terça-feira, 20 de novembro de 2012

Mário de Carvalho (Vaudeville)


(Foi mantida a grafia original)

Como de costume, à hora do almoço, Gilberto entrava no gabinete de Isabel, a directora de serviços, com papéis graves na mão, ávidos de boa ponderação e despacho, e logo fechava a porta à chave, atrás de si. Isabel recebia-o com um brando sorriso e indicava-lhe o grande sofá, forrado de napa castanha.

O edifício estava vazio, zumbiam as moscas, o pessoal almoçava, e os dois amantes iniciavam o seu ritual, rápido, às vezes tumultuoso, sempre com o travo picante da transgressão e o risco de escandaloso processo disciplinar, no caso de serem reduzidos a auto os rumores que já circulavam em todo o departamento.

Gilberto tinha a suspeita insidiosa de que partilhava Isabel pelo menos com metade da população masculina ao norte do Tejo, e a consciência do carácter caprichoso e efémero daquela relação. Mas o que havia começado de um modo um tanto indiferente, descontraído e relaxado, absorvia-o neste momento por completo, com o sabor da passagem triunfal dos limites. Durante aquela hora em que prevaricavam, Isabel queimava pauzinhos de incenso, cujos vapores tinham depois de expulsar pela janela aberta, numa azáfama divertida e excitada. Pelo resto do dia, tratavam-se com um «senhor doutor», «senhora doutora», cerimonioso e distante, a propósito de assuntos de serviço. Ao fim da tarde, partia cada qual para seu cônjuge, na fila dos funcionários em regresso.

E, assim, imperceptivelmente, mais e mais se fora firmando o empenho de Gilberto naquela ligação, estimulado pela sua própria escassez, celeridade e incompletude.

Mas Gilberto mostrava-se hoje tenso e enervado. Não fechou a porta à chave, recusou o sofá grande, atirou com os papéis para uma cadeira, aplicou ambas as mãos sobre a secretária e exclamou, dramaticamente:

«Estamos perdidos!»

Isabel não se alterou. Com uma suave compostura de gestos, acendeu um cigarro, deu um jeito ao cabelo e perguntou, num tom levemente zombeteiro:

«Credo! Então?»

«Já sabes quem vem substituir o Emanuel?7»

«Já... É uma tal Elsa Gonçalves, das Contribuições e Impostos. Tenho para aí o processo em qualquer lado...»

«É que, minha querida, a Elsa é a melhor amiga da minha mulher. E, sobre isso, a maior coscuvilheira e contadeira de coisas da Função Pública.»

«Hum...», inquietou-se Isabel.

«Se ela suspeita de alguma coisa vai logo a correr contar à minha mulher. E agora?»

«E agora é preciso sangue-frio, meu querido», sussurrou Isabel, sorrindo. E aproximou-se, depois de esmagar o cigarro no cinzeiro.

No dia seguinte, Elsa já ocupava, alegremente, a sua secretária, frente à de Gilberto. Em sinal de posse, instalara sobre o tampo uma caixa de lápis, uma moldura com fotografias e um relógio de calendário. Por parte de Isabel a recepção foi reservada e cortesmente distante, como era de esperar do desnível hierárquico. Já Gilberto foi expansivo e ruidoso nos cumprimentos e colaborou, zelosamente, com o meticuloso arrumar das gavetas de Elsa.

«Onde é que almoças?», perguntava Elsa às tantas.

«Ah, fico até mais tarde e depois talvez vá almoçar com uns tipos conhecidos, da Associação dos Amigos dos Castelos. Não esperes por mim. Olha, há por aqui uns restaurantes baratos, do tipo come-em-pé...»

Foi desesperado que, uma hora depois, Gilberto entrou no gabinete de Isabel com as pastas costumadas na mão:

«É o fim... Imagina que agora até quer almoçar comigo. Inventei uma desculpa, mas, bem vês, a situação é embaraçosa...»

«De facto, preferia não me envolver em mexerufadas», respondeu Isabel, tranquilamente, enquanto ia sublinhando a vermelho os períodos mais significativos de um longo documento em papel pautado. «Imagina que a tua mulher vinha aí fazer-me uma cena... ou que o meu marido acabava por saber ê àparecia a pedir-te contas... Desagradável, hem? Burlesco...»

Isabel arrumou cuidadosamente o papel azul e só então levantou os olhos para Gilberto:

«Quer-me parecer, meu querido, que vais ter de usar de muita diplomacia...»

«E se nos passássemos a ver mais tarde, depois do serviço? À noite, sei lá... Sempre tenho a desculpa dos Amigos dos Castelos...»

«Bem sabes que é impossível. Então, e o Raul?»

Compenetradamente, ambos estudaram a situação. Isabel serenamente sentada à secretária, e Gilberto medindo o gabinete a grandes passadas e expelindo túrgidas baforadas de fumo. Dessa vez, ninguém se lembrou dos pauzinhos de incenso.

«Há só um processo», acabou por dizer Isabel com alguma hesitação. «Rouba-lhe a amizade da tua mulher. Trata-a bem, liga-a a ti, enfim, corteja-a...»

Gilberto irritou-se. Falou alto:

«Mas cortejar, como? Aquela voz áspera, aquele corpo desengonçado... Minha querida, é seduzir a Olívia Palito, é namorar um gafanhoto...»
«Não se pescam tmitas a bragas enxuitas», replicou Isabel secamente. «Amanhã vais almoçar com ela. Depois, veremos...»

Elsa, durante o almoço, falou, falou... Tinha um assunto predilecto: a família e os filhos; e um inimigo favorito a quem chamava «as pessoas»: «as pessoas» eram tão ruins, «as pessoas» eram tão maledicentes, «as pessoas» eram tão incompreensivas.. .

Gilberto notou que ela vestia com um gosto apurado e que não era de todo deselegante aquele gesto de cigarro abando nado entre os dedos, com a mão descaída.

Já de volta, dizia-lhe Elsa:

«Ah, creio que me vou dar bem por aqui...»

E, durante a tarde, assediou a secretária de Gilberto, pedindo informações, pedindo dados, pedindo documentos... Por várias vezes Gilberto teve que esconder com a mão o bilhete, destinado a Isabel, em que dava conta de algum desespero, muita impaciência e sofredoras saudades.

A mensagem terminava com um post-scriptum imperativo: «E vê se consegues remetê-la para uma reunião, para um encontro, para um congresso, de preferência no estrangeiro...»

À saída, em resposta, Isabel passou por ele e segredou-lhe, com um sorriso:

«Vamos, vamos, porta-te bem...»

Mas no dia seguinte, a meio da manhã, Elsa perguntava-lhe, muito jovialmente:

«Então, almoça-se?»

Gilberto, sem levantar os olhos dos papéis, resmoneou que não dava jeito, que tinha de ir a despacho com a chefe.

«Não faz mal, eu espero.»

«Olha que posso demorar e, depois, sabes, os restaurantes ficam cheios...»

«Não tem importância, eu espero. Sempre é melhor que almoçar sozinha.»

Isabel estendeu-lhe a cara, quando entrou no gabinete, à hora habitual, mas Gilberto ficou-se por um beijo silencioso e fugaz:
«Ela está lá fora à minha espera...»

«Irritante, hã?»

«Ouve, temos de arranjar maneira de nos vermos noutro lado. Podíamos, talvez, uma destas tardes...»

«Impossível, com este serviço. O director-geral não me larga. Estás a ver?» E Isabel apontava as resmas de papel, em cima da secretária. «Além disso, não quero, nem de longe nem de perto, que o Raul desconfie de nada, percebes?»

Gilberto deixou-se cair no sofá com irritação: «Bolas! »

Com alguma impaciência, Isabel arrumou os óculos-de-ver-ao-perto, dispôs o pesa-papéis, figurando a Vitória de Samotrácia, sobre um monte de ofícios e voltou-se, maternalmente, para Gilberto:

«É como te disse: só há uma solução. Tens de lhe ganhar a confiança, ou melhor, a cumplicidade, entendes? A cumplicidade.»

«Mas olha, Isabel, por que não ganhas tu a cumplicidade dela? És a directora, podias, enfim, convidá-la para almoçar, chamá-la mais ao teu gabinete...»

«Ingénuo, meu pobre ingénuo...», sorria-se Isabel, «mas as razões são mais que óbvias... És tu quem pode defender esta relação, não eu.»

Foi de sobrolho derribado que Gilberto partiu para aquele almoço. A frustração, o sentimento de injustiça por ter deixado Isabel mais uma vez sozinha (mas ficaria mesmo sozinha?) amarguravam-no e induziam-lhe nas réplicas um sarcasmo contumaz.

Mas Elsa era totalmente invulnerável à ironia e indiferente a semblantes sombrios. Aparentava, contra todas as evidências, uma exuberante felicidade por se encontrar de novo em companhia de Gilberto:

«A tua mulher? E os miúdos?», perguntava. «Pensar que somos vizinhos, que nos conhecemos há tantos anos e que praticamente não nos vemos. Não tarda, vamos fazer-vos uma visita, está bem?»

«Com todo o gosto», respondia Gilberto. «Assim eu esteja em casa. Sabes, há aquelas reuniões dos Amigos dos Castelos...»

Mas já Elsa, mordiscando uma azeitona, faceiramente, mudava de assunto e inquiria:

«Olha lá, a nossa chefe, que tal?»

«Que tal, o quê?»

«Parece-me que não gosta muito de mim. Trata-me com rispidez, com secura. E eu ainda mal cheguei...»

«É isso, tu mal chegaste. São imaginações tuas. Ela é uma excelente pessoa, trabalhadora, justa... Não ligues, vais ver que não há-de ser nada...»

Elsa encarava-o agora, a face pousada nas palmas das mãos, o olhar penetrante:

«Mais uma gotinha de vinho?», queria saber Gilberto.

, «Só um tudo-nada», respondia Elsa. «É que depois posso ficar tonta...»

Mas Gilberto já pedia para dentro mais um jarro de branco, bem fresco.

Estavam ambos muito animados, à sobremesa. Gilberto despejou um imenso repertório de histórias vagamente brejeiras. Elsa ria, ria. Em dado momento, como para pedir tréguas, pousou a mão na de Gilberto, que achou a pressão magneticamente vibrátil.

«Ai, as horas que são!», assustou-se Elsa.

Fingiram que se apressavam, no caminho para o serviço.

Gilberto brincava: ora estugava o passo, ora o abrandava, com uma moleza indolente, ora parava numa montra, ora dava corridinhas breves. EIsa ralhava e ria.

Já à porta, Elsa estacou e empurrou-o, muito faceira: «Sabes, não é por nada, mas estou convencida de que a nossa chefe gosta muito de ti...»

Quando Gilberto reagiu, já Elsa tinha fechado a porta do elevador e subia, fora de alcance.

Ao outro dia, Elsa faltou.

Eram dez horas, onze, onze e meia, não tinha ainda chegado.

Gilberto foi esperando e retardando o momento de entrar no gabinete de Isabel com um pretexto qualquer, sempre sobraçando um molho de documentos:

«A Elsa falta! Podemos ver-nos à hora do almoço?»

«Não és obrigado! », respondeu Isabel com rispidez, sem despegar olhos dos papéis.

Gilberto mostrou-se estupefacto. Quis protestar. Tossiu e ia replicar quando Isabel o despediu:

«Até mais logo, meu querido, até logo, agora tenho que trabalhar...»

Mas à hora do almoço desarmava toda a fúria acumulada por Gilberto com uma exuberante demonstração de ternura. Queimaram incenso, nessa tarde. E dispersaram os cheiros, infantilmente, aos gritinhos.

Mas Isabel amuou, de repente, de braços cruzados sobre o peito, sentada no sofá. Que tinha?

«Oh, nada», respondeu. E, depois, abraçando-se a Gilberto: «Por favor, não estragues esta relação, toma cuidado...»

Quando Gilberto, um pouco mais tarde, de mente confusa, saía do gabinete de Isabel, já Elsa trabalhava à secretária, muito atenta, alinhando números com a máquina de calcular.

Durante largo espaço, Elsa foi lidando com os seus papéis. Volta e meia, atardava-se, de lápis na boca, a procurar ideias nas volutas do cigarro, e logo mergulhava na elaboração frenética de um relatório.

Desta vez, nada perguntava a Gilberto, contra os hábitos já instituídos. Afectando uma distracção distante, este não a perdia dos olhos, um tanto impaciente, na espera de ser, enfim, interpelado.

Considerava uma vez mais a graciosidade daquele gesto de cigarro desamparado entre os dedos e, sobretudo, admirava a vivacidade do belo vestido cor de cereja que EIsa trazia naquela tarde.

Superficial? Um pouco desengonçada? Talvez... mas um gafanhoto... era exagero. E, depois, aquele voltear da mão...

Só muito tarde, próxima a saída, Elsa rompeu o atarefado silêncio:

«Esta manhã fui buscar o carro à garagem. O meu marido vai para a Holanda e eu quis o carro afinado antes de ele se ir embora. Dou-te boleia?»

Quando Elsa, nesse fim de tarde, o ajudou a abrir a porta do carro do seu lado, Gilberto não se distraiu do corpo dobrado sobre o seu, nem do perfume silvestre, nem da maciez da pele. Durante o percurso, manteve-se imperturbável, conversando serenamente sobre banalidades. Mas, mais tarde, pela noite fora, aquele vestido cor de cereja veio-lhe repetidamente àideia.

«Bom, ao fim e ao cabo tenho instruções a cumprir: devo seduzi-la», ria-se de si para si. Mas não tinha muito a certeza de estar a brincar...

No dia seguinte, Isabel mostrava-se ocupadíssima, enervadíssima:

«O índice de preços? Põe aí...»

Depois, suspendendo o gesto:

«A tua nova conquista, como vai?»

«Preciso urgentemente de estar contigo.»

«Bem queria eu... Mas olha», e volteava as páginas da agenda, «vê bem, às dez com o director-geral, às onze e meia com os tipos de Trás-os-Montes, às duas, outra vez com o director-geral. Hoje é impossível, meu querido.»

«E depois do serviço?»

«Nada a fazer. Tenho de estar no emprego do Raul às seis. Jantamos hoje em casa dos meus sogros.»

E ao dizer isto, já Isabel se levantava, arrepanhando papéis de cima da mesa.

Sentado agora sozinho em frente de Elsa, Gilberto sabia que Elsa dava por estar a ser observada. O silêncio era apenas roçado pelo leve sinal da máquina de calcular dela. O cigarro sempre abandonado na mão, um ar de serena reflexão, um vestido amarelo, não tão vistoso como o de cor de cereja, mas, ainda assim...

Num sorriso intercalado entre duas baforadas de fumo: «Almoçamos?», perguntou Elsa.

«Decerto...»

E durante o resto da manhã continuaram enfronhados nas suas rotinas.

«Vamos?», interpelou Gilberto, olhando para o relógio: «Meio-dia e meia...»

Mas Elsa, debruçada do parapeito da janela, olhava agora o Tejo:

«Já viste já a luminosidade deste rio? Chega a ser agressiva...»

Gilberto aproximou-se, considerou que o Tejo corria, de facto, luminoso, mas, agressivo, seria exagero... E, sem perceber como, viu-se enlaçado com Elsa que exclamava, com voz alterada:

«Não sei, não sei como isto pôde acontecer...»

EIsa, ao almoço:

«Temos de arranjar um tempo e um espaço só para nós. Estou farta de te ver entre papéis.»

«Mas só lá vão três dias...»

«Não importa, estou farta! Quero ter-te só para mim. Faltamos uma destas tardes, está bem?»

«E a chefe?»

EIsa sorriu, dobrou e alisou o guardanapo, hesitou, titubeando um pouco, e disse:

«Não leves a mal o que vou dizer, mas... há ocasiões em que é preciso agir com tacto. Tu sempre és homem, percebes? Tens de procurar insinuar-te mais, seduzi-la um pouco. Enfim, obter-lhe a cumplicidade. A cumplicidade, estás a compreender?»

Fonte:
Mário de Carvalho. Contos Vagabundos. Lisboa: Editorial Caminho, 2000.

Teatro de Ontem e de Hoje (Besouro Cordão de Ouro)


O espetáculo se baseia na história de um mestre capoeirista do início do século XX para recriar o clima e a cultura dos rituais afro-brasileiros.

Manoel Henrique Pereira, nascido em 1885 e conhecido como o capoeirista Besouro Mangangá, ou simplesmente Cordão-de-Ouro, é citado no livro Mar Morto, de Jorge Amado. O interesse pela personagem faz o compositor e letrista Paulo César Pinheiro empreender uma pesquisa que leva ao texto teatral e à composição de dez músicas para o espetáculo, cada uma delas homenageando um toque de berimbau da capoeira.

'A peça busca preservar o caráter lendário, fazendo a história de Besouro desfilar ao sabor dos relatos de outros célebres capoeiristas, que levaram adiante o seu legado de arte e irreverência', diz o texto do programa. A história do capoeirista não é contada em forma de uma biografia linear, mas por meio de pequenas narrativas, causos, cantos e dança.

João das Neves, é ex-integrante do Grupo Opinião e um dos símbolos do teatro de resistência ao regime militar nos anos 1960. Ele dirige o espetáculo que, por intermédio do protagonista, dá voz à cultura brasileira de origem africana. A sonoplastia ao vivo utiliza um violão e instrumentos de percussão - berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e apito.

Com um subtítulo que afirma que o espetáculo é 'um dos mais emocionantes e bonitos da temporada', a crítica Barbara Heliodora do jornal O Globo comenta: "A direção de João das Neves (com assistência de Bya Braga) tem o grande mérito de preservar o talento inato de seus intérpretes, com marcas que favorecem a imagem do espontâneo e um contato próximo porém não invasivo com o público, que se sente a todo momento provocado a acompanhar o ritmo com palmas. Nada poderia ilustrar tão bem a disseminação do mito de Besouro quanto o momento em que todos os elementos do enredo masculino contam, ao mesmo tempo, diferentes histórias de sua vida. É um trabalho excepcional. (...) Besouro Cordão-de-Ouro é um momento precioso do teatro e da descoberta do Brasil..." [1]

Notas
[1]HELIODORA, Barbara. Uma Preciosa Descoberta do Brasil, O Globo, Rio de Janeiro, 21 dez. 2006.

Fonte:

Peregrino (O Louco)


Era tarde, o sol já estava se despedindo depois de mais um dia exaustivo de calor.  Labutando em seu céu esplêndido e vasto. Comecei a refletir sobre o sol. Vendo-o em sua rotação, mas quem estava em rotação era a terra não o sol. Mas da forma como eu via era o sol quem girava, isso basta. Era tarde já trocando de cor para noite. Mas o sol ainda me deixava em estado de reflexão. Meu pai deveria ser um sol. Brilhando em nossa família, alimentando-nos e nos dando o colo quente de um fim de noite, após a janta. Meu pai não poderia ser um sol à noite. Entretanto como no universo era escuro parecendo noite perene, e brilhava o sol na intensidade dos seus 5000 graus, ainda posso concluir que meu pai era um sol, para mim e meus irmãos, mesmo no escuro. Ele nos aquecia e nos alimentava, como o sol aquecia a terra e alimentava as plantas.

Meu pai sendo o sol, minha mãe poderia ser a lua. Sim, a lua. Refletindo a luz dele para nós, pois ela era seu espelho. A lua girando ao redor de nós, na sua rotação rotineira, cotidianamente sem se importar com sua imagem, sempre ali para nós. Ficava ali, eternamente inerte.

Mas voltando ao sol, que é o ponto...esquece o sol.

Vejo-me num plano. São meus olhos castanhos me vendo no material que apresenta um eu que não condiz com o que penso. Esse aqui em frente não sou eu. Essa barba não é minha, essas rugas não são minhas, esses dentes amarelos não são meus. Eu sou jovem. A imagem que vejo é somente um sonho, ou talvez uma mensagem do futuro. Se eu tiver um. Abro a boca, a imagem faz o mesmo. Cerro as sobrancelhas, idem. Olho bem a imagem, fixo os olhos, chego perto, encarando-a.

- Quem é você?

- O tempo.

- Como chegou aqui?

- Cientificamente ou quer uma poesia pra abrandar o choque?

- Não abri a porta pra você.

- Não é necessário. Sempre há lugar para se entrar na vida de alguém. 

- Me recuso a acreditar que você é algo que não comando.

- Se assustaria com as respostas que dou às pessoas.

- Me surpreenda.

- Eu venho como um vento, suave para uns, violento para outros. Passo invisivelmente, sem nem perceberem que estive lá. Como garotinhos perdidos culpam outras coisas. São os problemas pessoais, acidentes, brigas, discussões, felicidade demais, sofrimento em excesso, programas de entretenimento, músicas, filmes, jogos. Posso transpor rapidamente, ou muito lentamente. Depende do que vocês estão fazendo. Esperar numa fila, devagar; numa boate com os amigos, rápido; num bate-papo na internet, rápido; esperando o fim de uma cirurgia, devagar. 

- Então é assim que você trabalha?

- Desde o princípio. Nunca mudei nada. Você também não percebeu, mas estive sempre aqui. Desde o dia que nasceu até agora.

- Mas estou num manicômio, você deve ser uma alucinação.

- Um louco ciente de sua loucura? Interessante. Você somente está mais sensível ao mundo. Vi que pintou as rosas brancas de azul.

- Eu gosto de azul.

- Sua memória está torta e seu raciocínio está ferido. Isso é bom.

- Minha família não acha isso.

- Você não tem família.

- Claro que sim, tenho mulher e um casal de crianças lindo.

- Foi isso que você criou para si. Você veio para cá quando tinha 14 anos.

- Isso é um absurdo. Estou olhando meu reflexo no espelho e vejo um homem de meia-idade.

- Sua mente está criando isso, você hoje tem 22. E cada dia piora.

- Não é possível. Estou melhor. Em poucos dias vou sair. O doutor Almeida disse que eu estava quase recebendo alta.

- Ninguém vem te ver há dias, homem.

- Não entendo. E meu casamento? O nascimento dos meus filhos? Eu vi tudo isso, está aqui guardado. Lembro-me do perfume da minha mulher.

- A mente humana é capaz de fabricar até os odores. Ela fabrica o medo, a dor, alegria. 

- Não acredito, isso tudo é somente um sonho.

- Você nem percebe mais onde está. Essa é uma defesa sua para tentar esconder o medo que está chegando.

O Medo chegou perto de mim e disse que não sairia dali do meu lado. Disse que eu o chamei para perto de mim. Agora estávamos eu, o Tempo e o Medo juntos numa reunião particular. Comecei a sentir o Medo me abraçando, o Tempo continuou o seu discurso barato.

- Pois hoje é o dia. Chegou o momento de fechar o ciclo. Assim como quando iniciamos a leitura de um livro, chegamos ao final. O fim do livro não é o esperado pra você, eu sei. Mas final de contos de fadas só nos livros de fantasia. O seu livro tá mais para cotidiano. 

- Queria ter mais tempo.

- Já te dei o bastante. A areia chegou ao fim. Não posso virar a ampulheta novamente. 

- Então me diga uma coisa.

- Sim?

- Pode me contar como foi minha vida de verdade?

- Bem, você nasceu num dia de chuva. Sua mãe morreu no parto. Aos 12 anos você viu seu pai se matar, e sua vida foi um inferno. Você imaginariamente criou uma família feliz e calorosa, terminou os estudos e encontrou uma garota. Apaixonaram-se, casaram-se, tiveram dois filhos e você acha que aqui é uma sessão de psiquiatria, pois crê que está estressado ao extremo. E que quando soar um sino você vai acordar, curado e voltar para sua família feliz. 

- E se isso for verdade?

- Não é. Isso se chama esperança, mas ela está muito longe daqui, não pode ajudá-lo.

- E se eu quiser crer?

- Tente, de nada vai adiantar.

- Esperança, eu te convido a aparecer em nosso meio.

E eis que surge uma mulher [não vou me ater a descrições de aparência ou roupa] dizendo ser Esperança, mas não pode me ajudar fisicamente. Apenas me dar um alento. Mas eu precisava de algo real pra me livrar daquilo. O Tempo disse:

- Mais alguém para a reunião, senhor?

- Eu chamo uma garota.

- Quem?

- Realidade.

O espelho se quebrou. As paredes se desfizeram e comecei a cair. Vi o universo, estrelas, planetas, comecei a ver a terra crescendo, ou era eu caindo nela? Fui caindo, caindo, caindo. Vi que estava caindo em cima de um prédio. Ultrapassei o teto, até que caí num divã. Fechei os olhos. Será que morri? Um sino tocou.

- Acorde, senhor. Acabou a sessão.

- Como assim? Onde estou?

- É natural que o senhor se assuste depois de uma hipnose. Logo passa.

Aquilo era um sonho? Realidade? Não sabia dizer o que era real.

- Já pode sair, senhor, sua família está esperando aí fora.

- Minha família?

- Sua esposa e seus dois filhos.

- O senhor está certo disso?

- Claro. Saia e veja o senhor mesmo.

Minhas pernas tremiam. O que era verdade? Aquilo também me parecia bem real. Abri a porta lentamente, desfazendo o nó da garganta. Havia uma mulher linda folheando uma revista e duas crianças sentadas olhando a secretária digitando rapidamente um texto. A mulher me olhou.

- Oi, amor, como foi?

- Está falando comigo?

- Você sempre fica meio perdido, né?! Crianças, vamos.

As duas crianças vieram e seguraram minhas mãos. Eu acreditei que fosse real. Dirigimo-nos para o elevador. Estava incrédulo ainda. A porta se abriu, entraram primeiro. Eu por último ainda visualizando minha família. Entrei. A porta começou a se fechar, o doutor apareceu no fim do corredor e disse:
- Tenha um bom tempo, senhor.

Fontes:
http://multiversodecontos.blogspot.com.br/2012/04/conto-o-louco.html
Imagem = www.dolcevita.prosaeverso.net 

Jornais e Revistas do Brasil (A Noite)


Período disponível: 1911 a 1964 
Local: Rio de Janeiro, RJ 

O vespertino A Noite foi fundado em 18 de julho de 1911 por Irineu Marinho, no Rio de Janeiro (RJ), logo depois que este jornalista deixou a Gazeta de Notícias, onde era secretário-geral. Acompanhado de treze antigos funcionários, Irineu Marinho instalou o novo periódico no sobrado de nº 14 do Largo da Carioca, com impressão feita na rua do Carmo.

Considerado um dos primeiros jornais populares do Rio de Janeiro – fora lançado a preços baixos, com circulação diária e grandes tiragens – o jornal teve várias donos e fases, a mais importante das quais nas décadas de 1920 e 1930. Foi em A Noite que Lima Barreto publicou, de março a julho de 1915, em folhetos, o romance satírico Numa e a Ninfa. O jornal também emprestou seu nome ao moderno edifício de 24 andares, construído em 1928 na Praça Mauá, no Rio de Janeiro. No “prédio d’ A Noite” também funcionou a Rádio Nacional.

A Noite trazia principalmente assuntos políticos, assuntos locais e forte noticiário policial. Costumava dar o resultado do jogo do bicho na primeira página, o que cessou a partir do momento que a direção do jornal decidiu iniciar campanha contra jogos e cassinos clandestinos. Já no seu primeiro ano de vida, o diário promoveu o voo do piloto francês Edmund Planchut em 22 de outubro de 1911, realizado no Rio de Janeiro (na sua redação, aliás, foi inaugurado o Aero Clube do Brasil).

No início, o primeiro jornal de Irineu Marinho adotou a causa civilista da candidatura de Rui Barbosa nas eleições presidenciais de 1910. Com a derrota dos civilistas, A Noite ficou na oposição ao governo de Hermes da Fonseca. Crítico e severo, o diário combatia o autoritarismo do presidente e a chamada política de "salvações" (intervenções militares em alguns estados com fins de moralizar costumes políticos oligárquicos, mas que, no fim, levaram à simples substituição de oligarquias no poder). Tal postura ocasionou a suspensão da circulação do jornal e a prisão temporária de seus diretores. 

Nas eleições presidenciais de 1918, A Noite voltou a apoiar a candidatura Rui Barbosa, desta vez derrotado por Epitácio Pessoa. Mantendo-se na oposição, o jornal viveu bons momentos na década de 1920. Um deles foi a cobertura favorável às revoltas tenentistas de 1922 e 1924, o que lhe valeu a dura repressão dos governos de Epitácio Pessoa e Artur Bernardes e a prisão de Irineu Marinho. 

A direção passou a Antônio Leal Costa e a Herbert Moses, vice-presidente da empresa, a Sociedade Anônima A Noite. Também preso Leal da Costa, em 1825, assume o seu lugar Vasco Lima, antigo sócio de Marinho. Libertado nesse mesmo ano e com problemas de saúde, Marinho deixa o país, não sem antes caucionar a maioria de suas ações na sociedade anônima em favor de Geraldo Rocha. Este, em uma reunião com os acionistas do jornal, rompe os vínculos que ainda prendiam A Noite ao controle de Marinho e constitui uma nova diretoria, formada por Eustachio Alves (presidente), Vasco Lima (gerente) e Castellar de Carvalho (secretário). .

Nessa nova fase, o jornal deixou a oposição, passando a apoiar o governo de Washington Luís, e iniciou a construção de sua nova sede, o moderno prédio de 23 andares na praça Mauá. Com a mudança para lá em 1929 e a compra de novas impressoras (linotipos), também se modernizou o aspecto gráfico do jornal. Em setembro de 1930, lançava a revista semanal Noite Illustrada, impressa em rotogravura. 

Nas eleições presidenciais de 1930, depois de ensaiar possível neutralidade, o jornal, ainda sob o comando de Geraldo Rocha, aderiu à candidatura governista de Júlio Prestes. As denúncias de fraude na vitória de Júlio Prestes não abalaram o alinhamento do jornal, que chegou a publicar entrevistas e pronunciamentos de líderes moderados da Aliança Liberal contra a solução armada. Um exemplo é o texto "Pela ordem", de Antônio Augusto Borges de Medeiros, que conclamava a aceitação dos resultados eleitorais.

Com a vitória do movimento liderado por Getúlio Vargas, os revolucionários empastelaram o jornal e prenderam Rocha. A sede foi depredada e incendiada, e o jornal deixou de ser editado por alguns dias. Ao voltar a circular, em 4 de novembro, a empresa se defrontaria com o desgaste político resultante do apoio às oligarquias derrotadas e, principalmente, com as dívidas originárias da construção do prédio da praça Mauá e da compra de novas máquinas. Sem ter como saldar os compromissos financeiros com o grupo do empresário norte-americano Percival Farquhar, proprietário da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, Geraldo Rocha, já livre, assinou uma confissão de dívida, que o levou a perder todos os seus bens e a totalidade das suas ações do jornal. Curiosamente, no entanto, desde a eclosão da Revolução, a São Paulo-Rio Grande esteve ocupada por tropas revolucionárias, o que acabaria determinando o futuro do periódico.

Nessa terceira fase, agora como propriedade de grupo estrangeiro representado no Brasil por Guilherme Guinle, o jornal passou a direção de Manoel Cardoso de Carvalho Netto e adotou linha política mais amena, livre de ataques pessoais. Adotou também uma disposição gráfica mais arrojada, com destaque para fotos e manchetes. Também foi mantido o suplmento Noite Illustrada. 

No processo de reerguimento da sociedade editora de A Noite, Vasco Lima, que continuou na empresa, criou duas revistas – Carioca e Vamos Ler – ambas dirigidas por Raimundo Magalhães Júnior. Dedicada sobretudo ao cinema, rádio e teatro, e com farta ilustração, Carioca foi sucesso absoluto, rendendo tiragens de mais de 150 mil exemplares. Em 1936, o grupo, cuja ferrovia ainda era controlada indiretamente pelo governo federal, inaugurou uma emissora de radio, a Rádio Nacional. No dia 8 de março de 1940, o Decreto-Lei nº 2.073 legalizou o controle do governo sobre a Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, passando à União todas as empresas a ela filiadas a esta, entre as quais o jornal A Noite e a Rádio Nacional, que assim passaram a pertencer às denominadas Empresas Incorporadas ao Patrimônio Nacional. Iniciava-se a quarta fase do vespertino.

A partir de 13 de março de 1940, o jornal foi dirigido por José Eduardo de Macedo Soares, tendo Cipriano Lage como redator-chefe. A administração ficou a cargo do coronel Luís Carlos da Costa Neto, superintendente das Empresas Incorporadas ao Patrimônio Nacional, que não aparecia no expediente. Apesar do respaldo do governo, o jornal entrou em grave crise ocasionada por problemas administrativos, baixa receita, empreguismo e perda de leitores, cada vez menos atraídos por um órgão sob controle oficial 

Com o fim do Estado Novo e a eleição de Eurico Dutra, e depois de uma curta experiência de arrendamento do jornal, em 1946, pelos funcionários, A Noite adentrou a década de 1950 sem solucionar seus problemas administrativos. Em 27 de dezembro de 1957 interrompeu sua circulação, para ressurgir, por iniciativa de seus funcionários, dois anos depois. E, ao que parece, por alguma razão jurídica, em apenas uma edição. Boa parte dessa edição, muito pobre, era tomada pela transcrição de uma ata da sociedade anônima. Organizados em sociedade anônima capitaneada por Manoel Cardoso de Carvalho Netto, os funcionárioa haviam adquirido seu título em hasta pública. Seria a quinta fase do periódico. 

O jornal foi relançado em 26 de dezembro de 1959 em edição de apenas quatro páginas. Era então propriedade da Empresa Jornalística Castellar (o nome homenageava um antigo funcionário já falecido) e se apresentava como "equidistante de governo e oposição – compromissos apenas com a comunidade social, para resguardar a justiça de seus julgamentos". O redator-chefe era Lincoln Massena, e a administração do jornal continuava, provisoriamente, no prédio da praça Mauá, enquanto as oficinas ficavam no nº 114 da rua do Riachuelo. O ressurgimento, novamente, durou apenas uma edição. A Noite só voltaria a circular quase um ano depois, em 20 de dezembro de 1960. O novo diretor era Celso Kelly e a redação agora funcionava na sobreloja do nº 2 da rua Francisco Serrador, na Cinelândia.

Em 16 de maio de 1963, o vespertino passou a ser dirigido por Eurico de Oliveira e tinha sucursais em Brasília, em São Paulo e Niterói. O novo diretor, que já já havia trabalhado em outros jornais, como o Correio da Noite, A Pátria, Jornal do Brasil e O Imparcial, tendo sido ainda colaborador na fundação da revista Pela Pátria e fundador do Diário Trabalhista em 1946, desde 1950 havia ingressado na política, elegendo-se, por diversas vezes, pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) ou pelo Partido Trabalhista Nacional (PTN). Em 1962, foi eleito suplente de deputado federal pela Aliança Socialista Nacionalista, formada pelo PTB e pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). Em abril de 1964, com as cassações feitas pelo governo militar, assumiria uma cadeira de deputado federal. 

A Noite circulou provavelmente até 31 de agosto de 1964, data da última edição existente no acervo da Biblioteca Nacional. Uma das razões de seu fim, além da fragilidade financeira da empresa, pode ter sido o início do mandato de Oliveira. O deputado viria a se destacar pela tentativa de implementação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que investigasse acordos ilícitos entre a TV Globo, fundada em abril de 1965, e o grupo de mídia americano Time-Life.

Fonte:
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/noite

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 733)



Uma Trova de Ademar  

Em busca de ser feliz, 
e em prol do amor de nós dois, 
quantos atalhos que eu fiz... 
Mas só chegava depois! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Na manjedoura o menino 
estende os braços e a luz 
projeta em sombra o destino 
sob a forma de uma cruz. 
–Conceição A. de Assis/MG– 

Uma Trova Potiguar  

A lua muito vaidosa,
costuma se refletir
elegante, bem charmosa
no espelho do Potengi.
–João Alfredo/RN– 

Uma Trova Premiada  

2007   -   UBT-Natal/RN 
Tema   -   TEMPO   -   M/E 

Diz-me esta ruga esculpida, 
entalhe que o tempo fez, 
que a primavera da vida 
só nos floresce uma vez. 
–Jaime Pina da Silveira/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Esperança e, simplesmente
um sentimento perjuro:
são mentiras no presente... 
desenganos no futuro...
–Lectícia Rangel Coelho/RJ– 

U m a P o e s i a  

Meu sertão onde o homem agricultor
uma arma que usa é a inchada,
uma calça que veste é remendada
quando sai é num burro corredor;
se adoece também não quer doutor
faz promessa com Deus e reza um hino, 
quando almoça não quer comer grã fino,
come é fava com charque couve e fato;
vou falar no sertão pra ver se mato
a saudade do povo nordestino. 
Biu Salvino/PB– 

Soneto do Dia  

DESEJO PÓSTUMO. 
–Reginaldo Albuquerque/MS– 

Nunca esqueci a pá contra o tijolo 
sobre o esquife no qual nos separamos, 
quando fugia o sol murchando os ramos 
e triste ave soltava um mesto arrolo. 

Entre as preces que fiz, em desconsolo, 
plantei dúzias da flor que mais amamos, 
fiando que à estação, que então sonhamos 
virás, e este amor hás de recompô-lo... 

Quisera ter poderes, dons enormes, 
e crer que, tal qual Lázaro, querida, 
não estás morta, em paz, apenas dormes, 

e, extático, abraçar-te com ternura, 
como te bem fizera outrora em vida, 
depois de te livrar da sepultura! 

Geraldo Majela Bernardino Silva (Funções da Mensagem Literária) Parte I


PARTE  I

1. Primeiras Considerações:

1.1 - Nesse estudo, teremos como objetivo final a determinação das funções da mensagem literária, com base na compreensão e interpretação de textos literários em verso e em prosa. De início, não examinaremos apenas textos literários, mas consideraremos aqueles que sejam veiculadores de mensagens nas mais variadas situações de comunicação linguística oral e escrita.

1.2 - Como vamos empregar constantemente o termo “função”, convém estabelecer o sentido dessa palavra. Para tanto, consideremos um objeto conhecido de todos - uma poltrona.Para quê serve uma poltrona colocada em uma sala-de-estar? A resposta a essa pergunta vai determinar a FUNÇÃO ou as funções da poltrona. Bem, a poltrona serve basicamente de apoio para sentar, ou “para sentar e recostar”. Mas essa mesma poltrona pode também servir como objeto decorativo para a sala. Temos então pelo menos duas funções para um mesmo objeto: “servir para sentar”, que é uma função utilitária, e “servir como objeto de decoração”, que é uma função estética. E uma não exclui a outra.

1.3 - Se pretendemos conhecer as funções da literatura, seria bom pensar primeiro nas funções da linguagem, pois, como você já deve saber, a literatura é um tipo de comunicação artística que se faz com palavras, ou seja, a mensagem literária se configura por meio da linguagem verbal.

1.4 - Assim como no exemplo da poltrona, observaremos mais de uma função (e não apenas duas, como no exemplo dado) para a linguagem. E essas funções serão definidas a partir dos diversos propósitos do emissor, nas várias situações de emprego da linguagem.

1.5 - Nunca é demais relembrar que o processo de comunicação pressupõe emissor, recebedor e mensagem. Quando se trata de comunicação lingüística, a mensagem se traduz por palavras estruturadas em frases. O emissor será o falante e recebedor o ouvinte, em situações de comunicação em língua oral. Utilizando-se a língua escrita, o emissor será “quem escreve” e o recebedor será será o leitor,“quem lê”. E em qualquer uma das situações de comunicação lingüística -oral ou escrita- é possível determinar as funções da linguagem como veremos a seguir.

1.6 - Ainda antes de iniciarmos a nomeação das funções, é de grande importância termos noção exata do que vem a ser LINGUAGEM DENOTATIVA OU REFERENCIAL e LINGUAGEM CONOTATIVA:

LINGUAGEM DENOTATIVA OU REFERENCIAL

- Caracteriza-se por enunciar juízos e raciocínios de maneira objetiva, sem manifestar o interesse ou emoção que possam acompanhá-los, nem denunciar ligação alguma com as circunstâncias.

- É a linguagem lógica, intelectiva, ideal para a exposição científica. Nada fica subentendido.

- O que importa é a clareza e a precisão, a exatidão das informações. Nada precisa ser repetido.

- As construções lingüísticas vigentes e uma entonação menos modulada bastam.

- Cada palavra é empregada com sua significação permanente e precisa, isto é, em sentido direto.

DENOTAÇÃO: - procura dar às palavras o sentido comum que todos compreendemos facilmente.

- é a orientação para um só significado, conhecido por todos.

Continua…

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 732)



Uma Trova de Ademar

Por ter uma fé suprema
não sofrerei agonia...
Se eu sinto uma dor extrema,
dou-lhe injeções de poesia!
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional  

Nesta vida a mocidade,
tal qual roseiras viçosas,
dá botões na flor da idade
antes de encher-se de rosas!
–Myrthes Mazza Masiero/SP–

Uma Trova Potiguar  

A lua cheia de agosto
é de uma beleza infinda...
nos olhos de um lindo rosto
é duas vezes mais linda.
–Djalma Mota/RN–

Uma Trova Premiada  

2012 - Cantagalo/RJ
Tema : ESPAÇO - 13º Lugar

Ventre Materno... o espaço
da semente em gestação,
onde Deus fez Seu regaço
em amor à Criação!

–Maria da C. Fagundes/PR–

...E Suas Trovas Ficaram  

Saudade, meu bem, existe
nessa distância sem fim!
- É tudo aquilo de triste
que te separa de mim...
–Aparício Fernandes/RN–


U m a P o e s i a  

Hoje eu digo nesta minha inquietude
“com carência de amor sobra virtude”
no reflexo da alma do meu ser;
e a esperança ao abismo das lamúrias,
faz chagar neste peito das injúrias
esse amor que reprime em não poder...
–Isaac Jordão/RN–

Soneto do Dia  

O BATISMO DO POETA.
–Gilson Faustino Maia/RJ–

O mar era revolto, a tempestade
parecia querer o fim de tudo...
Nuvens cinzentas lá de um céu sisudo,
despejava o seu pranto. Que maldade!

Dizia um lenço branco, da cidade:
-Será grande o sofrer, eu não me iludo!
Enquanto navegava, o barco, mudo,
diante da cruel fragilidade.

E gritava a razão, muito inquieta:
-Segure o leme, aguente coração,
é preciso alcançar a nova meta,

embora não pareça a solução!
Era o batismo do jovem poeta,
Timoneiro da triste embarcação.

domingo, 18 de novembro de 2012

Haicai 20 - Wagner Marques Lopes (MG)


João A. Carrascoza (O Segredo do Casco da Tartaruga)


Logo que aprendeu a ler, o menino começou a fazer descobertas. Um dia estava folheando um livro e se deparou com a palavra "réptil". Procurou no dicionário e se surpreendeu com o significado: animal que se arrasta. Cobras, por exemplo. Pensava que réptil tinha a ver com rapidez e era justamente o contrário. O pai riu de seu espanto e disse que as tartarugas também eram répteis. Aliás, uma lenda chinesa afirmava que Deus escrevera o segredo da vida no casco de uma tartaruga.

O menino gostou dessa escrita de Deus, que utilizou o casco da tartaruga como se fosse uma folha de papel. O pai lembrou que aprender a ler nos livros era só o começo. Com o tempo, o filho poderia ler no rosto de uma pessoa sua história inteirinha. E bastaria observar os olhos de um amigo para ver se neles brilhava a felicidade. Ou tocar as mãos de um homem do campo para conhecer seus sofrimentos. 

Mas o menino, curioso, queria mesmo era saber qual o segredo da vida. Por isso, começou a se interessar pela vida das tartarugas. Conheceu a tartaruga-de-couro, cujo casco parecia uma bola de capotão. A tartaruga-oliva, que lembrava o verde das azeitonas, e a tracajá, típica da Amazônia. Descobriu que a tartaruga-de-pente tinha esse nome porque de sua carapaça se faziam pentes, bolsas e aros para óculos. E aprendeu tudo sobre a tartaruga-cabeçuda, sobre a tartaruga-gigante, atração das Ilhas Galápagos, e sobre a Ridley, das praias da Costa Rica.

Quanto mais estudava, mais o menino se convencia de que realmente poderia descobrir a escrita de Deus naquelas criaturas que carregavam a casa nas costas. Elas tinham carapaças misteriosas, com desenhos estranhíssimos, círculos coloridos, arestas longitudinais. Algumas até pareciam pintura.

O menino foi crescendo e se tornou especialista em tartarugas. Sabia distinguir uma adolescente de uma adulta e conhecia como ninguém a desova das espécies marinhas no litoral. Mas também descobriu que, assim como procurava o segredo da vida no casco das tartarugas, outras pessoas buscavam a mesma coisa em lugares diferentes: no pulsar das estrelas, no canto dos pássaros, no silêncio dos olhares, no cheiro dos ventos, nas linhas das mãos, no fim do arco-íris. Tudo ao redor podia ser lido, sorriu ele, lembrando-se das palavras de seu pai. E só o tempo, como um professor que pega na mão do aluno, ensinava essa lição, enquanto as pessoas iam fazendo suas descobertas bem devagarzinho — como as tartarugas. Talvez estivesse aí o segredo. 

Fonte:
Revista Nova Escola

Arthur Nestrovski (As Três Educações de João Cabral de Melo Neto)


 “Só duas coisas”, dizia ele, conseguiram levá-lo a um poema: “o Pernambuco” e “a Andaluzia”. Sertão e Sevilha são os dois pólos entre os quais vem se estender o arco dessa poesia, vista em retrospecto pelo próprio poeta pernambucano, ex-cônsul brasileiro na Espanha. Sertão e Sevilha tem outro sentido, ali: um sentido que só se aprende com João Cabral, e que é hoje patrimônio da nossa cultura.

 Educação pela pedra, escola das facas: talvez só um escritor nascido e criado num ambiente de português tão rico, como Pernambuco, pudesse se disciplinar para chegar a tamanha magreza da língua. A “elocução horizontal de seus versos” não permite enlevo e desbragamento; nem mesmo a retórica de seu mestre e colega Drummond parece suficientemente “pedra” para as pedras no meio do caminho e por todos os lados da poesia de Cabral.

 À sua voz “inenfática, impessoal”, corresponde uma “lição de moral”, ou “resistência fria”, que pôde se traduzir em resistência enfática nos anos em que isso se impôs. A preocupação social na sua poesia nem sempre está explícita, mas nunca fica longe das “fábulas” de “um arquiteto” diurno e solar, votado ao “ar luz razão certa” – seja nas formas (o que é quase um mandamento dessa geração), seja (o que é mais difícil e mais raro) nos sentidos da literatura.

 O ar e a luz da Espanha, parentes distantes do agreste, fazem brotar nessa poesia outra vivacidade. A associação entre Sevilha e algo que o próprio Cabral chama “existência fêmea” é constante. Não seria preciso escrever estudos sobre uma “bailadora andaluza” para descobrir, em versos, essa energia nova da percepção. Mas a coincidência da vida espanhola da imaginação com a Espanha em si transporta Cabral para uma outra metade da sua poesia. São poucos os que vêm nela um repertório comparável ao primeiro; mas que leitor não habita, hoje, dentro de si, esse outro país que foi João Cabral quem nos mostrou?

 Foi lá, também, que ele pôde enfrentar, de frente, uma terceira educação: depois da pedra e das facas, e depois de Andaluzia, a educação pela (ou para) a morte. Volta aos Agrestes, depois, mas volta com olho viajado. Volta “às mesmas coisas e loisas”, num mesmo “não-verso de oito sílabas”, que “apaga o verso e não soa”. Como em Elisabeth Bishop, ou Paul Valéry, poetas que ele admirava, sua linguagem mais madura “não agranda e nem diminui”. É uma lente que filtra o essencial, “que todos vemos mas não vemos / até o chegar a falar dele”.

 Juntamente com Drummond, Cabral foi, por consenso, o maior poeta da língua brasileira contemporânea. Mas fora do âmbito da nossa literatura sua poesia não é bem conhecida, a despeito de prêmios e traduções. E mesmo para nós não é tão clara a dimensão que atingirá, vista como um todo, agora que se pode falar de Obras Completas. Sua dicção foi muito imitada, e as imitações tendem a perturbar a leitura do original. Mas não se disputa a força de dezenas e dezenas desses poemas; e o cânone do “melhor” Cabral ainda pode se alargar, à medida que formos aprendendo a ler sua poesia.

 A presença de Cabral na cultura brasileira era discreta nos gestos, mas tinha a autoridade modesta de sua grandeza, que ninguém contesta. Sua poesia há muito já se deu para as recriações da leitura e do comentário, que não vão acabar nunca. Sempre respeitoso, o poeta manteve distância de polêmicas, e preferiu a solidão de sua própria literatura. 

 Saiu sem alarde e sem choro, fiel à pedra e às facas, e ao sol a pino de Sevilha. A terceira educação já se anunciava há mais de cinqüenta anos, e pode servir de epígrafe para sua vida e sua obra: “Saio de meu poema / como quem lava as mãos”.

Fonte:
Folha de S.Paulo 10/10/1999

Olivaldo Junior (Quando eu volto para casa)


Então, quando eu volto para casa,
lembro o quanto te amo
e preciso amar.

E arrumo um jeito
de escrever mais um verso,
pra ver se no peito
eu inauguro outro universo.

Versos curtos, brancos...
Lábios mudos, francos...
Certos lutos, pranto,
que ninguém é santo
nesse altar pagão.

Pra quem amo tanto,
minha forma de estrela
desfaz-se em canto.

Então, quando eu volto, paro as asas,
lembro o quanto te amo
e preciso andar.

Fonte:
Colaboração do autor
Imagem = http://pastorailmashofar.blogspot.com/

Teatro de Ontem e de Hoje (Botequim)


O texto de Gianfrancesco Guarnieri, encenado em 1973, é tanto uma metáfora sobre a situação política do país como também uma imagem do próprio teatro, encurralado pela repressão da ditadura militar. É uma das produções representativas do teatro de resistência.

A peça se passa dentro de um velho botequim, que simboliza a oposição às mudanças impostas pelo desenvolvimento econômico, onde um grupo heterogêneo de freqüentadores fica preso durante uma noite de tempestade. Apesar do recurso à metáfora e à reviravolta no enredo, que faz com que, em dado momento, se instaure a festa em lugar do desespero, é a análise social o que efetivamente marca o texto, que faz de cada personagem a expressão crítica de um determinado comportamento diante da situação adversa. O cenário realista de Arlindo Rodrigues reproduz os elementos e as características dos estabelecimentos antigos, a sonoplastia ambienta a situação com um constante som de chuva, a direção de Antônio Pedro Borges se concentra sobre os comportamentos e as ações das personagens. 

Roberto de Cleto, no jornal Última Hora, assim resume as qualidades do espetáculo: 

"Um cenário de Arlindo Rodrigues muito bonito, que reconstitui com perfeição velhos botequins do Rio, hoje quase inexistentes. Uma interpretação absolutamente sensacional de Oswaldo Louzada, de uma verdade tão grande que às vezes a gente tem a impressão que frases que ele está dizendo não são absolutamente de Guarnieri, mas dele mesmo, tal a sinceridade com que soam. Uma garra e uma verdade também muito grandes de Marlene".[1]

Aldomar Conrado, no Diário de Notícias, ressaltando a direção seca e direta, comenta o desempenho dos atores em cada personagem: 

"Na condução dos atores, Antônio Pedro revela-se excepcionalmente seguro. Não existe um ator sequer a quem fazer restrições. Evidente que alguns se sobressaem pela própria oportunidade que os personagens lhes oferecem, mas o nível geral é de rara qualidade. Marlene (em que sempre admiramos a cantora e sempre duvidamos do talento de atriz) explode no Botequim com uma força, uma garra, que lhe garantem, de antemão, uma nova carreira cheia de sucesso. Isolda Cresta estava precisando, há muito tempo, da oportunidade que Olga lhe oferece. E a atriz cria um personagem pungente, rico em sutilezas, certamente o melhor momento de sua carreira [...]. Louzadinha - Oswaldo Louzada, vivendo um Carrapato com profunda humanidade. Ivan Candido, com extrema correção, num personagem totalmente impossível: o operário. Thaia Perez e Eduardo Tornaghi interpretam com uma sinceridade comovente os dois jovens estudantes, que no final da peça são considerados 'contaminados' pelas autoridades sanitárias. Alvim Barbosa e Toninho Vasconcelos como os Encapados pareceram-nos à vontade demais. Para André Valli, um destaque especial. O Túlio criado por André terminou me acompanhando até agora. Eu não consigo esquecer aquele ar pungente de quem é leitor da seção Cartas do Leitor, de quem nunca prevaricou, de quem sempre grita estrangulado. Um personagem, enfim, que termina sendo um pouco o protótipo de todos nós, na nossa impossibilidade de gritar mais alto. E que André Valli realiza com muita segurança".[2]

Numa época em que o realismo foi banido do palco como estilo preferencial de denúncia e reflexão política, Guarnieri consegue se manter no fio da navalha: escapa à censura e transmite sua mensagem ao público por meio de uma metáfora mais humana do que didática. Em depoimento ao Serviço Nacional de Teatro - SNT, ele define Botequim e Um Grito Parado no Ar como um "teatro de ocasião", explicando: 

"um teatro que eu não faria se não fossem as contingências. Que não corresponde, exatamente, ao que eu, como artista, estaria fazendo. Agora, como artista, eu também verifico minha realidade, e sei até quando, até onde e como a gente pode dizer e fazer as coisas".[3] 

Notas

1. CLETO, Roberto de. Botequim. Última Hora, Rio de Janeiro, 07 mai. 1973.
2. CONRADO, Aldomar. Botequim (o espetáculo). Diário de Notícias, Rio de Janeiro, sem data.
3. ALMEIDA, Abílio Pereira de et al. Depoimentos V, Rio de Janeiro: SNT, 1981 apud FARIA, João Roberto. O teatro na estante: estudos sobre dramaturgia brasileira e estrangeira. 1998. p. 167.

Fonte:

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 731)


Uma Trova de Ademar  

Deus vendo que não tem fim
essa fé que me conduz,
deixou cair sobre mim
uma cascata de luz! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Comparo a um pano rasgado 
esse amor, ao qual me rendo. 
Quando parece acabado, 
um de nós... Faz um remendo! 
–Terezinha Brisolla/SP– 

Uma Trova Potiguar  

A noite cai machucada 
por tantas cenas de horror, 
que os olhos da madrugada 
abrem vermelhos de dor! 
–José Lucas de Barros/RN– 

Uma Trova Premiada  

2008   -   ATRN-Natal/RN 
Tema   -   IDADE   -   1º Lugar 

Estas rugas em meu rosto,
mais que vestígios da idade,
são trilhas do meu desgosto
onde passeia a saudade...
–Wanda de Paula Mourthé/MG– 

...E Suas Trovas Ficaram  

O sino é um ser sem razão 
que não tem razão de ser, 
quando para um coração 
ele começa a bater. 
–Hegel Pontes/MG– 

U m a P o e s i a  

Eu não sei se o passado hoje se importa
que o presente me faça tão feliz,
todos erros que na vida eu já fiz
no meu livro da vida é folha morta;
porque Deus para mim abriu a porta
da poesia, da verdade e do amor,
e mostrando que a vida tem valor,
deu-me o dom mais divino da poesia
pra eu poder fabricar no dia a dia
um remédio eficaz pra minha dor!... 
–Ademar Macedo/RN–