quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Dicas de Escrita (Como Escrever Histórias Engraçadas) – 3, final

(por Christopher Taylor, PhD)

REVISANDO A HISTÓRIA PARA DEIXÁ-LA MAIS ENGRAÇADA

1 – Inclua descrições cômicas. 

As descrições por si só já podem ser engraçadas e dar o pontapé inicial a uma boa cena. Você pode, por exemplo, detalhar duas coisas que não combinam tanto ou descrever o comportamento absurdo de uma pessoa ou de uma situação estranha que acontece.

Encontre formas novas e engraçadas de falar coisas que já são batidas. Elas podem ser engraçadas, mas também prender a atenção do leitor.

Use adjetivos cômicos na descrição. Mais uma vez, concentre-se em falar algo de forma surpreendente e interessante.

Muitos comediantes baseiam o seu humor em palavras, frases ou até letras que acham engraçadas.

2 – Faça comparações engraçadas. 

Para isso, descreva como duas coisas estão relacionadas, mas de forma inesperada e cômica — e que consiga passar a mensagem que você quer enviar ao leitor.

Use símiles e metáforas com as quais o leitor esteja familiarizado. Por exemplo: diga algo como "Sobreviver a esta semana vai ser tão fácil quanto pintar as unhas de um elefante".

A símile é um tipo simples de comparação, como "O seu amor é como uma flor".

A metáfora é uma comparação que descreve uma coisa como se fosse outra, como "O meu coração é um tambor furioso".

Veja um exemplo de comparação engraçada: "Ele dançava como um animal embriagado... mas ainda era um parceiro de dança melhor que eu". 

Experimente comparações diferentes até achar uma que seja eficaz e faça você rir. Em seguida, mostre-a a outras pessoas e observe a reação delas.

3 – Tire sarro de si mesmo. 

Se você disser que os seus parentes e colegas de trabalho são todos burros e feios, por exemplo, o leitor vai achar o texto cruel e critico demais. No entanto, se você for o centro das piadas, as pessoas vão entender que o enredo é uma versão exagerada da realidade e, assim, achar o texto mais engraçado.

Você pode tirar sarro dos seus entes queridos (amigos, família etc.), desde que não exagere e nem pareça arrogante ou maldoso.

Não deixe o seu medo de ser ofensivo atrapalhar o enredo e a comédia. Tire sarro de si mesmo para mostrar ao leitor que ele pode rir à vontade, já que ninguém está "a salvo".

Fale de experiências pessoais, coisa que aconteceram com os seus amigos, parentes ou colegas ou qualquer outro aspecto da vida que renda histórias engraçadas — sem se esquecer de fazer graça consigo mesmo.

4 – Nunca diga ao leitor que algo é engraçado. 

Ninguém conta uma piada e logo em seguida diz coisas como "Era para ser engraçado" (pelo menos, não quando o leitor entende o humor). 

O mesmo vale para as histórias escritas: se você tiver que anunciar quando algo é cômico, é porque a piada não deu certo.

Deixe o leitor descobrir por conta própria o que é engraçado. Isso torna a história mais interessante e eficaz.

Isso tem a ver com a parte da descrição. Assim como você mostrou ao leitor um personagem ou uma cena com descrições precisas e poéticas, é melhor descrever as sequências do enredo sem ter que forçar a graça.

5 – Lembre-se da "regra dos três". 

Muitas obras de humor escritas brincam e subvertem as expectativas do leitor (o que ele acha que vai acontecer). Assim, ele entende que a história não vai na direção "tradicional" e que a graça é justamente essa. Para isso, você pode usar a seguinte regra:

Junte duas ideias, dois eventos ou duas pessoas parecidas para que o leitor reconheça certo padrão.

Quando o leitor esperar que esse padrão se perpetue, apresente um terceiro elemento (ideia, evento ou pessoa) que leve a história em uma direção nova.

Isso funciona com grupos de três porque o número é baixo e, assim, o leitor memoriza melhor todos os elementos que fazem parte da história.

Por exemplo: diga algo como "Eu não sei que há de errado com o meu cachorro; já levei ele às aulas de adestramento e aprendi a fazê-lo obedecer, mas ele ainda não me ajudou a conhecer ninguém quando estamos passeando no parque...".

6 – Tenha um bom timing cômico. 

Todo autor precisa desse timing para saber quando certos eventos têm que acontecer na história, mesmo que seja contar uma piada ou tirar sarro de um personagem. É ele que dá (ou tira) a graça de toda a situação.

Esse timing pode envolver um elemento de surpresa, uma ilusão ou um pouco de suspense.

Por exemplo: é preciso ter timing para que algo como "Esse conselho amoroso sempre dá certo e deixa qualquer pessoa louca... a menos que dê errado".

7 – Não exagere no humor. 

Quem não tem experiência com esse tipo de história pode acabar tentado a enfiar piadas no texto a todo momento. Ainda assim, é preciso ter parcimônia para não afetar a qualidade da história.

Tente equilibrar o humor com as partes mais sérias e úteis à progressão do enredo (em vez de adaptar o enredo ao humor).

Não se esqueça do foco da história. Ela pode até ser engraçada, mas também tem que ser bem escrita.

Limite o uso do humor ao longo da história. Assim, quando uma frase engraçada surtir efeito, ela vai ser memorável e eficaz.

8 – Edite a história. 

Não deixe nenhum erro passar quando você for revisar o texto, seja para aumentar ou diminuir o número de elementos cômicos.

Passe um pente fino em cada trecho do enredo e veja se há erros de digitação, repetições desnecessárias, descrições fracas, clichês e outros problemas.

Deixe a história de lado por alguns dias antes de fazer a revisão. Quando você recomeçar a trabalhar nela, vai notar melhor os pontos que precisam de melhorias.

Peça para um amigo ler a história e dar uma opinião. Ele pode até destacar as partes problemáticas, os erros ortográficos e gramaticais e afins.

DICAS

Escreva uma paródia. As paródias podem ser hilárias — e, como são baseadas em enredos que já existem, é mais fácil começar por elas.

Torne as suas histórias imprevisíveis. Sempre tente antever as expectativas do leitor e subvertê-las ao máximo.

Lembre-se de que as ideias não surgem quando você quer. Tenha paciência e busque inspiração.

Reflita se a história faz sentido e se o conflito central foi resolvido (se é que há resolução). Concentre-se em escrever um bom enredo antes e só tente torná-lo engraçado depois.

Não exagere no humor. A história pode ficar forçada e entediante se você tentar enfiar cenas engraçadas nela o tempo todo. É melhor ter parcimônia para gerar um efeito mais memorável nos leitores.

Referências
1. http://www.dailywritingtips.com/20-types-and-forms-of-humor/
2. http://jerz.setonhill.edu/writing/creative1/shortstory/
3. http://jerz.setonhill.edu/writing/creative1/shortstory/
4. http://www.helpingwritersbecomeauthors.com/how-to-write-funny-dialogue-what-ilearned-writing-storming/
5. http://www.helpingwritersbecomeauthors.com/how-to-write-funny-dialogue-what-ilearned-writing-storming/
6. http://jerz.setonhill.edu/writing/creative1/shortstory/
7. http://jerz.setonhill.edu/writing/creative1/shortstory/
8. http://www.writersdigest.com/online-editor/how-to-mix-humor-into-your-writing
9. http://www.writerswrite.com/journal/may02/seven-steps-to-better-writing-humor-5026
10. http://www.writersdigest.com/online-editor/how-to-mix-humor-into-your-writing
11. http://www.writerswrite.com/journal/may02/seven-steps-to-better-writing-humor-
5026
12. http://writetodone.com/how-to-write-funny/
13. http://thewritepractice.com/four-commandments-to-writing-funny/
14. http://www.writerswrite.com/journal/may02/seven-steps-to-better-writing-humor-
5026
15. http://www.writersdigest.com/online-editor/how-to-mix-humor-into-your-writing
16. http://writetodone.com/how-to-write-funny/
17. http://www.writersdigest.com/online-editor/how-to-mix-humor-into-your-writing

Fonte> https://pt.wikihow.com/Escrever-Histórias-Engraçadas

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

José Feldman (Analecto de Trivões) 23

 

Aparecido Raimundo de Souza (A garota da padaria)

CONHECI A TAMMY por puro acaso. Parei numa padaria num desses terminais de ônibus urbanos quando ia embora para casa. Aproveitei para comprar pão, e, de lambuja, visando não perder o costume, tomar um café com leite e comer um pão com manteiga. Sempre faço isso. Se não tomar um café com leite e comer um pão com manteiga, ou dois, meu dia (ainda que no final dele), se torna mais chato e maçante. De repente, saindo de um desvão que fiquei sabendo depois acessava à cozinha, ela apareceu e eu fiz o meu pedido. Tive a sensação de mergulhar num caldeirão de água quente fazendo com que o suor escorresse por todos os poros disponíveis dentro do indumento que usava. 

Nossos olhos então se cruzaram pela primeira vez. De cara, na lata, sem maiores considerações, depois de feito meu pedido, quando ela regressou trazendo o solicitado, conversa vai, conversa vem, perguntei se era casada, ou se tinha compromisso. Ela me mostrou a mão (deixou que a pegasse entre as minhas) e percebi que, de fato, não havia aliança. Ao ir embora, passei os cinco dedos num guardanapo e escrevi meu telefone e entreguei a ela. “Me liga, eu disse – mas somente se não tiver ninguém à sua espera.” Ela sorriu e ao guardar o bilhete com meu número prometeu me mandar um “oi” quando saísse do emprego. “Vou embora as dez da noite” -, confirmou à voz finória. “Ao chegar em casa -, entrarei em contato” -, completou com um sorriso encantador que achei fora de série. 

Não levei muito a sério, pois o local onde trabalha é frequentado por um bocado de homens mais novos que eu, e, certamente, ela teria alguém. Tammy, a mulher cujos predicados me deram a impressão de serem portais para um mundo de mistérios e encantos me engalanou. Ela não me pareceu uma figura comum. Sua presença clareava os cantos mais sombrios do local onde trabalhava (apesar de tudo bem guarnecido com forte iluminação), e da mesma forma, pensei com minhas dúvidas -, “se de fato me ligar, resplandecerá a minha vidinha cotidiana contribuindo com a pitada do tempero certo e necessário para tornar meus dias futuros mais promissores e recheados de sabores igualmente prazerosos.” 

Minha alegria foi tão ampla e dilatada, que esqueci um livro na hora em que me aproximei do caixa e paguei os pães comprados e o café. No ônibus, a imagem dela me apareceu enchendo a viagem de uma “contaminação” até então nunca sentida. Seus olhos, grandes e expressivos, pareciam conter (e não só conter, contar) segredos ancestrais. Tammy não se deslumbrava apenas numa mulher bonita. As perspectivas mais verossímeis, a meu entendimento, estavam estampadas em toda a sua silhueta. Ela escondia uma história viva. Seus olhos (voltando a repetir), emanavam um brilho profundo, como um oceano calmo ao tempo em que harmonizavam a jornada de uma alma amena que havia enfrentado tempestades e navegado por rincões de distâncias desconhecidas. 

Eles se esboçavam (indo um pouco além), às janelas abertas para um futuro cheio de aventuras e desafios. Nossos encontros (se ela, de fato desse um “alô”), certamente se fariam sempiternos (eternos). Deixariam marcas perpétuas e indeléveis em minha solidão. Em casa, depois do banho, liguei a televisão e fiquei à espreita. Nada! Nenhum telefonema. Imaginei: “Deve ter jogado o papelzinho fora.” Para sorte minha, a preciosa não jogou. As vinte e uma horas, eu havia ido com minha neta a uma pizzaria e ela mandou um “oi.” Não escutei o sininho de alerta. Só fui perceber e responder às vinte e três e oito. 

Mandei uma “boa noite” e lasquei um “seja bem-vinda. ” Imaginei, embevecido, ela em sua residência, de banho tomado, deitada em sua cama ou jantando, sei lá. Nosso papo começou informal. Em pouco tempo descobri que havia se separado contava nove anos, e tinha desse relacionamento um casal de filhos: Brayan e Isabelly.  Mais nova que eu (uma diferença de vinte e oito anos), engalanava a sua escultura na esteira dos quarenta e dois e eu pelejava com os meus setenta. Trocamos fotos, discorremos sobre vários assuntos culminando em mandar para ela uma de minhas músicas prediletas. A escolhida foi Zélia Duncan, interpretando “Tudo sobre você.”  

Tarde da noite, sonhei que andando de mãos dadas com a diva, entramos numa galeria de arte, e ela se maravilhou estudando as pinceladas de um quadro impressionista. Sempre com aquele olhar curioso e o sorriso tímido bailando nos lábios pecaminosos. Tammy não precisava de palavras para se comunicar. Seus desejos escondidos se transformavam em poesias silenciosas; narravam histórias de amor; falavam de perdas e esperanças; esmiuçavam vivencias distantes. Quando me fitava, sentia como se estivesse mergulhando em um abismo de emoções. Tipo assim, como se a jovem conhecesse todos os meus segredos e receios mais recônditos. 

Voltando do sonho à realidade, espero, sinceramente, que no nosso próximo encontro ela me fale de um pôr do sol dourado, que me exponha sobre a sua paixão por dias melhores. Pretendo esfiapar à fundo a sua vida. Intenciono que me segrede sobre estradas não exploradas; que me desenhe desertos longínquos; me fale de bobagens como se estivesse escalado uma montanha e dançando sob a lua cheia em praias insuladas. Sua visão indescritível, acredito piamente, nesse momento meio que mágico, como um emaranhado de fios condutores, brilharão ao compartilharem essas quimeras, e eu me verei viajando com ela, mesmo que entre nós tenha apenas uma xícara de café com leite e um pãozinho com manteiga. 

Tammy também traz no peito cicatrizes invisíveis. Seu rosto, por mais belo que seja, me mostram tristezas profundas. Ela deve ter perdido um amor, ou amores, enfrentado desilusões e lutado contra suas próprias sombras. No entanto, a sua resiliência se mostra admirável. Ela continuará a sorrir, acreditando que cada novo dia trará oportunidades de recomeço. De minha parte, espero que ela não desapareça. Que se faça em minha estrada não como um sonho fugaz, deixando apenas as lembranças de sua gargalhada infantil. Agora há pouco, antes de me recolher, fechei os meus medos e tentei reencontrá-la nas estrelas ou nas páginas de um livro novo que estou lendo. 

Tammy, é a mulher dos meus encantados. Sua silhueta permanece como um enigma em minha memória. Sua voz; seu cheiro; sua presença; a quentura das suas mãos; os trejeitos de seu corpo; a intimidade que me faz pensar avassaladoramente em mil estripulias. Tudo nela, me ensina que a verdadeira beleza é invisível aos olhos. A formosura, o arroubo, o garbo, estão na profundidade da alma e não só lá, na capacidade de enxergar além das aparências. Mesmo que nunca mais a veja, sei que a sua história continuará a ecoar em minhas exortações e nos suspiros de quem também cruzou, um dia, o seu caminho. Todavia, espero que a minha alegria nunca se divorcie da que ela carrega no peito e no coração. Aliás, espero que as nossas batidas vindas do mais entranhado de nosso âmago, se entrelacem numa só ESPERANÇA.  

Fonte: Enviado pelo autor

Caldeirão Poético LXXXI


Aurora Motta
Cruzeiro/SP, 1931 – 2021

LENITIVO

Ouvir-te a voz! Saber-te ainda vivo,
eis a maior de todas as benesses!
Abate-me o pesar rude, aflitivo;
e vibra-me a alma debulhada em preces.

Ouvir-te a voz! Supremo lenitivo
que de amara distância me ofereces!
Pulsa-me forte o coração cativo,
onde senhor e uno permaneces.

Do meu insano amor a chama pura
desejara calar — quanta ventura!
a tua voz num beijo prolongado.

... E transformar o fone indiferente
em braços que me abracem ternamente
e nunca mais se afastem do meu lado!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Cruz Filho
Canindé/CE, 1884 – 1974, Fortaleza/CE

A ÁRVORE DO SÂNDALO

Em vão estendo para os céus os braços,
sem que possa atingir essas alturas
em que julgo entrever-te os leves traços,
deusa tão pura quanto as deusas puras!

Busco-te em vão! Há entre nós espaços,
abismos negros e amplidões escuras:
detém-me o teu orgulho os tíbios passos,
sempre que ao meu olhar te transfiguras.

Com as tuas mãos sacrílegas de vândalo
ceifas-me as ilusões, uma por uma;
mesmo assim, de perdões minha alma é cheia!

Este amor é como a árvore do sândalo,
que, ferida de morte, inda perfuma
o gume do machado que a golpeia...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

David de Araújo
Santos/SP, 1933

SOL DAS ALVORADAS

Partiste. E o teu adeus foi um aceno leve...
Mas diz-me o coração, em sonhos adivinho,
que estás, como eu, saudosa, e que a saudade deve
trazer de volta o amor que havia em nosso ninho.

Teimo em pensar que a tua ausência vai ser breve,
que vais voltar, quem sabe, um dia, de mansinho,
trazendo em tuas mãos mais puras do que a neve
as estrelas do céu e as flores do caminho.

Nesse dia feliz, seguindo de mãos dadas,
havemos de chegar, tranquilos e risonhos,
aos bosques onde habita o espírito das fadas...

Com nossos corações abertos para os sonhos,
saudaremos, de lá, o sol das alvoradas,
deixando para trás crepúsculos tristonhos...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Enrique de Rezende
Cataguazes/MG, 1899 – 1973

ÚLTIMA CARTA

Envelheci... Na minha ingenuidade,
sem que eu jamais o percebesse um dia,
surpreenderam-me os anos... Em verdade,
não sou quem fui, não valho o que valia.

Sempre afeito, porém, à fantasia,
pois quem vive a sonhar não tem idade,
povoam-me a cabeça, na invernia,
os mesmos sonhos meus da mocidade.

Fluiu-me a vida, descuidosa e mansa,
por entre sonhos de ilusões refertos,
por entre poemas que, a sonhar, componho.

Vida de poeta — um sonho de criança.
— Mas se em vida sonhei, de olhos abertos,
é que eras tu a vida do meu sonho...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Franklin Magalhães
São João Del Rey/MG, 1879 – 1938, Rio de Janeiro/RJ

AVES GORJEIAM NO VERGEL...

Aves gorjeiam no vergel... Murmura,
perto, um rumor de fonte cristalina...
O sol espreita do alto da colina,
e beija ao lago azul a face pura.

Que harmonia inefável desce a altura!
Cantam os anjos... Que manhã divina!
Por que sorri, tão cândida, a bonina?
Por que tão claro o sol no céu fulgura?

Por que cantam, com tanto amor, as aves?
Por que exalam perfumes tão suaves
as flores, hoje, desde o abrir da aurora?

Por que é que as borboletas giram tanto?
É que passeais, a rir, cheia de encanto,
cheia de graça, pelo campo afora...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Gothardo Neto
Natal/RN, 1881 – 1911

MINHA CAMPA

Quero-a entre moitas de rosais. Ao fundo,
triste cruzeiro humilde e suplicante,
onde venha pousar o mocho errante
cantando, à noite, a dor do moribundo.

E ao pé da lousa, como um ai profundo,
à luz crepuscular do céu, distante,
deixem cair o orvalho fecundante
dos olhos virgens que adorei no mundo.

Seja um soturno e calmo isolamento
onde, por noites longas de amargura,
soluce a treva ao palpitar do vento...

Junto — o cipreste um funeral cantando;
na lousa — o nome da saudade escura;
e um serafim de mármore chorando.

Fonte: Vasco de Castro Lima. O mundo maravilhoso do soneto. 1987.

Mitos Indígenas (O menino e a onça - como os Caiapós conquistaram o fogo)

Há muito tempo atrás os índios não conheciam o fogo, alimentando-se de polpa de madeira, frutos silvestres e carne, que preparavam sobre pedras aquecidas pelo Sol. 

Certo dia, dois meninos Caiapós caminhavam pela floresta, quando um deles percebeu sobre um rochedo um ninho de araras vermelhas. Pediu ajuda ao companheiro para encostar um tronco na rocha, conseguindo assim alcançar o ninho. Mas, ao subir, esbarrou numa pedra que caiu e feriu o amigo. 

Com raiva o menino atingido tirou dali o tronco, deixando o outro sem meios para descer. 

Após algumas horas, apareceu no local uma onça-macho que, ao ver a sombra do menino, pode localizá-lo sobre o rochedo, ao lado do ninho das araras vermelhas, pássaros que sabiam carregar o fogo. 

Em troca de ajuda, a onça pediu que este lhe jogasse os filhotes. Concordando com a proposta, o índio pode finalmente descer. 

Por haver permanecido muito tempo exposto ao calor, o menino ficou muito corado, fazendo a onça crer que tratava-se do filho do Sol. 

Convidou-o para conhecer sua toca, onde a onça fêmea passava o dia assando carne ao fogo e fiando algodão. Apresentou-o a ela, pedindo que o tratasse muito bem, e saiu em seguida para caçar. 

A fêmea, entretanto, pôs-se a ameaçá-lo, rugindo e lhe mostrando os dentes. 

Ao saber do que ocorrera, a onça-macho resolveu ensinar o menino a usar o arco e a flecha para que pudesse se proteger. 

No dia seguinte, assim que o macho saiu, a fêmea tentou atacar o índio, que com muita habilidade, matou a inimiga à primeira flechada. 

Ao voltar, a onça-macho soube o que ocorrera, aprovando e elogiando o menino, que facilmente tudo havia aprendido. 

Pediu-lhe que voltasse à sua aldeia, levando o fuso e uma tocha, cuidando para que esta não se apagasse. 

Regressando aos seus, o indiozinho os ensinou a usar o fogo e depois a fiar o algodão. Em comemoração fizeram uma grande festa, na qual o bijú, a mandioca, a carne e o peixe foram preparados ao fogo, que mantiveram aceso por muito tempo, alimentando-o com lenha seca. 

Certo dia, porém, a chuva apagou a chama, deixando a todos muito tristes. Então, Begorotire, o homem chuva, desceu do céu para ensinar-lhes a produzir fogo com dois pedaços de madeira: uma, segura com o pé, onde deveria haver um orifício; a outra, encaixada na primeira, giraria entre as mãos, até o fogo surgir. 

Neste dia voltou a alegria entre os índios Caiapós.

Fonte> Adaptação do Texto de Jayhr Gael in O Caminho de Wicca - http://www.caminhodewicca.com.br (desativado). acesso em 13/10/2023.

Dicas de Escrita (Como Escrever Histórias Engraçadas) – 2

(por Christopher Taylor, PhD)
ESCREVENDO A HISTÓRIA

1 – Escreva um primeiro parágrafo interessante. 

É no fim do primeiro parágrafo que muitos leitores decidem se vão ou não continuar lendo a história. Por isso, você tem que começar a explorar o enredo logo nas frases iniciais do texto.

O primeiro parágrafo tem que chamar a atenção e prender o interesse do leitor.

Não se preocupe em deixar o primeiro parágrafo engraçado. Você pode deixar para inserir o humor durante a revisão. Por enquanto, tente começar a explorar a situação em que os personagens se encontram.

Incorpore elementos incomuns e inesperados no primeiro parágrafo, como um conflito interessante. Isso gera tensão e a sensação de urgência e prende a atenção do leitor.

2 – Desenvolva os personagens. 

Toda história, ficcional ou não, precisa de personagens tridimensionais e desenvolvidos. 

Não escreva sobre pessoas sem graça e que todo mundo já viu antes. Dê personalidade às suas criações e, se for falar de alguém que existe de verdade, descreva a aparência, os maneirismos e outras idiossincrasias.

O certo é que você conheça o personagem muito além do que escreve sobre ele. 

Pense bem em quem ele é antes de começar o texto para que a narrativa fique mais real.

Reflita sobre o que torna esse personagem único: pense na aparência, nos hobbies, no temperamento, nas fobias, nos defeitos, nas qualidades, nos segredos, nas lembranças mais importantes etc.

Explore pelo menos quatro características principais dos personagens: a aparência, as ações, a forma de se expressar e os pensamentos. 

Você pode explorar mais características que deixem a narrativa ainda melhor, mas esses são os quatro detalhes básicos.

3 – Escreva anedotas engraçadas. 

Antes de escrever textos longos, você pode começar com anedotas (pequenos contos) breves sobre algo engraçado ou importante, como uma experiência pessoal que dê para contar aos seus amigos durante um almoço.

Muitas pessoas acham essas anedotas mais engraçadas do que as piadas tradicionais. As piadas até arrancam risadas, mas são menos memoráveis do que histórias reais de situações constrangedoras.

Não escreva apenas anedotas ficcionais. Pense nas conversas que você já teve com os amigos, os parentes e os colegas e tente incorporar as partes engraçadas delas nas suas histórias.

Você também pode usar esses contos para falar da natureza humana e de outras experiências. Se necessário, leia obras de outros autores que também tenham essa característica.

4 – Não fique só nas descrições. 

Todo autor experiente sabe que dar uma "ideia viva" de uma história aos leitores é muito mais interessante do que descrevê-la de cabo a rabo. 

Por exemplo: em vez de usar "Em uma noite fria e tempestuosa..." para dizer que estava chovendo, você pode descrever o som da chuva no telhado, o barulho dos limpadores de para-brisa do carro, a luz dos relâmpagos no horizonte e assim por diante.

Use detalhes específicos para ilustrar a mensagem que você quer passar. 

Por exemplo: em vez de dizer que um personagem está triste, mostre-o chorando e se isolando no quarto.

Deixe o leitor juntar as peças do quebra-cabeça por conta própria para ter reações mais genuínas à história.

Seja específico e faça descrições concretas. Não diga nada muito abstrato ou intangível, e sim coisas que o leitor consiga ver, ouvir, tocar e sentir.

Fonte> https://pt.wikihow.com/Escrever-Histórias-Engraçadas

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

A. A. de Assis (Jardim de Trovas) 41

 

Antonio Brás Constante (Comprador com ênfase na dor)

Ninguém está livre de embaraços, justamente porque os embaraços ocorrem em momentos inesperados e nos pegam desprevenidos, deixando qualquer um com as calças na mão, mesmo que esteja de bermuda, saia ou pelado. Aconteceu algo assim comigo há algum tempo atrás (anos, meses ou dias, o que importa?), quando meu filho me perguntou se a palavra “comprador” era oxítona, paroxítona ou proparoxítona, ou seja, nada muito grave, a não ser pelo fato de que mesmo tentando acordar os neurônios que ainda achava que tinha mantido da época deste tipo de aprendizagem, não encontrei nenhum.

Forcei o cérebro tentando buscar algum tipo de lembrança daquele período, mas tudo que me vinha na cabeça eram os horários dos intervalos na cantina da escola e as festas nos finais de semana. Comecei a ficar preocupado, martelando de forma pausada a palavra em minha mente: “com-pra-dor”, “COM-PRA-DOR”.

Lembrei de algo sobre uma tal de sílaba tônica, que era forte o suficiente para comandar o resto da tropa textual das palavras, e que provavelmente tinha uma certa responsabilidade no hora de definir quem é quem entre aquele trio de irmãs “xitonas”.

No caso da palavra comprador, em um primeiro momento a dor parecia ser a silaba mais forte, algo totalmente plausível, já que a dor é realmente algo forte e capaz de subjugar qualquer um, seja ele um ser vivo ou sílaba.

A dor prevalecendo sobre a compra, a dor de comprar, ou melhor, a dor do comprador em se tornar vítima atroz de seu objeto de desejo. Veio a minha mente a frase: “cuidado com o que desejas”, por que juntar o ato de comprar com o sufixo de dor? (e neste caso a dor seria realmente um sufixo?). Por que somos seres tão frágeis ao ponto de sofrermos com nossos próprios desejos? E o que é pior, por que a malditas regras de português pareciam ter me abandonando?

Senti-me vencido, tanto pelo sentimento de ignorância de alguém que perdeu algo que sofreu para aprender e que possivelmente não aprendeu, quanto pelo fato de não ter a capacidade de manter em minha memória o fruto daquele aprendizado. Toda esta reflexão (a própria palavra “reflexão” já formava dúvidas em minha cabeça sobre sua formação ortográfica) acabou me deixando ainda mais confuso, confessei ao meu filho que não sabia a resposta correta para aquela pergunta, mas que iria procurar sobre o assunto, e procurei.

 Recorri ao meu professor virtual “Google”, de onde fiquei sabendo o que já suspeitava, comprador é uma oxítona, pois neste caso a vogal tônica está realmente na “dor”. Dúvida respondida, mas a insegurança permanece, até quando será possível guardar esta descoberta em minha mente? Por garantia anotei tudo em uma folha de papel e transformei neste texto, bem mais difícil de perder do que minhas recordações.

Acho que logo estas regras voltarão a se apagar de minha memória, dando lugar aos escândalos políticos do momento, aos novos hits musicais das rádios, as novas vitórias e derrotas da vida, e a novas perguntas sobre temas diversos, cujas respostas por algum motivo teimam em não querer ficar alojadas em minhas lembranças.

Célia Evaristo (Poemas Avulsos) - 1


A LAGARTA MARIA MARTA APRENDE A DANÇAR

A lagarta Maria Marta
gosta muito de dançar.
Mas é muito desajeitada,
passa o tempo a tropeçar.

Com tantas patas é difícil
o passo coordenar.
A lagartinha já pensa
este hábito alterar.

Coitadinha, até já chora,
nem consegue dormir.
Ter tantas patas é uma tormenta,
não se consegue divertir.

Maria Marta vai a uma aula
de danças de salão.
Mal começou a dançar:
que grande trambolhão!

Mas a Maria Marta não desiste,
é muito persistente.
Tem de haver uma solução
para dançar feliz e contente.

Devagar, devagarinho
lá se começa a ajeitar!
Muito cuidado com cada passinho
e já começa a dançar.

Cem aulas depois, que surpresa!
A Maria Marta já sabe dançar.
Já não chora, já não cai,
até já sabe rodopiar.

É importante não desistir
e nunca deixar de sonhar.
Assim fez a Maria Marta
que já aprendeu a dançar!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

FALA-ME…

Fala-me ao nascer do dia,
no primeiro raio de Sol.
Fala-me com o perfume das flores
e eu pintarei o arco-íris com outras cores.

Fala-me ao entardecer,
quando o céu encontra o mar.
Fala-me com o voar das andorinhas
e eu mandar-te-ei lembranças minhas.

Fala-me no silêncio da noite,
na tranquilidade da cidade.
Fala-me com um simples olhar
e eu deixar-me-ei por lá ficar.

Porque entre nós as palavras são escassas,
são os nossos gestos que falam por si.
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FALTA DE MIM

Não me sinto há muito,
desapareci,
voei.

Levei de bagagem de mão
o meu coração
e não prometi regressar.

Chorei,
gritei
e até à dor me dei,
sem me conseguir resignar.
O que sinto só eu sei,
não me quero enganar.

Por isso fui
e não voltei…
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MAIS

O teu coração nunca me amou,
o teu olhar nunca me encontrou.
E as vezes em que a tua pele a minha tocou,
foram vezes vazias, 
de ti nada ficou…

E eu queria receber mais, 
apenas uma réstia
do que sempre te dei.

As horas, os minutos e os segundos,
o tempo que te dediquei,
deitaste fora sem pensar
que me poderias magoar.

Dei-te o que nunca tive em troca,
porque quem ama
também espera ser amado.
Mas em vez de amor
recebi a dor 
de um ser abandonado.

E eu queria receber mais, 
apenas uma réstia
do que sempre te dei.

Os passos lentos que davas
quando eu corria
e caía nos teus braços.
Sorria-te,
ignoravas-me.

Pedia-te tempo,
dizias ter pressa.
E a cada momento
uma promessa.

E eu queria receber mais, 
apenas uma réstia
do que sempre te dei.

Nunca soubeste o que era o amor.
A vida, para ti, sempre foi fugaz,
intensa de coisas banais.
Nunca perdeste o teu tempo
para ser mais.
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NO SILÊNCIO DE UM OLHAR

É na distância de um primeiro olhar
que se dá o primeiro beijo,
tímido, 
desajeitado,
por vezes estranho
e outras delicado,
deixando um arrepio na pele,
sem que os lábios 
se tenham verdadeiramente tocado.

Palavras ditas no silêncio,
gestos sentidos sem tocar,
um misto de sentimentos
sentidos num simples olhar. 

Sem fronteiras,
outras barreiras,
sem obstáculos a transpor.
Apenas um coração aberto,
tão cheio de amor.

Por mais breve que seja um olhar
poderá prender, 
cativar,
poderá ser, 
estar,
querer,
sonhar.

Olha-me com atenção
e, no pleno silêncio das nossas vozes,
ouve o meu coração.
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O GATO BERNARDO

O gato Bernardo
mia, mia sem parar.
Quer apanhar uma estrela,
mas não sabe como a ela chegar.

Faz contas e mais contas,
calcula distâncias em vão.
Não sabe como chegar ao céu:
se a pé ou de avião.

Recomendei-lhe um foguetão
ou uma nave espacial.
O gato Bernardo está confuso
pois escolher não sabe qual!

A força da gravidade
está a deixá-lo preocupado.
Diz que já não tem idade
para andar pendurado.

Talvez peça a uma empresa
para lhe trazer o seu desejo.
Vai deixá-la no seu quarto
e com ela será um festejo.

A estrelinha vai-lhe contar
histórias para adormecer.
Serão os melhores amigos
até o Sol nascer!
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VOA COMIGO

Sou ave,
voo sem condição.
Sou leve como uma pena,
levo o mundo na minha mão.

Tenho asas para voar,
não aceitarei ficar presa
e que escape sempre ilesa
a um qualquer predador.

Vem, 
voa comigo, 
meu amor.

Mitos Indígenas (Coacyaba - o primeiro beija-flor)

Criação com IA Microsoft Bing
Os índios do Amazonas acreditam que as almas dos mortos transformam-se em borboletas. Por este motivo, elas voam de flor em flor, alimentando-se e fortalecendo-se com o mais puro néctar, para suportarem a longa viagem até o céu. 

Coacyaba, uma bondosa índia, ficara viúva muito cedo, passando a viver exclusivamente para fazer sua filhinha Guanamby feliz, todos os dias passeava com a menina pelas campinas de flores, entre pássaros e borboletas. Desta forma pretendia minimizar a falta que o esposo lhe fazia. Mesmo assim, angustiada, acabou por falecer, Guanamby ficou só e seu único consolo era visitar o túmulo da mãe, implorando que esta também a levasse para o céu. 

De tanta tristeza e solidão, a criança foi enfraquecendo cada vez mais e também morreu. Entretanto, sua alma não se tornou borboleta, ficando aprisionada dentro de uma flor próxima à sepultura da mãe, para com isto permanecer a seu lado. 

Enquanto isso, Coacyaba, em forma de borboleta, voava entre as flores, colhendo seu néctar. Ao aproximar-se da flor onde estava Guanamby, ouviu um choro triste, que logo reconheceu. Mas como frágil borboleta, não teria forças para libertar a filhinha. Pediu então ao Deus Tupã que fizesse dela um pássaro veloz e ágil, que pudesse levar a filha para o céu. 

Tupã atendeu ao seu pedido, transformando-a num beija-flor, podendo assim realizar o seu desejo. 

Desde então, quando morre uma criança índia órfão de mãe, sua alma permanece aguardada dentro de uma flor, esperando que a mãe, em forma de beija-flor, venha buscá-la, para juntas voarem ao céu, onde estarão eternamente.

Fonte> Adaptação do Texto de Jayhr Gael in O Caminho de Wicca - http://www.caminhodewicca.com.br (desativado). acesso em 13/10/2023.