminavam com firmeza em um céu mais negro que em qualquer noite invernal da Terra.

Estava já me voltando, quando meu olho captou um reflexo metálico no alto da aresta de um grande promontório que se projetava por volta do mar, uns cinqüenta quilômetros para o Oeste.

Tratava-se de um ponto de luz impreciso, como se uma estrela tivesse sido arrancada do céu por um daqueles cruéis picos; e imaginei que alguma polida superfície rochosa captava a luz solar e fazia as vezes de um heliógrafo diretamente para meus olhos. Coisas deste tipo não eram estranhas. Às vezes, quando a Lua se encontra em seu segundo quarto, os observadores da Terra vêem as grandes cordilheiras do Oceanus Procellarum arder com uma iridiscência de um azul esbranquiçado, pois a luz do Sol cintila desde suas saias e salta de novo de um mundo a outro. Não obstante, tive curiosidade por saber que classe de rocha podia brilhar ali com tanta intensidade. Subi à torre de observação e fiz girar para o Oeste nosso telescópio de dez centímetros; vi o suficiente para ficar tentado. Muito claro e nítido no campo de visão, os picos da montanha pareciam encontrar-se a menos de um quilômetro; Mas aquilo que apanhava a luz solar era muito pequeno para ser captado.

Entretanto, parecia possuir uma simetria elusiva. E a cúpula sobre a que descansava era curiosamente plana. Contemplei aquele resplandecente enigma, forçando durante um bom momento meus olhos para o espaço, até que um aroma de queimado procedente da cozinha me disse que nossas salsichas para o café da manhã tinham efetuado em vão uma viagem de mais de quatrocentos mil quilômetros.

Toda aquela manhã estivemos discutindo durante nosso percurso através do Mare Crisium, enquanto as montanhas orientais se elevavam cada vez mais para o céu. Inclusive quando procurávamos nossos trajes espaciais, a discussão continuou por rádio. Era de todo seguro, argumentavam meus companheiros, que jamais se viu nenhuma forma de vida inteligente na Lua. As únicas coisas viventes que tivessem podido existir ali eram algumas novelos primitivas e seus um pouco menos degenerados antepassados. Sabia tudo aquilo; entretanto, há ocasiões nas que um cientista não deve ter medo a fazer um pouco o ridículo.

– Me escutem – disse-lhes ao fim. – Vou ali, embora só seja para ficar tranqüilo. Essa montanha tem menos de quatro mil metros de altura; quer dizer, só setecentos segundo a gravidade terrestre, e posso fazer o percurso no máximo em vinte horas. Sempre desejei, por outra parte, escalar essas montanhas e isto me proporciona uma desculpa excelente.

– Se não te romper o pescoço – respondeu Garnett – te converterá no bobo da expedição quando retornarmos à Base. E, a partir de agora, essa montanha começa a chamar-se Loucura do Wilson.

– Não me romperei o pescoço – repliquei com firmeza. – Quem foi o primeiro homem que subiu o Pico Helicon?

– Mas não foi bastante mais jovem naquela época? – perguntou Louis em tom amável.

– Isso – repliquei com dignidade – é uma razão tão boa como qualquer outra para desejar ir.

Aquela noite nos deitamos cedo, depois de levar o trator até um quilômetro do promontório. Garnett viria comigo pela manhã. Era um bom alpinista e me tinha acompanhado com freqüência em façanhas daquele tipo. Nosso condutor ficou muito agradado de que o deixássemos ao mando da máquina.

À primeira vista, aqueles escarpados pareciam por completo inescaláveis; entretanto, para qualquer que tenha uma cabeça firme que resista às alturas, é fácil subir em um mundo onde todos os pesos são só de uma sexta parte de seu valor normal. O perigo autêntico no montanhismo lunar radica na excessiva confiança. Uma queda de duzentos metros na Lua, pode te matar exatamente igual a uma de trinta na Terra.

Fizemos nossa primeira parada em um amplo suporte a uns mil e trezentos metros por cima da planície. A ascensão não tinha sido difícil; mas tinha os membros um pouco enrijecidos à causa do desacostumado esforço e me alegrou poder descansar. Ainda víamos o trator como um pequeno inseto metálico, muito afastado ao pé do escarpado e informamos de nosso avanço ao condutor antes de começar a seguinte etapa de ascensão.

No interior de nossos trajes reinava um confortável frescor, posto que as unidades de refrigeração lutavam contra o implacável sol e eliminavam o calor corporal de nosso esforço. Não nos falávamos, exceto para nos passar instruções a respeito da ascensão e para discutir o melhor plano de ascensão. Não sabia o que pensava Garnett. Provavelmente, que aquela era a aventura mais descabelada em que jamais se embarcou. Eu estava mais que pela metade de acordo com ele; mas a alegria da ascensão, saber que nenhum homem tinha pisado aquele caminho antes e o entusiasmo que proporcionava a paisagem ao ampliar-se cada vez mais ante nós, ia concedendo toda a recompensa que desejava.

Não acredito haver sentido uma particular excitação ao ver diante de nós a parede de rocha que tinha inspecionado pela primeira vez com o telescópio de uma distância de cinqüenta quilômetros. Elevava-se a uns vinte metros por cima de nossas cabeças e ali, na meseta, encontrar-se-ia a coisa que me tinha levado até esse lugar por aquelas desoladas paragens. Certamente não se trataria mais que de uma rocha estilhaçada muitíssimos anos atrás pela queda de um meteorito e que conservava seus planos de cisão ainda frescos e brilhantes naquela quietude incorruptível e imutável.

Não havia na parte dianteira da rocha nenhum lugar onde agarrar-se com as mãos e teríamos que empregar um gancho de ferro. Meus cansados braços pareceram recuperar nova força ao fazer girar sobre minha cabeça a âncora metálica tridentada e lançá-la na direção das estrelas. A primeira vez não agarrou e caiu com lentidão ao atirar da corda. Ao terceiro intento, os dentes se cravaram com firmeza e o peso dos dois juntos já não foi capaz de arrancá-los.

Garnett me olhou com ansiedade. Pareceu-me que queria ser o primeiro, mas lhe sorri do cristal de meu casco e meneei a cabeça. Muito devagar, tomando tempo, empreendi a ascensão final. Inclusive com meu traje espacial, aqui só pesava uns vinte quilogramas. Içava-me com uma mão atrás de outra, sem me preocupar de empregar os pés. Ao chegar ao bordo, fiz uma pausa e um gesto a meu companheiro, depois do qual acabei de subir pelo fio. Pus-me de pé e olhei ante mim.

Devem compreender que, até este momento, tinha estado convencido quase por completo de que ali não haveria nada estranho ou fora do corrente. Quase. Mas não por completo. Aquela tentadora dúvida era a que me tinha impulsionado a seguir adiante. Pois agora já não havia dúvida; mas o mistério só acabava de começar.

Achava-me de pé em uma meseta como de uns trinta metros de diâmetro. Em um tempo tinha sido lisa por completo (muito lisa para ser natural); mas as quedas de meteoritos tinham marcado e perfurado sua superfície através de imensuráveis buracos. Tinham-no aplanado para suportar uma estrutura reluzente e mais ou menos piramidal, que dobrava em altura a um homem e que se achava embutida na rocha como uma jóia gigantesca e de múltiplos facetas.

Provavelmente, naqueles primeiros segundos, nenhuma emoção encheu absolutamente minha mente. Logo senti uma euforia imensa e uma alegria estranha e inexpressável. Em realidade, amava a Lua e agora soube que o mofo rasteiro do Aristarco e Erastóstenes não tinha sido a única vida que albergou durante sua juventude. O velho e desacreditado sonho dos primeiros exploradores era certo. A fim de contas, tinha existido uma civilização lunar e eu era o primeiro que a tinha encontrado. Ter chegado talvez com um centenar de milhões de anos de atraso não me turvava o mais mínimo. Era suficiente ter podido chegar.

Minha mente começou a funcionar com normalidade, para analisar e expor perguntas. Tratava-se de um edifício, um santuário, ou algo para o que meu idioma carecia de denominação? Se era um edifício, por que o tinham construído em um lugar tão pouco acessível? Perguntei-me se aquilo seria um templo e imaginei aos adeptos de alguma estranha fé clamando a seus deuses para que os salvassem enquanto a vida da Lua refluía junto com os agonizantes oceanos; e apelando em vão a suas deidades…

Avancei uma dúzia de passos para examinar aquilo desde mais perto. Mas um sentido de precaução me conteve de me aproximar muito. Sabia um pouco de arqueologia e tratei de deduzir o nível cultural da civilização que tinha limado aquela montanha e elevado aquelas superfícies reluzentes de espelho que ainda me deslumbravam os olhos.

Pensei que os egípcios poderiam ter feito algo assim, se seus operários houvessem possuído alguns materiais mais estranhos que os empregados por aqueles arquitetos muito mais antigos. Pelo reduzido daquela coisa, não me ocorreu que pudesse estar contemplando a obra de uma raça muito mais avançada que a minha. A idéia de que na Lua tivesse havido inteligência era muito tremenda para captá-la e meu orgulho não me permitia dar o último e humilhante salto.

Logo precavi-me de algo que me produziu um calafrio na nuca, uma coisa tão corriqueira e tão inocente que muitos jamais se teriam fixado nisso. Já expliquei que a meseta apresentava as cicatrizes produzidas pelos meteoritos; mas estava também revestida de uns centímetros de pó cósmico, algo que sempre se filtra à superfície de qualquer mundo onde não há ventos que o perturbem. Entretanto, o pó e as cicatrizes terminavam de repente em um amplo círculo que rodeava a pequena pirâmide, como se uma parede invisível a protegesse das inclemências do tempo e do lento mas incessante bombardeio do espaço.

Algo gritava em meus auriculares e me dava conta de que Garnett me tinha estado chamando desde fazia momento. Andei vacilante até o bordo do penhasco e lhe fiz sinais para que se reunisse comigo, pois não confiava em mim o suficiente para expressá-lo com palavras. Logo retornei para o círculo no pó. Recolhi um fragmento de rocha estilhaçada e o lancei com suavidade contra o brilhante enigma. Se o calhau se desvanecesse naquela invisível barreira não me tivesse surpreso; mas pareceu alcançar uma superfície semiesférica. E suave deslizou meigamente até o chão.

Soube que estava olhando algo que não podia comparar-se com a antiguidade de minha própria raça. Não era um edifício, a não ser uma máquina, e que se protegia com umas forças que tinham desafiado à eternidade. Aquelas forças, fossem as que fossem, operavam ainda e talvez me tinha aproximado já muito. Pensei em todas as radiações que o homem tinha apanhado e domesticado durante o século passado. Segundo meus conhecimentos, podia muito bem me achar condenado de forma irrevogável, como se tivesse penetrado, sem levar amparo, na aura mortífera de uma pilha atômica.

Lembrança que então me voltei para o Garnett, que se tinha reunido comigo e que se achava de pé e imóvel a meu lado. Parecia como esquecido de mim. Não quis lhe incomodar e me dirigi ao bordo do escarpado, em um esforço por ordenar meus pensamentos. Lá, debaixo de mim, jazia o Mare Crisium (precisamente o Mar das Crises), estranho e esranho para a maioria dos homens; mas familiar e tranqüilizador para mim. Elevei os olhos para o crescente da Terra, que jazia entre seu berço de estrelas e me perguntei o que haviam visto suas nuvens quando aqueles desconhecidos construtores finalizaram sua tarefa. Encontrava-se na selva cheia de vapores do Carbonífero, na desolada costa sobre a qual tinham subido os primeiros anfíbios para conquistar a terra, ou mais cedo ainda, na larga solidão que precedeu à chegada da vida?

Não me perguntem por que não adivinhei antes a verdade, essa verdade que agora me parece tão óbvia. Na primeira excitação de meu descobrimento pensava, é óbvio, sem pô-lo em tecido de julgamento, que aquela aparição cristalina a tinha construído alguma raça pertencente ao passado remoto da Lua. Mas, de repente e com uma força entristecedora, tive a convicção de que se tratava de alguém tão alheio à Lua como eu mesmo.

Durante vinte anos não tinha encontrado o menor traçado de vida exceto algumas novelo degeneradas. Nenhuma civilização lunar, qualquer que tivesse sido seu destino, podia ter deixado algo mais que um simples testemunho de sua existência.
Olhei de novo a reluzente pirâmide, e me pareceu mais remota que qualquer outra coisa que tivesse algo que ver com a Lua. De repente, estremeci-me com uma louca e histérica risada, produto da excitação e do esforço. Tinha-me imaginado que aquela pequena pirâmide me falava e me dizia:

– Sinto muito, mas eu também sou um estranho aqui.

Demoramos vinte anos em quebrantar esse invisível escudo para chegar à máquina que se encontrava dentro daquelas paredes cristalinas. O que não podíamos entender, rompemo-lo ao fim com a força selvagem da energia atômica e agora vi os fragmentos daquela coisa formosa e resplandecente que encontrei no alto da montanha.

Não têm o menor sentido. O mecanismo, se é que se tratava de algum mecanismo, da pirâmide pertence a uma tecnologia que se encontra muito além de nosso horizonte; talvez seja a tecnologia própria das forças parafísicas.

O mistério nos obceca muito mais agora que se chegou aos outros planetas e que sabemos que só a Terra foi o lar da vida inteligente em nosso Universo. Tampouco nenhuma civilização perdida de nosso próprio mundo pôde construir essa máquina, posto que a grossura do pó espacial que havia sobre a meseta nos permitiu calcular sua idade. Depositou-se em cima da montanha antes de que a vida emergisse dos oceanos da Terra.

Quando nosso mundo tinha a metade de sua idade atual, «algo» procedente das estrelas, passou através do sistema solar, deixou aquele sinal de seu passo e seguiu seu caminho. Até que a destruímos, essa máquina seguiu cumprindo a missão de seus construtores. Quanto a qual era essa missão, hei aqui o que conjeturo:

Há perto de cem mil e milhões de estrelas que giram no círculo da Via Láctea e faz muito tempo outras raças nos mundos de outros sóis deveram ter alcançado e superado as alturas que nós alcançamos agora. Pensem nessas civilizações, muito afastadas no tempo, no mortiço resplendor que seguiu à Criação, donos de um Universo tão jovem que a vida só tinha chegado a uns quantos mundos.

Deviam achar-se em uma solidão que não podemos imaginar; a solidão dos deuses que olham através do infinito e que não encontram a ninguém com quem compartilhar seus pensamentos.

Deviam ter estado procurando nos amontoados de estrelas, quão mesmo nós procuramos nos planetas. Em todas as partes existiriam mundos; mas vazios ou povoados de coisas sem mente que se arrastavam. Assim era nossa própria Terra, com a fumaça dos grandes vulcões manchando ainda os céus, quando a primeira nave dos povos do amanhecer se deslizou dos abismos de além de Plutão. Passou os sorventes mundos exteriores, sabendo que a vida não poderia desempenhar nenhum papel em seus destinos. Deteve-se entre os planetas interiores, esquentando-se com o Sol e aguardando que começassem suas histórias.

Aqueles vagabundos deveram olhar para a Terra, que girava a salvo na estreita zona entre o fogo e o gelo, e deveram pensar que era a favorita dos filhos do Sol. Em um futuro distante, haveria ali inteligência; mas tinham ainda incontáveis estrelas ante eles e talvez não voltassem nunca mais por este caminho.

Deixaram, pois, um sentinela, um dos milhões que tinham esparso através do Universo, para que vigiasse todos os mundos nos que havia uma promessa de vida. Era um farol que, através de todas as idades, esteve assinalando em silêncio o fato de que ninguém o tinha descoberto ainda. Talvez entenderão agora por que a pirâmide de cristal se elevou sobre a Lua em lugar de elevar-se sobre a Terra. Seus construtores não se preocupavam das raças que ainda se esforçavam desde seu estado selvagem. De nossa civilização só podia lhes interessar que demonstrássemos aptidão para sobreviver, para cruzar o espaço e escapar da Terra, nosso berço. Este é o desafio ao que todas as raças inteligentes devem fazer frente mais tarde ou mais cedo. Trata-se de uma provocação dupla, porque depende a sua vez da conquista da energia atômica e da última eleição entre a vida e a morte.

Uma vez tivéssemos superado aquela crise, só seria questão de tempo que encontrássemos a pirâmide e a abríssemos. Agora seus sinais cessaram e aqueles cujo dever seja esse, voltarão suas mentes para a Terra. Talvez desejem ajudar a nossa jovem civilização. Mas devem ser já velhos, muito velhos, e os anciões sentem muitas vezes um ciúmes doentios dos jovens. Agora já não posso olhar para a Via Láctea sem me perguntar desde qual daquelas compactas nuvens de estrelas virão os emissários. Se me perdoarem um lugar comum muito ocorrido, direi que temos quebrado o cristal do alarme contra incêndios e quão único temos que fazer é aguardar.

Mas não acredito que devamos esperar muito.

Fonte:
http://groups.google.com/group/Viciados_em_Livros

quinta-feira, 20 de março de 2008

O. Henry (1862 - 1910)

William Sydney Porter, contista estadunidense nascido em Greensboro, Carolina do Norte, cuja produção de contos romantizados, muitas vezes com finais imprevistos que se tornaram sua marca registrada e o tornaram um dos autores mais populares do seu tempo. De família culta e abastada, sua mãe morreu tuberculosa quando ele tinha três anos e foi criado por uma tia. Começou a trabalhar como aprendiz de boticário aos quinze anos e depois mudou-se para o Texas (1882) onde trabalhou em uma fazenda de gado.

Casou e empregou-se como caixa num Banco de Austin, tentando ao mesmo tempo escrever comédia. Comprou um jornal, a revista de humor The Rolling Stone (1894), porém o projeto fracassou e ele passou a trabalhar como repórter, colunista e cartunista no Houston Post.

Acusado de um desfalque no Banco (1896), fugiu sozinho para Honduras, mas voltou a Austin passados três anos, ao saber da doença terminal da esposa. Viúvo, foi condenado a cumprir três anos de prisão numa penitenciária do Ohio, período em que escreveu contos sob vários pseudônimos até definir-s por O. Henry.

Em liberdade mudou-se para New York (1902), onde continuou escrevendo praticamente um conto por semana e militando na imprensa e, embora extremamente popular, viveu o resto da vida recluso, para não ser reconhecido como William Sydney Porter.

Faleceu alcoólico e na miséria, em New York, deixando várias coletâneas de contos, entre elas Cabbages and Kings (1904), The Four Million (1906), Heart of the West (1907), The Voice of the City (1908) e The Gentle Grafter (1908).

Fontes:
http://www.brasilescola.com/biografia/william-sydney.htm
http://www.releituras.com/ohenry_menu.asp

O. Henry (Os Caminhos que Tomamos)

Vinte milhas para oeste de Tucson o rápido parou ao pé de um depósito para tomar água. Além deste líquido, porém, a máquina daquele comboio adquiriu também outras coisas que lhe não convinham.

Enquanto o fogueiro estava baixando a mangueira de alimentação, o Bob Tidball, o Dodson Tubarão e um índio de raça cruzada chamado João Cão Grande treparam para a máquina e apresentaram ao maquinista os orifícios de três canos de revólver. As possibilidades desses orifícios a tal ponto impressionaram o maquinista que ergueu logo ambas as mãos num gesto do gênero do que acompanha a exclamação: "Conta lá!” ·

À ordem brusca do Dodson Tubarão, que era o comandante da força, o maquinista desceu ao chão e desligou a máquina e o tender. Então o João Cão Grande, empoleirado no carvão, sorriu por trás de dois revólveres apontados ao ajudante e ao fogueiro, lembrando que corressem a máquina cinqüenta metros pela linha abaixo e ali aguardassem novas ordens.
O Dodson Tubarão e o Bob Tidball, desdenhando proceder à limpeza de minério tão baixo como os passageiros, dedicaram-se ao veio magnífico que era o vagão de valores. Encontraram o guarda envolto na crença firme de que a máquina não estava tomando nada mais forte que água pura. Enquanto o Bob lhe tirava esta idéia da cabeça por meio de uma coronha de revólver, o Dodson Tubarão ocupava-se em ministrar uma dose de dinamite ao cofre do vagão.

O cofre explodiu no sentido de trinta mil dólares, ouro e notas. Os passageiros espreitaram vagamente pelas janelas a ver de onde vinha a trovoada. O condutor puxou a correia que lhe ficou lassa e caída na mão. O Dodson Tubarão e o Bob Tidball, com o espólio numa saca de lona forte, saíram do vagão e correram pesadamente, com suas botas altas, até à máquina.

O maquinista, amuado, mas prudente, correu velozmente a máquina, obedecendo às ordens, para longe do comboio parado. Mas antes que isto estivesse feito, o guarda do rápido, tendo despertado do argumento com que o Bob Tidball lhe tinha imposto a neutralidade, saltou do vagão com uma Winchester e entrou no jogo. O sr. João Cão Grande, empoleirado no carvão, perdeu a vasa pelo processo involuntário de imitar perfeitamente um alvo. O guarda caçou-o. Com uma bala exatamente entre as espáduas, o cavalheiro de cor e indústria caiu para o chão, aumentando assim automaticamente em um sexto o quinhão de cada um dos camaradas.

A duas milhas do depósito deu-se ordem ao maquinista que parasse.

Os ladrões gritaram um adeus de desafio e enfiaram pelo declive abaixo para os bosques que marginavam a linha férrea. Cinco minutos de caminho difícil através de uma mata de chaparral trouxe-os a um bosque mais aberto, onde estavam três cavalos, presos a ramos baixos. Um esperava o João Cão Grande, que nunca mais andaria a cavalo de dia ou de noite. A este animal tiraram os ladrões a sela e o freio, e puseram-no em liberdade. Montaram nos outros dois, estendendo o saco sobre a maçã da sela de um deles, e seguiram depressa mas discretamente através da floresta e por uma garganta primitiva e solitária acima. Aqui o animal que levava Bob Tidball escorregou num pedregulho musgoso e partiu uma das pernas dianteiras. Mataram-no com um tiro na cabeça, e sentaram-se para realizar um conselho de fuga. Seguros por enquanto, em virtude do caminho tortuoso que haviam tomado, já a questão de tempo os não apoquentava tanto. Havia já muitas horas e léguas entre eles e a mais rápida perseguição que se pudesse organizar. O cavalo do Dodson Tubarão, de corda arrastada e freio caído, resfolegava e comia com agrado da erva à margem do riacho da garganta. Bob Tidball abriu o saco, tirou às mãos ambas maços de notas e um saco único de ouro, e riu com uma alegria de criança.

— Olha lá, meu grande pirata — disse ele rindo para Dodson —, bem dizias tu que a coisa se conseguia. Tens uma cabe~ a de financeiro que deixa atrás tudo no Arizona.

— O que é que a gente vai fazer a respeito de um cavalo para ti, Bob? A gente não pode esperar aqui muito tempo. Logo de madrugada, com a primeira luz, os tipos estão na nossa pista.

— Oh, aquele teu bicho tem que levar dois um bocado — respondeu Bob com otimismo. Deitamos a mão ao primeiro bicho que encontrarmos por aí. Caramba, que fizemos bom negócio, hein? Aqui pelos sinais nas cintas e no saco temos trinta mil dólares — quinze mil a cada bico!

— É menos do que eu esperava — disse o Dodson Tubarão, dando pontapés leves nos pacotes. Depois olhou meditativamente para os flancos suados da sua montada.

— O Bolívar, coitado, está quase que não pode mais disse ele devagar —. Que pena que o teu bicho se estropiasse!

— Ninguém tem mais pena do que eu — disse o Bob sem abatimento —, mas o que é que se há de fazer? O Bolívar é rijo, e pode bem com nós dois até arranjarmos outras montadas. Raios me partam, ó Tubarão, mas não me passa da idéia a piada que tem um tipo do leste como tu vir para aqui ensinar-nos a nós do oeste a dar cartas no negócio de salteador! De que parte do leste é que és?

— Estado de Nova Iorque — disse o Dodson Tubarão, sentando-se num toro e mastigando um fio de erva —. Nasci numa herdade do distrito de Ulster. Fugi de casa quando tinha dezessete anos. Foi um acaso eu vir para oeste. Eu ia pela estrada fora com a roupa numa trouxa a caminho de Nova Iorque, da cidade. A minha idéia era ir para lá e ganhar muito dinheiro. Uma tarde cheguei a um ponto onde a estrada fazia garfo, e eu não sabia por que caminho havia de tomar, estive para aí meia hora a estudar o caso, e depois tomei pelo da esquerda. Nessa noite mesmo fui dar ao acampamento de um circo do oeste que andava dando espetáculos nas várias terras, e segui para oeste com eles. Muitas vezes tenho pensado se não teria dado em qualquer coisa muito diferente se tivesse tomado o outro caminho.

— Hum, a minha idéia é que davas mais ou menos no mesmo — disse Bob Tidball, com uma filosofia alegre —. Não são os caminhos que a gente toma, é o que está dentro de nós, que faz que a gente dê no que vem a dar.

O Dodson Tubarão levantou-se e encostou-se a uma árvore.

— Tomara eu que aquela tua montada se não tivesse estropiado, Bob — tornou a dizer, com uma certa tristeza.

— E dois! — concordou o Bob —. Era um belo bicho. Mas o Bolívar tira-nos aos dois da alhada. Olha lá, e o melhor é a gente ir-se pondo a mexer, hein? Vou meter isto tudo outra vez no saco, e ala para outra terra!

O Bob Tidball repôs o espólio no saco, e apertou a boca deste, com força, com uma corda. Quando levantou a cabeça, a coisa mais notável que viu foi o cano da pistola do Tubarão visando-lhe sem tremer o centro da testa.

— Deixa-te de piadas, rapaz — disse o Bob sorrindo —. A gente tem é que se pôr a mexer.

— Está quieto — disse o Tubarão —. Tu não te vais pôr a mexer para parte nenhuma, Bob. Tenho pena de te dizer, mas não há saída senão para um de nós. O Bolívar, coitado, está muito cansado, e não pode levar dois.

— Temos sido camaradas, eu e tu, Tubarão, há uns três anos — disse o Bob com sossego —. Muita e muita vezes arriscou a gente a vida juntos. Sempre te tenho tratado às direitas, e julgava que eras um homem. Já ouvi coisas que contavam de ti, de como tinhas matado um ou dois homens de uma maneira esquisita, mas nunca acreditei. Ora agora, se estás a brincar comigo, desvia lã a pistola e vamo-nos embora. Mas se queres atirar, atira, filho de um lacrau!

A cara de Dodson Tubarão tinha uma expressão de profunda mágoa.

— Não imaginas que pena eu tenho — suspirou ele — a respeito daquele desastre que aconteceu ao teu cavalo, Bob. A expressão no rosto do Dodson mudou de repente para uma de ferocidade fria mista de inexorável cupidez. A alma do homem mostrou-se de repente uma cara sinistra à janela de uma casa honrada.

E, na verdade, nunca Bob Tidball se poria mais a mexer para parte nenhuma. Falou a pistola do amigo falso, enchendo a garganta de um estrondo que os seus muros devolveram indignadamente. E o Bolívar, cúmplice inconsciente, levou depressa para longe o último dos salteadores do rápido sem ter que "levar dois".

Mas à medida que o Dodson Tubarão galopava parecia que os bosques se esfumavam e desapareciam; o revólver na mão direita converteu-se no braço curvo de uma cadeira de mogno: a sela estava extremamente estofada, e ele abriu os olhos e viu seus pés, não em estribos, mas pousados alto na ponta de uma secretária rica.

Estou contando aos senhores que o Dodson, da Dodson & Decker, corretores de Wall Street, abriu os olhos. Peabody, o empregado de confiança, estava de pé a seu lado, hesitando em falar. Lá em baixo havia um ruído confuso de rodas, e ao pé o sussurro acariciador de uma ventoinha elétrica.

— Hum, Peabody — disse o Dodson, piscando os olhos . Então não adormeci! Tive um sonho muito curioso. O que é que há?

— É o sr. Williams, sr. Dodson, de Tracy & Williams, que está ali fora. Vem liqüidar aquilo daquelas ações. A alta caiu-lhe em cima, lembra-se o sr. Dodson?

— Sim, lembro-me. Como está isso cotado hoje, Peabody?

— Cento e oitenta e cinco, sr. Dodson.

— Então é isso que ele paga.

— O sr. Dodson dá licença... — disse Peabody, com uma certa hesitação —. Desculpe-me falar nisso, mas estive a falar com o Williams. Ele é um velho amigo seu, e o sr. Dodson pode-se dizer que tem na mão todo este papel. Pensei se o sr...., isto é, pensei que o sr. talvez se não lembrasse que ele lhe vendeu o papel a noventa e oito. Se ele líqüida ao preço do mercado, vai-se-lhe tudo quanto tem e ainda por cima, coitado, tem que vender a casa, e a mobília e tudo, para lhe poder entregar as ações.

A expressão no rosto do Dodson mudou de repente para uma de ferocidade fria mista de inexorável cupidez. A alma do homem mostrou-se de repente como uma cara sinistra à janela de uma casa honrada.

— Cento e oitenta e cinco é que ele paga — disse o Dodson —. O Bolívar não pode levar dois.

Fonte:
http://www.releituras.com/ohenry_menu.asp

O. Henry (Memórias de um Cachorro Amarelo)

Não creio que a nenhum de vós incomode ler o que diz um cão. Kipling e muitos outros demonstraram que os animais podem expressar-se num inglês sofrível e, hoje em dia, não se imprime revista alguma que não publique a história de um animal; somente as revistas mensais de feição antiga continuam pintando os horrores de Bryan e Monte Pelado.

Entretanto, não deveis procurar aqui literatura aborrecida, como a do urso, do tigre ou da serpente da selva antilhana. Pode-se esperar qualquer surpresa de um cachorro amarelo que passou a maior parte de sua vida num sobrado barato de Nova Iorque, dormindo num canto sobre um velho vestido de cetim: o mesmo em que a dona derramou vinho do Porto, em banquete oferecido por Senhora Longshoremen.

Vim ao mundo como um cachorrinho amarelo. A data, local, genealogia e peso me são desconhecidos. O que primeiro me recordo é que uma velha me tinha metido numa cesta, e que estava em entendimentos de me vender a uma robusta dama da Broadway.

A velha, mamãe Hubard, enaltecia-me, dizendo que eu era um fox-terrier da Pomerânia - hambletoniano - irlandês roxo - Conchinchina - Stoke - Pogis.

A dama gorducha esgravatou entre amostras de moleton que levava em sua bolsa até que encontrou uma nota de cinco, e entregou-lha. Desde aquele momento fui o favorito mimado da dama gorducha. Diga-me, gentil leitor: alguma vez em tua vida, uma gorducha de 200 libras de peso, de hálito misto de queijo Camembert e couro te levantou no ar e bamboleou, enquanto esfregava teu corpo com o nariz, dizendo ao mesmo tempo palavrinhas como: Amor! Encanto! Riqueza! etc.?

De cachorrinho amarelo de raça fui crescendo até me converter num cão amarelo vira-latas, parecendo descender do cruzamento de gato angorá com caixa de limões. Porém, minha dona jamais hesitou: sempre imaginou que os dois primitivos cães que Noé meteu na arca pertenciam a um ramo colateral de meus antecessores. Fiz com que dois guardas impedissem que minha proprietária me apresentasse no jardim do Madison Square para que eu concorresse ao prêmio dos podengos siberianos.

Vou contar algo a respeito daquele pavimento. A casa era como o são ordinariamente em NY: de mármore no porão e seixos nos pavimentos superiores. Ao nosso, era preciso trepar ao invés de ascender. Minha dona o alugou desmobiliado, e instalou nele uma antiga sala de estar estofada, de 1903, umas oleo gravuras com gueixas numa casa de chá, plantas artificiais e o marido.

Eis um bipede que me causava tristeza! Era um homem pequeno, de cabelos amarelados como os meus. Era um dominado, um boneco que enxugava a louça e escutava a mulher falar mal da vizinha do segundo, de quem dizia que usava capa de peles de esquilo mas que a roupa interior era barata e esfarrapada e tinha a ousadia de exibi-la, pendurando-a a secar. E todas as noites, enquanto ela ceava, fazia com que o esposo me levasse a passeio, amarrado à ponta de uma corda.

Se os homens soubessem como passam o tempo as mulheres quando estão sozinhas em casa, nunca se casariam! Laura não fazia mais do que comer bombons e tomar sorvetes de amêndoa, falar com o orchateiro durante meia hora, ler um maço de cartas antigas, comer uns quantos picles, beber duas garrafas de cerveja maltada e passar as horas mortas olhando para o andar da frente através de um buraco feito na cortina. Vinte minutos antes da hora em que o marido devia regressar do trabalho, começava ela a pôr tudo em ordem, inclusive sua dentadura postiça, e tirava uma porção de roupa a fim de passá-la em dez minutos.

Eu, naquela casa, levava uma vida de cachorro. A maior parte do dia passava deitado no meu canto, observando como a gorducha matava o tempo. Algumas vezes dormia, e sonhava que perseguia gatos até fazê-los desaparecer nos portões, e que rosnava a todas as velhas que usavam luvas negras com os dedos de fora: coisas próprias de um cachorro. Depois, a dona me dava palmadinhas com melosa bajulação e me beijava no focinho. Porém, que podia eu fazer? Um cachorro não pode comer pedra.

Comecei a compadecer-me de Hubby, o marido; pareciamo-nos tanto, que a gente o manifestava quando saíamos juntos. Em amável companhia visitávamos as ruas que percorre o carro de Morgan, e pisávamos as últimas neves que dezembro deixava nas vielas habitadas pela gente pobre.

Uma noite, quando passeávamos assim, enquanto procurava adotar a aparência de um são - bernardo premiado e meu amo tratava de parecer um homem incapaz de assassinar o primeiro organista que executou a marcha nupcial de Mendelssohn, levantei para ele a cabeça e disse-lhe, a meu modo:

- Por que tendes esse gesto de amargura? Ela não vos beija. Não tendes que sentar-vos sobre seu regaço nem escutar sua tagarelice, essa tagarelice capaz de fazer que a letra duma opereta pareça o livro de máximas de Epíteto. Deveis agradecer por não seres um cachorro. Dai o fora na melancolia.

Aquela infelicidade conjugal desceu até mim os olhos, quase com inteligência canina em seu semblante.

- Que há, cachorrinho? Olha-me como se fosses capaz de falar. Que é que há? Gatos?

E claro que não podia compreender-me. Aos humanos é vedada a linguagem dos animais. O único terreno comum de comunicações em que homens e cachorros estão de acordo é o da ficção.

No andar em frente ao nosso morava uma dona que tinha um fox-terrier com manchas negras e marrons. O marido daquela senhora punha-lhe a corrente e levava-o a passear também todas as noites, mas sempre regressava a casa satisfeito e assobiando. Um dia juntei meu focinho com o do fox-terrier malhado e pedi-lhe que fizesse um esclarecimento.

- Escuta - disse-lhe eu - já sabes que é coisa imprópria de verdadeiros homens fazer o papel de ama-seca com um cachorro em público. Eu nunca vi um que, indo com o cachorro, não pareça senão querer bater em quantos olham para ele. Porém teu amo volta a casa todos os dias tão galhardo e bem posto como um prestidigitador diletante que fizesse o truque do ovo. Como faz isso? Não me venhas dizer que lhe agrada.

- Ele - respondeu o fox-terrier - usa o Próprio Remédio da Natureza. Quando saímos de casa é tímido como um coelho. Mas depois de termos passado por umas oito tavernas, tanto se lhe dá que o que leva na extremidade da corrente seja um cachorro ou um peixe. Já perdi duas polegadas de cauda entre as portas de vaivém desses estabelecimentos.

Pus-me a meditar sobre o que me disse o fox-terrier.

Uma tarde, lá pelas seis horas, minha ama ordenou ao seu marido que desse banho em seu Amante. Ocultei até agora meu nome, porém era assim que eu me chamava. Aquele nome era para mim uma espécie de lata amarrada ao rabo do meu próprio respeito.

Num lugar tranqüilo de certa rua, soltei a corda de meu guardião em frente a uma atraente e refinada taberna. Empurrei com a cabeça as portas, ladrando como um cão que avisa urgentemente à família que a pequena Alice caiu ao arroio quando estava colhendo flores.

- Ou estou cego, disse meu amo, fazendo um muxoxo - ou este bicho me está dizendo que tome um gole. Há quanto tempo não gasto as solas dos meus sapatos pisando o chão destes estabelecimentos! Se...

Vi que era meu. Tomou assento a uma mesa e serviram-lhe uísque quente. Ali esteve uma hora tomando goles. Permaneci ao seu lado, batendo com a cauda para que o empregado acudisse, comendo uma rica merenda, jamais igualada pelos condimentos caseiros que mamãe Hubbard comprava numa tendinha oito minutos antes de papai chegar em casa.

Quando se esgotaram os produtos da Escócia, exceto o pão de centeio, o velho me desamarrou da perna da mesa e tirou-me dali como um pescador tira os salmões. Já fora da casa, arrancou-me a coleira e atirou-a a rua.

- Pobre cachorrinho! Já não te beijará mais essa sem-vergonha! Vai-te, cachorrinho! Corre, e sê feliz!

Não quis abandoná-lo e comecei a traquinar e pular em volta dele, contente como um luluzinho sobre um tapete.

- Mas não vês, cabeça de bobo, imbecil, que não quero deixar-te? Não compreendes que ambos somos os meninos perdidos no bosque e que tua mulher é o tio cruel, que nos persegue, a ti, com o pano de cozinha e a mim, com a pomada para matar pulgas e a fita encarnada para me enfeitar a cauda? Por que não cortas de uma vez essas coisas pela raiz e seremos camaradas toda a vida?

Direis talvez que não me compreenderia; talvez assim fosse. Mas ficou pensativo um pouco, ereto, apesar dos goles que levava no corpo, e disse-me:

- Cachorrinho, nesta vida ninguém vive mais de uma dúzia de vidas. Eu não quero voltar para casa, e se tu o quiseres, apesar do muito que te aborrece minha mulher, mereces que a carrocinha te leve.

Eu não estava amarrado; mas continuei junto do meu amo, saltando, até a estação ferroviária. E os gatos que achei no trajeto viram que tinham razão para agradecer por terem sido dotados de unhas afiadas.

Ao chegar à janelinha, meu amo disse a um desconhecido que estava comendo bolo com passas de Corinto:

- Meu cachorro e eu vamos para as Montanhas Rochosas.

Porém, o que mais me agradou foi que o velho, puxando-me as orelhas até me fazer gritar, disse:

- Oh, cachorrinho vulgar, cabeça de macaco, rabo de rato e cor de enxofre. Qual é teu nome?

Eu, pensando no nome Amante, soltei um triste lamento.

- Vou chamar-te Pedro - disse meu amo; e ao ouvir aquilo, ainda que tivesse cinco caudas, ter-me-iam parecido poucas para agitá-las em ação de graças, fazendo justiça ao acontecimento.

Fontes:
http://www.gargantadaserpente.com/coral/contos/oh_cachorro.shtml

Isaac Asimov (1920 - 1992)



Isaac Asimov, (Petrovichi, 2 de Janeiro de 1920 — Nova Iorque, 6 de abril de 1992) foi um escritor e bioquímico famoso como popularizador da ciência e como autor de ficção científica, sendo suas séries mais populares Fundação e Robôs. Nesta última criou as famosas Três Leis da Robótica.

Asimov é autor de livros de divulgação sobre praticamente todos os campos do conhecimento e foi um dos homens mais cultos do século XX. Seu QI foi estimado em cerca de 175. Sabe-se que obteve um escore 135 no teste Eisenck, mas resolveu o teste inteiro na metade do tempo. Foi presidente honorário da Mensa, uma associação para pessoas superdotadas que conta com membros de 100 países.

Sua obra de ficção destaca-se por introduzir ao leitor leigo conhecimentos científicos e a idéia do método científico.

Biografia

Asimov nasceu entre 4 de Outubro de 1919 e 2 de Janeiro de 1920 em Petrovichi shtetl ou Óblast de Smolensk, RSFSR (agora Província de Mahilyow, Bielorrússia). A mãe foi Anna Rachel Berman Asimov e o pai Judah Asimov, um moleiro de uma família de Judeus. A sua data de nascimento não pode ser precisada por causa das diferenças entre o Calendário Gregoriano e o Calendário hebraico e por causa da falta de registros. Asimov celebrou sempre o seu aniversário a 2 de Janeiro. A família deriva o nome de ?????? (ozimiye), uma palavra da língua Russa que significa um cereal de inverno em que o seu bisavô negociava, ao qual o sufixo paterno foi adicionado. A sua família emigrou para os EUA quando ele tinha só 3 anos de idade. Como os seus pais falavam sempre hebraico e Inglês com ele, ele nunca aprendeu russo. Enquanto crescia em Brooklyn, New York, Asimov aprendeu por si próprio a ler quando tinha cinco anos, e permaneceu fluente em ídiche assim como em Inglês. Os seus pais tinham uma loja de doces, e toda a gente da família tinha de lá trabalhar. Revistas baratas de banda desenhada sobre ficção científica eram vendidas em lojas, e ele começou a lê-las. Por volta dos onze anos ele começou a escrever histórias próprias, e por volta dos dezenove anos, tendo-se tornado fã de ficção científica, ele começou a vender a vender as suas histórias a revistas. John W. Campbell, o editor de Astounding Science Fiction, foi uma forte influência formativa e tornou-se um amigo.

Asimov foi aluno das New York City Public Schools, inclusive a Boys' High School, em Brooklyn, New York. A partir daí ele foi para a Universidade de Columbia, da onde se graduou em 1939, depois tirando um Ph. D. em bioquímica em 1948. Entretanto, passou três anos durante a Segunda Guerra Mundial a trabalhar como civil na Naval Air Experimental Station do porto da Marinha em Philadelphia. Quando a guerra acabou, ele foi destacado para o U.S. Army, tendo só servido nove meses antes de ser honrosamente retirado. Durante a sua breve carreira militar, ele ascendeu ao posto de cabo baseado na sua habilidade para escrever à máquina, e escapou por pouco de participar nos testes da bomba atômica em 1946 no atol de Bikini.

Depois de completar o seu doutoramento, Asimov entrou na faculdade de Medicina da universidade de Boston, com que permaneceu associado a partir daí. Depois de 1958, isto foi sem ensinar, já que se virou para a escrita full-time (as suas receitas da escrita já excediam as do salário acadêmico). Pertencer ao quadro permanente significou que ele manteve o título de professor associado, e em 1979 a universidade honrou a sua escrita promovendo-o a professor catedrático de bioquímica. Os arquivos pessoais de Asimov a partir de 1965 estão arquivados na Mugar Memorial Library da universidade, à qual ele os doou a pedido do curador Howard Gottlieb. A coleção preenche 464 caixas em setenta e um metros de prateleira.

Asimov casou com Gertrude Blugerman (1917, Canadá–1990, Boston) em 26 de Julho de 1942. Tiveram duas crianças, David (n. 1951) e Robyn Joan (n. 1955). Depois da separação em 1970, ele e Gertrude divorciaram-se em 1973, e Asimov casou com Janet O. Jeppson mais tarde no mesmo ano.

Asimov era um claustrofilo; ele gostava de espaços pequenos fechados. No primeiro volume da sua autobiografia, ele conta um desejo infantil de possuir uma banca de jornal numa estação de metro no New York City Subway, dentro da qual ele se fecharia e escutaria o ruído das carruagens enquanto lia.

Asimov tinha aviophobia, só o tendo feito duas vezes na vida inteira (uma vez durante o seu trabalho na Naval Air Experimental Station, e uma vez na volta para casa da base militar em Oahu in 1946). Ele raramente viajava grandes distâncias, em parte por causa da sua aversão a voar adicionada as dificuldades logísticas de viajar longas distâncias. Esta fobia influenciou varias das suas obras de ficção, como as historias misteriosas de Wendell Urth e as novelas sobre Robôs em que entrava Elijah Baley. Nos seus últimos anos, ele gostava de viajar em navios de cruzeiro, e em varias ocasiões ele fez parte do "entretenimento" no cruzeiro, dando palestras baseadas em ciência em navios como os RMS Queen Elizabeth 2. Asimov era sabia entreter muitíssimo bem, prolífico, e procurado como discursador. O seu sentido de tempo era fantástico; ele nunca olhou para um relógio, mas falava invariavelmente precisamente o tempo acordado.

Asimov era um participador habitual em convenções de ficção cientifica, onde ficava amável e disponível para a conversa. Ele respondia pacientemente a dezenas de milhares de perguntas e outro tipo de correio com postais, e gostava de dar autógrafos. Embora ele gostasse de mostrar o seu talento, ele raramente parecia levar-se a si próprio demasiado serio.

Ele era de altura mediana, forte, com bigode e um obvio sotaque Brooklyn-Hebreu. A sua motricidade física era bastante limitada. Ele nunca aprendeu a nadar ou andar de bicicleta; no entanto, ele aprendeu a conduzir um carro depois de se mudar para Boston. No seu livro de humor Asimov Laughs Again, ele descreve a condução em Boston como "anarquia sobre rodas". Ele demonstrou o seu amor por conduzir na sua short story de ficção cientifica, 'Sally', sobre carros robô. Um leitor atento reparara que ele faz uma descrição detalhada de um dos carros a que chama 'Giuseppe', de Milan - o que significa que Giuseppe era um Alfa Romeo. Asimov não especificou nenhum outro tipo de veiculo em nenhuma das suas historias, o que levou muitos fãs a considerara que ele foi empregue por aquela marca de automóvel.

Os interesses variados de Asimov incluíram, nos seus anos tardios, a sua participação em organizações devotadas à opereta de Gilbert and Sullivan e em The Wolfe Pack, um grupo de seguidores dos mistérios de Nero Wolfe escritos por Rex Stout. Ele era um membro proeminente da Baker Street Irregulars, a mais importante sociedade a volta de Sherlock Holmes. De 1985 ate a sua morte em 1992, ele foi presidente da American Humanist Association; o seu sucessor foi o amigo e congênere escritor Kurt Vonnegut. Ele também era um amigo próximo do criador de Star Trek, Gene Roddenberry, e foram-lhe dados créditos em Star Trek: The Motion Picture pelos conselhos que deu durante a produção (dando a Paramount Pictures a impressão que as idéias de Roddenberry eram legitima especulação de ficção cientifica).

Asimov morreu em 6 de Abril de 1992. Ele deixou a sua segunda mulher, Janet, e as crianças do primeiro casamento. Dez anos depois da sua morte, a edição da autobiografia de Asimov, It's Been a Good Life, revelou que a sua morte foi causada por SIDA; ele contraiu o vírus HIV através de uma transfusão de sangue recebida durante a operação de bypass em Dezembro de 1983. [1] A causa especifica de morte foi falha cardíaca e renal como complicações da infecção com o vírus da SIDA. Janet Asimov escreveu no epílogo de It's Been a Good Life que Asimov o teria querido fazer publico, mas os seus médicos convenceram-no a permanecer em silencio, avisando que o preconceito anti-SIDA, se estenderia aos seus familiares. A família de Asimov considerou divulgar a sua doença antes de ele morrer, mas a controvérsia que ocorreu quando Arthur Ashe divulgou que ele tinha SIDA convenceu-os do contrario. Dez anos mais tarde, depois da morte dos médicos de Asimov, Janet e Robyn concordaram que a situação em relação à SIDA podia ser levada a publico.

No livro Escolha a Catástrofe, Asimov disserta sobre os futuros problemas que poderiam levar a humanidade à extinção e como a tecnologia poderia salvá-la. Em certa parte do livro, ele fala sobre a educação e como ela poderia funcionar no futuro.

"Haverá uma tendência para centralizar informações, de modo que uma requisição de determinados itens pode usufruir dos recursos de todas as bibliotecas de uma região, ou de uma nação e, quem sabe, do mundo. Finalmente, haverá o equivalente de uma Biblioteca Computada Global, na qual todo o conhecimento da humanidade será armazenado e de onde qualquer item desse total poderá ser retirado por requisição."

"...Certamente cada vez mais pessoas seguiriam esse caminho fácil e natural de satisfazer suas curiosidades e necessidades de saber. E cada pessoa, à medida que fosse educada segundo seus próprios interesses, poderia então começar a fazer suas contribuições. Aquele que tivesse um novo pensamento ou observação de qualquer tipo sobre qualquer campo, poderia apresentá-lo, e se ele ainda não constasse na biblioteca, seria mantido à espera de confirmação e, possivelmente, acabaria sendo incorporado. Cada pessoa seria simultaneamente um professor e um aprendiz."
Isaac Asimov - 1979

Asimov pretendia escrever 500 livros e, por pouco, não atingiu essa marca; escreveu 463 obras. Mas somando todos os livros, desenhos e coleções editadas totalizam-se 509 itens em sua bibliografia completa. Asimov pode ter escrito Opus 400, que seria uma comemoração de 400 publicações; contudo a lista de comemorativos da bibliografia vai apenas até o Opus 300.

Memórias de Asimov

"À Gertrude, com a qual estive casado, muito satisfatoriamente, durante oito anos, um mês, duas semanas, um dia, duas horas, 45 minutos e alguns segundos".

A dedicatória que abre uma de suas obras parece mais a afirmação do divórcio de Isaac Asimov. Asimov deu fim a sua vida matrimonial com Gertrude em suas Memórias, atrevendo-se por fim a expressar algumas opiniões não tão positivas e triunfantes como tinha por costume. Para Janet, sua segunda esposa, a quem dedica um livro, tem em troca, umas belas palavras: "minha companheira de vida e pensamento". Confessou que lhe foi infiel e de seus dois filhos tidos com ela, Robyn era sua preferida. Adorava-a e sentia-se muito mal porque ele morreria e Robyn sofreria com isso. De seu outro filho, David, apenas umas linhas. De forma estranha confessa que seu matrimônio com Gertrude durou doze anos porque tinha dois filhos. É interessante somar-se à sua vida familiar a sinceridade com que Isaac trata este assunto e porque está muito longe da imagem de triunfador nato e otimista da que tanto lhe gostava se ostentar.

Asimov havia escrito outros dois livros de memórias. Terminou em 1990 e Janet teve que se encarregar de sua edição, que ocorreu dois anos depois, mesmo que Isaac nunca o tenha visto publicado. Seu último livro, escrito em 1991, foi “Asimov sorri de novo”, e depois apenas teve forças para realizar algum outro artículo periódico. Desde agosto de 1991, até a sua morte, em 6 de abril de 1992, sofreu um grande declive físico e teve constantes hospitalizações. De acordo com o que relata Janet, pelo menos, morreu em paz, em companhia de Robyn e dela mesma.

Alguns dos aspectos mais insuspeitos de Isaac Asimov se somam em suas memórias. Acostumado com seu excelente humor, sua megalomania simpática e sua hiperatividade contagiosa, neste último texto, o escritor reconhece que algumas matérias como a economia eram-lhe indigeríveis - Pág.54: "Não seria de nada escutar o professor nem estudar o tema. Pela primeira vez em minha vida tropecei com uma barreira mental, algo que não podia fazer entrar na minha cabeça" - e que seus estudos de licenciatura foram um fracasso: escolheu a química para doutorar-se por simples eliminação. Pág.83: "Eliminada a zoologia tive que escolher entre química ou física. Eliminei a física porque era muito matemática. Depois de muitos anos resolvendo a matemática facilmente, cheguei finalmente ao cálculo integral e me choquei contra uma barreira. Dei-me conta de que havia chegado o mais longe possível, e até hoje nunca pude ir mais além".

Entre outros aspectos, tinha vertigem, odiava viajar, era um adicto ao trabalho e eludia qualquer situação incômoda (quando Janet esteve internada para ser operada de um câncer de mama, ele estava viajando!). Tudo isso foi compensado, como qualquer admirador sabe, com uma fé em si mesmo inquebrável e um conhecimento claro de quais eram seus talismãs. Pág. 84: "Começava a dar-me conta de que eu não era um especialista, de que em qualquer campo do conhecimento haveriam muitos que saberiam muito mais do que eu e que, talvez, poderiam ganhar vida e alcançar a fama nesse campo, enquanto eu não. Eu era um generalista, tinha conhecimentos consideráveis sobre quase tudo. Haviam muitos especialistas de cem ou de mil classes diferentes, mas, eu disse a mim mesmo, só haveria um Isaac Asimov". E assim foi. É o escritor mais popular de ficção científica e de divulgação científica, até o ponto de seu nome ser garantia de vendas para qualquer livro do gênero. As editoras sabem e exploram isso. O escritor se perpetua assim, interminavelmente.

O grande orador que gostava de falar em público, era um amigo fiel e grato, que nunca deixou desamparados seus amigos.

Asimov estava apaixonado por si mesmo e encerrou estas Memórias com uma das frases mais tristes que só um homem que sabe que vai morrer pode confessar: "Não espero viver para sempre, não me aflijo por isso, mas sou fraco e gostaria de ser recordado eternamente".


OBRAS

Série Fundação
Os romances dessas três séries foram publicados como histórias independentes. Mais tarde, Asimov sintetizou-os em uma simples e coerente 'história' que apareceu na extensão da série fundação.

Série Robô:
Caça aos Robôs (1954) (primeiro romance de ficção científica com Elijah Baley)
Os Robôs (1957) (segundo romance de ficção científica com Elijah Baley)
Os Robôs do Amanhecer (1983) (terceiro romance de ficção científica com Elijah Baley)
Os Robôs e o Império (1985) (seqüência da trilogia Elijah Baley)
O Homem Positrônico (1993) (com Robert Silverberg, um romance baseado no antigo conto de Asimov "The Bicentennial Man")

Série Império Galáctico:
827 Era Galática (1950)
Poeira de Estrelas (1951)
As Correntes do Espaço (1952)

Trilogia Fundação:
Fundação (1951)
Fundação e Império (1952)
Segunda Fundação (1953)

Extensão da série Fundação:
Fundação II (em Portugal "No Limiar da Fundação") (1982)
Fundação e a Terra (1986)
Prelúdio à Fundação (1988)
Crônicas da Fundação (em Portugal "Notas Para um Império Futuro") (1993)

Romances que não fazem parte de séries
Fim da Eternidade (1955)
Viagem Fantástica (1966) (uma novelização do filme apresentando uma equipe de cientistas viajando dentro do corpo humano)
Despertar dos Deuses (1972)
Viagem Fantástica: Rumo ao cérebro (1987) (não é uma seqüência do primeiro Fantastic Voyage, mas sim uma história independente).
Nemesis (1989)
O Cair da Noite (1990) (com Robert Silverberg, um romance baseado em um conto mais antigo).
The Ugly Little Boy (1992) (com Robert Silverberg, um romance baseado em um conto mais antigo).
(Ainda que essencialmente independentes, alguns desses romances têm relações mínimas com a série "Fundação".)

Coletâneas de pequenas histórias
Lista de pequenas histórias de Isaac Asimov
I, Robot - Eu, Robô (1950)
The Martian Way and Other Stories (1955)
Earth Is Room Enough (1957)
Nine Tomorrows (1959)
The Rest of the Robots (1964)
Nightfall and Other Stories (1969)
The Early Asimov (1972)
The Best of Isaac Asimov (1973)
Buy Jupiter and Other Stories (1975)
The Bicentennial Man and Other Stories (1976)
The Complete Robot (1982)
The Winds of Change and Other Stories (1983)
Robot Dreams (1986)
Azazel (1988)
Gold (1990)
Robot Visions (1990)
Magic (1995)

Mistérios
Romances
The Death Dealers (1958) (republicado mais tarde como A Whiff of Death)
Murder at the ABA (1976) (republicado mais tarde como Authorized Murder)

Coletâneas de pequenas histórias
Black Widowers and others
Asimov's Mysteries (1968)
Tales of the Black Widowers (1974)
More Tales of the Black Widowers (1976)
Casebook of the Black Widowers (1980)
Banquets of the Black Widowers (1984)
The Best Mysteries of Isaac Asimov (1986)
Puzzles of the Black Widowers (1990)
Return of the Black Widowers (2003) contains stories uncollected at the time of Asimov's death, in addition to contributions by Charles Ardai and Harlan Ellison

Não-ficção
Ciência popular
Adding a Dimension (1964)
Asimov on Numbers (1959)
Asimov's Chronology of Science and Discovery (1989, second edition extends to 1993)
Asimov's Chronology of the World (1991)
The Chemicals of Life (1954)
Choice of Catastrophes (1979)
The Clock We Live On (1959)
The Collapsing Universe (1977) ISBN 0-671-81738-8
The Earth (2004, revised by Richard Hantula)
Exploring the Earth and the Cosmos (1982)
The Human Brain (1964)
Inside the Atom (1956)
Isaac Asimov's Guide to Earth and Space (1991)
The Intelligent Man's Guide to Science (1965)
Jupiter (2004, revised by Richard Hantula)
Life and Energy (1962)
The Neutrino (1966)
Our World in Space (1974)
Quasar, Quasar, Burning Bright (1977)
Science, Numbers and I (1968)
The Secret of The Universe (1990)
The Solar System and Back (1970)
The Sun (2003, revised by Richard Hantula)
The Sun Shines Bright (1981)
The Universe: From Flat Earth to Quasar (1966)
Venus (2004, revised by Richard Hantula)
Views of the Universe (1981)
Words of Science and the History Behind Them (1959)
The World of Carbon (1958)
The World of Nitrogen (1958)

Guias
Asimov's Guide to the Bible, vols I and II (1981)
Asimov's Guide to Shakespeare
Outros
Opus 100 (1969)
The Sensuous Dirty Old Man (1971)
Asimov's Biographical Encyclopedia of Science and Technology (1972)
Opus 200 (1979)
Isaac Asimov's Book of Facts (1979)
The Roving Mind (1983) (collection of essays). Nova edição publicada por Prometheus Books(1997)

Conferência de Isaac Asimov na Universidade do Estado de Michigan (MSU) em 1974

“Quando eu publiquei meu primeiro livro, me fizeram muitas perguntas, como: ‘Bem, é bom? ’ - e eu realmente não sabia o que dizer. ‘O que dizem os corretores? ’ - e haviam muito mais perguntas.
E muito rápido me dei conta, que só havia uma maneira de solucionar aquilo. Eu rapidamente me sentei, e escrevi mais de 145 livros, e agora ninguém pergunta os nomes, ninguém pergunta se são bons, ninguém me pergunta... ninguém me pergunta nada!

Eles só dizem: '146 livros, uau! ’. Porque... porque você sabe, se você se detém pensando nisso. ‘Que diferença há se são bons ou ruins? Você já tentou escrever 146 livros ruins? ’.
Então a pergunta: ‘Bem, como você faz... como você faz para escrever tanto? ’.
Eu constantemente me pergunto. ‘Como faço para escrever todos esses livros? ’.
E a resposta é muito simples. Eu jogo fora os pensamentos, as dúvidas.
Você diz que você não acredita em mim, verdade? Mas é a verdade.
Você compreende quantos livros não são escritos por pensar-se?
Isto é, você escreve a primeira frase: ‘Era uma noite escura e chuvosa? ’.
E isso está bem! E você deveria seguir em frente, mas você não o faz.
Você comete o erro fatal de pensar e diz: ‘Não é suficientemente dramático’.

E você escreve... corrige, e volta a escrever de novo: ‘Uma noite escura e chuvosa, isso é o que era’.
E então você pensa: ‘Não, é muito dramático’.
Talvez você queira abrir um ar de incerteza: ‘Era uma noite escura e chuvosa? ’

E então você pensa um pouco mais, e você diz: ‘Não, não, eu... eu estou estropiando-o, isto é o anticlímax’. E você diz: ‘Era uma noite chuvosa e escura! ’. Bem, isto continua assim sempre, e você nunca escreve o livro?

Agora, bem, eu não faço isto. Eu começo com a promessa de que a maneira que eu escrevo na primeira vez é a certa. Como resultado, eu odeio os críticos literários. Eles podem observar, estudar e analisar, mas eles não podem fazê-lo.”

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Isaac_Asimov

Isaac Asimov (A Sensação de Poder)

"Em meu conto "A Sensação de Poder", publicado em 1957, lancei
mão de computadores de bolso, cerca de dez anos antes de tais
computadores se tornarem realidade. Cheguei mesmo a
considerar a possibilidade de eles contribuírem para
que as pessoas acabassem perdendo a capacidade
de fazer operações aritméticas à maneira antiga."
(Introdução - Isaac Asimov)

Jehan Shuman estava acostumado a lidar com os homens responsáveis pelas tropas espalhadas pela Terra. Era apenas um civil, mas tinha criado os programas que possibilitaram o surgimento dos mais avançados computadores automáticos de guerra. Consequentemente, os generais ouviam sua opinião. Os líderes das comissões parlamentares também.

Havia um militar e um político no salão especial do Novo Pentágono. O general Weider tinha um rosto bronzeado pelos raios de muitos sóis, e sua pequena boca, cheia de rugas, quase não aparecia. O deputado Brant tinha um rosto suave e olhos claros. Ele fumava um charuto denebiano com a segurança de alguém cujo patriotismo era tão notório que podia se permitir certas liberdades.

Shuman, alto, distinto, um típico programador de elite, encarou-os destemidamente.

- Cavalheiros - disse ele -, esse é Myron Aub.
- É aquele que tem um talento incomum, que você descobriu por acaso - disse Brant, sereno. - Ah. - Ele estudou o pequeno homem de cabeça oval e careca com uma curiosidade cordial.

Em resposta, o homenzinho torceu os dedos de suas mãos ansiosamente. Nunca tinha visto homens tão importantes em sua vida. Era um técnico envelhecido e sem importância, que há muito tempo tinha fracassado em todos os testes destinados a selecionar as pessoas talentosas da humanidade e se acomodara numa rotina de trabalhos não especializados. Tinha apenas um passatempo que, de pois de descoberto pelo grande programador, acarretara todo esse estardalhaço.

- Acho infantil esse clima de mistério - disse o general Weider.

- Vai deixar de achar em um minuto - disse Shuman. - Esse é o tipo de coisa que não pode vazar para qualquer um... Aub! Havia um pouco de autoritarismo na sua maneira de pronunciar esse nome monossilábico, mas, nesse caso, era o grande programador falando para um simples técnico. - Aub! Quanto é nove vezes sete?

Aub hesitou um pouco. Seus olhos pálidos brilharam, ligeiramente ansiosos.

- Sessenta e três - disse ele.

O deputado Brant levantou as sobrancelhas.

- Ele acertou?

- Veja você mesmo, deputado.

O deputado tirou seu computador de bolso, apertou as teclas duas vezes, olhou para a superfície na palma de sua mão e guardou-o.

- É esse o talento que você trouxe para nos mostrar? Um ilusionista?

- Mais que isso, senhor. Aub decorou algumas operações e com elas faz cálculos num papel.

- Um computador de papel? - disse o general. Ele parecia aflito.

- Não senhor - disse Shuman pacientemente. - Não é um computador de papel. É um simples pedaço de papel. General, o senhor faria a gentileza de sugerir um número?

- Dezessete - disse o general..

-E o senhor, deputado?.

- Vinte e três.

- Ótimo. Aub, multiplique esses números e, por favor, mostre a esses cavalheiros como você faz isso..

- Sim, programador - disse Aub, fazendo uma reverência com a cabeça. Tirou um bloco de um dos bolsos da camisa e do outro uma caneta de bico fino. Sua testa se enrugava enquanto desenhava meticulosamente no papel..

O general Weider interrompeu-o bruscamente..

- Deixe-me ver isso.

Aub entregou-lhe o papel..

- Bem, isso parece com o número dezessete - disse Weider..

O deputado Brant balançou a cabeça..

- Parece sim, mas eu acho que qualquer um pode copiar as figuras de um computador. Talvez até eu possa fazer um dezessete razoável, mesmo sem prática..

- Se vocês deixarem Aub continuar, cavalheiros - disse Shuman, sem se perturbar..

Aub continuou com as mãos um pouco trêmulas. Depois de algum tempo, disse em voz baixa:.

- A resposta é trezentos e noventa e um..

O deputado Brant checou de novo o computador. - Por Deus, é isso mesmo. Como ele adivinhou?

- Ele não adivinhou, deputado - disse Shuman. - Ele calculou o resultado nesse pedaço de papel..

- Conversa furada - disse o general, impaciente. - O computador é uma coisa, desenhos no papel são outra..

- Explique, Aub - pediu Shuman..

- Pois não, programador. Bem, eu escrevo dezessete, embaixo dele, escrevo vinte e três. Depois, digo comigo mesmo: sete vezes três.…

- Só que o problema é dezessete vezes vinte e três interrompeu-o o deputado, cortês..

- Sim, eu sei - disse o pequeno técnico, num tom sério. Mas eu começo por sete vezes três, porque é assim que funciona. Agora, sete vezes três são vinte e um..

- Como é que você sabe isso? - perguntou o deputado..

- É uma questão de memória. É sempre vinte e um no computador. Já conferi um monte de vezes..

- Isso não quer dizer que vai ser assim para sempre, não? disse o deputado..

- Talvez não - gaguejou Aub. - Não sou matemático. Mas as minhas respostas sempre estão certas..

- Continue..

- Sete vezes três é vinte e um, então eu escrevo vinte e um. Depois, um vezes três é três e, então, escrevo o três embaixo do dois de vinte e um.

- Por que embaixo do dois? - perguntou de pronto o deputado..

- Porque... - Aub olhou desesperado para o seu superior, como se estivesse pedindo ajuda. - É difícil de explicar..

- Se vocês aceitarem o seu trabalho por um momento, podemos deixar os detalhes para os matemáticos..

Brant se acalmou..

- Três mais dois é igual a cinco - disse Aub. - Então o vinte e um vira cinqüenta e um. Você deixa isso de lado um pouquinho e começa de novo. Você multiplica sete por dois, que é catorze e um por dois, que dá dois. Se você colocá-los assim, isso vai dar trinta e quatro. Agora coloque o trinta e quatro embaixo do cinqüenta e um dessa forma e faça a soma, então terá a resposta final, que é trezentos e noventa e um..

Houve um momento de silêncio..

- Não acredito nisso - disse o general Weider. - Ele vem com essa conversa furada e desenha os números, multiplica e soma dessa maneira, mas não acredito. Isso é muito complicado. Não passa de um truque..

- Não, senhor - disse Aub, ansioso. - Só parece complicado porque o senhor não está acostumado. Na verdade, as regras são muito simples e funcionam com qualquer número..

- Qualquer número, hein? - disse o general. - Então, vamos ver. - Pegou o seu computador (um modelo GI de estilo austero)e apertou-o ao acaso. - Escreva cinco sete três oito no papel. Isto é cinco mil, setecentos e trinta e oito..

- Sim, senhor - disse Aub, pegando uma folha em branco..

- Agora - mais toques no seu computador - sete dois três nove. Sete mil, duzentos e trinta e nove..

- Sim, senhor..

- Agora, multiplique esses dois números..

- Isso vai demorar um pouco - disse Aub, com uma voz trêmula..

- Fique à vontade - disse o general..

- Vá em frente, Aub - disse Shuman, incisivo..

Aub pôs-se a trabalhar, inclinando-se para baixo. Virou outra página e mais outra. O general pegou o relógio e viu as horas..

- Você já terminou o seu número de magia, técnico?.

- Estou terminando, senhor. Aqui está, senhor. Quarenta e um milhões, novecentos e trinta e sete mil, trezentos e oitenta e dois. Ele mostrou o resultado rabiscado no papel..

O general Weider sorriu amargamente. Ele pressionou o botão de multiplicação do seu computador e deixou os números rodopiarem até parar. Então ele olhou o resultado e gritou surpreso. - Grande Galáxia, esse cara está certo..

O Presidente da Federação Terrestre tinha adquirido uma expressão macilenta devido à longa permanência nos escritórios; nas audiências, ele permitia que uma expressão vagamente melancólica tomasse conta de suas feições. A guerra denebiana, depois de um breve começo de grande agitação e muita popularidade, tinha se restringido a uma sórdida questão de manobras e contramanobras, com o descontentamento crescendo continuamente na Terra. Provavelmente também estava crescendo em Deneb..

E agora, o deputado Brant, líder do importante Comitê de Apropriações Militares, estava alegre e entusiasmadamente desperdiçando a sua audiência falando barbaridades..

- Calcular sem um computador - disse o presidente, impaciente - é absolutamente impossível..

- Calcular - disse o deputado - é apenas um sistema de manipulação de dados. Uma máquina pode fazer isso, da mesma forma que a mente humana. Deixe-me dar-lhe um exemplo. E, usando as novas habilidades que tinha aprendido, desenvolveu somas e produtos até que o presidente, a despeito de sua desconfiança, se mostrou interessado. - Isso sempre funciona?.

- Sempre, Sr. Presidente. É infalível..

- É difícil de aprender?.

- Passei uma semana até pegar o macete. Acho que o senhor precisaria de menos tempo..

- Isso é um joguinho interessante - disse o presidente, depois de pensar um pouco. - Mas qual a sua utilidade?.

- Qual a utilidade de um bebê recém-nascido, Sr. Presidente? Por enquanto, não tem nenhuma utilidade, mas o senhor não vê, isso aponta o caminho que libertará a máquina. Pense bem Sr. Presidente. - O deputado se levantou e sua voz profunda automaticamente assumiu algumas das entonações que usava nos debates. - A guerra denebiana é uma guerra de computador contra computador. Os computadores deles produzem um escudo impenetrável de contramísseis contra os nossos mísseis, assim como os nossos fazem contra os deles. Quando modernizamos nossos computadores, eles também modernizam os deles, e há cinco anos existe um equilíbrio precário e inútil..

Agora temos em nossas mãos um método para ir além do computador, pular por sobre ele, ultrapassá-lo. Combinaremos a mecânica do computador com o pensamento humano; teremos o equivalente aos computadores inteligentes; bilhões deles. Não posso prever detalhadamente quais serão as conseqüências, mas elas serão incalculáveis. E, caso os denebianos se antecipem a nós nesse aspecto... o resultado pode ser uma catástrofe..

- O que podemos fazer? - disse o presidente, preocupado..

- Colocar o poder da administração em favor de um projeto secreto de computação humana. Chame-o de Projeto Número, se quiser. Posso me responsabilizar pelo meu comitê, mas vou precisar do apoio da administração..

- Mas até onde a computação humana pode ir?.

- Não há limites. De acordo com o programador Shuman, que me apresentou essa descoberta.…

- Já ouvi falar de Shuman, é claro..

- Sim. Bom, o Dr. Shuman me disse que, teoricamente, não há nada que um computador faça que não possa ser feito pela mente humana. O computador apenas processa um número finito de dados e opera um número finito de operações a partir deles. A mente humana pode reproduzir esse processo..

O presidente pensou um pouco..

- Se Shuman diz isso, estou inclinado a acreditar nele... em teoria. Mas, na prática, como alguém pode saber como um computador funciona?

Brant sorriu cordialmente..

- Sr. Presidente, eu fiz a mesma pergunta. Ao que parece, houve uma época em que os computadores eram projetados diretamente pelos seres humanos. Eram computadores simples; antecederam a época em que o uso racional dos computadores fez com que eles projetassem computadores mais avançados.

- Sim, sim. Continue.

- Aparentemente, o técnico Aub conseguiu, por puro lazer, reconstituir alguns desses velhos esquemas, estudou os detalhes do seu funcionamento e descobriu que podia copiá-lo. A multiplicação que acabei de fazer para o senhor é uma imitação do funcionamento de um computador.

- Surpreendente!

O deputado tossiu educadamente.

- Se posso fazer mais uma observação, Sr. Presidente... quanto mais pudermos desenvolver essa coisa, mais poderemos desviar nosso esforço federal da produção de computadores e de sua manutenção. Assim que o cérebro humano assumir o poder, nossas melhores energias poderão ser canalizadas para procurar a paz, e a influência da guerra nos homens comuns será menor. Isso será mais vantajoso para o partido no poder, é claro.

- Ah - disse o presidente. - Entendo o que você quer dizer. Bem, sente-se, deputado, sente-se. Preciso de algum tempo para pensar. Enquanto isso mostre-me esse truque da multiplicação de novo. Deixe ver se eu consigo pegar o macete. O programador Shuman não tentou apressar o assunto. Loesser era conservador, muito conservador, e gostava de lidar com os computadores da mesma forma como seu pai e seu avo. Mesmo assim, ele controlava o monopólio de computadores do oeste europeu; se conseguisse entusiasmá-lo com o Projeto Número, um passo muito grande seria dado.

Mas Loesser continuava com um pé atrás

- Não sei se gosto da idéia de afrouxarmos as nossas rédeas sobre os computadores. A mente humana é uma coisa caprichosa. O computador sempre nos dará a mesma resposta para o mesmo problema. Qual a garantia que temos de que com a mente humana será assim?

- A mente humana, Loesser, apenas manipula os fatos. Não importa se a mente humana ou a máquina faz isso. Elas são apenas instrumentos.

- Sim, sim. Acompanhei sua engenhosa demonstração de que a mente humana pode imitar o computador, mas isso me parece um pouco vago. Aceito a teoria, mas que razão n6s temos para achar que a teoria será confirmada na prática?

- Acho que temos uma razão, senhor. Afinal de contas, os computadores não existiram sempre. O homem das cavernas, com suas trirremes, machados de pedra e estradas de ferro, não tinha computadores .

- E provavelmente não sabia calcular.

- Você sabe muito bem que sim. Até a construção de uma estrada de ferro ou de um zigurate requeria algum tipo de cálculo, e, como nós sabemos, isso foi feito sem computadores.

- Você está sugerindo que eles calculavam da mesma maneira que você me mostrou?

- Provavelmente não. Afinal de contas, esse método, que, a propósito, chamamos de "grafítico", da velha palavra européia graphos, que quer dizer "escrita"... esse método foi desenvolvido a partir dos próprios computadores, portanto não pode ter sido usado pelos primitivos. Ainda assim, o homem das cavernas deve ter tido algum método, não?

- Artes perdidas! Se você está falando de artes perdidas…

- Não, não é isso. Não sou um entusiasta das artes perdidas, embora não afirme que não exista nenhuma. Afinal, o homem comia cereais antes de aprender a fazer culturas hidropônicas, e se os primitivos comiam cereais, eles deviam cultivá-los no solo. De que outra forma poderiam ter conseguido?

- Não sei, mas só acreditarei em terra cultivada quando vir algum grão crescer no chão. Também só acreditarei que se faz fogo esfregando uma pedra na outra no dia em que me mostrarem que isso é possível.

Shuman tentou ser conciliador.

- Bem, vamos nos ater aos graníticos. Isto tudo faz parte do processo de eterificação. O transporte por meio de pesados equipamentos está sendo substituído por transferência direta de massa. Os instrumentos de comunicação se tornam cada vez mais leves e mais eficientes. Por causa disso, compare seu computador de bolso com aquelas engenhocas pesadas de mil anos atrás. Então, por que não dar também o Ultimo e definitivo passo, e abolir os computadores? Vamos, senhor, o Projeto Número é inevitável; ele está progredindo rapidamente. Mas queremos sua ajuda. Se o patriotismo não for suficiente para engajá-lo, pense na aventura intelectual que está em jogo.

- Que progresso? - disse Loesser com ceticismo. - O que você pode fazer além de multiplicar? Pode integrar uma operação transcendental?

- Dentro em breve, senhor, Dentro em breve. No mês passado, aprendi a dividir. Posso determinar, e corretamente, quocientes inteiros e quocientes decimais.

- Quocientes decimais? De quantas casas?

O programador Shuman tentou manter um tom natural.

- Qualquer número!

Loesser ficou de queixo caído.

- Sem um computador?

- Faça um problema.

- Divida vinte e sete por treze. Em seis casas.

Cinco minutos depois, Shuman disse:

- Dois, vírgula, zero sete meia nove dois três.

Loesser conferiu.

- Isso é realmente fantástico. A multiplicação não me impressionou muito porque, afinal, isso envolvia números inteiros e acho que uma hábil manipulação pode conseguir isso. Mas decimais...

- E isso não é tudo. Há uma nova pesquisa em curso que até agora é ultra-secreta e que, falando sinceramente, não posso revelar. Mesmo assim... estamos perto de aprender a fazer uma raiz quadrada.

- Raiz quadrada?

- Ainda tem algumas coisas pendentes e não conseguimos acertar na mosca, mas o técnico Aub, o homem que inventou essa ciência e que tem uma incrível sensibilidade para a coisa, assegura que está prestes a resolver o problema. E ele é apenas um técnico. Um homem como o senhor, um matemático talentoso e tarimbado, não encontraria tanta dificuldade.

- Raiz quadrada - resmungou Loesser, encantado.

- Raiz cúbica também. E então? Está conosco?

Loesser levantou a mão rapidamente.

- Pode contar comigo.

O general Weider marchava de um lado para o outro da sala e se dirigia aos ouvintes à sua frente como se fosse um professor ranzinza diante de uma turma de estudantes indóceis. Pouco lhe importava se eram os cientistas civis que coordenavam o Projeto Número. O general era um líder em todos os lugares e assim se comportava em todos os momentos de sua vida.

- Nenhum problema com as raízes quadradas, então - disse ele. - Eu mesmo não sei como fazê-las, mas já estão concluídas. Mesmo assim, não vamos interromper o projeto só porque já solucionamos os problemas que alguns de vocês consideram essenciais. Vocês podem fazer o que quiserem com os grafíticos depois que a guerra acabar, mas, nesse exato momento, temos problemas específicos que precisam ser solucionados.

Num canto distante, o técnico Aub ouvia aflito. É claro que há muito tempo deixara de ser um técnico, tendo sido dispensado de suas tarefas e convocado a participar do projeto, com um título pomposo e um ótimo salário. Mas é claro que as diferenças sociais permaneciam e os líderes científicos, altamente classificados, jamais o aceitariam em seu meio ou o tratariam em pé de igualdade.

E Aub tampouco desejava isso. Sentia-se tão incomodado entre eles como eles se sentiam incomodados na sua presença.

- Nós só temos uma meta, cavalheiros - estava dizendo o general. - Substituir os computadores. Uma nave que possa viajar pelo espaço sem um computador a bordo pode ser construída em um quinto de tempo e por um décimo dos custos de uma nave computadorizada. Poderíamos ter frotas especiais cinco ou dez vezes maiores do que as de Deneb se eliminássemos os computadores. E até vejo mais além disso. Talvez agora pareça loucura ou um simples sonho. Mas no futuro eu posso ver mísseis tripulados .

Houve um instantâneo murmúrio por parte da platéia.

O general prosseguiu:

- No momento, nosso problema principal é que a inteligência dos mísseis é limitada. O computador que os controla não pode alterar o rumo programado e, por essa razão, eles sempre acabam sendo detidos por antimísseis. Poucos mísseis, se é que algum consegue chegar a seu objetivo, e a guerra de mísseis está prestes a acabar; felizmente, tanto para o inimigo, como para nós.
Por outro lado, um míssil com um ou dois homens dentro, controlando o vôo com graníticos, seria mais leve, mais ágil e mais inteligente. Isso nos daria uma vantagem que pode significar a vitória. Além disso, cavalheiros, as necessidades da guerra nos obrigam a lembrar de uma coisa. Um homem é mais descartável do que um computador. Mísseis tripulados podem ser lançados em maior número e sob circunstâncias que nenhum general empreenderia se usasse mísseis computadorizados.

Ele discorreu sobre muito mais coisas, mas o técnico Aub não esperou. O técnico Aub, na intimidade dos seus aposentos, elaborou cuidadosamente sua carta de despedida. Ela dizia o que se segue: "Quando comecei a estudar o que agora chamam de graníticos, isso não passava de um passatempo. Nada mais do que um agradável passatempo, um exercício para a cabeça.

Quando o Projeto Número começou, achava que as pessoas fossem mais esclarecidas do que eu e que os graníticos poderiam ser usados para ajudar a humanidade, apoiando a modernização dos instrumentos necessários à transferência de massas. Mas agora vejo que ele só será usado para a morte e a destruição.

Não posso suportar a responsabilidade de ter inventado os grafíticos.

Depois, virou contra si o foco do despolarizador de proteínas e morreu instantaneamente.
Eles se reuniram em torno do túmulo do pequeno técnico para prestar-lhe honra por sua notável descoberta.

O programador Shuman fez uma reverência com a cabeça, junto com os outros, mas continuou imóvel. O técnico tinha dado sua contribuição e não era mais necessário. Ele podia ter começado os graníticos, mas agora que o projeto já estava em andamento, iria se desenvolver automaticamente até triunfar, tornando os mísseis tripulados uma realidade, juntamente com tantas outras coisas.

Nove vezes sete, pensou Shuman com orgulho, sessenta e três. Não precisava mais que um computador lhe dissesse isso. Sua própria cabeça era um computador. E isso lhe dava uma fantástica sensação de poder.

Fonte:
ASIMOV, Isaac. Sonhos de Robô. Rio de Janeiro, Ed. Record, 1991. p. 320/330
http://sobral.tripod.com/poder/poder.html

Isaac Asimov (As Leis da Robótica)

As Leis da Robótica foram criadas por Isaac Asimov, e primeiramente existiam apenas 3Leis, mas depois elas foram ampliadas para 4. As Leis da Robótica são:

Lei Zero (criada posteriormente, por um robô que a intuiu no romance "Os Robôs e o Império"): Um robô não pode causar mal a humanidade ou, por omissão, permitir que a humanidade sofra algum mal, nem permitir que ela própria o faça.

Primeira Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.

Segunda Lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos que em tais ordens contrariem a Primeira Lei.

Terceira Lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e a Segunda Lei.

Curiosidades

A expressão robô não é de Asimov. Apareceu em 1920, na obra de teatro de Karel Capek R.U.R. Robôs Universais de Rossum, ainda que a palavra em si se deve ao seu irmão Joseph, já que “robô é trabalhador”. Apesar de tudo que se acreditava, na obra de teatro não é um robô, e sim um andróide. Em troca, inventou-se a expressão robótica, ou seja, a ciência que estuda os robôs.

Apesar de ser um autor de muito êxito, Isaac Asimov também teve fracassos; talvez o maior deles fosse a revista Asimov’s SF Adventure Magazine, que iniciou sua publicação no ano de 1978, e terminou-a no mês seguinte, ou seja, publicou só um número.

Asimov sempre demonstrou preocupação com o dinheiro. A obra pela qual recebeu menos foi “O sentido secreto”, pela qual lhe pagaram pouco, mas também foi a qual pagaram mais por palavra: 2,50 $, já que o editor afirmava que só havia comprado-a pelo seu nome: Isaac Asimov.

Outra de suas manias era não desperdiçar nada. Se um relato era desprezado por um editor, Asimov o apresentava a outro. Em uma edição do ano de 1955, “O Plano dos 1000 anos” foi renomeado para “Fundação”.

Apesar da crença de algumas pessoas, Asimov não foi o escritor mais produtivo da história. Quem tem o recorde é Josef Ignacy Kraszewski, um escritor do século XIX, que escreveu mais de 600 livros.

Entre outros cargos, Asimov foi vice-presidente do Club Mensa, uma associação cujos sócios tem que superar certas provas de inteligência para serem admitidos.

Asimov sofria de acrofobia, medo de altura. Só voou em dois aviões em toda a sua vida, e as viagens de barco também não eram seu forte, ele enjoava com muita facilidade. Nesta acrofobia muitos viram certo paralelismo com a agorofobia, que faz sofrer os habitantes da Terra nas novelas iniciais do Ciclo de Trantor.

Asimov odiava ver seu nome escrito errado. Esse foi um dos seus motivos para escrever, em 1957, o relato: “Meu nome se escreve com S”. Os erros mais notáveis foram produzidos nas etapas da revista Galáxia, de Novembro de 1952; e no Prêmio Nebula, outorgado por O homem bicentenário, em 1976.

Mesmo tendo nascido no seio de uma família judia, e conhecendo bem a Bíblia, Asimov escreveu “Guia de Asimov sobre a Bíblia”, e “A história de Ruth”. Asimov era ateu; se considerava um humanista, ou seja, acreditava que os avanços da Humanidade eram responsabilidade dos humanos, e não de seres sobrenaturais.

A idéia da novela Viagem Fantástica não é original de Asimov. Foi escrita baseada em um guia cinematográfico escrito por Otto Klement e Jay L. Biby, e Asimov escreveu tão rápido que o livro apareceu seis meses antes da estréia do filme. Asimov nunca esteve contente com este trabalho. Na dedicatória do livro, ele colocou: “a Mark e Márcia, que me ‘obrigaram’ a escrever este livro”. Asimov tentou corrigir algumas falhas do guia original, mas apesar da oportunidade de escrever sobre anatomia e fisiologia, motivo que no começo o atraiu, ele nunca considerou essa obra um trabalho próprio.

A Companhia de Robôs e Homens Mecânicos dos Estados Unidos, mais conhecida como U.S. Robôs implanta a todos os robôs positrônicos as Três Leis da Robótica, que regem seu comportamento.”

Quando Asimov desenhou os robôs positrônicos criou três leis para proteger o homem, e permitir sua aceitação, salvando-os do chamado Complexo de Frankenstein. Diversos especialistas opinam que se algum dia chegarem a criar seres metálicos desta complexidade, sem dúvida eles levarão implícitas essas normas ou algumas regras de comportamento equivalentes, a fim de superar o medo que podem gerar os robôs. A intuição de Asimov sobre o futuro pode ir desde buscar água no espaço até a cirurgia microcelular.

Os Robôs

Os robôs têm estrutura cerebral positrônica, formada por circuitos semicondutores, que transmitem as informações processadas na placa mãe, feita de silício, aos equipamentos responsáveis pelas funções do robô. Sua estrutura é atômica, de ferro, e não molecular como as estruturas orgânicas. Os robôs não morrem, simplesmente podem ser destruídos por um ser humano sem relutarem. A maioria dos robôs são feitos para uma função específica, mas existe uma minoria que é composta de um cérebro positrônico mais bem elaborado, podendo desenvolver várias atividades, inclusive apresentando criatividade nessas atividades.

O papel social dos Robôs

O robô foi desenvolvido para servir e proteger o homem. Todo robô é por natureza escravo. Se o robô for versátil, apresentando uma logística menos automática, ele tem condições de se tornar livre. Porém, mesmo livre, o robô está sujeito a obedecer aos 3 mandamentos da robótica, tendo sido essa a sua condição inicial de existência e a primeira informação armazenada em sua memória. Se o robô não cumpre com competência os deveres para os quais foi designado, ele deve ser substituído.

Vantagens dos robôs
– O robô apresenta uma inteligência superior a de qualquer ser humano.
– O robô pode executar qualquer tarefa que lhe for dada, e dependendo de sua placa positrônica, pode executar apenas uma tarefa com perfeição incontestável.
– O robô não morre naturalmente, somente nas mãos do homem.
– Um robô de cérebro positrônico complexo e em boas condições pode mudar de corpo mecânico, quando o seu estiver em mau estado.
– O robô, além de extremamente inteligente também é muito forte, podendo essa força durar intacta até 25 anos em uma mesma estrutura mecânica.

Desvantagens dos robôs
– Os robôs são eternos escravos do homem.
– Mesmo os robôs mais complexos têm de cumprir os 3 mandamentos, pois foram programados para isso.
– A vida do robô está na mão do ser humano, de preferência o seu proprietário.
– Os robôs não têm sentimentos e a maioria não apresenta pensamento criativo.
– Os robôs são discriminados em razão do medo que a raça humana tem deles.
– Um robô pode ser facilmente reconhecido e vítima de preconceito em razão da sua estrutura de ferro.
– Mesmo quando é livre, e seu corpo apresenta estrutura biológica, o robô não pode ser considerado um homem, e sim um andróide, por causa de seu cérebro positrônico.
– Se o robô modificar a estrutura do seu cérebro positrônico para a estrutura de um cérebro biológico, ele fica vulnerável e morre facilmente.

Utilidades dos robôs
– Tarefas domésticas simples.
– Indústrias.
– Pesquisas científicas.
– Exploração espacial.
– Testes nucleares.

Tipos de robôs

Comuns – são aqueles que realizam uma tarefa específica com perfeição.
Versáteis – são aqueles que têm uma estrutura cerebral positrônica complexa, podendo fazer diversas tarefas com perfeição, chegando até a apresentar alguma criatividade.
Andróides – são os robôs versáteis em uma estrutura biológica comum.

Isaac Asimov é conhecido por suas histórias de robôs, seres dotados com cérebros positrônicos, que os conduzem a situações inesperadas e surpreendentes.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Isaac_Asimov
Império de Isaac Asimov. Disponível em
http://anglopor8a09.vilabol.uol. com.br/index.htm