sexta-feira, 22 de março de 2024

Baú de Trovas 82


A vida é um túnel estreito
que à eternidade conduz.
- Só o amor nos dá o direito
ao desembarque na Luz.
A. A. de Assis
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Bilhete é sempre um recado
para ser dado escondido
a um alguém apaixonado
por outro alguém proibido!
Ademar Macedo
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Do passado, ouço a cantiga
que recorda, ternamente,
que há sempre uma rua antiga
nos velhos sonhos da gente...
Albertina Moreira Pedro
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As rosas do amor, colhi-as,
rosas de vários matizes...
Tenho hoje nas mãos vazias
saudades e cicatrizes.
Anderson Braga Horta
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Maria, só por maldade,
deixou-me a casa vazia:
dentro da casa, a Saudade
e na Saudade, Maria!
Anis Murad
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O Pinheiro mais parece
lá no fundo do sertão
um colono em triste prece
pedindo a Deus proteção.
Anita Thomaz Folman
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O dia em que não te vejo
é noite em meu coração;
e eu velo com o meu desejo
enquanto as horas se vão...
Antônio Francisco da Costa e Silva
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Mata a revolta em teu peito,
não a deixes florescer:
rio com pedras no leito
não pode alegre correr!...
Antônio Juraci Siqueira
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Não te aflijas, inda que
o agora em dor se resuma.
O homem sensato entrevê
a luz na mais densa bruma.
Antônio Oliveira Pena
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Eis um médico fardado
- que perfeito matador! -
quem escapar do soldado,
não escapa do doutor...
Antônio Sales
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Tropeiro da mocidade
galopando a solidão,
foste conquista, e és saudade
que deixa rastro em meu chão...
Aparecido Elias Pescador
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Ternura - ponte afetiva
construída de calor,
que serve, quando se avisa,
de passagem para o amor.
Aprygio Nogueira
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Em tudo existe um encanto:
é regra da natureza.
Alguns tentam, e no entanto,
não enxergam a beleza.
Arthur Thomaz
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Num simples verso se prova
este mistério profundo:
- Na pequenez de uma trova
cabe a grandeza do mundo
Batista Soares
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Singra os mares desta vida
nosso amor, forte veleiro,
bate a procela atrevida
e chega ao porto altaneiro!
Belarmino Franco
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Sorriso é mais que meiguice
e tem valor tão profundo...
Se toda gente sorrisse,
bem melhor seria o mundo!
Benedito Camargo Madeira
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Amor, palavra divina
que brota do coração;
ele conforta e ilumina
a estrada da salvação.
Benedito Ivo Pinto
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Bem feliz seria o mundo
se pudesse a humanidade
ter um lugar bem fecundo
onde plantasse a bondade.
Benedito Moreira de Carvalho
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Bom violão, que me acordas
ao luar do meu sertão,
que bem fazem tuas cordas
às cordas do coração!
Bento Rabelo
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Enxuguei seu lindo rosto
da lágrima que escorria,
mas não era… que desgosto,
por mim que você sofria,
Berenice Azevedo
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No tronco da gameleira
gravei teu nome, Nolasca,
sem prever que essa fruteira
todo ano perde a casca...
Bernardo Guimarães Filho
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A lua beija a favela...
A estrela no céu reluz...
- Meu bem, apaga essa vela,
o amor não quer tanta luz!…
Carolina Ramos
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Encontrei na minha trova
a vontade de escrever.
A paixão por coisa nova
faz a gente renascer.
Cecim Calixto
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A noite na minha rua
tem encantos sensuais...
sussurros chegam à lua...
na rua ficam os ais...
Cecy Fernandes de Assis
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Quando caminha apressado,
distraído e não me vê,
bem perto, quase a seu lado,
alguém sonha com você!
Cecy Tupinambá Ulhôa
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Nossa prova é tropeçar
e levantar em seguida
e de novo começar
e esquecer essa caída.
Célia de Oliveira
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É a lição mais repetida
fora da escola ou no estudo:
que mãe é fonte de vida,
que Deus é fonte de tudo!
Célia Guimarães Santana
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Aceito a sorte que tenho,
aplaudo a vida, de pé,
e sem revolta me empenho
em conservar minha fé!
Célia Higgins Ferreira
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Foi depois de tantas fugas
que acabei por entender
que sem pranto, dor e rugas,
ninguém aprende a viver...
Célia Lamounier de Araújo
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Noites negras... solidão...
Tarde demais para os dois!
Um sim anulando um não
e um talvez para depois...
Célia Maria Barbosa Rodrigues
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Transparente, a lua presa
ao azul, que o céu vestia,
imersa em tanta beleza
nem notava que era dia!
Célia Martins
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O orvalho que cai agora
nos sobejos da queimada,
traduz o pranto que chora
a Natureza arrasada!...
Clarindo Batista
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Meu bom São Pedro, permita,
à noite, um bom tempo, seco...
Com a sogra de visita,
pretendo dormir no beco.
Cleber Roberto de Oliveira
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Não lamento a vida e, em sonhos,
sempre faço renascer
destes meus dias tristonhos
a alegria de viver!
Cyrléa Neves
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Todo livro ,quando aberto,
é pólen, é flor, é fruto...
fechado: é sombra, é deserto,
é silêncio, é campa, é luto.
Cyro Armando Catta Preta
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Por um futuro de Paz
flores nós vamos plantando,
neste momento fugaz,
por onde vamos passando!
Cyroba Braga Ritzmann
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Demoras... e à luz do ocaso,
refém da angustia e do medo,
os meus relógios atraso
para fingir que ainda é cedo!
Dilva Maria de Moraes
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Ultrapassando as fronteiras
do sim, do não, do talvez,
nosso amor vence barreiras
e o ciúme não tem vez!
Dirce Montechiari
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Das ofensas, tenha calma;
revidar não ameniza,
pois a dor de nossa alma
só o perdão cicatriza,
Dirce Pinto Machado
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Se à noite a lua desponta
trazendo a luz da esperança,
na terra do Faz-de-Conta
eu me transformo em criança,
Diva Maria M. Rezende
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O orvalho beijando a flor
demonstra afetividade
que deve existir no amor
entre toda a humanidade.
Diva Veloso
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Com cautela... Sem conflito,
aprendo a lição do mar:
- foi contemplando o infinito
que eu aprendi a sonhar.
Djalda Winter Santos
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O poeta externa pouco
de sua imaginação,
o resto é um soluço louco
no fundo do coração.
Diomedes Santos
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Palavra triste é saudade
porque dói no coração
e lembra a felicidade
transformada em solidão.
Diva Veloso
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Amargurando os dissabores
dos seus amores dispersos,
o poeta esconde as dores
nas entrelinhas dos versos.
Djalma Mota
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Do que agitou nossas almas
restam sonhos calcinados,
cingindo as crateras calmas
de dois vulcões apagados.
Dorothy Jansson Moretti
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Quando me sinto estressado,
fugindo da realidade,
vou do presente ao passado
pelo túnel da saudade.
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho
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Cada vez que tento, em fuga,
mascarar o meu desgosto,
descubro mais uma ruga
a desmascarar meu rosto...
Edgard Barcellos Cerqueira
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Simpatia é quase amor,
suave e mágica atração.
É doce aroma da flor,
nos versos de uma canção!
Edite Rocha Capelo
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Os poetas e os pintores
trabalham na mesma lida,
Uns põem vida nas cores,
aqueles cores na vida!
Edith de Araújo Ribas
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Agora, na despedida,
chego à triste conclusão:
no xadrez da tua vida
em vez de rei, fui peão...
Edmilson Macedo
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Se os anos não são medidos
por quilos, ou coisa assim,
por que esses anos vividos
pesam tanto sobre mim?!
Edmundo Schwab
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Anoitece e cintilando
qual lantejoulas num véu,
essas estrelas brilhando
são rastros de Deus no céu!
Edna Gallo
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O poeta é só um sonho
da poesia mais seleta,
e a poesia, assim suponho,
é o ensaio do poeta.
Edna Valente Ferracini
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Nessa roupa provocante,
chamando a atenção do povo,
você fica semelhante
àquela tal... que põe ovo!
Eliana Palma
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A página amarelada
de um álbum, quase esquecido,
tem a lembrança velada...
De tanto tempo perdido.
Elisa Alderani
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Tantas vezes hei sofrido,
que desta vez conheci
que tudo ficou perdido
nas mãos em que me feri.
Emiliano Perneta
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Velha ponte do caminho
nossa história é parecida:
- Suportamos de mansinho
tantas pisadas na vida!!!
Ercy Maria Marques de Faria
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Longe de mim, ó tristeza...
Pinto o cinza como esteta,
da vida fruo a beleza:
- Sorte minha ser poeta!
Éstia Baptista Lima
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Partiste sem um aceno,
multiplicando meus ais.
Não quis teu mundo pequeno
meu sonho grande demais.
Eugênia Maria Rodrigues
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No mar revolto da vida,
sou uma pobre jangada
que sem barqueiro, perdida,
chega à praia destroçada!
Eugênio Carvalho Júnior
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Vemos Deus em todo canto;
no céu, na terra, no mar...
jamais é visto, no entanto,
por quem não quer enxergar!
Eugênio de Freitas
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Fácil falar em ternura,
quando se trata de amor...
Difícil é, na amargura,
ser terno, dentro da dor...
Eugênio Morato
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Ama a vida, simplesmente,
sem disfarce em seu caminho...
Quem ama a vida não sente
a dor de viver sozinho!
Eva Garcia
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Quis brincar o meu destino
com meus sonhos de ilusão:
– Deu-me um rosto do menino
e de um velho o coração.
Evandro Moreira
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Um fantasma se assanhou
em bater papos, tadinho...
nas mil vezes que tentou,
ficou falando sozinho!
Fernando Vasconcelos
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A distância é que nos mata
pois logo vem a saudade;
saudade – presença ingrata
da antiga felicidade.
Filemon F. Martins
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Cabelos soltos ao vento...
Pés de leve sobre a grama...
- A vida toda é um momento
no coração de quem ama!
Francisco Fortes
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Quem semeia põe mais vida
na vida de todo mundo:
transforma em flor e comida
a força do chão fecundo!
Francisco Jorge Ribeiro
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Quem busca conhecimento
descobre a sabedoria
e com breve movimento
enche a vida de alegria.
Francisco José Moreira Lopes
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Quando o sol se faz mais forte
e a chuva responde...não!
A silhueta da morte
se espraia pelo sertão. 
Francisco José Pessoa
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Seja palácio ou tapera,
piso de pedra ou de argila,
no lar onde o amor impera
até cascalho cintila!
Francisco Luzia Netto
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Mar e terra acasalados,
na sacrossanta medida,
fazem sal… sêmens sagrados,
para dar sabor à vida.
Francisco Neves Macedo
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Do amor não goza a poesia
quem a distância maldiz:
no tempo em que não te via
eu era bem mais feliz...
Gilka Machado
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Se ao céu não posso voar,
fico sorrindo às estrelas
e me contento em ganhar
a sorte de poder vê-las!
Gisele Bueno Pinto
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Aquela ponte que unia
nossas vilas ribeirinhas,
une, ainda, por magia,
tuas saudades e as minhas.
Gislaine Canales
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Se és veloz no pensamento,
no trânsito sê prudente.
Use o cinto, fique atento
mostre que és inteligente.
Glédis Tissot
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Se apenas o amor constrói.
não devemos esquecer,
que o ódio só nos destrói,
não nos deixando crescer.
Gleyde Costa
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A reflexão sempre cabe
de Sócrates, professor;
"Sabe o sábio que não sabe"...
Anotem ai, por favor!
Glice Sales Alcântara
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Eu guardei, há muitos anos,
numa caixa, meus brinquedos,
hoje eu guardo desenganos,
recordações e segredos.
Heládio Feitosa e Castro
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Tinha um corpo delicado,
era asa delta em menina.
Agora é um carro enguiçado
que não sai mais da oficina,
Helena Kolody
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Ó carreta, a nossa sorte
é bastante parecida,
quase no atalho da morte,
seguindo a estrada da vida!
Helenara
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A saudade é dor pungente,
mora no meu coração...
Saudade de tanta gente
faz parte da solidão,
Helena Scanferla
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Quando interrompo meus passos
com medo do anoitecer,
passeio pelos teus braços
onde é sempre amanhecer!
Hélio Castro
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Ciúme... será doença?
É zelo ou desconfiança
de quem, no amor vive, pensa,
perdido na insegurança...
Hélio dos Santos Pinto
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Caminho por uma estrada
sem nunca ver o seu fim;
e, de quebrada em quebrada,
deixo um pedaço de mim!
Hélio Gonçalves
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Sofre do velho à criança,
morre o gado e a plantação;
só não fenece a esperança,
quando há seca no sertão.
Hélio Pedro Souza
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Palhaço, visão querida,
dos meus tempos de criança...
velha saudade escondida,
no meu baú de lembrança!
Helvécio Barros
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Quem se perde em devaneios
não vê que o tempo, ao passar,
vai girando e, em seus volteios,
não volta ao mesmo lugar...
Hermoclydes Siqueira Franco
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Ao professor muito devo,
devo ao médico também.
Mas o livro é meu enlevo,
tudo que sei dele vem.
Hildemar Cardoso Moreira
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Quanto na vida sofri,
quanto pranto derramei.
Não foi somente por ti,
chorei foi por que te amei.
Ignez Freitas
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Teus olhos têm a magia
da nobre e verde esmeralda.
Fascínio que ludibria
o amor... sem véu ou grinalda.
Ilza das Neves
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Uma colcha de retalho,
só de lembranças de outrora,
é hoje o grande agasalho,
que aquece o inverno de agora.
Ilze de Arruda Camargo
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Eu te juro; há só verdade
neste amor grande e profundo,
que me traz felicidade
do tamanho deste mundo.
Ione Taglialegna
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- Conheço-a, - você dizia,
mas, creia que se enganou:
- conheceu a que sorria,
porém não a que chorou...
lonor Célia Freire Ramos
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Deu-me a sorte, sem piedade,
meu sonho por destruído
e uma absurda saudade
do que nunca foi vivido.
Iraci Pietrani
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As lembranças de nós dois
fui guardando nas caixinhas...
para descobrir depois...
que em verdade... eram só minhas!
Istela Marina Gotelipe Lima
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A saudade em nossa vida
dilacera o coração!
Mas... não dói como a ferida
da palavra Ingratidão! 
Jacinto Barbosa de Campos
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A poesia que desejo
tiro de mim como aquela
cantiga do realejo
se alguém roda a manivela…
J. G. de Araújo Jorge
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Sinto uma grande alegria 
e o alvo sempre persigo: 
conquistar a cada dia 
um novo e leal amigo.
Jessé Nascimento
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Dói demais, é muito triste
a cruel separação...
A revolta sempre existe,
onde existe a ingratidão.
João Batista Serra
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Se do barro somos feitos,
e ao barro retornaremos,
porque tantos preconceitos,
se iguais todos nós morremos?…
José Feldman
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– Musas divinas!... Ao vê-las,
no sonho que me seduz,
subo ao ninho das estrelas,
seguindo os rastros da luz!
José Lucas de Barros
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Eu sou pequeno, seu moço,
mas, quando tiro o chapéu,
minha alma estica o pescoço,
enxerga Deus lá no céu!
José Messias
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Sertão seco... Longo estio...
Em meio a paisagem triste
uma ponte... Mas o rio
infelizmente inexiste!
José Tavares de Lima
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A ponte tem dois destinos,
tanto leva, como traz,
leva e traz os desatinos,
mas também amor e paz.
Judite de Oliveira
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Se a revolta me alucina
e a solidão me consome,
a saudade sempre assina
seu nome sobre o seu nome!...
Leda Costa Lima
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Cai a tarde e a passarada
em gorjeios musicais
é orquestra desafinada
na algazarra dos pardais.
Licínio Antônio de Andrade
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Da sua casa ao cartório
apenas um quarteirão...
Dada a preguiça, o casório
se fez por procuração.
Lucília Alzira Trindade Decarli
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O porco acordou suando,
pois teve um sonho confuso:
- Sonhou que estava morando
com a porca... de um parafuso!
Luiz Montezi Evangelista
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Às vezes o mar bravio
dá-nos lição engenhosa:
afunda um grande navio,
deixa boiar uma rosa!
Luiz Otávio
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Seca: quanta desventura
enche a terra de tristeza!
O homem sofre, mas a cura
vem da própria natureza.
Mara Melinni Garcia
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A vida é, para os meus passos,
uma rua de tropeços ...
Mas, se é rua de fracassos,
também é ... de recomeços! ...
Marcelo Zanconato Pinto
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Acenda a luz da esperança
ante a angústia de um momento...
Com revolta não se alcança
o cessar de um sofrimento!
Maria Antonieta B. Dutra
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Tenho por certo, em verdade,
bem vivo, embora pungente
que a mais pungente saudade...
é aquela de alguém presente!
Maurício Friedrich
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Se um pai se entrega à bebida,
ao filho desencaminha.
O mau exemplo é na vida
pior do que erva daninha.
Milton Souza
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Sorrateira, foi chegando 
a danada da saudade;
meu coração machucando,
sem dó e sem piedade!
Nemésio Prata
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Indo por outros caminhos,
neste mundo, às vezes, rude,
vou fugindo dos espinhos,
pois das mulheres não pude!
Nilton Manoel Teixeira
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Subo o caule das ideias,
rumo à copa de Deus Pai;
operário, sem colmeias,
sou a abelha que se esvai.
Olivaldo Junior
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Nos extremos desta vida,
um contraste se percebe:
– A terra chora a partida
daquele que o céu recebe!
Osvaldo Reis
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Meu coração suburbano
tu conheces muito bem!
Tem muito do amor humano
que preenche o teu também!
Paulo Roberto O. Caruso
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Ainda guardo lembranças
de coisas não permitidas:
pedacinhos de esperanças,
restinhos de nossas vidas.
Professor Garcia
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No caminho sem atalhos
que leva ao teu coração,
feri meus pés nos cascalhos
que espalhaste pelo chão.
Renato Alves
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Nas serestas da lembrança
onde o orvalho enfeita a tela,
a minha ilusão te alcança,
mas a razão diz: - Cautela!!!
Rita Mourão
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É a rua da minha infância!
Revejo a casa... ouço o trem...
E cismo, em sonho e à distância,
que ela envelheceu... também!
Therezinha Dieguez Brisolla
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Na vida, eu prefiro o jogo,
não de azar, de sedução...
e, em vez de cartas, o fogo
que incendeia uma paixão.
Vanda Alves da Silva
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Que bom seria um enlace
entre a mente e o coração:
o que a gente desejasse
também quisesse a razão!
Wanda de Paula  Mourthé
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quinta-feira, 21 de março de 2024

José Feldman (Analecto de Trivões) 24

 

A. A. de Assis (Quem pergunta aprende)

Já lhes falei do meu primo padre Augusto. Eu tinha uns 12 anos e o ajudava nas missas e ladainhas. Uma das tarefas era balançar o turíbulo, objeto litúrgico utilizado para lançar incenso. Achava chique essa palavra – turíbulo. Um dia perguntei ao padre qual a origem dela. Pacientemente, explicou: “É uma palavra de origem grega, que chegou até nós pelo latim ‘turibulum’”. Não resolveu nada. Explique melhor, eu pedi. Ele riu e continuou a aulinha: “No grego temos ‘thyos’ (em latim ‘tus’, ‘turis’) = incenso + ‘ballein’ (em latim ’bulum’) = lançar, atirar, arremessar. Logo, ‘turíbulo’ significa ‘lançador de incenso’. Satisfeito?”. Na verdade, continuei meio boiando e só bem mais tarde entendi melhor essa história. Mas fiquei todo prosa por haver enriquecido o meu almoxarifado cultural. 

É muito bom ter a quem fazer perguntas, alguém com quem debater ideias, tirar dúvidas, conferir alguma informação. Acho bonito, por exemplo, ver um médico trocando opiniões com seus colegas sobre o estado de um paciente. Igualmente quando vejo um advogado ligar para outro advogado para esclarecer alguma sutileza jurídica. Em todas as profissões a ajuda mútua irmaniza o grupo e todos crescem na medida em que permutam conhecimento. 

Na “Folha do Norte”, onde trabalhei durante 12 anos, era comum aparecerem dúvidas e a solução natural era trocar figurinhas com os colegas. Meus consultores mais frequentes eram o Elpídio Serra e o Antônio Moscardi. Em alguns momentos chegávamos a pedir uma luz ao amigo Dr. Horácio Raccanello, cujo escritório de advocacia ficava em frente à nossa redação. Em textos relacionados com religião, nossos socorristas habituais eram o padre Orivaldo e, muitas vezes, o próprio Dom Jaime. 

Lembro-me também, com muita saudade, dos bons tempos em que trabalhei como professor no Departamento de Letras da UEM. Vira e mexe um de nós se via à volta com algum probleminha de linguagem. E que legal era a discussão em busca de soluções, ainda mais porque eu vivia cercado de sábios: Walter Pelegrini, Baldin, Juliano, Hiran, Maria Céli, Jeanette, Marilurdes, Leonildo, Ângela, Marly, Maria Ignez, Thomas, Boing, Dionísia, Simara, Lourdinha, Sônia, Aglaé, Rosa, Aécio, Bacelar, Tadeu, Renilson, Odilair, Célia, Yara, Márcia, Regina, Adalberto, Salvador, Pedro, Alice, Apolo. Um supertime. (Perdoem-me se a memória é falha e deixei de citar algum nome). 

Hoje, aposentado, sinto uma falta enorme daquele fascinante convívio. No Google acho respostas para a maioria das perguntas. Mas não é a mesma coisa. Falta calor humano. 

Ainda bem que para discutir dúvidas sobre linguagem e literatura, que são as mais comuns no meu modesto cotidiano, tenho muitos amigos e amigas poetas em Maringá e espalhados Brasil afora. Quero saber se um verso está certinho? Se uma palavra está bem colocada? Se uma ideia está clara?... Fácil. Disparo emails para alguns/algumas deles/delas e logo o problema está resolvido. 

Enquanto eles e elas não se cansarem, continuarei perguntando. Perguntando e aprendendo. 
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá)

Fonte: Texto enviado pelo autor 

Professor Garcia (Álbum de Haicais) – 1


O Haicai também se escreve Haiku e Haikai, é um poema de origem japonesa que por definição traduz-se como brincadeira graciosa e harmoniosa. Essa forma poética foi criada no século XVI e tornou-se muito popular pelo mundo afora. No Brasil temos muitos concursos de Haicais anualmente, difundindo esse gênero poético por todos os recantos do nosso país, onde há valorosos e espetaculares haicaístas.
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A bênção de Deus
nos traz os sonhos da paz;
são os sonhos meus!
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As flores se vão;
a primavera se foi,
mas meus sonhos, não!
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As folhas se vão;
mortas, secas, já sem vida,
no fim da estação!
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A lua no lago,
de repente ela se assusta
tremendo de frio!
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A noite trevosa,
ao ver a luz das estrelas,
finge-se nervosa!
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A tarde compõe
um cenário assustador,
cheio de saudade!
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Duas rubras rosas:
Ao nascer e ao por do sol,
como são formosas!
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Esses teus perfumes,
trazem-me encantos do amor
cheios de ciúmes!
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Estrela-do-mar,
sinto-me feliz ao vê-la,
comigo a sonhar!
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Já velha e cansada,
a abelha sobre a colmeia,
triste e abandonada!
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Leitura é magia;
quem lê, dá asas aos sonhos
de paz e alegria!
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Linda flor do campo,
o vento que te balança,
rouba teu perfume!
= = = = = = = = =

Nas conchas do mar,
ouço sussurros, lamentos,
de alguém a chorar!
= = = = = = = = = 

Na tarde dengosa,
uma nuvem cachimbando
muda a rubra rosa!
= = = = = = = = = 

O livro te espera
sempre de braços abertos
para te abraçar!
= = = = = = = = = 

O orvalho da rosa,
é qual lágrima que cai
dos olhos do céu!
= = = = = = = = = 

Os livros abertos,
são convites para a paz
nos dias incertos!
= = = = = = = = = 

O sol vagabundo,
de manhã cedo, bem cedo,
sorri para o mundo!
= = = = = = = = = 

Roseiras do amor,
tens os teus lábios beijados
por vento impostor!
= = = = = = = = = 

Seguem dois velhinhos,
na solidão, de mãos dadas,
por velhos caminhos!
= = = = = = = = = 

Senhor, quem há de,
embalar meus velhos sonhos,
cheios de saudade?!
= = = = = = = = = 

 Sonhos que se vão:
ao longe um carro de boi
lembra o meu sertão!
= = = = = = = = = 

Velho calendário,
encurtas dia após dia,
nosso itinerário!
= = = = = = = = =

Velho carrilhão,
tu tens em tuas batidas
paz e solidão!
= = = = = = = = = 

Vê nos arrebóis
que, o Sol não muda a rotina.
Somos como os Sóis!
= = = = = = = = =

Violão a sonhar,
de boca aberta cantando
odes ao luar!
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Fonte> Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020. Enviado pelo autor.

Rachel de Queiroz (O Amistoso)

Os visitantes ou adversários, convidados para aquela partida amistosa do chamado esporte bretão, chegaram festivamente num caminhão ornado de arcos e guirlandas. Sim, no começo tudo são flores. Flores e palmas, discursos, garrafas de cerveja, e os cartolas, que se distinguem dos demais presentes pelos bonitos ternos domingueiros, gravatas, chapéus de seda, como convém a legítimos paredros
(dirigente de time de futebol).

Não havendo no campo instalações de vestiário, os craques descem do carro já devidamente uniformizados — camisa de azul-turquesa, meias e chuteiras, sim, chuteiras regulamentares, que isso é jogo de fato e não pelada de moleques. Deficiências, se as há, é no campo propriamente dito, que seria ótimo se não sofresse de uma depressão bem no seu centro geométrico, exatamente onde se costuma riscar aquele grande círculo de giz. E como essa praça de esportes se situa numa baixada, sempre que chove apresenta o aspecto de um prato fundo cheio de água — e quando não é água é lama.

Naquele dia, felizmente, era apenas lama, e pouca. E sob os aplausos da assistência, tanto mais animada porque gratuita (ainda é um problema a resolver, esse da assistência em campo aberto, sem possibilidades de bilheteria). Juiz, jogadores, cartolas, reúnem-se um pouco de lado, pois que os paredros estão de sapatos novos e aquela supracitada lama os assusta um pouco; faz-se o sorteio, os visitantes pegam o lado sul que é o melhor, o presidente dos locais dá graciosamente o primeiro chute. Começou a partida!

1.° TEMPO

Xaveco, mulato, brevilíneo de canelas arqueadas, revela imediatamente a sua classe de grande artilheiro: tem fôlego, tem velocidade, tem cada tiro direito ou canhoto — tanto faz — que arranca aplausos frenéticos da torcida. Outra grande figura em campo é o goleiro dos visitantes. E o jogo vai indo muito bem, bola para lá e para cá, passe, cabeçada, chute a gol, gol — não, gol não, passou por cima da trave. O couro vai para Bira, Bira perde para um galalau amarelo dos "estrangeiros", o galalau perde para Zico, Zico passa para Lucas, que perde para o capitão dos visitantes, um louro de gorro de meia. Aí Xaveco interfere na raça, toma a bola, o louro tranca, Xaveco dá-lhe uma carga, o louro acha ruim, revida, o juiz apita, os dois se agarram e por trás chega Bira, que é gordo e violento, e larga um pontapé no terço inferior da coluna vertebral do louro. Fecha-se o tempo, o juiz apita, a assistência pula a cerca e invade o campo, o pau começa a comer, mormente nas costas dos forasteiros, o juiz retira-se e se encosta à cerca, aguardando aparentemente que os ânimos serenem. Quem interfere são os paredros, austeros e educados, com as suas gravatas ao vento, chamam asperamente os craques à ordem, expulsam a assistência, interpelam o juiz, que relutantemente volta ao seu posto; aos poucos os craques se acomodam, o juiz apita, os paredros recolhem-se. O jogo recomeça.

Mas parece que o incidente estimulou os visitantes, que dão para jogar milhões. São uns húngaros. O time local perde terreno, o galalau passa a marcar Xaveco, que não dá mais uma dentro. E o diabo do louro tornou-se proprietário do balão, marca um gol de saída, depois o seu "secretário", um crioulinho ligeiro que é uma faísca, marca o segundo tento; e aí Xaveco, desesperado (talvez dentro da área penal), atira uma canelada terrível no galalau, derruba-o, avança no crioulo, larga-lhe o salto da chuteira por cima do dedão, o crioulo grita, o louro acode, Xaveco já completamente louco lhe dá um tapa na cara, o juiz apita, uns gritam falta, outros gritam pênalti, e um engraçado diz que foi só mãos, já que Xaveco apenas meteu a mão na lata do loureba (termo pejorativo: indivíduo alourado).

O juiz continua apitando, parece que vai mesmo marcar o pênalti. E um torcedor local puxa o revólver, dizendo que aquele pênalti só se for passando por cima de algum cadáver. O juiz nessa altura se declara cheio com a partida e larga o apito ali mesmo. Um paredro fala que ele será expulso do quadro de árbitros e o juiz dá troco, que quadro de árbitros uma ova. Mas um dos bandeirinhas voluntários logo se apossa do apito, passa a dirigir o pessoal com surpreendente autoridade e, quando se vê, o jogo começa outra vez. Vai macio, vai de valsa, é um minueto, até que consultados os cronômetros verifica-se que acabou a primeira meia hora, passando-se ao recesso para em seguida dar início ao

2 ° TEMPO

que não houve, segundo passo a expor. Pois não vê que no Distrito havia uma queixa contra Bira — queixa dada por certa donzela que deixara de o ser por artes do craque. Bira escondera-se e só agora aparecia em público, atendendo a apelos da torcida, por tratar-se de amistoso importantíssimo. Mas a polícia, que não tem bandeira, aproveitara a ocasião e, antes que o réu pirasse, dava-lhe voz de "esteje preso".

A assistência, entretanto, que de nada sabia, cuidou que a prisão se prendia à queixa dos visitantes por causa do pontapé de há pouco. E vendo Bira ser arrastado campo a fora, irrompeu num sururu dos diabos, vaiando as visitas com buus e nomes feios; as quais visitas, que tomavam Coca-Cola encostadas à cerca, vendo-se atingidas não só pelos doestos (insultos) como por pedaços de pau e tijolo, revidaram com as garrafas de refrigerante. O tempo fechou outra vez. Os polícias largaram o preso e se meteram no conflito. E quando os de fora começavam a apanhar feio, o motorista deles teve uma ideia: encostou o caminhão bem perto e tocou a buzina. A turma entendeu logo (ou quem sabe já era manobra habitual em "amistosos"?) e de um em um foram deslizando da briga e subindo para o carro. O que sei é que, quando os locais deram pela coisa, os inimigos já partiam numa nuvem de poeira, abandonando na pressa um dos seus paredros, malferido, com o sangue escorrendo do nariz e o belo terno roto.

Bira, igualmente, aproveitara a confusão para ir saindo de manso; agachado numa moita, lá em cima do morro, ficou a espiar o tintureiro chegar, encostar e, de um em um, recolher os remanescentes da refrega. E só saiu do esconderijo tarde fechada, quando no campo completamente deserto uma garça vinda do Jequiá sobrevoava o alagado, bicando restos das flores do buquê ofertado pelos visitantes.


Fontes:
O Melhor da Crônica Brasileira. RJ: José Olympio, 2000. Publicado originalmente no "A Ilha", em 1954.

Emílio de Meneses (Últimas Rimas)

TARDE NA PRAIA
A Leal de Souza

Quando, à primeira vez, lhe vi a grandeza,
Foi nos tempos da longe meninice.
E quedei-me à mudez de quem sentisse
A alma de Pasmos e terrores presa.

Depois, na mocidade, a olhá-lo, disse:
É moço o mar na força e na beleza!
Mas, ao dia apagado e à noite acesa,
Hoje o sinto entre as brumas da velhice.

Distanciado de escarpas e barrancos,
Vejo-o a morrer-me aos pés, calmo, ao abrigo
Das grandes fúrias e os hostis arrancos.

E ao contemplá-lo assim, tristonho digo,
Vendo-lhe, a espuma, os meus cabelos brancos:
O velho mar envelheceu comigo!
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A MORTE DA TORRE
A Coelho Neto

Vetusta catedral que, ao tempo, te esborcinas,
Choras a torre audaz que aos céus erguendo a agulha
Os mistérios e os bens de que a igreja se orgulha,
Do alto mostrava aos fiéis, nas sonoras matinas.

Já, de ti, longe vão as práticas divinas
Com que davas ao incréu a sagrada fagulha
E inda julgas ouvi-la em fragorosa bulha,
A oscilar no teu flanco e a desfazer-se em ruínas.

Abateste, eu me lembro, à tarde, de repente,
Doirando, no clarão de um último arrebol,
O pó que te envolveu sutil e refulgente!

Torre morta! Afinal, do orgulho, no crisol,
Tombaste amortalhada, ampla e gloriosamente,
No purpúreo esplendor da agonia do sol!
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ENVELHECENDO
A Luiz Murat

Tomba às vezes meu ser. De tropeço a tropeço,
Unidos, alma e corpo, ambos rolando vão.
É o abismo e eu não sei se cresço ou se decresço,
À proporção do mal, do bem à proporção.

Sobe às vezes meu ser. De arremesso a arremesso,
Unidos, estro e pulso, ambos fogem ao chão
E eu ora encaro a luz, ora à luz estremeço.
E não sei onde o mal e o bem me levarão.

Fim, qual deles será? Qual deles é começo?
Prêmio, qual deles é? Qual deles é expiação?
Por qual deles ventura ou castigo mereço?

Ante o perpétuo sim, e ante o perpétuo não,
Do bem que sempre fiz, nunca busquei o preço,
Do mal que nunca fiz, sofro a condenação.
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ANTERO
A Félix Pacheco

Eu quisera saber em que horrendo limite,
Em que fronteira atroz, em que raia do mundo,
Está o ponto ante o qual, sem que a tortura o agite,
O teu gênio se esvai como um Deus moribundo.

Senti-te crente um dia. Indeciso senti-te
E, afinal, te senti como quem busca o fundo
Das coisas e obedece a um sinistro convite,
Da descrença imergir no pélago iracundo.

Não inspiras temor, mas não há quem te vença.
Por orgulho, és humilde e, na humildade, és forte.
Na imensa revolta e és a piedade imensa.

Morte, amor, crença ou vida, a quem quer que te exorte,
Dizes: Sou mais que a vida e sou menos que a Crença;
Muito maior que o Amor, pouco menor que a Morte.
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FLOR LUTUOSA

Natacés! Natacés! Meu dote encanto
Que ameigaste, gentil, meus gestos brutos
E me inflamaste, em rápidos minutos,
O ininflamável coração amianto,

De onde essa treva que o teu corpo santo
Assim reveste de pesados lutos?
Porque esses olhos negros quando enxutos
Ficam mais negros úmidos de pranto?

De luto ao ver-te, nem eu sei que sinto.
Não sei se é ver fulgir o halo de um astro,
Dentro de escuro e tétrico retinto.

Creio, seguindo o teu saudoso rastro,
Que vejo um cofre de ébano retinto
Resguardando uma estátua de alabastro!
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MELANCOLIA

Quanta gente talvez no mundo existe
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa.
Raimundo Correia

Pelos males e pelas desventuras,
Com que o destino nos foi tão cruel,
Procuramos em nossas mútuas juras,
Atenuar o travor do nosso fel.

Antefruindo, além, horas futuras
No calmo gozo de um ideal vergel,
Esquecemos passadas amarguras,
O beijo impuro ou a carícia infiel.

Mas por sofrer ainda os vis apodos
Dos que me não conhecem o sofrer,
Vivo a fingir audácias e denodos.

Pensam, ao ver-me o alegre parecer,
Que tenho o riso que ambicionam todos,
Em vez do pranto que não quero ter.
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VITÓRIA-RÉGIA

À tona ingrata e hostil de tétrica palude,
Abre, gloriosamente, a impoluta corola
E esplende, no vigor da vida e da saúde,
Na região que um mortal sopro de peste assola.

Grande como a bondade e alva como a virtude,
Na miséria de em torno ela é a radiante esmola
De uma alma vegetal que em toda plenitude
Do mal que a quer poluir, mais se apura e acrisola.

Bendito resplendor da flora brasileira!
Ela, Senhora, eu sei: dessa voss'alma egrégia,
E o símbolo perfeito, é a expressão verdadeira ...

Fê-la rainha a ciência e, ao vê-la, a musa elege-a
Como suprema flor, de entre todas primeira, -
Rival de Vós que sois como a Vitória-Régia.

Fonte: Menezes, Emílio de. “Últimas Rimas”. In Obra reunida. RJ: José Olympio, 1980.

Estante de Livros (“O Dia em que a Muiraquitã virou Gente”, de Francisco Sinke Pimpão)

Quando um escritor escreve um romance, ele faz um ofício de fé, pois uma vez lançada a idEia, por meio de enredo há muito tempo engendrado, não a segura mais, pois a palavra é mais forte do que um tiro de canhão ou o ferimento de um punhal, fere aqui, ali, acolá e continua ferindo sempre. Por isso, ao se tomar uma iniciativa de tal ordem, há que se ter o cuidado para que ela seja o portador da paz, concórdia e harmonia, levando a mensagem diretamente aos corações dos leitores. Em outras palavras, o autor deve ter em mente que lançar um livro é como mandar um filho para a guerra, através do mar proceloso.

A trama está bem ordenada, de forma a prender a atenção e o interesse do leitor. No conteúdo, o livro transmite preciosas lições de vida, úteis a todos, acima de tudo pelo poder dos exemplos.

O novel romancista, possuidor de notáveis atributos intelectuais, oferece aos leitores uma agradável e profícua leitura. Oxalá seja esta a primeira de muitas obras literárias. Parabéns ao autor, pela qualidade de seu trabalho.
(Valter Martins de Toledo)

O livro conta a história de João Batista Souza Lino Sotto Maior, filho de imigrantes portugueses estabelecidos no Brasil em fins do século XIX, tradicional família ligada ao ramo da tecelagem. Inteligente, bem educado e culto, João decide ser médico a tomar a frente dos negócios da família. A princípio contrariado, seu pai vê com orgulho o sucesso e o reconhecimento do filho, no Brasil e no exterior, como um grande cirurgião. Uma tragédia pessoal vai mudar de maneira drástica o destino desse homem apaixonado pela vida e pela profissão. Abandonando tudo que construíra e deixando de lado tudo aquilo em que acreditava, João vai se embrenhar e buscar refúgio nos confins da Amazônia, muito distante daquilo que comumente chamamos civilização. É nesse cenário, povoado por lendas e histórias que o povo da região ribeirinha acredita que João vai viver sua maior aventura. Da resistência ao passado, que o transformara num homem rude e cético, ao reencontro com a vida e com o amor, João verá, mais uma vez , seu destino ser mudado pela presença de uma mulher; menina-moça inocente e pura, que irá confrontá-lo com suas dores, pecados e mazelas.
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Francisco José Sinke Pimpão, nascido em Curitiba no ano de 1953, é Bacharel em Administração e sócio de uma empresa de consultoria. Nos últimos anos tem-se dedicado ao estudo e aplicabilidade da Gestão de Processos nas Organizações, fruto de 27 anos de atuação no mercado. Com pós-graduação em Marketing e tendo concluído diversos cursos no Brasil e exterior, escreveu diversos artigos publicados em livros e revistas especializadas. Atualmente é redator e coordenador de web sites.

Fontes:
– Francisco Sinke Pimpão .O Dia em que a Muiraquitã virou Gente. Curitiba: Pro Infanti, 2009.