terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.69)


Trova do Dia

Vendo o presépio tão pobre
onde nasceu meu Jesus,
o céu de estrelas se cobre
enchendo as vidas de luz.
ARLENE LIMA/PR

Trova Potiguar

Já ganhei de carro à bola
de presente de Natal,
hoje peço pela escola
e pela paz mundial.
MARCOS MEDEIROS/RN

Uma Trova Premiada

2002 > Garibaldi/RS
Tema > Natal > 5º Lugar

Que os Natais tragam à vida
mais sentimento cristão,
e a cada mão estendida
a guarida de outra mão.
CAMPOS SALES/SP

Uma Trova de Ademar

Neste natal de oração,
de muita festa e de luz,
que eu sinta no coração
a presença de Jesus!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Natal... repicam os sinos...
banha-se o mundo de luz...
Há nos lábios dos meninos
o sorriso de Jesus!
COLBERT R. COELHO/MG

Estrofe do Dia

Quando nos seus estertores,
um ano que se esfumaça,
a tristeza vira graça,
os espinhos viram flores,
os ais se calam nas dores,
problemas têm solução,
inimigo diz-se irmão
nesta farsa natalina;
um comércio que abomina
o sentimento cristão.
FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE

Soneto do Dia

– Colombina/SP –
INVOCANDO JESUS.

Com sua luz brilhante e ao mesmo tempo mansa,
despontará no céu a estrela do pastor;
abriram-se no mundo as rosas da esperança
quando em Belém nascera Cristo, o Redentor.

Crescendo para o bem, logo desfez a herança
(maldita porque feita de ódio e de rancor)
que esmagava o seu povo e sem escudo ou lança,
criou a leis das leis, que era de paz e de amor...

Com a sua palavra humilde, ele vencia
a prepotência, a usura, a maldade, a anarquia
e todas glórias vãs do mundo enganador.

Ó Messias, por que não vens pregar de novo
tua doutrina sã, para salvar o povo
que vive deturpando os mando do Senhor?

Fonte:
Ademar Macedo

Monteiro Lobato (Emília no País da Gramática) Capítulo XX: As Figuras de Sintaxe

Durante todo o tempo da conversa sintática, Pedrinho e Narizinho estiveram a observar, disfarçadamente, várias personagens da comitiva da grande dama. Ela, afinal, percebeu o joguinho e contou serem as tais FIGURAS DE SINTAXE.

— Figuras de Sintaxe? — repetiu Narizinho sem compreender. — Que espécie de figuras são essas?

A grande dama explicou:

— Eu tenho sempre comigo umas tantas Figuras que me auxiliam no trabalho de trazer bem arrumadinhas as Orações. Vou apresentá-las a vocês.

E dirigindo-se às Figuras:

— Senhoras Figuras de Sintaxe, permiti-me que vos apresente à grande Emília, Marquesa de Rabicó, à menina do Narizinho Arrebitado e ao Senhor Pedrinho. E ali — continuou, apontando para o rinoceronte —, um grande filólogo da Uganda, que se acha de passeio pelas terras da Gramática.

As Figuras fizeram uma graciosa reverência. Em seguida a grande dama passou a explicar as funções de cada uma.

— Este aqui — disse, indicando um jeitoso figurão, é o Senhor PLEONASMO, cujo serviço consiste em reforçar o que a gente diz. Quando uma pessoa declara que viu com os seus próprios olhos, está usando um Pleonasmo, porque se dissesse apenas que viu já a idéia estaria completa. Está claro que ninguém pode ver senão com os seus próprios olhos; mas falando dessa maneira pleonástica fica mais forte a expressão. O Pleonasmo tem de ser discreto e exato; se repete, ou comete uma redundância sem que a força da expressão aumente, torna-se defeito. Tudo quanto é inútil constitui defeito.

Pleonasmo ofereceu os seus préstimos aos meninos e retirou-se, depois duma elegante curvatura.

— Esta aqui — continuou Dona Sintaxe indicando outra . Figura — é a minha amiga ELIPSE, que suprime da frase tudo quanto pode ser facilmente subentendido. Nesta Oração: Gosto de uvas e você, de laranjas, a Senhora Elipse cortou duas palavras sem que o sentido perdesse alguma coisa. Sem esse corte a frase ficaria assim: (Eu) gosto de uvas e você (gosta) de laranjas, mais comprida e menos elegante.

A Senhora Elipse deu um beijinho na boneca e retirou-se.

— E esta aqui — prosseguiu Dona Sintaxe — é a Senhora ANÁSTROFE, que inverte os termos da frase. Quando uma pessoa diz: Acabou-se a festa, em vez de dizer: A festa acabou-se, está se servindo do bom gosto da minha amiga Anástrofe.

A gentil Anástrofe quis também dar um beijo na boneca; mas Emília fugiu com o rosto, pensando lá na sua cabecinha: "Um beijo desta diaba é capaz de inverter os 'termos da minha cara', pondo a boca em cima do nariz, ou coisa parecida".

— Pois é assim, meus meninos — concluiu Dona Sintaxe depois que a última Figura se retirou. — Estas amigas valem por ajudantes preciosos. Graças ao seu concurso consigo dar muita graça e elegância às frases.

— A tal Senhora Anástrofe não será por acaso irmã duma tal Catástrofe? — perguntou Emília, de ruguinha na testa.

Dona Sintaxe riu-se da lembrança e não achou fora de propósito a pergunta.

— Perfeitamente — respondeu. — São duas palavras de formação grega bastante aparentadas. Anástrofe é formada de Ana (entre) e Strepho (eu viro). E Catástrofe é formada de Kata (debaixo) e o mesmo Strepho (eu viro). . . São, pois, irmãs por parte do pai, que é o Verbo Strepho. Uma vira entre. Outra vira de pernas para o ar. Mas ambas viram. . .

A boa dama ainda conversou com os meninos por longo tempo, explicando os muitos trabalhos que tinha na língua para que as frases andassem corretamente vestidas.

— Quer dizer que a senhora é uma espécie de costureira — lembrou Narizinho.

Dona Sintaxe achou que não.

— Costureira propriamente não. Meu papel na língua é de arrumadeira.

— E quanto ganha por mês? — indagou Emília.

— Nada, bonequinha. Trabalho de graça — trabalho por amor à limpeza e ao bom arranjo deste meu povinho, que são as frases. Mas vamos agora ver outra coisa.

Quero que vocês conheçam os Vícios de Linguagem, que eu conservo aqui por perto, presos em gaiolas.

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Continua ... Capítulo XXI: Os Vícios de Linguagem
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Emília no País da Gramática. SP: Círculo do Livro. Digitalizado por http://groups.google.com/group/digitalsource

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Lucia Constantino (Ao Mestre de Assis)

Clenir Lima Neves Ribeiro (Trovas que eu Faço Sonhando)


Brigamos... e mesmo tensa
renovei minha proposta...
Como dói, se a indiferença
traz em silêncio a resposta!

Quem num gesto de humildade
Planta o bem e não se cansa,
Na colheita da bondade
Enche o mundo de esperança

Disseste adeus... E o tormento
Na hora da despedida,
Foi sentir que, num momento,
Te perdi por toda vida !...

Mantém a calma querido
E não fique assim tristonho
Depois de um sonho perdido
Sempre se encontra outro sonho.

Quanta tristeza me invade
Nesta vida amargurada.
- Eu quero sentir saudade
Sem ter saudade de nada,

Se o rumo de minha vida
É estreito e sem espaço,
Eu sempre encontro saída
No caminho dos teus braços!...

Depois de tantos fracassos,
Na insônia tento encontrar
Algum espaço em teus braços,
Para eu dormir e sonhar !...

Mais triste que a despedida
Foi sentir nos braços teus
Que o " Depois " de minha vida
Carregaste nesse adeus !

O vento sopra tristonho,
Na solidão que me invade...
- Transforma brisas de sonho
Em vendavais de saudade...

Que importa a minha ansiedade
Desta constante lembrança!
- Meu " agora " é de saudade...
- Meu " depois" é de esperança!...

Voa a pipa em céu deserto...
Lembro o meu tempo á distância...
E esse céu era tão perto
Da rua de minha infância...

Minhas noites tem mais brilho,
Não importa meus fracassos...
- Quando acalanto meu filho
Eu sinto a vida em meus braços.

- Sorri a frágil criança
E o seu olhar reluzente,
E a própria luz da esperança
Num pedacinho de gente

Pobre espantalho!... Nem viste
Que a mais triste solidão,
É ver um pássaro triste
Nas palhas de tua mão!..

Não guardo mágoas querida
Sem revolta caminhando
Faço versos pela vida
Porque estou sempre sonhando!

Tu dizes que não me queres,
Eu venço os dias tristonhos
Porque sei que entre as mulheres
- Sou senhora dos teus sonhos'.

No momento da partida,
Disfarço, sei que é preciso...
Falsa alegria da vida,
Que vem por traz de um sorriso !...

Chega a tarde e há nostalgia
Nesta angústia desmedida...
- Que importa o nascer do dia ?
Tudo é tarde em minha vida...

É tanta dor que me invade
Com esta sua demora,
Que ao chegar, minha saudade
Há muito já foi embora.

Partiste... E em meio à lembrança
A saudade continua
Pondo luzes de esperança
Nos postes de minha rua !

Nem precisas mais voltar...
Em meu refúgio tristonho,
Envelheci de esperar...
E mais velho está meu sonho!...

Vendo a espera angustiante,
O meu relógio, sem graça,
Vai mostrando o teu semblante
Em cada instante que passa !...

Mesmo no dia tristonho
Minha esperança mantenho,
Porque nas horas que sonho
Bendigo as horas que tenho.

Foi longa a espera sofrida
Ficaste pouco, eu lamento,
Mas valeu por toda vida
Ser feliz por um momento

Fui pobre quando criança,
Mas nos meus dias risonhos,
Eu me vesti de esperança
Com retalhinhos de sonhos

Tendo a esperança por perto,
Procuro, desde menino,
Caminhar em passo certo,
Mas tropeço em meu destino !

Não me importo se demoras,
Quando a tristeza me invade;
Para que contar as horas
Se já não sinto saudade ?...

Os meus sonhos já morreram
Na vida longa e cansada,
E dentro de mim nasceram
Amanhãs cheios de nada...

Bendita mão calejada
Que trabalha a plantação
E sem colher quase nada
Planta esperanças no chão.

Sou velho, que, em minha andança,
Tenho sonhos de menino...
- E enquanto houver esperança,
Abençôo o meu destino

Se falta um sonho perdido,
No dia a dia tristonho,
Eu não me dou por vencido
E te encontro em outro sonho...

Vais ficar... Por mais que eu tente
O teu desprezo me assalta...
Quanto mais estás presente,
Mais eu sinto a tua falta !

Essa espera me angustia...
E sem ter com o que sonhar,
Vou morrendo a cada dia ! ...
Vivendo só de esperar !...

Vais voltar !... Quem sabe o dia ?
- Entre promessa e saudade,
Vou vivendo de agonia
E morrendo de ansiedade.

Pior é a dor que me assalta
Neste momento de adeus
Pois além de tua falta,
Eu sinto a falta de Deus !

Num devaneio tristonho,
Depois de tantos fracassos,
Eu abraço qualquer sonho
Para alcançar os teus braços !...

Neste amor desencontrado,
Busquei, em vão ser feliz...
- Eu quis ficar ao teu lado,
Mas o destino não quis...

Fonte:
UBT Juiz de Fora

Roberto Pinheiro Acruche (Meus Poemas n.7)

PAIXÃO OCULTA

Durante anos nos olhávamos,
trocávamos amabilidades
e falávamos sobre muitos acontecimentos...
Coisas do dia a dia, episódios da vida,
ocorrências antigas...
E a nossa amizade,
já amadurada pelo tempo,
não deixava que abríssemos
os nossos corações, para revelar
um sentimento que germinava
no peito e que a cada dia ficava mais
evidente, flagrante e manifesto.
Beijando-lhe a face,
gesto comum em nossas saudações,
ao sentir o seu perfume,
não resistindo o impulso,
exclamei:
- Quisera sentir esse seu perfume
beijando seus lábios!
Um olhar direto, súbito, ela me dirigiu;
silenciosa, espichou os braços
afastando-nos de um tenro abraço
e caminhamos.
Nada mais, apesar de conversarmos,
ponderamos sobre o ocorrido.

Mas ficou visível, claro, indubitável,
que algo mais intenso nos unia; e nossas
reações demonstraram confessadamente,
que ocultávamos o que verdadeiramente sentíamos.
Dias decorreram, sem que atrevessemos
insinuar, qualquer manifestação,
a propósito do meu repentino gesto.
Razões provocadas pelas nossas existências,
talvez, em decorrência de nossos destinos,
nos afastaram por certo período.
Até que, num inesperado encontro,
sem que nada disséssemos,
nos entregamos num beijo prolongado,
voluptuoso, fazendo revelar todo o
desejo que fluía de nossos instintos...
Antecedendo a um novo momento,
onde deleitamos toda a sensação
de uma conjunção amorosa,
com a voracidade que nossa avidez ansiava.


ILUSÃO

As pessoas me perguntam:
- Afinal, onde está aquele grande amor,
aquela paixão tão intensa, tão bonita,
que te deixava risonho, radiante,
um legítimo modelo de felicidade?
Daí, esboçando um sorriso, respondo:
- Tudo, como na vida,
um dia acaba
e o tempo germina o esquecimento...
Não existe mais nada,
Terminou.
Ah... Quem me dera fosse verdade!...
Que nada mais existisse...
Que livre desse amor me visse...
Eu não esboçaria esse sorriso triste,
não sentiria essa saudade
que me lanha o peito,
que me transforma,
que me faz desse jeito...
Autêntico modelo de infelicidade!

MEU SEGREDO

Por mais que eu queira
Não posso dizer que te amo
Mesmo te amando intensamente.
Por mais que te queira
Não posso revelar o tamanho da minha paixão.

Por mais que eu queira
Não posso estar ao teu lado
Sentindo as tuas carícias
O toque sutil de tuas mãos sedosas
O sabor dos teus beijos.

Por mais que eu queira
Também não posso te esquecer...
Tu estas em meus sonhos
Nas minhas fantasias
Nas minhas ilusões
Nas minhas orações
Nas minhas horas de nostalgia
Nas horas que canto, grito o teu nome,
que este amor me consome
e me faz sofrer...
Não posso te esquecer.

Se algum dia
Tu olhares para mim
Saberás enfim
Que não vivo apenas por viver...
Vivo, porque te amo.

Fonte:
O Autor

Casa do Poeta de Canoas (Sarau de Fim de Ano)



Eis que mais um ano se encerra. Um ano em que várias realizações foram possíveis graças ao apoio de nossos associados, colaboradores e simpatizantes. Para comemorar-mos mais este período de congregação, que nos uniu em torno de um objetivo comum: cultivar a poesia, o amor e a paz, convidamos todos para participar do:
SARAU DE ENCERRAMENTO
Quarta-feira - 15/12/2010 - 19h
CLUBE CULTURAL CANOENSE
Dr. Barcelos, 1271 - Centro / Canoas

Durante o evento serão entregues os
TRÓFEUS DESTAQUE 2010,
concedidos pela Revista SÍMBOLO aos destaques culturais do ano.

Contamos com a presença de todos nossos associados, colaboradores e simpatizantes
para promovermos mais esta confraternização de final de ano.

Um grande abraço a todos e nos vemos lá.

Maria Santos Rigo
Presidente da Casa do Poeta de Canoas

Cadastre-se no site e receba por email as notícia e novidades da Casa do Poeta de Canoas.

Fone: (51) 3476.4431 / 9669.4615
www.casadospoetas.com.br poetas@casadospoetas.com.br

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.68)


Trova do Dia

Que o Natal seja semente
de paz e amor fraternal,
despertando, em toda gente,
um verdadeiro Natal!
MARISA VIEIRA OLIVAES/RS

Trova Potiguar

Dai-nos ó, Pai, a razão,
desta santa imagem tua...
e que eu reparta o meu pão,
com quem não tem pão na rua!!!
PROF. GARCIA/RN

Uma Trova Premiada

2001 > Petróplis/RJ
Tema > “JESUS” > 47º Lugar.

Que Jesus, em meu destino
de um mundo justo e perfeito,
seja sempre o Deus-Menino
brincando, aqui, no meu peito.
JOSÉ MESSIAS BRAZ/MG

Uma Trova de Ademar

Num Natal que nos irmana,
onde o vinho é o que reluz,
numa ceia assim profana...
Não há lugar pra Jesus.
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Papai Noel, bom velinho,
neste Natal, sob a lua,
procure meu sapatinho
sobre a janela da rua.
ADELIR MACHADO/RJ

Estrofe do Dia

O senhor, Papai Noel,
esqueceu meu endereço.
Por que é que eu não mereço
um presente aí do céu?
o guri do bacharel
todo ano tem presente,
mas, a mim, que sou carente
nunca deste um presentinho.
Tudo bem, sou pobrezinho,
mesmo assim, também, sou gente.
TARCÍSIO FERNANDES/RN

Soneto do Dia

– Adélia Victória/SP –
O CORAÇÃO E O NATAL.

Calcei as rijas botas da coragem.
Forcei a testa a se alterar ao vento.
Sai da loja, o embrulho por bagagem,
fingindo estar ao mundo desatento.

Com fitas e o cartão com a mensagem,
levava para casa, no momento,
presentes de Natal, numa embalagem
que a meu filho daria encantamento.

Pretendia afoga, na caminhada,
meu próprio coração perante a cena
da criança na rua abandonada...

Mas... foi em vão. À frente, logo adiante,
dei o pacote – me vencera a pena! –
a um pequenino e sujo mendicante...

Fonte:
Ademar Macedo

Monteiro Lobato (Emília no País da Gramática) Capítulo XIX: Nos Domínios da Sintaxe

O tráfego naquela cidade não era bem regulado. Nada de flechas indicativas das direções, nem "grilos" poliglotas que guiassem os viajantes. De modo que os meninos, em vez de darem no bairro das Sílabas, para onde pretendiam ir a fim de saber que história era aquela do Ditongo, foram parar num bairro desconhecido.

— Onde estamos? — quis saber Pedrinho.

— No bairro da SINTAXE — respondeu Quindim. — Esta cidade divide-se em duas zonas. A primeira é a zona da LEXIOLOGIA, onde todas as palavras vivem soltas, como vocês já viram. A segunda (esta aqui) é a zona da Sintaxe, onde as palavras só saem em família, casadinhas, com filhos e parentaIha. Uma família de palavras chama-se uma ORAÇÃO.

Os meninos viram que realmente não passeavam por ali palavras soltas. Apareciam sempre aos magotes, formando frases completas.

Passou um grupo que formava esta frase: O Visconde raptou um ditonguinho. Quindim explicou:

— Esta frase é uma Oração que leva na frente o chefe da família, ou o SUJEITO; depois dele vem um PREDICADO.

— Quer dizer — indagou Narizinho — que em cada Oração há sempre um chefe, que é o tal Sujeito, seguido por um Predicado?

— Sim. Eles são chamados os TERMOS ESSENCIAIS DA ORAÇÃO. O sujeito dirige tudo, faz e desfaz, manda e desmanda. Quando você diz: Tia Nastácia faz bolinhos muito gostosos, o Sujeito é Tia Nastácia — e está claro que sem esse Sujeito, adeus bolinhos! O Sujeito é sempre um Substantivo, ou frase que corresponda a um Substantivo.

— Alto lá! — exclamou Emília. — Se eu digo: Tu és um paquiderme gramatical, o Sujeito é Tu — e Tu não passa de muito bom Pronome.

— Sim, Tu é Pronome, mas está na frase representando a mim, rinoceronte, que sou um Substantivo.

Emília viu que era assim mesmo e calou-se.

— Muito bem — continuou Quindim, satisfeito de haver pregado um quinau na boneca. — Sujeito é isso. Vamos ver agora quem sabe o que é Predicada.

Ninguém sabia.

— Predicado — explicou ele — é o que se diz do Sujeito.

— Mas o que se diz do Sujeito está no Verbo, lembrou o menino. Na frase: O gato comeu o rato, o que se diz do Sujeito Gato é que Comeu o rato.

— Pois é isso mesmo — confirmou Quindim. — O Predicado está dentro do Verbo. Depois aparecem os TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO, que completam o sentido da oração e são por isso indispensáveis.

— Já ouvi falar num tal COMPLEMENTO VERBAL — disse o menino.

— Sim, e é muito importante. Como alguns Verbos não completam sozinhos o sentido da Oração, eles estão sempre exigindo outras palavras para que a Oração tenha sentido. Essas palavras que completam o sentido do Verbo são chamadas Complemento Verbal. Na Oração: O Gilson matou o tico-tico, o Complemento Verbal é Tico-Tico, e nesse caso é chamado OBJETO DIRETO, porque vem diretamente ligado ao Verbo.

— Já sei — disse Emília —, o Verbo Matar é dos tais Verbos Transitivos, que exigem Complemento.

— Isso mesmo — respondeu Quindim, admirado com a sabedoria da boneca. — Mas nesta outra Oração: O Visconde gosta de ditongos, o Complemento Verbal, De Ditongos, é chamado OBJETO INDIRETO, porque o Verbo Gostar não se liga a ele diretamente, mas precisa ainda intercalar essa Preposição De. Quem diz Gosta tem de completar a idéia dizendo Do que gosta.

— E que mais há numa Oração?

— Há os chamados TERMOS ACESSÓRIOS, que desempenham uma função secundária, limitando o sentido dos substantivos, ou exprimindo alguma circunstância. Nesta Oração: Emília está aprendendo gramática sem o perceber, este Sem O Perceber é um ADJUNTO ADVERBIAL, que exprime uma circunstância — o modo pelo qual Emília está aprendendo. Na Oração: O pica-pau pica o pau no terreiro, o No Terreiro é um ADJUNTO ADVERBIAL que explica em que lugar o pica-pau está picando o pau.

— E fora esse Adjunto Adverbial, que outro Acessório existe? — perguntou Emília, torcendo o nariz para as palavras difíceis.

— Há o ADJUNTO ADNOMINAL, que determina ou qualifica o Substantivo que ele complementa. Na expressão: Narizinho arrebitado; este Adjetivo Arrebitado é o Adjunto Adnominal do Sujeito Narizinho.

Estavam nesse ponto quando ouviram um rebuliço na praça. Era uma senhora de maneiras distintas, com lornhão de cabo de madrepérola, que vinha vindo, seguida de um cortejo de frases.

— Quem será aquela grande dama? — indagou Narizinho.

— Oh, é a Senhora Sintaxe, a dona de tudo isto por aqui. Quem governa e dirige a concordância das palavras nas frases é sempre ela. Uma senhora exigentíssima.

Os meninos foram ao encontro da grande dama, à qual Narizinho fez as necessárias apresentações. Ela gostou muito da carinha da Emília, mas achou que o chifre de Quindim podia ser menos pontudo. Depois de alguns instantes de prosa, disse Dona Sintaxe:

— Pois é isso, meus meninos. Sou eu quem faz estas palavrinhas comportarem-se como é preciso dentro das Orações. Obrigo-as a terem boas maneiras, a seguirem as regras do bom-tom. Forço o Verbo a concordar sempre com o Sujeito, e o Adjetivo a concordar com o Substantivo. Também não deixo que o Pronome discorde do Substantivo. Se não fossem as minhas exigências, as frases virariam verdadeiras bagunças. Passo a vida fiscalizando a concordância das Senhoras Palavras.

Nesse momento passou a certa distância, muito envergonhada de si própria, uma frase que dizia assim: Os gatos comeu os ratos. Dona Sintaxe ficou vermelha de cólera e chamou-a com um gesto enérgico.

— Venha cá! Então não sabe que o Verbo tem de concordar sempre com o Sujeito? Lambona! Vivo dizendo isto. . .

— A culpa é do Verbo — fungou o Sujeito. — Eu bem que o avisei. . .

Dona Sintaxe tocou dali o Comeu e pôs no lugar um Comeram.

— Agora sim — disse ela sorrindo. — Agora a frase está certíssima. Os gatos comeram os ratos. Pode ir, e nunca mais me apareça de Verbo torto, ouviu?

Dona Sintaxe encontrou mais adiante outra aleijadinha — uma Oração que rezava assim: Nós vai brincar, e consertou-a, pondo o Verbo no plural — Vamos. -

Depois, voltando-se para Emília, que estava de mãozinhas na cintura gozando a cena, explicou:

— Minha vida aqui é o que se vê. Tenho de estar fiscalizando todas estas senhoritas para que a cidade não vire salada de batatas. As frases que andam com a concordância na regra tornam-se claras como água da fonte — e a clareza é a maior qualidade que existe. Tenho também de cuidar da COLOCAÇÃO ou da ordem das palavras na frase.

— Então elas não podem arrumar-se como querem? — perguntou Emília.

— Absolutamente não. Têm de seguir certas regras para que o pensamento fique bem claro e bem vestido. A minha preocupação é sempre a mesma — clareza. As frases formam-se para exprimir o pensamento dos homens, e a boa ordem das palavras na frase ajuda a expressão do pensamento.

— A senhora tem toda a razão — concordou a boneca.

— Lá no sítio de Dona Benta o Substantivo Nastácia também gosta de dar ordem a tudo, porque a ordem facilita a vida, diz ela.

— Eu uso aqui várias regras — continuou Dona Sintaxe — umas para a ORDEM DIRETA e outras para a ORDEM INVERSA. Na Ordem Direta ponho sempre os Sujeitos antes do Verbo; ponho os Complementos logo depois das palavras que eles complementam; ponho os Adjetivos logo depois dos Substantivos que eles modificam; e ponho as palavrinhas de ligação entre os termos que elas ligam. Fica tudo uma beleza, de tão claro e simples. Mas há também a Ordem Inversa, na qual estas regras não são seguidas.

— Nesse caso a clareza deve sofrer muito — observou a menina.

— Há limites. Se o sentido da frase fica bem claro, eu deixo que a frase se afaste da Ordem Direta; mas se o sentido fica obscuro ou duvidoso, ah, não admito! O que quero saber nesta cidade é de clareza e mais clareza, porque a clareza é o sol da língua.

— E quais as regras para a Ordem Inversa? — perguntou Pedrinho.

— Uma delas é que o Verbo deve vir antes do Sujeito, se a frase está na forma interrogativa. Eu não deixo dizer, por exemplo: Ele é quem? Obrigo a dizer: Quem é ele? Nas chamadas frases OPTATIVAS e IMPERATIVAS também mando pôr o Sujeito em seguida ao Verbo, como neste exemplo: Vaze tu o que ordeno, que é frase Imperativa. Ou nesta: Seja você muito feliz, que é frase Optativa.

— E que mais?

— Os Pronomes Demonstrativos eu os ponho antes dos Substantivos por eles determinados. Digo, pois: Aquele pica-pau, e não pica-pau aquele. Este rinoceronte, e não Rinoceronte este.

Também os Numerais são escritos antes dos Substantivos por eles determinados. Assim: Três meninos, e não Meninos três.

— E os Pronomes Oblíquos, que é que a senhora faz com eles?

— Esses eu mando colocar de três modos diferentes — antes do Verbo, no meio do Verbo e depois do Verbo.

— No meio do Verbo? — indagou Emília com cara de espanto. — Como? Então a senhora corta o Verbo com uma faca para enfiar o Pronome dentro?

— Exatamente. Abro o Verbo e ponho o Pronome dentro. Nesta frase: O gato se fartará de ratos, eu posso fazer essa operação cirúrgica. Abro o Verbo Fartará e ponho o Pronome dentro, assim: Fartar-se-á. E a frase fica esta: O gato fartar-se-á de ratos — muito mais elegante que a outra.

— Tal qual Tia Nastácia costuma fazer com os pimentões. Abre os coitados pelo meio, tira as sementes e enfia dentro uma carne oblíqua.

Dona Sintaxe aprovou os pimentões de Tia Nastácia. Depois disse:

— Os gramáticos chamam PRONOME PROCLÍTICO ao que vem antes do Verbo, como em: O menino SE queimou. Chamam PRONOME ENCLÍTICO ao que vem depois do Verbo, como em: O menino queimou-SE. E chamam PRONOME MESOCLÍTICO ao que vem no meio do Verbo, como em: O menino queimar-SE-á.

— Quanta complicação para dar dor de cabeça nas crianças! — comentou Narizinho. — Eu, se apanhasse um gramático por aqui, atiçava Quindim em cima dele. . .
Nisto Emília deu uma vastíssima gargalhada.

— Que é isso, bonequinha? — perguntou a Sintaxe. — Viu o passarinho verde?

— Estou me lembrando dos pimentões mesoclíticos que Tia Nastácia faz sem saber. . . — respondeu a diabinha.
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Continua ... Capítulo XX: As Figuras de Sintaxe
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Emília no País da Gramática. SP: Círculo do Livro. Digitalizado por http://groups.google.com/group/digitalsource

domingo, 12 de dezembro de 2010

José Reinaldo Paes (Lançamento do Jornal Virtual dos Trovadores de Alagoas n. 2 – dezembro 2010)



Salve o jornal em seu computador, clicando sobre a figura ao lado.
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Gosto de fazer soneto
e me aventuro na trova.
Muitos erros eu cometo,
mas o tema se renova.
(Paulo Camelo - Recife/PE)

Sendo a vida a maior graça
que do bom Deus recebemos,
ergamos a nossa taça
enquanto vida nós temos.
(Zé Reinaldo - Maceió/AL)

A vida faz mais sentido
quando da dor ela prova;
tudo pode ser contido
no universo de uma trova.
(Luciano Maia - Recife/PE )

Antonio Brás Constante (Como Seria o Pior Restaurante do Mundo?)



Visto que estamos em um período do ano repleto de festividades, com muita comilança e tudo mais. Onde as festas são regadas por mesas fartas e saborosas, botei o cérebro para funcionar em engenharia reversa (ou qualquer coisa assim) e fiquei pensando: Como poderia ser o pior restaurante do mundo? Provavelmente seria um lugar onde os mais horríveis e horripilantes pesadelos da culinária seriam servidos ao freguês sem dó nem piedade. Lá você encontraria vários tipos de pratos frios, aliás, todos os pratos lá seriam frios, até as sopas, mas em compensação o suco estaria sempre quente. Falando em suco, quem descobrisse o gosto do suco ganharia um copo limpo (porém, quebrado) para bebê-lo.

As tentativas do restaurante em criar porcos e galinhas para serem servidos nas refeições acabariam sendo infrutíferas, porque ao tentaram engordar os animais alimentando-os somente com a comida servida no restaurante, os porcos passariam a fazer greve de fome e as aves virariam canibais.

A comida seria servida a moda da casa, tipo assim, da casa de detenção. Chegando lá você nem precisaria consultar o cardápio, já que existiriam apenas duas opções: Comer ou não. Para saber o que já foi servido lá durante todo mês, o cliente (cliente?) bastaria olhar para a roupa encardida das atendentes, onde as manchas em seus uniformes detalhariam a comida que foi por elas maltratada, digo: cozinhada.

O pior restaurante do mundo seria o único lugar do planeta onde, além de lavar as mãos, a pessoa também teria que lavar os pratos, talheres e copos, caso quisesse comer utilizando utensílios limpos. Também seria um restaurante considerado 100% “self service” já que antes de se servir no bufê a pessoa teria que buscar sua bandeja e demais acessórios que estariam espalhados e sujos pelas mesas, pela pia da cozinha, e até pelo chão.

Podemos dizer que seria um local que conseguiria aflorar a religiosidade nas pessoas, pois, após provar da comida qualquer indivíduo passaria a acreditar que o inferno existe e que resolveu abrir uma franquia justamente naquele lugar. Neste restaurante os clientes perceberiam que o que não mata engorda (e muitos dos que comeriam lá não engordariam exatamente por esse motivo), poderíamos até comparar suas refeições com os cogumelos, pois como muitos já sabem: todos os cogumelos são comestíveis, alguns só uma vez...

A pessoa que se aventurasse a conhecer este restaurante se obrigaria a comer devagar, bem devagar, saboreando o que tem na boca e evitando assim, mastigar alguma pedra ou inseto que por ventura estivesse camuflado no meio dela.

Como todo restaurante tem normas de conduta, não seria permitido fumar nas mesas, por isso os funcionários do lugar fumariam na cozinha mesmo, enquanto preparariam os alimentos, separando, por exemplo, a parte boa das carnes e legumes das partes estragadas, pois essas seriam utilizadas para preparar os molhos, purês, bolinhos e tudo mais que pudesse disfarçar que aquilo já não prestaria mais para o consumo.

Enfim, para não se pensar que no pior restaurante do mundo só encontraríamos coisas ruins, vale lembrar que lá seria um ótimo lugar para quem quer perder peso, iniciar uma dieta forçada, ou simplesmente tentar o suicídio gastronômico através da ingestão de sua incomestível comida.

Fontes:
O Autor
Imagem = http://revistavivasaude.uol.com.br/Edicoes/53/artigo60698-2.asp

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.67)


Trova do Dia

Há dois mil anos o brilho
de um grande amor sobressai:
– o sacrifício de Um Filho
pelos filhos de Seu Pai!!!
IZO GOLDMAN/SP

Trova Potiguar

Que lição fenomenal
o calvário de Jesus;
não se mata um ideal
mesmo pregando na cruz!
LUIZ DUTRA/RN

Uma Trova Premiada

2001 > Petróplis/RJ
Tema > “JESUS” > 35º Lugar.

Por ser Ele graça e luz
angelitude e poesia,
foi que o Menino Jesus
nasceu de Virgem Maria.
JOSÉ ANTÔNIO DE FREITAS/MG

Uma Trova de Ademar

Na festa de Jesus Cristo,
presentes, vinhos, licor;
não precisa nada disto...
Apenas gestos de amor!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Quanto mais festa e mais luz
nesses Natais de salões,
mais nós sentimos Jesus
ausente dos corações!
LUIZ OTÁVIO/RJ

Estrofe do Dia

Um dia mamãe falou
do bom velhinho risonho,
mas meu inocente sonho
papai Noel desprezou;
a noite linda rolou
sobre a paz do casario
e, ao levantar-me com frio,
tremendo, ao pé da parede,
só vi debaixo da rede
meu sapatinho vazio.
JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN

Soneto do Dia

– Vanda Fagundes Queiroz/PR –
E CHEGA O NATAL...

Hoje armei o pinheiro de Natal,
enfeitado de luz e muita cor!
E eis que a sala se encheu de resplendor
e tornou-se um recanto especial.

Uma bola, um pingente, um castiçal;
a guirlanda, uma vela, a simples flor;
todo zelo merece o Salvador,
nesta festa tão santa e divinal.

Uma estrela arremata o belo arranjo.
Ah, cuidado! Inda falta pôr um anjo!...
Veja agora: Está pronto e lindo, enfim.

As crianças vibrando de emoção!
Em silêncio, disfarço e rezo, então,
para que haja Natal... dentro de mim.

Fonte:
Ademar Macedo

Monteiro Lobato (Emília no País da Gramática) Capítulo XVIII: Gente de Fora

— Pois é isso, meninada! — disse logo depois a velha. — Vocês já sabem como se formam as palavras da língua. Grande número veio diretamente do latim. Foi o começo, a primeira plantação. Depois começaram a reproduzir-se lá entre elas, ou a derivar-se umas das outras. Depois houve muita entrada de palavras exóticas, isto é, procedentes de países estrangeiros. Depois houve invenção de neologismos — e desses vários modos a língua foi crescendo.

Aqui na cidade nova as palavras vindas da cidade velha misturaram-se com inúmeras de origem local, ou palavras índias, que já existiam nas terras do Brasil quando os portugueses as descobriram. A maior parte dos nomes de cidades, rios e montanhas do Brasil são de origem índia, como Tremembé, Itu, Niterói, Itatiaia, Goiás, Piauí, Pirambóia, etc.

Ita é uma palavra da língua tupi que quer dizer Pedra, e tem servido de Prefixo para a formação de muitos Nomes. Temos em São Paulo a cidadezinha de Itápolis, formada de Ita, que é indígena, e Polis (cidade), que é grega.

Pira (peixe) é outra palavra tupi muito usada. Piracicaba, Piraquara, Guapira.

— Eu gosto muito das palavras tupis e lamento que o Brasil não tenha um nome tirado dessa língua — disse Pedrinho.

— Em compensação muitos Estados do Brasil possuem nomes indígenas, como Pará (rio grande), Pernambuco (quebra-mar), Paraná (rio enorme), Paraíba (rio ruivo), Maranhão (mar grande) e outros.

O tupi conseguiu encaixar na língua portuguesa grande número de palavras de uso diário, como Taba, Moranga, Jaguar, Araçá, Jabuticabal, Capim, Carioca, Marimbondo, Pipoca, Pereba, Cuia, Jararaca, Urutu, Tipiti, Embira, etc.

— E também muitos Nomes Próprios — advertiu Narizinho. — Conheço meninas chamadas Araci, Iracema, Lindóia, Inaiá, Jandira. . .

— E eu conheço um menino chamado Ubirajara Guaporé de Itapuã Guaratinguaçu, filho dum turco que mora perto do sítio do Tio Barnabé -— lembrou Pedrinho.

— Pois é isso — continuou a velha. — Todas as línguas vão dando palavras para a língua desta cidade. O grego deu muitas. O hebraico deu várias, como Messias, Rabino, Satanás, Maná, Aleluia.

O árabe deu, entre outras, Alfândega, Alambique, Alface, Alfaiate, Alqueire, Álcool, Algarismo, Arroba, Armazém, Fatia, Macio, Matraca, Xarope, Cifra, Zero, Assassino.

A língua francesa deu boa quantidade, como Paletó, Boné, Jornal, Bandido, Tambor, Vendaval, Comboio, Conhaque, Champanha.

A língua espanhola deu menos do que devia dar. Citarei Fandango, Frente, Muchacho, Castanhola, Trecho, Savana.

A língua italiana deu muito mais. Ágio, Bancarrota, Bússola, Gôndola, Cantata, Cascata, Charlatão, Macarrão, Tenor, Piano, Violino, Carnaval, Gazeta, Soneto, Ópera, Fiasco e Polenta são palavras italianas.

O inglês está dando muitas agora. Das antigas posso citar Cheque, Clube, Tilburi, Trole, Esporte, Rosbife, Sanduíche; e entre as modernas há várias trazidas pelo cinema e pelo futebol.

— Eu sei uma! — gritou Pedrinho levantando o dedo.

— Diga.

— Okey, que também se escreve com duas letras, OK. Quer dizer que está tudo muito bem.

— Eu sei outra! — disse a menina. — Conheço a palavra It, que quer dizer um "quezinho" especial.

— Isso mesmo — confirmou a velha. — Esse novo sentido do velho pronome inglês It foi inventado por uma escritora que o botou como título dum seu romance. Pessoa que tem It significa pessoa que exerce atração sobre as outras. Emília, por exemplo, é um pocinho de It...

A boneca fungou de gosto e Dona Etimologia prosseguiu:

— Também vieram muitas palavras da África, trazidas pelos negros escravizados, como Banze, Cacimba, Canjica, Inhame, Macaco, Mandinga, Moleque, Papagaio, Tanga, Zebra, Vatapá, Batuque, Mocotó, Gambá.

Da Rússia vieram Caleça, Cossaco, Soviete, Bolchevismo, etc.

Da Hungria vieram Coche, Cocheiro, Sutche, Hussardo.

Da China vieram Chá, Chávena, Mandarim, Leque.

Da Pérsia vieram Bazar, Caravana, Balcão, Diva, Turbante, Tabuleiro, Tafetá.

Da Turquia vieram Tulipa, Odalisca, Paxá, Bergamota, Quiosque.

A velha parou na Turquia, para tomar mais um gole de chá.

E assim se foi formando, e se vai formando, a língua. Uma língua não pára nunca. Evolui sempre, isto é, muda sempre. Há certos gramáticos que querem fazer a língua parar num certo ponto, e acham que é erro dizermos de modo diferente do que diziam os clássicos.

— Que vem a ser clássicos? — perguntou a menina.

— Os entendidos chamaram clássicos aos escritores antigos, como o Padre Antônio Vieira, Frei Luís de Sousa, o Padre Manuel Bernardes e outros. Para os Carrancas, quem não escreve como eles está errado.

Mas isso é curteza de vistas. Esses homens foram bons escritores no seu tempo. Se aparecessem agora seriam os primeiros a mudar ou a adotar a língua de hoje, para serem entendidos. A língua variou muito e sobretudo aqui na cidade nova. Inúmeras palavras que na cidade velha querem dizer uma coisa aqui dizem outra. Borracho, por exemplo, quer dizer bêbado; lá quer dizer filhote de pombo — vejam que diferença! Arrear, aqui é selar um animal; lá, é enfeitar, adornar.

— Então lá há moças bem arreadas? — perguntou Emília.

— Sim — respondeu a velha. — Uma dama bem arreada não espanta a ninguém lá do outro lado. Aqui, Moço significa jovem; lá, significa serviçal, criado.

Também no modo de pronunciar as palavras existem muitas variações. Aqui, todos dizem Peito; lá, todos dizem Paito, embora escrevam a palavra da mesma maneira. Aqui se diz Tenho e lá se diz Tanho. Aqui se diz Verão; lá se diz V'rao.

— Também eles dizem por lá Vatata, Vacalhau, Baca, Vesouro — lembrou Pedrinho.

— Sim, o povo de lá troca muito o V pelo B e vice-versa.

— Nesse caso, aqui nesta cidade se fala mais direito do que na cidade velha — concluiu Narizinho.

— Por quê? Ambas têm o direito de falar como quiserem, e portanto ambas estão certas. O que sucede é que uma língua, sempre que muda de terra, começa a variar muito mais depressa do que se não tivesse mudado. Os costumes são outros, a natureza é outra — as necessidades de expressão tornam-se outras. Tudo junto força a língua que emigra a adaptar-se à sua nova pátria.

A língua desta cidade está ficando um dialeto da língua velha. Com o correr dos séculos é bem capaz de ficar tão diferente da língua velha como esta ficou diferente do latim. Vocês vão ver.

— Nós vamos ver? — exclamou Narizinho, dando uma risada. — Então pensa que somos como a senhora, que vive toda a vida e mais séculos e séculos?

— Vocês também viverão séculos e séculos por meio de seus futuros filhinhos e netos e bisnetos — replicou a velha.

— Menos eu! — gritou Emília. — Já me casei e me arrependi bastante. Felizmente, não tive filhos — e como não pretendo casar-me de novo, não deixarei "descendência" neste mundo...

— E se aparecer um grande pirata, como aquele Capitão Gancho da história de Peter Pan? — cochichou Narizinho no ouvido dela.

— Isso é outro caso. . . — respondeu Emília, cujo sonho sempre fora ser esposa dum grande pirata — para "mandar num navio". . .

— Por falar em pirata. . . Onde andará o Visconde? — indagou Pedrinho. — Depois que tirou Quindim da sala não o vi mais.

— O Visconde está armando alguma — disse a boneca, que andava desconfiada de qualquer coisa. — Vamos procurá-lo, já, já, antes que lhe aconteça alguma.

E como tinham de procurar o Visconde, despediram-se de Dona Etimologia, que prometeu aparecer no sítio de Dona Benta.

Logo que se viram na rua, Pedrinho perguntou à primeira palavra que ia passando se não vira um Visconde assim, assim.

— Um de palhinha de milho no pescoço? Vi, pois não. Passou por aqui inda agora, com um Ditongo debaixo do capote. Ia esperneando, o coitadinho.

— Eu não disse? — berrou Emília. — Eu não disse que o Visconde andava tramando alguma? Mas que quererá ele com um Ditongo, Santo Deus? . . .

Puseram-se em marcha, com o rinoceronte atrás. Logo adiante viram um ajuntamento na frente de certa casa.

— Será alto-falante com resultado de futebol?

Não era isso. Era uma curiosidade de museu que ali estava em exibição pública. Um grande letreiro dizia: A palavra mais comprida da língua. Entrada franca.

Os meninos precipitaram-se para ver o fenômeno e de fato viram, num cercado de arame, espichada no chão que nem jibóia, a palavra Anticonstitucionalissimamente.

— Irra! — berrou a boneca. — Uma, duas, três, quatro. . . Vinte e nove letras tem este formidável Advérbio!. . .

— Treze sílabas! Cáspite!... — acrescentou Pedrinho.

Um guarda ali presente deu informações a respeito daquela sucuri verbal. Era uma pobre palavra que não tinha outra ocupação na língua senão exibir-se como curiosidade. Vivia do seu tamanho, como certos gigantes de circo. Uma coitada que nem andar podia, de tanta letra a pesar-lhe nas costas. Mais que o alfabeto inteiro. . .

— Inda agora esteve aqui conversando com ela um grande fidalgo de fora, que a escreveu direitinho no seu caderno de notas.

— Como era esse fidalgo? Não reparou se usava umas palhinhas no pescoço?

— Isso mesmo.

— Sem cartolinha na cabeça?

— Sem nada na cabeça.

— Um ar de. . . de sabugo de milho?

— Isso mesmo.

— Um tanto embolorado?

— Isso mesmo. Verdinho de bolor.

— Pois é o grande Visconde de Sabugosa, que andamos catando como se cata agulha em palheiro. E para onde se dirigiu ele?

— Depois que acabou de tomar as suas notas, disse-me: "Passe bem!" e sumiu-se. Percebi que levava um Ditongo debaixo do capote. Ia esperneando, o pobrezinho. . .

Emília ficou seriamente apreensiva com a história daquele Ditongo esperneante.

______________________
Continua ... Capítulo XIX: Nos Domínios da Sintaxe
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Emília no País da Gramática. SP: Círculo do Livro. Digitalizado por http://groups.google.com/group/digitalsource

sábado, 11 de dezembro de 2010

Waldir Neves(Livro de Trovas)


Abandono... O Sol declina...
Vem baixando a cerração...
E solidão com neblina
é muito mais solidão!

A cortina da janela...
A cama... Tudo tal qual...
— Só que o cenário, sem ela,
nunca mais vai ser igual...

A glória dos homens brilha
com fulgor de eternidade,
toda vez que uma Bastilha
tomba aos pés da Liberdade!

Ah!, meu peito... Esta saudade...
Quero que a expulses, que grites...
Tu lhe deste intimidade,
e ela passou dos limites!

Amanhece... A névoa fina
vai cobrindo a serração...
E solidão com neblina
é muito mais solidão!

A saudade, em horas mortas,
sem ver que o tempo passou,
teima em abrir velhas portas
que há muito a vida fechou...

Cai a noite... Seu negrume,
mercê de um mistério estranho,
faz de um ínfimo perfume
um lamento sem tamanho...

Circo novo na cidade!
- No poleiro, a dar risada,
olhem lá minha saudade
no meio da garotada!

Deste-me um beijo - um somente!
E queres que eu me console ...
- O desejo é sede ardente,
que não se mata de um gole!...

Deus intangível, etéreo,
mas sempre amor e indulgência,
guarda no próprio mistério
sua infinita evidência.

Deus que é paz... amor profundo,
em sua excelsa grandeza,
se é mistério para o mundo,
para mim é uma certeza!

É uma lágrima sentida
que toda mulher enxuga:
a que lhe rola escondida
por sobre a primeira ruga!

Faz teu ciúme um barulho
que me soa encantador.
- Ele acorda o meu orgulho
de dono do teu amor!...

Fugi do amor com receio
do seu fascínio... e o que fiz
foi só cortar, pelo meio,
meu meio de ser feliz....

Homem sem rasgos nem brilho,
a que a luz não atrai,
vou me orgulhar se meu filho
tiver orgulho do pai.

Irmãos no meu insucesso
o peito implora, a alma pede...
Todos querem teu regresso...
Só meu orgulho não cede!

Mais vibrantes, mais risonhos
a palpitar de inquietude,
diferem dos outros sonhos
os sonhos da juventude!

Meus braços estão vazios,
meus desejos transbordando,
meus pensamentos vadios
no quarto te procurando.

Muito moço inconseqüente,
despreparado e revel,
ganha têmpera de gente
na bigorna do quartel.

Neste abandono sofrido,
sou mais um, que, por vaidade,
deixou que o orgulho, ferido,
matasse a felicidade...

No rubro céu da alvorada,
um ponto pisca e alumia...
- É uma estrela embriagada
que volta da boemia!

Nos abismos do mistério,
onde a razão perde a voz,
talvez o desvão mais sério
se oculte dentro de nós...

No teu sucesso, milhares
Vêm implorar-te favores.
Uns poucos, se fracassares,
partilham das tuas dores

O abismo maior que existe,
o mais fundo que já vi,
é aquele que um homem triste
carrega dentro de si...

O golpe da despedida
foi tão rápido e tão fundo,
que fracionou minha vida
numa fração de segundo...

Opondo orgulho e egoísmo
aos meus acenos risonhos,
cavaste o profundo abismo
onde enterrei os meus sonhos.

O vento leva a amizade,
leva o amor, o riso e os ais,
só não carrega a saudade,
- acha pesada demais!

Para a "sede de saber"
há no mundo água abundante.
Para a "sede do poder"
água nenhuma é bastante...

Perante a Divina Luz
a Ciência se ajoelha,
pois, sendo sábia, deduz
quem lhe acendeu a centelha...

Perguntou-me, à despedida:
– Quem sabe é melhor assim?...
E uma lágrima incontida
deu-lhe a resposta por mim!...

Posso jurar de mãos postas,
Pesando o que já passei,
Que as mais difíceis respostas
Foi em silêncio que eu dei.

Quando a vida, qual verdugo,
me trespassa de agonias,
minhas lágrimas enxugo
num lenço de Ave-Marias...

Quando Deus cobrar meu prazo,
hei de sempre aqui voltar,
ou numa sombra de ocaso,
ou num raio de luar !

Que momento abençoado
e que gesto redentor,
quando o orgulho, derrotado,
cai, humilde, aos pés do amor !...

Quem um filho vê feliz,
seguir por si, resoluto,
vive a glória da raiz
orgulhosa pelo fruto.

Que estranho mistério existe
no lamento da viola:
- queixume que me faz triste;
- tristeza que me consola!...

Quisera que Deus me desse,
acima de qualquer bem,
um orgulho que pusesse
bem abaixo o teu desdém.

Saudoso dos braços dela,
voltei, contrito e humilhado.
- Quando a saudade martela,
qualquer orgulho é quebrado!...

Saudade é gota caída,
é pranto que ninguém vê:
-É uma lágrima sentida
que leva sempre a você. ...

Saudade é uma diligência
que nos leva, docemente,
com repetida freqüência,
ao velho oeste da gente!

Saudade!...Foto em pedaços,
que eu colei, com mão tremida,
tentando compor os traços
de quem rasgou minha vida!

Saudade!... Raio de lua,
suprindo o Sol que brilhou...
Tábua solta, que flutua,
depois que o amor naufragou!

Senhora de cada instante
das minhas horas vazias,
a Saudade é uma constante
na inconstância dos meus dias...

Sonha sim, pobre, com festa!
Que a fantasia, afinal,
é tudo qu ainda te resta
neste mundo desigual!

Terminamos... e ela pensa
que será logo esquecida.
O que ganhou foi presença
para sempre, em minha vida!

Velho cultor de utopias
e de ambições sobranceiras,
sonho ver, ainda em meus dias,
um mundo igual, sem fronteiras!

Vista seda ou popeline,
seja Amélia ou seja Inês,
toda mulher se define
no dia em que diz: -“Talvez!...”

Zerando ofensas e afrontas,
o beijo é o mago auditor
que faz o ajuste de contas
depois das brigas de amor!

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.66)

Trova do Dia

Pedi ao Noel, por cartas,
um presente original:
quero as mesas, todas, fartas
para a ceia de Natal.
ELIANA PALMA/PR

Trova Potiguar

Melhor o mundo seria,
de harmonia e de união,
se nascesse a cada dia
um Cristo em cada cristão.
DJALMA MOTA/RN

Uma Trova Premiada

1999 > Fuzeta/Portugal
Tema > Natal > Menção Honrosa

No céu, ressoa um coral...
São anjos em sinfonia
desejando que o Natal
seja de paz e alegria!
MARINA BRUNA/SP

Uma Trova de Ademar

Que todos os Universos
transformem-se em refletores,
iluminando com versos
o Natal dos Trovadores!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

...Uma Estrela, e a silhueta
dos Magos – sobre o areal...
Um cartão... uma caneta...
... Será só isso o Natal?!...
NEWTON MEYER AZEVEDO/MG

Estrofe do Dia

Noite de Natal... abraço
Sorriso, aperto de mão
Mas sinto no coração
A tristeza de um fracasso
Por não fazer como faço
Para os amigos, pros meus...
Viro as costas, dou adeus
Àquele pobre carente
Eu só quero de presente
O vosso perdão, meu Deus!
FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE

Soneto do Dia

– Dorothy Jansson Moretti/SP –
FELIZ NATAL!

“Feliz Natal” estampa-se com arte
pelas faixas das lojas e da rua,
pelos cartões postais... em toda parte,
o mesmo voto. E a gente se habitua

ao sonho de um Natal onde se encarte
nosso desejo, e onde a verdade crua
se acolha num vagão do ano que parte
e diga adeus a este lado da lua...

“Feliz Natal” sem miséria e sem guerra,
sem barracos caindo à chuva forte,
sem crianças, viciadas, a roubar...

Será sonhar demais para esta terra
novo Natal sem tanto horror e morte,
e com Jesus voltando ao seu lugar?!

Fonte:
Ademar Macedo

Monteiro Lobato (Emília no País da Gramática) Capítulo XVII: O Susto da Velha

Dona Etimologia ficou uns instantes a olhar para a boneca, balançando a cabeça. Depois continuou:

— Pois é isso. Substantivos, Adjetivos, Preposições, Conjunções e Interjeições podem ser formados sem a ajuda dos Sufixos, e sim com o emprego duma mesma palavra, mas dando a ela um sentido diferente. O Substantivo Narizinho, por exemplo, que é um simples Diminutivo, pode tornar-se Nome Próprio, como aconteceu aqui com esta menina. Chama-se Narizinho e, portanto, quem diz este nome está dizendo um Nome Próprio. Na frase: O narizinho de Narizinho é arrebitado, o primeiro narizinho é Substantivo Comum, e o segundo é Nome Próprio.

O mesmo se dá com a avó dela, Dona Benta de Oliveira. Oliveira era uma árvore que dava azeitonas; com o tempo o uso mudou esse Substantivo Comum em Nome Próprio, muito empregado para Sobrenomes — e ficaram no mundo duas espécies de Oliveiras — a que dá azeitonas e a que dá Sobrenomes a muita gente.

— É mesmo! — gritou o menino. — Agora estou vendo que a maior parte dos Nomes Próprios que conheço são Nomes Comuns "apropriados", que, em vez de designarem coisas, passaram a designar pessoas, como Leitão, Inocente, Rosa, Margarida, Esperança, Monteiro, Lobato, Quindim. . .

— Do mesmo modo, muitos Adjetivos viram Substantivos, sem nenhuma mudança de forma — continuou a velha. — Brilhante, por exemplo, é um Adjetivo Qualificativo da coisa que brilha, mas se se refere ao diamante lapidado, vira Substantivo.

O mesmo se dá com certos Pronomes, como o Pronome Tudo, que vira Substantivo na frase: O tudo é vencer. Também há pessoas de Verbo que viram Substantivos. Venda, que é a primeira e a terceira Pessoa do Presente do Modo Subjuntivo do Verbo Vender, vira o Substantivo Venda, com significação de ato de vender ou casa onde se vendem coisas.

— Na venda do João Nagib, lá perto do sítio, quase que só há pinga, fósforo, bacalhau e sal. . . Que venda à-toa! — recordou Emília. — Nem bala de apito tem. Dona Benta não gosta que os meninos passem por lá.

— Pare com isso, Emília, que você até envergonha a espécie — advertiu Narizinho. — Continue, Dona Etimologia, faça o favor.

E a velha continuou:

— E também Advérbios e outras Palavras Inflexivas viram Substantivos. Quando uma pessoa diz: A metade do queijo, o Advérbio Metade está virando em Substantivo.

E também Substantivos viram Adjetivos, como nesta frase: Nova Iorque é uma cidade monstro. O Substantivo Monstro está nesta frase fazendo o papel de Adjetivo para indicar enormidade.

E também Substantivos viram Interjeições, como nesta frase. . . Socorro! Uma fera africana acaba de invadir minha casa!. . .

— Que cara feia ela está fazendo! — murmurou Narizinho, que não havia notado o súbito aparecimento do rinoceronte no fundo da sala.

— Socorro! — continuou a velha a berrar, no maior pavor da sua vida. — Acudam-me!. . .

Só então os meninos perceberam que ela não estava dando nenhum exemplo, e sim urrando de pavor. Puseram-se a rir — e isso ainda mais aumentou o pânico da velha, que supôs ser riso nervoso, desses que atacam certas pessoas quando o perigo é do tamanho duma torre.

— Não se assuste, Dona Eulália! — gritou Emília. — Este paquiderme é mansíssimo, e até se chama Quindim, nome dum doce muito delicado. Medo de Quindim? Que bobagem! É a melhor criatura do mundo. Uma perfeita moça. Quer ver?

— E Emília correu para o rinoceronte, sobre o qual trepou pela escadinha de corda que ele trazia pendente no costado — invenção de Pedrinho para facilitar a "montagem" do paquiderme, como ele dizia. A boneca deu jeito e logo se plantou, muito a cômodo, sobre o terrível chifre de Quindim.

Está vendo, Dona Brites? Poderá haver monstro mais carneiro? Venha também. Não se vexe. Lá no sítio, Dona Benta e Tia Nastácia, quando não há gente grande perto para espiar, não saem do lombo de Quindim. Venha. Deixe-se de fedorências. . .

Mas não houve meio. Dona Etimologia era a maior das medrosas, e para acalmá-la foi preciso que o Visconde afastasse dali o excelente paquiderme.

A pobre velha queixou-se de sufocação no peito e teve de tomar um bule inteiro de chá calmante.

— Ufa! Que susto! Enfim. . . Mas como ia dizendo. . . Que é que eu ia dizendo?. . . Sim, que as palavras derivam umas das outras de dois modos. Mas ele não chifra ninguém lá no tal sítio?

— Nem mosquito — respondeu Emília. — Juro pela alma do Visconde.

A velha assoprou três vezes.

— Mas como ia dizendo, a Derivação das palavras faz-se por meio de Sufixos e Prefixos. Já falei nos Prefixos?

— Um pouquinho só — disse Pedrinho.

— Pois os tais Prefixos são palavrinhas da mesma família que os Sufixos, mas que se colocam na frente. Isso de servir de cauda é especialidade dos Sufixos. Existem numerosos Prefixos, mas como estou muito nervosa, vou citar apenas alguns, como Sub, Intro, Ver, Sus, Com, os quais servem para formar palavras como Subdividir, Intrometer, Percorrer, Sustento, Compadre, etc. Uf! Que bicho horrendo! Aquele chifre pontudo no meio da testa. . .

— Continue, dona! — berrou Emília. — Esqueça duma vez o fanico. Já está enjoando.

A velha assoprou de novo, suspirou e disse:

— Há ainda a formação de palavras por JUSTAPOSIÇÃO, quando duas palavras se ligam para exprimir uma terceira coisa. Guarda e Chuva, por exemplo, têm o sentido que vocês sabem; mas quando se justapõem, dão a palavra Guarda-chuva, que é coisa diferente, Bem-te-vi, Beija-flor, Corrimão, Pica-pau, Girassol e tantas outras, são formadas deste modo.

— Saca-rolhas, Aguardente e Lambe-pratos, também — começou Emília, mas Narizinho impôs-lhe silêncio e a velha prosseguiu.

— Há ainda a formação de palavras por AGLUTINAÇÃO, na qual uma das palavras perde um pedacinho para melhor fundir-se com outras, como essa Aguardente que Emília acaba de citar. Se houvesse apenas Justaposição, ficaria Aguaardente; mas a Aglutinação faz que desapareça um dos AA.

E há, finalmente, a formação de palavras por HIBRIDISMO, em que entram vocábulos de línguas diferentes, como em Monóculo. Mono é palavra grega que quer dizer Um, ou Único; e Óculo é palavra latina.

— Lá no sítio de Dona Benta — lembrou Emília — Mono quer dizer macacão. O Tio Barnabé, que mora perto da ponte, Dona Benta diz que é um verdadeiro mono.

— Sei disso — declarou a velha, rindo-se —, mas em grego Mono significa único.

— Único macacão?

— Cale-se, Emília, por favor! — pediu a menina.

A velha continuou:

— Se vocês quiserem visitar as palavras gregas usadas para a formação de vocábulos novos, espiem aquele cercado de arame. Lá estão todas.

Os meninos correram ao ponto indicado, que era o curral onde a velha conservava as suas palavras gregas.

— Xi!. . . Quantas!... — exclamou Narizinho. — E todas com papeleta no pescoço, para mostrar o que querem dizer em português.

Estavam lá, entre muitas, as seguintes greguinhas: Geo (terra), que serve para formar Geografia, Geologia, Geometria, Geodésia, etc. E Micro (pequeno), que serve para formar Micróbio, Microscópio, etc. E Tri (três), que serve para formar Trigonometria, Trilogia, etc. E Zoo (animal), que serve para formar Zoologia, Zootecnia, etc. E Pan (tudo), que serve para formar Panteísmo, Panorama, etc. E Bio (vida), que serve para formar Biologia, Biografia, etc. E Rino (nariz), que serve para formar Rinoceronte.

— Ora vejam só! — berrou Emília. — Quindim chama-se rinoceronte por causa do nariz. Rino é nariz. E Ceronte? Que será Ceronte? Veja se acha essa palavra aí do seu lado, Narizinho.

Custou um pouco, mas acharam. Ceronte queria dizer chifre.

— Pronto! — gritou Emília, radiante. — Rinoceronte significa nariz no chifre.

— Ou chifre no nariz? — objetou Narizinho. — A tradução na ordem direta não dá certo, porque na realidade Quindim não tem nenhum nariz no chifre.

Emília mostrava-se cheiíssima de si com as muitas coisas novas que ia aprendendo, e passou por lá mais de uma hora decorando palavras gregas para com elas formar outras diferentes. Súbito, gritou:

— Já sei o seu nome em grego, Narizinho.

— Como é?

— Microrrino! Micro quer dizer pequeno, e Rino quer dizer nariz. Nariz pequeno é narizinho. . .

— Mas por que chamam híbridas a estas palavras feitas só do grego? — indagou o menino. — Híbrido, que eu sei, é o burro e a mula, filhos de jumento e égua. Será que estas palavras são as mulas da língua? Vou perguntar à velha.

Perguntou, e Dona Etimologia explicou que Híbrido queria dizer Mestiço de duas raças diferentes.

— Então aquelas palavras do cercado não são Híbridas, e sim de puro sangue.

— Perfeitamente — concordou a velha. — Um verdadeiro vocábulo Híbrido é o Monóculo, que já citei; como também Centímetro e Mineralogia, porque nos três casos metade da palavra é grega e outra metade é latina. Estas, sim, são as verdadeiras mulas da língua.

Emília juntou uma porção de palavras gregas e latinas para fazer lá no sítio uma criação de palavras Híbridas. Entre elas levou Demo, que significa Povo; Odonto, que significa Dente; Tele, que significa Longe; Topo, que significa Lugar; Fono, que significa Voz — todas gregas.

— Levo estas só — disse ela. — Palavras latinas temos lá muitas, naquele dicionário grandão de Dona Benta. Com estas já podemos fazer uma criação de Híbridos de primeira ordem.

Pedrinho não quis ficar atrás e levou mais as seguintes, também gregas: Gastro, que significa Ventre; ídolo, que significa Imagem; Miso, que significa Ódio; Di, que significa Dois; Tetra, que significa Quatro — e mais umas quantas.

— Quero ver quem cria Híbridos mais bonitos, se você ou eu — disse ele.
______________________
Continua ... Capítulo XVIII: Gente de Fora
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Emília no País da Gramática. SP: Círculo do Livro. Digitalizado por http://groups.google.com/group/digitalsource

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.65)


Trova do Dia

Sai dezembro entra janeiro...
no reveillon fantasia,
rí o povo brasileiro
para chorar no outro dia.
FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE

Trova Potiguar

Tocam sinos de alegria
no encanto do firmamento...
E a luz da estrela anuncia
Jesus em seu nascimento!
MARA MELINNI GARCIA/RN

Uma Trova Premiada

2002 > Garibaldi/RS
Tema > Natal > 4º Lugar

Que saudades dos folguedos
dos meus Natais mais risonhos...
em que singelos brinquedos
amanheciam meus sonhos!
JOÃO FREIRE FILHO/RJ

Uma Trova de Ademar

Que o Natal seja semente
de paz e amor fraternal,
despertando, em toda gente,
um verdadeiro Natal!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

É Natal! A casa cheia
e a família reunida
no amor de Deus faz a ceia,
dividindo o pão da vida!
VERA MARIA DE L. BASTOS/MG

Estrofe do Dia

Na data do aniversário
a cada mês de dezembro,
afirmo, lembro e relembro
Cristo teve o seu calvário;
para seguir no ideário
por Deus pai determinado
suportou supliciado
pela nossa salvação,
sofreu crucificação
pra nos livrar do pecado.
MARCOS MEDEIROS/RN

Soneto do Dia

– Amilton Maciel/SP –
QUE FELICIDADE!

Vem chegando o Natal! E estou feliz,
Como costumo sempre assim ficar!
Pois no Advento há algo que me diz
Que terei alegria no meu lar!

Os parentes queridos, de raiz,
Certamente virão me visitar,
E, junto com os amigos que aqui fiz,
O Deus-menino vamos gloriar!

Numa ceia singela, em que o amor
É o tempero melhor da refeição,
Os próprios mimos cedem o seu valor.

Nessa Festa cristã e fraternal,
Deus ficará em nosso coração,
Que, assim, proclamará: Feliz Natal!

Fonte:
Ademar Macedo

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Santuário da Poesia II


Carlos Drummond de Andrade
MEMÓRIA

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que
lindas,
essas ficarão.

A. A. de Assis
POR UM BEIJO

Por um beijo eu lhe dou o que sou e o que tenho:
os bons sonhos que sonho, as plantinhas que planto,
a pureza, a alegria, as cantigas que eu canto,
e o meu verso se acaso houver nele arte e engenho.

Por um beijo eu lhe dou, se preciso, o meu pranto,
as angústias da luta em que há tanto me empenho,
as saudades que trago do chão de onde venho,
as promessas que eu faço, piedoso, ao meu santo.

Por um beijo eu lhe dou meus anseios de paz,
minha fé na ternura e no bem que ela faz,
meu apego à esperança, que insisto em manter.

Por um beijo, um só beijo, um momento de amor,
eu lhe dou meu sorriso, eu lhe dou minha dor,
o meu todo eu lhe dou, dou-lhe inteiro o meu ser!

Renate Emanuele
TEMPO

Tempo, nosso precioso tempo
Que tanto corre e se esvai
Esse tempo que engana e trai
Este que imaginamos tão lento

Esse tempo cruel e mordaz
Que a todos sacode e vigia
Que sobre todos se aninha
Um destino para todos se faz

Mas é esse tempo que sobra
Que faz ainda assim poetar
Neste tempo que o verbo sonhar
Que do tempo o tempo nos cobra

Esse tempo que se vai no espaço
Que gira o mundo, faz nascer
Este que também deixa morrer
Quando alivia de nosso cansaço

É esse tempo que os cabelos tinge
Que nos encontra e sobressalta
Que o cansaço e dores ressalta
com castigos que ao corpo infringe

Os sonhos que o tempo realiza
Sonhos que ao pensamento brinda
como posso sonhar neste tempo ainda
Se é desse tempo que em mim finaliza?

Simone Borba Pinheiro
ÂNSIA DE VIVER

Meu tempo, não tem tempo
de esperar por ti.
Por ti que, só enganos, somou
aos meus desenganos.

A noite fria já não tem mais lua
E eu amor, já não sou mais tua.
Meu corpo hoje, se aquece em outros braços
e, é por isso que rompo todos os laços
com o tempo passado,
que nunca teve tempo para mim.

Cansei de esperar pelo vinho
que depois de feito,
já não fazia mais efeito em mim.
Cansei do dia, da noite,
da vida vazia
que se apoderou de mim.

Perdoe amor, os meus desencantos,
mas hoje só canto,
a alegria de viver.
Viver o amor, sem pranto,
com outro amor no meu canto,
cantando pra eu dormir!

Antonio Roberto Fernandes
AS TUAS MÃOS

As tuas mãos tão belas, tão formosas.
As tuas mãos afeitas aos carinhos.
As minhas mãos tão feias, tão nervosas.
As minhas mãos expostas aos espinhos.

As tuas mãos me tocam por piedade.
As minhas mãos te afagam, mas com medo.
As tuas mãos são mãos pra eternidade.
As minhas mãos são mãos de morrer cedo.

As tuas mãos nas minhas, que contraste!
Mas se não fossem elas, que desastre,
nem sei das minhas mãos o que seria!

Por isso às tuas mãos eu agradeço
o carinho que eu sei que não mereço
e que em outras mãos não acharia!...

Ricardo De Benedictis
O TEMPO I

O tempo jamais se mede
num relógio de mulher
no futuro ou no adrede
para o que der e vier...

É um lapso fatal
o tempo despercebido
pra o menino genial
ou pra o homem envelhecido...

Para o jovem apaixonado
o tempo é sempre esperado
e só traduz alegria,

mas pra quem está vencido
o tempo corre perdido
entre a dor e a nostalgia...

Cleide Canton
CANÇÃO PARA TI

Ouça, amor,
os meus versos apaixonados
como se os estivesse declamando
ao teu ouvido.
São versos do meu lado escondido
que sempre clamou por ti.

Ouça, amor,
e mesmo que neles já não veja encantos,
foram para ti feitos
nos soluços dos meus prantos.

Ouça, amor...
Talvez ainda te alcance
aquele antigo perfume
ou a minha voz nas nossas canções.
Quem sabe aquele cheiro de terra molhada
ou as juras desta eterna enamorada...

Antigas emoções,
restos de enlevos e paixões
que não deixei perderem-se em bolor.
Tantas cartas de amor!
Tantos anseios reprimidos,
sonhos perdidos
num amanhecer sem esplendor.

Ouça, amor!
Existe uma tristeza
no bailado das cortinas do meu quarto,
um espreguiçar dos ventos
nos uivos da noite,
enquanto meus lábios emolduram,
sem cor,
a melancolia do meu sorrir.

Ouça, amor,
enquanto ainda puderes ouvir,
enquanto minha voz ainda ecoa,
enquanto teu beijo ainda eu possa sentir.
Escuta, amor!
Não me deixes partir!

Cassiano Ricardo
O RELÓGIO

Diante de coisa tão doida
Conservemos-nos serenos

Cada minuto da vida
Nunca é mais, é sempre menos

Ser é apenas uma face
Do não ser, e não do ser

Desde o instante em que se nasce
Já se começa a morrer

Emília Possídio
FARINHA E FERMENTO

Somos farinha e fermento
gotículas de mel na flor
amantes vestidos de amor
seguindo a trilha do vento

Nossas verdades e esperas
se cruzam em nossos olhares
se firmam no coração

grandes felicidades
na solidez dos pensares

Olhamos além do céu
para vislumbrar quão grande
e insondável é o mar!
Seguindo a trilha do vento
misturam-se farinha e fermento

Estamos aqui ou alhures
não temos morte nem fim
somos migalhas do grão
do amor que se eterniza
nascido do vento e da brisa

Sejamos tudo no mundo
ressaca em mar bravio

onda que quebra em penhasco
amores em desafio

Sejamos sementes que brotam
pelas curvas dos caminhos.

Vilma Oliveira
TÚNEL DO TEMPO

Penetrei no túnel do tempo de olhos fechados...
Sem me aperceber que trazia nas mãos meu destino
Entreguei-me ao senhor do tempo, cordeiro da vida,
Onde preparei a terra para a semeadura
E colhi na ramagem dos anos avencas floridas!

Conduzi os meus sonhos tolhidos, inacabados,
Com passos inertes a mercê da inconstância
Quando tudo é parte de um mesmo caminho
Percorro aleatoriamente o rumo dos oceanos
Quando atrai as ondas para si insinuante!

No fluxo das águas resvalam meus ais...
Desliza cachoeira abaixo a minha ilusão
Carregada pelos braços da nascente boreal...

Acendi o lampião do sol para iluminar o dia
Enquanto pernoitasse os olhos da noite
Em luas crescentes contornando o espaço!

Foi então, que despertei semi-acordada,
Num súbito vislumbre de contradição
Marchei frente a vida diante da sorte
Refiz minha viagem além da visão!

Mário Quintana
A VIDA


A vida são deveres, que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já é Natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida...

Quando se vê, passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado..
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava
o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca
dourada e inútil das horas...
Seguraria o meu amor, que está a muito à minha frente, e diria
EU TE AMO...
Dessa forma, eu digo: não deixe de fazer algo que gosta devido
à falta de tempo.

Não deixe de ter alguém ao seu lado
por puro medo de ser feliz.

A única falta que terás será desse tempo que infelizmente...
não voltará mais.

Herculano Ericeira Coelho
COPO DE CHOPE

Ouro liquefeito,
coroado em marfim,
nos limites do cristal!...
Se alguns te julgam meu defeito,
certo, certo és, para mim,
amigo diário e fraternal.

O frio orvalhado do teu corpo
faz ponto no suor do meu dia que termina em ti.
E faz-se então em ar de estrelas borbulhantes
que cintilam e acenam pra noite que chega
de orvalho molhada trabalho, lazer
e amizade banhada de luz e prazer.

Amigos se fazem em amizades já feitas...
amores se afirmam em beijos lembrados
da musa dileta, nos versos cantados
do amor do poeta.

Camila da Silva César
EU, VOCÊ E O TEMPO.

Eu continuo te amando
E o tempo nos separando,
Você sorri para a vida
Enquanto o tempo nos desliga

Eu choro com nosso desencontro
O tempo nem consola seu abandono.
Você me tira do serio
E o tempo me desvenda o mistério.

Eu, você e o tempo.
Mistura com tempero, devaneio.

J. G. de Araújo Jorge
ESCOLHA

Se perguntassem ao marinheiro
como gostaria que fosse o seu instante derradeiro
ele diria: no mar
Se perguntassem ao aviador onde e como desejaria
o seu último dia,
por certo responderia:
no ar!
Para seus dias terminar
o marinheiro: quer o mar;
o aviador: os espaços
Eu... se pudesse escolher
uma forma de morrer,
queria morrer de amor
em teus braços...

Antonio Manoel Abreu Sardenberg
BEIJO PERDIDO

O tempo passa rápido demais,
Levando na bagagem mais um dia,
Deixando uma saudade para trás
Que a gente nem ligava e percebia.

Levou aquele abraço que não dei,
O beijo que eu tanto quis um dia,
Deixou em seu lugar melancolia,
Tristeza por não ter o que sonhei.

E o tempo, quando vai, nunca mais volta.
Não adianta a gente lamentar
E nem ficar curtinho essa revolta.

Abraço que escapa não tem volta,
Beijo perdido não se recupera,
Não adianta o ódio nem a ira...
Desejo que o tempo levou - já era!

Andrezza Rangel Sardenberg
IMAGEM PERDIDA

Por onde passo
Sinto seu cheiro
Ouço sua voz
Vejo o seu jeito.

Em cada passo
Sinto o descompasso
De um coração ferido,
Frágil e doído.

Como esquecer
Se em cada passo
Tropeço em você?

Como deixar
Se em cada olhar
Sua imagem vem decidida
A me atormentar?

Como posso viver
Se parte da minha
Alma está aí, com você?

Você, imagem perdida
No espelho d' água
Da poça formada
Pelos prantos de minhas lágrimas

Marlene Rangel Sardenberg
PARA UM POETA

Deus o fez poeta. Pobre peregrino
neste mundo de sonhos e ilusões!
Forjou-lhe a alma eterna de menino
pra resguardá-lo das decepções

das horas de espera sem chegada
que ele sente e não consegue entendê-las:
como viver na solidão gelada
quando se está tão perto das estrelas!?

Depois de tropeçar no paraíso,
cair de amores, ainda é preciso
da caminhada encontrar a meta?

Pra conviver com as angústias que o consomem,
sofre, então, como homem que é poeta
por viver como poeta, que é homem.

Tere Penhabe
CAMINHANTE DAS ESTRELAS

Conta-me esse seu segredo
mas fala devagarinho
só não me deixe pensar
que estarei sempre sozinha.

Se a sua alma é paixão
de paixão também é a minha
vem dar ao meu coração
a vida que ele já tinha.

Estou aqui, não me vês?
Oh Deus meu, como farei?
Essa vontade de beijos
é minha vontade também.

E os abraços pendurados
na esperança de lhe ver
esvoaçam o dia inteiro
querendo seus braços ter.

Se dorme com o seu anjo
comigo vive a sonhar
pergunta a ele se aceita
de lugar comigo trocar.

Que eu verei com bons olhos
dividir consigo as estrelas
caminhando entre os sonhos
e estar no lugar delas.

Então sim, poderei sentir
seus pés a me tatear
longo caminho a seguir
muito prazer pra trocar.

Fontes:
Amor em Verso e Prosa.
Alma de Poeta.

Solenidade de Posse na Academia Votorantinense de Letras, Artes e História

A Academia Votorantinense de Letras, Artes e História (AVLAH) realizará a sua última reunião de 2010 na próxima segunda-feira, 13/12, às 19h30, momento em que serão diplomados cinco novos membros e será entregue o Prêmio “João Kruguer”.

O evento será celebrado com um jantar de confraternização e acontecerá em um restaurante localizado à rua Albertina Nascimento, no Centro de Votorantim, especialmente locado para a última Sessão Plenária deste ano da AVLAH.

Segundo o Presidente da Instituição, Antonio Carlos M. Ferreira, foram vários os critérios para seleção dos novos acadêmicos. “Trabalhamos com muita seriedade na Academia, então levamos em consideração vários aspectos, como por exemplo: a pessoa deve ter sido indicada por um acadêmico; deve residir em Votorantim há, no mínimo, cinco anos; ser atuante ou ter atuado nas áreas das artes, história ou letras; possuir registro profissional condizente com a atuação; há análise de currículo e o candidato deve ter disposição de se envolver com as atividades da Academia”, explicou Ferreira.

Os novos membros são: o artista plástico Adriano Gianolla Bezerra, a professora e escritora Catarina André Hand, o maestro Jonicler Real, o artista plástico e escritor Sidnei Ferreira dos Santos e o escritor Vanderlei da Silva.

A AVLAH dispõe de 40 cadeiras, das quais ainda restarão 13 para serem preenchidas no decorrer dos próximos anos.

Além da diplomação, acontecerá a entrega do Prêmio João Kruguer (memorável escritor da cidade de Votorantim) para duas personalidades de destaque na área das letras, artes ou história da cidade. Os premiados serão conhecidos durante a solenidade e receberão um troféu produzido especialmente para a Academia de Letras. “Procuramos pessoas que se destacam, porém nem sempre são celebridades e, às vezes, estão escondidas. Os nomes dos homenageados serão uma surpresa”, disse Ferreira.

Qualquer pessoa interessada poderá participar do evento. Os convites custam R$25,00 e podem ser adquiridos até sexta-feira, 10/12, na sede da Associação dos Aposentados e Pensionistas de Votorantim (APEVO), com Aristides, ou pelo telefone 3247-2952, com Antonio Carlos.

Informações sobre os novos acadêmicos:

- cadeira nº 23 - Adriano Gianolla Bezerra – (Artista Plástico, Formado em Educação Ambiental pela UFSJ, Formado em Direção Teatral pelo Conservatório de Tatuí, SP, Formado em Pintura Moderna e Cursando Pedagogia)

- cadeira nº 24 - Catarina André Hand – (Escritora, Mestranda em Educação, Supervisora de Ensino, Pedagoga e Formada em Letras)

- cadeira nº 25 – Jonicler Real – (Maestro, Mestre em Artes (Música), Formado em Musicologia em Friburgo, na Suíça , Composição e Regência na Faculdade Alcântara Machado; Maestro titular da Orquestra Sinfônica de Sorocaba entre 1998 e 2010)

- cadeira nº 26 - Sidnei Ferreira dos Santos – (Artista Plástico, Pós Graduado em Tecnologia de Polícia Ostensiva e Preservação da Ordem Pública, 1º Sargento da PM de SP, atuando em Sorocaba, SP, Escritor, Artista Plástico e Colunista)

- cadeira nº 27 – Vanderlei da Silva – (Escritor , Doutorando em Educação, Pós-Graduado em Direito do Terceiro Setor, Graduado em Direito)

Fonte:
Luciana Lopez