quarta-feira, 26 de junho de 2024

Barão de Itararé (Conselho Médico) Como devemos tomar nossos remédios

Quando estamos doentes, afinal não temos outro remédio senão tomar remédio.

O remédio, aliás, sempre faz bem. Ou faz bem ao doente que o toma com muita fé; ou ao droguista que o fabrica com muito carinho; ou ao comerciante que o vende com um pequeno lucro de 300 por cento.

Mas apesar do bem que fazem, devemos convir que há remédios verdadeiramente repugnantes, que provocam engulhos e violentas reações de repulsa do estômago.

Como devemos tomar esses remédios repugnantes? Aí está o problema que procuraremos resolver para orientar os nossos dignos e anêmicos leitores.

O melhor meio de vencer as náuseas, quando temos que ingerir um remédio repelente, consiste em recorrer à lógica dos rodeios, adotando os métodos indiretos, até chegar à auto-sugestão, transformando assim o remédio repugnante numa coisa que seja agradável ao paladar. Numa palavra, devemos tomar o remédio com cerveja, por exemplo.

Como devemos proceder para chegarmos a esse magnífico resultado?

É indispensável comprar, antes do remédio, uma garrafa de cerveja. Depois, é necessário bebê-la devagar, saboreando-a, para sentir-lhe bem o gosto. Liquidada a primeira garrafa, pedimos outra cerveja. Esta   vamos tomá-la de outra forma, também devagar, mas com a ideia posta no remédio, cuja lembrança naturalmente nos provocará asco. Para voltarmos ao normal, encomendamos uma terceira garrafa, com a qual, lembrando-nos sempre do remédio, iremos dominando e vencendo a repugnância. Na altura da quinta ou undécima garrafa, nós já estaremos convencidos de que o gosto do remédio deve ser muito semelhante ao da cerveja e, assim, já poderíamos beber calmamente o remédio como cerveja. Mas, como não temos o remédio no momento e já não temos muita força nas pernas para ir à farmácia, então continuamos a beber a infusão de lúpulo e cevada, até chegarmos a esta notável conclusão: se é possível chegar a se tomar um remédio tão repugnante como cerveja, muito mais lógico será que passemos a tomar cerveja como remédio, porque a ordem dos fatores não altera o produto, quando está convenientemente engarrafado.

Fonte: Barão de Itararé. Máximas e Mínimas do Barão de Itararé. RJ: Editora Record, 1986,

Recordando Velhas Canções (De Papo Pro Ar)


 Compositores: Joubert de Carvalho / Olegário Mariano

Eu não quero outra vida
Pescando no rio de Jereré
Tenho peixe bom
Tem siri patola
Que dá com o pé

Quando no terreiro
Faz noite de luar
E vem a saudade me atormentar
Eu me vingo dela
Tocando viola de papo pro ar

Se ganho na feira
Feijão, rapadura
Pra que trabalhar
Sou filho do homem
E o homem não deve
Se apoquentar
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A Simplicidade e a Saudade na Música 'De Papo Pro Ar'

A música 'De Papo Pro Ar', composta em 1931, é uma celebração da vida simples e tranquila, longe das preocupações do mundo moderno. A letra descreve a vida de um pescador no rio Jereré, onde a abundância da natureza oferece tudo o que é necessário para viver bem, como peixe e siri. A expressão 'de papo pro ar', que dá título à música, é uma gíria brasileira que significa estar em um estado de relaxamento total, sem preocupações.

O cenário descrito na música é idílico e remete a uma conexão profunda com a natureza e o contentamento com o que ela oferece. A menção de elementos como 'feijão' e 'rapadura' na feira reforça essa ideia de simplicidade e autossuficiência. Além disso, a música toca em temas de saudade e nostalgia, especialmente quando o luar traz lembranças que são suavizadas pela música da viola, sugerindo que a música é um refúgio e uma forma de lidar com os sentimentos de saudade.

Explora temas rurais e a valorização das raízes culturais brasileiras. 'De Papo Pro Ar' é um exemplo de como utiliza a música para transmitir uma mensagem de paz e contentamento com a vida simples, ao mesmo tempo que aborda sentimentos universais como a saudade.

terça-feira, 25 de junho de 2024

José Feldman (Analecto de Trivões) 32

 

Francisca Júlia (O Aleijadinho)

De quando em quando, nos dias de missa ou de festejos religiosos, enquanto o povo estava aglomerado em torno da igreja, o aleijadinho aparecia, arrimado a uma muleta, e ia implorando esmolas com o chapeuzinho no ar.

Todos o conheciam e davam-lhe pequenas esmolas, uma moeda, um pedaço de pão, gulodices, a que ele com sua vozinha simpática agradecia, dizendo:

— Deus lhe pague.

O aleijadinho morava no meio de uma floresta numa velha choupana coberta de telhas de zinco com seu pai, que há muitos anos gemia no fundo do leito, entrevado pela enfermidade.

O filho era o seu único amparo; levava-lhe a comida à boca, dava-lhe água, os medicamentos que lhe aconselhavam para suavizar-lhe as dores; e quando o sustento escasseava, lá ia a pobre criança para a povoação, arrastando-se pelas estradas.

Pedia esmola aos passantes e tudo que lhe davam guardava numa sacola.

Entrava pelas casas de famílias e desde a entrada ia gritando:

— O aleijadinho!

As crianças corriam a recebê-lo, davam-lhe roupas novas, doces, e muitas invejavam a sua existência humilde, a coragem que tinha de caminhar pela floresta em noites escuras, sem medo aos lobos nem às feras.

Perguntavam-lhe se havia almas do outro mundo na escuridão da mata; a tudo o pobrezinho respondia sorrindo, e contava histórias curiosas de passarinhos, das tempestades do inverno, e, inteligente como era, inventava novelas de fadas, castelos encantados, para iludir a miséria da sua vida.

Tirava dos bolsos ovos de passarinhos, ninhos, pedras de varias cores, distribuía tudo entre as crianças, contando histórias muito bonitas a respeito de cada objeto.

Ia-se embora apressadamente, para que a noite o não surpreendesse em caminho, e, quando entrava na choupana, começava a mostrar ao pai, muito alegre, as esmolas que havia recebido.

E assim ia vivendo a miserável criança, de sofrimento em sofrimento, ignorante dos gozos da fortuna, mas tão resignada sempre, que nunca se lhe viu uma lágrima nos olhos nem um gesto de revolta na candura do seu rostinho.

Passado algum tempo, como o pobrezinho não aparecia mais na aldeia, todos começaram a pensar que as feras decerto o tinham devorado e ao seu velho pai, em alguma noite escura, no silêncio da floresta.

Houve nos corações das crianças um enternecimento geral.

Todos o choraram, lhe lastimaram a sorte, e muitas mãozinhas se ergueram ao céu, suplicantes, rogando a Deus repouso para a sua alma.

Fonte> Francisca Júlia da Silva. Livro da infância. Publicado originalmente em 1899. Disponível em Domínio Público.

Vereda da Poesia = 44 =


Trova Humorística de São Paulo/SP

SELMA PATTI SPINELLI

Com a bagunça rolando,
sem ter mais o que falar,
chilique, de vez em quando,
bota tudo no lugar!!!
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Soneto de Mogúncia/MA

RAYMUNDO CORREA
(Raymundo da Motta de Azevedo Corrêa)
Mogúncia/MA (1859 – 1911) Paris/França

As Pombas

Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
Das pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguinea e fresca a madrugada.

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam
Os sonhos, um a um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.
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Aldravia de Barbacena/MG

FABRÍCIO AVELINO

lua
crescente
em
quarto
minguante
adolescente
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Poema de Alegrete/RS

MÁRIO QUINTANA
(Mário de Miranda Quintana)
Alegrete/RS, 1906 – 1994, Porto Alegre/RS

Inscrição para um Portão de Cemitério

Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce – uma estrela,
Quando se morre – uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
“Ponham-me a cruz no princípio…
E a luz da estrela no fim!”.
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Trova Premiada em Maranguape/CE, 2008

ADAMO PASQUARELLI 
(São José dos Campos/SP)

Num mundo congestionado,
em qualquer parte da terra,
o lema está consagrado:
"Se queres paz, vai à guerra". 
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Poema de São José dos Campos/SP

MIFORI
(Maria Inez Fontes Rico)

Belos Tempos

Belos tempos, na infância, eu pude vivenciar.
Muitas brincadeiras nas ruas calmas:
de pega-pega, de roda, de cordas, de casinhas,
e muitas outras, de tirar o chapéu e bater palmas,
com as crianças vizinhas.

Belo tempo teve a minha adolescência...
De descobertas, de incertezas, de contestação!
De olhares lânguidos e de efervescência.
Do culto ao modismo e da secreta paixão...

Belos tempos... Os da minha juventude!
A faculdade, o estudo e o trabalho escolhido.
Os bailes, o grupo de amigos, a plenitude!...
O namoro não mais escondido.

Belos tempos... Vivi na maturidade,
aprendendo e transmitindo conhecimentos.
Ensinando tive a oportunidade
de o sonho concretizar e viver belos momentos.

Belos tempos... Usufruo hoje, muito bem,
com novos tipos de aprendizagens;
muitas surpresas e descobertas também!
Feliz, divirto-me em minhas viagens!
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Quadra Popular

Morena, minha morena,
minha flor de melancia,
um beijo da tua boca
me sustenta todo o dia.
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Soneto de São Paulo/SP

PAULO BONFIM
(Paulo Lébeis Bonfim)
1926 – 2019

Soneto dos muitos eus

Um eu ficou no mar aprisionado
E deixou-me por pés as nadadeiras;
Outro ficou nas nuvens caminheiras,
Por isso bato os braços no ar parado.

Um eu partiu menino ensimesmado
E ofertou-me palavras verdadeiras,
Outro amou suas sombras companheiras,
Outro foi só, e um outro de cansado

Caminhou pelos becos. Há também
Aqueles que ficaram na poesia,
Nos bares, na rotina, o eu do bem,

Do mal, o herói, o trágico, o esquecido.
Eu gerado por mim na liturgia
De um todo para tantos dividido! 
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Trova de Ponta Grossa/PR

SONIA MARIA DITZEL MARTELO
1943 – 2016

Entre todos os recantos
é aqui que me sinto bem:
- o meu lar tem tais encantos
que outros lugares não têm!
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Poema de Mariana/MG

ANDREIA DONADON LEAL

Sonho V

Imagens são sonhos afetos
colam nas telas
nas fotografias
e lembram alguma coisa
de esculturação natural
imagens são sonhos afetos
a beijar uma superfície
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Haicai de São Paulo/SP

JOÃO TOLOI
 
Em meio ao pomar
Mulheres entoam canções
Colhendo goiabas.
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Sextilhas do Rio de Janeiro/RJ

MANUEL BANDEIRA
(Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho)
Recife/PE, 1886 – 1968, Rio de Janeiro/RJ

Sou romântico? Concedo.
Exibo, sem evasiva,
A alma ruim que Deus me deu.
Decorei "Amor e medo",
"No lar", "Meus oito anos"... Viva
José Casimiro Abreu!

Sou assim por vício inato.
Ainda hoje gosto de Diva,
Nem não posso renegar
Peri, tão pouco índio, é fato,
Mas tão brasileiro... Viva,
Viva José de Alencar!

Paisagens da minha terra,
Onde o rouxinol não canta
- Pinhões para o rouxinol!
Frio, nevoeiros da serra
Quando a manhã se levanta
Toda banhada de sol!

Ai tantas lembranças boas!
Massangana de Nabuco!
Muribara de meus pais!
Lagoas das Alagoas,
Rios do meu Pernambuco,
Campos de Minas Gerais!
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Trova Humorística de São Paulo/SP

DARLY O. BARROS
São Francisco do Sul/SC, 1941 - 2021, São Paulo/SP

Se deu bem mal minha amiga,
e agora não tem mais jeito:
Escorregou pra barriga
o silicone do peito.
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Glosa de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

MOTE:
Cai no trilho e a triste sina
maldiz tanto o beberrão:
essa escada não termina
e é tão baixo o corrimão!
Therezinha Dieguez Brisolla 
(São Paulo/SP)

GLOSA:
Cai no trilho e a triste sina
daquela alma embriagada,
foi confundir, na neblina, 
que trilho não é escada!

Patinando no chapuço*
maldiz tanto o beberrão,
fazendo rir do "pinguço"
os que estavam na estação!

O "bebaço, ante a mofina*,
dizia, só por chalaça*:
- Essa escada não termina...
Era o efeito da cachaça!

Para completar a troça
o "pinguço" beberrão
ainda fazia mangoça*:
... e é tão baixo o corrimão!
…………….
* Vocabulário:
Mofina: infortúnio, má sorte
Chalaça: gozação
Chapuço: Poça de lama
Mangoça: zombaria, deboche
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Aldravia de Madri/Espanha

CESCOHOTADOYBOR
(Carmen Escohotado Ibor)

verão
o
calor
roda
seu
chão
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Soneto de Joaçaba/SC

MIGUEL RUSSOWSKY
(Miguel Kopstein Russowsky)
Santa Maria/RS (1923 – 2009) Joaçaba/SC

Tarde nevoenta... em julho

Domingo sem ninguém...A casa está vazia.
O silêncio no horror persistente blasfema.
Quer se fazer ouvir. Ó tolo estratagema!...
Eu posso ouvi-lo bem, mas qual a serventia?

A solidão nem quer me servir como tema...
...e a tarde se espezinha imensamente fria...
Ó Tristeza, vem cá! Se queres companhia
ajuda-me a cerzir pedaços de um poema

Talvez assombrações que possuam prestígio
se queiram embutir em tercetos, com zelo,
para dar-lhe feições de soneto-prodígio.

Alguém se desmanchou em brumas do passado
e quer ressuscitar de cor, num atropelo.
Se lembrar é viver, eu devo estar errado.
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Trova Premiada em Barra do Piraí/RJ, 1999

ADÉLIA VICTÓRIA FERREIRA
Sete Barras/SP, 1929 – 2018, São Paulo/SP

Torna um sonho em realidade
e verás, com ironia,
que, por mais que ele te agrade,
foi mais bela a fantasia.
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Poema de Coimbra/Portugal

CAMILO PESSANHA
(Camilo de Almeida Pessanha)
Coimbra, 1867 – 1926, Macau/China

Viola Chinesa

 Ao longo da viola morosa
Vai adormecendo a parlenda
Sem que amadornado eu atenda
A lenga-lenga fastidiosa.

 Sem que o meu coração se prenda,
Enquanto nasal, minuciosa,
Ao longo da viola morosa,
Vai adormecendo a parlenda.

 Mas que cicatriz melindrosa
Há nele que essa viola ofenda
E faz que as asinhas distenda
Numa agitação dolorosa?

 Ao longo da viola, morosa…
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Triverso de Belém/PA

PAULO MARCELO BRAGA

A poesia do teu sorriso,
pode ter a certeza disso,
é a terapia que preciso.
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Setilha de Natal/RN

JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

Fico muito contente quando soa
o baião da viola nordestina
num alpendre singelo e acolhedor,
quando a noite inspirada descortina
sobre o cume das serras do sertão,
e era mais carregado de emoção
na brandura da luz da lamparina.
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Trova de Santos/SP

CAROLINA RAMOS

Eu vou indo... vou levando...
assim como a vida deixa...
vou sonhando... vou rimando...
seguindo a vida... sem queixa!...
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Hino de Joaçaba/SC

Letra: Miguel Russowsky

De montanhas diadema
No vale do Rio do Peixe
Minh´alma canta poemas
Risonhas safras em feixe

Que eu espalho de bom grado
Nos suaves sulcos do arado
Se as videiras são serenas
Nos verões fazendo abrigo
Nas primaveras amenas
Enfeito os morros de trigo
Nos outonos, nos invernos
Os meus lares são mais ternos

O meu nome é Joaçaba
Sou alegre e hospitaleira
Tenho amor que não se acaba
Desta terra brasileira?

A quem vir morar comigo
Dou carinho e dou abrigo
A quem vir morar comigo
Dou carinho e dou abrigo.
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Poetrix do Rio de Janeiro/RJ

FÁBIO ROCHA

separação

o leão na gaveta
junto com o retrato:
sem ver, vejo de fato
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Soneto de Curitiba/PR

VANDA FAGUNDES QUEIROZ

Aparência e realidade

O som de minha voz inutilmente
acontece, sem cor e sem motivo.
Tão diverso é o real mundo que vivo
da hora em que pareço estar presente.

É presença enganosa, que desmente
outra força suprema — a do furtivo
viver por dentro, onde, devota, arquivo
ignotos pulsares da alma ardente.

A voz que fala, o riso, a cor que é vista
é invólucro somente, e bem despista
do meu ego a essência, a vida inteira...

E, assim, esta duidade faz-me artista
na arte de viver de forma mista:
a que parece ser.,. e a verdadeira.
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Bom vento que vens das serras
ou dos campos ou do mar,
varre os ódios, varre as guerras,
deixa o amor enfim reinar!
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O Conselho dos Ratos

Havia um gato maltês,
Honra e flor dos outros gatos;
Rodilardo era o seu nome.
Sua alcunha — Esgana-ratos.

As ratazanas mais feras
Apenas o percebiam,
Mesmo lá dentro das tocas
Com susto dele tremiam;

Que amortalhava nas unhas
Inda o rato mais muchucho,
Tendo para o sepultar
Um cemitério no bucho.

Passava entre aqueles pobres,
De quem ia dando cabo,
Não por um gato maltês.
Sim por um vivo diabo.

Mas janeiro ao nosso herói
Já dor de dentes causava,
E ele de telhas acima
O remédio lhe buscava.

Dona Gata Tartaruga,
De amor versada nas lides,
Era só por quem na roca
Fiava este novo Alcides.

Em tanto o deão dos ratos,
Achando léu ajuntou
Num canto do estrago o resto,
E ansioso assim lhe falou:

"Enquanto o permite a noite.
Cumpre, irmãos meus, que vejamos
Se à nossa comum desgraça
Algum remédio encontramos.

Rodilardo é um verdugo
Em urdir nossa desgraça;
Se não se lhe obstar, veremos
Finda em breve a nossa raça.

Creio que evitar-se pode
Este fatal prejuízo:
Mas cumpre que do agressor
Se prenda ao pescoço um guizo.

Bem que ande com pés de lã.
Quando o cascavel tinir,
Lá onde quer que estivermos
Teremos léu de fugir'".

Foi geralmente aprovado
Voto de tanta prudência;
Mas era a dúvida achar
Quem Fizesse a diligência.

"Vamos saber qual de vós,
Disse outra vez o deão.
Se atreve a dar ao proposto
A devida execução.''

— Eu não vou lá, disse aquele;
— Menos eu, outro dizia;
— Nem que me cobrissem de ouro,
Respondeu outro, eu lá ia!

— Pois então quem há de ser?
Disse o severo deão;
Mas todos à boca cheia
Disseram: "Eu não, eu não!"

Tornou-se em nada o congresso;
Que o aperto às vezes é tal,
Que o remédio que se encontra
Inda é pior do que o mal.

Assim mil coisas que assentam
Numa assembleia, ou conselho;
Mas vê-se na execução
Que tem dente de coelho.

Recordando Velhas Canções (Aquarela Brasileira)

Compositor: Silas de Oliveira

Vejam essa maravilha de cenário
É um episódio relicário
Que o artista, num sonho genial
Escolheu para este carnaval
E o asfalto como passarela
Será a tela do Brasil em forma de aquarela

Passeando pelas cercanias do Amazonas
Conheci vastos seringais
No Pará, a ilha de Marajó
E a velha cabana do Timbó

Caminhando ainda um pouco mais
Deparei com lindos coqueirais
Estava no Ceará, terra de Irapuã
De Iracema e Tupã

Fiquei radiante de alegria
Quando cheguei na Bahia
Bahia de Castro Alves, do acarajé
Das noites de magia do Candomblé
Depois de atravessar as matas do Ipu
Assisti em Pernambuco
A festa do frevo e do maracatu

Brasília tem o seu destaque
Na arte, na beleza, e arquitetura
Feitiço de garoa pela serra!
São Paulo engrandece a nossa terra!
Do leste, por todo o Centro-Oeste
Tudo é belo e tem lindo matiz

E o Rio dos sambas e batucadas
Dos malandros e mulatas
De requebros febris
Brasil, essas nossas verdes matas
Cachoeiras e cascatas de colorido sutil
E este lindo céu azul de anil
Emolduram e aquarelam o meu Brasil
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Cores e Contornos do Brasil em 'Aquarela Brasileira'
A canção 'Aquarela Brasileira', interpretada por Martinho da Vila, é uma verdadeira homenagem à diversidade cultural e natural do Brasil. A letra descreve uma viagem imaginária por diversas regiões do país, destacando suas belezas e peculiaridades. O uso da palavra 'aquarela' sugere uma pintura rica em cores e matizes, representando a mistura de elementos que compõem o cenário brasileiro.

A música começa com uma referência ao carnaval, um evento que por si só sintetiza a alegria e a criatividade do povo brasileiro. O 'asfalto como passarela' pode ser interpretado como uma metáfora para o palco onde a cultura brasileira se apresenta em toda a sua exuberância. A viagem lírica passa pela Amazônia, Pará, Ceará, Bahia, Pernambuco, Brasília e São Paulo, mencionando aspectos característicos de cada local, como a fauna, a flora, a arquitetura e as festas tradicionais.

Ao final, a música destaca o Rio de Janeiro, conhecido por seu carnaval, samba e pela emblemática figura da mulata. A letra enfatiza a beleza natural do país, suas matas, cachoeiras e o céu azul, que juntos compõem o quadro vivo da nação. 'Aquarela Brasileira' é um convite para apreciar e valorizar a riqueza cultural e ambiental do Brasil, pintando um retrato artístico através das palavras. (https://www.letras.mus.br/martinho-da-vila/265569/

segunda-feira, 24 de junho de 2024

Therezinha D. Brisolla (Trov" Humor) 32

 

Eliana Palma (Microcontos) = 4 =

Alto executivo, com salário nababesco e propinas milionárias, descuidou-se. Depois da
cadeia, só encontrou abrigo na casinha popular dos pais aposentados.
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Exigente. Ninguém estava à sua altura. Em todos desconsiderava qualidades e potencializava defeitos. Bastava-se. Viver sozinha era um sossego. Uma dor súbita no peito, a necessidade de socorro, e nas mãos a agenda de telefone: completamente vazia...
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Fraudara a licitação e superfaturara a obra do viaduto. Da janela do apartamento viu a enorme estrutura, mal feita, desabar sobre o carro novo da filha!
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Levantou-se leve! Estranhou; o corpo não mais doía. Era só luz!
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Na hora sentiu-se moderninha e superior. Nove meses mais tarde trocou o sonho do diploma por noites solitárias mal dormidas.
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Poderoso e arrogante, negócios mirabolantes e a certeza de ficar milionário em pouco tempo. Ao invés, a falência financeira e emocional!
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Sonhava com viagens. Foi trabalhar numa agência, mas a oportunidade nunca aparecia. Ao invés da passagem, comprou livros. O mundo descortinou-se. Não coleciona carimbos no passaporte, mas títulos na enorme estante!
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Sonhava ver-se, de branco, numa limusine. O carro chegou na hora marcada; o noivo, não!
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Tinha pavor da hora da morte. Na hora da angioplastia, morreu... de medo!
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Fonte: Maria Eliana Palma. Momentos em prosa e verso. Maringá, 2016. Entregue pela autora.

Vereda da Poesia = 43 =


Trova Humorística de São Paulo/SP

RENATA PACCOLA

Rico cinquentão? Coitado!
Quisera que fosse assim!
Ele anda mais apertado
que pasta dental no fim!
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Soneto Humorístico de Sorocaba/SP

DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Causa Mortis
 
Todo mundo que chegava
ao velório do Candinho,
penalizado, falava:
- Morreu como um passarinho.
 
Um bebum que ali se achava,
curioso, entre o burburinho,
a cada passo escutava:
- Morreu como um passarinho.
 
Chega alguém que, comovido,
pergunta-lhe ao pé do ouvido:
- De que a morte foi causada?
 
E o bebum, em tom de prece:
- Também não sei, mas parece
que foi de uma estilingada.
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

MESSODY RAMIRO BENOLIEL

dúvidas
estremecem
relacionamentos
quando
permanecem
presentes
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Soneto de de Santos/SP

CAROLINA RAMOS

Naufrágio

Neste oceano da vida, tumultuoso,
Lancei, cheio de sonhos, um barquinho.
E ele flutuou e deslizou airoso,
Vencendo os empecilhos do caminho!

Nos momentos difíceis, sem repouso,
Depressa ia ampará-lo o meu carinho
E ansiosa eu via, com secreto gozo,
Meus sonhos desafiando os torvelinhos!

E chegaste! E de pedra era tua alma!
De papel, o barquinho... e tenso e mudo,
Ficaste, quando o mar perdeu a calma!

Contra o recife, o barco soçobrou!
E os sonhos, sem guarida, ao fim de tudo,
Um a um, impiedoso, o mar levou!
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Trova Premiada em Natal/RN, 2022

ARTHUR THOMAZ
(Arthur Thomaz da Silva Neto)
Campinas/SP

Quando perto, o trem apita,
batem forte os corações…
Tudo na estação se agita,
provocando as emoções.
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Poema de Porto Alegre/RS

LUCIANA CARRERO

Bloco Súbito

Eis aqui a cidade
bloco súbito de concreto
plantada na simplicidade
da paisagem - pelo arquiteto

Nela o homem-multidão
tal compacto rio
e o ídolo – destacável cidadão
que a consciência grupal pariu

Indivíduo impotente
na massa comprimido
logra êxito na corrente
que fabrica seu ídolo

Nele se satisfaz
por fim realizado (?)
Nada lhe resta mais
na multidão segregado
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Quadra Popular

Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, não parecendo o que são,
são aquilo que eu pareço.
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Soneto de Vitória/ES

BERNARDO TRANCOSO
(Bernardo Sá Barreto Pimentel Trancoso)

A Rosa Branca

Tantas púrpuras rosas no rosal;
Grosas e grosas, tão bonitas rosas;
Entre as rosas vultosas, majestosas,
Brota uma branca rosa, desigual.

Meu olhar só percebe a rosa tal;
Prefere-lhe, entre rosas mais charmosas;
Rosas prá te dizer que, em meio às grosas,
És como a rosa branca, especial.

Tens no andar que alucina novas cores;
É por ter novas cores que alucina;
És preferida, dentre mil amores.

Como a flor no rosal, tão pequenina
Que, perante outras mais formosas flores,
Difere e, o coração, logo ilumina.
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Trova do Rio de Janeiro

HERMOCLYDES S. FRANCO
(Hermoclydes Siqueira Franco)
Niterói/RJ (1929 – 2012) Rio de Janeiro/RJ

Tenho um cão chamado THÉO,
grande amigo, inseparável...
Ao meu lado, está no céu
e eu me sinto invulnerável!
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Poema de Angola

ALDA LARA
Benguela, 1930 – 1962, Cambambe

As belas meninas pardas

As belas meninas pardas
são belas como as demais.
Iguais por serem meninas,
pardas por serem iguais.

Olham com olhos no chão.
Falam com falas macias.
Não são alegres nem tristes.
São apenas como são
todos dos dias.

E as belas meninas pardas,
estudam muito, muitos anos.
Só estudam muito. Mais nada.
Que o resto, trás desenganos.

Sabem muito escolarmente.
Sabem pouco humanamente.

Nos passeios de domingo,
andam sempre bem trajadas.
Direitinhas. Aprumadas.
Não conhecem o sabor que tem uma gargalhada
(Parece mal rir na rua!...)

E nunca viram a lua,
debruçada sobre o rio,
às duas da madrugada.

Sabem muito escolarmente.
Sabem pouco humanamente.

E desejam, sobretudo, um casamento decente...

O mais, são histórias perdidas...
Pois que importam outras vidas?...
outras raças?... , outros mundo?...
que importam outras meninas,
felizes, ou desgraçadas?!...

As belas meninas pardas,
dão boas mães de família,
e merecem ser estimadas...
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Haicai de Irati/PR

ELISSON THOMAZ SVEREDA

Lembro de meu pai
Debruçado na janela.
Noitinha de outono.
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Sextilha Agalopada de Caicó/RN

PROFESSOR GARCIA

Foi voando nas asas dos condores
agarrado nas mãos celestiais,
que senti os prazeres infinitos
e a doçura dos beijos das vestais;
musas virgens da sã sabedoria
que enfeitiçam poetas imortais!
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Trova de Maringá/PR

JORGE FREGADOLLI

Borboleta beijoqueira
dá beijos em cada flor.
Voando solta, fagueira,
vai fecundar seu amor. 
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Glosa de Catanduva/SP

ÓGUI LOURENÇO MAURI

É a primavera chegando...
 
 MOTE
As flores estão voltando,
colorindo tudo... Enfim,
é a Primavera chegando,
perfumando meu jardim.
 José Feldman 
(Campo Mourão/PR)
 
 GLOSA
 As flores estão voltando,
denunciam seus odores;
o vento chega mais brando
nos cenários multicores.
 
É a pintora Natureza
colorindo tudo... Enfim,
lindo toque de beleza
que, à mão de Deus, fica assim!
 
Meu astral se eleva quando
vejo toda essa pintura;
é a Primavera chegando,
como é linda enquanto dura!
 
Pena que, com tanto zelo,
falte uma flor para mim;
a rosa do teu cabelo
perfumando meu jardim.
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

REGINA COELI NUNES

rosto
sempre
triste
promove
rugas
subalternas
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Soneto de Minas Gerais

NATHAN DE CASTRO
(Nathan de Castro Ferreira Júnior)
João Pinheiro/MG, 1954 – 2014, Uberlândia/MG

Soneto de setembro

Com voz de trovoada e olhos de coriscos,
o céu de cara feia afugenta o soneto.
Arrisco-me no verso livre, em branco e preto:
cantigas de setembros, chuvas e rabiscos

Sinais de tempestades, flores, borboletas?
Versos de folhas verdes nas mãos do Poeta?
Quiçá, quem sabe a terra ensinando-me as letras
das cepas dos coqueiros de praias desertas?!

Canções de erva-cidreira, picão e canela,
remédios para curar as paixões de agosto...
Sementes nos canteiros de eterno desgosto?

Verso livre com cheiro de amor - primavera -
abóbora madura (onde estão minhas feras?).
Silêncio, outro soneto, e um sorriso no rosto.
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Trova Premiada em Ribeirão Preto/SP, 2007

RITA MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Seria a paz mais presente
e o porvir menos incerto
se na mão do adolescente
sempre houvesse um livro aberto!
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Poema do Rio de Janeiro/RJ

ARNOLDO PIMENTEL FILHO

Aquarela

Eu pinto sonhos que nem sempre têm asas
Sonhos vividos
Sonhos esquecidos
Sonhos que poderão viver na minha tela
Na minha triste aquarela
Minha tela pode estar pintada de vazio
Silêncio vazio
Cores incolores que mostram meu rosto
Tela vazia incolor que inspira minhas cores
Eu pinto meus temores na madrugada
Onde a tempestade é a verdadeira tela
Onde a solidão disfarçada
Invade o meu quarto pela janela
Eu pinto a solidão do meu corpo
Pinto as cores da minha voz nua
Pinto meus olhos perdidos no infinito
Minha tela é meu próprio grito
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Triverso de Curitiba/PR

ROSÂNGELA JACINTO DA SILVA

À beira do mar.
Como se fosse num espelho
o brilho da Lua.
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Setilha Sobre o Mar, de Crato/CE

JOSENIR LACERDA

Fim de tarde, “mar” revolto
As ondas beijando a praia
No horizonte luminoso
O sol cansado desmaia
É cena da natureza
Plena de garbo e Beleza
Que um novo dia ensaia
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Trova de Juiz de Fora/MG

CEZÁRIO BRANDI FILHO

Quanta gente gostaria
de ter a vida da gente,
sem saber que isto seria
trocar tristeza somente. 
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Hino de Angelina/SC

1. 
Entre os montes, a verde campina
Foi o berço da Vila Mundéus,
Que mais tarde chamou-se Angelina
E cresceu com as bênçãos de Deus.

A fé na Gruta de Angelina
Este povo ensina a viver melhor,
O homem faz a trajetória, construindo a história
De um Brasil maior.

2. 
Gratidão este canto encerra
Para aquele que a Vila fundou;
O suor derramado na terra
Foi semente que frutificou.

3. 
Estudantes e agricultores
Cumprem juntos a mesma missão;
Uns cultivam dos livros as flores,
Outros tiram riquezas do chão.

4. 
Os minérios são nova mensagem
Que Angelina ao mundo traduz;
O seu rio abastece a Barragem,
Rica fonte de força e de luz.
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Poetrix de Espinho/Portugal

ANA OLIVEIRA

o lobo mau e a sua esquizofrenia

cortaram ligações
ao tálamo,
na lobotomia.
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Poema dos Estados Unidos

E. E. CUMMINGS
(Edward Estlin Cummings) 
Cambridge/Massachussets, 1894 – 1962, Madison/New Hampshire

O Primeiro de Todos os Meus Sonhos 

o primeiro de todos os meus sonhos era sobre
um amante e o seu único amor,
caminhando devagar (pensamento no pensamento)
por alguma verde misteriosa terra

até o meu segundo sonho começar—
o céu é agreste de folhas; que dançam
e dançando arrebatam (e arrebatando rodopiam
sobre um rapaz e uma rapariga que se assustam)

mas essa mera fúria cedo se tornou
silêncio: em mais vasto sempre quem
dois pequeninos seres dormem (bonecas lado a lado)
imóveis sob a mágica

para sempre caindo neve.
E então este sonhador chorou: e então
ela rapidamente sonhou um sonho de primavera
—onde tu e eu estamos a florescer

(Tradução de Cecília Rego Pinheiro)
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Trova Humorística de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS
(Antônio Augusto de Assis)

Melhor idade?… Bobagem…
lorota antiga… falácia…
– Velhice só traz vantagem
para o dono da farmácia!
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE 
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

A Rã e o Boi

Num prado uma rã
Um boi contemplou,
E ser maior que ele
Vaidosa intentou.

A pela enrugada
Inchando alargou,
E às leves irmãs
Assim perguntou:

- Maior que o Boi
Ó Manas, já sou?
- Não és, lhe disseram
E a rã lhes tornou:

- E agora, inda não?
E mais ainda inchou;
Eis logo de todas
Um não escutou.

Inchar-se invejosa
De novo buscou,
Mas dando um estouro
A vida acabou.

Também, se em grandeza
Vencer procurou
O pobre ao potente,
Por força estourou.
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colaborações: gralha1954@gmail.com