domingo, 18 de junho de 2023

Marques de Carvalho (Um esgotado)

O pobre Heitor foi levado à sepultura numa triste e chuvosa manhã de abril. Como não tivesse bens que deixassem aberta a possibilidade de um galanteio póstumo, nas folhas de um testamento, acompanhou-o até Santa Isabel apenas o bom compadre Fernandes, o inestimável enfermeiro nos poucos e longos dias de sofrimento.

O largo circulo de seus amigos eximiu-se do incômodo da viagem de bonde, desculpando-se com o mau tempo, quando, mais tarde, um ou outro defrontava com o paciente Fernandes.

Não obstante, aquele infeliz fora, na vida, um mourejador (
trabalhador dedicado) notável. Toda a cidade conhecia-lhe o nome. Fizera-o à custa de muitos anos de improbo trabalho, numa repartição movimentada e importante. Quando fechava o serviço oficial, não era para casa que ia o Heitor: tomava o caminho do diário onde colaborava e que lhe devia grande parte de seus melhores êxitos.

Quantas noites não passou ele em claro, numa superexcitação agridoce, obsidiado pela ideia de um artigo sensacional, entusiasmado por uma nova seção, enervado na improfícua procura de um termo próprio, de um vocábulo justo, que exata e completamente interpretasse o seu pensamento!

Mas era mais do que um jornalista, o Heitor: era um literato de vocação. Seu anelo mais veemente consistia na publicação de um livro, novela ou contos, que fosse a definitiva consagração do seu nome de escritor. Muito jovem, fizera nas letras uma estreia banal, quando estudante. Lançara, como tantos, um manifesto político em verso e cometera sonetos como toda a gente os perpetra, aos 20 anos. Porém depressa lhe disse o bom senso não serem os versos o seu forte e Heitor dedicou-se à prosa. Tivera, ao princípio, um estilo guindado, quase gongórico (
estilo barroco de Luís de Góngora): influência de Camilo Castelo Branco, que o impressionara violentamente.

Fez-se pesquisador de vocábulos raros e tentou remoçar, com honras de neologismos, termos veneradamente arcaicos. Seu critério, entretanto, aconselhou-o com brandura a emancipar-se de alheias influências, a mostrar-se nú ao publico, sem artifícios de linguagem. Foi-lhe salutar a própria observação: a forma tornou-se mais simples, a expressão mais singela, a ideia mais clara.

Sucedia que voltava alta noite do trabalho, fatigadíssimo, os olhos avermelhados, o cérebro oco e pesado; e, na veemência de seu amor às letras, assim mesmo sentava-se à mesa, a rabiscar tiras consecutivas, a esmo, com desespero.

Davam-se, então, alternadamente, grandes, desencontradas lutas naquele espírito. Vinham-lhe às vezes, à lembrança do êxito de um livro novo, reviviscentes entusiasmos. O clangoroso clarim da emulação retinia-lhe aos ouvidos, animadoramente. Sentia-se Heitor capaz de grandes cometimentos, fazia projetos e planos de romances, — uma edição de luxo, à Guillaume, com gravuras artísticas, executadas em Paris. Era um dos seus sonhos mais persistentes um livro amazônico, todo cheio de vinhetas com paisagens nossas, que interpretassem, nas linhas do desenho, as perspectivas que o texto havia de pintar ainda mais eloquentemente do que o lápis. À ideia dessas ilustrações, seu espírito alcandorava-se em grandes esperanças. Todo o corpo vibrava-lhe de emoção artística, pré-gozando os aplausos incondicionais de seus conterrâneos.

E projetava de uma assentada dois romances e três ou quatro contos. Preparava-se para escrever, limpava a pena, dispunha meticulosamente o papel diante de si e... fitava o texto, à espreita da primeira palavra, como se tivesse de agarra-la de surpresa; mas a frase tornava-se arredia, ocultava-se em um burburinho de pensamentos e o tempo fugia, na desanimada esterilidade de Heitor.

Chegavam-lhe depois à memória as ruidosas ovações feitas a outros escritores, a aceitação de seus livros, a popularidade de seus nomes em todo o país. Tentava, num esforço de energia, vencer a improdutividade, forçar a ideia; tornava a molhar a pena, endireitava o papel: tudo era inútil. Estava escrito que nada poderia fazer.

Deitava-se então, num desânimo, soprava a luz; ficava na escuridão da sua soledade, os olhos escancarados, com um ofego de raiva a secar-lhe a goela. Era justamente isso a sua arrelia. Uma vez deitado, tinha, logo depois, a inteligência lucidíssima: organizava as ideias, formulava frases mentalmente, alinhava períodos inteiros. E, numa crispação, conhecia que, se escrevesse assim, teria garantido o agrado publico, que é o vestíbulo da imortalidade para o escritor. Saltava ás pressas para o chão, acendia a vela, atirava-se à mesa: — mas o encantamento quebrava-se, permanecendo ali apenas o homem de letras impotente, o jornalista esgotado, o funcionário embrutecido, que longas horas de trabalho material impossibilitaram para as elucubrações artísticas.

Vinham-lhe então vibrantes assomos de trêmulos desesperos. Infeliz Heitor!

Uma feita, lembrou-se de buscar na história antiga assunto para uma novela. Naturalmente, o clarão deslumbrante da Grécia chamava-lhe a inteligente atenção e Heitor deliberou logo que a vida helénica da era pré-messiânica seria a preferida da sua pena. Sem grande esforço, pressentiu que série de quadros impressionadores poderiam inspirar-lhe os requintes daquela civilização assombrosa, mesmo em suas desabridas paixões carnais, em seus vícios triunfantes. E que belas perspectivas havia de esboçar, na frase curta e incisiva a que insensivelmente afeiçoara-se-lhe o estilo!

Assuntos não lhe faltavam. Toda a série de lendárias hetairas (
meretrizes), — Taís, Safo, Aspásia, — prestar-lhe-ia ensejo para admiráveis páginas. E sonhava então fazer obra nova, fazer obra sua, propriamente do seu cérebro. Queria divorciar-se de intenções preconcebidas, seguir trilha não arroteada ainda. Sua novela seria em todos os sentidos original, — que não fossem imputar-lhe a pecha de imitador dos Flauberts, dos Anatoles France, dos Pierres Loüys.

Excelentemente educado, encontrara Heitor em consecutivas viagens ótima ocasião para ilustrar-se. Seu espírito, em assuntos de arte, possuía um admirável senso estético, que a contemplação dos grandes trabalhos geniais de todas as épocas havia criado e corrigido. Sonhara, de imediato, fazer ilustrar o seu volume com silhuetas de Carlos Aguiar, paisagens de De Angelis e deliciosos molhos de flores de Julieta França. Havia de enchê-lo de iluminuras, deliciosamente. Seria um livro amoroso, toda a nudez do amor helênico trescalando vivida volúpia no texto e fulgurando em vinhetas, numa exuberância de corpos juvenis, como harmonioso hino à forma imortal. E todas estas ideias vinham-lhe ao cérebro sem baixa concupiscência, antes por entusiasmo artístico, elevado e regenerador.

Entretanto, nada fazia. Quedava-se horas inteiras sentado à secretária, já pensativo, já distraído, rabiscando palavras ermas de senso, ao acaso. E que não havia modo de surpreender a ideia matriz, fundi-la na primeira frase, definitiva e triunfal. Todos os períodos pareciam-lhe inservíveis, sem nervos. Tocava-os com a vista, sopesava-os com o espírito: eram expressões moles como enguias, que escorregavam-lhe dos sentidos e caíam numa laxidão (
fadiga) para o ouvido, seguidas da saudade dolorosa daquele impotente sonhador.

Quando adoeceu, Heitor pressentiu que estava tudo acabado. Ia morrer. Subiram-lhe então as lágrimas às pálpebras, rolaram pelas faces como pesadas, ardentes pérolas em fusão: lamentava o passado, arrependia-se de tantos anos de transigência com a inércia. Dizia-lhe a consciência que era de sua culpa, se tão pequena bagagem literária legava à Amazônia, — embalde o infeliz, para desculpar-se a si próprio, estivesse no direito de invocar a absorvente tirania da existência, a ingratidão universal. E, em poucos dias, então, cobriu-se-lhe de cãs a desgrenhada cabeça cismadora.

No instante em que expirou, esboçava Heitor um meio sorriso translúcido: dir-se-ia estar a ver perpassarem ainda as frotas de Alexandre, mar Jônio afora, ao som dos instrumentos músicos de cortesãs sagradas, eretas à proa e à popa, adoravelmente nuas.

Fonte:
Disponível em Domínio Público
João Marques de Carvalho. Contos do Norte. Belém/PA: Typographia Elzeveriana, 1907.
Atualização do português por J. Feldman

Maria Antonieta Gonzaga Teixeira (Poemas Diversos) – 2


A MENTE DO SILÊNCIO


No silêncio da alma
o coração se abastece de amor,
aconchego e saudade.

No silêncio dos dias  
a mente se enche de ternura
e agradece a Deus:
pela vida
pelo prazer do belo
pela natureza exuberante.

No silêncio da noite
o canto que seduz
à delicadeza do amor.

No silêncio da gratidão
danço e dançarei
o tango da esperança.

No silêncio! do silêncio
as tristezas ficaram em silêncio.
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DÊ SABOR AO AMOR

Doce!
E de divino sabor
é o chocolate.
Que sensação de prazer!
De alegria!
De felicidade.
Chocolate acalma
proporciona sensação de bem-estar
Alimenta a alma de sonhos
Renova a vida de esperança.
Chocolate alimentos dos deuses.
Agrada aos paladares mais exigentes
anima os folguedos
faz os olhos brilharem.
Quando uma criança
vê uma barra de chocolate
vibra!
Grita!
Se vê um ovo de páscoa
Então!
E´ marejar os olhos
tremer as mãos
de tantas emoções.
Emoções que fazem o coração bater
enche a boca de saliva
sente o sabor do
gosto gostoso
desse alimento dos deuses.
Então!
Viva as amêndoas fermentadas
e torradas de cacau.
Viva o chocolate!
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HOMENAGEM AO MAIOR DOS ARTISTAS

Artistas chegam….
Artistas seguem….
Artistas ficam…
Artistas eternizam …

O maior artista que o mundo conheceu
No circo arrancou aplausos
No cinema foi campeão de bilheterias
Fez o mundo sorrir em épocas de guerra.

Na história do cinema, foi estrela, cineasta
E compositor das trilhas sonoras de seus filmes.
Elevou a comunicação mímica do cinema mudo.
Abriu portas aos cineastas modernos.

Chapéu coco foi símbolo de extrema elegância.
Mas, quantas gargalhadas ao ver o comediante
Com seus trajes: Chapéu de aba estreita, calças largas,
Casaco apertado, sapatos enormes e bengala.

Charles Chaplin
O Gênio da história da sétima arte
O Cidadão do Mundo
O Maior dos Artistas.
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MONTANHAS*

Pregos, cordas, martelos, artefatos
comuns e importantes para montanhistas corajosos.
Mochilas à costas, mãos calejadas não importam.
Chegar ao cume das montanhas é desafiador
- é o triunfo do alpinista sonhador.

*O poema Montanhas recebeu Menção Especial em Necochea (cidade turística de Buenos Aires), Argentina, em 2018.
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SER CRIANÇA

Ser criança é viver, sorrir e saltitar
Brincar de roda, pular amarelinha
Ao fim da tarde, soltar pipa no ar
Com o cabelo em desalinho.

Ser criança é espalhar inocência
Distribuir carinho e ternura
No ambiente de sua convivência
Com emoção e brandura.

Ser criança é ter sonhos lindos
Ouvir histórias: da Carochinha,
Reis e Rainhas, Sapatinho Vermelho
Branca de Neve e da Galinha Pintadinha.

Ser criança é ensinar que o amor
É prenúncio de paz pelos ares
É sonhar com o céu azul
Estrelas cadentes e verdes mares.
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Maria Antonieta Gonzaga Teixeira é de Castro/PR. Graduada em Pedagogia e Pós-Graduada em Didática e em Psicopedagogia. Autora dos livros: “Dos Pequizeiros às Araucárias” – 2014; Instituto Cristão: Arte e Vida – 2015; Encruzilhadas – 2017; Uma VIDA: Affonso e Marieta- 2018; Cavanis: 50 anos no Brasil – 2019. Participou em várias Antologias poéticas. É membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni-ALTO; Academia Luminescência Brasileira-ALUBRA; Membro da Academia Virtual Internacional de Poesia, Arte e Filosofia-AVIPAF.
Artista Plástica, participa das exposições de Arte e Poesia organizadas pelo Curador e especialista em Arte Digital Carlos Zemek, no Brasil, Portugal, Espanha, Argentina, Chile e Colômbia.


Fonte:
Poemas e currículo enviados por Isabel Furini

Nilto Maciel (Ser ou não ser?)

Mais uma para nos enganarem.

Agora passamos o tempo ouvindo música.

A cada hora, mais crescemos e engordamos, a olhos vistos. Estão todos felizes da vida. Passam o dia cantando, imitando cantores e cantoras. Um deles adora Gardel. Só falta perder a voz. Vive rouco, engasgado. Come e canta, come e canta. Deve estar louco. Outro até chora quando Amália Rodrigues canta. A maioria, porém, gosta mesmo é de sinfonias, sonatas, valsas. Babam ouvindo piano.

Meu vizinho engordou antes de todos, só de ouvir Mozart. Levaram-no ontem.

Os homens que cuidam de nós saem felizes. Como cresceram de ontem para hoje!

Tento ficar surdo, para não engordar tanto, embora goste de tudo o que ouço.

Os que inventaram a música são mesmo divinos. No entanto, como são diabólicos os homens! Dão-nos música, comida, prazer, para que cresçamos, engordemos e viremos repasto deles. Pois saímos daqui para a panela dos homens. Afinal, somos tão-somente pequenas criaturas de carne saborosa. Frangos, como dizem os homens que nos visitam de hora em hora.

Agora uma valsa de Strauss. Divina! Ouço ou não ouço?

Fonte:
Enviado pelo autor.
Nilto Maciel. Pescoço de Girafa na Poeira. Brasília/DF: Secretaria de Cultura do Distrito Federal/Bárbara Bela Editora Gráfica, 1999.

Minha Estante de Livros (O Tesouro de Tarzan, de Edgar Rice Burroughs)


O Tesouro de Tarzan (Tarzan and the Jewels of Opar) é um romance de autoria do escritor norte-americano Edgar Rice Burroughs. Publicado em 1918, é o quinto de uma série de vinte e quatro livros sobre o personagem Tarzan.

RESUMO

Tarzan é vítima de fraude e fica com as finanças abaladas. Ele, então, volta a Opar com um grupo de guerreiros Waziri, para obter mais ouro. A expedição é seguida por Albert Werper, desertor do exército belga a serviço de Achmet Zek, um mercador de marfim e de escravos. Tarzan e os Waziri, por fim, adentram as cavernas onde o tesouro está guardado sem que La, a Grã-Sacerdotisa de Opar, desconfie de algo.

Alertado por Werper de que o caminho está livre, Achmet Zek incendeia a propriedade de Tarzan e rapta Jane. Mugambi, o bravo Waziri amigo do homem-macaco, é o único sobrevivente. Gravemente ferido, ele jura vingar-se de Zek e seu bando.

Um terremoto isola Tarzan e Werper dentro das cavernas, deixando o herói inconsciente. Werper tenta a fuga, porém é capturado pelos oparianos para ser sacrificado.

Tarzan volta a si mas, atacado pela amnésia, retorna ao estado mental de sua juventude, quando vivia como um macaco na tribo de Kerchak.

HISTÓRIA EDITORIAL

Este romance foi escrito de cinco de setembro a nove de outubro de 1915. Foi publicado inicialmente na revista pulp All-Story Weekly, em cinco edições sucessivas, de 18 de novembro a 16 de dezembro de 1916.

Em livro, com capa dura, o romance foi lançado pela editora A.C. McClurg em 1918.

A Companhia Editora Nacional publicou a obra no Brasil em 1934, dentro da coleção Terramarear, onde recebeu o número 25. A tradução foi feita por Manuel Bandeira. Quinze mil exemplares foram impressos. O livro foi reeditado seis vezes, entre 1946 e 1968, as quatro primeiras com dez mil e as duas últimas com cinco mil exemplares cada. Ainda no Brasil, o romance foi lançado em 1959 pela CODIL - Companhia Distribuidora de Livros, com o título de Tarzan - O Tesouro, dentro de um lote de doze aventuras do rei das selvas.

ADAPTAÇÕES

Frank Merrill como Tarzan, no seriado da Universal Pictures Tarzan, o tigre (Tarzan the Tiger), de 1929. O ator já interpretara o homem macaco no seriado anterior, intitulado Tarzan, o poderoso (Tarzan the Mighty), de 1928.

QUADRINHOS

A primeira quadrinização foi na forma de tiras diárias, publicadas nos jornais de março a julho de 1930. A estreia nos gibis se deu em três partes, entre agosto e outubro de 1966, pela editora Gold Key. A história foi relançada pela Dark Horse Comics em 1999, no formato de graphic novel.

No Brasil, a adaptação foi lançada pela EBAL, na coleção Lança de Prata, no final da década de 1960, com o título de As Joias de Opar. A história foi relançada em 1986, em dois números da revista Tarzan. A EBAL lançou-a no Brasil na série de três números intitulada O Livro da Selva, entre 1978 e 1979.

CINEMA

Com o sucesso do seriado Tarzan, o poderoso (Tarzan the Mighty), os produtores imediatamente produziram sua sequência, Tarzan the Tiger, em 1929, com quinze episódios. Levemente baseado em Tarzan and the Jewels of Opar, o herói foi vivido por Frank Merrill, Jane, por Natalie Kingston e La de Opar por Mademoiselle Kithnou. Igualmente bem sucedido comercialmente, Tarzan the Tiger é o único filme de Tarzan com versões tanto muda quanto sonora. Tarzan e a cidade perdida (Tarzan and the Lost City), produção de 1998, estrelada por Casper van Dien e Jane March, também aproveitou elementos do livro de Burroughs.
 
TELEVISÃO
La de Opar (Angela Harry) em três episódios da série Tarzan: The Epic Adventures (1996-1997), estrelada por Joe Lara e em três episódios da série animada The Legend of Tarzan da Walt Disney Pictures: "Lost City of Opar", "The Leopard Men Rebellion" e "Return of La".

Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tarzan_and_the_Jewels_of_Opar

Aparecido Raimundo de Souza (Do colorido vivo ao branco e preto sem vida)

 O AMIGO OTÁVIO recebeu o amigo Ringo na porta de sua mansão em Aldeia da Serra com um efusivo aperto de mão e um forte e caloroso abraço. Ringo, apesar de meio desconfiado dessa recepção, indagou.
Ringo:
— Por qual motivo toda essa alegria, amigo Otávio?
Otávio:
— Não é para menos amigo Ringo. Afinal de contas é uma honra estar acolhendo você em minha humilde casa depois de tanto tempo. Quero dizer, em minha ex-casa. Por outro lado, quero que seja o primeiro a saber de um segredo que guardo à sete chaves. Acabo de acertar na loteria. Ora, vamos, não fique ai parado, entre!
Ringo ao ouvir a palavra loteria arregalou uns olhos desse tamanho...

Ringo:
— Na loteria? Voce ganhou na loteria? Quanto?
Como já esperado, nem se importou com a referência feita ao domicílio elegante do amigo no tocante à ser “ex”. A febre pelo fato de saber que o outro havia ganhado na loteria, abalou a sua estrutura física.
Ringo insistente:
— Quanto?
Otávio:
— Quanto o quê?
Ringo:
— De quanto foi a monta do prêmio, Otávio? Não vá esquecer dos amigos. Você sabe. Sempre estive a seu lado nos piores e melhores momentos. Te apoiei quando se separou da Gracinha, depois da Milla, e, por derradeiro, te apresentei à Pati...
Otávio:
— Deixe de conversa fiada. Estou alegre por outro motivo.
Ringo:
— Mas você não ganhou a sorte grande?
Otávio:
— Ganhei a sorte grande sim, porém...
Ringo se fazia afoito demais e se desmanchou em mesuras:
— Olhe, aquela grana que você me emprestou, vou lhe pagar. Não quero que tal empréstimo seja uma mancha a ofuscar a nossa velha amizade.
Otávio:
— Ringo, quer por favor calar a matraca e me ouvir?
Ringo:
— Claro, fale. Juro a você que não vim aqui para lhe pedir nada. Estava nos arredores de Barueri, Santana de Parnaíba...
Otávio:
—...E?
Ringo:
— Lembrei do amigo de todas as horas. Eu disse para mim mesmo. Puxa, o Otávio! Quanto tempo não colocamos “as butucas” nele? Que tal uma passadinha para um cafezinho?
Otávio:
— É mesmo?
Ringo:
— Verdade!
Otávio:
— E o que o “seu mim” respondeu?
Ringo:
— Quem?
Otávio:
— Ué! Você não acabou de falar que disse para o seu mim mesmo, “puxa, Ringo, quanto tempo não vemos o Otávio?”.  O que ele respondeu?
Ringo:
— Ah, claro, o que eu respondi para mim mesmo. Que estupidez mais infantil. O que mim mesmo me respondeu?
Otávio, se antecipou:
— Posso adivinhar. Você disse para o seu mim: “vamos aproveitar que estamos aqui e dar uma desculpa para enrolar aquele otário?”
Ringo ficou sério como uma lagartixa de cabeça para baixo grudada na parede de teto alto. A luz de um protocolo de bloqueio se acendeu dentro da sua imbecilidade.  
Ringo:
— Não pense isso de mim, Otávio. Somos amigos. Pô, cara, qualé?
Otávio, em contínuo, perdeu as estribeiras:
— Você não passa de um filho de uma jumenta. Interesseiro, cretino, pilantra, mentiroso...
Ringo:
— Otávio, eu só vim...
Otávio:
— Veio o quê? Desembucha, meu prezado: veio o quê? Pagar aquela mixaria que lhe emprestei faz tempo ou pedir novo prazo para me engambelar por mais um ano? Estou errado?
Ringo:
— Completamente!
Otávio:
— Então o que veio cheirar aqui?
Ringo:
— Te visitar. Não nos vemos há meses... e depois...
Otávio:
— Babaca sem vergonha.
Ringo:
— Meu amigo... que isso!
Otávio:
— Que isso coisa nenhuma. Quer saber? Descobri tudo, seu filho da mãe. Tudo. Não precisa se fazer de santinho.
Ringo:
—Tudo? Tudo o quê?!
Otávio:
— Tudo sobre você e a “Florzinha”.
Ringo:
— Quem é “Florzinha?”
Otávio perdeu num só esgar a paciência. Inopinadamente, como um felino, saltou e segurou Ringo pelo pescoço e o empurrou contra a porta de entrada:
— Não se lembra da “Florzinha?”
Ringo, estático e com a língua quase toda do lado de fora, de repente pareceu ter visto um fantasma:
— Na... não... pelo amor... pelo amor de... de  Deus!
Otávio:
— Vou refrescar a sua memória.
Ringo:
— Va... vai?
Otávio:
— Você não é meu melhor amigo?
Ringo:
— So... sou...
Otávio:
— “Florzinha” é o apelido carinhoso que você botou na Pati... Desculpe, Patrícia. Sabe quem é a Patrícia?
Ringo:
— Sua... sua...mu...  mu... mu... lher...
Otávio, aos estrondos:
— “EX!”.
Ringo:
— Ex? Vocês... vocês se... se... sepa... se... se... para... ram?
Otávio:
— Como se não soubesse. Vou acabar com a sua raça!
Ringo:
— Ca... calma...  Otá... Otá... Otavio...
Otávio:
— Complete, seu idiota.  Você ia me chamar de Otário? Acha que sou otário?
Ringo:
— Nu... nunca pensei... estou... estou sem ar...
Otávio:
— Coitadinho!
Ringo:
— Otá... Otávio, vá.… va... mos... com...
Otavio, sem dar trelas ao amigo, e aparentando estar bastante possesso, insistiu em não deixar de estorcer, com mais energia, a garganta do infeliz:
— Eu descobri tudo, seu pilantra. Sei que você, na minha ausência, dava em cima da Patrícia... quero dizer, da “Florzinha”.
Ringo:
— E... eu?
Otávio, de novo aos esbravejos:
— Não, seu babaca, “SEU MIM!
Ringo:
— O... Otá...
Otávio:
— Confesse.
Ringo:
— Com... fes... sar... o... quê?
Otávio:
— Agora não importa mais. Seguinte: mete logo a mão no bolso e tira esse pacote de notas e me paga. Estou no seu encalço com dois seguranças. Antes de vir para cá, você passou pelo banco.
Ringo:
— Si... sim... o... olhe... a... aqui... vo... vou... te... pa... gar... o... que... de... vo...
Otávio:
— Fico feliz. Não sabe quanto!
Ringo:
— Quan... to...  é...  mês... mo?...  não...  me...  re... cor... do...
Otávio:
— Vamos, anda. Manuseie as patas. Raspe os bolsos...

Com o cachaço vermelho, quase em desmaio, Ringo se debulhava em choro. Otávio aliviou a pressão. Soltou o amigo, e grudou nele pelos fundilhos das calças:
— Meu Deus, Otávio... pronto. Aposto que isso aqui deve bastar. Olhe, vou botar as notas em seu bolso.
Otávio:
— E os juros?
Ringo:
— Claro. Como iria me esquecer dos juros? Agora você pode ficar com a “Florzinha” todinha para você. Se quiser, lhe compro um vasinho de plantas e mando pelo correio...

Apesar de desprendido das garras de Otávio, Ringo, nas últimas, não sabia como fugir do seu melhor amigo. Os olhos seguiam esbugalhados. Além do pranto, suava feito um porco à passos de ser abatido. A camisa colou na pele. À suspicácia de coisa pior embolava. Formava um nó e tomava conta desenhando figuras esquisitas diante de sua percepção estuporada.

Otávio:
— Muito bem. Estou feliz por você ter resgatado a sua dívida.
Ringo:
— Como você disse assim que cheguei que havia ganho na loteria, pensei que perdoaria a dívida.
Otávio:
— É mesmo??? - Quer saber quanto eu ganhei?
Ringo:
— Sim... quero dizer, não.
Diante dessa resposta, Otávio se engraçou, de novo com a angustura do desditoso. Grudou nela com mais altivez e ferocidade:
— Mas ainda assim eu direi, seu pelintrão. O bastante para comprar minha liberdade e deixar de ser “ex”. “Ex-corno”. Entendeu o que eu disse? Sou “ex-corno”, como a Pati – desculpe, a “Florzinha” – é minha “ex”. E você, Ringo, passou para a lista negra dos meus “ex-amigos””.
Ringo:
— Eu?

A essa altura, com o novo bote de Otávio em seu cangote, Ringo se ajoelhou de dor. Tentou se livrar do jugo obstaculoso de Otávio, mas o amigo, duplamente mais forte, neutralizava qualquer tipo de reação.
Otávio:
— Como se sente, sendo meu “EX-AMIGO?”    
No que falava, Otávio sacou da parte de trás da jaqueta, um revolver calibre trinta e oito. Encostou o cano na testa de Ringo. O desespero chegou ao crítico. Otávio, entremeado num sorriso estranho, em ato inopinado, deu voz ao gatilho. Uma, duas, três, cinco vezes. Os miolos de Ringo se espalharam pelas paredes e ladrilhos, deixando no portal de acesso à mansão suntuosa, manchas macabras, como se os projéteis, ao penetrarem seu rosto espantado, desenhassem as fases mais variadas do medo mórbido e tétrico que urrava por socorro dentro de seu coração.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

sábado, 17 de junho de 2023

Dorothy Jansson Moretti (Álbum de Trovas) 26

 

Cecy Barbosa Campos (Vestígios)

É... Quase nada resta... Só algumas daquelas numerosas e frondosas árvores, que enfeitavam o Parque Halfeld, há muitos, muitos anos atrás...

Percorreu, com os olhos cansados, as alamedas que levavam ao caramanchão. Enxergou, com os olhos da mente, a água cristalina, pontilhada por peixinhos vermelhos, que iam e vinham em seu frescor.

Sem perceber a grande área central, curtida pelo sol causticante e desabrigada da vegetação que, anteriormente, a protegia, ouviu sons que vinham da PRB3, a estação de rádio da cidade, cujo prédio ficava bem no meio do Parque. Perdeu-se no mundo de sonhos, trazidos pelas histórias da Tia Violeta, programa favorito do menino que não era mais.

A sujeira do chão e o cheiro de urina, naquele momento, também lhe passaram despercebidos. Estava ali, porém longe no tempo. Voltara às suas brincadeiras de criança, às correrias com os amiguinhos, à caixa de areia sem perigo de contaminação pela defecação de gatos, cães e até mesmo de ratos.

Tampouco, notou a garota, quase-menina, que veio se encostando a ele de modo insinuante. Não fosse a catarata que lhe dificultava a leitura dos jornais, talvez, tivesse lido a grande manchete, na primeira página da Tribuna — "Prostituição infantil no Parque Halfeld" — e chegado à deprimente constatação.

De repente, baixou um cansaço... Um torpor, um peso no corpo e na alma, uma tristeza que lhe fechava os olhos para tentar voltar ao sonho e não enxergar a dura realidade. Não, aquele não era mais o Parque Halfeld. Sentou-se num dos bancos empoeirados que circundavam o parque e, cabisbaixo, deparou com seus próprios braços, enrugados, ressequidos, sem viço...

— É, pensou... Meus braços, as árvores... Casca ressecada, galhos retorcidos, marcados pelo tempo... Cicatrizes, cortes profundos que atingem o tronco e o coração... O que resta do Parque Halfeld? O que resta de mim?

Fonte:
Cecy Barbosa Campos. Recortes de Vida. Varginha/MG: Ed. Alba, 2009.
Enviado pela autora

Artur de Azevedo (Contos em versos) VAGABUNDO


O Mathias, coitado,
Vive sabe Deus como, que é casado
E duzentos mil mensais apenas ganha,
Pois lhe há sido tamanha
A ingratidão dos fados desumanos,
Que ele ainda hoje tem o parco vencimento
De quando começou, há muitos anos,
Numa repartição...

Caminho lento
Percorre o funcionário
Que se mostre à mesura refratário,
E, metido consigo
De toda a gente não se faça amigo,
Nem serviços alegue
E da sorte ao capricho apático se entregue.
Era assim o Mathias,
E, passavam-se dias
Semanas, meses, anos, sem que o mundo
Lhe ouvisse a menor queixa.

De Catumby no fundo,
Numa viela que a montanha fecha,
Reside o pobretão em companhia
Da cara esposa que, fazendo balas,
Do casal as despesas auxilia,
Porque, se assim não fora, ambos decerto
Se veriam em talas.

Seria aquela casa um lindo céu aberto
Se tivesse o casal um filho, um filho ao menos,
Sim, porque, não há dúvida, os pequenos
Espancam a tristeza
E tornam suportável a pobreza
No lar mais esquecido dos favores
Da eterna deusa cega e fugitiva
Que anda sobre uma roda e que nos faz senhores,
Andar a todos numa roda viva.

No entanto, em casa havia
Um velho cão que, a bem dizer, supria
De uma criança, a falta.
Era um grande peralta
Que, se a porta da rua achava aberta,
Ia logo se embora,
E eram dias e dias pela certa,
Que ficava lá fora,
E coisas tais fazia,
Que ao regressar, trazia
Vestígios eloquentes
De haver lutado a dentes,
Disputando, talvez, uma gentil cadela
Qual cavaleiro antigo, a lança heroica em riste,
Disputaria a sua dama bella.

O cão dessas façanhas vinha triste,
Cauda e orelhas caídas, receoso
De ser mal recebido (e era muito bem feito!);
Porém bastava um gesto carinhoso,
Um sorriso fagueiro,
Uma bala roubada ao tabuleiro,
Para vê-lo de novo alegre e satisfeito.

Há dez anos o cão aparecera um dia
Ali; ninguém sabia
De onde viera. Tinha fome o bicho,
E, como lhe a matassem
E lhe dessem um nicho
Onde nem sol nem chuva o incomodassem
Foi-se ficando o maganão tranquilo
Naquele doce asilo.

Deram-lhe o nome feio
De Vagabundo, e o mesmo nome, creio
(Digo-o em seu desabono)
Lhe havia dado o primitivo dono,
Porque, à primeira vez que foi assim chamado,
Correu logo apressado.

Jamais num cão fraldeiro
Esse nome assentou com tanta propriedade;
Vagabundo, melhor do que o melhor carteiro,
Conhecia a cidade
Do Rio de Janeiro.

Ultimamente, há dias, quando a nossa
Municipalidade
A guerra declarou de morte aos cães vadios,
Mathias e a mulher tiveram calafrios
Por causa da patibular carroça
Que o bairro percorria
Engaiolando os cães, para mata-los.
Incessantes abalos
No piedoso casal o carro produzia.
Que querem? Não havia
Dinheiro para o imposto
Que podia evitar-lhes o desgosto
De verem Vagabundo engaiolado...

Um dia
A carroça fatal passou de cães repleta,
E a mulher do Mathias inquieta,
Debalde procurou por Vagabundo:
Não estava em casa, andava a correr mundo
— Quem sabe se foi preso e vai ali? — murmura,
E, fazendo tão triste conjectura,
Viu a carroça... e Vagabundo dentro!

A mulher desespera!
Em minúcias não entro,
Que é difícil pintar-vos a sincera
Dor que dela se apossa
Ao ver o cão querido na carroça,
Que lembra uma carreta
No tempo da infeliz Maria Antonieta.

Mas, eis que o velho cão sai de baixo da mesa
Agitando a sorrir a cauda tesa,
Como se tudo houvera compreendido;
Parecendo dizer: — Cá estou, não tenha medo,
Eu me havia escondido
Apenas por brinquedo.

Não era Vagabundo, o cão engaiolado,
Porém outro com ele parecido,
Que o não ser cão de raça
Tem este inconveniente
De se não distinguir de qualquer cão que passa.

A senhora ficou muito contente,
Para outro susto não sofrer, coitada,
Foi buscar onde estava bem guardada
Uma velha pulseira,
Joia numero um, do tempo de solteira,
E empenha-la mandou no Monte do Socorro,
Para pagar o imposto do cachorro.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =
Nota sobre o nome do autor:
Neste livro consta Artur (sem o h), em outros é Arthur. Ainda há uns que não possuem o de antes de Azevedo. Estou publicando sem o h, como está neste livro.


Fonte:
Disponível em Domínio Público.
Artur de Azevedo. Contos em verso (contos cariocas). Publicado originalmente em 1909.
Português atualizado por J.Feldman

George Abrão (Uma viagem ao passado)

Em meus devaneios e reminiscências permiti-me estar em Jaguariaíva, na Praça Dona Izabel, no crepúsculo de um dia do mês de fevereiro de 1958, data do meu aniversário de oito anos.

De frente para a Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus da Pedra Fria, a vi, majestosa e imponente em sua simplicidade externa, com uma bela imagem de Cristo, colocada no cimo e na parte frontal do seu telhado, abençoando sua cidade.

Fui até ao adro, onde havia uma grande porta central, que se encontrava fechada, e duas portas menores nas laterais, todas em madeira de lei. Dirigi-me a do lado direito e adentrei o templo. Logo à minha frente, na parede, numa pia semi-circular em mármore havia água benta onde eu, molhando os três dedos centrais da mão direita, persignei-me e dirigi-me à nave central onde quedei-me para a fazer as minhas orações. Então, como num passe de mágica, tive a impressão de ouvir, vindo do espaço reservado ao coro, atrás de mim e no alto, os cantores a entoar um cântico de louvor à Virgem Maria.

Toda a igreja encontrava-se inundada pela luz emitida por dois belos lustres de cristal que pendiam do teto, um róseo e o outro branco e bem maior, situado logo mais à frente, mesclada com os reflexos do que ainda restava da luz do dia no coloridos dos vitrais. E uma sensação de encantamento e de cumplicidade Divina invadiu o meu ser naquele final de tarde.

Nas paredes laterais da bela igreja, entre as janelas, haviam quadros em alto relevo, iniciando-se da frente do lado esquerdo e terminando à frente do lado direito, que contavam a Via-Crucis de Jesus Cristo. E de cada lado, próximos às portas laterais, havia uma joia da marcenaria: os confessionários em madeira de cedro, toda trabalhada, mandados vir de Portugal quando do final da construção da igreja. Mais à frente e ao lado esquerdo, próximo a um dos altares secundários onde se viam nichos com belíssimas imagens de santos, ficava a pia batismal em mármore, com tampo de madeira, a mesma em que eu fora batizado.

Em frente à nave, e após dois degraus, fica o presbitério, da qual era separado por balaústres  de madeira pintados como se fossem de mármore travertino, com passagem central. Nesse espaço sagrado, reservado aos padres e à equipe de liturgia, ficava a credencia, que assim como o altar-mor e os dois altares secundários, era recoberta por alvas e belas toalhas caprichosamente bordadas por dona Pequena de Barros, que também por elas zelava. E coroando toda a beleza da igreja: o Altar-Mor, esculpido em madeira, também pintado como mármore, ladeado por belas imagens de anjos portando altas luminárias, tendo ao centro e em plano inferior o Sacrário, e no alto, dentro de um nicho envidraçado, a bela imagem do Senhor Bom Jesus da Pedra Fria coberto com uma capa carmim.

Após novas orações junto ao altar, dirigi-me à lateral direita do mesmo, onde, na sua parte inferior, havia uma placa em bronze indicando que naquele local jaziam os restos mortais de Dona Izabel Branco e Silva, doadora daquela igreja à municipalidade, bem como fundadora da cidade de Jaguariaíva.

Hoje, já com setenta e seis anos de idade, resido bem longe: em Maringá. Mas a saudade e a lembrança dos meus tempos de menino, quando morava próximo ao atual Santuário do Senhor Bom Jesus da Pedra Fria, me invadem docemente a cada dia.

Fonte:
George Roberto Washington Abrão. Momentos – (Crônicas e Poemas de um gordo). Maringá/PR, 2017.
Enviado pelo autor.

Jaqueline Machado (A Bela e a Fera)

Contos de Fadas e Fábulas, não são estórinhas escritas somente para crianças, pois as mensagens condensadas nesse tipo de literatura nos fazem refletir sobre assuntos, sombrios, tais como: inveja, falsos amores, ambição e aparências.

No conto a Bela e a Fera,  escrito pela francesa Gabrielle-Suzanne Barbot e publicado pela primeira vez em 1740, traz a temática da aparência. Um lindo e nobre príncipe que se achava superior às outras pessoas, negou abrigo a uma senhora maltrapilha e feia que lhe ofereceu uma rosa em troca de ajuda. A velha, sentindo–se humilhada transformou-se numa linda e jovem feiticeira. Ao vislumbrar a beleza da bruxa, o jovem pede perdão, mas o arrependimento é tardio: ela o transformou numa fera horrenda, a qual as pessoas teriam medo e repulsa.

O que a feiticeira fez foi exteriorizar o interior do rapaz, que na verdade, não era belo, pois seus sentimentos não tinham nobreza. Ele era vaidoso, egoísta e fútil.

Bela, a personagem que divide a protagonista do enredo, pede ao seu pai, que parte em viagem, que lhe traga uma rosa. Passando pelo castelo, seu pai apanha a rosa e é preso pela Fera. Ao descobrir a situação de seu paizinho, ela decide libertá-lo, ficando em seu lugar.

A Fera se apaixona por Bela e, com o passar do tempo, a própria Bela começa a perceber que a Fera podia ter um bom coração. Desfecho: eles se apaixonam e, ao descobrir o amor, a Fera transforma-se num lindo príncipe. Agora belo por dentro e por fora.

Esse conto nos convida a refletir sobre o “TER e o “SER”. Muitas pessoas não se dão conta de que há uma diferença enorme em ter e ser... Ter, se refere às coisas materiais, que podem, a qualquer momento, serem arrastados pelo vento. Ser, é algo muito mais fundamentado, se refere às coisas inegociáveis: saúde, amor, amizade, alegria, fé...

De nada vale ter dinheiro, imóveis, fazer viagens, quando não se aproveita ou valoriza as verdadeiras belezas da vida. A existência é tão grandiosa, que temos por obrigação, todas as manhãs, levantar, olhar para o céu e agradecer pela oportunidade de estarmos vivos e de vivermos num mundo cheio de belezas.

A beleza e a riqueza são coisas que nascem dentro da gente e não podem ser compradas ou comparadas às coisas perecíveis.

Todos nós somos um pouco Bela e um pouco Fera, mas é agindo como Bela que descobrimos onde se escondem os tesouros do mundo.  

Fonte:
Enviado pela autora

quinta-feira, 15 de junho de 2023

Izo Goldman (Buquê de Trovas) – 3 –

 

Lima Barreto (O Cedro de Teresópolis)

O eminente poeta Alberto de Oliveira, segundo informações dos jornais, está empenhado em impedir que um proprietário ganancioso derrube um cedro venerável que lhe cresce nos terrenos.

A árvore é remanescente de antigas florestas que outrora existiram para aquelas bandas e viu crescer Teresópolis já adulto.

Não conheço essa espécie de árvore, mas deve ser bela porque Alberto de Oliveira se interessa pela sua conservação.

Homem de cidade, tendo viajado unicamente de cidade para cidade, nunca me foi dado ver essas essências florestais que todos que as contemplam, se enchem de admiração e emoção superior diante dessas maravilhas naturais.

O gesto de Alberto de Oliveira é sem dúvida louvável e não há homem de mediano gosto que não o aplauda do fundo d'alma. Desejoso de conservar a relíquia florestal o grande poeta propôs comprar, ao dono, as terras onde ela crescia.

Tenho para mim que, à vista da quantia exigida por este, ela só poderá ser subscrita por gente rica, em cuja bolsa umas poucas de centenas de mil réis não façam falta. Aí é que me parece que o carro pega. Não é que tenha dúvidas sobre a generosidade da nossa gente rica; o meu ceticismo não vem daí. A minha dúvida vem do seu mau gosto, do seu desinteresse pela natureza.

Excessivamente urbana, a nossa gente abastada não povoa os arredores do Rio de Janeiro de vivendas de campo com pomares, jardins, que os figurem graciosos como a linda paisagem da maioria deles está pedindo. Os nossos arrabaldes e subúrbios são uma desolação. As casas de gente abastada têm, quando muito, um jardinzinho liliputiano de polegada e meia; e as da gente pobre não têm coisa alguma.

Antigamente, pelas vistas que ainda se encontram, parece que não era assim. Os ricos gostavam de possuir vastas chácaras, povoadas de laranjeiras, de mangueiras soberbas, de jaqueiras, dessa esquisita fruta-pão que não vejo mais e não sei há quantos anos não a como assada e untada de manteiga.

Não eram só essas árvores que a enchiam, mas muitas outras de frutas adorno, como as palmeiras soberbas, tudo isso envolvido por bambuais sombrios e sussurrantes à brisa. Onde estão os jasmineiros das cercas? Onde estão aqueles extensos tapumes de maricás que se tornam de algodão que mais é neve, em pleno estio?

Os subúrbios e arredores do Rio guardam dessas belas coisas roceiras, destroços como recordações.

A rua Barão do Bom Retiro que vem do Engenho Novo à Vila Isabel dá a quem por ela passa uma amostra disso. São restos de bambuais, de jasmineiros que se enlaçavam pelas cercas em fora; são mangueiras isoladas, tristonhas, saudosas das companheiras de alameda que morreram ou foram mortas.

Não se diga que tudo isso desapareceu para dar lugar a habitações; não, não é verdade. Há trechos e trechos grandes de terras abandonadas, onde os nossos olhos contemplam esses vestígios das velhas chácaras da gente importante de antanho que tinha esse amor fidalgo pela casa e que deve ser amor e religião para todos.

Que os pobres não possam exercer esse culto; que os médios não o possam também, vá lá! e compreende-se; mas os ricos? Qual o motivo?

Eles não amam a natureza; não têm, por lhes faltar irremediavelmente o gosto por ela, a iniciativa para escolher belos sítios, onde erguerem as suas custosas residências, e eles não faltam no Rio.

Atulham-se em dois ou três arrabaldes que já foram lindos, não pelas edificações, e não só pelas suas disposições naturais, mas também, e muito, pelas grandes chácaras que neles havia. Botafogo está neste caso. Laranjeiras, Tijuca e Gávea também.

Aos famosos melhoramentos que têm sido levados a cabo nestes últimos anos, com raras exceções, tem presidido o maior contra-senso. Os areais de Copacabana, Leme, Vidigal, etc., é que têm merecido os carinhos dos reformadores apressados.

Não se compreende que uma cidade se vá estender sobre terras combustas e estéreis e ainda por cima açoitadas pelos ventos e perseguidas as suas vias públicas pelas fúrias do mar alto.

A continuar assim, o Rio de Janeiro irá por Sepetiba, Angra dos Reis, Ubatuba, Santos, Paranaguá, sempre procurando os areais e os lugares onde o mar se possa desencadear em ressacas mais fortes.

É preciso não cessar em profligar
(destruir) tal erro; tanto mais que não há erro, o que há é especulação, jogo de terrenos, que. são comprados a baixo preço e os seus proprietários procuram valorizá-los num ápice de tempo, encaminhando para eles os melhoramentos municipais.

Todo o Rio de Janeiro paga impostos, para que tal absurdo seja posto em prática; e os panurgianos
(pessoas frívolas) ricos vão docilmente satisfazendo a cupidez de matreiros sujeitos para quem a beleza, a saúde dos homens, os interesses de uma população nada valem. É por isso que disse não me fiar muito que Alberto de Oliveira alcançasse realizar o seu desideratum.

Os ricos se afastam dos encantos e perspectivas dos sítios em que se possam casar o mais possível a arte e a natureza. Perderam a individualidade da escolha; não associam à natureza as suas emoções nem. esta lhes provoca meditações.

O estado dos arredores do Rio, abandonados, enfeitados com construções contraindicadas, cercados de terrenos baldios onde ainda crescem teimosamente algumas grandes árvores das casas de campo de antanho, faz desconfiar que os nababos de Teresópolis pouco se incomodam com o cedro que o turco quer derrubar, para fazer caixas e caixões que guardem quinquilharias e bugigangas.

Daí pode ser que não; e eu desejaria muito que tal acontecesse, pois deve ser um soberbo espetáculo contemplar a magnífica árvore, cantando e afirmando pelos tempos afora, a vitória que obteve tão-somente pela força de sua beleza e majestade.

Fonte:
Lima Barreto. Crônicas. Publicado originalmente em Bagatelas, 27 fevereiro 1920.
Disponível em Domínio Público

Marli Terezinha Andrucho Boldori (Poemas Avulsos)

ALÉM…


...toque meus dedos
Leve-me daqui,
O céu é apenas o nosso começo.
Alcemos o voo,
Vamos na busca do que nos faz bem.
Nada de impunidades ou castigos,
Apenas a distração final: seus olhos.
Talvez eu siga este caminho, pois sinto-me bem com você,
E, quando o final se aproximar, não terei medo,
Pois você estará comigo, apenas o começo,
Seus dedos entrelaçados aos meus,
Seus braços abertos,
O vento nos leva por entre as nuvens,
As estrelas brilham,
O meu melhor ainda está por vir,
As correntes foram quebradas.
Não estou mais cativa àquela cama, você me resgatou,
E me trouxe ao paraíso.
Sinto-me livre, e quero recomeçar.
Quero retomar a minha vida,
Deixada há anos,
Não há mais regras, não há mais erros nem torturas.
A vida apenas recomeçou de onde a deixei para aprender.
E agora estou de volta, meu lar, minha vida retomada.
Agora vivo em paz!
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CURITIBA

Cidade das três estações
Pela manhã, me agasalho
Casaco, guarda-chuva e cachecol
Onde coloco isso, pois agora
Surgiu o sol.
Arara azul escondeu o fruto da araucária
Em tantos lugares que perdeu a noção
E hoje Curitiba é conhecida pela altivez do pinheiro
Cidade Bendita com sua Boca Maldita
É bendita com seus bosques,
Parques  gloriosos
Repleta de cultura
Poesia, prosa e pintura
Dentro da casa das letras,
Da grandiosa Universidade
Aos cafés culturais
Do famoso sotaque do “leite quente”,
De tudo que se fala
Largo da Ordem, feirinhas coloridas
Na Curitiba atrevida!
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JARDIM DIVINO

Vislumbrei através de um portal dourado
Um jardim quase etéreo
A bruma dificultava minha visão,
Era diferente, porém sublime
Eminente, repleto de telas pintadas
Pinturas? Sim!
Eram só rosas
Pareciam celestiais,
Pincéis suspensos no céu
Caíam das nuvens
E cada um
Deslizava pingando
Suas cores
Pintando assim
As pétalas,
As folhas, o caule, espinhos
Indecifráveis,
Tons enriquecidos pelo tempo
Percebi na pintura
Um ramalhete de rosas
Multicores
Em um galho apenas
O Jardineiro Paterno
Com a tela das rosas
Deu-nos seu amor eterno.
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MULHER

A cabeça dói, a lata d’água
Dança sem equilíbrio
O cansaço lhe vence, mas precisa caminhar
Nem sabe aonde chegar
Faz o trajeto todo o dia,
O corpo reclama por cuidados
É hora de parir
Seus outros filhos a esperam
Precisa ter forças para agir
Marido foi em busca de vida melhor
Melhor para ele, pois se esqueceu de voltar
Sente-se apenas mulher, mas sem forças
Ainda há tanto para fazer, e pensa
O que pôr no prato para os filhos
A amiga veio ajudá-la
Alguém lhe pergunta: Por quê?
Porque sou mulher
Apenas Mulher!
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QUEM SOU

Sou um santuário, mas
No meu âmago a ruína cresce
Escondo dos olhos
Para que não saibam
Quem vive dentro de mim.
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VOCÊ

Eu vivo em você
respiro você,
durmo e sonho você
Sinto sua falta
Procuro por você.

Porque sou você,
minha mãe!
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Marli Terezinha Andrucho Boldori, nasceu em União da Vitória/PR. Filha de Hilário Andrucho e Catarina Mateus Andrucho. Graduou-se em Letras/Inglês e pós graduou-se em Produção de Textos, ambos pela FAFI/UNESPAR, em União da Vitória.

Acadêmica da ALVI (Academia de Letras do Vale do Iguaçu de União da Vitória); da AVIPAF (Academia Virtual Internacional de Poesia, Arte e Filosofia).

Colunista do Jornal Caiçara, de União da Vitória/PR.

PARTICIPAÇÕES

– Livro de Antologia- Coletânea-Faces não Reveladas, organização de Sandra Mara Ferrari Radich, 2015;
– Antologia de Poesia e Prosa V Prêmio Literário do escritor Marcelo de Oliveira Souza, 2017.
– Em vários concursos de poesias, contos, crônicas, publicações em jornais, nacionais e internacionais.
– 28º Festival Poético – Cornélio Procópio, novembro 2012.
– Fez parte da comissão julgadora do 10º Concurso Internacional Poetizar o Mundo, em Curitiba/PR, abril 2015.
– Revista Carlos Zemek - Arte e Cultura, na homenagem “à palavra” na página da poesia.

Lançou em 2015 o livro,” Pensando a Vida”.

Seu conto “O Presente de Natal” foi publicado Jornal Indústria e Comércio de Curitiba, em 2012.

Seus poemas fizeram parte de exposições de Arte e Poesia no Brasil e na Argentina:
– Exposição de Artes Plásticas e Literatura – Religiões do Mundo, Curadoria de Carlos Zemek. Estação Business School, Curitiba, 2013;
– Exposição de Artes Plásticas e Literatura – Mês da Mulher. Estação Business School, Curitiba, 2013;
– Muestra de Arte y Poesia Sensaciones na cidade de Buenos Aires,Argentina, em 2015.

Possui o blog Naco de Prosa (https://nacodeprosa.blogspot.com.br)


Fonte:
Poemas e biografia enviadas por Isabel Furini.

Irmãos Grimm (As três plumas)


Era uma vez um rei que tinha três filhos, dois deles eram inteligentes e sábios, mas o terceiro não gostava de falar muito, e era muito simples, e por isso o chamavam de João Bocó. O rei estava ficando velho e fraco, e já achava que ia morrer, e não sabia quais dos seus filhos deveria herdar o reino quando isso acontecesse. Então, ele disse para os seus filhos: 
 
“— Saiam, e aquele que me trouxer o tapete mais lindo será o rei quando eu morrer.”

E para que não houvesse briga entre eles, ele os conduziu para fora do palácio, soprou três plumas no ar e disse: — “Vocês deverão seguir estas plumas!” Uma pluma voou para o oriente, a outra para o ocidente, mas a terceira subiu para o alto, mas não voou para muito longe e logo caiu no chão.

E então, um irmão foi para a direita, o outro para a esquerda, e zombaram do João Bocó, o qual foi obrigado a ficar ali onde a terceira pluma havia caído. Ele se sentou e ficou triste, então, de repente, ele percebeu que havia um pequeno alçapão perto de onde a pluma havia caído. Ele levantou o alçapão, encontrou alguns degraus, e desceu a escada, que dava para uma outra porta, bateu nela, e ouviu alguém dentro chamando:

— “Criatura pequena e verde, pulando aqui e ali, entre pela porta e você verá quem está lá.”

A porta se abriu e ele viu ali parado um sapo grande e gordo, e em volta do sapo uma multidão de pequenos sapinhos. O sapo gordo perguntou o que ele queria? Ele respondeu: — “Eu preciso conseguir o tapete mais belo e mais fino do mundo.”

Então, ele chamou um sapinho e disse para ele:

— “Criatura pequena e verde, pulando aqui e ali, pule rapidamente e me traga a Caixa Grande até aqui.”

O filhote de sapo trouxe a caixa, e o sapo gordo a abriu, e tirou da caixa um tapete que era tão lindo e maravilhoso e que fora tecido com tantos detalhes, que não havia na Terra ninguém que pudesse ter produzido uma peça tão rara.

Então, ele agradeceu ao sapo, e fez o caminho de volta. Seus dois outros irmãos, todavia, achavam que o seu irmão caçula fosse tão tolo que ele não encontraria nenhum tapete e não traria nada para o rei. — “Porque nós iríamos nos preocupar em procurar um?” disseram eles, e pegaram alguns panos sem acabamento das primeiras pastoras de porcos que eles encontraram, e levaram para o rei.

Ao mesmo tempo, João Bocó havia também voltado, e trouxe seu lindo tapete, e quando o rei viu o que ele trouxe, ele ficou admirado, e disse: “Justiça seja feita, o reino deve ficar com o caçula.”

Mas os dois outros irmãos não deram sossego para o rei, e disseram que era impossível que o João Bocó, que não passava de um pateta, fosse o rei, e insistiram para que houvesse um novo acordo entre eles.

Então, o pai disse: — “Aquele que me trouxer o anel mais valioso herdará o trono,” e conduziu os três irmãos para fora, e soprou para o ar três plumas, que eles deveriam seguir. As plumas dos filhos mais velhos novamente foram para o ocidente e para o oriente, e a pluma de João Bocó voou diretamente para o alto e caiu perto da porta a poucos passo dali.

Ele se se dirigiu novamente até onde o sapo gordo ficava, e disse ao sapo que ele precisava conseguir o anel mais valioso.

O sapo, imediatamente, mandou que uma grande caixa fosse trazida até ali e tirou da caixa um belíssimo anel, o qual reluzia de tantas joias, e era tão lindo que nenhum ourives da Terra seria capaz de fabricá-lo.

Os dois irmãos mais velhos riram de João Bocó por ele ter ido buscar um anel de outro. E não se deram ao trabalho, e arrancaram os pregos de um velho anel de argola e o levaram para o rei, mas quando João Bocó mostrou o seu anel de brilhantes todo dourado, o rei disse novamente:

— “O reino pertence a ele.”

Os dois irmãos mais velhos não paravam de atormentar o rei até que ele propôs uma terceira condição, e declarou que aquele que trouxesse a mulher mais linda para casa, ficaria com o reino. Novamente ele soprou três plumas para o alto, e elas voaram como antes.

Então, João Bocó, sem fazer nenhum alarde, desceu até a toca do sapo e disse: — “Eu preciso levar para casa a mulher mais formosa!”

— “Oh,” respondeu o sapo, “a mulher mais formosa! No momento, ela não está aqui, mas dentro em breve tu a terás.”

O sapo deu a ele um nabo amarelo totalmente oco por dentro, atrelado a seis camundongos. Então, João Bocó disse muito triste, “O que é que eu vou fazer com isso?”

O sapo respondeu: — “Coloque apenas um dos meus sapinhos dentro dessa carruagem.”

Então, ele pegou aleatoriamente um daqueles que estavam ali, e colocou dentro da carruagem amarela, mas, mal o sapinho se sentou na carruagem, e ele se transformou numa donzela maravilhosamente bela, e o nabo se transformou num cocheiro, e os seis camundongos em belíssimos cavalos. Então, ele a beijou, e se afastaram rapidamente com os cavalos, e a levou para o rei.

Seus irmãos chegaram depois, eles não haviam se dado ao trabalho de procurar belas garotas, mas haviam trazido com eles as primeiras aldeãs que tiveram a chance de encontrar.

Quando o rei viu as donzelas ele disse: — “Depois que eu morrer, o meu reino deve ficar com meu filho mais jovem.”

Mas os dois irmãos mais velhos quase deixaram surdas as orelhas do rei com seus clamores, — “Não podemos admitir que João Bocó seja o rei,” e exigiram que aquele cuja esposa conseguisse atravessar pulando um anel suspenso no meio da sala seria proclamado rei. Eles pensaram: — “As mulheres aldeãs podem fazer isso com facilidade, elas são fortes o bastante, mas a delicada donzela poderá morrer ao saltar.”

O rei que já estava velho também concordou com a ideia. Então, as duas jovens aldeãs tentaram várias vezes pular através do anel, mas elas eram tão entroncadas que elas caíram, e seus braços e pernas abrutalhados se partiram no meio. E então, a bela donzela que João Bocó havia trazido com ele, saltou várias vezes com a leveza de um cervo, e toda oposição teve de acabar. Então, ele recebeu a coroa, e reinou com sabedoria durante muito tempo.

Fonte:
Disponível em Domínio Público.
Contos de Grimm. Publicados de 1812 a 1819.

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Jota Feldman (Analecto de Trivões n. 8)

 

Monsenhor Orivaldo Robles (Perigo Doce)

Tio Vitoriano era dono de um carro de praça. Estávamos em 1951. Nenhum de nós tinha ainda ouvido a palavra táxi. Pelas tantas, os parentes começaram a mostrar incomum preocupação com o patriarca, o vô Rogelio, que o pai chamava de “meu sogro”. Não Rogério, mas Rogelio, como se fala em espanhol. Por influência das muitas famílias italianas do lugar, nos acostumamos a dizer “nona” e “nono”, em vez de vó e vô. Que eu tivesse sabido, ele nunca saíra daquele sítio. Nem cuidara da saúde. Aos 77 anos, obeso, como se descobriu que era diabético jamais entendi. De que meios dispunham para o diagnóstico? Que laboratório tinha feito os exames? Vai lá saber. Mas o nono tinha diabetes e a coisa era antiga. Os sintomas não assustavam pela simples razão de que a família ignorava os riscos. Daí que ele ia levando a vida possível a um diabético desinformado.

Para se locomover – dentro de casa apenas – apoiava-se a uma bengala. Vinha enxergando cada vez menos. Idade, gordura, óculos de fundo de garrafa, nada impressionava. Ao contrário. Conforme a ocasião, até divertia. Uma vez, cheguei a casa enquanto ele dormia. Fui brincar com meu primo Ciro. Não o saudei nem na hora do almoço. À mesa, ouvindo meu nome, forçou os olhos sobre o meu vulto: “Ah, é o Orivaldo? Pensei que fosse um gato”. Todos rimos; ele, inclusive. Para ver quanta ignorância sobre uma vida que caminhava para o fim.

Não passou muito tempo, piorou de vez. Veio o médico. Recomendou sua remoção para Rio Preto, único centro capaz de tratá-lo. Tio Vito morava em Fernandópolis; tio Menegildo, em Jales. Ligação telefônica demorava um dia inteiro naquele tempo. Foram avisados. Havia urgência em reunir os filhos. Como numa vigília, à espera do pior. Tio Vito chegou no seu carro de praça. Um bem conservado Ford, suponho, ou de outra marca, quem lembra? As portas abriam o necessário a passageiros de compleição comum. Não sei se verdadeira ou falsa, a nós foi passada a versão de que o nono, por ser excessivamente gordo, não passou na abertura das portas do automóvel. Impossível embarcá-lo. Nem teria adiantado. A situação era muito grave. Morreu ali mesmo, em casa. Naquela noite ou na seguinte, não recordo.

Trinta anos mais tarde, internei a mãe em hospital de Maringá. Exames vistos, o médico me encarou, assustado: “Quer matar sua mãe? Ela chegou perto de um coma diabético”. Sorte que o seu anjo da guarda era o plantonista do dia. Aí é que fui saber que o diabetes é grave e pode-se herdá-lo. Passamos a cuidar. Acho que bem, porque ela chegou aos 94 anos. Morreu lúcida, junto dos filhos, dos quais um também é portador. Mas o mantemos vigiado por endócrino excelente e amigo.

Ainda sinto dificuldade de superar a doce, mas perversa, atração do açúcar. Por que é tão custoso trocar hábitos nascidos no colo materno? Quem, no passado, ensinou nossas pobres mães a adoçar todo sólido ou líquido que nos levavam à boca? Vida afora, acabamos ingerindo tanta porcaria gostosa, não pelo valor nutritivo, mas pelo sabor agradável. Na minha lembrança, e na de muita gente, continua presente a figura do saco de açúcar, lá na despensa, protegido das formigas, mas franqueado às nossas incursões. Quantas vezes nos tornamos coadjuvantes da mãe na confecção daqueles doces chavascados (
toscos), mais primorosos para nós do que os produzidos nas docerias da rainha da Inglaterra! Delícias, sim, mas perigosas.

Afrânio Peixoto (Trovas Populares Brasileiras) – 15

Atenção: Na época da publicação deste livro (1919), ainda não havia a normalização da trova para rimar o 1. com o 3. Verso, sendo obrigatório apenas o 2. Com o 4. São trovas populares coletadas por Afrânio Peixoto.


Tico-tico no terreiro
quando chove não se molha.
Onde há moça solteira
pras casadas não se olha.
= = = = = = = = =

Moça bonita é veneno,
mata tudo que é vivente,
Embebeda as criaturas,
tira a vergonha da gente.
= = = = = = = = =

A laranja de madura
caiu na água foi ao fundo.
Triste da moça solteira
que cai na boca do mundo.
= = = = = = = = =

Quem quiser escolher moça,
deve escolher pelo andar.
Toda a moça que é faceira
pisa no chão devagar.
= = = = = = = = =
Quem quiser ter seu sossego,
case com moça faceira,
já namorou muitos homens,
não cai mais na brincadeira.
= = = = = = = = =

A pedra que muito rola,
limo não chega a criar:
A moça que ri pra todos
a nenhum consegue amar.
= = = = = = = = =

Alecrim da beira d'água
de viçoso está pendendo,
estas mocinhas de hoje
de faceiras vão morrendo.
= = = = = = = = =

Se vejo moça corada
fico do amor abrasado;
Moça pálida e franzina
põe-me todo derrotado...
= = = = = = = = =

A moça que não tiver
seu neném para brincar,
pode ficar na certeza
que no céu não há de achar.
= = = = = = = = =

Pescador que andas pescando
para as bandas do sul,
pescador, vê se me pescas
a moça do lenço azul.
= = = = = = = = =

Fui menina, já não sou,
achei consolo pra mágoa:
Moços não sabem amar,
pote velho dá boa água.
= = = = = = = = =

Os teus olhos mais os meus
têm o mesmo parecer;
Mas os teus têm um jeitinho
que põem os meus a perder...
= = = = = = = = =

De tanto, tanto, te olhar,
com os teus, meus olhos troquei.
Como a troca se arranjou
sabes tu... pois eu não sei.
= = = = = = = = =

0 cipó no mato bravo
agarra o jacarandá,
assim menina teus olhos
agarrado me tem já.
= = = = = = = = =

Estes teus olhos, menina,
são confeitos, não se vendem;
São balas com que me atiram,
correntes com que me prendem.
= = = = = = = = =

Encontrei estes teus olhos
domingo, à hora da missa.
Arrenego* desses olhos,
prendem mais do que justiça.
= = = = = = = = = 
* Arrenego = zanga
= = = = = = = = =
As folhas da bananeira
mexem co'o sopro do vento,
estes teus olhos, menina,
mexem co’o meu pensamento.
= = = = = = = = =

Sei ler e sei escrever,
sei somar, diminuir,
só a graça dos teus olhos
nunca pude repartir.
= = = = = = = = =

Teus olhos têm tanta luz,
que não sei, por que segredo,
quando eu olho pra teus olhos,
estremeço, tenho medo.
= = = = = = = = =

Teu olhar, moça bonita,
eu sou capaz de atestar,
se o sol apagasse o mundo
servia pra alumiar...
= = = = = = = = =

Olhos prelos, olhos pardos,
olhos azuis soberanos,
essas três classes de olhos
para mim foram tiranos.
= = = = = = = = =

Entra o amor pelos olhos
vai ao peito direitinho,
se não acha resistência
vai seguindo seu caminho...
= = = = = = = = =

Os olhos dos namorados
são como cartas fechadas,
que só leem sem abrir
os olhos das namoradas.
= = = = = = = = =

Quem quer bem logo se vê,
logo dá demonstração...
pelo pisquinho dos olhos,
e pelo aperto de mão.
= = = = = = = = =

Os olhos de meu benzinho
andam em leilão pela praça;
Não há dinheiro que pague
uns olhos de tanta graça.
= = = = = = = = =

Eu conheço uma menina
que é morena requebrada,
pois quando revira os olhos
põe minh'alma espedaçada.
= = = = = = = = =

A açucena quando nasce
vem abrindo, vem fechando;
Meu amor, quando me enxerga
vem todo se requebrando...

Fonte:
Afrânio Peixoto (seleção). Trovas populares brasileiras. RJ: Francisco Alves, 1919.

Disponível em Domínio Público

Clarisse da Costa (Bom dia)

Bom dia com o cheiro do melhor café e um dedinho de prosa. O que me remete ao cotidiano e a coisas antigas do meu passado remoto. Digamos que em 1996 estaria escrevendo essa prosa numa máquina de escrever e na antena da minha TV teria uma palha de aço. Minha realidade.

Mais um passo à frente eu posso dizer que o amor era apenas um coração desenhado e com versinhos bobos, mas tão sinceros, hoje é um coração com espaços a serem preenchidos com as incertezas sobre o que é o amor.  A vizinha canta uma música sertaneja bem apaixonada sem ter a noção do que é esse sentimento. Ou melhor, sem discernir o amor da paixão.  Eu como sempre sou uma eterna amante. Amo por inteiro e às vezes esqueço das pauladas que posso levar.

Voltando a 1996, a máquina ficou sem tinta. Não durou dois meses e não se vendem mais tintas. A guerreira vai pro ranchinho aqui de casa.  Cá entre nós, como é bem-vindo o século XXI! No entanto, muitas coisas antigas continuam a existir. O velho preconceito é um deles. A língua é até mais afiada que a sua. Fala feito matraca! E eu sou a romântica incondicional do bairro, amar é o meu vício!

Amo sim. Quem nunca amou e teve esperanças de viver a vida com esta pessoa?

Acho que vou quebrar muito a cara ainda até vir aquela pessoa disposta a amar também. - Pensava muito assim. Agora parei. Já quebrei muito cara, amanhã e depois vou quebrar mais o que?

É assim mesmo, dizem que quem tem amor de sobra para dar só para quando o coração entra em acordo com a razão e diz chega de sofrer. É capaz dela me dizer para ler um bom livro, e olha que em cima da cômoda tem duas antologias boas para eu ler!

Bom dia, o café me espera e eu tenho muitas coisas para fazer. E lá vem mais um Natal, é novembro, finados já passou. O tempo voa mesmo. Como se o tempo fosse um pássaro rumo ao sul. Agora preciso ir. O tempo passa e o relógio não falha.

Fonte:
Texto enviado por Samuel da Costa

Fabiane Braga Lima (Adeus minha querida!)

Olhei  profundamente em seus olhos, então ele desviou o olhar. Parecia estar envergonhado, ou fugindo de algo, ou de alguém. E eu não sabia do que ou de quem. Foi então que percebi. E pensei: — Enzo não me ama mais, aliás, já faz tempo, que percebi a distância entre nós dois!

Infelizmente, percebi como a nossa relação, tinha esfriado, já não dormíamos juntos há muito tempo, não nos tocávamos mais e nem ao menos nos beijávamos. De repente, a campainha toca, era uma bela mulher, deveria ter uns vinte e cinco anos de idade. Alguma colega de trabalho dele, talvez.

Enzo surgiu por detrás de mim e de repente o meu mundo desabou. Eles se beijaram perdidamente, a poucos centímetros de mim.

— Lena, esta é minha namorada, queria lhe falar! — Foi a única coisa que Enzo me disse. Ele, que nunca teve tempo para me escutar. E agia como se eu não existisse

— Mentira! — Gritei alto.

— Não querida, há tempo que durmo no sofá, pois você detesta o meu cheiro. Lembra? — Disse Enzo com desprezo.

—Mentira! —  Gritei novamente, tentando me enganar, não aceitando a realidade diante de mim.

— Adeus querida! Cuide-se.
Fonte:
Texto enviado por Samuel da Costa

Minha Estante de Livros (A Volta de Tarzan, de Edgar Rice Burroughs)


É um romance de autoria do escritor norte-americano Edgar Rice Burroughs. Publicado em 1915, é o segundo de uma série de vinte e quatro livros sobre o personagem Tarzan.

RESUMO

Após renunciar ao título de Greystoke em Londres, um triste Tarzan retorna a Paris. Seu amigo Paul D'Arnot, convencido de que o herói não vai conseguir assimilar as leis e regras dos homens, arranja para ele um emprego no serviço secreto francês.

Em missão na Argélia, Tarzan desbarata uma rede de espiões russos e faz amizade com uma tribo de beduínos. Mas trava conhecimento, também, com Nicholas Rokoff, um feroz inimigo. Rokoff acaba por atirá-lo ao mar, na mesma costa ocidental da África onde fora criado.

O homem macaco, então, junta-se à tribo Waziri em uma viagem à procura da cidade perdida de Opar, onde são capturados pelos seus habitantes, brutamontes semelhantes a feras. A Grã-Sacerdotisa de Opar, no entanto, é uma beldade cruel e lasciva chamada La, que se apaixona por ele e, em decorrência disso, recusa-se a entregá-lo em sacrifício ao deus sol.

Tarzan consegue fugir, mas o que ele não sabe é que sua adorada Jane, seu primo - e noivo de Jane - William Cecil Clayton, e o arqui-inimigo Nicholas Rokoff - disfarçado como o gentil Monsieur Thuran - também naufragaram na costa africana. Jane e William deixam um doente Rokoff numa palhoça e partem à procura de ajuda. Contudo, voltam a correr perigo, pois são caçados pelos selvagens de Opar, que procuram novas vítimas para seus rituais pagãos.

HISTÓRIA EDITORIAL

Escrita de dezembro de 1912 a 8 de janeiro de 1913, com o título de Monsieur Tarzan, a obra foi submetida à revista pulp norte-americana New Story como The Ape Man e publicada por esta em sete números, entre junho e dezembro de 1913, já com o título definitivo.

A primeira edição em livro saiu em 10 de março de 1915, pela editora A.C. McClurg.

No Brasil, o romance foi lançado pela Companhia Editora Nacional em 1933, como o número 7 da afamada coleção Terramarear, com quinze mil exemplares. Houve reedições em 1946, 1948, 1954, 1956, 1959 e 1968, em quantidades que variaram entre quinze mil, dez mil e cinco mil exemplares.

Ainda no Brasil, romance saiu em 1959 pela CODIL - Companhia Distribuidora de Livros, dentro de um lote de doze volumes com as aventuras do homem macaco. O artista Manoel Victor Filho ilustrou a edição.

QUADRINHOS

A primeira quadrinização foi na forma de tiras diárias, entre 3 de junho e 17 de agosto de 1929, com desenhos de Rex Maxon e roteiro de R. W. Palmer.

A primeira edição para revistas em quadrinhos é de autoria do ilustrador Russ Manning e do roteirista Gaylord Du Bois, tendo sido publicada nos Estados Unidos pela Gold Key (selo da Western Publishing) em fevereiro de 1966. A adaptação, bastante condensada, omite as aventuras na Europa e tem início com Tarzan já na costa africana. No Brasil, a história foi publicada pela EBAL em 1968, na coleção Lança de Prata, e reeditada em 1986 na revista Tarzan.

Entre abril e setembro de 1973, a DC Comics publicou sua adaptação, ilustrada e roteirizada por Joe Kubert. No Brasil, a EBAL editou a história no ano seguinte, enquanto a Devir relançou-a em março de 2011, com o título alterado para A Volta do Rei das Selvas. Mais fiel ao original, a aventura começa em Paris. A editora Dynamite Entertainment adaptou livro em Lord of the Jungle #9-14, publicada entre 2012 e 2013.

Em 1936, a Withman, selo da Western Publishing publicou uma adaptação para a série de livros ilustrados Big Little Books com desenhos de Rex Maxon.

CINEMA E TV

O romance foi vagamente adaptado para o cinema em The Revenge of Tarzan, de 1920, estrelado por Gene Pollar e Karla Schramm. Segundo os produtores, o novo título, decidido às portas da estreia, "é mais forte. É mais dramático. É como um soco".

O enredo do livro foi utilizado, em parte, no seriado em quinze episódios The Adventures of Tarzan, de 1921, com Elmo Lincoln e Louise Lorraine. O roteiro era composto ainda por elementos de Tarzan and the Jewels of Opar e "muita invenção". Lincoln tornou-se o primeiro Tarzan do cinema ao estrelar Tarzan of the Apes e The Romance of Tarzan, ambos em 1918.

O livro também teve serventia esporádica para o roteiro de Tarzan's Return, o piloto da telessérie Tarzan: The Epic Adventures, produzida entre 1996 e 1997. Estrelada por Joe Lara e sem Jane, a série teve vinte e dois episódios em sua temporada única.

Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Return_of_Tarzan