quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Evaldo de Paula Moreira (Adeus…)

Pintura de Angela Kelly Topan
Nó na garganta.

Em qualquer lugar do mundo, a garganta humana denuncia quando uma pessoa está triste.

Se tirarmos um doce de uma criança, num instante veremos o olhar de indignação, seguidos de soluços e lágrimas nos olhos.

É uma maneira de demonstrar a violência sofrida.

Seja criança ou adulto.

Vi um senhor ficar triste, na roça, só porque alguém insinuou que o bode dele estava ficando velho. Sentiu-se subestimado, e logo se esboçou o nó.

Sofremos, sempre que nos tiram alguma coisa.

Meus pais se mudaram da roça quando eu era criança. Foi como se tirassem a roça de mim.
Lembro-me da viagem.

Saímos de lá, transportados por um carro de bois, até a estação de trem mais próxima.
Sem dúvida, minha garganta, por várias vezes, durante o trajeto, deu ensejo ao nó.

Na medida em que nos afastávamos das pessoas e das coisas queridas, íamos dando Adeus, acenando com as mãos, como se fosse uma despedida para sempre.

Que sensação mais estranha.

Tudo o que conhecera até aquela época era a roça. Eram as matas, os córregos, os riachos, as aves, os pássaros, os bois, as vacas, cabritos, cães... , as pessoas que amávamos.

Tirando o sol, a lua, as estrelas, tudo seria diferente dali para frente.

Era o Adeus para seguir um caminho desconhecido e ver algo diferente.

Só conhecia as coisas das cidades pelas gravuras dos livros.

Conheceria outro mundo, de maneira chocante, por causa da mudança radical, mas cheia de novas perspectivas, dado o jeito receptivo na grande cidade de São Paulo.

Mas, os “nós” me apareceram várias vezes durante muitos anos, porque é difícil vencer a saudade

Fonte:
http://zerobertoballestra.blogspot.com/

Pintura = fotografia de José Feldman

Francisco Miguel de Moura (Poesia incompleta)


O HOJE

certamente inda te adias
pois teus olhos se clareiam
ante a brisa e a paisagem
- que o horizonte é um presente
velejado por rostos escolhidos

mas não atrases teu amor
ao irmão que sofre o preterido

alegria, alegoria
o coração pede ritmos e pulsos
não é nenhum covarde

nem guarde restos e pedaços
de impressentidas elegias

o hoje é tudo o que se tece,
que bem tecido é odor, sabor e prece
em indistintas simetrias.

o amanhã não é teu dia
se hoje não tiveres empatia
com o razoável mundo e o sem-razão.

o ontem não tem clave se te agravas
em sentimento de ódio e entropia
como veio
de teu canto, em toda a via.

colhe a flor que está à mão.

O ONTEM

ontem foi o tempo emocional

assim, como passar
uma esponja
sobre o mal?

e o passado seria mortal

mas uma esponja
embebida do homem
embeberia a coisa:
- na verdade, o mal

um tempo sonâmbulo
que se gravou como um sinal
(esquecer não precisa
nem pode, é tão real)

ontem: eis o tempo que fica
como fundo do tempo
e sem rival.

O AMANHÃ

o amanhã virá
compor-te na teia
do in(completo)
nunca tecido
olho-boca-ouvido
seja fala ou prece
seja foto ou fluido
de luz desejada
paixão não vivida

é limbo incriado
é amor temido

poeta, recia
sem receio
- e recria
teu inteiro futuro

quando o hoje não for mais
essa será a glória
do teu dia.

E O SEMPRE

o hoje se esfume
o ontem se de/pedra
o amanhã quem sabe?

não há sempre
e há o sempre
sempre
sempre
não é começo
não é fim
não é processo

é um tempo sem tempo
nem temporal
nem tem/porão

semper
semper
sem-
per-
seguição

o tempo neutro
dá cacetadas no infinito.

ANTES E DEPOIS

quem saberá se um dia fomos?

e por que auscultar o passado
se se passa
adiante
sem liame de gostos ou de falas?

quando as luzes se apagam
quem diz para onde e a que vamos?

para o vazio e para a morte
de onde deveremos voltar como visões?

vamos para onde não vamos
para além da vida e da morte
onde não há sábios.

quem saberá se um dia fomos?

O CHEIO E O VÁCUO

o nada e o tudo soam nardo
e ab(sinto):
- ab(surdo) na amplidão
dos homens e dos bichos satisfeitos
(inseto ou dinossauro)

cai sobre mim uma poeira
cósmica coceira
de saber
o que constante me devora
e a paciência
me explode em palavrão

palavras vãs, palavras vão
e vêm
cortar o silêncio amplificado
de tudo quanto é voz

não há imposturas, há correntes
de sangue, sabor, gestos(contrários) parados
água e calor que luzem

nardo é nada
ab(sinto) é liberdade:
- um nome sem tempo e com paixão

palavras vêm, palavras vão
soltas ao vento e zunem no telhado
das nuvens e dos astros
mas nada produzem:

- falta espaço
e como vêm, se vão

o mundo em seu bailado, no universo
é impiedade
e tudo cala.
a fala morde a dor do falante
entre dentes, trovões, cometas...
e outras tralhas.
deus se evola e bebe as águas
do abismo
onde se banha

e não há vácuo - falta tempo
e não há cheiro - falta onde pairar.
só deus explora o esquecimento
do existir.
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Francisco Miguel de Moura (Literatura do Piauí)


No ano de 2001, veio a lume, no Piauí, a obra condensada e organizada por Francisco Miguel de Moura: “Literatura do Piauí”. Com certa curiosidade, decidi, nesses últimos tempos, abri-la, como que esperando encontrar algo que se somasse às outras tantas pesquisas minhas, ora, é de praxe um autor-pesquisador, como o Sr. Moura, alavancar uma nova concepção; uma nova visão dos fatos.

O professor, integrante da geração moderna piauiense, então, usando-se das visões modernistas da crítica, oferece aos leitores algumas reflexões acerca do conceito de literatura e do fazer poético. Das tantas afirmações introdutórias, alguns deslizes geraram equívocos, como a própria significação latina de littera (“significa exatamente letra” [Op. Cit. p. 13]), sabemos, pois, que, embora littera tenha advindo de litteratura, sua real significação não mudou: Ensino das primeiras letras; eis aí o motivo de tantos filósofos e estudiosos da língua confundirem o termo com “gramática”.

Ainda dentro do mesmo conceito, o autor infere: “literatura é tudo o que se escreve” (idem), ferindo o verdadeiro conceito aristotélico; ora, sendo a literatura a expressão polivalente das palavras, dos signos linguísticos, “tudo que se escreve” não pode ser considerado literatura, uma bula de remédio, por exemplo, não expressa polivalência, avalie a emoção, o subjetivismo…, ingredientes estes fundamentais que exige a literatura como forma. Na condição de estudioso das letras, posso discordar do seguinte pensamento: “… há duas línguas e sua respectiva linguagem: a falada e escrita” (ibdem); no campo da literatura, nesse, e só nesse sentido, apontado pelo Sr. Moura, a construção e variação da arte não implica que a língua se fragmente, já que aplicada ao fazer literário, continua sendo apenas uma, promulgada, porém, em duas formas distintas, oral e escrita; e a oral, como sabemos, não implica literatura, tal qual o teatro, que só é literatura na sua condição impressa, logo, como advertiu, certa vez, o estudioso Massaud Moises, o teatro, ambiguamente, só interessa para a literatura quando não é teatro.

Analisar conceitos tão amplos como “literatura”, “moral”, “poesia”, “ética”, enfim, rege ao pensador e ao ensaísta reflexões profundas que visam observar as mudanças dos tempos e as transformações que uma dada ideia sofre, seja de forma positiva ou, até mesmo, não coerente com o sentido original. Como o Sr. Moura citou, “… na antiguidade, tudo o que se considerava ‘literatura’ era feito em poesia, com ritmo e metrificação” (Op. Cit. p. 14), sem dúvidas, mas é, também, sabido que esta regra vale-se para a antiguidade ocidental, que é o nosso caso. A propósito, a base do conhecimento, tanto antigo quanto contemporâneo, nunca deixou de se fixar nas artes, filosofias, religiões e ciências, sendo, aí, possível ainda, uma segunda classificação: As de base palpável, ou seja, física, concreta; e as de caráter abstrato, não-física, suposta, meditada; classificando-se, então, as ciências e as artes no primeiro caso e as religiões e filosofias no segundo.

Mudemos um pouco a análise do conceito de literatura e vejamos um pouco mais, aliás, como o Sr. Moura avalia a poesia, “palavra mais abrangente, na sua origem significava fazer” (idem). O verbo “fazer” pareceu empregado de forma insatisfatória, a palavra “poesia” vem do grego poiesis e significa, ao pé da letra, criar, no sentido de imaginar. O conceito sempre foi o mesmo. Muito me espanto quando percebo a secular confusão que existe entre a diferença de poesia para poema, talvez por serem palavras análogas; todavia, como o próprio sentido original nos dita, poesia é, na realidade, o elemento espiritual da arte, sendo refletida tanto na literatura quanto na escultura, pintura, fotografia etc., trocando em miúdos, a poesia é abstrata, individual, única, está em cada um de nós. Uma obra de arte, por exemplo, não possui poesia enquanto não for interpretada como poesia; o ponto de vista é que faz a diferença. O poema, então, é apenas uma ferramenta da qual o artista se utiliza a fim de expressar as suas emoções, ou seja, a poesia que sente no momento produtivo; o poema é o pincel, ou a tela, ou a tinta, do poeta. O Sr. Moura, na busca de entender e licenciar-se em tais conceitos, lança mão das palavras do diplomata e escritor mexicano Octávio Paz, quando cita: “o poema é poesia” (Op. Cit. p. 15); assim, desprezando o verdadeiro sentido já, aqui, descrito.

Poema pode, ou não, ter poesia e a poesia pode, ou não, ser constituída em forma de poema. Vejamos a assertiva do brasileiro Hermes Vieira, quando em ensaio sobre Humberto de Campos, nos legou as palavras do mestre Orris Soares: “há, muito verso sem poesia e muita poesia sem verso. O verso propriamente dito não é arte, é artifício”; sendo todo poema um conjunto de versos, o conceito de forma generalizada aplica-se, logicamente, ao poema. Não dando ouvidos ao alerta de Massaud Moisés, Francisco Miguel de Moura entende, através de Fidelino de Figueiredo, que “a arte literária é, verdadeiramente, a ficção, a criação de uma supra-realidade” (Op. Cit. p. 16), e assim, como que tentando entender, fico nesta mesma linha, matutando o quê pode existir acima da realidade, já que ficção, por mais surreal que seja, busca na realidade as bases de sua construção.

O certo, porém, é classificar, sim, a literatura como a “criação de uma para-realidade”, como bem reflexiona o mestre Moisés: “o mundo ficcional não está ‘acima’ senão ‘ao lado’, paralelo à realidade ambiente, com ela realizando um permanente intercâmbio e nela se integrando inextricavelmente”, o intercâmbio de que fala é tão constante que sem ele jamais o artista poderia criar ou poderíamos interpretar uma criação à luz do raciocínio comparativo.

Fonte:
parte integrante do artigo de Daniel C. B. Ciarlini, disponível em http://franciscomigueldemoura.blogspot.com/

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Convite para Lançamento da Antologia Literária Cidade

Uma vitrine e um painel da produção literária em língua portuguesa. Assim pode ser caracterizada Antologia Literária Cidade, organizada pelos professores Mestres Abílio Pacheco e Deurilene Sousa. Os volumes IV, V e VI, sob o selo da L&A Editora, serão lançados na XIV Feira Pan Amazônica do Livro, no dia 02 de setembro, de 18:00 às 21:00 horas, no Stand do Escritor Paraense.

Os três volumes contam juntos com 66 escritores, sendo: 15 do Pará, 13 de São Paulo, 5 do Rio Grande do Sul, 4 do Rio de Janeiro, 3 do Mato Grosso, 3 de Minas Gerais, 2 do Amazonas, 2 de Pernambuco, 2 da Bahia, 2 do Distrito Federal, 2 do Rio Grande do Norte, 2 da Paraíba, 1 do Ceará, 1 de Santa Catarina, 1 do Espírito Santo, 1 do Paraná, 1 de Maranhão, 1 de Sergipe, 1 de Goiás, 1 do Piauí e 3 de Portugal.

A Antologia Literária Cidade teve seus três primeiros volumes lançados na XIII Feira Pan Amazônica do Livro, em novembro de 2009, com enorme aceitação do público, que pode conhecer obras tanto de autores inéditos quanto de autores já publicados. Espera-se a mesma aceitação com os três volumes atuais, que nos levam por um labirinto de sensações, desnudando a alma de cada autor, ímpar em percepção e inspiração.

Os organizadores da Antologia nos convidam para um encontro com a pluralidade literária dos escritores de língua portuguesa; pluralidade essa, metaforizada na palavra cidade, espaço múltiplo,de figuras moventes.

Serviço:
O quê: Lançamento da Antologia Literária Cidade
Quando: 02 de Setembro, de 18:00 às 21:00
Onde: Stand do Escritor Paraense Hangar: Centro de Convenções.
Observação: durante a XIV Feira PanAmazônica do Livro

Outras informações:

Site/Blog: http://antologiacidade.wordpress.com
Email: antologiacidade@bol.com.br
Telefones: (91) 8263-8344 / 8896-0379
(ambos a partir de 20 de agosto)

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Visitas ao Blog entre Maio e Agosto de 2010

Vânia Maria Souza Ennes (Trovador)

Fonte:
ENNES, Vânia Maria Souza. Chuva de trovas, junho de 2008. Biblioteca Virtual do Portal CEN (Cá Estamos Nós).
Arte de Iara Melo.

Tristão Alencar Pereira Oleiro (Poemas Avulsos)


SAUDADE

Saudade é vento que passa
Na estrada poeirenta da vida,
Deixando lembranças gravadas
Na velocidade não percebida.
É lembrança de coisas boas,
Chegadas da estação da aurora.
É desencanto das despedidas,
É alegria dos tempos de outrora.
Saudade é ouvir as cantigas,
Do sorrir e do cantar,
Dos tempos de minha infância.
Do perfume das flores no ar.
Das brincadeiras nas calçadas,
Nas praças e jardins
Correndo pelas alamedas,
Entre rosas e jasmins.
Ah! como é bom lembrar
O conviver com inocência,
Das amizades sinceras,
Com amor em sua essência.
O tempo é o melhor amigo
Que faz a lembrança voltar
Para casar a saudade comigo
E jamais nos separar.
Saudade que fica para sempre
Assim a vida se esvai,
Trazendo muitas lembranças ,
Dos tempos que não voltam mais.
––––––––––––––––

AMANHECER

O sol desponta no horizonte amarelando areias da praia.
Alaranjadas nuvens traduzem a temperatura elevada que está por vir.
Suaves ondas desenham a orla repleta de agitadas aves em busca de alimentos.
A brisa faz farfalhar folhas dos coqueiros.
O coração do poeta segura a produção literária da madrugada, empilhada sobre a mesa para não voar ao léu.
O dia inicia e com muita nostalgia encerra-se o que passou.
Dia após dia, a sequência criadora grava no tempo a história presente.
Vida de escritor...
––––––––––––––––––––

LAGUNA AO LUAR...

Teus meus cabelos soltos
Na brisa que afaga...
Luar, trilha de prata
brilha ao teu/meu olhar...
Laguna, lagoa, mar,
Peixes (des)embainhados, reluzem...
Ondas em colares perolados
Amores ardentes, seduzem...
Praia orlada, dourada,
a sonhar, momentos
Sonhados, conduzem...
És minha lua, luar,
Claridade infinita, paixão...
Luz irradiada, clarão
A iluminar minha vida...
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Fontes:
Antologia de Poetas Brasileiros. volume 44. março 2008.
Revista Aquilo que a gente sente. n.1. novembro 2009. Portal CEN.
Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores 2009. A Natureza em Versos. http://www.avspe.eti.br/coutinho/poesiaamigos/narureza5.htm

Tristão Alencar Pereira Oleiro (1946)



Tristão Alencar Pereira Oleiro nasceu em Valparaiso-SP a 9 de outubro de 1946.

É Contador e Servidor Público Municipal de Pelotas, onde é Diretor de Manifestações Populares da SECULT.

Ativista Cultural, Escritor e Poeta.

Tem publicado o livro “Crônicas, Contos e Poesias”, Ed. E Gráfica UFPEL, no ano de 2007. Trabalhos publicados na 44ª Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, na Antologia de Contos Fantásticos e no Livro de Ouro da Poesia Brasileira Contemporânea ambos no RJ.

Possui contos, poesias e prosas premiadas pelo Centro Literário Pelotense (CLIPE) Pelotas/RS, Academia Sul Brasileira de Letras (ASBL) Pelotas/RS, Casa do Poeta Rio-Grandense (CAPORI) Porto Alegre/RS, Centro de Escritores Lourencianos (CEL) São Lourenço do Sul/RS, Editora PorArt (Volta Redonda-RJ) e CBJE – Câmara Brasileira de Jovens Escritores (Rio de Janeiro-RJ). Presidente da CBC – Casa Brasileira de Cultura (2008-2010) Pelotas/RS,

Membro Acadêmico Correspondente da Academia de Artes, Ciências e Letras Castro Alves Cadeira 12 (Porto Alegre/RS, 2009) e

Membro Correspondente da Academia Rio-Grandina de Letras- ARL (Rio Grande/RS, 2009).

Recebeu o Título de Cidadão Pelotense (Câmara de Vereadores e Prefeitura Municipal de Pelotas/RS, 2005), o Brasão da Academia Pelotense de Letras (APelL, 2005), a Medalha do Mérito Tradicionalista João Simões Lopes Neto (Movimento Tradicionalista Gaúcho / 2008), além de várias menções honrosas por participação em concursos literários.

Participa das coletâneas do Centro Literário Pelotense, onde participa; do Centro de Escritores Lourencianos e da Casa do Poeta Riograndense.

Recebeu Menções Honrosas no Concurso Nacional de Poesias Érico Veríssimo em 2005, no Concurso Literário de Poesias Pedro Baggio da Associação Brasileira de Letras em 2007. Recebeu o Título de Cidadão Pelotense da Câmara de Vereadores e o Brasão da Academia Pelotense de Letras, ambos em 2005, além do Troféu Obelisco em Administração Pública, em 2006.

É Diretor de Divulgação da Casa do Poeta Rio-grandense gestão 2008/2009 e Presidente da Casa Brasileira de Cultura sediada em Pelotas gestão 2008/2010. Escreve crônicas para jornais da cidade.

No Tradicionalismo, foi fundador da 10ª Região, em 1976, com sede em Santiago/RS e foi seu primeiro Secretário por dois anos.

Participou de vários Congressos Tradicionalistas, Convenções e Festas Gaúchas do MTG. Foi Posteiro Cultural do CTG Negrinho do Pastoreio em 1992, concorreu ao cargo de Coordenador da 26ª Região em 1994.

Escritor Imortal da Academia de Letras do Brasil, pelo Rio Grande do Sul.

Fontes:
http://www.artistasgauchos.com.br/portal/?id=1271
http://www.camarapel.rs.gov.br/imprensa/noticias/2008/0104/0104t.htm

Ialmar Pio Schneider (Baú de Trovas VII)


Alta noite, escrevo versos,
sentindo a falta de alguém;
quem me dera que dispersos,
ela os ouvisse também...

A trova que canto agora
tem sabor de nostalgia,
por alguém que foi embora
quando mais bem a queria.

De manhã cedo levanto
e ao Senhor dos Céus imploro,
que me ajude quando canto
e me console se choro.

Desejo que o nosso amor
nunca seja de mentira;
por isto sou trovador
romântico, ao som da lira.

De tudo que amo e venero,
vem em primeiro lugar,
teu beijo doce e sincero
que me faz revigorar.

Dos versos soltos que faço,
um deles tem mais calor;
porque lembra teu abraço
e nossos beijos de amor..

Este amor que não resiste
às tentações deste mundo,
se não fosse assim tão triste,
pudera ser mais profundo.

Estivemos frente a frente,
mas nenhum de nós sorriu;
parecias diferente
que me deixaste arredio.

És uma estrela tão alta,
brilhando no firmamento,
que a minha canção exalta
no calor do sentimento.

Eu caminho lentamente
pelas areias do mar,
debaixo do sol ardente
que descamba devagar...

Eu levo a vida cantando
minhas trovas e canções;
só assim vou afastando
mágoas e desilusões.

Eu te esperei tantos anos,
até não conseguir mais
agüentar os desenganos
que o teu desprezo me traz.

Faze da trova teu lema
com grande satisfação
e terás em cada tema
um motivo de emoção.

Não façamos desta vida
um motivo de revolta;
nesta estrada sem saída
é tão difícil a volta.

Não há mentira mais louca
da que sai do coração,
pois a que nasce da boca
quase sempre é pretensão.

Nesta manhã radiante
de sol claro e resplendente,
por seres tão inconstante,
me deixas tão descontente...

Nosso amor já teve fim,
pois não esteve ao alcance
o que você quis de mim
pra ter sucesso o romance.

O amor de quem não desiste,
seja forte, seja brando,
há de permanecer triste
que nem flor que vai murchando.

O amor platônico vive
em minhas trovas também;
foi um que uma vez eu tive
e não me fez muito bem.

O amor tem prazer e pranto,
também mágoas e carinhos;
pois assim sendo, portanto,
não há rosas sem espinhos!

Para esquecer-te procuro
me envolver na multidão,
mas não me sinto seguro
e retorno à solidão.

Pelo amor sempre sonhado
e nunca correspondido,
vou cantar um verso alado
pra que chegue ao teu ouvido.

Penso em ti quando a saudade
me visita de surpresa
e na minha soledade
recordo a tua beleza.

Perdido em divagações
sento à beira do caminho,
como se as recordações
não me deixassem sozinho.

Quando te vejo sorrindo,
não consigo disfarçar,
este desespero infindo
de não poder te beijar.

Se amei e fui preterido,
pouco me importa até quando,
pois não me dou por vencido
e continuo te amando.

Se tens amor não o escondas,
proclame-o para quem é;
as paixões são como as ondas
que aproveitam a maré.

Trovas de amor e saudade
trazem mil temas diversos,
mas predomina a amizade
nascendo de tantos versos...

Tu me procuras sorrindo
e te recebo contente,
como se fosse surgindo
um novo amor de repente!

Vida de amor e saudade,
que junto com nossos sonhos,
também traz a realidade
e momentos enfadonhos.

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Fonte:

O Autor

1ª Oficina de Redação no Ponto de Leitura de Itu


O Ponto de Leitura de Itu - Biblioteca Comunitária Prof. Waldir de Souza Lima - realizará todas as quartas-feiras, das 18h30 às 21 horas, a partir de 15 de setembro, a 1ª Oficina de Redação. O curso é gratuito e o público alvo são estudantes de Ensino Médio de escolas públicas (normal, técnico e supletivo), porém as inscrições estão abertas a toda a população.

Serão onze encontros durante os meses de setembro a dezembro, com encerramento previsto para o dia 08 de dezembro.

Durante o curso os participantes irão trabalhar com o acervo da biblioteca comunitária nos seus diversos formatos: dicionários, livros, revistas, jornais, fanzines e cordéis. Será dada ênfase à produção literária contemporânea e reflexões sobre temas do cotidiano, nas variadas formas de expressão literária: descrição, narração, dissertação e outras. Por meio de exercícios e técnicas de leitura e escrita os participantes serão estimulados a criar textos em diversos formatos, tanto individuais como coletivos.

A oficina será coordenada por José Renato Galvão, graduando em Letras pela UNIP e voluntário da biblioteca comunitária. O limite é de 30 vagas, sendo 20 para estudantes de escolas públicas e 10 para o público em geral. A idade mínima é de 14 anos. Para se inscrever é necessário informar nome, endereço e documento de identidade (RG).

As inscrições podem ser feitas pelo e-mail bibliotecacomunitariaitu@gmail.com , pelo telefone (11) 8110.3598 ou pessoalmente (apenas aos sábados) na biblioteca, que fica na rua Floriano Peixoto, 238, Centro, Itu.

SERVIÇO

1ª Oficina de Redação

ONDE
: Ponto de Leitura de Itu - Biblioteca Comunitária prof. Waldir de Souza Lima - Rua Floriano Peixoto, 238, Centro, Itu.

QUANDO: A partir de 15 de setembro de 2010, às quartas-feiras, das 18h30 às 21 horas.

QUANTO: atividade gratuita.

INSCRIÇÕES: (11) 8110.3598, bibliotecacomunitariaitu@gmail.com ou pessoalmente no local (apenas aos sábados das 9 às 18 horas).

Fonte:
Biblioteca Comunitária prof. Waldir de Souza Lima

domingo, 29 de agosto de 2010

A. A. de Assis lança Trovia n. 129 – setembro de 2010


Você pode adquirir este número no site: https://sites.google.com/site/pavilhaoliterario/Home
ou fazer o download diretamente em
https://sites.google.com/site/pavilhaoliterario/Home/TROVIAmaring%C3%A1n129setembro2010.pdf?attredirects=0&d=1
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Paraná em Trovas
Se alguém se torna importante,
por certo alguém o ajudou.
Mesmo o Amazonas, gigante,
de afluentes precisou.
A. A. de Assis
Pela ambição do poder,
até guerra o homem faz.
Traz a morte por não ver
que o poder está na paz.
Adélia Woellner
A vida é dura, patrão,
rarissimamente bela...
Porém não há solução
senão conviver com ela.
Antônio da Serra
Por medo de te perder,
não errei – pobre aprendiz!
– Não soube me conceder
o risco de ser feliz...
Jeanette De Cnop
Quem tem sonhos hoje em dia
nunca perca a esperança.
Diz velha sabedoria:
Quem espera sempre alcança.
José Feldman
Primeira noite... pijama,
camisola de babado...
Ela acordada na cama,
tudo o mais... desacordado!
Lucília Decarli
Em algo simples se encerra
raro prazer e emoção:
O cheiro que exala a terra
quando a chuva cai no chão.
Olga Agulhon
E’ dia sim, dia não...
Dia anão?... Ou dia assim?...
Sei lá... mas que confusão!
O jeito é rimar com “fim”...
Osvaldo Reis
Vai trolinho carruagem...
todo mundo atrás do trem!
Vou logo comprar passagem
para encontrar o meu bem...
Renato Leite Goetten
Eu não troco o meu feitiço
por um feitiço qualquer;
meu charme eu não desperdiço:
meu feitiço é ser mulher!
Roza de Oliveira

Nos acordes da poesia,
versos de muito valor
traduzem a nostalgia
do peito de um trovador.
Sônia Ditzel Martelo
Meu tempo tornou-se esparso...
Por mais que eu tente retê-lo,
nem com tintura eu disfarço
o cinza do meu cabelo...
Vanda Alves

Nas curvas da caminhada,
tento a paisagem mudar.
Se não pode ser mudada,
mudo meu jeito de olhar!
Vanda F. Queiroz
Eu sonho no meu viver
e vivo no meu sonhar...
Na saudade o reviver,
no presente o caminhar...
Vidal Idony Stockler

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além destas, muitas outras de diversos estados e Portugal podem ser encontrados na Revista Virtual de Trovas Trovia n. 129, setembro de 2010 em https://sites.google.com/site/pavilhaoliterario/Home

Efigenia Coutinho (A Poetisa e sua Poesia)


RECOMEÇAR

Na ousadia de recomeçar a Vida
eu tentaria refazer meus sonhos
tornando-os ainda mais grandiosos!...
Embelezando ainda mais a vida!

Porque os sonhos são infindos
sem opressão, sendo mais formosos
depois que se conhece e vive o Amor
como um salmo do próprio amor!

Nada mais grandioso que um Lacre
entre duas almas solidamente selado
do mesmo ideal do sonho encantado!

Não padeças se achares meu coração
triste, mas fique triste e desolado
se não encontrares o meu coração!

TEUS AIS

Por noites de esplendor e exaltação
desfrutávamos dos sonhos o alento!
Ainda, inquietação em mim provocas
Transmutando desejos com alento!...

Ao arrebatamento íntimo a caricia
Dos teus anelos sentindo na memória
Que retorna deixando-me enleada
Somente em recordar a nossa estória:

Duas almas enamoradas juntas,
reencontros pelas escritas
Não há todavia como esquecer!

Neste tempo, magia e rituais
da paixão, na derradeira cavalgada
você vinha, com vinho e teus ais!...

TEMPESTADE

Por essa pupila luzente e molhada,
um enigma sacro soberbo de ternura,
vem pela ampla noite de gozo e loucura
estende-se, quente e perfumada.

É por onde ansioso olhar alucinado,
embebe-se da noite espessa,
rompendo dela uma voz em cruz,
chega murmurando cânticos de Luz.

Parece a voz dos Anjos, com teu olhar
falando, murmuras sonhos a completar,
contando todas as histórias de Amores.

E chegas por ela, qual divindade sorrindo,
por silfos de sonhos de volúpia, ao enredo
duma Tempestade de Risos e Lágrimas!

CORAÇÃO

Conheço um coração, onde elevado sonho,
qual filho de um rei, dono de império vasto,
entre galas se alojou. E, cercando-o risonho,
um bando de ilusões mais lhe aumentava o fasto!

Contemplando-o agora, dolorido e tristonho,
por querer palmilhar do ideal o augusto rasto
sem de todo o lograr, a animá-lo me ponho,
para que não se abata o golpe tão nefasto!

Portanto, à veemência que ele se vai despindo
de um manto santeiro, acetinado e lindo,
e enverga de vagar vestes faltas de brilho...

As minhas lágrimas de dor, eu vou contendo,
e em bom tom digo: volta ao meu coração,
dentro dele você hospedou tua canção!...

TERNURA MATINAL

Na manhã, o sonho terno
lá longe em outro mar,
alguém me causa clamor
sem contudo me alcançar.

Uma brisa de desejos
sobe mansa,vem chegando,
borrifando aroma delicado
de sonhos enamorados...

Seria comigo o sonho dele
ou eu que sonho com ele
pelas noites de luar!...

A vida pulsa ardente, longe...
chegando-me por tuas
mãos lençóis de Ternuras!

CONFIDÊNCIAS

Se existe algum segredo
sem medo ou receio dar
a cada dia novo sentido
no amor que sentimos...

Não sendo egoísta, onde
tudo arrisca ,vem até mim.
aroma delido de jasmim
pela espessa romaria...

Acolhe em teu peito
sorve os rumores que
brado, sentindo o feito!

Pode ser loucura o lume
somente desejaria
que este se consume!...

CORAÇÃO DE CRISTAL

Tenho um coração de Cristal,
minha fonte pura de magia;
rei de minhas noites de luar
aos tons suaves duma cantoria.

Fonte cristalina que vida encerra,
com sua luz engravida a terra,
de todo bem que em ti alcança
o sonho, se imortalize a senda!

Vem em mim amoroso sonho
ânsias infinitas, olor e desejo
palpitando rumores - teu beijo!...

Ó fonte cristalina que corre cheia,
que eu me desmanche alva e sonora
em teu coração, por dentro e por fora!

UM ACENO

Um aceno, e a terna recordação.
Na tua presença, sigo pela Vida
A cada segundo,tua imagem querida
Faz um ninho dentro do meu coração!

Vem um bailado por tuas mãos
Envolvendo uma suave atração
Não tem como conter o sonho
Esse murmurar cheio de afeição.

Clamo céus, que possam me dar
Tua presença eterna para sempre
Que, em minha alma vem acalentar!

Por este teu carinho resplandecente
Juntos, perpetuaremos, iremos exultar
Por infinitos reencontros premente!...

QUANDO ANOITECE

Quando anoitece gosto de te sentir
meu corpo colado ao seu,docemente
acolhemos o amor que é presente
esse contentamento que enternece

Hospedada em ti, teu corpo me aquece
sublimando, são momentos de desejos
ardentes, colados, ficam nossas peles
somos tu e eu exaltar numa prece...

Queridas são tuas mãos em mim
caricias que enaltecem o interior
amor ardente, é pecado Amar assim!

Quando me beijas e me mordes infindo,
é magia e loucura sem ter fim, extenso
é teu gemido do meu prazer sentido!

AMOR INFINITO

Dos sonhos e ilusões, os tons
mais azuis, se é verdadeiro o
Amor com que me queres, tornando-me
a primeira entre todas as Mulheres!

Eu nada mais desejo neste mundo, sendo
senhora de um afeto tão profundo,
certo suportarei as horas duras,
ditosas e altivas até nas amarguras!!!

Que na poesia fecundem todos os Mistérios
e inflame a rima clara e ardente, que
brilhem sonoramente, luminosamente...

O Amor, constelamento Puro, em suas
formas claras, fluídas e cristalina!
Amor que repurifica, canta Paz Infinita!

Fonte:
http://www.avspe.eti.br/coutinho/sonetos_efigenia.htm

Efigenia Coutinho


Nascida em Petrópolis-RJ, cresceu em São Paulo-SP, e na caminhada da vida, morou no Rio e Janeiro-RJ, Florianópolis-SC e atualmente vive em Balneário Camboriu-SC.

Formada em Artes, se especializou em Tapeçaria de TEAR, buscando os seguimentos Indígenas e sua História Natural,tendo participado de várias exposições.
Em 1977 foi residir em Florianópolis SC, e há três anos mudou-se para Balneário Camboriú -SC - 1999 -

A poesia surgiu em minha vida ainda nos sonhos de adolescente, quando menos esperava , lá estava eu com o papel e a caneta na mão, extravasando a minha emoção...Com o passar dos anos, acho que fui me perdendo, esquecendo de como era gostoso embarcar nesta viagem.

Não segui carreira ligada ao mundo das letras, e pouco conhecimento tenho de Literatura. Escolhi Artes como profissão, mesmo sem haver retorno financeiro, pois nada se compara aos tesouros da alma.

Este dom maravilhoso de escrever ficou hibernado durante muitos anos, e como na vida nada acontece por acaso, foi em um desses acasos, na paixão, que ressurgiu a poetisa. Percebi que existiam em mim sentimentos que extasiavam meu coração, mas a única forma de vivenciá-los era através de palavras. Meu estilo preferido é o
lírico, onde escrevo sobre as inquietações do coração, mas também adoro o erotismo, estimula a minha libido.

O incentivo para continuar a escrever surgiu em Junho/1989, quando tive uma das minhas poesias, editada pelo grande poeta VALDEZ, para divulgar o meu trabalho em seu Site.

Fontes:
http://www.avspe.eti.br/efi/efigenia.html
http://www.nadirdonofrio.com/biografia_efigenia_coutinho/biografia_efigenia_coutinho.htm

Lígia Antunes Leivas (Teia de Poemas)


QUANTAS VEZES QUIS TE DIZER...
PAIXÃO

Quantas vezes quis te dizer "Te amo!"
Não sei por que dobrei essa vontade.
Não sei por que guardei essas palavras.
Nem sei por que tanto adiei esse dizer
que tão feliz faz quem o declara calmamente!
Estranho... talvez não possas entender tão fácil
(assim também comigo acontece)
mas já naquela primeira frase
que me escreveste tão desinteressadamente
fascínio intenso assomou-me inteiramente...
o coração e todos os melhores sentimentos
(eu os senti no entusiasmo do meu viver)
Sim!... Como foi bom! Foi como pensei
devesse ser o verdadeiro amor:
contemplação, ardor, arrebatamento
carinho mel, enlevo céu, doce afeição
sentidos e aquerenciados
sem qualquer presença além da imaginação.
Sei... neste 'ser mais ser' vivi o pranto, a dor,
senti o coração sofrido...
transparente, porém... muito mais bonito!
Nenhum silêncio foi suficientemente forte
para constranger tão fiel amor
que a ti dediquei sem nada pedir em troca.
Sim! Este amor que hoje ainda tanto se propaga
e que não cansa de andar por todo meu ser
me faz feliz mesmo que por todo lado
com ele - tão calado - eu sempre ande!

Teu - desconhecido(?) - amor

NAMORADO

Veio chegando junto com a juventude
Veio sorrateiro, disfarçado, de mansinho
E eu cuidava nos olhos seus o sorriso
e em sua boca eu buscava todo riso

Algo invisível (não sei se era o silêncio)
dizia-me muito... tudo que meu coração queria
e eu o seguia, espreitava-o em cada canto
e nesse jeito ia encantando todo meu dia

Passou o tempo, a hora, cada momento
e no meu peito foi brotando um sentimento
que era mel (não era fel!...) era começo
de um amor que igual até hoje desconheço!

Ah! mas veio o destino, a sina e não sei mais
Ele se foi... pra onde? ...não soube jamais
Voltou a vida em seus caminhos na calçada
e aqui fiquei... às lembranças abraçada.

CARÍCIA MANSA NO HORIZONTE DE MUITOS SILÊNCIOS

A tarde começa calma... uma carícia mansa diante de um horizonte
de muitos silêncios que aparentam guardar expectativas que, de verdade, estão mesmo é dentro de nós.
Me acomodo na varanda da casa (... da casa ou do mundo?)
Aqui é meu mundo, a intimidade de mim mesma e tudo mais que vive em mim.
De onde estou descortina-se um horizonte sem fim, me parece. Não faço a menor idéia se ele termina logo ali ou não: onde o fim? onde o limite? ...Infinito!
Mar, areia, certa aragem. Alguma coisa de um sol tímido aparece de vez em quando pra me dizer que a luz não sumiu totalmente. De repente, uma rajada de vento atira montes de folhas da goiabeira que já pressente o ar outonal chegando.
Aqui me derramo... a mim mesma e tudo mais que existe em mim... meu próprio recolhimento, meus subterrâneos, meu sentimento. Cato
presságios que dominam o ar, este estado de ficar refletindo sobre, enfim, o que é 'estar no mundo'. Mas não... Hoje não dá. Não me arrisco a fazer rodar a manivela da tristeza. Deixa pra lá, deixa pr'amanhã... ou sei lá pra quando, pra onde...
Afinal, é Sexta-Feira da Paixão!
ELE morreu...
Nós estamos vivos no mundo... infinito!

QUISERA SER PÁSSARO SEM TER DE DIZER 'ADEUS'

Pelo vidro da janela, a paisagem viaja embaçada.
(- ... meus olhos marejados? - ou o vidro esfumaçado?)
Afinal,em que destino embarquei ao entrar por esta porta?

Já não sei mais nada... Já faz tempo demais...

No bilhete que ficou, jaz uma única palavra.

Quisera eu que nenhuma saudade me afligisse.
Quisera ser pássaro sem ter de dizer 'adeus'...

QUANDO O AMOR SE DESPEDE

"Adeus!", dissemos... nunca mais nos vimos
Nem mesmo nos procuramos sequer...
Permutamos olhares... tantos mimos!!
(Ele? Garoto sem plano qualquer.)

Menina eu (quando nos despedimos),
Jamais supunha um dia ser mulher
Para ter prova do que nós sentimos,
Mesmo sabendo o que o amor requer.

Hoje sozinha aqui, vou refletindo
E concluo que mesmo ele partindo,
Foi puro o nosso amor... quase fraterno.

Pois sem a dúbia sensação carnal,
A nossa união foi divinal
E fez nosso amor tornar-se eterno.

SOB O MESMO CÉU

Por muito tempo fiquei sem prumo
perdida e só não distinguia o rumo
e sobre mim, silencioso e triste,
prostrou-se o mal, quase punhal em riste.

Jamais julguei ter a paixão assim
motivo (in)justo de impor-se um fim
eis que quem ama humanamente o faz
sem nem pensar que tudo se desfaz.

Se a distância, o não-encontro, a dor
se o calvário deste louco amor
nos impediram a vida sob um mesmo teto,

se o chão não temos, se tudo é dissabor,
(por Deus!)temos estrelas, um céu compensador
a nos cobrir com a vastidão do afeto.

Fontes:
http://www.ligia.tomarchio.nom.br/ligia_amigos_ligialeivas.htm
http://www.avspe.eti.br/sonetos/LigiaAntunesLeivas.htm

sábado, 28 de agosto de 2010

Orlando Brito (1927 - 2010)

Orlando Brito era natural de Niterói-RJ, onde nasceu aos 27 de novembro de 1927, filho de Amaro Brito e de Irma Denti Brito.Residiu em Pindamonhangaba de 1966 a 1975, sendo diretor da Tribuna do Norte e do jornal Sete Dias (extinto). Foi redator do Diário de Pindamonhangaba e correspondente do jornal 'Agora', de São José dos Campos. Também em Pinda, foi membro do Lions Clube e exerceu grande atividade artística, participando de muitas atividades culturais da cidade.

Notabilizou-se como trovador, tendo merecido capítulo especial no livro 'Nós os Trovadores', do escritor e poeta Eno Teodoro Wanke, editado em 1991, no Rio de Janeiro. É citado no Dicionário de Poetas Contemporâneos, de Francisco Igreja, e em várias antologias e coletâneas de trovas. Autodidata, publicou os livros seguintes: 'Lua de sonho' - trovas (1958), 'Cantigas de ninar tristezas' - trovas (1962), 'Viola de marinheiro' - trovas (1991), 'Cantigas do céu e da terra' - trovas (1992). 'Esta vida é uma graça' - trovas (1994), 'Sonetos' (1996), 'Ruas de São Luís' - poesia (1998).

No estilo cordel, publicou: 'O estranho amor de um médico por um esqueleto' (1987), 'Os lírios do professor' (1988), 1ª Canção de Eleusa' (1989), 'Histórias de Silvestre, o pintor vaidoso' (1991), 'Coxinho, dono dos bois' (1991), 'Viola fuxiqueira' (1994). Em 1986, uma indústria do Maranhão publicou um livro dele que foi considerado de utilidade pública: 'Normas de Prevenção de Acidentes de Trabalho'.

Provavelmente, houve outras publicações de Orlando após 2001, data em que Francisco Piorino publicou o valioso 'Biografias' contendo dados de todos os membros da Academia Pindamonhangabense de Letras e os patronos de suas respectivas cadeiras. Orlando Brito era acadêmico titular da APL, ocupava a cadeira nº 9

Fonte:
http://www.tribunadonorte.net/noticias.asp?id=6097&cod=4&edi=128

Orlando Brito: Uma Eterna Saudade


(artigo de José Valdez de Castro Moura, para a Tribuna do Norte, seção Cultura e Lazer)

Orlando Brito, um dos maiores trovadores do Brasil, que teve marcante atuação intelectual na década de 70 aqui em Pindamonhangaba, um mestre na arte de trova, já não está entre nós. Faleceu na madrugada do dia 21 de agosto em São Luiz do Maranhão. Publicou vários livros de trovas e poesias, entretanto, um dos livros de poesias mais elogiados no meio literário nos últimos anos é uma bela obra de sua autoria, obra marcada pelo lirismo, pelo uso da linguagem simples e correta e, sobretudo, pela inspiração dos temas cujo título é "Sonetos".

A poesia de Orlando Brito caracteriza-se, acima de tudo, por um profundo humanismo, no conteúdo e na forma, e por uma simplicidade impressionante. Ele é o artista ciente e consciente das virtualidades expressivas de seu instrumental: o verso espontâneo e o idioma pátrio, mostrando o mundo com o poder sintético das imagens, metáforas, onde o intimismo, a ternura, o amor e a nostalgia dos entes familiares e amigos queridos constituem os "leit - motivos" do seu mundo poético. E, é o que apreciamos nesse soneto simples e magistral:

MINHA MÃE

Minha mãe era quase analfabeta,
quase nada sabia de leituras,
mas tinha o instinto dessas almas puras
que sabe, entre as ações, a mais correta.

Criou dez filhos, boas criaturas,
fiéis a Deus, de educação seleta.
Sabia ser valente ou ser discreta
nos momentos de dor, nas horas duras.

Os filhos, todos eles são felizes,
pois ela, não deixando coisa alguma,
deixou, com seu exemplo, as diretrizes.

Uns herdaram seus olhos, outro, a calma,
outro, seu jeito simples, mas, em suma,
fui o mais bem- dotado- herdei-lhe a alma!

Como verdadeiro Poeta, Orlando Brito tinha consciência de que toda poesia é um ato de assombro que conduz às paragens da filosofia, espantando-se ante as belezas do universo e aterrorizando-se perante o sofrimento humano. Assim, estabelecendo a dialética: emoção diante da beleza e indignação ao conscientizar-se da dor humana, constrói o seu ato poético, conduzindo-o à altura do ato filosófico. E, o nosso poeta Orlando mostra isso, muito bem, nos sonetos : "A Última Árvore ", "A Voz da Terra" e "O Rio ". Por outro lado, os objetos que o impressionam são comuns: as gaiolas, as pombas, os amigos que foi encontrando ao longo do caminho, a montanha...

As sensações que o fazem pulsar são, portanto, as do cotidiano: "o vento que passa", o "palhaço" que, no seu desejo," abra, a quem chora, a porta da esperança, e não permita que a maldade apague o sorriso nos lábios de uma criança".
Em uma análise sucinta, vamos desvelar um poeta em que o poema é a consubstanciação perfeita entre o viver e o cantar (como me confessou, certa vez, outro grande poeta, o Mestre da Trova: Waldir Neves, nosso amigo fraterno) entre sofrer vivendo e sofrer cantando.

O nosso estimado Orlando Brito teve o talento e o gênio dos grandes poetas líricos, que apresentam resistência à passagem do tempo, possuindo domínio da forma e, ao mesmo tempo, trazendo consigo uma fantástica agilidade criadora que lhe dão amplas condições de passar de um estado a outro, de uma inspiração a outra, sem afundar nos lugares comuns.

Platão, no Fedro, assim se referiu ao êxtase vivenciado pelos Aedos, poetas da antiga Grécia: "A possessão e o delírio das musas apoderam-se de uma alma sensível, despertam-na e extasiam-na em cantos". É o que acontecia com o inesquecível Orlando Brito. Para deleite nosso e para o maior enriquecimento da poesia Brasileira!

Orlando Brito foi cantar nas paragens celestiais levando consigo as flores da nossa admiração e da nossa eterna saudade.Com a sua partida o mundo,com certeza, ficou mais pobre.

Fonte:
http://www.tribunadonorte.net/noticias.asp?id=6096&cod=4&edi=128

Carlos Drummond de Andrade (Livro de Poemas)


AO AMOR ANTIGO

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

A RUA DIFERENTE

Na minha rua estão cortando árvores
botando trilhos
construindo casas.

Minha rua acordou mudada.
Os vizinhos não se conformam.
Eles não sabem que a vida
tem dessas exigências brutas.

Só minha filha goza o espetáculo
e se diverte com os andaimes,
a luz da solda autógena
e o cimento escorrendo nas formas.

A FOLHA

A natureza são duas.
Uma,
tal qual se sabe a si mesma.
Outra, a que vemos. Mas vemos?
Ou é a ilusão das coisas?

Quem sou eu para sentir
o leque de uma palmeira?
Quem sou, para ser senhor
de uma fechada, sagrada
arca de vidas autônomas?

A pretensão de ser homem
e não coisa ou caracol
esfacela-me em frente à folha
que cai, depois de viver
intensa, caladamente,
e por ordem do Prefeito
vai sumir na varredura
mas continua em outra folha
alheia a meu privilégio
de ser mais forte que as folhas.

BEIJO-FLOR

O beijo é flor no canteiro
ou desejo na boca?
Tanto beijo nascendo e colhido
na calma do jardim
nenhum beijo beijado
(como beijar o beijo?)
na boca das meninas
e é lá que eles estão
suspensos
invisíveis

CANÇÃO AMIGA

Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.
Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.
Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.
Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.
Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.

CIDADEZINHA QUALQUER

Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar...as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.

DIANTE DE UMA CRIANÇA

Como fazer feliz meu filho?
Não há receitas para tal.
Todo o saber, todo o meu brilho
de vaidoso intelectual

vacila ante a interrogação
gravada em mim, impressa no ar.
Bola, bombons, patinação
talvez bastem para encantar?

Imprevistas, fartas mesadas,
louvores, prêmios, complacências,
milhões de coisas desejadas,
concedidas sem reticências?

Liberdade alheia a limites,
perdão de erros, sem julgamento,
e dizer-lhe que estamos quites,
conforme a lei do esquecimento?

Submeter-se à sua vontade
sem ponderar, sem discutir?
Dar-lhe tudo aquilo que há
de entontecer um grão-vizir?

E se depois de tanto mimo
que o atraia, ele se sente
pobre, sem paz e sem arrimo,
alma vazia, amargamente?

Não é feliz. Mas que fazer
para consolo desta criança?
Como em seu íntimo acender
uma fagulha de confiança?

Eis que acode meu coração
e oferece, como uma flor,
a doçura desta lição:
dar a meu filho meu amor.

Pois o amor resgata a pobreza,
vence o tédio, ilumina o dia
e instaura em nossa natureza
a imperecível alegria.

"EU HOJE JOGUEI TANTA COISA FORA...."

Não importa onde você parou...
em que momento da vida
você cansou...
o que importa
é que sempre é possível
e necessário" recomeçar".
Recomeçar é dar
uma nova chance a si mesmo...
é renovar as esperanças
na vida e o mais importante...
acreditar em você de novo.
Sofreu muito nesse período?
foi aprendizado...
Chorou muito?
foi limpeza da alma...
Ficou com raiva das pessoas?
foi para perdoá-las um dia...
Sentiu-se só por diversas vezes?
é por que fechaste
a porta até para os anjos...
Acreditou
que tudo estava perdido?
era o indício da tua melhora...
Pois ...agora é hora de reiniciar... de pensar na luz...
de encontrar prazer
nas coisas simples de novo.
Que tal um novo emprego?
Uma nova profissão?
Um corte de cabelo
arrojado... diferente?
Um novo curso...
ou aquele velho desejo
de aprender a pintar...
desenhar...
dominar o computador...
qualquer
outra coisa...
Olha quanto desafio...
quanta coisa nova
nesse mundo de meu Deus
te esperando.
Está se sentindo sozinho? besteira...
tem tanta gente
que você afastou
com o seu período de isolamento
tem tanta gente esperando
apenas um sorriso teu
para "chegar" perto de você.
Quando nos trancamos
na tristeza...
nem nós mesmos nos suportamos...
ficamos horríveis...
o mal humor
vai comendo nosso fígado...
até a boca fica amarga.
Recomeçar...
hoje é um bom dia
para começar
novos desafios.
Onde você quer chegar?
ir alto...
sonhe alto...
queira o melhor do melhor...
queira coisas boas para a vida...
pensando assim trazemos
prá nós aquilo que desejamos...
se pensamos pequeno...
coisas pequenas teremos...
se desejarmos fortemente
o melhor e principalmente
lutarmos pelo melhor...
o melhor vai se instalar
na nossa vida.
É hoje o dia da faxina mental...
joga fora tudo
que te prende ao passado...
ao mundinho de coisas tristes... fotos...
peças de roupa...
papel de bala...
ingressos de cinema...
bilhetes de viagens...
e toda aquela tranqueira
que guardamos
quando nos julgamos apaixonados...
jogue tudo fora...
mas principalmente...
esvazie seu coração...
fique pronto para a vida...
para um novo amor...
Lembre-se somos apaixonáveis...
somos sempre capazes
de amar muitas
e muitas vezes...
afinal de contas...
Nós somos o "Amor"...
––––––––––––––––––––––––-

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Livro de Poesias
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/04/carlos-drummond-de-andrade-livro-de.html
A casa do tempo perdido
A Corrente
A Lebre
Fim
Importância da escova
Lembrança do Mundo antigo
Pavão
Quero me casar
Sentimental

Antologia Poética
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/02/carlos-drummond-de-andrade-antologia.html
A Falta de Érico
A palavra mágica
A poesia (não tires poesia das coisas)

Poesias Além da Terra, Além do Céu
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A bruxa
A hora do cansaço
Alem da terra, além do céu
As sem razões do amor
Cantiga de Viúvo
Confidência do Itabirano
Memória
O amor bate na porta
O Tempo passa? Não passa
Poema patético

Campo de Flores – análise da poesia
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/12/carlos-drummond-de-andrade-campo-de.html

Caso Pluvioso
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Os Ombros Suportam o Mundo
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José
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Mãos Dadas
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Certas Palavras
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Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) – Biografia
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Ivan Jaf (A Gata Apaixonada)

Ilustração: Andréa Ebert
Quando perguntam como é que eu consegui sair com a Carla, eu respondo que foi por causa do Aldemir Martins. O pintor famoso.

Eu estava, tranqüilo, estudando. Juro. Lá pelas 3 da tarde o telefone tocou. Era ela, a vizinha da casa 3.

A mãe morreu há uns quatro anos. O pai é superciumento, não a deixa satir de casa nunca.

– Oi, Rodrigo... Você tem um gato grande, malhado?

– Tenho. O nome dele é Sorvete.

– Sorvete?

– Quando a gente encosta a mão, ele se derrete todo.

– Ele briga com a minha gata, a Tati. Já aconteceu várias vezes. Acho que é ciúme.

– De outro gato?

– Não. De um quadro. Uma pintura. Do Aldemir Martins.

Dez minutos depois eu estava na sala da casa dela. Só nós dois.

– Você vai ver – ela disse.

– É sempre na mesma hora. Já ouviu falar do Aldemir Martins?

– Já. É um pintor famoso pra caramba. Mora aqui em São Paulo.

– Morava. Morreu há pouco tempo. Minha mãe era apaixonada pela pintura dele. Ele ilustrava livros, revistas, jornais... Pintava cangaceiros, galos, passarinhos, peixes...

– Tô sabendo. Desenhava até rótulos de maionese, de vinho...

– Minha mãe comprava tudo que podia. A gente comia em pratos desenhados por ele, tinha lençóis, tapetes, cortina de banheiro...

Carla me levou pra um canto da sala. Em cima de uma imitação de lareira, havia uma tela do Aldemir Martins, pequena, com o desenho de um gato. Um gato gordo, vermelho e azul, um focinho enorme, mostrando as garras, sedutor, os olhos verdes calmos, hipnóticos.

– Minha mãe adorava esse quadro.

Então ela me puxou pra trás de uma cortina pesada, que cobria a vidraça que dava pro jardim.

Tati entrou na sala. Pulou pro beiral da falsa lareira e parou em frente ao quadro, olhando pro gato pintado. Ficamos assim uns 20 minutos, escondidos, calados. Até que ele apareceu. O velho Sorvete. O gato mais descolado do pedaço. Veio gingando, passou entre os móveis, parou na frente da lareira, olhou pro alto e não gostou nada do que viu.

Carla segurou no meu braço.

Sorvete pulou pro beiral.

Briga de gato é mais rápido que videogame. Tati pulou, atravessou uma janela aberta e fugiu pro jardim, com o Sorvete atrás.

– Minha mãe dizia que um artista é capaz de recriar a vida. Se Deus existe, com certeza é um artista. Mas acho que você vai ter de trancar o Sorvete em casa, Rodrigo. Não gostei daquilo.

– Não, Carla. A gente encontra outro jeito. Pra mim as pessoas, os bichos, qualquer coisa que se mexa... têm de ter liberdade. Têm de ter uma janela aberta.

– Mas o Sorvete é meio selvagem...

– Isso. É assim que eu gosto dele. Eu também sou meio selvagem. Sabe o que eu faço? Eu como o tomate inteiro. Eu não fico esperando a minha mãe partir e colocar na salada!

Ela riu. Não sei de onde eu tirei essa história do tomate. Aí me empolguei, e ia dar mais exemplos de como eu era selvagem, mas a cortina se abriu de repente e o pai dela apareceu.

O cara ficou nervoso, quase chamou a polícia, mas depois a gente explicou, ele se arrependeu e acabou até deixando a filha sair comigo.

Eu e a Carla estamos namorando. Juro.
==================
Mais sobre Ivan Jaf
Biografia
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/01/ivan-jaf-1957.html
Entrevista
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/01/ivan-jaf-o-escritor-em-xeque.html
Livro: O Vampiro que Descobriu o Brasil
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/01/ivan-jaf-o-vampiro-que-descobriu-o.html

Fonte:
Revista Nova Escola. abril de 2007

Ialmar Pio Schneider ( Baú de Trovas VI)


A cigarra e a formiga,
pelo destino do amor:
uma executa a cantiga,
outra executa o labor.

A manhã surge radiante,
envolvendo de esplendor,
na alegria contagiante
toda a natureza em flor.

Consegues viver sozinha,
enfrentando a solidão?!
Recorda que “uma andorinha
sozinha não faz verão...”

Deixa-me ficar sonhando
em meu mundo de ilusão,
pra que vá me acostumando
a viver na solidão.

De tudo o que já perdi,
nada me causa mais dor,
do que estar longe de ti
e viver sem teu amor!

Enfrentar alegremente
as incertezas da vida,
é a maneira inteligente
de tardar a despedida.

Entre amar e ser amado,
eu não sei o que é melhor;
porém, viver desprezado,
é, sem dúvida, o pior!

Eras bonita... Eu tão feio...
mas nos queríamos tanto,
que num mesmo devaneio
nos amamos por encanto...

Mágoas de amor não tem preço:
tudo pode acontecer;
um final sem ter começo,
impossível entender...

Mas antes que a chuva caia,
prefiro sentir o vento
levantando a tua saia
para meu contentamento.

Mistura de mágoa e tédio,
esta carência de amor;
e se tomo algum remédio
mais aumenta minha dor.

Não sei se devo olvidar-te
ou ficar nesta ansiedade;
pois te encontro em toda parte,
vivendo em minha saudade...

Não sei se foi desagrado,
ou talvez ingratidão,
este punhal afiado
ferindo meu coração...

Neruda... Grande Neruda,
da “Canção Desesperada”,
careço de tua ajuda
pra cantar a minha amada!

O amor daquele que chora
por ter sido desprezado,
não tem jeito de ir embora,
fica no peito guardado.

O amor, sem paz nem sossego,
também merece louvor;
mas se não traz aconchego,
impossível ser amor.

Pelas trovas benfazejas
que solitário componho,
peço que ditosa sejas
e concretizes teu sonho.

Pelos momentos vividos
longe de ti que me encanta,
meus soluços reprimidos
vão morrendo na garganta.

Porque já chegou o outono
e foi embora o verão,
vou ficando no abandono
e minhas folhas cairão...

Por te querer me atormento
e de te amar não desisto;
para tanto sofrimento,
antes não te houvesse visto.

Por viver apaixonado
me chamam de sonhador;
porém, se amar é pecado,
sou o maior pecador.

Quando em pensamento a beijo
não sinto felicidade,
porque, afinal, meu desejo
é beijá-la de verdade.

Quantas noites mal dormidas,
pensando em que não me quer;
são as ilusões perdidas
por causa de uma mulher!...

Quem ama por conveniência
não conhece a sensação
que causa em nossa existência
o fogo de uma paixão.

Se não puderes me amar,
eu acato teu direito,
embora fique a chorar
o coração em meu peito.

Sócia de dor é paixão,
sem ter reciprocidade,
porque nos traz ilusão
e nos deixa na orfandade.

Teu encanto me seduz
nas horas que te contemplo,
toda cercada de luz
qual uma deusa num templo.

Vai romper a madrugada
neste começo do outono,
e sem pensar mais em nada
quero me entregar ao sono...

Vou caminhando sozinho
pela estrada sem ninguém,
sinto falta do carinho
que já me fez tanto bem.

Vou fazer-lhe uma proposta,
pense bem no que lhe digo:
se disser que não me gosta,
quero ser só seu amigo!

Fonte:
O Autor

O Nosso Português de Cada Dia



1 - "Custas só se usa na linguagem jurídica" para designar despesas feitas no processo. Portanto, devemos dizer: "O filho vive à custa do pai". No singular.

2 - Não existe a expressão "à medida em que". Ou se usa à medida que correspondente a à proporção que, ou se usa na medida em que equivalente a tendo em vista que.

3 - 'O certo é " a meu ver" e não ao meu ver.

4 - "A princípio" significa inicialmente, "antes de mais nada": Ex: A princípio, gostaria de dizer que estou bem. "Em princípio" quer dizer "em tese". Ex: Em princípio, todos concordaram com minha sugestão.

5 - "À-toa", (com hífen), é um adjetivo e significa "inútil", "desprezível". Ex: Esse rapaz é um sujeito à-toa. "À toa", (sem hífen), é uma locução adverbial e quer dizer "a esmo", "inutilmente". Ex: Andava à toa na vida.

6 - Com a conjunção se, deve-se utilizar acaso, e nunca caso. O certo: "Se acaso vir meu amigo por aí, diga-lhe..." Mas podemos dizer: "Caso o veja por aí...".

7 - 'Acerca de' quer dizer 'a respeito de'. Veja: Falei com ele acerca de um problema matemático. Mas há cerca de é uma expressão em que o verbo haver indica tempo transcorrido, equivalente a faz. Veja: Há cerca de um mês que não a vejo.

8 - Não esqueça: alface é substantivo feminino. A Alface está bem verdinha.

9 - Além pede sempre o hífen: 'além-mar', 'além-fronteiras', etc.

10 - Algures é um advérbio de lugar e quer dizer 'em algum lugar'. Já alhures significa 'em outro lugar'.

11 - Mantenha o timbre fechado do o no plural dessas palavras: 'almoços', 'bolsos', 'estojos', 'esposos', 'sogros', 'polvos', etc.

12 - O certo é 'alto-falante', e não auto-falante.

13 - O certo é 'alugam-se casas', e não aluga-se casas. Mas devemos dizer precisa-se de empregados, trata-se de problemas. Observe a presença da preposição (de) após o verbo. É a dica pra não errar.

14 - Depois de ditongo, geralmente se emprega x. Veja: 'afrouxar', 'encaixe', 'feixe', 'baixa', 'faixa', 'frouxo', 'rouxinol', 'trouxa', 'peixe', etc.

15 - Ancião tem três plurais: 'anciãos', 'anciães', 'anciões'.

16 - Só use ao 'invés de' para significar 'ao contrário de', ou seja, 'com idéia de oposição'. Veja: Ela gosta de usar preto ao invés de branco. Ao invés de chorar, ela sorriu. Em vez de quer dizer em lugar de. Não tem necessariamente a idéia de oposição. Veja: Em vez de estudar, ela foi brincar com as colegas. (Estudar não é antônimo de brincar).

17 - Ainda se vê e se ouve muito aterrisar em lugar de aterrissar, com dois s. 'Escreva sempre com o s dobrado'.

18 - 'Não existe preço barato ou preço caro'. Só existe preço alto ou baixo. 'O produto, sim, é que pode ser caro ou barato'. Veja: Esse televisor é muito caro. O preço desse televisor é alto.

19 - Ainda se vê muito, principalmente na entrada das cidades, a expressão bem vindo (sem hífen) e até benvindo. As duas estão erradas. Deve-se escrever 'bem-vindo', sempre com hífen.

20 - Atenção: 'nunca empregue hífen depois de bi, tri, tetra, penta, hexa, etc'. O nome fica sempre coladinho. O Sport se tornou tetracampeão no ano 2000. O Náutico foi hexacampeão em 1968. O Brasil foi bicampeão em 1962.

21 - Veja bem: 'uma revista bimensal é publicada duas vezes ao mês', ou seja, 'de 15 em 15 dias'. 'A revista bimestral só sai nas bancas de dois em dois meses'. Percebeu a diferença?

22 - Hoje, tanto se diz 'boêmia' como 'boemia'. Nelson Gonçalves consagrou a segunda, com a tonacidade no mia.

23 - Cuidado: 'Eu caibo' dentro daquela caixa. A primeira pessoa do presente do indicativo assim se escreve porque o verbo é irregular.

24 - Preste atenção: 'o senador Luiz Estêvão foi cassado'. Mas 'o leão foi caçado' e nunca foi achado. Portanto, 'cassar' (com dois s) quer dizer tornar nulo, sem efeito.

25 - Existem palavras que 'só devem ser empregadas no plural'. Veja: os óculos, as núpcias, as olheiras, os parabéns, os pêsames, as primícias, os víveres, os afazeres, os anais, os arredores, os escombros, as fezes, as hemorróidas, etc.

26 - Pouca gente tem coragem de usar, mas o plural de caráter é 'caracteres'. Então, Carlos pode ser um bom-caráter, mas os dois irmãos dele são dois maus-caracteres.

27 - 'Cartão de crédito e cartão de visita não pedem hífen'. 'Já cartão-postal exige o tracinho'.

28 - 'Catequese se escreve com s', mas 'catequizar é com z'. Esse português...

29 - O exemplo acima foge de uma regrinha que diz o seguinte: os verbos derivados de palavras primitivas grafadas com s formam-se com o acréscimo do sufixo -ar: análise-analisar, pesquisa-pesquisar, aviso-avisar, paralisia-paralisar, etc.

30 - 'Censo é de recenseamento'; 'senso refere-se a juízo'. Veja: O censo deste ano deve ser feito com senso crítico.

31 - 'Você não bebe a champanhe. Bebe o champanhe'. É, portanto, palavra masculina.

32 - ' Cidadão só tem um plural: cidadãos'.

33 - Cincoenta não existe. 'Escreva sempre cinquenta'.

34 - Ainda tem gente que erra quando vai falar gratuito e dá tonicidade ao i, como de fosse gratuíto. 'O certo é gratuito', da mesma forma que pronunciamos intuito, circuito, fortuito, etc.

35 - E ainda tem gente que teima em dizer rúbrica, em vez de rubrica, com a sílaba bri mais forte que as outras. 'Escreva e diga sempre rubrica'.

36 - 'Ninguém diz eu coloro esse desenho'. Dói no ouvido. Portanto, o verbo colorir é defectivo (defeituoso) e não aceita a conjugação da primeira pessoa do singular do presente do indicativo. 'A mesma coisa é o verbo abolir'. Ninguém é doido de dizer eu abulo. Pra dar um jeitinho, diga: Eu vou colorir esse desenho. Eu vou abolir esse preconceito.

37 - 'Outro verbo danado é computar'. Não podemos conjugar as três primeiras pessoas: eu computo, tu computas, ele computa. A gente vai entender outra coisa, não é mesmo? Então, para evitar esses palavrões, decidiu-se pela proibição da conjugação nessas pessoas. Mas se conjugam as outras três do plural: computamos, computais, computam.

38 - Outra vez atenção: os verbos terminados em -uar fazem a segunda e a terceira pessoa do singular do presente do indicativo e a terceira pessoa do imperativo afirmativo em -e e não em -i. Observe: Eu quero que ele continue assim. Efetue essas contas, por favor. Menino, continue onde estava.

39 - A propósito do item anterior, devemos lembrar que os verbos terminados em -uir devem ser escritos naqueles tempos com -i, e não -e. Veja: Ele possui muitos bens. Ela me inclui entre seus amigos de confiança. Isso influi bastante nas minhas decisões. Aquilo não contribui em nada com o progresso.

40 - 'Coser significa costurar'. 'Cozer significa cozinhar'.

41 - 'O correto é dizer deputado por São Paulo', 'senador por Pernambuco', e não deputado de São Paulo e senador de Pernambuco.

42 - 'Descriminar' é absolver de crime, inocentar. 'Discriminar' é distinguir, separar. Então dizemos: Alguns políticos querem descriminar o aborto. Não devemos discriminar os pobres.

43 - 'Dia a dia (sem hífen) é uma expressão adverbial que quer dizer todos os dias, dia após dia'. Por exemplo: Dia a dia minha saudade vai crescendo. Enquanto que 'dia-a-dia (com hífen) é um substantivo que significa cotidiano' e admite o artigo: O dia-a-dia dessa gente rica deve ser um tédio.

44 - 'A pronúncia certa é disenteria', e não desinteria.

45 - A palavra 'dó (pena) é masculina'. Portanto, 'Sentimos muito dó daquela moça'.

46 - 'Nas expressões é muito, é pouco, é suficiente, o verbo ser fica sempre no singular', sobretudo quando denota quantidade, distância, peso. Ex: Dez quilos é muito. Dez reais é pouco. Dois gramas é suficiente.

47 - 'Há duas formas de dizer': é proibido entrada, e é proibida a entrada. Observe a presença do artigo a na segunda locução.

48 - Já se disse muitas vezes, mas vale repetir: 'televisão em cores', e não a cores.

49 - Cuidado: 'emergir é vir à tona', vir à superfície. Por exemplo: O monstro emergiu do lago. Mas 'imergir é o contrário': é mergulhar, afundar. Veja o exemplo: O navio imergiu em alto-mar.

50 - A confusão é grande, mas 'se admitem as três grafias': 'enfarte, enfarto e infarto'.

51 - Outra dúvida: nunca devemos dizer estadia em lugar de estada. Portanto, a minha estada em São Paulo durou dois dias. Mas a estadia do navio em Santos só demorou um dia. Portanto, 'estada para permanência de pessoas, e estadia para navios ou veículos'.

52 - E não esqueça: 'exceção é com ç', mas 'excesso é com dois ss'.

53 - Lembra-se dos 'verbos defectivos'? Lá vai mais um: 'falir'. No presente do indicativo só apresenta a primeira e a segunda pessoa do plural: nós falimos, vós falis. Já pensou em conjugá-lo assim: eu falo, tu fales...Horrível, não?

54 - Todas as expressões adverbiais formadas por 'palavras repetidas dispensam a crase': 'frente a frente', 'cara a cara', 'gota a gota', 'face a face', etc.

55 - Outra vez tome cuidado. Quando for ao supermercado, 'peça duzentos ou trezentos gramas' de presunto, 'e não duzentas ou trezentas'. Quando significa unidade de massa, grama é substantivo masculino. 'Se for a relva, aí sim, é feminino': não pise na grama; a grama está bem crescida.

56 - É frequente se ouvir no rádio ou na TV os entrevistados dizerem: Há muitos 'anos atrás...' Talvez nem saibam que estão construindo uma frase redundante. Afinal, há já dá idéia de passado. Ou se diz simplesmente 'há muito anos...' ou 'muitos anos atrás...' Escolha. Mas não junte o há com atrás.

57 - Cuidado nessa arapuca do português: as palavras paroxítonas terminadas em -n recebem acento gráfico, mas as terminadas em -ns não recebem: 'hífen', 'hifens'; 'pólen', 'polens'.

58 - Atenção: 'Ele interveio' na discórdia, 'e não interviu'. Afinal, 'o verbo é intervir, derivado de vir'.

59 - 'Item não leva acento'. Nem seu plural itens.

60 - O certo é 'a libido', feminino. Devo dizer: 'Minha libido' hoje não tá legal.

61 - Todo mundo gosta de dizer 'magérrima', 'magríssima', mas o superlativo de magro é 'macérrimo'.

62 - Antes de particípios não devemos usar melhor nem pior. Portanto, devemos dizer: os alunos mais bem preparados são os do 2o grau. E nunca: os alunos melhor preparados...

63 - Essa história de 'mal com l', e 'mau com u', até já cansou: É só decorar: 'Mal' é antônimo de bem, e 'mau' é antônomo de bom. É só substituir uma por outra nas frases para tirar a dúvida.

64 - Pronuncie 'máximo', como se houvesse dois ss no lugar do x. (mássimo)

65 - Toda vez que disser: 'É meio-dia e meio você estará errando. 'O certo é: meio-dia e meia', ou seja, meio-dia e meia hora.

66 - Não tenho 'nada a ver' com isso, e 'não haver' com isso.

67 - 'Nem um nem outro' leva o verbo para o singular: Nem um nem outro conseguiu cumprir o que prometeu.

68 - Toda vez que usar o 'verbo gostar' tenha cuidado com a ligação que ele tem com a preposição de. Ex: a coisa de que mais gosto é passear no parque. A pessoa de que mais gosto é minha mãe.

69 - Lembre-se: 'pára', com acento, é do verbo parar, e 'para', sem acento, é a preposição. Portanto: Ele não pára de repetir para o amigo que tem um carro novo.

70 - E tem mais: 'pelo', (sem acento), é preposição (contração da preposição por com o artigo a) e pêlo, com acento, é o cabelo.

71 - E quer mais? 'Pêra', a fruta, leva acento, só para diferenciar de uma antiga preposição também chamada 'pera'. Já o plural dispensa o acento: 'peras'. Dá pra entender? O jeito é decorar.

72 - Ainda tem mais uma palavra com acento diferencial: 'pôde', terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do verbo poder. É para diferenciar de 'pode', a forma do presente. Então dizemos: Ele até que pôde fazer tudo aquilo, mas hoje não pode mais. Percebeu a diferença?

73 - 'Pôr só leva acento quando é verbo': "Quero pôr tudo no seu devido lugar". Mas 'se for preposição, não leva acento': Por qualquer coisa, ele se contenta.

74 - Fique atento: nunca diga, nem escreva 1 de abril, 1 de maio. Mas sempre: 'primeiro de abril', 'primeiro de maio'. Prevalece o ordinal.

75 - É chato, pedante ou parece ser errado dizer quando eu 'vir' Maria, darei o recado a ela. Mas esse é o emprego correto do 'verbo ver' no futuro do subjuntivo. Se eu o vir, quando eu o vir. Mas quando é o verbo vir que está na jogada, a coisa muda: quando eu 'vier', se eu 'vier'.

76 - Só use 'quantia' para somas em dinheiro. Para o resto, pode usar 'quantidade'. Veja: Recebi a quantia de 20 mil reais. Era grande a quantidade de animais no meio da pista.

77 - O prefixo 'recém' sempre se separa por hífen da palavra seguinte e deve ser pronunciado como oxítona: recém-chegado de Londres.

78 - Não esqueça: 'retificar é corrigir', e 'ratificar é comprovar, reafirmar': "Eu ratifico o que disse e retifico meus erros.

79 - Quando disser 'ruim', diga como se a sílaba mais forte fosse - im. Não tem cabimento outra pronúncia.

80 - Fique atento: só empregamos 'São' antes de nomes que começam por consoante: 'São Mateus', 'São João', 'São Tomé', etc. Se o nome começa por vogal ou h, empregamos 'Santo: 'Santo Antônio', 'Santo Henrique', etc.

81 - E lembre-se: 'seção, com ç', quer dizer 'parte de um todo, departamento': a seção eleitoral, a seção de esportes. Já 'sessão, com dois ss', significa intervalo de tempo que dura uma reunião, uma assembléia, um acontecimento qualquer: 'A sessão do cinema demorou muito tempo'.

82 - Não confunda: 'senão', (juntinho), quer dizer"caso contrário" e 'se não', (separado), equivale a "se por acaso não". Veja: Chegue cedo, senão eu vou embora. Se não chegar cedo, eu vou embora. Percebeu a diferença?

83 - Tire esta dúvida: quando 'só' é adjetivo equivale a sozinho e varia em número, ou seja, pode ir para o plural. Mas 'só' como advérbio, quer dizer somente. Aí não se mexe. Veja: Brigaram e agora vivem sós (sozinhos). Só (somente) um bom diálogo os trará de volta.

84 - É comum vermos no rádio e na tv o entrevistado dizer: O que nos falta são 'subzídios'. Quer dizer, fala com a pronúncia do z. Mas não é: pronuncia-se 'ss'. Portanto, escreva 'subsídio' e pronuncie 'subssídio'.

85 - 'Taxar' quer dizer 'tributar', 'fixar preço'. 'Tachar' é 'atribuir defeito', 'acusar.

86 - E nunca diga: 'Eu torço para o Flamengo'. Quem torce de verdade, 'torce pelo Flamengo'.

87 - Todo mundo tem dúvida, mas preste atenção: 50% dos estudantes passaram nos testes finais. Somente 1% terá condições de pagar a mensalidade. Acreditamos que 20% do eleitorado se abstenha de votar nas próximas eleições. Mais exemplos: 10% estão aptos a votar, mas 1% deles preferem fugir das urnas. Quer dizer, concorde com o mais próximo e saiba que essa regra é bastante flexível.

88 - 'Um dos que' deixa dúvidas,mas, pela norma culta, devemos pluralizar. Há gramáticos que aceitam o emprego do singular depois dessa expressão: Eu sou um dos que foram admitidos. Sandra é uma das que ouvem rádio.

89 - 'Veado' se escreve com e, e não com I.

90 - Esse português da gente tem cada uma: 'tem viagem com G e viajem com J' . Tire a dúvida: viagem é o substantivo: A viagem foi boa. Viajem é o verbo: Caso vocês viajem, levem tudo.

91 - O prefixo 'vice' sempre se separa por hífen da palavra seguinte: vice-prefeito, vice-governador, vice-reitor, vice-presidente, vice-diretor, etc.

92 - Geralmente, se usa o 'x depois da sílaba inicial en': enxaguar, enxame, enxergar, enxaqueca, enxofre, enxada, enxoval, enxugar, etc. Mas cuidado com as exceções: encher e seus derivados (enchimento, enchente, enchido, preencher, etc) e quando -en se junta a um radical iniciado por ch: encharcar (de charco), enchumaçar (de chumaço), enchiqueirar (de chiqueiro), etc.

93 - Não adianta teimar: 'chuchu' se escreve mesmo é com 'ch'.

94 - 'Ciclo vicioso' não existe. O correto é 'círculo vicioso'.

95 - E qual a diferença entre 'achar' e 'encontrar'? Use 'achar' para definir aquilo que se procura, e 'encontrar' para aquilo que, sem intenção nenhuma, se apresenta à pessoa. Veja: Achei finalmente o que procurava. Maria encontrou uma corda debaixo da cama. Jorge achou o gato dele que fugiu na semana passada.

96 - 'Adentro' é uma palavra só: meteu-se porta adentro. A lua sumiu noite adentro.

97 - Não existe 'adiar para depois'. Isso é redundante, porque adiar só pode ser para depois.

98 - 'Afim' (juntinho) tem relação com afinidade: gostos afins, palavras afins. 'A fim de' (separado) equivale a para: veio logo a fim de me ver bem vestido.

99 - Pode parecer meio estranho, mas pode conjugar o 'verbo aguar' normalmente: eu águo, tu águas, ele água, nós aguamos, vós aguais, eles águam.

100 - 'Centigrama' é uma palavra masculina: dois centigramas.

Fonte:
Colaboração de Carlos Leite Ribeiro. Portal CEN