terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Isidro Iturat (Sobre o Indriso)


Isidro Iturat nasceu em Vilanova i la Geltrú, España, 1973. Escritor e professor da lingua e literatura espanholas. Reside em São Paulo, Brasil, desde o ano de 2005.
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1. O QUE É? 

           No Duecento italiano, os trovadores do Dolce Stil Nuovo tomam a estância inicial da canção provençal e a mudam, dando lugar ao que hoje e desde então conhecemos como soneto. Mas, tal e como veremos agora, as possibilidades construtivas que oferecem estes tipos estróficos não terminam aqui, resultando que o soneto aceita uma nova reelaboração significativa (à margem de outras mais discretas como os jogos com estrambotes, o soneto de 13 versos, etc.), dando passagem a uma forma dotada de uma concreta e diferente musicalidade. Essa forma receberá o nome de indriso.

          Concebi o primeiro em janeiro de 2001, em Madri. O indriso é um poema que consta de dois tercetos e duas estrofes de verso único, isto é, que está organizado segundo um padrão 3-3-1-1, e surge a partir de uma reelaboração do soneto no que poderia explicar-se como um processo de condensação estrófica. Os quartetos do soneto passam a ser tercetos no indriso. Depois, os dois tercetos do primeiro passam a ser estrofes de verso único no segundo. 

          Visto graficamente seria assim:

 Soneto                                          Indriso

(4-4-3-3)                                       (3-3-1-1)

Desde a sua concepção, comecei a cogitar diversos nomes para a figura, testando, nas primeras tentativas, associar um adjetivo determinado à palavra "soneto". Logo, tive que desistir. O indriso procede do soneto, mas não é um soneto, da mesma forma que este último partiu de uma estância de canção para converter-se em uma outra coisa.

          Quanto ao modo de como nasceu, não posso dizer que tenha derivado de uma busca  consciente. Quando surgiu, eu simplesmente meditava sobre a forma do soneto clássico, vendo-a mentalmente, até o momento em que apareceu a imagem dos versos se fundindo em grupos menores. E o primeiro poema escrito: 

  LUNA MENGUANTE

 El centauro se asoma por la ventana
 y la mujer dormida está hablando en sueños.
 Llora y ríe, porque un centauro la rapta.

 Cabalga en su sueño la mujer dormida,
 cabalga en su sueño y es cabalgada.
 En la selva, nadie la oye cuando chilla.

 Llora y ríe como nunca en su vigilia.

 El centauro la mira... por la ventana.

LUA MINGUANTE 

O centauro se assoma à janela
 e a mulher adormecida está falando em sonhos.
 Chora e ri, porque um centauro a rapta.

 Cavalga em seus sonhos a mujer adormecida,
 Cavalga em seus sonhos, e é cavalgada.
 Na selva, ninguém a escuta quando grita.

 Chora e ri como nunca em sua vigília.

 O centauro a observa... pela janela. 

          Diante disto, me deparei com a necessidade de testar se era apenas um experimento trivial ou se, ao contrário, poderia se tratar de uma forma com um potencial expressivo apreciável, assim que, a partir daí, decidi focar todo o empenho em avaliar as possibilidades estéticas da nova forma. O resultado, quatro anos mais tarde, foi um livro composto integralmente com indrisos, intitulado El manantial y otros poemas, e também a seguinte definição formal: 

       O indriso é um poema que consta de dois tercetos e duas estrofes de verso único (3-3-1-1). Tolera qualquer tipo de medida no cômputo silábico, o que faz dele uma forma ao mesmo tempo fixa e dinâmica: no eixo vertical, a disposição não variável da estrofe; no eixo horizontal, as variações na quantidade. Ademais, admite todos os graus e géneros de rima. 

2. O NOME 

          A dificuldade de dar nome à figura já apareceu há algumas linhas atrás. As primeiras tentativas não foram mais do que isso, primeiras tentativas, e mais de dois anos se passaram antes da questão ser resolvida. Foi um tempo de procura daquela palavra, daquele morfema, daquele som..., querendo achar o término armônico, e eufônico, e elevado, entre obras de terminologia literária e científica, em dicionários de línguas vivas e de línguas mortas. Tudo inútil.

          A solução final vem através de uma menina de três anos, sobrinha de um amigo, que, nas suas primeras tentativas com a linguagem, ao tentar pronunciar o meu nome pronunciava a palavra “indriso”, em vez de “Isidro”. Durante muito tempo, nem sequer pensei na possibilidade de chamar assim ao poema, mas pouco a pouco comecei a considerá-lo mais seriamente. Também, a partir de um determinado momento, para ver como o receberiam outros ouvidos, comecei a mostrá-lo pelos círculos literários que naquela época frequentava em Madri (encontros de poetas em cafés, associações de escritores, etc.) e, de fato, senti que tinha uma boa acolhida, assim que, finalmente, decidi adotá-lo.

          Nota: À margem deste processo, soube, depois de cinco anos desde a adoção do termo, que, mesmo sendo produzido espontaneamente pela menina espanhola, já existia como sobrenome, pelo que sei até agora, de origem anglo-saxão. Não acho que esta "surpresa linguística" de última hora nos force a pensar em algo como a sua desconsideração, mas acho que o fato tem que ficar bem evidenciado. 

3. O ESTÁVEL E O CAMBIANTE 

          Como indica a descrição básica, o indriso pode ser considerado uma figura cuja natureza contém a faculdade de integrar o estável (disposição não variável da estrofe) e o cambiante (variações na quantidade e na distribuição da rima). 

          Para ilustrar o fato posso dizer, por exemplo, que em um corpus de 796 versos, foi possível achar pelo menos 42 variacões na disposição da rima. E se falarmos da quantidade silábica, experimentei com uma amostra que vai de bissílabos até octodecassílabos. 

          Considero que isto é possível graças à agrupação dos versos em uma relação de 3 e 1. Um objeto organizado com este tipo de relação numérica entre as suas partes, permite o desdobramento de uma grande diversidade de formas, mesmo mantendo, se bem possa parecer paradoxal, o seu caráter.

          As possibilidades de distribuição da rima em um terceto são oito: AAA, AAB, ABB, BBA, AVA, BAB, ABC. Em uma estrofe de verso único do indriso também: A, B, C, D, E, F, G, H. Então, na combinação destes dois tipos de estrofes, as perspetivas de combinatória atingem um número francamente difícil de calcular.

4. O INDRISO E OS SÍMBOLOS 

          Este epígrafe aborda o indriso como arquétipo simbólico. Tenho consciência de que algumas pessoas acharão insólito este enfoque, entre outras coisas porque os estudos desde tal perspetiva são realmente escassos, mas, encontrando-me entre aqueles que consideram plausíveis tais interpretações, acredito que é preciso arriscar um ensaio.   

          Bem, lembremos agora como surge: é uma imagem que se forma na mente. Não estamos diante do resultado de uma operação racional, lógica, voluntária; estaremos, melhor, diante do movimento de um velho conhecido (e desconhecido) ajudante: o subconsciente. E se falarmos de subconsciente, também poderemos nos referir à sua linguagem natural, que não é outra do que o símbolo, a imagem arquetípica. 

          O indriso é, falando em termos simbólicos, uma trindade duplicada. Isto é, uma forma de organização das coisas, padrão rítmico cósmico, sob a qual a existência se organizou desde que ela exite, e que o ser humano percebeu e interpretou com a mente dele, também desde que ele existe.

          A trindade implica uma “síntese alquímica” entre o único (simbolizado pelo número 1) e o múltiplo (simbolizado pelo número 3). Estamos ante uma imagem total do universo que nos mostra um movimento en duas direções:

          1°. Movimento de diástole. Isto é, a expansão das coisas desde uma unidade ou centro até chegar a um ponto de diversidade e propalação limites (como na ideia do Big Bang).

          2°. Movimento de sístole, ou reabsorção de todas as coisas até o seu ponto de origem (fato que coincidiria com o padrão do indriso: “ir do três até o um”).

          Depois, qual é o sentido da duplicação das estrofes? Para isto, lembro da interpretação que oferecem os antropólogos Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, no seu Dicionário de símbolos, que interpreta a duplicação de um objeto como a faculdade do mesmo de mostrar-se na sua máxima expressão. Estaríamos diante de alguma coisa parecida com expor as duas caras de uma mesma moeda.

Primeiramente, para conhecer o poema desde o maior número possível de ângulos (pode se observar que existe uma correlação nítida entre a simples forma métrica e a dimensão simbólica), e logo depois, à questão da sua possível capacidade para sugerir.

          Uma objeção provável a estas ideias seria a pergunta: Como é possível propor tamanha trama de argumentos se, ao fim e ao cabo, trata-se de um poema que vem do soneto? A resposta vem do simples fato de que o soneto também é suscetível de ser interpretado em termos metafísicos e simbólicos, assim como vem acontecendo desde as suas origens. Já os poetas anteriores ao Renascimento,  empregavam noções pitagôricas para pesquisá-lo (inclusive, por exemplo, o próprio Petrarca), falando de seus números e geometria através de ideias como "quadratura do círculo", "proporção áurea", etc.

          Interpretado como símbolo, o soneto é o resultado da combinação dos números 4 e 3. O número 4 é a representação numérica da matéria densa, a terra, o estável (também reafirma esta ideia a pouca mobilidade das rimas nos quartetos, que infrequentemente têm se desviado até hoje das combinações ABBA e ABAB). O número 3 representa o múltiplo, o mundo sutil, o dinâmico (correlato formal: o alto grau de variações da rima nos tercetos). A soma de 4 e 3 oferece o 7, número sagrado por excelência, que expressa o universo harmonizado, o que comumente se chama "um matrimônio entre o céu e a terra".

          Resumindo, considero que se o indriso deve ter capacidade para sugerir positivamente, uma das causas principais disso deverá encontrar-se na sua natureza arquetípica, no fato de que nasce e participa daquilo que conhecemos, em termos modernos, como "inconsciente coletivo".

           Para o contato com o estudo do soneto desde uma perspetiva matemática simbólica, pode ser consultado o artigo do italiano Pietro G. Beltrami Appunti sul sonetto come problema nella poesia e negli studi recenti, em Rhythmica. Revista española de métrica comparada, nº 1, direção: José Domínguez Caparrós e Esteban Torre, e para uma aproximação geral às relações entre poesia e metafísica, vale destacar: Poesía e imagen. Poesía visual y otras formas literarias desde el siglo IV aC. hasta el siglo XX, do espanhol Rafael de Cózar.

5. ESSES DOIS VERSOS... 

          Um outro assunto que oferecerá dificuldade é decidir como nos referirmos a esses dois últimos versos do indriso. O que eles são, versos ou estrofes? Ao longo do processo de estudo, pedi a opinião de diversas pessoas dedicadas às letras, que contribuíram com ideias como as que veremos a continuação.

          Em um primeiro grupo, estão aqueles que afirmam que devem ser definidos como “versos”. Alguns propõem a expressão "verso solto", sem atentar que o termo é utilizado nos manuais para designar o verso que, inserto em uma estrofe rimada, carece de rima. 

          A palavra "sentença" é uma outra opção. Ela refere-se a um enunciado breve e sintético, que não tem relação con outros. Certamente, não é difícil aceitar este segundo termo, porque no indriso, o tom do discurso tende a adotar um cariz sentencioso ao condensar-se a voz nos dois enunciados separados por espaços em branco. Mas, pode objetar-se aos defensores de "sentença" que a palavra não resolve a questão ainda, porque esses versos estão integrados a um conjunto estrófico e, portanto, devem ser algo a mais do que apenas versos. Entretanto, segundo a definição tradicional, “estrofe” implica na existência de mais de um verso contíguo...

          Em um segundo grupo estão os detractores de "verso" e similares, afirmando que é coerente falar em "estrofe" porque as duas linhas estão separadas e/ou relacionadas entre elas mesmas e os tercetos mediante pausa interestrófica, constituindo tudo isso em um conjunto orgânico.

          A proposta que até hoje considerei mais adequada, aparece no Manual de métrica española de Elena Varela Merino, Pablo Moíño Sánchez e Pablo Jauralde Pou, que oferece a expressão "estrofes de um único verso".

          Compreender os defensores de ambas posições é relativamente fácil, pois, a priori, quando observamos essas duas linhas e pensamos isoladamente na palavra "verso", percebemos que o problema não termina de ser resolvido, porque é uma definição insuficiente, e também quando pensamos de forma isolada na palavra "estrofe". A proposta destes três autores, permite entender que talvez o melhor não seria excluir um ou outro termo, mas integrá-los em uma mesma expressão. Isso nos leva novamente à ideia da síntese dos contrários: são estrofes (multiplicidade) e também são versos (individualidade), são estrofes de verso único.

6. VARIANTES DO INDRISO

          Especialmente após a sua divulgação na Internet, um número crescente de autores vem incorporando a figura como veículo para expressar a própria voz poética, o que também fez surgir diversas variantes, tais como os esquemas 3-3-2, 3-3-3-1-1, 4-4-1-1, etc., variantes que os seus autores optaram por continuar denominando  indrisos. 

          Porém, ao menos por enquanto, não acredito que seja o mais adequado assumí-las como tais, porque, mesmo tendo surgido a partir do esquema 3-3-1-1, afastam-se demais dele, tanto pelo nível rítmico, quanto pelo visual e arquetípico. Fazendo isso, simplesmente estaríamos ilimitando a definição do poema. Outra coisa pode ser, por exemplo, os experimentos como o indriso com estrambote, ou a utilização de versos partidos (interpretáveis como um verso só).

           Mas, em maio de 2008, aparece uma proposta que podemos ver de uma outra maneira: a escritora uruguaiaTeresa Marzialetti, explorou todas as possiblidades de combinação do 3 e do 1 duplicados e, com a permissão da mesma, também estudei a proposta para concluir que, ao contrário dos outros esquemas mencionados, percebe-se, de fato, uma afinidade íntima entre o 3-3-1-1 e estas últimas possibilidades.

           O que se revela são cinco variantes a partir do indriso originário. Temos, então, um total de seis formas, que pode organizar-se, outrossim, em três pares de opostos. Gostaria de expô-las aqui e sugerir uma nomenclatura para a sua distinção:


           3-3-1-1: Indriso ou indriso em sístole.
           1-1-3-3: Indriso em diástole.

          3-1-3-1: Indriso de duas sístoles.
           1-3-1-3: Indriso de duas diástoles.

          3-1-1-3: Indriso em sístole interna.
           1-3-3-1: Indriso em diástole interna.

          Como já expus em O indriso e os símbolos (epígrafe nº 4 do presente artigo), entendo a transição de 3 para 1 como um movimento de contração do discurso (sístole), e a transição de 1 para 3 como um movimento de expansão (diástole).

          Referente à relação entre as variantes, suponho que é possível interpretar que o esquema 3-3-1-1 seja uma forma primária a partir da qual se projetem as outras, pois tendo surgido a partir do soneto, será ela, a que mais tarde, permitirá a manifestação das mesmas.

Para terminar, gostaria de voltar às formas que mencionei no início deste epígrafe, destacando que de modo algum as considero carentes de valor, mas ao contrário: penso que se os seus autores exercitam, os frutos podem ser muitos e excelentes. Porém, considero necessário designar outros nomes para referir-se a cada uma delas, da mesma forma que podemos ver no exemplo de uma outra autora, a espanhola Montserrat Germà i Pifarré, que em 2009 concebeu uma variante do indriso com alteração no número de versos e que denominou “driso” (este nome já é,  inclusive, uma adequação do termo original em catalão “drís”, pois a autora escreve nesta língua).

          O poema consta de dois dísticos e uma estrofe de verso único, com uso livre da rima e do número de sílabas, e é o resultado de uma condensação do indriso, da mesma forma que este é do soneto: a forma 3-3-1-1 converte-se em 2-2-1, sendo também que o encurtamento do nome reflete o da estrutura. 

          Além disso, Germà i Pifarré serve-se do mesmo sistema de sístoles e diástoles apresentado acima, o que oferece as seguientes variantes:

           2-2-1: Driso, ou driso em sístole. 
           1-2-2: Driso em diástole.
           2-1-2: Driso em sístole interna.

           Uma amostra de tais poemas pode ser vista na web da autora L’espai poètic del drís.

7. DEFINIÇÃO DE INDRISO COM VARIANTES 

          Segue, então, uma definição que integra a proposta inicial e as variantes que foram incorporadas:

         O indriso é um poema composto de dois tercetos e duas estrofes de verso único (3-3-1-1). Seus versos permitem medida regular e irregular, presença, ausência, tipo e distribuição livres da rima.  Também admite mudanças na ordem das estrofes,  o que produz as seguintes  variantes: 1-1-3-3 / 3-1-3-1 / 1-3-1-3 / 3-1-1-3 / 1-3-3-1. 

8. A INDRISAÇÃO 

           A indrisação é um processo que consiste em parafrasear ou se inspirar em um poema para criar um indriso.

          O termo “indrisação” foi criado em 2012 pelo poeta brasileiro Rommel Werneck. 

          Segue um exemplo próprio a partir do poema de Lope de Vega Un soneto me manda hacer Violante:

Un soneto me manda hacer Violante, 
 que en mi vida me he visto en tal aprieto; 
 catorce versos dicen que es soneto: 
 burla burlando van los tres delante.

 Yo pensé que no hallara consonante 
 y estoy a la mitad de otro cuarteto; 
 mas si me veo en el primer terceto 
 no hay cosa en los cuartetos que me espante.

 Por el primer terceto voy entrando 
 y parece que entré con pie derecho, 
 pues fin con este verso le voy dando.

 Ya estoy en el segundo, y aún sospecho 
 que voy los trece versos acabando; 
 contad si son catorce, y está hecho.
Un indriso me manda hacer mi mano. 
 A ocho versos así llaman indriso, 
 y en un soplo los tres primeros gano. 

 Pensé: “la consonante no diviso”, 
 mas corren términos en –iso y -ano, 
 perdón… y dos tercetos ya improviso. 

 El postrer verso no está tan lejano. 

 Fue el penúltimo, y hecho está el indriso. 

 9. CONCLUSÃO 

          Sinto que os anos dedicados ao desenvolvimento desta figura vêm se definindo como uma aventura poética que não cessa de oferecer descobertas. Desse modo, permito-me apresentar aqui os resultados da tarefa. Se vocês estão entre aqueles que fazem poesia, apresento os mesmos para que possam, se assim desejarem, seguir indagando sobre o assunto; e se vocês são leitores, para que simplesmente conheçam esta nova e ao mesmo tempo velha forma de dizer as coisas. 
                                   
           Também aproveito para expressar a minha maior gratidão àqueles que, além de mim, estão fazendo deste objeto uma árvore que cresce, porém, estando eu na posição de apresentá-lo, sempre considerarei prudente transmitir uma frase que tem sido benéfica desde o momento em que a recebi: “Examinem tudo e retende o que for bom”.

10. BIBLIOGRAFIA

 BALBÍN, RAFAEL. Sistema de rítmica castellana. Gredos. Madrid. España. 1975.

DE CÓZAR, RAFAEL. Poesía e imagen. Poesía visual y otras formas literarias desde el siglo IV aC. hasta el siglo XX. El carro de la nieve. Sevilla. España. 1991.
http://boek861.com/lib_cozar/portada.htm 

CHEVALIER, JEAN y GHEERBRANT, ALAIN. Diccionario de los símbolos. Herder. Barcelona. España. 2000. 

G. BELTRAMI, PIETRO. Appunti sul sonetto come problema nella poesia e negli studi recenti. En Rhythmica. Revista española de métrica comparada. Nº 1 (pp. 7-35). Dirección: José Domínguez Caparrós y Esteban Torre. Padilla Libros Editores & Libreros. Sevilla. España. 2003.

GERMÀ I PIFARRÉ, MONTSERRAT. L’espai poètic del drís. Espanya. 2009.
http://germa-drissos.jimdo.com/

ITURAT, ISIDRO. El manantial y otros poemas (indrisos). Lulu. United States. 2007.
http://www.indrisos.com/manantialarchivos/portadamanantial.htm

 NAVARRO TOMÁS, TOMÁS. Repertorio de estrofas españolas. Las Américas Publishing Company. New York. United States. 1968.

QUILIS, ANTONIO. Métrica española. Ariel. España. 2000.

VARELA MERINO, ELENA, MOÍÑO SÁNCHEZ, PABLO y JAURALDE POU, PABLO. Manual de métrica española. Castalia Universidad. España. 2003.
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Fonte:

João Anzanello Carrascoza (Lenda Indígena Recontada: A Dança do Arco-íris)


Há muito e muito tempo, vivia sobre uma planície de nuvens uma tribo muito feliz. Como não havia solo para plantar, só um emaranhado de fios branquinhos e fofos como algodão-doce, as pessoas se alimentavam da carne de aves abatidas com flechas, que faziam amarrando em feixe uma porção dos fios que formavam o chão. De vez em quando, o chão dava umas sacudidelas, a planície inteira corcoveava e diminuía de tamanho, como se alguém abocanhasse parte dela. 

Certa vez, tentando alvejar uma ave, um caçador errou a pontaria e a flecha se cravou no chão. Ao arrancá-la, ele viu que se abrira uma fenda, através da qual pôde ver que lá embaixo havia outro mundo.

Espantado, o caçador tampou o buraco e foi embora. Não contou sua descoberta a ninguém. 

Na manhã seguinte, voltou ao local da passagem, trançou uma longa corda com os fios do chão e desceu até o outro mundo. Foi parar no meio de uma aldeia onde uma linda índia lhe deu as boas-vindas, tão surpresa em vê-lo descer do céu quanto ele de encontrar criatura tão bela e amável. Conversaram longo tempo e o caçador soube que a região onde ele vivia era conhecida por ela e seu povo como “o mundo das nuvens”, formado pelas águas que evaporavam dos rios, lagos e oceanos da terra. As águas caíam de volta como uma cortina líquida, que eles chamavam de chuva. “Vai ver, é por isso que o chão lá de cima treme e encolhe”, ele pensou. Ao fim da tarde, o caçador despediu-se da moça, agarrou-se à corda e subiu de volta para casa. Dali em diante, todos os dias ele escapava para encontrar-se com a jovem. Ela descreveu para ele os animais ferozes que havia lá embaixo. Ele disse a ela que lá no alto as coisas materiais não tinham valor nenhum. 

Um dia, a jovem deu ao caçador um cristal que havia achado perto de uma cachoeira. E pediu para visitar o mundo dele. O rapaz a ajudou a subir pela corda. Mal tinham chegado lá nas alturas, descobriram que haviam sido seguidos pelos parentes dela, curiosos para ver como se vivia tão perto do céu.

Foram todos recebidos com uma grande festa, que selou a amizade entre as duas nações. A partir de então, começou um grande sobe-e-desce entre céu e terra. A corda não resistiu a tanto trânsito e se partiu. Uma larga escada foi então construída e o movimento se tornou ainda mais intenso. O povo lá de baixo, indo a toda a hora divertir-se nas nuvens, deixou de lavrar a terra e de cuidar do gado. Os habitantes lá de cima pararam de caçar pássaros e começaram a se apegar às coisas que as pessoas de baixo lhes levavam de presente ou que eles mesmos desciam para buscar. 

Vendo a desarmonia instalar-se entre sua gente, o caçador destruiu a escada e fechou a passagem entre os dois mundos. Aos poucos, as coisas foram voltando ao normal, tanto na terra como nas nuvens. Mas a jovem índia, que ficara lá em cima com seu amado, tinha saudade de sua família e de seu mundo. Sem poder vê-los, começou a ficar cada vez mais triste. Aborrecido, o caçador fazia tudo para alegrá-la. Só não concordava em reabrir a comunicação entre os dois mundos: o sobe-e-desce recomeçaria e a sobrevivência de todos estaria ameaçada. 

Certa tarde, o caçador brincava com o cristal que ganhara da mulher. As nuvens começaram a sacudir sob seus pés, sinal de que lá embaixo estava chovendo. De repente, um raio de sol passou pelo cristal e se abriu num maravilhoso arco-íris que ligava o céu e a terra. Trocando o cristal de uma mão para outra, o rapaz viu que o arco-íris mudava de lugar.

– Iuupii! – gritou ele. – Descobri a solução para meus problemas! 

Daquele dia em diante, quando aparecia o sol depois da chuva, sua jovem mulher escorregava pelo arco-íris abaixo e ia matar a saudade de sua gente. Se alguém lá de baixo se metia a querer visitar o mundo das nuvens, o caçador mudava a posição do cristal e o arco-íris saltava para outro lado. Até hoje, ele só permite a subida de sua amada. Que sempre volta, feliz, para seus braços.

Fonte:
Revista Nova Escola

Soares de Passos (Rosa Branca)


foi mantida a grafia original

Eu amo a rosa branca das campinas,
A branca rosa, que ao soprar do vento
Lânguida verga para o chão pendida.

Como a rosa dos vales, pura e bela
Nos campos da existência ela floria,
Como a rosa dos vales que inda envolta
No orvalho da manhã, desdobra o cálice
Ao sol nascente, perfumando as auras.
A idade das paixões mal despontava
Em seu meigo horizonte. Estava ainda
No declinar da melindrosa infância,
Dessa quadra feliz em que a existência
E sonho encantador em que os momentos
Se deslizam na vida como as águas
De brando arroio, humedecendo os prados.
Mas quão formosas já, quão sedutoras,
Por entre as graças da mimosa infância,
As graças juvenis lhe transluziam!

Com as sócias da infância ao vê-la às tardes
Vagando em seu jardim, vós a disséreis
A açucena viçosa entre as boninas,
Ou, entre os lumes da sidérea noite,
A estrela da manhã. E, todavia,
Ignorava o poder de seus encantos:
No mundo que a cercava, outras imagens,
Outros amores não sonhava ainda,
Além de sua mãe que a idolatrava,
De seu pequeno irmão, de suas flores.

E eu amava aquele anjo como se amam
Os sonhos d'inocência doutra idade,
Ou como essas visões que nos enlevam,
De mundos d'harmonia a que aspiramos.

Vi-a uma vez ao descair da tarde,
No jardim assentada ao pé da fonte,
Olhando o tenro irmão; que em seu regaço
Depusera as boninas que ajuntara.
No regaço também, junto das flores,
Repousava, serena dormitando,
A pomba que ele amava, e que sem medo
Viera procurar tão doce ninho:
Nunca a meus olhos se mostrou tão bela,
Tão cheia d'inocência. D'alvas roupas
Suas formas angélicas cingidas,
Se desenhavam, em gentil contorno,
Nas verdes murtas que o jardim ornavam:
Parecia qual cisne repousando
Entre a verdura, do seu lago à beira.

Uma rosa nevada, como as roupas,
Lhe adornava as madeixas cor da noite,
As formosas madeixas que nessa hora
Contrastavam mais negras e mais belas,
Coa leve palidez que reflectia,
Em seu rosto adorável e sereno,
O clarão melancólico da tarde.
Com terna languidez a face meiga
Recostava na mão, curvado o braço,
Enquanto com a outra ora afagava
Sua pomba querida, ora os cabelos
Compunha ao doce infante, que, sorrindo,
Uma após outra lhe mostrava as flores.

Ao vê-la assim formosa, ao ver o grupo
Que fazia com ela um par mimoso,
A mente arrebatada figurou-ma
Celeste arcanjo que baixara ao mundo
A recolher as orações da tarde,
E que o infante e a pomba achando juntos,
E a inocência do céu vendo na terra
Dos irmãos se esquecera e ali ficara.

Arcanjo da inocência, ai foge, foge!
Não te iluda este mundo onde pousaste,
Este mundo falaz, de ti indigno,
Que tuas asas de brancura estreme
Com seu veneno talvez manche um dia.
Arcanjo d'inocência, ai foge! foge!
Procura teus irmãos, revoa à pátria!
E fugiu, e voou. No mesmo sítio,
Uma tarde também junto da fonte,
A mãe a foi achar sozinha e triste.
Em suas plantas uma rosa branca
Jazia desfolhada: era das flores
A flor que mais queria. Ao ver ao lado
A mãe que idolatrava, estremecera.
Pobre inocente! receou acaso
Não poder por mais tempo disfarçar-lhe
Seu cruel padecer. A ardente febre
Lhe devorava o seio, e não gemia.
Mas seu dia chegava... A exausta fronte
Lhe pendeu sem alento, e imersa em pranto,
No regaço da mãe sumiu a face,
Que já cobria a palidez da morte.
Três dias depois deste a flor mimosa
Que as grinaldas celestes invejavam,
Caía desfolhada no sepulcro.

Eu amo a rosa branca das campinas,
A branca rosa, que ao soprar do vento
Lânguida verga para o chão pendida.

Fonte: 
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

Teatro de Ontem e de Hoje (Cordélia Brasil)


Primeiro texto de Antônio Bivar a chamar a atenção, encenado por Emílio Di Biasi, que estréia na direção e protagonizado pela musa do cinema nacional, Norma Bengell. A peça causa polêmica por mostrar a vida íntima de um casal e valorizar a subjetividade das personagens, que expressam sem pudores suas misérias tendência que diverge da dramaturgia engajada da geração anterior.

Para sustentar seu companheiro Leônidas, que sonha em ser escritor de histórias em quadrinhos, Cordélia, além de trabalhar como auxiliar de escritório, começa a se prostituir. Ela traz para casa um jovem de 16 anos, Rico, que acaba morando com eles. Forma-se então um triângulo, em que se insinua a cumplicidade entre os dois homens, já que Rico se identifica com o comportamento de Leônidas para com Cordélia. A relação torna-se cada vez mais conflituosa, acabando por precipitar um desfecho trágico que, paradoxalmente, é tratado de forma poética e absurda. 

Entre 1968 e 1969, estréiam vários jovens autores que começam a despontar com uma nova dramaturgia, tributária da trilha aberta por Plínio Marcos, mostrando a exacerbação de conflitos entre personagens marginalizadas: Leilah Assumpção, Consuelo de Castro, José Vicente e Isabel Câmara. Segundo Sábato Magaldi, "a desilusão pelo recuo do movimento internacional de maio de 1968, as forças repressoras que tomaram maior fôlego com o Ato Institucional nº 5, o escárnio do Poder diante das necessidades legítimas do povo forçaram esse grupo a defender-se em códigos subjetivos, confundidos com a idéia de que ele via o mundo a partir do próprio umbigo. A ausência de preconceitos encontrará, nessa dramaturgia, o resultado da sufocação, a que se deu resposta rebelde, de vários tipos".1

O texto, cujo título original é O Começo É Sempre Difícil, Cordélia Brasil, Vamos Tentar Outra Vez, é premiado no 1º Seminário de Dramaturgia do Rio de Janeiro, em 1967. No ano seguinte, a montagem é interditada pela Censura durante o período de ensaios, juntamente com Barrela, de Plínio Marcos, e Santidade, de José Vicente. Uma leitura dramática é organizada na cobertura de Danusa Leão para que os intelectuais cariocas conheçam a obra. O evento é bem-sucedido e os críticos vão aos jornais interceder pela liberação do texto, que consegue subir à cena ainda em 1968, com o título de Cordélia Brasil, no Teatro Mesbla.

Enfatizando aspectos da construção do texto, analisa Yan Michalski: "À medida que o desfecho se aproxima, Bivar introduz no tom de realismo, até então característico da peça, um surpreendente elemento de fantasia, que cresce e se expande com enorme rapidez, a ponto de acabar por sobrepor-se, inexoravelmente, ao realismo. A saída final de Leônidas se desenrola num clima de alucinada lógica sem lógica, que me faz pensar, toda vez que releio a peça, em Pierrot le Fou, de Godard; e o suicídio de Cordélia é, ao mesmo tempo, comovente e engraçado na sua cafonice: as últimas palavras da heroína, que se referem à marca que ela deixará da sua passagem pela Terra - uma fotografia para a qual posou nua, na praia, a pedido de um fotógrafo americano -, constituem uma das mais poéticas contribuições para a antologia de nosso florescente tropicalismo. A facilidade com a qual Bivar conseguiu passar do realismo para a fantasia me pareceu constituir a mais evidente prova do seu talento".2

A crítica se divide quanto à encenação de Emílio Di Biasi, alguns considerando o espetáculo jovem e imaturo, mas Bivar é amplamente elogiado na imprensa, e a presença de Norma Bengell como protagonista garante o afluxo do público ao teatro. 
O espetáculo viaja a São Paulo, é apresentado no Teatro de Arena e ganha os prêmios Associação Paulista dos Críticos de Artes, APCA, e Governador do Estado de melhor autor para Bivar e APCA de melhor atriz para Norma Bengell. Durante a temporada paulista, Bengell é seqüestrada por dois dias pelos agentes da repressão, acirrando o confronto entre a classe teatral e a ditadura militar.

Vinte anos depois, afirma o crítico Sábato Magaldi: "Cordélia Brasil já é um clássico do moderno repertório teatral brasileiro".3
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Notas 

1. MAGALDI, Sábato. Panorama do Teatro Brasileiro. São Paulo: Global, 1997, p. 308-309.

2 . MICHALSKI, Yan. Suicídio Tropical. Rio de Janeiro, Jornal do Brasil, 1968. In: BIVAR, Antonio. As Três Primeiras Peças. Londrina, Azougue Editorial e Atrito Art. Editorial, 2002, p. 15.

3. MAGALDI, Sábato. Sem Título. In: BIVAR, Antonio. As Três Primeiras Peças. Londrina, Azougue Editorial e Atrito Art. Editorial, 2002, p. 17.

Fonte:

Socorro Lima Dantas / PE (Poemas)



AS MAIS DOCES PALAVRAS SOFRIDAS

É madrugada,
 aconchegada pela suave brisa da ilusão,
 traduzo o meu silêncio
  com palavras sofridas, 
 surgidas pelo sopro da tua respiração.
  
 Pensamento embaralhado,
 dos segredos por nós vivenciados,
 semeados pelo tempo outrora passado,  
 obrigam-me a escrever de um amor ainda silenciado.
    
 Com o dedo indicador, vou compondo...
 Concluindo quase a uma frase inteira !
 São palavras loucas, 
 escritas com os olhos vendados,
 procurando o segredo
 entre a versão verdadeira e a ilusão primeira.
  
 São tentativas repetidas, 
 palavras intermináveis...
  Arrisco ler a escrita primeira, 
 Não encontro...
  Pulo para a derradeira...
 Não há tempo sequer de ler a última citação !
 O vento encarregou-se de apagar uma história verdadeira!

 Nesta imensidão de areias brancas,
 diante deste oceano azul,  aspirações contidas, 
 colhidas neste mar de silêncio e pensamento,
 carregaram tão rapidamente meus sentimentos:
 As mais doces palavras sofridas!

QUEM É VOCÊ?

Quem é você ? 
 Que plantou uma rosa em meu jardim,
Adentrou em minha vida,
 chegou assim...  lentamente...
 sem pedir permissão
Penetrou em meu coração, 
e nele passou a habitar
Numa troca de afeição sem fim.

Quem é você ?
Que me traz rosas perfumadas
A cada vez que nos encontramos,
Sem ao menos conhecer a tua voz
Nem tu conheces a minha...
Que em nossas noites insones 
tantos segredos trocamos.

Quem é você ?
Que me faz revelações
Deixa-me sentir segura
Agarra-me forte pelas mãos
amparando-me da maneira mais pura.

Quem é você ?
Que se tornou minha alma-gêmea
dela não consigo mais abrir mão
e passou a fazer parte
do meu coração!

Seria você meu amigo?
Que segura a minha mão
Ouve a minha história
Ri e chora comigo,
E me chama de irmão!

MINHA VIDA

Há vezes: - deparo-me com indagações,
procuro repostas às minhas aflições,
da história de um amor guardado,
o tempo perdido...
coberto pela poeira do passado.

Peito comprimido,
hóspede dos sentimentos perdidos,
ressente-se com imagens de outrora,.
fecho meu mundo numa concha
permito escoar para mim vãs recordações.
Estou inerte !...  sem resposta alguma...
são inquietações e sofrimentos vividos.

Arrastada pela solidão,
comparo-me a uma bailarina... imóvel !...
no picadeiro, ninguém a me aplaudir...
um grito selvagem aborda o meu íntimo.
Sinto-me só, em meio a uma multidão.

Vem àquela vontade de esquecer,
partir definitivamente...
numa noite insone, exposta ao inesperado,
sem identidade da alma ...

sem levar a saudade !
quero esquecer o passado... o desejo insólito,
perdido ao encontro do nada...

Não há resposta a esta incerteza que me cerca !...
permanecem meus anseios,
aproxima-se o tédio...  
a saudade que ficou...
as recordações alteram as batidas do meu coração,
na inútil reconstrução do que fui,
e o que será deste meu eterno devaneio...

De repente,  
desperto meus pensamentos antes adormecidos !
descubro, sem querer acreditar,
tudo não passou de uma aspiração !...
pensamentos levados pelo vento
removidos pelos castelos construídos por mim,
num tempo vivido apenas para sonhar.

Anseios reprimidos,
aborda-me a vontade de esquecer tudo !
Retorno ao caminho de volta,
na inútil tentativa de mudar o destino.
Quero recontar a minha história,
alterar as versões...
mudar a rota dos nossos corações,
transformar nossas almas sofridas e amarguradas,
numa amplidão de amor ao alvorecer !

Quero viver este sonho,
quero te amar  como se não fosse existir outro momento igual,
quero esquecer a sucessão de outros dias,
viver apenas o presente !
Quero ser EU e TU numa só existência,
assim será a minha vida !

TRISTEZA… SOLIDÃO

Essa tristeza,
que não me abandona este coração,
recusa-se partir... dizer adeus...
Deixando-o em total desolação!

Essa tristeza,
que insiste em invadir a realidade,
atraindo o acesso a solidão,
que o peito não deseja enxergar...
entregando-se a saudade.

Essa tristeza... essa solidão...
Adentraram nesta alma sofrida,
que guarda um amor contido
sem licença pedir, 
Como se fosse seu !
É uma dor sem jeito, 
deixando-a perdida.

Essa tristeza... essa solidão...
que  impedem esta vida em paz prosseguir
 em seus sonhos imaginados,
devaneio de alegria
juras de amor
felicidade eterna
vida feliz
sem traumas
 sem cobranças
nem decisões imediatas.

Essa tristeza... essa solidão…

A VALSA DOS MEUS SONHOS

Embalada pelos braços da vida,
 Estou aqui, mais uma vez,
 entrando neste salão cheio de luzes e cores.
 Preparando-me para a realização de mais um sonho,
 confesso, com timidez.
    
 Interrompo o caminhar...
 Procuro abrigo para dividir esta alegria.
 Apuro o olhar e o sentir.
 Contemplo a orquestra... As pessoas...
 Descubro amigos a espera!!
 Por um momento, detenho-me,
 desacreditando viver este momento!
 Afinal, sou uma dama sonhadora
 Preste a concretizar uma aspiração,
 Este será o grande dia?!...
    
 Adianto o passo até o meio do salão,
 todos aplaudem, risonhos,
 denunciando a cumplicidade neste grande evento.
 A orquestra inicia os primeiros acordes
 da música tão esperada.
 Quanta emoção!
 Irei dançar  a valsa dos meus sonhos...
    
 Embalada pela realização, dou os primeiros passos!
 Flutuando como um pássaro...
 A melodia leva-me ao deslumbre do momento,
 Meu coração pulsa descompassado,
 São instantes de pura emoção!
  
   Enternecida nesta magia,
 Sigo deslizando docemente ao ritmo da valsa
 que não para de tocar!
 Esta é a mais linda música
 no salão de mais uma conquista.
 Será a mais inesquecível das valsas já bailadas...
 A felicidade invade minha alma!
    
 A incerteza dissolve-se...
 Descubro ser verdade!
 Extasiada pela magia do momento,
 sigo dançando com o coração cintilando
 nesta imensa realização da minha existência.
 Divido com vocês este encanto!
 Afinal, são os figurantes principais 
deste acontecimento na minha vida.
    
 Estou dançando a valsa da Felicidade!
 A valsa da realização!
 A valsa da emoção!
 A valsa de um sonho conquistado
 apenas com a alma!
 Convido todos para dançar comigo
 a valsa dos meus sonhos!

Fonte:
http://www.socorrolimadantas.com.br/poesias/index.html

Machado de Assis (O Ideal do Crítico)


EXERCER a crítica, afigura-se a alguns que é uma fácil tarefa, como a outros parece igualmente fácil a tarefa do legislador; mas, para a representação literária, corno para a representação política, é preciso ter alguma coisa mais que um simples desejo de falar a multidão. Infelizmente é a opinião contrária que domina, e a crítica, desamparada pelos esclarecidos, é exercida pelos incompetentes. 

São óbvias as conseqüências de uma tal situação. As musas, privadas de um farol seguro, correm o risco de naufragar nos mares sempre desconhecidos da publicidade. O erro produzirá o erro; amortecidos os nobres estímulos, abatidas as legítimas ambições, só um tribunal será acatado, e esse, se é o mais numeroso, é também o menos decisivo. O poeta oscilará entre as sentenças mal concebidas do crítico, e os arestos caprichosos da opinião; nenhuma luz, nenhum conselho, nada lhe mostrará o caminho que deve segir,—e a morte próxima será o prêmio definitivo das suas fadigas e das suas lutas.

Chegamos já a estas tristes conseqüências? Não quero proferir juízo, que seria temerário, mas qualquer pode notar com que largos intervalos aparecem as boas obras, e como são raras as publicações seladas por um talento verdadeiro. Quereis mudar esta situação aflitiva? Estabelecei a crítica, mas a crítica fecunda? e não a estéril,  que nos aborrece e nos mata, que não reflete nem discute, que abate por capricho ou levanta por vaidade; estabelecei a crítica pensadora, sincera, perseverante, elevada, - será esse o meio de reerguer os ânimos, promover os estímulos, guiar os estreantes, corrigir os talentos feitos; condenai o ódio a camaradagem e a indiferença, - essas três chagas da crítica de hoje, - podem em lugar deles, pondo em lugar deles, a sinceridade, a solicitude e a justiça, - é só assim que teremos uma grande literatura. 

É claro que a essa crítica, destinada a produzir tamanha reforma, deve-se exigir as condições e as virtudes que faltam a crítica dominante; - e para melhor definir o meu pensamento, eis o que eu exigiria no crítico do futuro. O crítico atualmente aceito não prima pela ciência literária; creio que até que uma das condições para desempenhar tão curioso papel, é despreocupar-se de todas as questões que entendem com o domínio da imaginação. Outra, entretanto, deve ser a marcha do crítico; longe de resumir em duas linhas, - cujas frases já o tipógrafo as tem feitas, - o jugamento de uma obra, cumpre-lhe meditar profundamente sobre ela, procurar-lhe o sentido íntimo, aplicar-lhe as leis poéticas, ver em fim até que ponto a imaginação e a verdade conferenciaram para aquela produção. deste modo as conclusões do crítico servem tanto à obra concluída, como a obra em embrião. Crítica é análise, - a crítica que não analisa é a mais cômoda, mas não pode pretender a ser fecunda.

Para realizar tão multiplicadas obrigações, compreendo eu que não basta uma leitura superficiais dos autores, nem a simples reprodução das impressões de um momento; pode-se, é verdade, fascinar o público, mediante uma fraseologia que se emprega sempre para louvar ou deprimir; mas no ânimo daqueles para quem uma frase nada vale, desde que não traz uma idéia, - esse meio é impotente, e essa crítica negativa.

Não compreendo o crítico sem consciência. A ciência e a consciência, eis as duas condições principais para escrever a crítica. A crítica útil e verdadeira será aquela que, em vez de modelar as suas sentenças por um interesse, quer seja o interesse do ódio, quer o da adulação ou da simpatia, procure produzir unicamente os juízos da sua consciência. Ela deve ser sincera, sob pena de ser nula. Não lhe é dado defender nem os seus interesses pessoais, nem os alheios, mas somente a sua convicção e a sua convicção, deve formar-se tão pura e tão alta, que não sofra a ação das circunstâncias externas. Pouco lhe deve importar as simpatias ou antipatias dos outros; um sorriso complacente, se pode ser recebido e retribuído com outro, não deve determinar, como a espada de Breno, o peso da balança; acima de tudo, dos sorrisos e das desatenções, está o dever de dizer a verdade, e em caso de dúvida, antes calá-la, que negá-la.

Com tais princípios, eu compreendo que é difícil viver; mas a crítica não é uma profissão de rosas, e se o é, é-o somente no que respeita à satisfação íntima de dizer a verdade.

Das duas condições indicadas acima decorrem naturalmente outras, tão necessárias como elas, ao exercício da crítica. A coerência é uma dessas condições, e só pode praticá-la o crítico verdadeiramente consciencioso. Com efeito, se o crítico, na manifestação dos seus juízos, deixa-se impressionar por circunstâcias estranhas às questões literárias, há de cair freqüentemente na contradição, e os seus juízos de hoje serão a condenação das suas aspirações de ontem. Sem uma coerência perfeita, as suas sentenças perdem todo o vislumbre de autoridade, e abatendo-se à condição de ventoinha, movida ao sopro de todos os interesses e de todos os caprichos, o crítico fica sendo ùnicamente o oráculo de
seus aduladores.

O crítico deve ser independente, - independente em tudo e de tudo, - independente da vaidade dos autores e da vaidade própria. Não deve curar de inviolabilidades literárias, nem de cegas adorações; mas também deve ser uma luta constante contra todas essas dependências pessoais, que desautoram os seus juízos, sem deixar de perverter a opinião. Para que a crítica seja mestra, é preciso que seja imparcial, - armada contra a insuficiência dos seus amigos, solícita pelo mérito dos seus adversários, - e neste ponto, a melhor lição que eu poderia apresentar aos olhos do crítico, seria aquela expressão de Cícero, quando César mandava levantar as estátuas de Pompeu: -"É levantando as estátuas do teu inimigo que tu consolidas as tuas proprias estátuas" .

A tolerância é ainda uma virtude do crítico. A intolerância é cega, e a cegueira é um elemento do erro; o conselho e a moderação podem corrigir e encaminhar as inteligências; mas a intolerância nada produz que tenha as condições de fecundo e duradouro. É preciso que o crítico seja tolerante, mesmo no terreno das diferenças de escola: se as preferências do crítico são pela escola romântica, cumpre não condenar, só por isso, as obras-primas que a tradição clássica nos legou, nem as obras meditadas que a musa moderna inspira, do mesmo modo devem os clássicos fazer justiça às boas obras dos românticos e dos realistas, tão inteira justiça, como estes devem fazer às boas obras daqueles. Pode haver um homem de bem no corpo de um maometano, pode haver uma verdade na obra de um realista. A minha admiração pelo Cid não me fez obscurecer as belezas de Ruy Blas. A crítica, que, para não ter o trabalho de meditar e aprofundar, se limitasse a uma proscrição em massa, seria a crítica da destruição e do aniquilamento.

Será necessário dizer que uma das condições da crítica deve ser a urbanidade? Uma crítica que, para a expressão das suas idéias, só encontra fórmulas ásperas, pode perder as esperanças de influir e dirigir. Para muita gente será esse o meio de provar independência; mas os olhos experimentados farão muito pouco caso de uma independência que precisa sair da sala para mostrar que existe.

Moderação e urbanidade na expressão, eis o melhor meio de convencer, não há outro que seja tão eficaz. Se a delicadeza das maneiras é um dever de todo homem que vive entre homens, com mais razão é um dever do crítico, e o crítico deve ser delicado por excelência. Como a sua obrigação é dizer a verdade, e dizê-la ao que há de mais susceptível neste mundo, que é a vaidade dos poetas, cumpre-lhe, a ele sobretudo, não esquecer nunca esse dever. De outro modo, o crítico passará o limite da discussão literária, para cair no terreno das questões pessoais; mudará o campo das idéias, em campo de palavras, de doestos, de recriminações,— se acaso uma boa dose de sangue frio, da parte do adversário, não tornar impossível esse espetáculo indecente.

Tais são as condições, as virtudes e os deveres dos que se destinam a analise literária; se a tudo isto juntarmos uma última virtude, a virtude da perseverança, teremos completado o ideal do crítico.

Saber a matéria em que fala, procurar o espírito de um livro, escarná-lo, aprofundá-lo, até encontrar-lhe a alma, indagar constantemente as leis do belo, tudo isso com a mão na consciência e a convicção nos lábios, adotar uma regra definida, a fim de não cair na contradição, ser franco sem aspereza, independente sem injustiças tarefa nobre é essa que mais de um talento podia desempenhar, se quisesse aplicar exclusivamente a ela. No meu entender é mesmo uma obrigação de todo aquele que se sentir com força de tentar a grande obra da análise conscienciosa, solícita e verdadeira.

Os resultados seriam imediatos e fecundos. As obras que passassem do cérebro do poeta para a consciência do crítico, em vez de serem tratadas conforme o seu bom ou mau humor, seriam sujeitas a uma análise severa, mas útil; o conselho substituiria a intolerância, a fórmula urbana entraria no lugar da expressão rústica,—a imparcialidade daria leis, no lugar do capricho, da indiferença e da superficialidade. Isto pelo que respeita aos poetas. Quanto à crítica dominante, como não se poderia sustentar por si, - ou procuraria entrar na estrada dos deveres difíceis, mas nobres, — ou ficaria reduzida a conquistar de si própria, os aplausos que lhe negassem as inteligências esclarecidas. Se esta reforma, que eu sonho, sem esperanças de uma realização próxima, viesse mudar a situação atual das coisas, que talentos novos! que novos escritos! Que estímulos! que ambições! A arte tomaria novos aspectos aos olhos dos estreantes; as leis poéticas,—tão confundidas hoje, e tão caprichosas,—seriam as únicas pelas quais se aferisse o merecimento das produções, —e a literatura alimentada ainda hoje por algum talento corajoso e bem encaminhado,—veria nascer para ela um dia de florescimento e prosperidade. Tudo isso depende da crítica. 

Que ela apareça, convencida e resoluta, —e a sua obra será a melhor obra dos nossos dias.

Fonte:
Machado de Assis. Crítica Literária. Pará de  Minas/ MG: Virtualbooks, 2003.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 760)



Uma Trova de Ademar  

Sua ausência, por maldade,
deixou, talvez, por vingança,
um punhado de saudade
dentro da minha lembrança! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Eu não lamento a saudade, 
que a tudo invade porque 
é tão bom sentir saudade 
quando a saudade é você. 
–Olympio Coutinho/MG– 

Uma Trova Potiguar  

No vasto salão do mar,
num perenal movimento,
as ondas de par em par,
bailam nos braços do vento... 
–Pedro Grilo/RN– 

Uma Trova Premiada  

2010   -   Pindamonhangaba/SP 
Tema   -   MULTIDÃO   -   M/E 

Na pressa descontrolada
da multidão, há, contudo,
rostos que não dizem nada…
e rostos que dizem tudo!!!
–Ercy Maria M. de Faria/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Em minha agenda, enfadonho, 
hoje eu me curvo à evidência 
das folhas que o próprio sonho 
arrancou... por desistência! 
–João Freire Filho/RJ– 

U m a P o e s i a  

Quando Deus me levar pra eternidade 
deixarei nesta terra a minha cruz, 
juntamente com todos meus pecados 
pois pecados pra o Céu não se conduz; 
agradeço ao bom Deus por esta vida 
e eu não quero que chorem na partida, 
porque vou para o céu... Pra ver Jesus ! 
–Ademar Macedo/RN– 

Soneto do Dia  

FRANCISCO MACEDO...
–Delcy Canalles/RS– 

Partiste, amigo meu, grande Macedo,
e nós pranteamos a tua partida,
é que tu nos deixaste muito cedo,
entrando em nova dimensão de vida!

Ao saber do ocorrido, tive medo,
pois estava, em verdade, convencida
da tua participação no enredo
do livro, que ganhou nossa acolhida!

O nosso livro "A Quatro Irmãos", amigo,
terá, apenas três, aqui, te digo,
pois estarás trovando aí no céu!

E, pelo muito, Chico, que tu vales
para Ademar e pras Irmãs Canalles,
tu serás, para nós, lindo troféu !

Jornais e Revistas do Brasil (Corsario: periodico critico, satyrico e litterario)


Período disponível: 1880 a 1896 
Local: Rio de Janeiro, RJ 

Corsário! Eis, leitores, um nome para um periódico, que a primeira vista causará surpresa, se não temor. Mas, tudo se explica: Depois do descalabro enraizado que germina assombrosamente na nossa sociedade, correndo a escala social sem distincção de classes (...) Respeitador da intelligência que tem por apoio a honra, o Corsario só atacará os traficantes. Os delapidadores do erário, os parasitas que sugam a seiva da sociedade, os políticos que mentem ao povo e á nação, enfim, toda a casta de “piratas”, serão perseguidos, ainda que construam um novo Gibraltar e nelle se refugiem”.

 É nesse tom ameaçador que O Corsário: periódico critico, satyrico e chistoso se apresentava em sua primeira edição no dia 2 de outubro de 1880. Tratava-se de um dos muitos pasquins – aqueles pequenos jornais de pouquíssimas páginas surgidos no Primeiro Reinado, circulação efêmera, linguagem agressiva e primando por ataques pessoais, muitas vezes, sem identificar o proprietário – ainda em circulação no final do século XIX.

 Segundo Nelson Werneck Sodré , um dos primeiros a tipificar essa imprensa, O Corsário não passava de um “repositório de escândalos” e, por isso, seu editor, Apulco de Castro, acabaria pagando com a vida. Não poupava ninguém, desqualificando desde prostituas e seus cafetões até o imperador Pedro II e seus ministros.

 Como se revela o seguinte trecho da edição número 8 do dia 27 de outubro do mesmo ano de seu lançamento: “A S. M. O IMPERADOR... Senhor, tendes muitos defeitos, tantos como qualquer outro homem que fosse educado como Vossa Majestade, mas elses se tornam mais notáveis em Vós porque sois Soberano. Educado por padres, cercado só por aduladores e ambiciosos vulgares, Vossa Majestade circumscreveu o seu caráter em um estreito círculo e deu logo campo a qualidade que predomina em Vossa família – a hipocrysia. Tímido, fraco, puerilmente caprichoso, pouco esperto, muito pretencioso e ridiculo, eis o que é Vossa Majestade”.

 Em outro trecho desse mesmo número ataca as casas de prostituição: “Parece que a civilização e moralidade retiraram-se da cidade de Trampolinopolis [nome fictício para a capital] para dar lugar as acções torpes e vis. Uma cidade onde o progresso tem germens, e a moralidade asylo, não pode tolerar casas, cujo fim não esteja de acordo com a civilização. É de casas de alugar comodos por hora que nos referimos. A cidade está infestada por esses antros de prostituição”.

 Talvez por atacar sistematicamente diversas personalidades o Corsário não divulgou em seus primeiros números os nomes de seu editor. Somente em 10 de janeiro de 1881 o nome de Apulco de Castro, o editor e proprietário do jornal, apareceu. Conta Sodré que, ao atacar alguns oficiais do 1º Regimento de Cavalaria, 20 oficiais desse mesmo regimento invadiram e depredaram as oficinas do jornal. Apulcro de Castro conseguiu fugir, mas foi assassinado com sete facadas e dois tiros de revólver logo em seguida .

 O Corsário, sempre em quatro páginas e com quatro colunas, teve seu subtítulo alterado algumas vezes: "periódico critico, satirico e literário", depois “periódico e literário, "órgão devotado ao povo e aos seus interesses" e, a partir de 1882, "órgão de moralização social". O acervo da Biblioteca Nacional tem 310 edições do jornal.

Fonte:
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/correio-de-são-paulo-diário-noticioso-e-informativo