domingo, 12 de maio de 2024

Caldeirão Poético LXXXVI


Francisco Pati

VEJO EM TORNO DE MIM, DE LADO A LADO...

Vejo em torno de mim, de lado a lado,
a desigual justiça repartida:
tanto vício tão bem recompensado,
tanta virtude mal reconhecida.

Aqui o ímpio sorri, sendo aclamado,
chora, além, a bondade que é punida.
Templos ao ódio, tronos ao pecado,
que de pecados e ódios se enche a vida.

Fujo do abismo que aos meus pés se estende,
o ouvido fecho a esse rumor profundo,
e, alheio ao que se faz e ao que se diz,

no meu silêncio que ninguém compreende
gozo longe dos homens e do mundo,
o orgulho e a glória de não ser feliz.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Francisco Ribeiro

QUERÊNCIA

Querência é, para mim, o incêndio da alvorada,
os lances do Minuano, as cargas do Pampeiro;
a charla, o mate amargo, a carne chamuscada,
o pingo, a recolhida e o fogo do tropeiro!

Querência é, para mim, o estalo da queimada,
o tranco do boi manso, as manhas do tambeiro;
a cisma da tapera, o campo em flor, a estrada,
o pialo, a marcação e os "causos" do campeiro!...

Querência é, finalmente, o guasca bueno, guapo;
a china côr da terra, o rancho alevantado,
no topo da coxilha, em barro e santa-fé!

O chão que modelou o pulso do farrapo,
o mesmo que nos veio — e roto, e ensanguentado —
da ronda das Missões, do pó de Caiboaté!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Frota Pessoa

ROUXINOL DE TRANÇAS

Passas cantando, rouxinol de tranças,
essa eterna alegria gargalhando...
Canta! Tempo virá, que só lembranças
do passado feliz irás cantando.

Esses que vivem mágoas soluçando,
e que jamais cantaram de esperanças,
esses talvez que se aborreçam quando
passas cantando, rouxinol de tranças.

Mas eu, que tive os risos da ventura,
e cantei as cantigas que a ternura
costuma pôr na boca das crianças...

Quero-te bem por toda essa alegria,
que, com teus risos cheios de harmonia,
passas cantando, rouxinol de tranças.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Gastão Neves

EU

Nasci na Grécia antiga, da odisseia,
dos templos e dos deuses imortais.
Os sete sábios tive por plateia
e fui o que pisou salões reais.

Vi os últimos dias de Pompéia
nas orgias febris das bacanais.
Fui ardoroso amante de Frinéia;
Praxíteles e eu fomos iguais.

Nasci na Grécia antiga — fui deus grego!
Quando nos braços teus tive aconchego,
fui tudo que na Grécia deslumbrou.

E atravessando os tempos, como esteta,
não sou mais que a ilusão de ser poeta,
sendo apenas um homem que sonhou!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Heitor Lima

ASAS

O que torna mais triste o céu sangrento,
ao pôr-do-sol, são as partidas, são
os adeuses dos pássaros, ao vento,
numa incerta e fugaz palpitação.

Ah! Quantas vezes, no apressado ou lento
voejar de aves que vêm e aves que vão,
tocam-se duas asas um momento
e afastam-se em contrária direção...

Também os nossos corações, um dia,
se encontraram: no ocaso rubro ardia
o incêndio dos amores imortais.

E — asas, na tela acesa do sol poente —
um no outro eles roçaram levemente,
para não se encontrarem nunca mais!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Ivo dos Santos Castro 

FAZE DE CONTA...

Faze de conta que eu jamais te disse
algo que te expressasse o meu amor;
faze de conta que, com tal meiguice,
de mim não mereceste um só louvor...

Faze de conta, enfim, que fiz tolice
em jamais exaltar o resplendor
da tua fascinante brejeirice,
que fez de mim um poeta, um sonhador...

Apaga da memória os meus lamentos!
Faze de conta que os meus sentimentos
calo-os por invencida timidez...

Embora saibas que és a minha amada,
faze de conta que eu não disse nada,
 ... e deixa-me dizer tudo, outra vez!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Jacy Pacheco

GRATIDÃO

Eu te agradeço — e sem constrangimento—  
o bem que foste para mim: poesia,
rumor festivo em meu isolamento,
bravura ao coração que sucumbia.

Com a calma com que vejo, ao fim do dia,
o sol agonizar num céu sangrento,
também o teu silêncio eu pressentia:
eu esperava o teu esquecimento.

Um grande bem não dura a vida inteira,
hoje, voltando à antiga nostalgia,
desfeito o sonho da alma cancioneira,

posso te agradecer a caridade:
com as esmolas de amor que eu recebia
vivi momentos de felicidade.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
Fonte: Vasco de Castro Lima. O mundo maravilhoso do soneto. 1987.

Eduardo Affonso (Féchion quae sera tamen)

Eu sabia que um dia estaria na moda. Nem que demorasse meio século, mas estaria.

É que minha mãe era costureira e avessa a desperdício. Costurava no capricho, mas aproveitando cada centímetro quadrado de tecido.  Seus bolsos eram invisíveis – melhor dizendo, camuflados, seguindo o mesmo alinhamento da estampa do resto da camisa.  E olha que os anos 60 e 70 foram pródigos em estamparias lisérgicas. Pois minha mãe ia lá e fazia os bolsos, as palas, os punhos em perfeita sincronia com o resto.

Claro que sobrava pano. Se fosse pouquíssimo, servia para forrar botões (tínhamos uma máquina de forrar botão que também servia para esmagar dedo de irmão mais novo). Se fosse pouco pano, virava colcha de retalho. Uma sobra maior virava camisa pros filhos, vestido pra filha.

Nem sempre o que sobrava era suficiente para uma camisa inteira. Mas – e aí é que entra o primeiro parágrafo – nada que não pudesse ser resolvido com duas ou três sobras diferentes.

Felizmente minha mãe tinha bom gosto, e me fazia camisas com as costas lisas e a frente estampada. Toda lisa, com bolsos, mangas e colarinho em composê. Inventava modelos, cortes, recortes e firulas que, quem visse, jamais diria (pelo menos não na frente dela) que aquilo era a própria sustentabilidade aplicada à costura, muito antes de a sustentabilidade vir ao mundo.

A partir de certa idade passei a ter vergonha das minhas camisas-colagens. Queria camisas sem liberdades poéticas, camisas puro sangue, monocromáticas, homogêneas. Não adiantava virem me dizer que a gola combinava com o bolso: eu queria tudo chapado, azul de fio a pavio, verde de cabo a rabo, sem o risco de, na missa, minha manga reconhecer sua família biológica no vestido da senhora do banco à frente.

Nas fotos da minha infância, vejo hoje uma pobreza que então eu não percebia: uma parede descascada, uma cerca de bambu meio descaída, um móvel velho, uma telha vã. Não éramos pobres – ou melhor, até éramos, mas não a ponto de não poder comprar um corte de fazenda. Mas por que desperdiçar retalhos?

Quando nasci, meu pai não trabalhava:  era estudante secundarista. Meu avô bancava filho, nora e neto. Melhor dizer netos, no plural, porque logo em seguida veio o segundo, quando meu pai ainda não trabalhava: estudava para o vestibular. E veio o terceiro– uma menina – e meu pai continuava não trabalhando: era universitário. Veio o quarto, com meu pai finalmente indo botar a mão na massa, ao se formar em Direito. Durante todo esse tempo, meu avô proveu casa e comida. Mas minha mãe pagava, com a costura, todas as outras contas. Não eram tempos de se jogar nada fora.

(Parênteses para uma madeleine: nossa melhor comida de domingo era uma travessa de macarronada decorada com ovos em rodelas e sardinhas. Minha mãe distribuía simetricamente as rodelas maiores e menores, e mesmo as das pontas, só claras, entremeando-as com metades de sardinha. Mas estas não iam diretamente da lata para a mesa: minha mãe as descamava com o dorso da faca, abria, retirava as vísceras, a espinha, a barbatana, e a sardinha seguia limpinha e faceira para a mesa.  Meu avô resmungava: “Pobre e limpando sardinha!” e eu não entendia. Hoje entendo: éramos pobres, e nem por isso deixávamos de ter o refinamento possível do bolso na diagonal, caso não houvesse tecido para o bolso alinhado; não íamos além do macarrão aos domingos, mas nem por isso comeríamos escamas e vértebras de sardinhas. Fecham-se os parênteses).

Enquanto minha irmã crescia, seu vestido ganhava novas barras, quem sabe um babado, um artifício qualquer que o fizesse crescer junto.  Nossas calças, quando passamos a ter calças compridas, ganhavam novas bainhas.  O irmão nascido logo depois de mim herdou todas as minhas roupas – usava não só retalhos, mas retalhos de segunda mão.

Hoje vi o anúncio com essas camisas meio mussarela meio calabresa. Minha mãe jamais faria isso, porque tudo tem limite. Mas era mais ou menos isso o que ela fazia: inventava moda. Uma moda que levaria décadas para ser reconhecida: a do listrado combinando com bolinha, do xadrez dialogando com o grafismo, do floral de florzona harmonizando com o floral de florzinha.

Deu vergonha de ter tido vergonha das minhas camisas Frankenstein. Se eu as tivesse guardado – e não tivesse crescido nem engordado nos últimos 50 anos – estaria na última moda.

Recordando Velhas Canções (Eu sei que vou te amar)


Compositores: Tom Jobim e Vinicius de Moraes

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu vou te amar
A cada despedida
Eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar

E cada verso meu será
Pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida

Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa ausência tua me causou

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu vou te amar
A cada despedida
Eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar

E cada verso meu será
Pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida

Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa tua ausência me causou

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = = = = = = = = = = 

Amor Eterno e Incondicional em 'Eu Sei Que Vou Te Amar'
A música 'Eu Sei Que Vou Te Amar', interpretada por Caetano Veloso, é uma das mais emblemáticas canções da música popular brasileira, composta pela dupla Tom Jobim e Vinicius de Moraes. A letra é um poema lírico que expressa um amor profundo e inabalável, que persiste apesar das adversidades e separações. A repetição da frase 'Eu sei que vou te amar' ao longo da música reforça a certeza e a intensidade desse sentimento que o eu lírico tem pela pessoa amada.

O uso de expressões como 'desesperadamente' e 'a eterna desventura de viver' sugere uma paixão avassaladora, que traz tanto alegrias quanto dores. A música aborda a dualidade do amor, que é capaz de provocar tanto felicidade quanto sofrimento. A ausência da pessoa amada é sentida de forma dolorosa, mas a esperança de reencontro e a certeza do amor que perdura trazem um tom de otimismo e devoção à canção.

A interpretação de Caetano Veloso, com sua voz suave e emotiva, acrescenta uma camada de sensibilidade à música, tornando-a ainda mais tocante. A canção se tornou um clássico da MPB e é frequentemente associada a momentos românticos e declarações de amor. A universalidade do tema e a beleza da composição contribuem para que 'Eu Sei Que Vou Te Amar' continue a ser uma das músicas mais queridas e regravadas no Brasil.

Hans Christian Andersen (Como encontrar o que está escondido!?)

Era uma vez um estudante, sabem o que ele queria ser? Escritor, poeta, imaginem! Ele queria ler onde nada estava escrito e queria compreender onde tudo parecia confuso. Ele queria ler entre as linhas, além das linhas, isto é, aquilo que estava escondido. Como ele era muito confiante nele mesmo, tinha certeza de que antes mesmo que chegasse a Páscoa, ele já seria um escritor, um poeta talvez! O passo seguinte seria casar-se e viver de seus proventos como escritor. Mas, o nosso grande-futuro-escritor estava sem ideias. Para quem queria ser um escritor esse era um grande problema. Quanto mais ele pensava, menos ideias lhe viam à cabeça. Chegou mesmo a pensar que nasceu depois das ideias, ou seja, tudo que poderia ser usado por ele já havia sido usado por outros.

Entristecido pensou que seria muito bom ter nascido há mil anos, cem anos, somente assim poderia ter tido boas ideias, nada havia sobrado para o grande-futuro-escritor, sem ideias. De tanto pensar ficou doente. Logo os médicos disseram que seu problema era encontrar respostas para o que não sabia. Os médicos não sabiam como poderiam tratá-lo. Alguém que ele conhecia sugeriu que ele procurasse uma velha senhora, que segundo os moradores do lugar era muito sábia. Ela morava nos limites da cidade, em uma casinha muito pequena. Era ela quem abria e fechava a cancela para que as pessoas pudessem entrar na cidade. Apesar de sua aparência, ela era muito sábia, as pessoas vinham procurá-la quando os médicos já não tinham mais o que fazer. Vinham pessoas de todos os tipos, até mesmo os ricos e os da nobreza. Foi assim que o nosso futuro-grande-escritor resolveu também, procurar os conselhos da velha senhora sábia.

Como era de se esperar, a pequena casa era muito simples, mas muito bem cuidada. Nada havia dentro da casa para deixá-la, mais bonita, nenhuma flor, nada, porém, perto da porta de entrada havia uma colmeia de abelha, com certeza algo muito útil, e no quintal um canteiro de batatas, também algo muito útil. Fora da casa havia uma parte escavada onde havia um arbusto, o abrunheiro, ou ameixa selvagem, com umas flores brancas e cujas frutinhas são muito boas para a saúde, mas antes de um rigoroso inverno, com noites muito frias elas são muito amargas. O que vejo à minha frente e um retrato vivo dos nossos tempos.

Pensando assim, bateu a porta:

Ao abrir a porta a velha senhora foi logo falando:

– Porque não escreve sobre o que você pensa ou sobre suas dúvidas, incertezas... Sei que veio me procurar porque quer tornar-se um escritor antes da Páscoa, mas nada parece bom para começar seus escritos. Estou dizendo a verdade, não é mesmo?

Muito feliz, porque achou tudo muito mais fácil do que havia imaginado, concordou com a senhora e disse: – Infelizmente vivemos em épocas de grande pobreza criativa, nada de novo surge, tudo já foi dito, copiado e recopiado, não sobrou nada para mim. Tempos difíceis esses!

– Vou concordar com você, mas gostaria que você acompanhasse meu raciocínio: Nos velhos tempos, velhas como eu, não poderiam estar conversando com você pois eram chamadas de bruxas e queimadas em enormes fogueiras. Era uma época em que o estomago do poeta era mais vazio do que seu próprio bolso. Seu problema é de cegueira, não de falta de ideia. Olhe à sua volta, tanta coisa você tem para agradecer que nos são dadas pelo nosso Deus, a natureza, as flores, o cantar dos pássaros, o barulho das águas correndo nos riachos, há uma linguagem sem voz, tente ouvi-las, olhe à sua volta, tudo compactua para inspirar você, o problema é que você não quer se dar ao trabalho de experimentar as verdadeiras maravilhas que estão no mundo pronta para serem descritas, recitadas em verso e prosa. Vou ajudar você, vou emprestar-lhe meu aparelho de surdez e meus óculos. Você deverá observar a natureza através dessas lentes e escutar o som da vida com esse aparelho. O mais importante de tudo, no entanto, é parar de pensar em você, em primeiro lugar.

Caro leitor, você há de concordar comigo que essa é a tarefa mais difícil para esse rapaz.

Nosso futuro-grande-escritor/poeta colocou os óculos e o aparelho nos ouvidos. Agora eles estavam em pé, perto do canteiro das batatas, a velha senhora colheu uma e deu a ele. Imediatamente ele começou a ouvir a batata e ela narrava fatos sobre sua história.

- O que o nosso amigo não sabia era que a batata havia chegado à Europa como imigrante. Foi de pronto rejeitada, somente depois de muito tempo foi aceita e se transformou no alimento cotidiano principal de todas as refeições. Naquela época, os reis mandavam seus emissários entregarem batatas em todas as cidades incentivando seu cultivo para que o povo pudesse ser alimentado. Fomos cultivadas das formas mais erradas desde pensar que cresceríamos como árvores, até nos amontoar a um canto e deixar ali para ver o que aconteceria, até chegarem ao ponto de perceberem que a melhor parte estava debaixo da terra e não em cima dela. Essa parte é suculenta e saborosa. Nossos antepassados sofreram muito, já pensou se fosse com os seus antepassados?

- Agora chega, a conversa com a batata já se estendeu por muito tempo. Vamos ouvir um pouco o abrunheiro. Voltando-se para o jovem ele disse:  

- Aqui a conversa é outra, as batatas vêm do Sul, enquanto nós, do Norte. Fomos trazidos pelos guerreiros vikings em uma de suas muitas viagens pelo mundo. Em uma delas foram parar em uma terra muito gelada, onde encontraram esses frutos. Antes do frio intenso suas frutinhas eram muito amargas, mas depois, quando o frio e a neve chegavam, elas ficavam doces como um mel. Lembravam até uvas muito doces. Nosso nome foi dado pelos vikings em terras muito distantes hoje conhecidas por nós como a Groenlândia.

- Que beleza de história, disse o futuro-grande-escritor/poeta.

- Tenho razão ou não? - disse a velha senhora – Agora vamos visitar a colmeia.

Ao colocar os óculos ele conseguiu ver o que jamais poderia imaginar. Dentro da colmeia, um grande movimento, um trabalho incessante era realizado por todas aquelas abelhas. Os corredores e galerias eram visitados pelas abelhas que, com suas asas abertas procuravam renovar o ar do ambiente. As abelhas chegavam ali aos milhares vindas do lado de fora de onde colhiam material para a produção do mel. Suas pernas tinham cestinhas, quase invisíveis, dentro delas era coletado o pólen e, ao esvaziar as cestinhas ele era separado para a produção do mel ou da cera. Tendo esvaziado as cestinhas, elas voltavam para o exterior para colher mais material. A abelha rainha queria fazer o mesmo, mas não podia porque se ela saísse a voar as outras abelhas a seguiriam e ainda não era chegado o tempo para criar uma outra colmeia, para conter a rainha as abelhas cortaram-lhe as asas.

- Vamos agora visitar outro mundo, veja, você já ouviu histórias das batatas, do abrunheiro, já observou a vida em uma colmeia, agora vamos para a frente da casa observar as pessoas que passam pela estrada.

Lá estavam eles ao pé da estrada.

O rapaz ficou admirado com a quantidade de pessoas que passava por ali. Aprendeu muito bem que cada uma delas deveria ter sua própria história, mas disse que não tinha tempo para escutá-las e que iria embora.

– Não foi essa minha intenção ao trazê-lo aqui. Você vai caminhar entre eles e ouvir o que eles estão dizendo, tenho certeza de que muitas ideias brotarão em você. No entanto, antes de ir, devolva-me meus óculos e meu aparelho de audição.

Muito a contragosto, o rapaz entregou à velha senhora ambos os aparelhos e disse: – E agora, o que faço? Não enxergo mais nada e nem ouço mais nada interessante.

- Sem “ver” e sem “ouvir” você jamais será um futuro-grande-escritor/poeta nem antes e nem depois da Páscoa.

– O que fazer então?

– Não tenho resposta, imaginação é algo que você tem ou não tem. Não posso ensinar você a ter imaginação.

– O que fazer então? Desistir de meu sonho?

– Ah! Isso era um sonho para você? Estou mais aliviada, há outras coisas a fazer quando não se tem imaginação e não precisa esperar a Páscoa, aproveite o Carnaval, compre algumas máscara e vá assustar os poetas, finja que não compreende o que eles dizem, faça por isso muitas críticas, seja duro, amargo, acabe com eles sem dó nem piedade, certamente você ganhará muito dinheiro com isso e poderá formar a família que tanto deseja.

– Não acho isso muito interessante, mas porque não tentar?

Assim um novo crítico literário estava na praça atacando sem piedade os que tinham talento já que ele próprio não conseguia escrever, dava um jeito de destruir a carreira de quem o fazia. Ele tinha um prazer especial de criticar os poetas.

É claro. Que eu não inventei essa história, ela me foi contada pela velha senhora sábia. Ela tem muita imaginação, não somente para ela, mas para quem quiser comprar ou até mesmo receber dela, no entanto, poucos são os interessados nesse tipo de sabedoria. De dom? De experiência? De sensibilidade.

Fonte> Hans Christian Andersen. Contos. Publicados originalmente entre 1835 – 1872. Disponível em Domínio Público

sábado, 11 de maio de 2024

A. A. de Assis (Jardim de Trovas) 45

 

Mensagem na Garrafa = 119 =


George Washington Abrão
Maringá/PR

A ESTAÇÃO

Em meados do século passado, mormente aos domingos ou feriados, a juventude jaguariaivense, vestida com os seus trajes domingueiros, sabedora dos horários de passagem dos trens de passageiros (misto, passageiro e noturno), dirigia-se à Estação Ferroviária para assistir a passagem dos comboios.

Da plataforma já se escutava o apito da locomotiva aproximando-se e também do sino que lá havia e que badalando dava o “pode” para que o trem adentrasse a estação. Quando ele estacionava, espalhando o cheiro acre de fumaça, começava o corre-corre dos vendedores de amendoim, sanduíches, doces e outras guloseimas; do desembarque e embarque dos passageiros; das moças e rapazes locais procurando olhar os jovens viajantes, mesmo que fosse apenas para ganhar apenas um olhar ou um sorriso. Também havia os que tinham mais sortes às vezes entabulavam breve diálogo com algum deles, a troca de endereços e promessa de correspondência. Era um encantamento fugaz que fazia com que as moças mais românticas sonhassem com um príncipe encantado, que talvez conhecessem naquele passeio.

Então, novamente o sino tocava, o apito langoroso em tom de despedida soava da locomotiva e o trem partia, a princípio lentamente, depois ganhando velocidade, levando lembranças e deixando saudades naquelas mentes juvenis.

Então, pouco a pouco, fazia-se o silêncio na bela estação, e todos iam se retirando para esperar a chegada do próximo comboio.

[George Roberto Washington Abrão. Momentos – (Crônicas e Poemas de um gordo). Maringá/PR, 2017. Enviado pelo autor.]

Vereda da Poesia = 4 =


Antero Jerónimo
Lisboa/Portugal

De novo invoco o testemunho do tempo antigo
na ilusão de despertar um sonho adormecido

O espírito paira  na atração da vertigem
vítreo olhar incidindo na profundidade resguardada
onde só a memória mergulha com exatidão

Sem o pressentir, já habitavas em mim!

Revejo-me debaixo da frondosidade da árvore 
estendido sobre um atapetado manto de fantasia
contemplando com o olhar não empoeirado
o tempo espreguiçando-se na sua vagarosa letargia

Desconhecendo que já conhecia a paz
deixava-me livremente invadir
pelos ruídos do dia em suave orquestração
sinfonia recebendo os aplausos do sentir

Sem o pressentir, já habitavas em mim!

O pensamento retinha a inocência de cada gesto
sorriso a desabrochar em doçura de pólen
ingenuidade perante o voo sôfrego das abelhas

Uma felicidade idílica tomava conta de mim
naquele recôndito esconderijo de verdura
onde o sonho abraçava a realidade com ternura

Mesmo não o pressentindo,  já habitavas em mim!

Fonte: Facebook do poeta

Silmar Bohrer (Croniquinha) 111

O pensar, o escrever, o divagar, o filosofar, todos parecem um gravetinho que fica cutucando as ideias, disfarçando o sono, absorvendo madrugadas. 

Xingar ? Não xingo ! 

Farinhas do mesmo teor costumam produzir produtos homogêneos em sua natureza. E neste caso o verbo agradece . Porque é nestas horinhas da calada da noite em que alma e ser harmonizam, que se reúnem os seres interiores para fabular tanta coisa. 

No colo das madrugadas as musas incitam instantes de pura lucidez, e então flui um pouco de tudo, como se viessem lá dos labirintos do ser nobres pensares, rimas ricas, rimas pobres, palavras doces, frases sortilégios, encantamentos do viver. 

Fonte> Enviado pelo autor

Aníbal Beça (Poemas Escolhidos) = 3 =


CHUVA DE FOGO

Meus olhos vão seguindo incendiados
a chama da leveza nesta dança,
que mostra velho sonho acalentado
de ver a bailarina que me alcança

os sentidos em febre, inebriados,
cativos do delírio e dessa trança.
É sonho, eu sei. E chega enevoado
na mantilha macia da lembrança:

o palco antigo, as luzes da ribalta,
renascença da graça do seu corpo,
balé de sedução, mar que me falta

para o mergulho calmo de um amante,
que se sabe maduro de esperar
essa viva paixão e seu levante.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

CURTA PAVANA

O dorso que se curva arco elegante
desenha na memória a leve dança
da bailarina grácil, celebrante
de rito sedutor, que me balança

toda vez que me vejo tão distante,
torcendo meus desejos na lembrança
dos momentos vividos, no constante
aprendizado vasto da mudança.

Posto que a vida corre em curtas curvas,
transitória paisagem, vário atalho
que vai modificando linhas turvas.

Mutante claridade me agasalha:
no casulo do gozo de sussurros
sei-me bicho saído dessa malha.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

DIONYSIO

Ungido para o fado e a nova festa
Meu carnaval profano já celebra
As quarentenas dívidas da carne
Na cela de costelas das mulheres.

Como devasso réu, confesso fauno,
No vinho das delícias me declaro
Sem culpa e sem pecado original
Pois nessa pena sou igual a tantos.

Já disse certa vez em cantoria:
De nada me arrependo e reconfirmo
Agora que o meu tempo é só de gozo.

A vida que me dou não dá guarida
Nem guarda desalentos de tristeza
Somente na alegria é que me morro.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

EQUU 
(para o poeta Rafael Courtoisie)

Nos astros me perdia logo cedo
enquanto a luz vestia-me de noites.
Então chorava no meu ombro o enredo
grave galope breve com seus coices.

As éguas do destino cospem medos
sabendo-me alazão de muitas foices,
ou pangaré lunar dos meus degredos.
Por isso perseguiam-me nas noites

àquelas mais escuras sem estrelas
nas quais sou presa fácil sem que fosse
porque flechando verbos sei contê-las.

Não eram éguas mouras dos desertos
senão potrancas férteis com seus roces
estas que vinham mansas muito perto.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

SONETO DA SENTIDA SOLIDÃO

A falta é complemento da saudade,
servida em larga ausência nos ponteiros,
bandeja dos segundos que se evade,
em pasto das desoras, sorrateira.

Estar é seduzir sem muito alarde,
no avaro aqui agora companheiro,
o porto da atenção que se me guarde
o ser presente da sanha viageira.

Partir é sentimento de voltar,
liberta, eu sei, no vento e seu afoite,
navega a sina em rasa preamar;

ela, essa ausente, é dona e meu açoite,
no seu impulso presto em navegar,
vai se enfunando em névoa pela noite.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

TOADA PARA SOLO DE OCARINA

Fio tênue do céu em claridade
tece esse manto gris meu agasalho
colhido pelos muros da cidade:
mucosa verde musgo que se espalha

como tapete denso em chão de jade
Meus pés de crivo cravam esse atalho
riscando seu grafite no mar que arde
o fogo-de-santelmo em céu talhado

Nesse caminho caio em minha sina
caio no mar que lava essa lavoura
num barco ébrio que sempre desafina

E colho o sal da noite a lua moura
crescente luz de foice me assassina
e me morro no haxixe com Rimbaud
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
Fonte> https://www.sonetos.com.br. Acesso em 15.01.2016. (site desativado)

Monsenhor Orivaldo Robles (O Palavrão)

Tarde de um domingo destes. Caminho para a Catedral. Em minha direção, na calçada, vêm dois rapazes. A todo instante olham para trás com um sorriso maroto. Lá adiante, o motivo: três garotas em shortinhos sumários, que só não revelam pensamento. É a moda, que fazer? Ninguém lhe resiste. (A propósito, alguns esperam que o padre condene trajes curtos na igreja. Nunca me senti à vontade para isso. Não é minha praia. Faz anos, após muita cobrança, expliquei: “Gente, não tenho nenhuma competência para a moda. Nem, aliás, para muitas outras coisas. Não se usa longo em praia nem biquíni em casamento. Para uma igreja, o marido, pai, avô, irmão, primo, namorado… da senhora ou da senhorita vejam se a roupa é adequada ou não. Quem convive com elas é que deve opinar sobre o que vestem”).

Voltando às jovens: alcanço-as no semáforo fechado. Antes que ele abra por completo, passam correndo. Um motorista buzina. A mais alta ergue o braço e, sem se importar com os presentes – parece desejar que todos ouçam – grita, o mais forte que pode: “Ah, vá se …”! Levo um susto. Sou antiquado, reconheço. Entendo palavrão como descortesia, falta de educação. Pelo menos em público. Vindo de mulher, então, é um descalabro. Nos marmanjos, mais desbocados por natureza, surpreende menos. Mas mulher é pessoa fina, nobre, gentil.

Sabe-se lá quem criou o xingamento ou o baixo calão, que todas as línguas conhecem. Aquele mais comum, que ofende a mãe do atingido, pelo jeito, existe há séculos. Quase todos os povos o utilizam. Ou todos mesmo. Até na Bíblia, onde ninguém esperava encontrá-lo, ele aparece. Saul, primeiro rei de Israel, era um indivíduo de maus bofes. Apesar da nobreza do cargo, não tinha muita preocupação com a fineza das palavras. Prática seguida, ainda hoje, por muitos ocupantes de altos postos que, longe dos microfones, mostram levar uma latrina na boca. Num rompante de ira contra o filho Jônatas, Saul sapecou-lhe o xingamento de uso universal (1Sam 20,30). Para não chocar o leitor, as traduções da Bíblia costumam usar expressão mais suave. Mas, no popular mesmo, a gente sabe muito bem o que ele disse. E olhe que Saul viveu no século 11 a. C., embora os livros de Samuel, que contam a sua saga, tenham sido redigidos pelo século 7° a. C. Como se vê, boca suja não é invenção de hoje.

Não sou nenhum puritano; não me escandaliza qualquer besteirinha. Compreendo, além disso, que situações excepcionais, vez por outra, acabem com a paciência do mais devotado discípulo de Jó. Por experiência aprendi, ao longo dos anos, quanto nos pesa o barro de que somos feitos. Mas uma dose de cuidado com as palavras cairia bem entre nós. Ultimamente as pessoas vêm usando um palavreado de fazer corar marinheiro em cais de porto. Isso é ser moderno, ser livre? Não será, antes, grosseria, falta de educação?

Desculpem-me os que me consideram um velho quadrado. Mas reflitam comigo: com razão reclama-se da violência que hoje assola o nosso mundo. Entretanto a violência nutre-se também da agressividade expressa no modo de falar. Do prazer doentio desfrutado por muitos num vocabulário canalha que, longe de dignificar, avilta as pessoas. Não será o caso de cuidarmos um pouco mais das palavras que usamos?

Recordando Velhas Canções (O Caderno)


Compositores: Toquinho e Mutinho

Sou eu que vou seguir você
Do primeiro rabisco até o bê-a-bá
Em todos os desenhos
Coloridos vou estar
A casa, a montanha, duas nuvens no céu
E um sol a sorrir no papel

Sou eu que vou ser seu colega
Seus problemas ajudar a resolver
Te acompanhar nas provas bimestrais
Você vai ver
Serei de você confidente fiel
Se seu pranto molhar meu papel

Sou eu que vou ser seu amigo
Vou lhe dar abrigo
Se você quiser
Quando surgirem seus primeiros raios de mulher
A vida se abrirá num feroz carrossel
E você vai rasgar meu papel

O que está escrito em mim
Comigo ficará guardado
Se lhe dá prazer
A vida segue sempre em frente
O que se há de fazer

Só peço a você um favor
Se puder
Não me esqueça num canto qualquer

Só peço a você um favor
Se puder
Não me esqueça num canto qualquer
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = = = = = = = = = = 

A Jornada da Infância aos Primeiros Passos da Adolescência em 'O Caderno'
A música 'O Caderno', interpretada pelo cantor e compositor Toquinho, é uma obra que evoca a nostalgia e a inocência da infância, além de refletir sobre o crescimento e as mudanças que ocorrem na passagem para a adolescência. A letra da canção personifica um caderno, que simboliza as memórias e aprendizados que acompanham uma pessoa desde os primeiros traços infantis até os desafios mais complexos da vida escolar e pessoal.

O caderno, como narrador da história, expressa um vínculo profundo com o dono, prometendo estar presente em todos os momentos significativos, desde as simples atividades de colorir até as provas e dificuldades escolares. A relação entre o caderno e a criança é apresentada como uma amizade leal, onde o caderno se torna um confidente das alegrias e tristezas que marcam o crescimento. A menção aos 'primeiros raios de mulher' sugere a transição para a adolescência, um período de descobertas e transformações intensas, onde o caderno, ainda que possa ser rasgado, guarda as memórias de um tempo mais simples e puro.

A canção termina com um pedido emocionante do caderno para que não seja esquecido, refletindo o desejo humano de preservar as lembranças da infância. 'O Caderno' é uma metáfora para as experiências que moldam quem somos e um lembrete de que, apesar do inevitável avanço do tempo, as memórias da infância têm um valor inestimável que merece ser guardado e revisitado. Toquinho, com sua habilidade de composição e sua voz suave, consegue transmitir essa mensagem de forma tocante, ressoando com ouvintes de todas as idades.

Contos e Lendas do Paraná (Município de Jaguariaíva)

A SANTA DO PAREDÃO

Conta-se que pelos idos de 1820, quando Jaguariaíva ainda não existia e era apenas uma vasta área de terra cheia de matas e campos, num raio de mais de uma centena de quilômetros, pertencendo à Vila de Castro, surgiu a lenda da Santa do Paredão.

A origem exata da imagem da santa ninguém sabe. O que chama a atenção até hoje é o surgimento do desenho de uma imagem na pedra, num paredão, a uns 80 metros de altura, trabalhado pela natureza de modo admirável.

Muitas histórias surgiram com o passar dos anos. Uma delas, contada pelo senhor Jostino de Miranda, morador na época, nas imediações do paredão, diz que, às margens do rio, alguns homens caçavam e já depois do meio-dia, sem que tivessem tido sucesso na caçada, ouviram repentinamente os latidos dos cães furiosos. Correram para verificar o que acontecia. Os cães continuavam latindo sem parar. O terreno era muito irregular, mata muito fechada e os cachorros haviam se embrenhado num local de acesso muito difícil. Após vencer os obstáculos, verificaram que os cães, muito bravos, latiam e investiam contra alguma coisa.

O primeiro caçador a chegar, vê então uma cena da qual nunca mais se esquecerá: os cães, aos pés de um alto paredão de pedra, latindo contra um facho forte de luz, que dele emanava. Essa visão foi testemunhada por todos os caçadores que viram. No meio do mato, ao pé do paredão, no meio de uma forte luz azulada, estava aparecendo a imagem de uma santa. Uma imagem de santa que eles nunca tinham visto, porém imaginavam que era de uma santa.

A religiosidade aflorava naquela época e os caçadores imediatamente voltaram para o povoado, a quase trinta quilômetros, contando a todos o que viram. As pessoas ficavam admiradas e logo começaram a visitar o local. E, não muito tempo depois, iniciaram-se algumas romarias para ver a Santa do Paredão.

Alguns já falavam em construir uma capela, mas, de repente, ninguém mais via a santa. Ela havia preparado uma surpresa. A imagem, vista pelos caçadores, inicialmente na parte baixa do paredão, não mais aparecia ali. As aparições pararam por um tempo. Mas não demorou muito para que voltassem a acontecer. Só que, a partir de então, no centro do paredão, em local a que jamais se poderia chegar, pois o paredão tinha cerca de 100 metros de altura. Esses fatos, que tiveram registros a partir de 1820 em Jaguariaíva, contêm uma curiosa coincidência com o grande fenômeno religioso do Brasil. Aconteceram, paralelamente, às aparições de Nossa Senhora Aparecida, a versão negra da mãe de Jesus, no Rio Paraíba, no Estado de São Paulo.

A época era a do tropeirismo. Por ali passava o histórico Caminho de Viamão. E os maiores divulgadores da história da Santa do Paredão foram os tropeiros, que transportavam de tudo, levando de Viamão-RS a Sorocaba-SP mulas carregadas de produtos.

Ao passarem por ali, encantavam-se com tudo que ouviam. Era na época o único meio de transporte e comunicação. Eles se incumbiam de espalhar pelo Brasil a fama da religiosidade da região e da Santa. Isso com certeza ajudou a convencer o Imperador do Brasil, Dom Pedro I, no dia 15 de setembro de 1823, a assinar o alvará elevando a Fazenda Jaguariaíva à condição de Freguesia.

O paredão em que aparece a Santa fica na zona rural do município de Jaguariaíva, a 22 km do centro da cidade, na estrada PR 092, ainda sem pavimentação, que liga a cidade com o Distrito Eduardo Xavier da Silva, Sertão de Cima e o município de Doutor Ulysses. Existem placas que orientam o motorista para chegar com facilidade ao local, que é muito frequentado por romeiros.

No mês de maio, último domingo do mês, acontece uma Caminhada Ecológica ao local, com a participação de milhares de pessoas, que saem a pé do centro da cidade e caminham os 22 km até o local, onde acontece missa e festa com barraqueiros. Muletas, fotos e objetos dos mais variados são depositados num local parecido com uma gruta durante o ano todo, quando velas são queimadas em agradecimento por graças recebidas.

Muitos são os testemunhos de pessoas que alcançaram cura ou graças diversas pela intercessão à Santa do Paredão.

Fonte> Renato Augusto Carneiro Jr (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná. 
Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005.

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Isabel Furini (Poema) 59: Eloquência

 

Vereda da Poesia = 3 =

Solange Colombara
São Paulo/SP

Trio de Spinas

MATURIDADE 

Minguaram algumas falas,
calaram-se várias lágrimas, 
sangraram fortes canduras.

Sorrisos dizem mais que palavras 
soltas levadas ao vento, absortos 
em lábios tristonhos, sem rasuras. 
Neste enleio, determino a bússola 
do tempo, em inúmeras molduras.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

CLAUSURA 

Reclusa no próprio 
tempo, seu sorriso
é seu sentimento.

Ora transborda paz, um alento, 
às vezes um leve contratempo. 
Atada em utopias, é momento, 
ou somente uma página virada
levada por folhagens no vento.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

SAUDADE...

Penetra na pele
feito um aroma
leve de jasmim,

soprado na brisa do outono, 
um sentimento da doce paz
que renasce dentro de mim.
É um poema, uma profunda
saudade que nunca terá fim.

Fonte> Facebook da poetisa