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quinta-feira, 18 de abril de 2024

Recordando Velhas Canções (Primavera)


Composição: Carlos Lyra / Vinicius de Moraes

O meu amor sozinho
É assim como um jardim sem flor
Só queria poder ir dizer a ela
Como é triste se sentir saudade

É que eu gosto tanto dela
Que é capaz dela gostar de mim
Acontece que eu estou mais longe dela
Que da estrela a reluzir na tarde

Estrela, eu lhe diria
Desce à terra, o amor existe
E a poesia só espera ver nascer a primavera
Para não morrer

Não há amor sozinho
É juntinho que ele fica bom
Eu queria dar-lhe todo o meu carinho
Eu queria ter felicidade

É que o meu amor é tanto
É um encanto que não tem mais fim
E, no entanto, ela não sabe que isso existe
É tão triste se sentir saudade

Amor, eu lhe direi
Amor que eu tanto procurei
Ah! Quem me dera que eu pudesse ser
A tua primavera e depois morrer
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A Saudade e a Esperança na Canção 'Primavera'
A música 'Primavera', composta por Carlos Lyra, é uma delicada expressão de sentimentos de amor e saudade, entrelaçados com a esperança de um encontro amoroso. A letra utiliza a metáfora de um jardim sem flor para ilustrar a solidão do eu lírico, que se encontra distante de sua amada, comparando essa distância à que separa a Terra de uma estrela distante. A imagem do jardim sem flor simboliza um estado de incompletude e anseio, onde o amor existe, mas não se manifesta plenamente pela ausência da pessoa amada.

A referência à primavera como um renascimento e um florescer do amor é central na canção. A estação é personificada e aguardada como o momento em que a poesia e o amor ganham vida, sugerindo que o eu lírico espera que o amor que sente seja correspondido com a chegada da primavera, trazendo consigo a possibilidade de um novo começo e a realização do desejo de estar junto à pessoa amada. A primavera, portanto, é mais do que uma estação; é uma metáfora para a transformação e a esperança de que o amor solitário se torne um amor compartilhado.

A música também aborda a ideia de que o amor não é algo que se vive isoladamente. A letra enfatiza que o amor é 'juntinho que ele fica bom', ressaltando a importância da reciprocidade e da partilha de sentimentos para que o amor floresça verdadeiramente. O eu lírico expressa um desejo profundo de dar carinho e alcançar a felicidade através do amor correspondido, revelando a natureza humana de buscar conexão e completude através das relações amorosas.

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Nas águas da poesia n. 1


 Corrêa Junior

RECOMPENSA

Tenho no teu afeto a recompensa
dos meus dias de pobre sonhador;
e, artista obscuro, sinto a glória imensa
de ser, entre os cantores, teu cantor.

Assim, no doce enlevo desta crença,
viverei pelo amor e para o amor,
sem que a antiga tristeza hoje me vença,
no meu castelo de ilusões em flor.

Velha raiz, anônima, esquecida,
pelo húmus dos teus beijos renascida,
subo, cresço do solo, enfeito o chão... 

E, árvore nova, ramos no ar dispersos,
espalho, pelas flores dos meus versos,
todo o perfume do meu coração.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Eugênio de Freitas

VIBRAÇÕES AMOROSAS

Se te revejo, Amada, após algum vazio
estágio de abandono, em que te sinto ausente,
a paz me volta ao peito, iludo-me e sorrio,
de súbito a sonhar, no ardor de antigamente.

O sol da juventude, afugentando o frio
que aos poucos me fustiga o coração e a mente,
compensa, num minuto, as lágrimas a fio,
ocultas, que verti: de novo estás presente.

Remoço no momento em que, feliz, te abraço;
e a festa natural de meus sentidos prova
que, perto de nós dois, extingue-se o cansaço.

Comigo, esta afeição a levarei à cova;
pois vibra, toda vez que por teu vulto passo,
fortíssima atração, que sempre se renova.
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Evandro Moreira

OCASO

Jovem parti, sequioso de aventura,
velas pandas, bandeira em altos mastros;
por instinto, tracei via segura,
conforme o vento e a posição dos astros.

Riquezas encontrei nessa procura.
Mas, cheios os porões com áureos lastros,
o barco da ilusão, em noite escura,
perdeu-se. Pobre e só, voltei de rastros.

Por pecados troquei a juventude,
ouro falaz que tanto nos ilude
e nos leva à velhice, que redime.

Talvez por isso eu sofra tão sereno,
certo de que o castigo é tão pequeno
quão pequeno eu julgava cada crime...
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Filgueiras Lima

É BOM SER BOM

Meu pai e meu amigo! eis-me a teu lado,
a rezar. Mas não ouves o que digo.
Eu tenho o coração despedaçado
de saudades, meu pai e meu amigo!

Fui, desde criança, todo o teu cuidado.
Cresci à sombra desse afeto antigo.
Afinal, era um só nosso passado,
porque, ó pai, envelheci contigo.

Sereno e justo, Deus te fez um forte,
ante as ingratidões de todo grau
que te feriram, sem mudar-te o norte.

Com a tua vida do mais puro tom,
tu me ensinaste quanto é mau ser mau
e me provaste quanto é bom ser bom!
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Inácio Moura

FILOSOFANDO...

Tudo que vinha dos teus lábios era
uma ilusão perfeita, um puro engano,
pois o que dizes numa primavera
não podes repetir depois de um ano.

A vida é assim; o tempo degenera
e mata em pouco o sentimento humano:
se não nos alimenta uma quimera,
também não nos devora um desengano!

Ai de nós todos se, por nossa face,
como se a nossa dor fotografando,
constantemente a lágrima rolasse!

Mas, felizmente, a lágrima não corre,
não desce mais dos nossos olhos, quando
a dor persiste e quando a crença morre.
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Jorge Azevedo

ESSAS COISAS DA VIDA...

Essas coisas da vida a gente nunca esquece. ..
Um longo beijo ao luar... uma mentira linda...
Num suspiro de amor... num sussurro de prece,
guardar de toda boca uma saudade infinda...

E então quando se é moço e o ardor não arrefece,
goza-se a mocidade enquanto ela não finda...
Da vida bem vivida o ocaso recrudesce
a tristeza de não poder mentir ainda...

E a minha mocidade em beijos se avigora,
encontra em toda boca uma esplendente aurora
e em todo amor um sol em que, febril, se aquece...

E na efemeridade em que ela se resume,
o consolo é lembrar... lembrar... pois ao perfume
dessas coisas da vida a gente refloresce.
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Vinicius de Carvalho

DANÇA ÁRABE

Trazes no corpo a graça das palmeiras
e o esplendor do luar de Ramadã.
Vem: minha tenda, a esta hora da manhã,
possui, na sombra, o odor das tamareiras.

Esquece, na maciez do meu divã,
o cansaço das tribos caminheiras.
Não procures miragens traiçoeiras:
— toda procura, neste mundo, é vã!

Não faz mal que, no Livro do Destino,
nosso amor seja um conto pequenino
que a mão do Tempo, trêmula, marcou;

pois a história de amor mais comovida
é a que deita raízes pela vida
quando tudo, afinal, já se acabou.
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Fonte> Vasco de Castro Lima. O mundo maravilhoso do soneto. 1987.

Recordando Velhas Canções (Diz que fui por aí)


Composição: Zé Keti/ H. Rocha

Se alguém perguntar por mim
Diz que fui por aí
Levando o violão debaixo do braço

Em qualquer esquina eu paro
Em qualquer botequim eu entro
Se houver motivo
É mais um samba que eu faço

Se quiserem saber se eu volto
Diga que sim
Mas só depois que a saudade se afastar de mim

Tenho um violão para me acompanhar
Tenho muitos amigos, eu sou popular
Tenho a madrugada como companheira

A saudade me dói, 
O meu peito me rói
Eu estou na cidade, 
Eu estou na favela
Eu estou por aí
Sempre pensando nela
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A Vida Boêmia em 'Diz Que Fui Por Aí'
A música 'Diz Que Fui Por Aí', interpretada por Nara Leão, uma das vozes mais expressivas da Bossa Nova, retrata a imagem de um boêmio que leva a vida de forma leve e descompromissada, com seu violão a tiracolo, simbolizando a arte e a música como companheiras constantes. A letra, que fala sobre andar sem destino, entrar em botequins e compor sambas, evoca a liberdade do espírito artístico e a cultura dos bares e esquinas, locais tradicionais de encontro e de expressão popular no Brasil.

A segunda estrofe da canção introduz um elemento de melancolia com a menção da saudade, um sentimento profundamente enraizado na cultura brasileira. A saudade aqui pode ser interpretada como a memória de um amor ou de um tempo passado que ainda afeta o narrador. A repetição do 'eu estou por aí' reforça a ideia de movimento e de não estar preso a um lugar ou a uma situação, apesar da presença constante da saudade.

A música também reflete sobre a popularidade e a aceitação social que o protagonista possui, destacando a madrugada como sua companheira, o que sugere uma vida noturna ativa e uma conexão com os aspectos mais boêmios da cultura urbana. A figura do narrador é a de alguém que, apesar de sentir saudade e dor, escolhe viver a vida de maneira itinerante e musical, sempre pensando naquilo que deixou para trás, mas sem se deixar paralisar por isso.

terça-feira, 16 de abril de 2024

Recordando Velhas Canções (Gabriela)


Composição: Tom Jobim

Vim do norte vim de longe
De um lugar que já nem há
Vim dormindo pela estrada
Vim parar neste lugar
Meu cheiro é de cravo
Minha cor de canela
A minha bandeira
É verde e amarela
Pimenta de cheiro
Cebola em rodela
Um beijo na boca
Feijão na panela
Gabriela
Sempre Gabriela

Passei um café inda escuro
E logo me pus a caminho
Eu quero rever Gabriela
De novo provar seu cheirinho
Manhã bem cedinho na mata
O sol derramou seu carinho
Um brilho na folha da jaca
Pensei em rever meu benzinho
Gabriela

Se ainda sobrasse um dinheiro
Podia comprar-te um vestido
E mais um vidrinho de cheiro
Contar-te um segredo no ouvido
Te trouxe um anel verdadeiro
Sonhei que era teu preferido
Pensei, pensei tanta coisa
Ah, me deixa ser teu marido
Pensei, pensei tanta coisa
Queria casar-me contigo
Gabriela
Gabriela
Todos os dias esta saudade
Felicidade cadê você
Já não consigo viver sem ela
Eu vim à cidade pra ver Gabriela

Tenho pensado tanto na vida
Volta bandida mata essa dor
Volta pra casa, fica comigo
Eu te perdoo com raiva e amor
Chega mais perto, moço bonito
Chega mais perto meu raio de sol
A minha casa é um escuro deserto
Mas com você ela é cheia de sol
Molha a tua boca na minha boca
A tua boca é meu doce é meu sal

Mas quem sou eu nesta vida tão louca?
Mais um palhaço no teu carnaval
Casa de sombra vida de monge
Quanta cachaça na minha dor
Volta pra casa, fica comigo
Vem que eu te espero tremendo de amor

Em noite sem lua, pulei a cancela
Cai do cavalo, perdi Gabriela
Oh lua de cera, oh lua singela
Lua feiticeira cadê Gabriela?

Ontem vim de lá do Pilar
Inda ontem vim lá do Pilar
Já tô com vontade de ir por aí
Ontem vim de lá
Inda ontem vim de lá
Já tô com vontade de ir por aí
E na corda da viola todo mundo sambar
E na corda da viola todo mundo sambar
Todo mundo sambar
Todo mundo sambar quebra pedra.…
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Saudade e Amor na Canção 'Gabriela' de Tom Jobim
A música 'Gabriela', composta por Tom Jobim, é uma obra que evoca sentimentos de saudade e amor, características marcantes na música popular brasileira. A letra narra a história de um homem que viaja de longe, possivelmente do norte do Brasil, para encontrar Gabriela, a mulher amada. A descrição de sua jornada e o desejo de reencontrar Gabriela são permeados por elementos típicos da cultura brasileira, como o cravo, a canela e a bandeira nacional.

O eu lírico expressa um profundo anseio por Gabriela, mencionando detalhes como o cheiro de café e a luz do sol na mata, que o fazem lembrar dela. A canção também revela um desejo de compromisso e intimidade, sugerido pela vontade de casar-se com Gabriela e compartilhar segredos. A repetição do nome 'Gabriela' ao longo da música enfatiza a obsessão e a intensidade dos sentimentos do narrador.

A música termina com uma nota de melancolia e incerteza, refletindo a natureza volátil do amor e da vida. O narrador menciona a lua, um símbolo poético frequentemente associado à mudança e ao mistério, e questiona seu próprio papel na 'vida tão louca', comparando-se a um 'palhaço no teu carnaval'. A canção 'Gabriela' é, portanto, um retrato lírico da paixão ardente e da saudade que acompanha a separação, elementos universais que ressoam com ouvintes de todas as culturas.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Caldeirão Poético LXXXV

Elvira Drumond

FLORAÇÃO 

Ainda que capine a dor no peito
e extirpe todas ervas tão daninhas, 
não posso remover das “terras minhas”
alguns ressentimentos… (de que jeito?)

Ainda que revolva o campo eleito
à cata de vegetações mesquinhas, 
a força de tais plantas, se vizinhas, 
parece enraizar o meu defeito…

Mas quero, ao adubar o meu terreno, 
que a terra se renove no sereno, 
que o céu, lacrimejando, lave o chão. 

Que a graça de orvalhar cada esperança 
devolva a luz… (quem sabe a vista alcança)
e traga um novo tempo em floração!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Fernando Antônio Belino

INSTÁVEL

O tempo, que nos prende em sua grade,
traz, alternadamente, bem e mal.
Não leva em conta gosto nem vontade;
espalha amor e dor, em dose igual.

Quem busca abrigo sólido, em verdade,
nem sempre alcança a salvação total,
pois chega, sorrateira, a tempestade
e faz da vida intenso lamaçal.

Não há, de fato, em nada, infelizmente,
o que garanta acerto permanente.
É muito instável nossa travessia!

As chances de vitória ou de fracasso,
descobriremos sempre, a cada passo,
na estrada em que seguimos, dia a dia.
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Giliard Santos

AMPULHETA

A areia ali se move lentamente
Neste artefato frágil e incolor...
E em sua ação mecânica e silente,
Vai alcançando o bojo inferior.

Os grãos de areia nunca irão se opor
À lei da gravidade contundente...
Transcorrem, exercendo seu labor,
Cumprindo sua sina, tão somente.

Naquele artigo que hoje adorna a sala
A areia nunca volta, nunca entala
E vai, por ele, sendo consumida.

O tempo, em categórica faceta,
Trabalha assim, conforme essa ampulheta,
Levando, pouco a pouco, nossa vida.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Jerson Brito

ESPERAS

Suplicam asas, numerosos pares,
estes desvairos do juízo, implumes,
porque me atingem, da lascívia, os gumes,
brilham banquetes de carnais manjares.

Se eu te levar, invadiremos ares,
infinitudes da paixão, ardumes;
abraçaremos vendavais, perfumes,
para Afrodite levantando altares.

Senhora, vem extravasar teu gosto,
deitar a seiva, colorir meu rosto,
apaziguar um coração aflito!

Tua presença me alimenta feras,
amansa lábios, adocica esperas
e satisfaz enclausurado grito.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Lucília Alzira Trindade Decarli

"PÁSSAROS" SEM RUMO

Feliz é o ser que encontra em seu caminho
doce aconchego e segue, vida afora,
sem conhecer a dor de estar sozinho,
exposto ao desabrigo, que apavora.

Há “pássaros” sem asas e sem ninho
– somente o sonho voa, quando aflora...
No mundo perambulam sem carinho
e a sorte, inexorável, os ignora.

Não falo, aqui, dos pássaros que cantam,
nem das revoadas rápidas, que encantam,
mas, sim, daqueles onde a mágoa assola...

Dos muitos “passarinhos” desnorteados;
 no alçar do voo incerto, encurralados
e, em meio às penas, presos na “gaiola!...”
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Maurilo Rezende

SONETO DO AMOR INGENTE

Resipiscência* que conduz o meu futuro,
Nuvem azul que chove em forma de esperança,
Fadiga longa em que meu peito não se cansa,
Anseio vasto... Sentimento muito puro...

Toda importância dessas coisas que procuro,
A mão de Deus, o meu sorriso de criança...
Sombra que junto ao meu cansado corpo avança,
Luz que ilumina meu espírito no escuro...

Amarelados versos, páginas contadas,
Sonhos perdidos pelas curvas das estradas,
Caminhos ínvios, quase sempre... Mas eu vou...

Parte do céu que creio minha ser um dia...
Princípio pelo qual externo não seria,
Se já não fosse exatamente quem eu sou…
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*Resipiscência: Reconhecimento de uma falha que leva ao arrependimento e à vontade de remissão, da busca pelo perdão e do desejo de não voltar a cometê-la.
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Pedro Ornellas

FANTASIA

Na casa tosca e pobre a mesa parca;
coração cheio e mãos sempre vazias...
Fartura de ilusões e fantasias
no reino em que, soberbo, eu fui monarca!

Por sobre a areia fina dos meus dias
o tempo deslizou deixando a marca;
sulcos profundos que o meu pranto encharca
quando o passado volta em noites frias!

Como era doce a antiga brincadeira...
Meu trono: um simples banco de madeira,
e de esperanças meu castelo eu fiz!

Hoje, à mercê da vida que me afronta,
já não sou mais o rei do faz-de-conta,
já não sei mais brincar de ser feliz!
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Ricardo Camacho

VIGÍLIA

Desmaia a luz e a tarde, adormecida,
Na rubidez* pungente do poente
Que trouxe a treva rútila, regente
Da etapa escura e gótica da vida.

Abaixo da redoma enegrecida,
A noite expande-se na lei vigente,
Mostrando um ponto tão tremeluzente
Da chama de uma estrela esmaecida.

Bem perto, a lua, em nébula abraçada,
Caminha em direção à madrugada,
Na solidão do espaço encantador...

Vagando calmamente em horas calmas,
Na dimensão sonífera das almas,
Prossigo distraindo a minha dor.
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*Rubidez = rubor.
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Fonte> Academia Brasileira de Sonetistas Clássicos. Trilha 1. 6 set 2023.
https://www.recantodasletras.com.br/sonetos/7873455

Recordando Velhas Canções (O Barquinho)


Composição: Roberto Menescal / Ronaldo Bôscoli

Dia de luz, festa de Sol
E o barquinho a deslizar
No macio azul do mar
Tudo é verão, o amor se faz
No barquinho pelo mar
Que desliza sem parar
Sem intenção, nossa canção
Vai saindo desse mar
E o Sol
Beija o barco e luz
Dias tão azuis

Volta do mar, desmaia o Sol
E o barquinho a deslizar
E a vontade de cantar
Céu tão azul, ilhas do sul
E o barquinho, coração
Deslizando na canção
Tudo isso é paz
Tudo isso traz
Uma calma de verão
E então
O barquinho vai
E a tardinha cai
O barquinho vai
E a tardinha cai

Volta do mar, desmaia o Sol
E o barquinho a deslizar
E a vontade de cantar
Céu tão azul, ilhas do sul
E o barquinho, coração
Deslizando na canção
Tudo isso é paz
Tudo isso traz
Uma calma de verão
E então
O barquinho vai
E a tardinha cai
O barquinho vai
E a tardinha cai
Vai, vai
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Navegando nas Águas da Bossa Nova com 'O Barquinho'
A música 'O Barquinho', interpretada por Nara Leão, é um clássico da Bossa Nova, gênero musical que surgiu no final dos anos 50 e início dos anos 60 no Brasil. A canção, composta por Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, é uma ode à leveza e à beleza dos dias de verão, utilizando a metáfora de um barquinho que desliza pelo mar para evocar sentimentos de tranquilidade e contentamento.

A letra descreve um cenário idílico, onde o 'dia de luz' e a 'festa de sol' criam o ambiente perfeito para o amor. O barquinho, elemento central da canção, simboliza a jornada suave e sem preocupações pela vida, assim como o movimento contínuo e harmonioso do amor. A música também faz uso de imagens poéticas, como o sol que 'beija o barco e luz', para transmitir uma sensação de união com a natureza e alegria existencial.

A canção termina com a imagem do barquinho voltando e a tarde caindo, sugerindo um ciclo que se completa, mas que também promete recomeçar. 'O Barquinho' é uma expressão da filosofia de vida da Bossa Nova, que valoriza a beleza das coisas simples e a serenidade. Nara Leão, com sua voz suave e interpretação delicada, captura perfeitamente o espírito da canção, tornando-a um hino atemporal à paz e à felicidade encontradas nos pequenos momentos da vida.

domingo, 14 de abril de 2024

Daniel Maurício (Devaneios Poéticos) = 11 =


Ela
Era dissimulada,
Tipo
"Olhos de Capitu"
Até que um dia
"Caiu a máscara"
E o beijo
Deslizou
Pelo
Corpo nu.
= = = = = = = = = 

Nos olhos do menino
Madrugavam sonhos.
"Sem entender direito
O que era fé
Esperava pelo sol
Mesmo diante
Das "chuvas de nãos"
Que tentavam borrar
O seu sorriso.
= = = = = = = = = 

Sem
Palavras
Só você
Consegue
Desenhar
Um
Sorriso
No meu
Rosto.
= = = = = = = = = 

Ela gritava
Por felicidade
Até que um dia quase
a saúde perdeu.
Calou suas queixas
Em preces
Saboreando as urgências
Dos "agoras"
Como se fossem
Um delicioso
Pedaço de pão.
= = = = = = = = = 

Num
Bocejo
Vazio do tempo
Sonolentamente
Pingam estrelas
Adormecidas.
Vida
Que passa
Tão rápido.
= = = = = = = = = 

Chovia...
A janela do meu eu
Lacrimejava e a solidão,
Essa velha louca
Adormecida no porão
Da minh'alma,
Amanheceu
Resmungando
E arrastando
Os seus chinelos
Pela casa.
= = = = = = = = = 

Lágrimas.
Na carta
De despedida
Saem pingos
Em todas
As letras
E não
Somente
No “i”.
= = = = = = = = = 

Tudo passa.
Mas quando
Ela passou
Eu fiquei
"Parado"
Na dela.
= = = = = = = = = 

Silenciando
Meus
Abismos
Uma poesia
Pousou
Em meus lábios
Num suave
Beijo.
= = = = = = = = = 

Sem
Nenhuma pressa
No teu jardim
Pouso
O meu olhar
Feito
Um beija-flor
Apaixonado.
= = = = = = = = = 

Quando
O amor
Fala mais alto,
As vozes
Dos deuses
Silenciam.

(É que nada
mais era preciso
ser dito.)
= = = = = = = = = 

Com a porta
Entreaberta
Deixei que entrasses
No meu céu.
E no céu da tua boca
Gostosamente
A lua procurei.
Mas foi com
Os olhos fechados
Que estrelas
Enxerguei.
= = = = = = = = = 
Fonte> Daniel Maurício. Palavras de cheiro. Curitiba: Ed. do Autor, 2021. Enviado pelo poeta.

Recordando Velhas Canções (Meu Mundo Caiu)


Composição: Maysa Matarazzo

Meu mundo caiu
E me fez ficar assim
Você conseguiu
E agora diz que tem pena de mim

Não sei se me explico bem
Eu nada pedi
Nem a você nem a ninguém
Não fui eu que caí

Sei que você me entendeu
Sei também que não vai se importar
Se meu mundo caiu
Eu que aprenda a levantar
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

A Dor de um Coração Partido em 'Meu Mundo Caiu'

A canção 'Meu Mundo Caiu', interpretada pela icônica Maysa, é um clássico da música brasileira que expressa a dor e a desilusão amorosa. A letra da música retrata o sentimento de uma pessoa que teve seu coração quebrado e seu mundo desmoronado pela partida ou traição de um amor. A expressão 'meu mundo caiu' é uma metáfora para o impacto devastador que a perda ou o fim de um relacionamento pode ter na vida de alguém, sugerindo uma sensação de desorientação e desespero.

A música também aborda a ideia de independência e resiliência. A narradora da canção deixa claro que, apesar da dor, ela não pediu nada a ninguém e que a responsabilidade de se reerguer é dela mesma. Isso reflete uma mensagem de força interior e a capacidade de superar as adversidades, mesmo quando se está vulnerável. A frase 'Eu que aprenda a levantar' é um reconhecimento de que, embora o outro tenha causado a queda, cabe a ela a tarefa de se recuperar e seguir em frente.

Maysa é conhecida por sua voz marcante e interpretações cheias de emoção, o que confere à música uma intensidade que ressoa com muitos ouvintes. 'Meu Mundo Caiu' é uma música que, através de sua simplicidade lírica e melódica, consegue transmitir um sentimento universal de tristeza e ao mesmo tempo de esperança, característico de muitas canções de Maysa e da música popular brasileira da época.