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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Zé Lucas, Ademar Macedo e Prof. Garcia (Um Debate em Setilha Agalopada) Parte 3

61 - Zé Lucas
O que mostra a verdade cristalina
é que a vida, na terra, é transitória;
as conquistas que às vezes nos encantam
pouco ou nada resistem como glória,
mas ainda acredito que a poesia
não se acaba da noite para o dia
e há de ter algum peso em nossa história.

62 – Ademar
A poesia marcou a minha história
povoando o meu mundo de alegria
através da divina inspiração
que o “Poeta Maior” sempre me envia;
tendo o verso e a poesia como arte,
vibro ao ver o meu nome fazer parte
do fantástico mundo da poesia.

63 - Prof. Garcia
Tudo quanto na vida a gente cria
tem o santo mistério divinal,
porque vendo a poesia em todo canto,
e a beleza do reino universal;
acredito que Cristo foi poeta,
e escreveu a poesia mais completa
na lapela da aurora matinal.

64 - Zé Lucas
A poesia mais bela e original
há na Bíblia, e mil vezes eu já li,
na harmonia do Cântico dos Cânticos
e nos salmos bonitos de Davi,
mas, em termos de amor e de obra extrema,
no Sermão da Montanha encontro o poema
mais profundo e grandioso que já vi.

65 – Ademar
Emoções que na vida eu já vivi
não previa o mais sábio dos profetas;
pois eu que era na vida um sonhador
vejo agora, alcançando minhas metas
que em mim nasce a mais pura da certeza
de que tudo que tem de mais beleza
Deus coloca na mente dos poetas.

66 - Prof. Garcia
Das belezas da vida, as mais completas,
que Deus fez neste mundo de etiquetas,
uma delas, foi nossa inspiração,
outra foi os encantos das ninfetas;
e de todas a mais surpreendente,
foi pintar tantas cores no nascente
e nas asas das lindas borboletas.

67 - Zé Lucas
Quanto é grande a beleza dos planetas
e de todos os corpos siderais!
Ninguém mede a distância das estrelas
nem o brilho existente em seus fanais,
porque a máquina humana é limitada,
porém sabe que tudo é quase nada,
comparado com Deus, que é muito mais.

68 – Ademar
Cada verso de amor que a gente faz
traz no seu nascedouro uma emoção,
fabricada por Deus em nossa mente
e que deixa pra mim uma lição:
Toda estrofe que eu faço e que escrevo
tem palavras de amor, carinho, enlevo
proferidas por nós, numa oração.

69 - Prof. Garcia
Quando eu vejo dos astros, a união,
circulando em perfeita simetria,
eu pergunto a mim mesmo, por que nós,
não vivemos assim, no dia-a-dia,
abraçados à própria natureza,
respeitando de Deus tanta grandeza
e embriagados de paz e de harmonia!

70 - Zé Lucas
Não há falha nas obras que Deus cria:
o relógio do espaço, sem ponteiro,
marca o tempo do giro planetário
sem errar um minuto em seu roteiro,
e a ciência dos homens cambaleia,
porque luta e não faz um grão de areia,
e em seis dias Deus fez o mundo inteiro.

71 – Ademar
Ao poeta que é um vate verdadeiro,
a ele nada na vida o desanima,
pode até lhe faltar inspiração
e fugirem palavras que dão rima;
mas poeta que é bom se intensifica
e montanhas de verso ele fabrica
sem comprar nem faltar matéria prima.

72 - Prof. Garcia
Se no verso, algum dia faltar rima,
faltarão as canções das alvoradas;
nunca mais vão se ouvir os bandolins
nem os vates cantando nas calçadas,
e o murmúrio do choro das cascatas,
calará as antigas serenatas
acalanto das lindas madrugadas.

73 -Zé Lucas
Se perdermos o dengue das toadas,
o sertão com certeza vai chorar,
porque o som das violas já não vai
levar ritmo ao quadrão da beira-mar
e, no meio de tantos dissabores,
se este mundo calar os seus cantores,
há de ter a tristeza em seu lugar.

74 – Ademar
Se algum dia o poeta se calar,
calará para sempre a natureza.
Passarinhos não cantam mais na mata
o sertão perderá sua beleza;
e até Deus em respeito ao menestrel
mandará que uma nuvem lá do céu
chore prantos molhados de tristeza.

75 - Prof. Garcia
Eu não creio, que a santa natureza,
por um gesto de pura rebeldia,
procedesse do jeito que procedem
os tiranos, em sua covardia;
acabando os jardins, matando as flores,
mataria os poetas trovadores
e o reinado da santa poesia!

76 - Zé Lucas
Nesse nosso universo de poesia
poderemos viver bastante calmos,
porque dele os bons ventos não se afastam
nem sequer a distância de dois palmos.
Além disso, a poesia é tão divina,
que na Bíblia Sagrada Deus a ensina
pelos versos dos cânticos e salmos.

77 – Ademar
É preciso entender todos os salmos
e saber na verdade o que nos diz.
A palavra de Deus é muito sábia
mas já vi gente grande, e até juiz
enganando o seu próprio sentimento
e escondendo de si seu sofrimento,
mente ao mundo, fingindo ser feliz.

78 - Prof. Garcia.
Tudo quanto Deus fez, me faz feliz,
e eu aceito a palavra de Jesus,
porque sinto na voz dos mandamentos,
que esta força sagrada é minha luz;
e este fardo pesado que carrego,
pesa menos, nas costas quando eu pego
na mão santa de Deus, que me conduz!

79 - Zé Lucas
Satisfeito, carrego a minha cruz
com a estrela da fé dentro da mente.
Vou lutar pra vencer os atropelos
sem temer o que esteja pela frente.
Sei que a senha da morte não tem prazo,
mas, enquanto não chega o meu ocaso,
sigo olhando pra luz do sol nascente.

80 – Ademar
Agradeço ao Deus Pai Onipotente
pelo dom que me deu, de versejar,
pela Fé que me ampara e me sustenta
pela força que eu tenho de lhe amar;
agradeço por tudo o que me deu,
pois cheguei hoje em vida ao apogeu
que somente os poetas vão chegar.

81 - Prof. Garcia
Foi Deus Pai, que nos fez tanto sonhar,
descobrir no repente a paz divina,
mesmo que nos momentos desiguais
nós sejamos iguais na própria sina;
porque sonho, que é sonho de poeta,
só termina da forma mais completa,
mas a essência do verso não termina.

82 - Zé Lucas
Não podemos trilhar pela rotina
da mesmice formal que nada diz;
é preciso pensar mais colorido,
retratando, dos campos, o matiz,
porque neste labor que às vezes cansa,
manter vivas as chamas da esperança
faz a vida mais bela e mais feliz.

83 – Ademar
Ninguém vive no mundo mais feliz
do que aquele que vive de poesia,
e eu estou inserido neste mundo,
no real e também na fantasia;
pois no verso eu encontro o meu alento,
produzindo o meu próprio sentimento,
eu fabrico emoções a cada dia.

84 - Prof. Garcia
Tudo quanto na vida a gente cria,
tem alguém dando nó nos nossos laços,
se escrevemos por linhas tortuosas
há um mistério que alinha os nossos traços;
se a mensagem sai pura e cristalina,
acredito que seja a mão divina
corrigindo e guiando os nossos passos.

85 - Zé Lucas
Quando nós encontramos embaraços
e a planilha do verso sai malpronta,
porque erramos as peças do poema
com palavras sem nexo e frase tonta,
Deus apruma o martelo em nossa mão,
dá um toque de pura inspiração,
bate o prego do verso e vira a ponta.

86 – Ademar
Todo verso que eu faço é Deus que apronta,
como apronta uma obra o bom pedreiro,
passa a régua, a colher, e bota o prumo,
dá idéia do início ao paradeiro
e não deixa faltar inspiração;
sai escrito por minha própria mão
mas é Ele quem diz todo o roteiro.

87 -Prof. Garcia
Quando eu quis embarcar neste veleiro,
enfrentando do verso o mar bravio,
disse a mim, como quem diz ao destino:
vou em frente e de nada desconfio;
mas agora enfrentando os dois extremos,
fiz da força dos braços meus dois remos
nas tormentas de um grande desafio.

88 - Zé Lucas
Na vertente que anima nosso trio,
já não sei em que mundo desemboque;
tenho medo que falte pontaria
para o tiro certeiro do bodoque,
e por isso me arrisco num palpite:
se a poesia não fosse sem limite,
qualquer dia esgotava o nosso estoque.

89 – Ademar
O Poeta na terra sente o toque
das palavras que Deus do céu transmite.
Já nascemos portando os dons divinos
e não tem por aqui quem nos imite,
acredite poeta, tens razão;
eu também já cheguei a conclusão
que a poesia não tem nenhum limite.

90 - Prof. Garcia
Eu não quero arriscar nenhum palpite
nem dar provas do nosso proceder;
de manhã, nossa vida se renova,
mas à tarde, ela volta a entristecer;
é o momento em que a musa soluçando
se despede do dia e sai cantando
badaladas pra noite adormecer.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Zé Lucas, Ademar Macedo e Prof. Garcia (Um Debate em Setilha Agalopada) Parte 2

31 - Zé Lucas
Muito moço, me lembro, certo dia,
os ciganos estavam se arranchando;
o famoso Chatô, com o violão,
Marcelino, era o chefe, no comando,
e, num simples olhar e doce frase,
uma jovem cigana quase, quase
me puxava pra dentro do seu bando.

32 – Ademar
Meu poeta, eu também quase debando,
e só não debandei porque não pude;
eu não tinha talento para o circo
e isso fez eu tomar tal atitude;
esse amor que nem era de verdade
eu guardei pra lembrar e ter saudade,
dos amores da minha juventude.

33 - Prof. Garcia
Eu confesso não ter tido a virtude
de poder cultivar na flor da idade,
os amores ciganos tão sonhados
ao florir da mais tenra mocidade;
mas eu juro, que guardo por lembrança,
as paqueras do tempo de criança
num baú carregado de saudade.

34 - Zé Lucas
De trabalho foi minha mocidade:
conheci a pancada da marreta,
colhi safras de milho e de algodão,
cavei chão de alavanca e picareta,
mas a escola explorou a minha mente
e ensinou-me a ser mais independente,
no manejo do mouse e da caneta.

35 – Ademar
Escorado no topo da muleta,
eu me fiz um poeta e trovador;
meu passado de atleta e de boêmio
para mim, não foi nada alentador;
mas depois do meu trágico acidente,
encontrei na poesia e no repente
o remédio eficaz pra minha dor.

36 - Prof. Garcia
Sempre fui um eterno sonhador
dos encantos febris da meninice,
não consigo esquecer de minha infância
nem da força de tanta peraltice;
por capricho inda trago na memória,
bem guardado o registro desta história
que transformo em poemas na velhice.

37 - Zé Lucas
Eu daria três quartos da velhice
por um quinto da minha mocidade;
não que a vida atual não seja boa,
mas porque, nos meus vinte anos de idade,
tinha força e saúde como um touro
e hoje, desse belíssimo tesouro,
não disponho de um terço da metade!

38 – Ademar
Nos meus quase sessenta anos de idade
descobri com minha alma enternecida
que nos versos que eu fiz a vida inteira
encontrei na poesia uma guarida,
um sentido maior pra o meu amor,
o remédio eficaz pra minha dor
e um alento pra toda minha vida.

39 - Prof. Garcia
Eu queria vencer esta corrida
sem estresse e passando pelos flancos,
mas o tempo é carrasco e não perdoa
bate duro, me dando solavancos;
todo dia provoca o meu desgosto,
costurando outra ruga no meu rosto
e aumentando estes meus cabelos brancos.

40 - Zé Lucas
Muitas vezes, a trancos e barrancos,
as pessoas se perdem nos caminhos;
descuidadas da vida, se arrebentam
em abismos de pedras e de espinhos,
e além disso, sem fé a protegê-las,
perambulam em noites sem estrelas
e lamentam que os dias são mesquinhos!

41 – Ademar
Muletando eu irei pelos caminhos
cada dia mais lento... devagar,
carregando o meu fardo de doenças
e sabendo que Deus vai me curar...
nesta vida tão cheia de distâncias,
eu envolto nas minhas inconstâncias
não acerto os caminhos de voltar.

42 - Prof.Garcia
Mesmo assim todos temos que lutar,
porque Deus, sabe tudo quanto faz,
se ele fez este mundo tão bonito
a doença ele cura que é capaz;
Jesus Cristo nos deu trevas e luz,
também fez cada um com sua cruz,
mas a cruz que carrega pesa mais!

43 - Zé Lucas
Não existe no mundo dos mortais
um ser vivo que escape ao sofrimento;
cada um tem a carga que merece,
só não pode é ficar alguém isento;
esse é o preço que a sorte nos repassa,
porque a vida, que Deus nos dá de graça,
nunca fica de graça cem por cento.

44 – Ademar
Tive agora uma pane de momento
no lugar onde o verso nasce e cria;
o intelecto não foi prejudicado
nem sofreu qualquer tipo de avaria,
digo aqui a você que não se engane,
acabei de sofrer, com esta pane,
“Um derrame” de verso e de poesia.

45 - Prof. Garcia
Mas a mente do vate sempre cria
os mais lindos cenários naturais,
Deus tem dó dos poetas sofredores
para o verso abre todos os portais;
se você no passado criou tanto,
no presente voltou com mais encanto
num derrame de versos imortais.

46 - Zé Lucas
Ademar retornou um pouco mais
afinado pra o nosso desfio;
no repouso que teve, colheu chuva,
pôs mais água no leito do seu rio,
alargou mais os passos do confronto,
temperou mais o caldo e deu o ponto
para um verso gostoso e mais sadio.

47 – Ademar
Descobri neste nosso desafio
o que todo poeta já sabia:
que nos versos que José Lucas faz
tem métrica, tem rima e melodia;
e ao compor essa estrofe eu digo e penso
quanto mais versos leio, me convenço
que Zé Lucas é um mestre na poesia.

48 - Prof. Garcia
Este novo debate desafia
os limites de nossa cavalgada;
mas se a fonte do verso não se esgota
vamos juntos romper esta jornada,
porque nada no mundo é tão sublime
quanto a fonte de luz que nos redime
na ousadia de nossa caminhada.

49 - Zé Lucas
Deus estando conosco, não há nada
que nos faça esquecer o som da lira,
porque é quase impossível segurar
um poeta na hora que se inspira,
e se o verso perder o seu encanto,
o mais doce sorriso vira pranto
e a beleza do mundo se retira.

50 – Ademar
Quando a musa do céu vem e me inspira
pondo brilhos na minha inspiração,
eu desenho na mente uma paisagem
com pincéis vivos da imaginação;
e eu envolto na mais doce aquarela
vou encher de beleza a minha tela
retratando a paisagem do sertão.

51 - Prof. Garcia
Nunca vai nos faltar inspiração
porque nunca guardamos dissabores;
nossos versos se inspiram nas estrelas,
nos perfumes sutis que vem das flores,
e também são tirados das entranhas
das cavernas profundas das montanhas
protetoras dos vates trovadores.

52 - Zé Lucas
Eu me espelho nos nossos cantadores,
andarilhos de longa travessia,
cujo ofício é vender por toda parte
o produto de sua cantoria;
com a viola, fraterna companheira,
improvisam, cantando, a vida inteira,
sem desfalque no estoque de poesia.

53 – Ademar
Deus nos fez três arautos da poesia,
nos encheu de talento e inspirações;
nas entranhas da mente pôs os versos,
pôs a paz, pôs o amor nos corações
e nos fez uns eternos sonhadores,
fabricantes de versos e criadores
das mais puras e belas emoções.

54 - Prof. Garcia
Nossos versos provocam sensações
entre os ricos, plebeus e entre nós;
vem das auras sublimes das auroras,
da saudade que bate ao por dos sóis,
do sorriso feliz das madrugadas,
dos encantos das noites orvalhadas
ao romper dos mais lindos arrebóis.

55 - Zé Lucas
As estrelas são nítidos faróis
quando o céu anoitece mais bonito;
para nós, os poetas sonhadores,
a beleza da Lua é quase um mito
na distância da cósmica jornada
em que a voz de um trovão é quase nada
e o silêncio de Deus corta o infinito.

56 – Ademar
Deus pintou o cenário mais bonito
nos neurônios que tem na minha mente.
Com o brilho das luzes da poesia
me ensinou a fazer verso e repente;
me deu todas as dicas sobre a rima
e depois de fazer esta obra-prima
deu ao mundo um poeta de presente.

57 - Prof. Garcia
Tudo quanto na vida a gente sente,
vem da musa secreta dos arcanjos;
Deus é Pai, fez de tudo neste mundo,
fez a lira do vate, sem arranjos,
fez até entre os filhos pecadores,
a poesia dos vates trovadores
e a ternura do verso entre os seus anjos.

58 - Zé Lucas
Se os poetas cantassem como os anjos,
poderiam, no espaço de um segundo,
declamar para toda a humanidade
um poema de amor, belo e profundo,
pra livrá-la de lágrimas e tédio,
pois na essência dos versos há remédio
para todas as dores deste mundo.

59 – Ademar
Como prova de amor, maior do mundo,
Cristo morre por nós, os pecadores.
Vejo ainda no manto de Maria
os vestígios de suas próprias dores;
e, dotado de toda perfeição,
pra falar deste amor e do perdão
Deus criou os poetas trovadores.

60 - Prof. Garcia
Somos todos poetas sedutores
desta musa tão bela e tão divina,
que apesar de modesta e tão singela,
nunca foi, nem será tão pequenina;
porque somos eternos aprendizes
costurando as profundas cicatrizes
desta linda cultura nordestina.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Zé Lucas, Ademar Macedo e Prof. Garcia (Um Debate em Setilha Agalopada) Parte 1

Nota:
Este debate potiguar possui 150 setilhas, as quais foram divididas em 5 partes, contendo 30 setilhas cada uma.
Participaram dele :
José Lucas de Barros (Zé Lucas)
Ademar Macedo (Ademar)
Francisco Garcia de Araújo (Prof. Garcia)
-----------------------

01 - Zé Lucas
Companheiros de luta, está na hora
de afinarmos a lira pra cantar!
A viagem poética vai ser
empolgante, depressa ou devagar.
Os caminhos talvez se tornem duros,
e eu não sei se meus pés estão seguros,
mas a minha vontade é caminhar.

02 - Ademar
Meus poetas, me queiram desculpar
se a resposta que eu der não ficar boa,
eu virei uma fábrica de doença,
tudo o que eu fizer hoje sai à toa;
o meu corpo tá todo dolorido,
dói cabeça, dói pé e dói ouvido
não tem mais uma parte que não doa!

03 - Prof. Garcia
Mesmo assim Deus do céu nos abençoa,
e alivia esse triste padecer,
ninguém vive no mundo por acaso
nem se vive na terra sem sofrer;
Jesus Cristo foi santo sem pecado,
perdoou, padeceu, foi condenado
e morreu para o homem não morrer!

04 - Zé Lucas
Celebremos a bênção de viver
neste mundo em que Deus nos deu morada,
alargando a esperança cada dia
e espalhando sorrisos pela estrada,
como flores de amor e de prazer,
para que, quando o ocaso aparecer,
inda existam reflexos da alvorada.

05 - Ademar
Mesmo assim com a mente adoentada
eu me sinto na “bela” obrigação
de fazer estes versos de improviso,
e perdoe esta minha exaltação;
pois aqui eu lhe digo qual gabola:
quanto mais tiro versos da cachola
nasce em mim muito mais inspiração!

06 - Prof. Garcia
Se eu tivesse essa mesma inspiração
eu confesso num tom de rebeldia:
Que meu verso seria diferente,
tinha muito mais força e ousadia,
mas a força que sinto e me domina
acredito que seja a mão divina
que me inspira e me ajuda todo dia!

07 - Zé Lucas
Quando eu era menino não sabia
que o destino nos leva a qualquer canto,
faz o jogo que quer com nossa vida,
deita e rola com nosso desencanto;
nas trapaças que sabe arquitetar,
muitas vezes nos leva a gargalhar,
outras vezes explora nosso pranto.

08 - Ademar
Eu quisera na vida o mesmo tanto
deste fardo de versos que carregas,
sobre um rio de inspiração corrente
pelo qual mansamente tu navegas;
e eu espero que tu me compreendas:
se aumentares demais as encomendas,
eu talvez nem dê conta das entregas!

09 - Prof. Garcia
Enfrentei ventos fracos e refregas,
calmarias e fortes vendavais,
a procura da musa que me inspira
nos refrões dos antigos madrigais;
mas a sorte, madrasta dos meus planos,
só me deu versos soltos e profanos
e os gemidos sofridos dos meus ais!

10 - Zé Lucas
Muitas vezes me enredo em cipoais,
sem medir o perigo que me afronta,
empreitadas que a vida me oferece,
sem, de fato, saber se vou dar conta;
mesmo assim não me assusta o caminhar,
porque sei que algum dia vou chegar
onde minha esperança sempre aponta.

11 - Ademar
Só Deus sabe se eu vou pagar a conta
ou se vou anotar na caderneta,
meu mercado de versos anda fraco
e vocês fazem versos “de carreta”;
mas daqui pro final vou ver se engrosso,
tô querendo correr mas eu não posso,
nem que eu bote um motor nessa muleta!

12 - Prof. Garcia
Inda estou garimpando na banqueta
desbastando a velhaca pedra bruta,
à procura da musa que me ensine
a manter o meu nível de conduta;
porque nesta setilha agalopada,
se eu chegar ao final desta jornada
nunca mais entrarei noutra disputa!

13 - Zé Lucas
Inda estamos no início desta luta;
não podemos dar mostras de cansaço.
O rojão é pesado, mas faremos
a viagem sem medo e sem fracasso.
A poesia, que faz nosso universo,
nos dará o condão de cada verso
e a firmeza do chão em cada passo.

14 – Ademar
Vou impor uma lei ao meu cansaço
e mudar do meu verso a diretriz;
ao criar esta lei para o desânimo
já deixei o cansaço “por um triz”,
pois não há dor no mundo que me empate
e eu irei enfrentar este debate
sem ter medo nenhum de ser feliz!

15 - Prof. Garcia
Foi assim que eu pensei e sempre quis
e este meu pensamento eu não desfaço,
acredito na força do destino
confiando no verso que inda faço;
pois da fonte da santa inspiração,
eu bebi gotas d'água de ilusão
afastando as loucuras do fracasso.

16 - Zé Lucas
Deus, puxando o poeta pelo braço,
o coloca nas sendas da poesia,
dá-lhe a chave dos versos e o inspira
a cantar com beleza e galhardia.
É por essa razão que, certamente,
cada estrofe que faço é um presente
que recebo do céu com alegria.

17 – Ademar
Deus me fez um amante da poesia,
portador de profunda sensação,
agradeço a Deus Pai por minha vida,
vai pra Deus toda minha gratidão
pela minha família boa e pura,
pela fé, esperança e pela cura,
por meus versos... Por minha inspiração.

18 - Prof. Garcia
Sempre tive a maior veneração,
por Deus Pai, nosso eterno criador,
que me quis pequenino deste jeito
e me fez seu eterno sonhador;
como quem diz abrace o que te dei,
e a poesia, feliz eu abracei,
me tornando poeta e Trovador.

19 - Zé Lucas
A poesia nasceu quando o Senhor
disse: "Faça-se a luz" e a luz foi feita.
As estrelas por, todo o firmamento,
demonstraram que a obra era perfeita,
e o poeta, tangendo a pena leve,
bebe a luz das estrelas quando escreve,
porque verso apagado não se ajeita.

20 – Ademar
O poeta já vem com a verve feita
por Deus Pai nosso mestre e criador;
alguns nascem com a mente de aprendiz,
outros tantos já nascem professor,
e Deus vendo chegar a minha vez,
com a bênção sagrada Ele me fez:
Fuzileiro, Poeta e Trovador.

21 - Prof. Garcia
Sempre vi na grandeza do Senhor,
esta mão benfeitora e artesã:
no trinado das aves seresteiras,
despertando a floresta, o morro e a chã,
num concriz quando canta uma toada,
que enfeitiça o romper da madrugada
nos primeiros gorjeios da manhã!

22 - Zé Lucas
Canta alegre a inquieta jaçanã,
revoando por cima da lagoa;
pescador atravessa o rio cheio,
dando açoites nos remos da canoa,
aos impulsos febris do coração,
na manhã invernosa do sertão,
quando o "pai da coalhada" ainda ecoa.

23 – Ademar
Quando Deus muda a vida da pessoa
e a tribuna do verso lhe oferece,
sua vida transporta-se ao parnaso
onde eu sei que jamais ele emudece;
e ele envolto num mundo de poesia
tudo quanto ele escreve se irradia
quando a musa do verso lhe aparece.

24 - Prof. Garcia
Se esquecer de ninguém, Jesus se esquece,
porque somos seus filhos naturais,
ele tem nossos nomes e prenomes,
endereços e até nossos anais;
mas um dia, seremos todos réus,
ante os pés do Senhor, que está nos céus,
enfrentando os seus velhos tribunais!

25 - Zé Lucas
Nesta vida, os pecados são demais,
apesar de fazermos caridade.
Não podemos fugir de todos eles,
porque o mundo nos cerca de maldade,
e é por isso que o dom da salvação
não depende de nós, mas do perdão
que Jesus prometeu à humanidade.

26 – Ademar
Quando Deus me levar pra eternidade
ficará nesta terra a minha cruz,
juntamente com todos meus pecados
pois pecados pra lá não se conduz;
agradeço ao bom Deus por esta vida
e eu não quero que chorem na partida,
porque vou para o céu pra ver Jesus!

27 - Prof. Garcia
Eu também peço a Deus que me conduz,
que releve os meus gestos de maldade,
que perdoe meus pecados cometidos
muitas vezes repletos de humildade;
mas se somos reféns desses pecados,
precisamos por Deus ser perdoados
para entrarmos na santa eternidade!

28 - Zé Lucas
Tive o berço que teve a humanidade,
dentro do Éden, com Eva e com Adão.
Inquilino da "Terra Prometida",
protegeram-me os braços de Abraão.
Mesmo pobre e sofrido como Jó,
bebi água no Poço de Jacó
e depois batizei-me no Jordão.

29 – Ademar
Então hás de ganhar a salvação
pois é leve demais a sua cruz.
Percorreste um caminho da verdade
e quem faz desse jeito encontra a luz;
que demore, pra o céu, sua viagem
mas você possuindo essa bagagem
sentará à direita de Jesus!

30 - Prof. Garcia
Esqueci das barreiras que transpus
percorrendo as vertentes da poesia,
sempre em busca da forma mais completa
das origens dos versos que eu fazia;
só depois que bebi desta vertente,
Deus me fez tangerino do repente
e tropeiro do verso que me guia!

Fonte:
Setilhas enviadas por Ademar Macedo

domingo, 24 de junho de 2012

Mara Melinni (Lembrança de uma Caixa de Sapato)


Era o começo de uma tarde tranquila de fim de semana. Não fazia muito sol e as nuvens pareciam combinar um gesto amigo no céu, criando uma sombra agradável no jardim. Eu tinha acabado de almoçar, mas ainda podia ouvir, ao longe, o barulho dos últimos pratos e talheres que eram removidos da mesa, enquanto vozes sussurravam, entre risos, da cozinha.

Eu estava pensativa e fui me sentar debaixo das árvores. Da cadeira de balanço, no embalo do vai e vem, comecei a olhar para os meus pés pequenos, que buscavam apoio no portão da varanda. Uma leve sonolência me envolvia e revivi, naquele momento, algumas cenas e sensações dos meus primeiros anos na escola, que retornaram em uma lembrança encantadora.

E pensar que tudo começava daquele mero olhar de pés...! Partia por uma viagem no tempo... Recordava-me, perfeitamente, das chinelas que usávamos nos primeiros anos da escola. Eram todas iguais, de borracha e couro, na cor azul escuro. Minha mãe sempre comprava um número acima do meu, senão não suportariam o final do ano, já que pé de criança cresce num piscar de olhos.

Mas o auge da minha ansiedade era passar para a antiga primeira série. Deixaria de lado as sandálias azuis, que combinavam com batinhas de algodão, com uma cor para cada ano, feitas com bicos e com o nome bordado no bolso que geralmente ficava na frente, onde todos os alunos costumavam trazer um lenço. Esse era o uniforme e tudo era preparado, com capricho, em casa.

Enfim, eu estava crescendo. Já sabia ler e escrever. Era tempo de assumir novas responsabilidades e de, finalmente, poder usar o tão sonhado objeto dos meus desejos (e de todas as meninas de seis anos de minha época)! Eu nunca me esqueci da primeira vez em que coloquei os meus pés dentro daquele sapato-boneca! Ele era perfeito, preto, com um detalhe que me orgulhava: tinha um salto quadrado, mas, enfim, era um salto!

Foi amor à primeira vista, um sucesso. Eu queria passar o dia inteiro desfilando com eles nos pés, dentro de casa. Mas minha mãe logo veio me explicar que os sapatos deveriam ficar na caixa, esperando pelo primeiro dia de aula. Eu adorava estar de férias, mas a ânsia de sair com eles, pela primeira vez, fazia-me desejar que os dias corressem.

Para completar, havia outra novidade. Eu, enfim, usaria um novo fardamento na escola, composto por camiseta branca, com o símbolo do educandário pintado no peito, e mais: calça! Sim, calça de tecido azul escuro, que geralmente era brim. Tudo isso, com os meus sonhados sapatos, combinados com meias brancas. Parecia um conto de fadas ir para a escola...! 

E eu me sentia tão majestosa naqueles trajes, que não gostava do dia da educação física, quando os sapatos-boneca ficavam repousando em um dia merecido de folga. Pena que só cheguei a usá-los por dois anos, pois a escola resolveu adotar o tênis como o calçado oficial, para a tristeza de outras tantas meninas que aguardavam o momento de usar os seus quase sapatinhos de cristal.

Sinto saudade... A magia daquele singelo par de sapatos devolve-me puras e valiosas sensações. Olho para os meus pés, após um cochilo no tempo, e a lembrança revivida em minúsculos detalhes, leva-me a rir à-toa... E a vida recupera, mais uma vez, todo o encanto que eu guardava dentro daquela caixa de sapatos...!

Fonte:
http://melinni.blogspot.com.br/2012/03/lembranca-de-uma-caixa-de-sapato.html

sábado, 23 de junho de 2012

Mara Melinni (Você Não Se Lembra?)


Tanto tempo juntos...! Quantas vezes nos deixamos e, logo depois, corremos de volta para nós mesmos outra vez? Estou inquieta, não consigo conceber essa demora. Enquanto você se foi, sem nada dizer, fiquei aqui sozinha, em nossa casa, eu e a solidão, que me rouba todo o espaço. Faz frio, o inverno chegou intenso... Começou hoje... Lá fora... E eu já o sinto, também, em meu coração...! E onde está você, que não volta para mim...? Nenhuma palavra dita, nenhuma despedida... Estranhei, mas eu achei, sinceramente, que a nossa última discussão já havia sido esquecida. Tivemos momentos piores, contudo, a única vez em que dormimos separados foi na noite passada. Senti-me murchando como uma rosa que vai perdendo as pétalas devagar. Não sei o que se passa dentro mim... É confuso, sinto vontade de gritar o seu nome, de lhe ver à minha espera...!  O nosso amor sempre foi maior do que as nossas diferenças, sempre foi! Minha teimosia e sua paciência, meu bom humor e sua crítica incomparável, minha caretice e sua contemporaneidade... Tudo isso nos fazia complemento um do outro porque o que restava, no fim das contas, eram os nossos gostos, as nossas músicas, as nossas fotos... Nós dois e o nosso amor... Sempre ele. Por isso... Como dói esse silêncio, como amarga minha alma e malfere o meu corpo inteiro...! Por favor, mande notícias. Não consigo enxergar quem errou, se é que houve erro. A única coisa que eu lhe peço, nem que seja pela última vez, é... Que você se lembre das razões pelas quais me amou...! E se existir uma, ao menos uma razão ainda, eu irei lhe esperar aqui... Mais uma vez... Enquanto houver uma razão (E eu sinto... Que há!).

Fonte:
http://melinni.blogspot.com.br/

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Ademar Macedo (Agradecimento)


Feldman é um vencedor 
um mestre da alegria, 
um Poeta Trovador, 
um fazedor de Poesia. 

Não há em todo universo 
melhor fazedor de verso 
pois é um dom que ele traz! 

Pra Feldmam, em nada eu ganho, 
ele é grande no tamanho 
e nas Poesias que Faz.

(Ademar Macedo 
Natal/RN - 21.junho.2012)

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Clotilde Tavares (Aconteceu na Caatinga)


Era meio-dia e a caatinga brilhava à luz incandescente do Sol. O pequeno Calango deslizou rápido sobre o solo seco, cheio de gravetos e pedras, parando na frente do majestoso Mandacaru, que apontava para o céu seus espinhos, os grandes braços abertos em cruz.

- Mandacaru! Mandacaru! Eu ouvi os homens conversando lá adiante e eles estavam dizendo que, como a caatinga está muito seca e cor de cinza, vão trazer do estrangeiro umas árvores que ficam sempre verdes quando crescem e estão sempre cheias de folhas.

- Mas que novidade é essa? - falou a Jurema.

- Coisa de gente besta - disse o Cardeiro, fazendo um muxoxo irritado e atirando espinhos para todo lado.

- Eu é que não acredito nessas novidades - sussurrou o pequeno e tímido Preá.

A velha Cobra, cheia de escamas de vidro e da idade do mundo, só fez balançar a cabeça de um lado para o outro e, como se achasse que não valia a pena falar, ficou em silêncio.

E no outro dia, bem cedinho, os homens já haviam plantado centenas de arvorezinhas muito agitadas, serelepes e faceiras, que falavam todas ao mesmo tempo na língua lá delas, reclamando de tudo: do Sol, da poeira, dos bichos e das plantas nativas, que elas achavam pobres, feias e espinhentas. Enquanto falavam, farfalhavam e balançavam os pequenos galhos, que iam crescendo, ganhando folhas e ficando cada vez mais fortes.

Enquanto isso, as plantas da caatinga, acostumadas a viver com pouca água, começaram a notar que essa água estava cada vez mais difícil de encontrar. As raízes do Mandacaru, da Jurema e do Cardeiro cavavam, cavavam e só encontravam a terra seca e esturricada.

O Calango então se reuniu com os outros bichos e plantas para encontrar uma solução. E foi a velha Cobra quem matou a charada:

- Quem está causando a seca são essas plantinhas importadas e metidas a besta! Eu me arrastei por debaixo da terra e vi o que elas fazem: bebem toda a nossa água e não deixam nada para a gente.

- Oxente! - gritou o Calango. - Então vou contar isso aos homens e pedir uma solução.

Mas logo o Calango voltou, triste e decepcionado.

- Os homens não me deram atenção - disse. - Falaram que eu não tenho instrução, não fiz universidade e que eu estou atrapalhando o progresso da caatinga.

E todos os bichos e plantas ficaram tristes, mas estavam com tanta sede que nem sequer puderam chorar: não havia água para fabricar as lágrimas. Por muitos dias ficaram assim e quando estavam à beira da morte houve um movimento: era o Preá, que levantou o narizinho, farejou o ar e, esquecendo a timidez, gritou:

- Estou sentindo cheiro de água!

- É mesmo! - gritaram todos.

- O que será que aconteceu? - perguntou a Jurema.

- Eu vou ver o que foi - e o Calango saiu veloz, espalhando poeira para todos os lados.

O Mandacaru estirou os braços, espreguiçou-se e sorriu:

- Estou recebendo água de novo! Hum... É muito bom! Mas vejam! O Calango está de volta com novidades!

E espichando meio palmo de língua de fora, morto de cansado pela carreira, o Calango contou tudo.

- As pequenas bandidas verdes, depois de beber quase toda a água da caatinga, estavam ameaçando a água dos rios e dos açudes perto das cidades. Os homens então viram o perigo e deram fim a todas elas. Estamos salvos!

E todos ficaram alegres, sentindo a água subir pelas raízes. Olharam para o céu azul da caatinga, aquele céu claro, o Sol brilhante, olharam uns para os outros e viram que eram irmãos, na mesma natureza, no mesmo tempo, na mesma Terra.

E a velha Cobra, desenroscando-se toda lentamente, piscou o olho e concluiu:

- É como dizia minha avó: cada macaco no seu galho!

Fonte:
Revista Nova Escola

Clotilde Tavares (1947)


CLOTILDE TAVARES é paraibana de Campina Grande (dezembro de 1947), filha de Nilo e Cleuza.

Graduou-se em Medicina pela UFRN em 1975, e em 1983 obteve o título de Mestre em Nutrição em Saúde Pública pela UFPE.

Radicou-se em Natal e, como professora da UFRN desde 1976, dedicou-se à pesquisa no campo da Saúde Pública. Especialista em Epidemiologia pela UFRN.

O Teatro, a Literatura e os estudos sobre cultura popular também ocuparam lugar de destaque na sua vida, como atividade paralela.

A partir de 1993 passou a se dedicar exclusivamente às atividades artísticas e intelectuais, transferindo-se do Departamento de Saúde Coletiva e Nutrição da UFRN, onde ensinava desde 1976, para o Departamento de Artes da mesma Universidade.

Mesmo aposentada, continua exercendo intensa atividade cultural. Escreve em jornais, é atriz e diretora de teatro, dramaturga e desenvolve estudos na área da cultura popular, além de promover eventos culturais.

Divide suas atividades entre os estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco.

Fontes:
http://www.clotildenews.digi.com.br/eumesma.htm
http://www.skoob.com.br/autor/1543-clotilde-tavares

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Esmeraldo Siqueira (Livro de Trovas e Poemas)


TROVAS

Amou o belo e a verdade
Sem crer no Céu nem no Inferno
Do mundo, em vez de saudade.
Sente agora alívio eterno.

Dão-se prêmios repetidos
a livros que valem nada,
de versos desenxabidos
ou prosa vazia e aguada

De amor os versos que fiz
dariam mais de um milheiro.
Toda mulher que me quis
foi por amor... ao dinheiro!

Larápios de mil padrões
há neste mundo, dispersos.
Até conheço ladrões
que roubam frases e versos...

Os asnos são divertidos,
asnos bípedes, é claro,
todos se julgam sabidos,
dotados de senso raro.

Retornado ao pó obscuro,
coração, urna de pranto,
quem saberá, no futuro,
que amaste e sofreste tanto?

Se eu respeitasse o jumento
mesmo o bravio e coiceiro,
adeus meu divertimento,
alegre humor galhofeiro…

POEMAS

CREDO PANTEÍSTA

Creio em ti, Natureza, que és meu culto.
Creio, sem ritos místicos e altares.
No resplendor pleorâmico dos mares,
Onde assoma a grandeza do teu vulto.

Creio na tua força, e pasmo, e exulto,
Vendo, através de lentos avatares,
A gradação das formas singulares,
Até à maravilha do homem culto.

Creio em tuas florestas, nos teus montes,
Na poesia dos rios e das fontes,
Na beleza da terra reflorida.

Creio nas lindas noites estreladas,
No refúgio das brancas alvoradas,
Na sinfonia universal da vida.

(Caminhos sonoros/1941)

OFERENDA À POESIA

Um trono eu te erguerei, um trono, escuta bem,
De esmero original,
Como, em tempo nenhum, na terra, houve ninguém
Que tivesse outro igual

A púrpura - será do meu sangue inda vivo,
Ardente e palpitante.
O ouro - da áurea prisão do meu verso cativo,
Aos teus pés suplicante

Às estrelas irei, na asa da inspiração,
De uma a uma escolhe-las,
Para cingir-te a fronte a reverberação
Das mais lindas estrelas

Que valerão do mundo efêmeras grandezas,
Ante o teu resplendor?
Vencerás imortal rainhas e princesas,
Pela glória do amor.
(Novos poemas/1955)

Fontes:
Colaboração da Profa. Dione de Souza/RN
http://www.geraldo2006.com/arte4.html#Esmeraldo%20Siqueira

Esmeraldo Siqueira (1908 – 1987)


Médico, professor, poeta, crítico literário potiguar, nasceu em 16 de agosto de 1908 e morreu em 20 de junho de 1987.

"Expressão mais alta da nossa vida literária e científica", nas palavras de Veríssimo de Melo, Esmeraldo Homem de Siqueira nasceu em Vila Nova, hoje Pedro Velho (Rio Grande do Norte), filho do juiz Joaquim de Siqueira Cavalcanti e de dona Maria Joaquina de Siqueira Cavalcanti. Transferiu-se com seus pais para Natal em 1913, iniciando no mesmo ano seus estudos primários no Grupo Escolar Augusto Severo. Depois, estudou no colégio Santo Antônio e no Ateneu Norte-rio-grandense.

Em 1928, matriculou-se na Faculdade de Medicina do Recife onde colou grau na turma de 1933. Começou a exercer a profissão em Jardim do Seridó. De lá, nas horas vagas, escrevia e mandava para A República os seus "Intentos", série de artigos sobre literatura e filosofia. A partir de 1936, transferiu-se para Natal e passou a lecionar na Escola Normal a disciplina de História Natural. Em 1941, ingressa no quadro de professores do Ateneu Norte-rio-grandense ensinando Língua e Literatura Francesa. Para essa cadeira publicou "Letras de França" (1969), que é uma espécie de excursão didática erudita nas obras e nas vidas dos grandes autores franceses.

Intelectual polêmico e contestador, portador de uma vasta cultura científica e humanista, colaborou assiduamente nos jornais A República, Diário de Natal, Correio do Povo e Tribuna do Norte. Neste último, manteve uma coluna semanal sobre literatura e filosofia entre os anos de 1954 e 1955.

Era um homem de temperamento arredio, contrário às reverências aos poderosos e aos círculos de privilegiados, preferindo o trabalho intelectual solitário que exercia habitualmente à noite, encerrada a jornada diária pelos colégios onde ministrava aulas. Deixou dezenas de livros editados versando sobre temas da literatura clássica européia, sobretudo francesa, mas também sobre temas da cultura brasileira.

A maioria desses livros foi paga por ele próprio. Na poesia, deixou uma produção vasta e variada, lírica, satírica, romântica.

Descrevendo-o em artigo, assim se expressa seu filho Juliano Siqueira: "Esmeraldo escreveu seus poemas de acordo com seu credo literário: romântico, parnasiano, simbolista, moderno. Um humanista."

Em 1949 funda, com outros colegas, a Faculdade de Farmácia e Odontologia - primeira escola superior da Universidade Federal no Rio Grande do Norte - onde lecionou a cadeira de Botânica Farmaceutica. Foi também um dos fundadores da Faculdade de Filosofia à qual vinculou-se depois que essa instituição acadêmica foi incorporada à Universidade Federal.

Em 1957, fundada a Faculdade de Filosofia de Natal, passa a lecionar Língua e Literatura Francesa. Aposenta-se em 1958 na cadeira que ocupava na Faculdade de Farmácia. Suas aulas, cultas e descontraídas, ficaram famosas por atraírem grande número de alunos, inclusive vindos de outros cursos. Ingressou, a convite, na Academia Norte-rio-grandense de Letras, em 1949, ocupando a cadeira número 29, cujo patrono é Armando Seabra.

Obras:

Caminhos Sonoros (versos), Tipografia A. Lira, Natal, 1941;
Roteiro de uma Vida, editora Pongetti, Rio, 1968;
Música no Deserto, editora Pongetti, Rio, 1968;
Fauna Contemporânea - Sátiras, editora Pongetti, Rio, 1968;
Novos Poemas (versos), Departamento Estadual de Imprensa, Natal, 1950;
Taine e Renan (ensaios), editora Pongetti, Rio, 1968;
Sugestões da Vida e dos Livros (crítica literária) Imprensa Universitária, Natal, 1973;
Caminhos Sonoros (poesias) editora Pongetti, Rio 1941;
Poemas do Bem e do Mal (poesia), editora Pongetti, Rio, 1984;
Pretéritas (poemas) editora Pongetti, Rio, 1984;
Jorge Fernandes Desconhecido in "Revista da ANL", número 15, voluma 27, novembro de 1979/80.

Fonte:
Enciclopédia Nordeste

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Auta de Souza (Trovas Avulsas)


Ama e serve, sofre e luta...
Sem lâmina que a sublima,
a pedra largada e bruta
nunca seria obra-prima.

Arte nobre, ativa e bela
Venha de crentes ou ateus,
E sempre luz que revela
A Providência de Deus.

Caridade verdadeira,
Em todos os seus caminhos,
Quando oferece uma rosa
Sabe tirar os espinhos.

Colhi, entre amigos meus,
este conceito profundo:
- Mãe é um sorriso de Deus
nos sofrimentos do mundo.

Embora desiludida,
alma cansada e sincera,
por muito te doa a vida,
não desanimes!... Espera!

Eu quero bem às crianças
porque não sabem mentir:
são pombas lindas e mansas,
passam na vida a sorrir.

Filho do meu coração,
Nas lutas por luz e paz,
Não te afastes da razão,
Mas só na fé vencerás.

Mãe de filhinhos dos outros,
Mulher de mãos benfazejas...
Diz o Mundo : – "Deus te guarde!..."
Diz o Céu : – "Bendita sejas!...”

Na bela dupla de estrelas
Em que o Natal se anuncia,
Precedendo a de Belém,
A primeira foi Maria.

Ofensa, pedrada, espinho,
injúria, maldade ou lama...
Tudo vence, no caminho,
o coração de quem ama.

Obsessão de quem ama,
ninguém consegue entendê-la:
parece vaso de lama
encarcerando uma estrela.

Quando eu morrer, vou assim:
Sustendo meu coração...
Saudade da terra? Sim!
Saudade da vida? Não!

Segue o ideal que te aquece,
serve ao bem, seja onde for;
trabalho que permanece
é o que se faz por amor.

Tenho a luz dos dias meus
nesta sentença concisa:
coração entregue a Deus
tem tudo de que precisa.

Tribulações de alma aflita?...
Esquece, fazendo o bem;
Deus é a bondade infinita,
não desampara a ninguém.

Todo amor é Deus na vida
A criá-la e engrandecê-la,
Desde a penúria do charco
À luz divina da estrela.
--
Fonte:
Trovas enviadas pela profa. Dione de Souza/RN
Auta de Souza. Psicografia de Francisco Cândido Xavier

Auta de Souza (Poemas Escolhidos)


CREPÚSCULO

a Júlia Lyra

O Ângelus soa. Vagarosamente
A noite desce, plácida e divina.
Ouço gemer meu coração doente
Chorando a tarde, a noiva peregrina.

Há pelo espaço um ciciar dolente
De prece em torno da Igrejinha em ruína...
Pássaros voam compassadamente;
Treme no galho a rosa purpurina...

E eu sinto que a tristeza vem suspensa
Sobre as asas da noite erma e sombria...
E que nessa hora de saudade imensa,

Rindo e chorando desce ao coração:
Toda a doçura da melancolia,
Todo o conforto da recordação.

TUDO PASSA

Aquela moça graciosa e bela
Que passa sempre de vestido escuro
E traz nos lábios um sorriso puro,
Triste e formoso como os olhos dela...

Diz que sua alma tímida e singela
Já não tem coração: que o mundo impuro
Para sempre o matou... e o seu futuro
Foi-se num sonho, desmaiada estrela.

Ela não sabe que o desgosto passa
Nem que do orvalho a abençoada graça
Faz reviver a planta que emurchece.

Flávia! nas almas juvenis, formosas,
Berço sagrado de jasmins e rosas,
O coração não morre: ele adormece...

AO PÉ DO TÚMULO

Eis o descanso eterno, o doce abrigo
Das almas tristes e despedaçadas;
Eis o repouso, enfim; e o sono amigo
Já vem cerrar-me as pálpebras cansadas.

Amarguras da terra! eu me desligo
Para sempre de vós... Almas amadas
Que soluçais por mim, eu vos bendigo
Ó almas de minh'alma abençoadas.

Quando eu daqui me for, anjos da guarda,
Quando vier a morte que não tarda
Roubar-me a vida para nunca mais...

Em pranto escrevam sobre a minha lousa:
"Longe da mágoa, enfim, no Céu repousa
Quem sofreu muito e quem amou demais".

AGONIA DO CORAÇÃO

"Estrelas fulgem da noite em meio
Lembrando círios louros a arder...
E eu tenho a treva dentro do seio...
Astros! velai-vos, que eu vou morrer!

Ao longe cantam. São almas puras
Cantando á hora do adormecer...
E o eco triste sobe ás alturas...
Moças! não cantem, que eu vou morrer!

As mães embalam o berço amigo,
Doce esperança de seu viver...
E eu vou sozinha para o jazigo...
Chorai, crianças, que eu vou morrer!

Pássaros tremem no ninho santo
Pedindo a graça do alvorecer...
Enquanto eu parto desfeita em pranto...
Aves, suspirem, que eu vou morrer!

De lá do campo cheio de rosas
Vem um perfume de entontecer...
Meu Deus! que mágoas tão dolorosas...
Flores! Fechai-vos, que eu vou morrer!”

AO CAIR DA NOITE

Não sei que paz imensa
Envolve a Natureza,
N’ess’hora de tristeza,
De dor e de pesar.
Minh’alma, rindo, pensa
Que a sombra é um grande véu
Que a Virgem traz do Céu
Num raio de luar.

Eu junto as mãos, serena,
A murmurar contrita,
A saudação bendita
Do Anjo do Senhor;
Enquanto a lua plena
No azul, formosa e casta,
Um longo manto arrasta
De lúrido esplendor.

Minhas saudades todas
Se vão mudando em astros...
A mágoa vai de rastros
Morrer na escuridão...
As amarguras doidas
Fogem como um lamento
Longe do Pensamento,
Longe do Coração.

E a noite desce, desce
Como um sorriso doce,
Que em sonhos desfolhou-se
Na voz cheia de amor,
Da mãe que ensina a Prece
Ao filho pequenino,
De olhar meigo e divino
E lábio aberto em flor.

Ah! como a Noite encanta!
Parece um Santuário,
Com o lindo lampadário
De estrelas que ela tem!
Recorda-me a luz santa,
Imaculada e pura,
Da grande noite escura
Do olhar de minha mãe!

Ó noite embalsamada
De castas ambrósias...
No mar das harmonias
Meu ser deixa boiar.
Afasta, ó noite amada,
A dúvida e o receio,
Embala-me no seio
E deixa-me sonhar!

CAMINHO DO SERTÃO

Tão longe a casa! Nem sequer alcanço
Vê-la através da mata. Nos caminhos
A sombra desce; e, sem achar descanso,
Vamos nós dois, meu pobre irmão, sozinhos!

É noite já. Como em feliz remanso,
Dormem as aves nos pequenos ninhos...
Vamos mais devagar... de manso e manso,
Para não assustar os passarinhos.

Brilham estrelas. Todo o céu parece
Rezar de joelhos a chorosa prece
Que a Noite ensina ao desespero e a dor...

Ao longe, a Lua vem dourando a treva...
Turíbulo imenso para Deus eleva
O incenso agreste da jurema em flor.

OLHOS AZUIS

O teu olhar azul claro
Reflete não sei que luz,
O brilho fulgente e raro
Do meigo olhar de Jesus.

Eu cuido ver todo o encanto,
Toda a beleza do Céu,
Nestes teus olhos sem pranto,
N’estes teus olhos sem véu.

Sinto uma doce ventura,
Uma alegria sem fim,
Se d’eles a chama pura
A’s vezes cai sobre mim.

São flores azuis boiando
À tona d’água, de leve,
Esses dois olhos beijando
O teu semblante de neve!
--
Fontes:
http://apoesiadobrasil.blogspot.com/2011/12/auta-de-souza-1876-1901.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Auta_de_Souza