domingo, 11 de janeiro de 2009

Jorge Arrimar (Flor de Milho)

(mantida a grafia original)

Soltaste um pássaro de sol
pelo infinito dos caminhos
a desintegrarem-se em espuma
no vale das estrelas caídas…

Somente aquele poema de fogo
gravado no corpo descarnado dos vulcões
te faz ainda promessas de silêncio,
a mais pura das vozes a descer sobre ti
em gotas de orvalho perfumado.
Do seio prateado das lagoas
enlaçam-te raízes brancas
como asas de borboleta,
mas da tua boca eleva-se um sorriso
lavado com a água da saudade:
-“Nunca me esqueci que vim do Sul”
onde o mágico crepúsculo se banhava
no rio Chilo
e os cafeeiros em flor
cantavam versos de luar
ao som do velho kissanje
de Paulino Valúnje!
Das folhas do teu cajueiro
dispersas na tempestade de uma noite
que jamais se apagará
começa já a despontar a aurora
de uma flor de milho
que tu depuseste no colo nordestino
do teu ser em fuga…
(Açores, ilha de S. Miguel, 24 Out. 1982

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Sobre o Autor
Jorge Arrimar (1953)
Jorge Manuel de Abreu Arrimar, nasceu em Chibia, Huíla (Angola), em 1953. Na década de 1970, criou com amigos o Grupo Cultural da Huíla (Grucuhuíla). Estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Luanda, tendo concluído a licenciatura em História e especializando-se em Ciências Documentais. Foi professor de português nos Açores, onde dirigiu, com Carlos Loureiro, um suplemento literário chamado Página Africana.
Em 1985 radicou-se em Macau, onde ocupou o cargo de director da Biblioteca Nacional. É colaborador do Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, organizado pelo Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro e prepara uma Antologia de Poetas de Macau em parceria com Yao Jingming.
Reside hoje em Portugal.
Bibliografia
Ovatylongo (1975),
Poemas (1979, em parceria com Eduardo B. Pinto),
20 Poemas de Savana (1981),
Murilaonde (1990),
Fonte do Lilau (1990),
Secretos Sinais (1992) e Confluências (1997, em parceria com Manuel Yao).

Fontes:
http://www.lusofoniapoetica.com/
Foto =
http://moodle.crie.min-edu.pt

Folclore Indigena da Tribo Kaingang

Kaingang do PR (desenho de João Henrique
Elliot 1809-1888)
Os Kaingang formam, até o presente, vários grupos espalhados pelo oeste dos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, pelo norte do Rio Grande do Sul e pelo leste das Missões Argentinas. Sua língua relaciona-se com a família Gê, podendo ser, provisoriamente, considerada como Grupo Meridional dela. Os fragmentos de lendas abaixo relatados procedem de índios da região do rio Ivaí, e foram coletados em 1912.

A origem dos Kaingang

A tradição dos Kaingang afirma que os primeiros da sua nação saíram do solo; por isso têm cor de terra. Numa serra, não sei bem onde, no sudeste do estado do Paraná, dizem eles que ainda hoje podem ser vistos os buracos pelos quais subiram. Uma parte deles permaneceu subterrânea; essa parte se conserva até hoje lá e a ela se vão reunir as almas dos que morrem, aqui em cima. Eles saíram em dois grupos chefiados por dois irmãos, Kanyerú e Kamé, sendo que aquele saiu primeiro. Cada um já trouxe consigo um grupo de gente. Dizem que Kanyerú e toda a sua gente eram de corpo delgado, pés pequenos, ligeiros, tanto nos seus movimentos como nas suas resoluções, cheios de iniciativa, mas de pouca persistência. Kamé e seus companheiros, pelo contrário, eram de corpo grosso, pés grandes, e vagarosos nos seus movimentos e resoluções.

A criação dos animais

Como esses dois irmãos com a sua gente foram os criadores das plantas e dos animais, e povoaram a Terra com os seus descendentes, tudo neste mundo pertence ou à metade Kanyerú ou à metade Kamé, conhecendo-se a sua descendência já pelos traços físicos, já pelo temperamento, já pela pintura: tudo o que pertence a Kanyerú é manchado, o que pertence a Kamé é riscado. Essas pinturas, o índio vê tanto na pele dos animais como nas cascas, nas folhas ou nas flores das plantas, e para objetivos mágicos e religiosos cada metade emprega material tirado de preferência de animais e vegetais da mesma pintura.

Kanyerú fez cobras, Kamé, onças. Este fez primeiro uma onça e a pintou, depois Kanyerú fez um veado. Kamé disse à onça: "Come o veado, mas não nos coma!" Depois ele fez uma anta, ordenando-lhe que comesse gente e bichos. A anta, porém, não compreendeu a ordem. Kamé repetiu-lhe ainda duas vezes, em vão; depois lhe disse, zangado: "Vai comer folhas de urtiga! Não prestas para nada!" Kanyerú fez cobras e mandou que elas mordessem homens e animais. Queimou um espinho chamado sodn e esfregou a cinza nos dentes da cobra a fim de torná-los venenosos. Kamé quis então fazer um animal muito feroz, e começou a fazer o tamanduá. Eles estavam trabalhando durante a noite, e quando o dia começou a romper, o tamanduá ainda não estava pronto: já tinha unhas enormes, mas a boca ainda estava por fazer. Então Kamé arrancou um cipó e meteu-o como língua na boca do estranho animal, que ficou mal acabado.

Quando já estava claro, eles começaram a correr, e logo uma onça pegou um Kanyerú, e Kamé foi mordido por uma cobra. Pararam para tratar o doente, quando o surucuá (Trogon sp.) cantou: Tug! Tug! Tug! Um velho explicou essa cantiga como tu (- carregar) e mandou que carregassem o doente para o lugar do acampamento. Um pequeno gavião cantou: Tokfín! (- amarrar) e o velho mandou amarrar o membro lesado. Um outro passarinho cantou: Ngidn! (- cortar), e eles abriram a ferida com um corte. Outro cantou: Iandyóro! (- espremer) e eles espremeram a ferida. Por fim um outro cantou: Kaimparará! (kaimpára - inchado), e o velho disse: "Isto é; um mau grito! Amanhã o membro estará inchado!" Assim foram tratando o doente até que se restabelecesse.

A origem dos nomes de pessoas

Quando, depois, os dois irmãos com a sua gente começaram sua migração pela terra, aproveitaram os acontecimentos durante a viagem para impor nomes aos seus companheiros: encontrando um passarinho vermelho de nome erégn, Kanyerú achou bom este nome e o deu a seu filho. Quando mataram um gavião real (hu-mbagn), Kanyerú deu a um dos seus companheiros o nome de Hu-mbagn-niká - penacho de gavião real. Passando, com sol quente, por um campo, uma menina Kamé quebrou um galho de uma árvore chamada soke para usá-lo a jeito de guarda-sol. Quando chegaram ao acampamento, Kamé chamou a menina Soke-kign. No dia seguinte mataram uma onça (mi), e Kamé deu a um dos seus companheiros o nome de Mi-yantkí (- boca de onça), enquanto Kanyerú batizou um outro por Mi-nindó (- braço de onça). Depois outra vez Kamé chamou uma mulher de Mi-kané (- olho de onça) etc. O rezador, que sabe de todos esses episódios pela tradição que ele e os seus colegas guardam, é, por isso, competente para impor o nome à criança, e, já pelo nome, se conhece a qual metade o indivíduo pertence.

As almas de defuntos

A alma do defunto (vaekruprí) penetra no chão, imediatamente ao lado do cadáver, começando logo a se encaminhar rumo ao Toldo dos Defuntos. O primeiro pedaço do caminho é nas trevas, mas logo ela sai outra vez ao claro, onde se encontra com algumas outras almas que lhe oferecem comida. Se comer, continuará o caminho; se não, voltará à superfície da terra, entrando novamente no corpo que a alma abandonara. Assim se explicam os casos em que pessoas aparentemente mortas tornam à vida. Para lá daquele ponto, começam para a alma as dificuldades e perigos do caminho: primeiro, encontra uma encruzilhada onde um caminho errado conduz a um lugar onde uma caba preta, gigantesca (kokfumbágn) espera as almas para devorá-las. Em outro trilho errado, acha-se armado um laço que colhe a alma, atirando-a dentro de uma panela com água a ferver. Finalmente, tem de atravessar um brejo por uma pinguela estreita e escorregadia. Se escorregar e cair, é devorada por um enorme caranguejo ou, segundo outros, por um cágado.

Além da pinguela, a alma encontra o Toldo dos Defuntos, onde os seus conhecidos finados já a esperam com góyo-kuprí (Bebida fermentada de milho) para festas e danças. Nesse Toldo dos Defuntos, tudo é mais ou menos como aqui em cima, na Terra. Algumas coisas, porém, têm lá significado diferente ou oposta: assim, os defuntos tratam umas formigas grandes de "onças"; as minhocas são "peixes"; as aranhas, "cobras" etc. O milho é preto. Naturalmente, as almas também brigam entre si, e quando isto acontece, sempre há entre os vivos algum desastre. Nos cemitérios acham-se muitas vezes vestígios de cacetadas, golpes de terçado e marcas de quedas de corpos impressos no chão, especialmente poucos dias depois do enterro, no lugar que o Pényê (ver nota abaixo) varreu com ramos. Se aparecerem só pegadas, é sinal que logo alguém vai morrer. Bem junto ao cadáver, enquanto este ainda não tiver sido tirado do seu leito de morte, o Pényê encarregado de tratá-lo espalha cinza no chão, alisa-a e marca os lugares da vizinhança: o toldo X, o toldo Y etc. Pouco depois aparecem na cinza, no lugar correspondente, aqueles sinais acima mencionados, e até rastros de cobra, se alguém tiver de ser mordido por um desses répteis. Não é, porém, qualquer um que enxerga essas coisas e sabe explicá-las.

O dilúvio

Quando o dilúvio chegou, os índios se transformaram em macacos-pregos, e os negros, em guaribas, o que se pode verificar pela catinga destes, que é a mesma dos negros. Um homem salvou-se, trepando numa palmeira jerivá. Estava comendo as frutas, enquanto as pontas dos seus pés pendiam n'água. Os dourados vieram para apanhar os caroços, mas de repente morderam também os dedos dos pés do homem. Por isso, o dedo miudinho do nosso pé é menor que os outros. Quando os índios já estavam meio mortos de fome, apareceu o biguá (Krukrú) (Phalacrocorax olivacens, Humb., ave passeriforme que vive nos rios e costas marítimas) e disse: "Eu farei uma terra para vós!" Trouxe uma das mãos cheia de terra que espalhou na superfície da água, de maneira que formou uma ilha. Depois tornou a trazer outra mais, e assim trabalhou durante dias. Quando não espalhava bem a terra, esta formava colinas e montanhas.

Nota: Os Kaingang do Ivaí reconheciam, em ambas as suas metades exogâmicas, quatro (ou mais?) classes, consideradas de maior ou menor sensibilidade quanto a influências más, e consequentemente com funções cerimoniais diversas. A classe dos Pényê era considerada inferior, sendo a menos sensível a feitiço, impureza e doenças. Aos Pényê cabiam as funções de mais importância na ocasião de um óbito, pois só eles podiam lidar sem prejuízo com o cadáver e com a viúva.

Fontes:
http://www.terrabrasileira.net/

Folclore Indigena da Tribo Kuniba

Esta tribo, hoje extinta, habitou até 1912 a terra firme entre a margem esquerda do médio rio Juruá e as cabeceiras do Jutaí. Em conseqüência de um assalto que fizeram a um barracão, a maior parte dela foi morta pelos neobrasileiros. Alguns sobreviventes foram transferidos pelo Serviço de Proteção aos Índios para o Rio Branco. Sua língua é Aruak, do Grupo Pré-andino. A lenda foi anotada em 1921.

A lua

Um homem tinha ido a uma viagem, deixando sua mulher em casa. Esta, durante a ausência do marido, recebia todas as noites, na sua rede, a visita de um desconhecido. Num dia preparou tinta de jenipapo e passou-a no rosto do visitante noturno, para reconhecê-lo de dia. Então verificou que se tratava de um dos seus próprios irmãos. De manhã, contou logo a sua mãe o que tinha feito, mas todos procuraram em vão o homem marcado com a tinta de jenipapo. Então, o chefe da maloca mandou reunir os homens, apresentando-se todos, com exceção do irmão culpado. Ele se escondera e teve de ser trazido à força. Quando seu delito foi descoberto, os outros deram-lhe uma surra e o soltaram. Já em liberdade, ele ameaçou que havia de voltar e acabar com a maloca toda.

Seu irmão, porém, seguiu-o às escondidas, para observar o que pretendia fazer.

À boca da noite, o malfeitor chegou a uma maloca estranha, na qual entrou. Imediatamente os habitantes caíram em massa sobre ele, abatendo-o. Seu irmão, porém, que o havia seguido, escondeu-se perto, no oco de um pau, de onde observou como os inimigos cortaram a cabeça do morto, jogando-a num monturo, enquanto lhe queimavam o corpo. Ele resolveu levar a cabeça para casa.

Assim que anoiteceu completamente, saiu do seu esconderijo e, apanhando muitos vagalumes, esfregou-os no próprio rosto, no corpo e nos membros, que ficaram fosforescentes. Seu aspecto era, agora, o de um fantasma, e quando entrou no meio dos inimigos, que ainda estavam sentados reunidos no terreiro, estes correram apavorados, escondendo-se na maloca. Ele apanhou a cabeça do irmão e fugiu, levando-a. Por mais que corresse, não lhe foi possível alcançar sua maloca na mesma noite. Então resolveu enterrar a cabeça na manhã seguinte e, depois de ter feito uma cama, adormeceu.

Pela manha, cedo, a cabeça a seu lado começou a falar: "Meu irmão, dá-me água!" 0 homem assustou-se grandemente: "Que história é esta dessa cabeça?" Foi buscar água, oferecendo-a à cabeça para que bebesse, mas o líquido escorria imediatamente pelo pescoço cortado. Foi buscar mais, porém o efeito era o mesmo. Então cavou, no mesmo lugar, um buraco fundo e nele deixou sepultada a cabeça, continuando o seu caminho em direção à maloca. Vendo, porém, uma fruteira, subiu para comer frutas, pois estava com fome. Nisto, a cabeça tinha-se libertado do buraco e veio pulando pelo rastro do irmão e, vendo-o sentado na fruteira, pediu-lhe que atirasse algumas frutas. O homem apanhou uma e a atirou pelo mato adentro; sem demora, a cabeça pulou atrás a fim de apanhá-la.

O homem aproveitou a ausência da cabeça para descer a toda pressa, e correr para sua maloca. "Mataram meu irmão e a sua cabeça virou fantasma!", contou ele aos outros. Todos se esconderam na maloca, fechando bem as portas, porque a cabeça já vinha perto, pulando. Chegou à porta e pediu a sua mãe que a abrisse; mas ninguém lhe respondeu.

Chorou e se lamentou do lado de fora durante a noite toda: "Que me resta fazer agora?! Macaco eu não posso ser, porque me comeriam. Água não posso ser, porque me beberiam e me ferveriam. Pedra eu não posso ser, porque sobre mim defecariam."

Assim foi discorrendo e, já pela manhã, lembrou-se da lua. "Serei a lua", disse. "Depois de três dias, eu aparecerei, e então acontecera uma coisa à minha irmã (isto é: ela ficará menstruada; naquele tempo, como não havia ainda lua, as mulheres não ficavam menstruadas nem davam à luz). E assim será cada vez que eu aparecer de novo." Depois pediu à sua mãe que lhe desse um novelo de fio de algodão; esta lhe atirou o objeto pedido, por uma fenda na parede, no terreiro.

Ele atirou o novelo para o céu, mas o fio era curto demais; pediu mais outro novelo. Agora alcançou o céu pelo fio que desenrolara. Quando já estava alto, sua gente saiu da maloca e viu como ia subindo cada vez mais e como, por fim, desapareceu no céu.

Fonte:
http://www.terrabrasileira.net/

Folclore Indigena (Mandioca ; Mavutsin - o primeiro homem ; O primeiro Kuarup - festa dos mortos)



Mandioca - o pão indígena

Mara era uma jovem índia, filha de um cacique, que vivia sonhando com o amor e um casamento feliz. Certa noite, Mara adormeceu na rede e teve um sonho estranho. Um jovem loiro e belo descia da Lua e dizia que a amava. O jovem, depois de lhe haver conquistado o coração, desapareceu de seus sonhos como por encanto. Passado algum tempo, a filha do cacique, embora virgem, percebeu que esperava um filho. Para surpresa de todos, Mara deu à luz uma linda menina, de pele muito alva e cabelos tão loiros quanto a luz do luar.

Deram-lhe o nome de Mandi e na tribo ela era adorada como uma divindade. Pouco tempo depois, a menina adoeceu e acabou falecendo, deixando todos amargurados. Mara sepultou a filha em sua oca, por não querer separar-se dela. Desconsolada, chorava todos os dias, de joelhos diante do local, deixando cair leite de seus seios na sepultura. Talvez assim a filhinha voltasse à vida, pensava. Até que um dia surgiu uma fenda na terra de onde brotou um arbusto.

A mãe surpreendeu- se; talvez o corpo da filha desejasse dali sair. Resolveu então remover a terra, encontrando apenas raízes muito brancas, como Mandi, que, ao serem raspadas, exalavam um aroma agradável. Todos entenderam que criança havia vindo à Terra para ter seu corpo transformado no principal alimento indígena. O novo alimento recebeu o nome de Mandioca, pois Mandi fora sepultada na oca.
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Mavutsin - o primeiro homem

O primeiro homem (kamaiurá). No começo só havia Mavutsinim. Ninguém vivia com ele. Não tinha mulher. Não tinha filho, nenhum parente ele tinha. Era só. Um dia ele fez uma concha virar mulher e casou com ela. Quando o filho nasceu, perguntou para a esposa: É homem ou mulher? é homem. Vou levar ele comigo. E foi embora. A mãe do menino chorou e voltou para a aldeia dela, a lagoa, onde virou concha outra vez. - Nós - dizem os índios - somos netos do filho de Mavutsinim.
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O primeiro Kuarup – a festa dos mortos

O primeiro Kuarup, a festa dos mortos (Kamaiurá) Mavultsinim queria que os seus mortos voltassem à vida. Foi para o mato, cortou três toros da madeira de kuarup, levou para a aldeia e os pintou. Depois de pintar, adornou os paus com penachos, colares, fios de algodão e braçadeiras de penas de arara. Feito isso, mavutsinim mandou que fincassem os paus na praça da aldeia, chamando em seguida o sapo cururu e a cutia (dois de cada), para cantar junto dos Kuarup. Na mesma ocasião levou para o meio da aldeia, peixes e beijus para serem distribuídos entre o seu pessoal. Os maracá-êp (cantadores), sacudindo os chocalhos na mão direita, cantavam sem cessar em frente dos kuarup, chamando-os à vida. Os homens da aldeia perguntavam a Mavutsinim se os paus iam mesmo se transformar em gente, ou se continuariam sempre de madeira com eram. Mavutsinim respondia que não, que os paus de kuarup iam se transformar em gente, andar como gente e viver como gente vive.

Depois de comer os peixes, o pessoal começou a se pintar, e a dar gritos enquanto fazia isso. Todos gritavam,. Só os maracá-êp é que cantavam. No meio do dia terminaram os cantos. O pessoal, então, quis chorar os kuarup, que representavam os seus mortos, mas Mavutsinim não permitiu, dizendo que eles, os kuarup, iam virar gente, e por isso não podiam ser chorados. Na manhã do segundo dia Mavutsinim não deixou que o pessoal visse os kuarup. "Ninguém pode ver" - dizia ele. A todo momento Mavutsinim repetia isso. O pessoal tinha que esperar. No meio da noite desse segundo dia os toros de pau começaram a se mexer um pouco. Os cintos de fios de algodão e as braçadeiras de penas tremiam também. As penas mexiam como se tivessem sendo sacudidas pelo vento.

Os paus estavam querendo transformar-se em gente. Mavutsinim continuava recomendando ao pessoal para que não olhasse. Era preciso esperar. Os cantadores - os cururus e as cutias - quando os kuarup começaram, a dar sinal de vida cantaram para que se fossem banhar logo que vivessem. Os troncos se mexiam para sair dos buracos onde estavam plantados, queriam sair para fora. Quando o dia principiou a clarear, os kuarup do meio para cima já estavam tomando forma de gente, aparecendo os braços, o peito e a cabeça. A metade de baixo continuava pau ainda. Mavutsinim continuava pedindo que esperassem, que não fossem ver. "Espera... espera... espera" - dizia sem parar.

O sol começava a nascer. Os cantadores não paravam de cantar,. Os braços dos kuarup estavam crescendo. Uma das pernas já tinha criado carne. A outra continuava pau ainda. No meio do dia os paus começavam a virar gente de verdade. Todos se mexiam dentro dos buracos, já mais gente do que madeira. Mavutsinim mandou fechar todas as portas., só ele ficou de fora, junto dos kuarup. Só ele podia vê-los, ninguém mais. Quando estava quase completa a transformação de pau para gente, Mavutsinim mandou que o pessoal saisse das casas para gritar, fazer barulho, promover alegria, rir alto junto dos kuarup. O pessoal, então, começou a sair de dentro das casas. Mavutsinim recomendava que não saíssem aqueles que durante a noite tiveram relação sexual com as mulheres.

Um, apenas, tinha tido relações. Este ficou dentro da casa. Mas não aguentando a curiosidade, saiu depois. No mesmo instante, os kuarup pararam de se mexer e voltaram a ser pau outra vez. Mavutsinim ficou bravo com o moço que não atendeu à sua ordem. Zangou muito, dizendo: - O que eu queria era fazer os mortos viverem de novo. Se o que deitou com mulher não tivesse saído de casa, os kuarup teriam virado gente, os mortos voltariam a viver toda vez que se fizesse kuarup. Mavutsinim, depois de zagar, sentenciou: - Está bem. Agora vai ser sempre assim. Os mortos não reviverão mais quando se fizer kuarup. Agora vai ser só festa. Mavutsinim depois mandou que retirassem dos buracos os toros de kuarup. O pessoal quis tirar os enfeites, mas Mavutsinim não deixou. "Tem que ficar assim mesmo", disse. E em seguida mandou que os lançassem na água ou no interior da mata. Não se sabe onde foram largados, mas estão até hoje lá, no Morená.

Fonte:
PINTO, Wilson. As Mais Belas Lendas Brasileiras. Santa Catarina: Excelsus.
http://www.desvendar.com/especiais/indio/lendas.asp

sábado, 10 de janeiro de 2009

Contos do Folclore Português (A Mulher do Mercador)



Havia numa terra um mercador casado com uma formosa mulher.

Todos os dias erguia-se o mercador muito cedo da cama, ia visitar uma propriedade, voltava, ia ao quarto beijar a esposa, e dirigia-se para o seu estabelecimento.

As casas do mercador eram pegadas a um jardim, que comunicava com o paço. O príncipe ouvia falar muito da formosura da mulher do mercador e, sabendo que este ia todos os dias visitar a sua propriedade, ficando a mulher deitada, combinou com um crido desta entrar no quarto da ama, quando o mercador saísse.

Entrou o príncipe no quarto, onde dormia a formosa mulher, abriu os cortinados do leito, mas nessa ocasião veio à pressa o criado participar-lhe que o mercador vinha próximo. Então o príncipe safou-se apressadamente, deixando cair uma luva.

O mercador entrou no quarto da esposa e viu a luva no chão.

Voltou para trás e foi para o estabelecimento sem beijar a mulher. Nesse dia não lhe falou apesar da mulher lhe perguntar a razão. Soube o príncipe, por via do criado, do que se passava entre o mercador e a esposa, e desejou congraçá-Ios. Fez-se amigo do marido e foi um dia convidado por este a jantar em sua casa. Ao jantar assistiram o príncipe, o mercador e a esposa. No fim pediu o príncipe ao mercador que lhe contasse alguma história e como este se recusasse, instou com a mulher. Esta disse apenas:

Eu já fui querida, amada,
Agora sou desprezada
Sem contudo fazer nada.

Respondeu o marido:

Eu à minha vinha fui
Rastos de ladrão achei
Se comeu uvas ou não
Isso não vi nem eu sei.
Então observou o príncipe:

Eu à tua vinha fui
Parras verdes eu abri
Como príncipe aqui juro
Que das uvas não comi.

Houve depois todas as explicações entre os três, e o marido congraçou-se novamente com sua. esposa, visto estar esta completamente livre de qualquer censura ou da mais mínima culpa.
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Este conto você pode encontrar narrado por Luiz Gaspar (em português de Portugal), em seu site, indicado abaixo.
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Fonte:
PEDROSO, Consiglieri. Contos tradicionais do Algarve.
http://www.truca.pt/raposa_textos/historia_76_mulher_do_mercador.html

Rodrigo Farias (Você sabe ler?)



Se você é do tipo que:

» chega ao fim de um livro sem conseguir lembrar do início;
» freqüentemente cochila durante uma leitura mais longa, mesmo quando o assunto interessa;
» várias vezes compra um livro aparentemente bom para descobrir, depois de quinze páginas, que ele não vale meia pataca;
» tem dificuldade para resumir as idéias principais do autor, e quando tenta acaba sempre produzindo resumos muito maiores que o desejável;
» está sempre tendo de queimar os neurônios com livros difíceis de entender, mas obrigatórios para um curso, trabalho ou aula;
» toda vez que vê um colega falar sobre uma leitura que você também fez, acaba se perguntando, "Como é que eu não vi isso?"...

Este texto foi escrito pensando em você.

1 - Informação X Esclarecimento

1.1 - Um diagnóstico triste

A maior parte das pessoas lê mal. Num país como o Brasil, em que a grande massa da população não chega sequer a completar o Ensino Fundamental, isso soa como um truísmo, mas aqui estamos nos referindo também aos felizardos que conseguiram chegar não apenas ao fim do Ensino Médio, mas até mesmo, e principalmente, ao Ensino Superior. Infelizmente, a posse de um diploma não é garantia de uma capacidade de leitura eficaz. Nossa estrutura educacional é falha, muito aquém do que seria preciso para realmente formar um cidadão, e isso vale tanto para o ensino público quanto para grande parte do particular. Além disso, em nossa cultura, ler ainda não é uma prioridade, o que se reflete no mercado editorial: a maioria dos livros têm baixas tiragens (o padrão de uma edição é 3.000 exemplares, num país de mais de 160 milhões) e demoram a vender, salvo um ou outro best-seller, geralmente de ficção. E como se não bastasse, o fato de alguém comprar um livro não significa que vá lê-lo de fato, e mesmo que o leia, não significa que vá entendê-lo tanto quanto a obra merece.

Daí se deduz a pobreza do nosso país no campo da leitura. Mas problemas nessa área não são exclusividade do Brasil, tampouco de países pobres. Já na década de 70, Mortimer Adler -- cujas idéias fundamentam este textos -- já denunciava que a capacidade de leitura dos norte-americanos que não passava do nível do sexto ano letivo, ou seja, mais ou menos o do nosso primário ou 5.ª série. O autor cita um artigo que o professor James Mursell, da Escola de Professores da Universidade de Columbia, escreveu para a revista Atlantic Monthly, em 1939:

"Os estudantes aprendem a ler de forma efetiva em sua língua materna? Sim e não. Até o quinto e o sexto ano, a leitura é de fato ensinada e bem aprendida. Neste nível nos deparamos com um progresso constante, mas a partir daí caminha-se para a estagnação. Não porque o indivíduo tenha chegado ao seu limite natural de eficiência quando ele chega ao sexto ano, porque já está mais do que provado que estudantes mais velhos, e até mesmo adultos, podem continuar fazendo enormes progressos com a orientação adequada. Tampouco isso quer dizer que todos os estudantes do sexto ano lêem suficientemente bem para todos os objetivos práticos. Um número considerável de alunos fracassa no curso secundário simplesmente porque não se mostram aptos a apreender o sentido de uma página impressa. Eles podem melhorar; eles precisam melhorar; mas não melhoram.

O aluno médio das escolas secundários já leu um bocado, e se ele entrar numa universidade vai ler mais ainda; mas provavelmente ele ainda é um leitor fraco e incompetente (observem que isso vale para o estudante médio, não para aquele que recebeu um tratamento especial). Ele pode ler e apreciar um texto simples de ficção. Mas coloque-o diante de um ensaio escrito com rigor, diante de um argumento exposto de forma concisa e cuidadosa, ou uma passagem que exige alguma reflexão crítica, e ele estará perdido. Já foi demonstrado, por exemplo, que o estudante médio revela uma incapacidade surpreendente de indicar qual é o ponto central de um texto, ou os níveis de ênfase e subordinação num texto argumentativo. Para todos os efeitos, ele continua sendo um leitor da sexta série ao longo da universidade
."

Isso era verdade nos EUA em 1939. Em 1972, quando Adler citou esse artigo, ainda era. Alguém tem dúvidas de que seja também no Brasil de hoje? Pergunte a si mesmo quantos livros você já leu este ano. Melhor ainda, experimente fazer uma pesquisa informal entre seus conhecidos: quantos livros já lidos nos últimos 12 meses?

1.2 - Leitura ativa
Para entendermos o que significa dizer que alguém tem um nível de "sexta série", como diz o texto citado, precisamos estabelecer algumas distinções fundamentais. A primeira dela diz respeito à natureza da leitura. Segundo Adler, toda leitura exige um certo grau de atividade por parte do leitor, mas que pode variar tanto, que podemos falar, para fins didáticos, em leitura ativa e leitura passiva.

A leitura passiva seria aquela em que predomina a mera recepção de informações. Você decodifica o texto, não pensa sobre ele. É ler com a postura com que geralmente costumamos ver televisão. Um caso extremo é quando lemos um texto de maneira superficial, "passando os olhos", sem realmente nos interessarmos por ele. O resultado é apenas uma memorização mais ou menos superficial do que se leu.

Já a leitura ativa digna desse nome é aquela em que o leitor se esforça ao máximo para captar a mensagem que o autor tenta lhe transmitir. Ele dialoga com o texto que tem diante dos olhos, tenta determinar suas idéias centrais e a ligação entre elas. Enfim, o leitor verdadeiramente ativo é aquele que "está presente" na leitura, alerta, empenhado em compreender a mensagem do autor. Quanto mais ele é, mais eficaz será sua leitura.

1.3 - Finalidades da leitura

Todo o mundo alguma vez já aprendeu algo que mudou sua maneira de entender o mundo, ou um aspecto dele. Pode ter sido por meio de uma palestra, de uma aula, de um filme, uma conversa com um amigo ou -- o que nos interessa aqui -- um texto escrito ou livro. É quando, mais do que uma informação nova, nos damos conta de que captamos algo mais essencial, uma forma de compreensão, uma espécie de ferramenta mental -- a lógica por trás de alguma coisa. Nessas ocasiões, nós não apenas aprendemos o "quê", mas também e principalmente o "como" e o "porquê". É nossa compreensão que se alarga.

Trazendo isso para o mundo da leitura de livros (e deixando de fora aqueles voltados para o mero entretenimento), Adler dá um exemplo muito simples. Suponhamos que você tenha um livro que deseje ler. Ora, esse livro consiste de um amontoado de palavras escrito por uma pessoa com a intenção de comunicar algo a você. Portanto, seu sucesso na leitura vai depender do quanto você conseguirá captar da mensagem que o autor tentou comunicar.

Óbvio, não? Porém, a sua relação com o livro, continua ele, pode assumir duas formas. Se você entende perfeitamente o que autor quis passar, então vocês dois têm mentes afins e você pode ter assimilado informação, mas não necessariamente compreensão. A leitura pode simplesmente ter expressado uma compreensão comum que ambos já tinham antes de se encontrarem.

Agora, pode acontecer de você perceber que não está conseguindo entender tudo que o livro oferece. Algumas coisas fazem sentido, outras não. O livro tem mais a dizer do que aquilo que foi possível captar, de certa maneira ele excede o seu nível de compreensão ao lê-lo. Logo, para conseguir dar conta de tudo que o autor quis comunicar, é preciso alargar sua capacidade compreensiva. Como fazer isso?

Pode-se pedir ajuda a outra pessoa, consultar outros livros. Entretanto, Adler propõe que, de maneira geral, isso pode ser feito, antes de mais nada, trabalhando no livro.

"Sem nada além do poder de sua própria mente, você manipula os símbolos à sua frente de tal forma que passe de um estado de compreender menos para um estado de compreender mais. Esse avanço, conquistado pela mente que trabalha num livro, corresponde a uma leitura de alto nível, o tipo de leitura que um livro que desafia sua compreensão merece."

Nem sempre a distinção entre um tipo de leitura e outra é clara. Muitas vezes ela é muito tênue. Porém, grosso modo, podemos dizer que textos plenamente compreensíveis, como jornais, revistas, são essencialmente informativos. Não nos atordoam com a complexidade peculiar de quando ultrapassamos nossos limites. Por outro lado, sempre que lemos um texto que nos deixa, ao fim de uma leitura atenta, a sensação de que nã entendemos tudo, ele merece ser tratado como uma leitura compreensiva.

"Quais são as condições sob as quais esse tipo de leitura -- leitura para compreensão -- ocorre? Existem duas: primeira, há uma desigualdade inicial de compreensão. O autor deve ser 'superior' ao leitor em compreensão, e seu livro deve transmitir de uma maneira legível os conhecimentos que ele possui e que faltam aos seus leitores em potencial. Segunda, o leitor tem que estar habilitado a superar essa desigualdade em alguma medida, se não completamente, aproximando-se sempre do escritor. Na medida em que a igualdade é alcançada, a clareza na comunicação é atingida.

Em resumo, só podemos aprender com nossos 'superiores', Devemos saber quem eles são e como aprender com eles. Quem possui esse conhecimento domina a arte da leitura no sentido que nos interessa neste livro. Qualquer pessoa que saiba ler provavelmente terá habilidade para, em alguma medida, ler desta forma.Mas todos nós, sem exceção, podemos aprender a ler melhor e, gradualmente, ganhar mais pelos nossos esforços, direcionando-os para textos mais recompensadores."

Podemos resumir o que vimos até agora em uma única frase:

» A qualidade de uma leitura depende do esforço investido nela, pelo menos em se tratando de livros inicialmente acima de nossa capacidade e que por isso são capazes de nos levar à transição de um estado de entender menos para um estado de entender mais.

2 - Níveis de leitura

Para Adler, existem quatro níveis de leitura. Repare que são "níveis" e não "tipos", porque os níveis mais altos absorvem os mais baixos. São eles, do mais baixo para o mais alto:

1. Leitura Elementar - corresponde ao nível ensinado na escola primária. A preocupação de quem lê nesse nível é com a linguagem em si, a decodificação da escrita, que com qualquer outra coisa. A pergunta que norteia esse nível é: "O que a frase diz?".

2. Leitura Averiguativa (também chamada de "pré-leitura" ou "garimpagem") - este nível é voltado para a melhor avaliação possível de um texto ou livro num período curto de tempo. Por exemplo, quando estamos de passagem por uma livraria, vemos um livro que parece interessante e precisamos saber se ele é bom antes de decidirmos se vamos comprá-lo. Existem alguns bons macetes para isso, dos quais trataremos mais adiante. Por ora, basta saber que a pergunta básica deste nível é: "Este livro é sobre o quê?".

3. Leitura Analítica - é a leitura completa, a melhor que se pode fazer, ativa por excelência. No dizer de Adler, "se a leitura averiguativa é a melhor que se pode fazer num determinado período de tempo, então a leitura analítica é a melhor leitura possível quando não existe limite de tempo". É um nível de leitura voltado basicamente para a compreensão, de modo que, se seu objetivo é apenas informação ou entretenimento, ele pode não ser necessário.

4. Leitura Sintópica ou Comparativa - implica a leitura de muitos livros sobre um certo tema, pondo-os em relação uns com os outros e com o tema. Estudantes de Ciências Humanas são obrigados a se familiarizar com ela. É o nível mais difícil de se alcançar, e não há pleno acordo sobre suas regras. Porém, é também o mais recompensador de todos os níveis.

Por questões de espaço, aqui trataremos apenas da leitura averiguativa e de algumas sugestões para a leitura analítica.

2.1 - Leitura averiguativa

Conforme já foi dito, este nível é na verdade uma pré-leitura, uma inspeção mais ou menos rápida de um material de que, por limitações de tempo, você não pode dar conta por inteiro ainda. Isso não significa que seja pouco útil, muito pelo contrário. Pessoas que têm uma grande carga de leitura, sejam profissionais ou estudantes, podem se beneficiar muito com o conhecimento de técnicas simples de leitura averiguativa. Afinal, mais que qualquer outra coisa, ela foi feita para poupar tempo e nem todo livro merece uma leitura analítica. Saber separar o joio do trigo é uma necessidade cada vez mais premente no mundo de hoje.

Aqui vai uma lista de sugestões para uma boa garimpagem, divididas em duas fases para fins didáticos. A primeira tem como finalidade saber se o livro merece uma leitura mais atenta; a segunda, facilitar a leitura de um livro difícil:

A) Pré-leitura propriamente dita:

» Comece pela capa e pela folha de rosto. Muitos livros hoje têm títulos comerciais que não dizem nada sobre seu conteúdo, mas deixam uma pista no subtítulo. Veja o que ele diz, se houver um. Livros expositivos, de não-ficção, normalmente têm um. Também preste atenção ao nome do autor. Soa familiar? Existe alguma referência extra? Livros de autores de algum renome freqüentemente mostram ao lado do seu nome uma indicação do tipo "Autor de [nome de obra mais conhecida]". Também verifique a edição do livro; uma obra com várias edições e/ou reimpressões certamente é bem-sucedida e pode dar uma idéia da sua popularidade.

» No verso da folha de rosto costuma ficar a ficha catalográfica do livro, com a notação bibliográfica e os tópicos que ele aborda. Isso é muito importante, especialmente quando se trata de livros de caráter mais acadêmicos. Por exemplo, na ficha catalográfica do excelente "A Educação dos Sentidos", de Peter Gay, editado pela Companhia das Letras, ficamos sabendo que o livro trata de:

1. Classe média - História - século 19. 2. Sexo (Psicologia) - Aspectos sociais - século 19.

Ou seja, em uma ou duas linhas, ficamos sabendo que o livro trata da história dos aspectos sociais e da psicologia do sexo das classes médias no século 19. E ainda nem lemos uma única frase que realmente tenha sido escrita pelo autor

» Agora que você já sabe do que trata o livro, em linhas gerais, podemos passar aos detalhes -- o índice. É o mapa da estrutura do livro e há autores que se esmeram na sua confecção, especialmente quando se trata de ensaios e trabalhos acadêmicos. Obras antigas eram extremamente minuciosas nos seus índices, com títulos que chegavam a ser verdadeiras sinopses. Porém, hoje em dia, esse é um hábito que caiu em desuso, e os velhos índices analíticos muitas vezes dão lugar a índices com títulos misteriosos que mais parecem peças publicitárias. Ainda assim, você só vai saber se o índice é bom conferindo-o, então convém fazê-lo.

» Além do índice tradicional, algumas obras contêm índices onomásticos ou remissivos nas suas últimas páginas. Ali estarão listados nomes e temáticas de forma específica, bem como as páginas onde são citados. É uma boa fonte para ter um panorama dos assuntos tratados pelo autor e pode ser útil usá-lo para identificar passagens potencialmente interessantes e fazer uma leitura rápida. Naturalmente, a importância de um assunto pode ser avaliada pelo número de vezes em que é citado e se isso acontece muitas vezes é possível que ele seja um dos pontos centrais do livro.

» Leia a contracapa do livro. Algumas vezes contém trechos da introdução, em outras, como em livros americanos, referências elogiosas publicadas na imprensa. O mais provável, em se tratando de uma obra brasileira, é que você encontre uma sinopse do livro feita pela editora.

» Leia a orelha. Livros mais recentes costumam trazer uma breve resenha da obra, assinada por alguém importante na área temática em questão, ou uma sinopse mais aprofundada que a da contracapa. Também é comum encontrarmos uma nota biográfica do autor: onde nasceu, suas credenciais acadêmicas e/ou profissionais, outras obras que tenha escrito. Isso é especialmente útil em obras de não-ficção.

» Dê uma olhada na bibliografia, se houver. Ali você pode ter uma idéia da erudição da obra que tem em mãos, bem como ter referências sobre o mesmo assunto ou outros a ele relacionados. É até possível que encontre uma indicação que seja mais importante para o tema que o livro que tem ora em mãos. Cruzando os autores ali indicados com o índice onomástico, pode-se ter uma idéia de quais das obras listadas foram mais importantes para o autor do livro que você está examinando.

» O livro contém apêndices? Obras históricas ou jornalísticas, por exemplo, costumam deixar a reprodução mais extensa de fontes documentais ou iconográficas para essa parte do livro. Também é freqüente encontrar estatísticas, tabelas, e outros dados que podem ser muito pesados para serem transcritos no corpo da obra. Às vezes, trata-se de uma abordagem mais profunda de subtemáticas muito específicas. Em todo o caso, se há apêndices, dar uma olhada neles pode ser crucial para sua decisão sobre o livro valer ou não a pena.

» Folheie o livro. Leia alguns parágrafos, talvez duas ou três páginas, se o tempo permitir. Os últimos parágrafos de um capítulo muitas vezes contêm uma síntese do que foi abordado nos anteriores,e os do último capítulo -- não necessariamente o epílogo, quando existe -- podem conter uma síntese das idéias centrais do livro todo.

» E, por último mas não menos importante, ao folhear o livro, veja se a estética o agrada. Isso pode ser irrelevante para obras recentes, com apenas uma edição disponível, mas pode fazer muita diferença para aquelas mais antigas ou clássicas, disponíveis em várias edições, por várias editores ou, no caso de autores estrangeiros, em várias traduções. A fonte utilizada torna a leitura agradável? A impressão é boa ou há falhas? A paginação está correta? A diagramação (organização dos blocos de textos na página) é bem feita? A encadernação é de boa qualidade ou o livro parece estar prester a soltar páginas? No caso da tradução, em se tratando de obras literárias ou mais técnicas, pode ser conveniente procurar uma referência antes. Se toda tradução é uma traição, como dizia Voltaire, algumas traições são particularmente sórdidas e podem distorcer o pensamento do autor. Obras de filosofia e psicanálise vertidas do alemão, repletas de neologismos difíceis de traduzir para o português, por exemplo, costumam esbarrar nesse problema, como os leitores de Freud e Kant devem saber. A escolha da edição, nesse caso, se torna particularmente importante, especialmente quando algumas obras não são traduzidas do original, mas de outra tradução, geralmente inglesa ou francesa, e não raro antigas e "ajustadas" ao gosto da época.

B) Leitura superficial

Findas essas etapas, que constituem um tipo muito ativo de leitura, você já será capaz de dizer bastante coisa sobre o livro que tem em mãos, e se ele vale uma leitura analítica. Se não valer, nem por isso deixará de saber as idéias principais do autor, que tipo de obra escreveu e ampliar sua cultura geral, quem sabe deixando o livro para uma consulta futura.

Mas suponhamos que o livro valha a pena e você opte por lê-lo de fato, ou, o que é bem possível, simplesmente tenha de lê-lo por obrigação. Ao fim de algumas páginas atentas, você descobre que a obra é complexa. Muito complexa. Você chega à página 15 e se dá conta de que não está entendendo as coisas como deveria, e torna a ler do começo. Esbarra em algumas palavras ou frases obscuras, tenta decifrá-las e descobre que está perdendo muito mais tempo do que gostaria empacado nas primeiras páginas. E a leitura se torna uma fonte de angústias.

Os leitores de primeira viagem de literatura clássica talvez se identifiquem com essa situação. Qualquer curioso mediano que, na adolescência, tenha tentado ler Shakespeare ou Camões, ou simplesmente um poema nas aulas de Literatura, foi sério candidato a esse tipo de frustração. Para alguns, entender a Teoria da Relatividade pode ser muito mais simples que o primeiro ato de "Romeu e Julieta". Nas palavras de Adler (grifos meus):

"O enorme prazer que vem de ler Shakespeare, por exemplo, foi estragado para gerações de estudantes secundários que eram forçados a avançar em 'Júlio César', 'Como gostais' ou 'Hamlet' cena a cena, decifrando todas as palavras estranhas num glossário e estudando todas as notas acadêmicas de rodapé. O resultado disso é que eles nunca leram de fato uma peça de Shakespeare. Quando eles chegavam ao final, já tinham esquecido o início e já tinham perdido a visão de conjunto. Em vez de serem forçados a adotar essa abordagem pedante, eles deveriam ser encorajados a ler a peça de uma vez só e discutir o que tivessem assimilado desta primeira e rápida leitura. Só então eles estariam prontos para estudar a peça cuidadosamente, porque já teriam entendidoo suficiente sobre ela para aprenderem mais."

Com a experiência de quem tentou ler Shakespeare com um dicionário do lado aos 12 anos, posso dizer que esse é um ótimo conselho. Leia sem se angustiar pelos pontos obscuros, pelas notas de rodapé herméticas, pelos neologismos mal-explicados e as referências exóticas. Essa primeira leitura, aqui chamada de "superficial" no sentido positivo, serve para nos familiarizar com a obra em todos os seus aspectos: idéias centrais, estilo, vocabulário etc. Ela vai identificar os pontos mais ou menos difíceis, vai nos sinalizar para o tipo de ajuda de que talvez possamos precisar, vai nos preparar, enfim, para a segunda leitura e o alargamento de nossa compreensão -- o benefício mais duradouro de uma boa leitura.

Pode ser que tenham nos ensinado justamente o contrário. Muitos pais e instrutores bem intencionados ensinam as crianças e jovens a procurar no dicionário qualquer termo obscuro, ou pesquisar sobre algum tema desconhecido que surja no texto. Isso não está errado, mas deve ser feito no momento certo, sem interromper a leitura inicial. Especialmente porque, especialmente no caso de crianças, a preocupação com esses detalhes e a angústia daí gerada pode fazer com que a leitura se torne uma atividade penosa demais.

NOTA:
Por "livro" nos referimos, naturalmente, a obras voltadas para o leitor em geral, por difíceis que sejam.

Fonte:
Baseado em Como Ler um Livro, de Mortimer Adler e Charles Van Doren
http://www.bestreader.com/port/txcomolermelhor.htm

Antonio Boto (Poesias Avulsas)

História breve de uma boneca de trapos

Era uma vez uma boneca
Com meio metro de altura.
Insinuante, bonita,
Mas, pobremente vestida.

Um ar triste - uma amargura
Diluída no olhar ...
Grandes olhos de safira,
E um sorriso combalido
Como flor que vai murchar.

Quase a meio da vitrine
Lá daquela capelista
Essa boneca de trapos
A ninguém dava na vista!

Ninguém via o seu sorriso!
Ninguém sequer perguntava:
Quanto vale a «marafona»?
Quanto querem pela «Princesa»? ..

Passaram anos. - Com eles,
Foi a minha mocidade
E cresce a minha tristeza.
- Quem é que dá p'la Boneca
Que os meus olhos descobriram
Lá naquela capelista
Quase à esquina do jardim? ...
Quem dá por Ela? Ninguém.

E quantas almas assim!

As canções de António Botto
As cartas devolvidas
17
Ainda bem que nos afastámos. Ainda bem que o fizemos.
Eu não podia mais... Era impossível, acredita. Se continuássemos a viver como vivíamos — e mudar, dificílimo seria, — se nós desistíssemos desta separação ou deste sacrifício, apartávamos, certamente, as nossas almas, e para sempre! Ainda bem que nos afastamos. Ainda bem que o fizemos. Dizes-me na tua carta relida já quatro vezes que a tranqüilidade da nossa vida vale mais que todas as paixões, que todos os desejos... Tu dás-lhe esse nome; mas, para mim, tem outro: — sim; chamemos-lhe egoísmo. O teu é sacrificar todos os prazeres para evitar uma dor; — és cobarde e comodista. O meu, também se chama egoísmo, porém, é egoísmo diferente, é egoísmo ideal: — sacrificar tudo ainda que o sacrifício possa destruir a minha vida e essa destruição entristeça para sempre a minha alma. Ah!, como nós somos opostos! Tu acabaste para esquecer ou pôr de parte a minha camaradagem; eu, acabei para te lembrar continuamente e para mais te pertencer. Tinha que ser: está bem. A vida é uma sucessão de imagens; se umas se apagam há outras que permanecem...
18
Notícias da minha vida — para quê? O que tu possas imaginar dela talvez tenha mais encanto. Notícias minhas? Caberiam em três palavras: — Tento, apenas, esquecer-te!
19
Eu não devia responder á tua carta; nem sei dizer porque o faço. Também de que servia dizer-te? A verdade parece traição àqueles que vivem da mentira. Tentei esclarecer-te, para meu sossego e minha tranqüilidade esse desagradável mal entendido que deu origem á nossa frieza atual, tão firme, segundo parece. Não quiseste escutar-me. Pouco depois, saías, — sem me deixar sequer a esmola de uma palavra... Dias passaram, longos dias decorreram, e hoje, a tua carta de quatro linhas vem dizer-me que te arrependes da simpatia que me deste... E num tom seco terminas: que eu que sou bem diferente daquele que tu julgaras... Nada respondo. Apenas te lembro que a vida é cruel, imensamente cruel; e a sua maior crueldade é não permitir que pessoas da nossa estima possam conhecer a verdade dos nossos pensamentos e a verdade do nosso sentir. Adeus. As grandes paixões são para as grandes almas.

Tenho a certeza

Tenho a certeza
De que entre nós tudo acabou.
- Não há bem que sempre dure,
E o meu, bem pouco durou.

Não levantes os teus braços
Para de novo cingir
A minha carne de seda;
- Vou deixar-te, vou partir!

E se um dia te lembrares
Dos meus olhos cor de bronze
E do meu corpo franzino,
Acalma
A tua sensualidade
Bebendo vinho e cantando
Os versos que te mandei
Naquela tarde cinzenta!

Adeus!
Quem fica sofre, bem sei;
Mas sofre mais quem se ausenta!

À memória de Fernando Pessoa

Se eu pudesse fazer com que viesses
Todos os dias, como antigamente,
Falar-me nessa lúcida visão -
Estranha, sensualíssima, mordente;
Se eu pudesse contar-te e tu me ouvisses,
Meu pobre e grande e genial artista,
O que tem sido a vida - esta boemia
Coberta de farrapos e de estrelas,
Tristíssima, pedante, e contrafeita,
Desde que estes meus olhos numa névoa
De lágrimas te viram num caixão;
Se eu pudesse, Fernando, e tu me ouvisses,
Voltávamos à mesma: Tu, lá onde
Os astros e as divinas madrugadas
Noivam na luz eterna de um sorriso;
E eu, por aqui, vadio de descrença
Tirando o meu chapéu aos homens de juízo...
Isto por cá vai indo como dantes;
O mesmo arremelgado idiotismo
Nuns senhores que tu já conhecias
- Autênticos patifes bem falantes...
E a mesma intriga: as horas, os minutos,
As noites sempre iguais, os mesmos dias,
Tudo igual! Acordando e adormecendo
Na mesma cor, do mesmo lado, sempre
O mesmo ar e em tudo a mesma posição
De condenados, hirtos, a viver -
Sem estímulo, sem fé, sem convicção...
Poetas, escutai-me. Transformemos
A nossa natural angústia de pensar -
Num cântico de sonho!, e junto dele,
Do camarada raro que lembramos,
Fiquemos uns momentos a cantar!

Andava a lua nos céus

Andava a lua nos céus
Com o seu bando de estrelas

Na minha alcova
Ardiam velas
Em candelabros de bronze

Pelo chão em desalinho
Os veludos pareciam
Ondas de sangue e ondas de vinho

Ele, olhava-me cismando;
E eu,
Placidamente, fumava,
Vendo a lua branca e nua
Que pelos céus caminhava.

Aproximou-se; e em delírio
Procurou avidamente
E avidamente beijou
A minha boca de cravo
Que a beijar se recusou.

Arrastou-me para ele,
E encostado ao meu ombro
Falou-me de um pajem loiro
Que morrera de saudade
À beira-mar, a cantar...

Olhei o céu!

Agora, a lua, fugia,
Entre nuvens que tornavam
A linda noite sombria.

Deram-se as bocas num beijo,
Um beijo nervoso e lento...
O homem cede ao desejo
Como a nuvem cede ao vento

Vinha longe a madrugada.

Por fim,
Largando esse corpo
Que adormecera cansado
E que eu beijara, loucamente,
Sem sentir,
Bebia vinho, perdidamente
Bebia vinha..., até cair.

Soneto

Se, para possuir o que me é dado,
Tudo perdi e eu próprio andei perdido,
Se, para ver o que hoje é realizado,
Cheguei a ser negado e combatido.

Se, para estar agora apaixonado,
Foi necessário andar desiludido,
Alegra-me sentir que fui odiado
Na certeza imortal de ter vencido!

Porque, depois de tantas cicatrizes,
Só se encontra sabor apetecido
Àquilo que nos fez ser infelizes!

E assim cheguei à luz de um pensamento
De que afinal um roseiral florido
Vive de um triste e oculto movimento

Se passares pelo adro
No dia do meu enterro,
Dize à terra que não coma
Os anéis do meu cabelo.
Já não digo que viesses
Cobrir de rosas meu rosto,
Ou que num choro dissesses
A qualquer do teu desgosto;
Nem te lembro que beijasses
Meu corpo delgado e belo,
Mas que sempre me guardasses
Os anéis do meu cabelo.
Não me peças mais canções
Porque a cantar vou sofrendo;
Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.
Se a minha voz conseguisse
Dissuadir essa frieza
E a tua boca sorrisse !
Mas sóbria por natureza
Não a posso renovar
E o brilho vai-se perdendo ...
- Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.

Canção

Venham ver a maravilha
Do seu corpo juvenil!

O sol encharca o de luz,
E o mar, de rojo, tem rasgos
De luxúria provocante.

Avanço. Procuro olha-lo
Mais de perto... A luz é tanta
Que tudo em volta cintila
Num clarão largo e difuso...

Anda nu – saltando e rindo,
E sobre a areia da praia
Parece um astro fulgindo.

Procuro olha-lo; – e os seus olhos,
Amedrontados, recusam
Fixar os meus... – Entristeço...

Mas nesse olhar fugidio –
Pude ver a eternidade
Do beijo que eu não mereço...
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Os poemas acima podem ser ouvidos declamados no site de Luiz Gaspar, abaixo.
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Fonte:
http://www.truca.pt/

Antonio Tomás Botto (1897 - 1959)



António Tomás Botto nasceu em Concavada (Abrantes) em 1897, e veio viver mais tarde para Alfama, em Lisboa.

Estreou se na literatura com as coletâneas poéticas "Trovas" (1917), "Cantigas de Saudade" (1918) e "Cantares" (1919), celebrizando-se com a publicação de "Canções" (1921), que Fernando Pessoa traduziria para o inglês em 1930. A segunda edição desta obra, datada de 1922, foi apreendida, tornando-o um poeta maldito. Em 1930 surgiu uma terceira edição que englobava os livros de poemas "Motivos de Beleza" (1923), "Curiosidades Estéticas" (1924), "Pequenas Esculturas" (1925), "Olímpiadas" (1927) e "Dandismo" (1928) aos quais, dez anos depois, numa quinta edição, seriam acrescentados "Ciúme" (1934), "Baionetas da Morte" (1936), "A Vida Que Te Dei" (1938) e "Os Sonetos" (1938), livros entretanto publicados. As obras poéticas "O Livro do Povo" (1944) e "Fátima — Poema do Mundo" (1955) permaneceram excluídas de todas estas edições.

A sua poesia caracteriza se por algum decadentismo, associado à tendência modernista da vivência do quotidiano, pelo sentido do ritmo e pela limpidez do estilo. Alguns dos seus melhores momentos poéticos estão nas descrições do quotidiano cinzento do bairro de Alfama ou na celebração da beleza masculina.

Fernando Pessoa, de quem foi amigo, Gaspar Simões e José Régio escreveram, ao longo dos anos 20 e 30, vários artigos sobre a sua poesia.

Para além da poesia, António Botto dedicou se também à ficção e do qual se destacam as obras "Antônio" (1933), "Isto Sucedeu Assim" (1940), "Os Contos de Antônio Botto" (histórias para crianças, de 1942) e "Ele Que Diga se Eu Minto" (1945). Escreveu ainda a peça de teatro, em três atos, "Alfama" (1933), e colaborou com Fernando Pessoa numa "Antologia de Poemas Portugueses Modernos".

António Botto faleceu em 1959.

Fonte:
http://www.truca.pt

Iara Pacini (Teia de Poesias)

Chama que Queima...

Vem, chama que queima,
que acaricia em plena relva,
sentindo forte e em chamas coloridas
seguindo a caminho da sanga.
Novo sopro de energia no ar,
em caminhos umectantes de desejos,
como se toda a natureza despertasse
e sentisse os mais doces perfumes
do aroma do campo,
saudosa do calor do sol.

Vem me afagar em plena coxilha,
fazendo brilhar as tuas folhas
em mais puro encanto
Semente desse momento em amor...
corre pelo córrego o néctar das flores,
borboletas sentem a doce presença
dessa mágica noite avassaladora de amor.

Fico em transe nessa espera...
quimeras dos meus desejos...´
Em beijos ardentes,
vislumbro tuas formas me querendo,
teus loucos desejos me oferecendo,
teus beijos me convidando,suplicando,
desejando em entregas loucas de paixão
=====================

Junto ao mar

Suspiro junto ao mar e ,
em infinitos desejos,
sinto que não posso ficar só.
Preciso do teu amor junto a mim
e sei que sentes minha falta
Vem me ver...
Na esperança hoje te acaricio só em sonhos,
e vamos dançar a nossa valsa de amor
em plenas estrelas a nos guiar no horizonte,
a conquistar a essência
e saciar a nossa fome de amor
===================

Distância

Olho o céu azul,
invento para a vida,
filtrando a alma
em conflito com a minha solidão,
faço e desfaço imagens
contidas em pensamentos doloridos
neste momento,
e acaba nos deixando saudades
de quem um dia esteve ao meu lado,
mas que hoje não esta mais aqui.
te amo,
hoje em lagrimas nos olhos
e dor no coração,
maus pensamentos vêm e vão
atordoados pela distância
saudades, da pele,
do cheiro,
dos beijos,
de te sentir nos meus braços.
===============

Sintonia de amor

A noite chega,
caminho sem rumo,
nas alamedas escuras,
e meus pensamentos voam...
com esperanças em sentir uma noite de amor.
Olho as estrelas e vejo vida,
e me re-invento pra lua, como deusa
que caminha ao teu encontro,
e dorme nos teus braços em sintonia de amor.
===============

Dança da esperança

Eu dancei a esperança em desejos
nos quais eu vivo a esperar por ti,
onde me reinvento nas noites de luz cheia,
com vestidos de cetim dourado,
sinto que preciso te ver, te beijar.
Vem e me tira da saudade...
=========================

Horizonte Distante

Longe é meu horizonte,
sob controle restrito da saudade
meu travesseiro chora,
os anjos rompem a minha madrugada,
falando de amor,
o perfume dos lençóis me açoitam
pelo loco desejo em te ter ao meu lado
Onde vou carrego minhas tristezas,
a queda tantas vezes cai em meu coração torturado
e nessa hora vejo e sinto o inferno,
e na tapera dispersa,
as minhas pegadas pelas estradas vividas
Pensar em prazer em meu comedido coração,
é perfumar as nuvens onde possam levar ate você,
esse louco amor,
a alegria o amor rompe a cada dia com intensidade da luz
quero sim sair do inferno e ir ao teu encontro
com a certeza de que seremos felizes
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Sobre a autora:
Poeta gaúcha, nasceu em são Jerônimo, em 14 de fevereiro de 1953. professora de Educação Física, sempre escreveu sobre seus sentimentos, mas de forma intimista, sempre guardando os seus escritos. Hoje escreve a leveza e os puros sentimentos de sua alma, por persistência dos amigos.

Acadêmica virtual da AVSPE, da Academia de Artes e Letras de Porto Alegre, ativista cultural, no mundo da internet atua também em vários sites, onde mantém uma rede de amigos artistas e poetas. Site: http://www.simplesmente-iara.com

Fontes:
- http://www.teiadosamigos.com.br/Nossos_Poetas/IaraPacini/
- Foto = http://www.usinadaspalavras.com
- ORSIOLLI, Sonia Maria Grando e outros (orgs.).1ª. Coletânea Teia dos Amigos 2008. Itu,SP: Ottoni Editora, 2008.

1ª Coletânea de Poesias Teia dos Amigos



Lista dos Participantes da Coletânea Teia dos Amigos


Antonio Carlos Menezes
Badú
Dorival C. Fernandes
Efigênia Coutinho
Elaine Freitas
Fátima Mello
Iára Pacini
Ieda Cavalheiro
Mara Inez N. de Moraes
Maria Antonia Canavezi Scarpa
Marilda de Almeida
Regina Lu
Sandra M. Julio
Socorro Lima Dantas
Sonia Pallone
Sonia Orsiolli
Vany Campos

Capa executada por Sonia Orsiolli
Editora Ottoni
166 páginas

Prefácio:
Sob luzes de estrelas, essa teia de poetas que ousa estender-se, como uma teia, que se une a nós.

São as folhas ao vento, distendidas ao caule, onde a doce seiva depreende-se no olor poético, vazando a produção, nesta obra, de valor.

Desde 2002... Julho. E o site em 2003, aos poucos, iniciando, como nascente, depois, um fio de água, até formar esse forte tributário, o que vem gerar luz, acordar, os que precisam ver acreditar, navegar, ser o próprio timoneiro.

São mãos agregadas, as que tecem na teia, e formaram uma rede, sedimentadas, às vezes nas lágrimas, outras tantas a emoção, e bem outras, no amor; o que queima se sentir.

Cada qual de nós sabe que são os tempos de paixão, sobretudo de amizade.

E do que falar, dessa plêiade, que são os pontos cristalinos, os irmãos que enfeitam o céu, e se derramam, emprestam o ouro da poesia em seus tesouros.

Ao centro a Sonia Maria Grando Orsiolli, uma semente, entre as tantas desses girassóis, que pelo coletivo, dá o colorido vivo.

Assim estendo o tapete no átrio, abraços estendendo a gratidão, e nosso obrigado.

Fica a nossa homenagem, antes fácil, a teia, com um nó de amor, onde enfeixo o laço, nessa ultima “Flor do Lácio”, onde cada qual se apura da ganga impura. Homenagem aos poetas de valor.

A todos e a cada um, a nossa gratidão e de muitos como nós, ao que mais nos deliciamos, coletando essas pétalas e sementes, espargidas, dessa equipe.

JOÃO FERREIRA FILHO (Advogado e Poeta)
Ribeirão Preto/SP

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Rita Chaves (Angola e Moçambique: Experiência Colonial e Territórios Literários)


São Paulo: Ateliê Editorial, 295 págs.

Para quem quer conhecer as literaturas africanas de expressão portuguesa Angola e Moçambique: experiência colonial e territórios literários, de Rita Chaves, é um caminho seguro.

Reunindo textos que abrangem um esforço iniciado ao final da década de 1980, quando o interesse no Brasil pelas culturas africanas ganhou maior intensidade, e chegam até o começo do novo século, o volume é, porém, o resultado de um trabalho de três décadas de paixão pela literatura africana de Língua Portuguesa, pois foi em 1978, sob a orientação de Vilma Arêas, na Universidade Federal Fluminense, que a autora descobriu o seu caminho para o continente africano. Desde então, não se limitou apenas àquelas viagens interiores que se costuma fazer através dos livros, mas percorreu in loco a África do Atlântico ao Índico, tendo sido professora visitante na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, entre os anos de 1998 e 2000.

Dividido em três seções, o livro de Rita Chaves, na primeira parte, “Signos de identidade na literatura angolana”, discute a nova literatura nascida especialmente a partir da independência do país em 1975, analisando especificamente autores como José Luandino Vieira, Agostinho Neto, Pepetela, José Eduardo Agualusa, Ana Paula Tavares e Ruy Duarte de Carvalho. Num dos oito ensaios que compõem essa parte, “O passado presente na literatura angolana”, a autora, baseada nas idéias de Frantz Fanon (Paris, Pour la révolution africaine, François Maspéro, 1964), a partir da experiência francesa na Argélia, tenta compreender o colonialismo português em Angola, observando que também ocorreram tentativas de apagamento da história anterior à chegada dos europeus. O que justificaria a idéia de libertação que marca o início do processo literário angolano, repetindo, guardadas as distâncias e proporções, o que ocorreu no Brasil no século XIX, quando os românticos procuraram fazer do índio um dos símbolos da identidade brasileira.
Após a independência”, diz a autora, “a essa noção de passado instaurado no período pré-colonial, junta-se outra.

A euforia da vitória converte em passado o próprio tempo colonial. É o momento então de centrar-se nesse período como forma de engrandecer o presente. A celebração eleva as antinomias: aos heróis do passado remoto se vão aliar os heróis que participaram na construção desse presente em contraposição àqueles que o discurso colonialista apresentava como vencedores do mal
”.

Em sua análise, Rita Chaves constata uma segunda fase na literatura angolana, a idade adulta, em que, passada a euforia dos primeiros anos da independência e depois do fracasso da experiência socialista e de guerras civis devastadoras, o que há é a injustiça do presente, já que, como diria Antônio Lobo Antunes, o destino de todas as revoluções seria, afinal, sempre o de substituir uma aristocracia por outra.

A continuidade da guerra, as imensas dificuldades no cenário social, o esvaziamento das propostas políticas associadas ao estatuto da independência, a incapacidade de articular numa concepção dinâmica a tradição e a modernidade compuseram um panorama avesso ao otimismo”, diz a autora, observando que, em função dessa realidade imutável, em que o colonizador já não pode ser responsabilizado como antes, regressa-se ao passado outra vez “para se tentar compreender o presente desalentador”. É nesta situação em que viveria o escritor angolano de hoje, buscando no passado – às vezes, num passado remoto e até mitológico – uma maneira de vislumbrar hipóteses para um mundo que, por razões diversas e em variados níveis, lhe surge como um universo à revelia”.

Já na segunda parte do livro, “A poesia em português na rota do Oriente”, formada por quatro ensaios e uma entrevista com José Craveirinha, Rita Chaves não busca compreender a literatura moçambicana de hoje como resultado do colonialismo português como fez em relação à literatura angolana, embora haja paralelismos bem evidentes nos dois processos. Concentra-se, isso sim, na análise da obra de poetas como José Craveirinha, Eduardo White, Rui Knopfli e Luís Carlos Patraquim.

Em “Eduardo White: o sal da rebeldia sob os ventos do Oriente na poesia moçambicana”, ensaio publicado também em África e Brasil: letras em laços (São Caetano do Sul-SP, Yendis Editora, 2006) de Maria do Carmo Sepúlveda e Maria Teresa Salgado (organizadoras), procura compreender a obra de um dos nomes mais expressivos da poesia moçambicana de hoje, a partir de suas ligações com a Ilha de Moçambique, a presença mais marcante hoje no imaginário poético de Moçambique. “Ali, o autor vai buscar as sedas, o m´siro, as miçangas, as oferendas de Java, o séqüito ajawa, o curandeiro macua, o monge birmanês, com que compõe o desenho do universo em que projeta a sua identidade”, diz a autora.

Na terceira parte, “Literaturas em Língua Portuguesa: a utopia em trânsito sob os vento do Império”, que reúne mais quatro ensaios, chama a atenção o texto “O Brasil na cena literária dos países africanos de Língua Portuguesa” em que a autora procura estabelecer a utopia que a terra brasileira sempre representou no imaginário africano, concluindo que, felizmente, os escritores africanos souberam catalisar numa chave progressista as imagens (brasileiras) que convidavam à mudança. E conclui que esses escritores souberam compreender como a realidade brasileira – povoada pelas injustiças e pelos preconceitos que conhecemos – poderia auxiliá-los na mobilização em favor de “um projeto conduzido pelo sentido da liberdade e outras utopias”.

Além de ensaios bem elaborados, o livro de Rita Chaves traz uma entrevista que ela fez com o poeta moçambicano José Craveirinha (1922-2003), em fevereiro de 1998, em sua casa em Maputo. Nela, Craveirinha, filho de pai português e mãe africana, entre outros tantos temas, diz da influência que ele e outros autores moçambicanos receberam na década de 40 e 50 de escritores brasileiros, como Jorge Amado e Rachel de Queiroz, e, especialmente, daqueles jornalistas e cronistas que escreviam na célebre revista O Cruzeiro, como David Nasser, embora sua formação inicial tenha sido mesmo por meio de Eça de Queirós, Antero de Quental, Guerra Junqueiro, Camões e Soeiro Gomes e ainda dos franceses Victor Hugo e Zola.

Curiosa é também esta frase: “(...) hoje andam aí pelas ruas grande parte daqueles que de fato lutaram, mas os que estão nas cadeiras são precisamente aqueles que não lutaram. E que engordam desavergonhadamente. E a gente olha e fica triste, mas paciência”, dizia para, em seguida, reconhecer que ficava admirado quando ia a Portugal e recebia alguma homenagem: “(...) Há qualquer coisa que não bate bem: ou eu, ou eles! Uma das mais importantes comendas de Portugal foi concedida a mim. Depois de tudo, toda a comenda que eu deveria receber de Portugal era uns pontapés no rabo, mas não uma comenda. Ora, isso faz com que fiquemos um pouco duvidosos de nós próprios e ao mesmo tempo isso retira um determinado ônus de cima da cabeça dos portugueses”, dizia, com bom humor. Até porque teve oportunidade de constatar que o Portugal que o homenageou na década de 1990 não era o Portugal das décadas de 60 e começo de 70 que ele combateu em Moçambique, quando, então, passou um bom tempo na cadeia.

Professora de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo, Rita Chaves, hoje, dirige o Centro de Estudos Portugueses da instituição e é pesquisadora associada do Centro de Estudos Afro-Asiáticos da Universidade Cândido Mendes, do Rio de Janeiro. Entre outros títulos, publicou A formação do romance angolano em é co-organizadora de Portanto... Pepetela, Literaturas em movimento – hidridismo cultural e expressão e Exercício crítico e Brasil/África: como se o mar fosse mentira.
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Outro artigo da Rita Chaves (Caminhos da Ficção da África Portuguesa)
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/02/caminhos-da-fico-da-frica-portuguesa.html

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Fonte:
Adelto Gonçalves (Viagem ao universo africano).
http://literaturasemfronteiras.blogspot.com/2009/01/viagem-ao-universo-africano-adelto.html

O Nosso Português de Cada Dia (Pisar e Assistir)



Pois bem, hoje escreveremos sobre regência verbal. Regência verbal é a relação que existe entre o verbo e seu complemento. Trata-se de saber se o complemento é regido por preposição ou não.
No caso do verbo pisar, a regra é a seguinte. Esse verbo não pede preposição. Dessa maneira, o complemento é sempre direto. Portanto, fale e escreva: Pisei a grama. É errado dizer: Pisei na grama. Mesmo que algumas gramáticas já admitam tal construção, o correto, de acordo com a tradição da norma culta, é escrever sem preposição.

Já o verbo assistir, possui três formas de construção, e cada uma possui um sentido diferente. O verbo assistir, no sentido de ajudar, não é regido de preposição. Assim, o correto é dizer: o médico assistiu o doente e não: O médico assistiu ao doente.

Por outro lado, quando o verbo assistir tiver o sentido de ver, então ele é regido pela preposição a. Por isso, o correto é dizer: Eu assisti ao jogo do Brasil. Estaria errado se eu dissesse: Eu assisti o jogo do Brasil.

Finalmente, existe ainda um sentido e uma regência do verbo assistir, que é um uso antigo. Nós quase não o vemos hoje em dia. Trata-se da regência intransitiva em que o verbo assistir significa morar. É nesse sentido que estão frases do tipo: Eu assisto em Bragança, isto é, eu moro em Bragança. Seguindo esse mesmo sentido, posso fazer frases do seguinte tipo: Eu assisto na Avenida Leandro Ribeiro. Ou: Eu assisto no Estado de São Paulo.

Fonte:
Prof. Dr. Ozíris Borges Filho.
http://www.movimentodasartes.com.br/

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Christopher Paolini (1983)



Christopher Paolini (Paradise Valley, 17 de novembro de 1983) é um escritor dos Estados Unidos da América. Ficou mundialmente famoso por sua série O Ciclo da Herança, que já vendeu mais de 15 milhões de livros em todo o mundo.

Christopher Paolini nasceu no dia 17 de Novembro de 1983 no sul da Califórnia. Exceto por alguns anos em Achorage, no Alasca, ele passou a vida inteira no Paradise Valley, em Montana, onde ainda reside. Ele vive com os pais e a sua irmã mais nova, Angela, numa rústica quinta nos bancos de Yellowstone River. Eles têm dois animais de estimação: Otis, um gato preto e branco e Annie, uma cocker frisada.

Christopher foi educado pelos seus pais. Ele freqüentemente escrevia pequenas histórias e poemas, fazendo visitas à biblioteca e lendo muito. Alguns dos seus livros favoritos são “Jeremy Thatcher”, “Dragon Hatcher” por Bruce Colville’s; “Dune” de Frank Herbert; “Magician”, de Raymond E. Feist’s e “Mundos Paralelos” de Philip Pullman, nosso conhecido.

Christopher cresceu ouvindo muita variedade musical, mas a clássica ardeu a sua imaginação e ajudou-o a escrever. Ele ouvia freqüentemente Mahler, Beethoven e Wagner enquanto escrevia Eragon. A batalha final de Eragon foi escrita a ouvir Carmina Burana, por Carl Orff.

A história de Eragon, começou com os sonhos de dia de um adolescente. Ele queria experimentar uma história que incluía todas as coisas que ele gostava em outros romances fantásticos. O projecto começou como um hobby; ele nunca tencionaria que fosse publicado. Ele demorou um mês para planificar a trilogia inteira, então sentou-se no sofá e começou a escrever num bloco de notas. Quando ele enriqueceu seis páginas, ganhou confidência suficiente para transferir as suas palavras no seu computador Macintosh, onde a maior parte de Eragon foi escrita, enquanto que algumas partes eram melhor escritas por ele manuscritamente. Todas as personagens da obra foram parte da cabeça de Paolini, exceto Angela, baseada na sua irmã.

Demorou-lhe um ano para acabar o primeiro rascunho de Eragon. Quando Christopher leu o rascunho, ele viu o quão pobre o mesmo se encontrava. A história estava lá, no entanto, ele demorou mais um ano para rever o livro e dar aos seus pais para o lerem. Eles ficaram encantados e decidiram ajuda-lo publicando-o na companhia editorial da família. Um terceiro ano foi passado com novas edições, desenhado a capa e criando materiais de marketing. Durante este tempo, Christopher desenhou o mapa para Eragon, assim como o conhecido olho de dragão que aparece na edição normal, vendida nas livrarias. Finalmente o livro foi lançado.

A família Paolini passaria o ano a promover o livro. Começando com as apresentações na livraria local e na escola secundária viajaram pelos EUA. Ao todo, Paolini deu mais de 135 apresentações em livrarias, editoras e escolas desde 2002 até 2003. Ele fez a maioria das apresentações vestido com a roupa medieval com uma T-shirt vermelha, calças de ganga pretas, botas e uma capa negra.

No verão de 2002, Carl Hiassem, o autor de “Hoot”, comprou Eragon para atenção da sua editora, Alfred A. Knopf, que sub conseqüentemente adquiriu os direitos de publicar Eragon e o resto de O Ciclo da Herança.

Atualmente, ele passa o seu tempo a escrever Empire (4º e último livro da série). Também foi consultado para o filme produzido pela Fox 2000, que saiu em dezembro de 2006. Acabada a série, Christopher planeja fazer umas grandes férias, enquanto ele ponderá qual das muitas histórias e ideias ele irá escolher para fazer a próxima saga.

Fonte:
http://pt.wikipedia.org

Christopher Paolini (Ciclo da Herança)



O bestseller Eragon, primeiro volume da Trilogia da Herança, do norte-americano Christopher Paolini, com mais de quatro milhões de exemplares vendidos em 38 países, chegou ao topo da lista dos livros mais vendidos do New York Times, do Washington Post, do USA Today e do Publishers Weekly. No rastro do sucesso de outros títulos de fantasia, como Harry Potter e O Senhor dos Anéis, Eragon também chegou às telas dos cinemas mundiais em 2006, pela Fox.

Nos Estados Unidos, o título manteve-se por 52 semanas no topo da lista dos mais vendidos. Em apenas seis meses, Eragon foi reeditado por três vezes na Turquia. Na Espanha, a edição de 80 mil exemplares esgotou-se em apenas um mês. Na Polônia, o título de Paolini só perde em vendas para o O Código Da Vinci e já vendeu 45 mil exemplares. Eragon é uma história repleta de ação, vilões e locais fantásticos, com dragões e elfos, cavaleiros, luta de espada, inesperadas revelações e uma linda donzela. Inspirado em J.R.R. Tolkien, que criou idiomas para os diálogos de seus personagens, Paolini utiliza o norueguês medieval para a linguagem dos elfos e inventa expressões específicas para os anões e os urgals, de modo a dar veracidade ao lendário reino de Alagaësia, onde a guerra está prestes a começar.

Ciclo da Herança

Até 2007, dois dos quatro livros já haviam sido publicados: Eragon (2003) e Eldest (2006). O terceiro livro foi lançado na América, Canadá e Reino Unido no dia 20 de setembro de 2008, sendo lançado no Brasil em novembro de 2008. Tanto Eragon quanto Eldest entraram na lista de bestsellers do The New York Times. Em 2006, Eragon foi adaptado para o cinema, numa película de mesmo nome.
Passada no mundo fictício de Alagaësia, a história se foca no adolescente Eragon sua parceira Saphira, um dragão com a qual compartilha sua consciência, e a descoberta de ser um Cavaleiro de Dragões, um lendário grupo que governava as terras em tempos passados,(tais dragões não são de forma alguma meras bestas, pelo contrário, cavaleiros e dragões são tratados como iguais).O Rei Galbatorix, que destruiu a antiga ordem (os Cavaleiro de Dragões) e pegou a coroa para si, envia seus assassinos para capturar o rapaz e Saphira, e assim, inicia a sua jornada.

Livro Um: Eragon

Roran tem por volta de dezoito anos no inicio da saga e é o único filho de Garrow e irmão de criação de Eragon, que tem quinze-dessezeis anos no início da saga. É apaixonado por Katrina, a quem chega a pedir em casamento. No início da trama Roran parte para Therrinsford afim de conseguir dinheiro para o dote de Katrina, uma vez que Sloan, pai da moça, nunca aceitaria ver a filha casada com um "joão-ninguem" (essa história foi completamente alterada no filme "Eragon" uma vez que Katrina vira personagem aleatória na história e Roran vai para Therrisford com medo de ser alistado para o exercito do reino Bodring-Império). Quando os Ra'zac destroem sua fazenda e assassinam seu pai a procura do ovo de dragão (que pertencia a seu primo Eragon - embora Roran não soubesse disso), ele é avisado por Baldor (filho de Horst, um amigo) e retorna para Carvahall (onde nasceu e cresceu).

Livro Dois: Eldest

Esse livro conta com uma participação bem mais ativa de Roran, sendo ele também considerado um dos personagens principais, como Arya, Orik e o próprio Eragon. Roran tem por volta de vinte anos no começo do livro, e sua maior preocupação era reconstruir sua fazenda para poder pedir Katrina em casamento. Num determinado momento do livro trinta soldados do império mais os Ra'zac (vilões recorrentes da série) tentam capturar Roran, pois Galbatorix tinha esperança de que ele soubesse onde Eragon estaria. Para se proteger Roran, que estava hospedado na casa Horst, o ferreiro, esconde-se numa montanha.

A Invasão de Carvahall
Com a desculpa de estava caçando Roran foge para as montanhas na esperança de que os soldados se irritassem e partissem, o que não aconteceu e após uma série de eventos, como a morte de Quimby e o celeiro de Carvahal incendiado, Roran volta para a casa de Horst e combina com vários outros habitantes a expulsão dos soldados. Com o intuito de apenas espantar os soldados mas com o resultado da morte de um deles a reação de Carvahal, de certa forma marcou o fim do vilarejo. Construindo algumas barricadas toscas feitas em suma com carroças tombadas o vilarejo sofreu uma intimidação de um Ra'zac que sozinho destruiu as barricadas improvisadas e jurou escravizar todos os habitantes do lugar. Tentando proteger a cidade Roran encarregou diversos homens de fazerem novas barricadas, desta vez mais resistentes, feitas de troncos de árvores. Após o primeiro ataque dos soldados, Roran decidiu levar todas as mulheres e crianças para as Cataratas Igualda, porém com certa relutância. Quando Roran estava dormindo com Katrina, que havia sido deserdada pelo pai, Roran é atacado pelos Ra'zac e tem seu braço gravemente ferido

A Espinha
Convecido de que o unico jeito de salvar Katrina -que foi sequestrada pelos ra'zac- e impedir a completa destruição de Carvahall era levar todo o vilarejo até Surda, ele os convencem com grande discurso. Com o plano de chegar a Narda e pegar um barco até Surda, Roran leva os habitantes de Carvahall a atravessarem a espinha.

Narda
Roran passa a ser conhecido como martelo forte pelos aldeões(por usar um martelo em batalha) e em Narda conhece o capitão Clóvis com quem negocia uma viagem por chatas até Teirm. Ao chegar lá, Roran realiza um motim porque não possuía dinheiro para pagar a viagem.

Teirm
Ao chegarem a Teirm conhece Jeod- que já havia encontrado Eragon algum tempo antes - que estava falido. Assim, eles junto com outros piratas roubam o asa-de-dragão (o melhor navio de toda Teirm)

O Olho de Javali
A bordo do Asa de Dragão e fugindo dos navios de Galbatorix, Roran se vê obrigado a passar pelo olho de javali, um imenso ciclone entre as ilhas Nía e Beirland.

A Campina Ardente
Ao chegar à Surda, Roran é avisado que uma guerra irá acontecer entre os Varden e o Império. Tentando ajudar os Varden, Roran leva o Asa-de-Dragão para a Campina Ardente (local da guerra). Lá ele encontra Eragon, agora um cavaleiro, e mata dois magos do império, conhecido como gêmeos. Ao fim da batalha, Roran descobre que Katrina está aprisionada em Helgrind e parte para salvá-la.

Livro Três: Brisingr

Este é o penúltimo livro do Ciclo da Herança. O livro começa logo por contar o resgate de Katrina, noiva de Roran que havia sido raptada pelos Ra'zac's, por parte de Eragon, Roran e Saphira. Ao longo do livro vai-se contado o percurso de Eragon no acampamento em Surda, e como ele vai lidando com as diversas batalhas tanto bélicas como pessoais. Neste livro é revelado porque Galbatorix tem tanto poder. Katrina esta grávida de Roran. O nome do livro é Brisingr, pois Eragon volta a Ellesméra e lá Rhunon faz uma espada para Eragon, porém como ela tinha prometido que nunca mais faria uma espada, ela possui Eragon e Eragon faz sua própria espada. Oromis e Glaedr saem de Du WeldenVarden e vão ajudar a conquistar Gil'ead. Quando eles chegam lá, encontram Murtagh e Thorn. Eles duelam quando e no meio da luta Galbatorix possui Murtagh e o próprio Galbatorix mata Oromis e Glaedr. Glaedr dá seu Eldunari(coração dos corações dos dragões) a Eragon. Galbatorix roubou a maioria dos eldunari dos dragões que matou e é por isso que ele é tão poderoso. Eragon e Roran matam os Ra'zac e sua montarias. Os elfos também saem de Du WeldenVarden conquistam Ceunon e Gil'ead.Os Varden conquistam Aroughs e Feinster. Em Feinster Arya e Eragon encontram outro Espectro, Arya o mata com a ajuda de Eragon. Orik se torna o rei dos anões. Agora os Varden no quarto livro pretendem marchar sobre Belatona e Dras-Leona para depois se encontrarem com os elfos nos portões de Urû'baen, mas antes Eragon e os Elfos tem que encontrar alguma maneira de tirar os Eldunari do Galbatorix e do Murtagh ( Galbatorix deu alguns Eldunari para Murtagh).

Alagaësia
Alagaësia (pronunciado A-la-guÊi-gia) é um país fictício em que é ambientada a trilogia.

Habitantes
• Dragões- Existentes desde o princípio de Alagaësia;
• Elfos- Originários de terras longuíquas aportaram antes dos humanos
• Anões- Primeiros governantes de Alagaësia.
• Humanos- Dominaram depois dos anões.
• Urgals- Vieram a Alagaësia seguindo os elfos.
• Espectros- Poucos foram vistos ou comentados,e por terem uma origem não-natural é difícil dizer quando surgiram.

Lugares
Carvahall - Vilarejo ao norte, lar e ponto de partida de Eragon, Brom e Saphira. A oeste existe a Espinha uma cadeia de montanhas.

Therinsford - Pequena cidade vizinha de Carvahall.

Teirm - Cidade mercante, vive principalmente do comércio marítimo. Lar de Jeod, amigo de Brom.

Deserto Hadarac - Um deserto de grandes proporções e marca o fim da Alagaësia.

Dras-Leona - Cidade que mantém relações com a capital Uru'baen.

Helgrind - Montanha próximo a Dras-Leona. Seu nome significa portões da morte na Língua Antiga.

Uru'baen - A capital do Império, e sede do governo de Galbatorix.

Gil'ead - Outra cidade-base do Império, foi palco da grande batalha entre Brom e Morzan.

Cavaleiro de Dragões

No Ciclo da Herança de Christopher Paolini a Ordem dos Cavaleiros de Dragões foi uma grandiosa instituição cuja missão era proteger a terra de Alagaësia.Todos os Cavaleiros compartilham suas mentes com um dragão, os quais são seus aliados e parceiros, permitindo além de tudo que seu cavaleiros os usem como montaria,e possuem numa da palma das mãos um gëdwey ignasia uma marca prateada brilhante.Sua base localizava-se na cidade de Dorú Areaba,na ilha de Vroengard. É importante ressaltar que o cavaleiro não possuía o dragão, ou o contrário, o que eles tinham era uma aliança que ia além de posses ou laços físicos, eles eram ligados por suas mentes e, portanto, eram iguais.

Habilidades

Gëdwey Ignasia

Todo Cavaleiro possui uma gëdwey ignasia (palma prateada na Língua Antiga), fato de eles serem chamados também de argetlam, que tem o mesmo significado. Eles a recebem no momento em que tocam um filhote de dragão. Essa marca funciona como uma espécie de "receptor" de magia.

Vantagens
Todos os Cavaleiros possuem sua vida prolongada além de um humano normal, praticamente são imortais. Também recebem um aumento de força, velocidade e resistência. O efeito disso é o longo contato com seus dragões, criaturas misteriosas e mágicas. E também, sempre teriam um companheiro, em qualquer situação, quem nunca irá abandonar você, a não ser que se o dragão fosse morto.

Fonte:
http://www.livrariacultura.com.br