sábado, 6 de novembro de 2010

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.41)


Trova do Dia

Na Feira, o "seu" Manoel:
- Não vendo nada... Pois, pois!
Mas se esgoela: – Olha o pastel!
Pague três e leve dois!
LISETE JOHNSON/RS

Trova Potiguar

Está cegando Renato
pois, um objeto qualquer
só conhece pelo tato
principalmente mulher.
RENATO CALDAS/RN

Uma Trova Premiada

2009 > Bandeirantes/PR
Tema > ARRUAÇA > Menção Honrosa

O bebum faz arruaça
se em toda blitz é parado;
de tanto tomar cachaça,
só sopra todo babado.
VANDA ALVES DA SILVA/PR

Uma Trova de Ademar

Eu sei que o santo se vinga,
mas cana não lhe ofereço;
mesmo que de pinga em pinga
ele me dê um tropeço.
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

É um alpinista de fama,
mas dele a vida debocha:
por ironia se chama
Caio Rolando da Rocha.
WALDIR NEVES/RJ

Estrofe do Dia

– Namorei Aparecida,
mas mãe não gostava dela,
Eu só namorava ela
na casa da Margarida,
Minha mãe, muito sabida,
ia lá pra ver se via,
Por uma porta eu saia,
por outra mamãe entrava.
Quando eu ia ela voltava,
quando eu voltava ela ia.
JOSÉ MELQUÍADES/PB

Soneto do Dia

– Glauco Mattoso/SP –
SONETO NACIONAL.

Petróleo agora é nosso! Temos carro
em casa fabricado! A agricultura
bateu novo recorde! Na cultura
ninguém nos bate em jeito, manha e sarro!

A fundo, se analiso, logo esbarro
em outro panorama: a sinecura,
a exploração, o culto à raça pura,
debaixo do cinismo mais bizarro!

País da falsidade e do fajuto,
o nosso é vergonhoso, pois em nada
fingir necessitava, tendo o bruto

produto que detém! Se uma cambada
seu povo não roubasse, nenhum puto
diria que o Brasil só dá piada!

Fonte:
Ademar Macedo

José Feldman (Agradecimento)

Agradeço o envio dos livros para leitura crítica:
- Maria Lúcia Siqueira (Asas ao Anoitecer)
- Vicencia Jaguaribe (Ancoragem em Porto Aberto)
- Yussef Khalifman, pela doação do livro de Roza de Oliveira (As Imagens do Ar nos poemas de Tasso da Silveira)
- Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais (Suplemgnto Literário n.1.330)
Fonte da Imagem:

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.40)


Trova do Dia

Tantos passos caminhei
por labirintos incertos.
Hoje nas trovas achei
como vencer os desertos.
JOSÉ FELDMAN/PR

Trova Potiguar

Quando Deus criou o mundo
Deu chance a todas matizes
Mas com seu saber profundo
Não disse a cor aos juízes
MARCOS MEDEIROS/RN

Uma Trova Premiada

2010 > São Paulo/SP
Tema > FEITIÇO > Vencedora

Facilmente me dominas,
bastando apenas piscar...
- É o feitiço das meninas
que brincam no teu olhar!
A. A. DE ASSIS/PR

Uma Poesia livre

– Djalma Mota/RN –
SOLIDÃO

Sozinho...
Nunca havia sentido tanta solidão.
No fim da noite,
quando quase tudo silencia,
um tempestade carregada do vazio,
recai sobre o meu corpo debilitado.
Não encontro sequer,
um sinal que motive uma minúscula alegria.
Nem mesmo o meu velho violão.
Quero mergulhar esse sentimento
nos copos adormecidos das bebidas indesejáveis...
... Um copo... Uma pausa...
... De volta ao sentimento,
mais um copo e, um copo a mais,
suficiente à companhia das horas sombrias.
É tarde! Ou seja, quase madrugada.
Minha consciência embriagada,
ainda assim reconhece:
– Pára! É o limite!
Deste modo,
retorno ao mundo desencantado
das velhas ilusões – o meu mundo real,
onde tomo conhecimento
das minhas desventuras.
Eis a sina de um ser sozinho!

Uma Trova de Ademar

A mensagem mais bonita
e de uma força tamanha,
há dois mil anos foi dita
lá no sermão da montanha!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Não estranhes que o Mar largo
seja salgado demais:
é devido ao pranto amargo
que se chora em cada cais.
DIMAS LOPES DE ALMEIDA/PORTUGAL

Estrofe do Dia

Cavalo fica pra sela,
Batente para janela,
Fogão ficou pra panela,
Cangaceiro pro sertão;
Cadeira ficou pra réu,
Cabeça para chapéu,
Noiva ficou para o véu
E eu para cantar quadrão.
LOURIVAL BANDEIRA/CE

Soneto do Dia

– Alceu Wamosy/RS –
ÚLTIMA PÁGINA.

Todo este grande amor que nasceu em segredo,
e cresceu e floriu na humildade mais pura,
teve o encanto pueril desses contos de enredo
quase ingênuo, onde a graça ao candor se mistura.

Entrou nos nossos corações como a brancura
de uma réstia de luar numa alcova entra a medo.
Nunca teve esse fogo intenso de loucura,
que há em todo amor que nasce tarde e morre cedo.

E quando ele aflorou tímido e pequenino,
como uma estrela azul no meu, no teu destino,
não sei que estranha voz ao coração me disse,

que este amor suave e bom, de pureza e lealdade,
sendo o primeiro amor da tua meninice,
era o último amor da minha mocidade.

Fonte:
Ademar Macedo

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Trova 184 - Neide Rocha Portugal (Bandeirantes/PR)


Imagens obtidas na internet com montagem para inclusão da trova. Autores desconhecidos.

Apollo Taborda França (O Poeta no Papel)


AS QUATRO ESTAÇÕES

O ano tem quatro Estações,
Regendo seus privilégios…
Apuram as emoções,
Renovam seus sortilégios.

Muitos não gostam do INVERNO,
É frio e traz dissabores…
Mas, para amor é bem terno,
Debaixo dos cobertores.

Na PRIMAVERA, das flores,
Dos frutos, da passarada…
O céu deslumbra-se em cores,
Quando desponta a alvorada.

Nosso VERÃO é delícia,
É graça, força e calor…
Funciona como um colírio,
Diante de tanto esplendor.

OUTONO tem a magia,
De bem gravar a lembrança:
Claro, sutil, é um guia
Que nos conduz à esperança!

A SAÚDE COLORIDA

Iguais flores nos canteiros
São as frutas coloridas…
Que beleza os limoeiros,
Supra-sumo das “batidas”.

Uva branca, suculenta,
Nutriente vegetal…
Retempera a alma sedenta,
Tem poder medicinal.

Mais a laranja e a ameixa
Frutas boas sazonais…
Algo assim que não se deixa,
São riquezas naturais.

Abacaxi e a banana,
Gostosíssima a cereja…
Também, o caldo de cana,
O mamão quem não deseja.

Que dizer dos abacates,
Deliciosos eles são…
Das cebolas, dos tomates,
Saudáveis na refeição.

As cenouras amarelas,
As alfaces, o pepino…
Saborosas berinjelas,
Num conjunto muito fino.

As frutas e as verduras,
Quanta cor e paladar…
Verdadeiras contexturas,
De um viver bem salutar.

Quem quiser estar contente,
Sempre alegre e com amor…
Dessas coisas se alimente
Pois, garantem o vigor!

O COLORIDO DAS FLORES

O jardim cheio de flores,
Dá-nos grande sensação…
Por conter mais de mil cores,
Nos enleva em oração.

Tem as lindas encarnadas,
As azuis, as multicores…
Todas elas perfumadas
Espargindo seus olores.

Ao romper da primavera,
Esplendor é sem igual…
Medra bem melhor a herança
E a glicínia original.

Quando chove, que beleza,
O canteiro vira em festa…
A rosa na sua nobreza,
O cravo, lírio, a glesta.

A violeta e margarida,
Sempre-viva e mosquitinho…
A camélia tão querida,
É macia como o arminho.

Há, também, copo-de-leite,
O suave amor-perfeito…
Suas linhas têm enfeite,
Que lhes dá alto conceito.

Num mundo de fantasia,
Natureza fulge em cor…
Flores têm a primazia
Nas lembranças do amor.

Aos olhos é tudo encanto,
Muito mais ao coração…
Todos nós vibramos tanto,
Contemplando a Criação!

O SISTEMA SOLAR

Nosso SISTEMA SOLAR
No colorido decerto,
É da beleza um altar,
Deslumbrando a céu aberto.

Tem o SOL todo imponente
Muita luz, sadio calor,
Dando forças ao vivente
E perfume à linda flor.

Em seguida está MERCÚRIO,
De amarelo-esmaecido,
Do comércio, o bom augúrio.
E do amor sendo o cupido.

VÊNUS – a Estrela D’Alva
E, também, a do Pastor,
Para ela grande “salva”,
Consagrando seu alvor.

O nosso planeta TERRA
O escolhido para a vida,
Tantas grandezas encerra,
Leva o tempo de vencida.

E bem místico é MARTE
Sendo o quarto do sistema,
Deus da guerra, estandarte,
Na poesia belo tema.

JÚPITER, ainda um mistério,
Um colosso em nosso céu,
A girar num acrotério,
Continua um fogaréu.

É SATURNO o mais bonito,
Tem anéis resplandescentes,
Rica gema no infinito,
Empolgando as nossas mentes.

Bem ao longe fica URANO,
Com seu tom verde-azulado,
Segue firme no seu plano,
Do Universo outro legado.

Verde disco é NETUNO,
Um planeta singular,
Respeitá-lo, oportuno,
Pois evoca o Deus do mar.

PLUTÃO, lá na extremidade,
Bem oculto à nossa vista,
Descoberto há pouca idade,
Com ele se fecha a lista!

Fonte:
FRANÇA, Apollo Taborda. O nosso mundo colorido. Curitiba: O Formigueiro, 1986.

Pedro Ernesto Filho (O Poeta no Papel)


SAUDADE

Saudade é foto amarela
que um filho guardou dos pais,
depois que os pais faleceram
da foto ele foi atrás,
de tanto guardar, perdeu;
procurou, não achou mais

AS ÁRVORES MAIS RESISTENTES COSTUMAM MORRER DE PÉ

Mote produzido por ocasião da missa de trinta dias rezada em sufrágio da alma da genitora do autor, em 08.06.1998. Ele escreveu os versos, mas as emoções não deixaram que os declamasse naquele momento. Trata-se de ligeira referência à vida simples e religiosa de sua inesquecível mãe Efigênia Vieira de Aquino, exemplo de esperança, que morreu sem perder sua lucidez. É, portanto, um decassílabo que busca valorizar a árvore da vida.

Buscou se apoiar no arco
do carisma e da bonança,
da pedra da esperança
fez seu verdadeiro marco,
sua vida foi um barco
nos oceanos da sé,
defendeu a paz até
deixar os sobreviventes
- As árvores mais resistentes
costumam morrer de pé.

O seu passado eu contemplo
com forças das emoções,
no mundo das orações
foi defensora do templo,
sua vida foi exemplo
aos seguidores da fé,
hoje sua história é
lida por seus descendentes
- As árvores mais resistentes
costumam morrer de pé.

Foi forte seu coração,
nos últimos dia de vida
sua voz foi suprimida
mas seu pensamento não,
demonstrava na feição
as graças do Nazaré,
e que agradecia até
as visitas dos parentes
- As árvores mais resistentes
costumam morrer de pé.

Se alguém fizesse um alarde
por lhe faltar o sustento
e ela escutasse o lamento
sobre aquele inverno tarde,
ela aconselhava, aguarde
o dia de São José,
pois aquele Santo é
protetor dos penitentes
- As árvores mais resistentes
costumam morrer de pé.

Ante qualquer imprevisto
sua história sobressai,
reencontrou com meu pai
e hoje está dizendo a Cristo
que a roupa escura que visto
preta da cor de café
não é mais tristeza, é fé,
fruto de suas sementes
- As árvores mais resistentes
costumam morrer de pé.

E SE EU TIVESSE MORRIDO NINGUÉM CHORAVA POR MIM!

O autor sonhou perdido nas matas, enfrentando as mais difíceis situações, porém superando todas elas. No sonho, percebeu que não havia preocupação por parte de ninguém e por isto, ao acordar-se, escreveu este mote em sete sílabas. Aliás, situação como esta somente em sonho poderia acontecer.

Já me vi pelo sertão
sem saber onde eu estava,
comendo, quando encontrava
frutas tombadas no chão;
só escutava o trovão
e o assobio do soim,
num campo de gergelim
estive a noite perdido
- E se eu tivesse morrido
ninguém chorava por mim.

Sofri de uma fera ingrata
perseguição numa gruta,
tive que enfrentar a luta
com meu punhal cor de prata;
depois de uma hora exata
eu consegui lhe dar fim,
e cansado, fiz: Atchim!!!
aí voltou meu sentido
- E se eu tivesse morrido
ninguém chorava por mim!

Cheguei a um riacho cheio,
sem fazer das águas caso,
pensando que fosse raso
tentei passar pelo meio;
a onda me fez de esteio
a um tronco de beijamim,
pelos seus galhos enfim
fui bastante protegido
- E se eu tivesse morrido
ninguém chorava por mim!

Cansado de andar a pé
e ao penetrar num roçado,
peguei um burro peiado,
fiz dele um transporte, até;
era um burro canindé,
velhaco, brabo e ruim,
deu pulo até que no fim
deixou-me ao solo estendido
- E se eu tivesse morrido
ninguém chorava por mim!

Senti na minha chinela
espinhos de arapiraca,
uma cobra jararaca
pegou na minha canela;
eu que sou curado dela
nada tive de ruim,
um besouro de cupim
penetrou no meu ouvido
- E se eu tivesse morrido
ninguém chorava por mim!

Lá encontrei muito gado
que pastava na campina,
um touro da ponta fina
voltou-se para o meu lado;
era um novilho malhado
pintado de surubim;
eu me deitei no capim
e ele se deu por vencido
- E se eu tivesse morrido
ninguém chorava por mim!

Segui nova direção
e cheguei a uma bodega,
um cão quase que me pega
quando abri um cancelão;
um pistoleiro e ladrão
atirou pra me dar fim,
com coragem, sem motim,
defendi-me do bandido
- E se eu tivesse morrido
ninguém chorava por mim!

De tanta angústia e maltrato,
às doze horas do dia,
sofri tremenda agonia
e dormi dentro do mato;
fui visto por um beato
que voltava de um jardim,
deu-me dois chás de alecrim
sem doce, com comprimido
- E se eu tivesse morrido
ninguém chorava por mim!

Cheguei numa moradia
e cumprimentei os presentes,
perguntei por meus parentes
e assim alguém respondia:
Vi alguns com alegria
ontem à noite em um festim,
contou tim-tim por tim-tim
do que tinha acontecido
- E se eu tivesse morrido
ninguém chorava por mim!

Vizinho fez diversão
que até ficou na memória,
meus tios contavam estória
do tempo de Lampião;
até mesmo o meu irmão
não guardou seu bandolim,
só mamãe dizia assim:
Perdi meu filho querido
- E se eu tivesse morrido
ninguém chorava por mim

AS COISINHAS DO SERTÃO

Este poema retrata a conversa firme de um camponês com um homem da cidade. Por tanto se interessar pelas belezas do campo, o homem da rua passou a somente ouvir o que o sertanejo dizia e dava expansão ao assunto sempre interrogando: fale mais das coisinhas do sertão. Pode-se dizer também que se trata de mote de uma linha.

Eu conversei com um crítico
vivido na capital,
falou do Brasil Político,
do nosso mundo atual
e da indústria nuclear,
quando eu chamei pra falar
de costume e tradição,
ele disse: Isso eu não sei,
e assim eu mencionei
as coisinhas do sertão.

Eu falei sobre a beleza
de um amanhecer dourado,
do lençol da natureza
de manchas padronizado.
Falei da barra vermelha
que parece uma centelha
enfeitando a amplidão,
da nuvem ficando atrás.
- Ele disse: Fale mais
das coisinhas do sertão.

Eu falei da lua cheia
silenciosa e redonda
e da neve cor de areia
que desce encobrindo a onda,
da brisa civilizada
que parece uma empregada
varrendo o que há no chão,
hora leva, hora traz.
- Ele disse: Fale mais
das coisinhas do sertão.

Eu lhe disse: Isto não é
sertão propriamente dito,
sertão é mesmo um chalé
num pé de serra esquisito,
que seu dono sendo pobre
julga-se feliz e nobre
por existir união
e amor dos filhos aos pais.
- Ele disse: Fale mais
das coisinhas do sertão.

Eu falei sobre a caçada
em que o homem corajoso
tocaia de madrugada
andando silencioso;
passa serras, sobe morros,
seus amigos são cachorros,
espingarda e munição;
e seu abrigo, os vegetais.
- Ele disse: Fale mais
das coisinhas do sertão.

Eu falei sobre o vaqueiro
e sua fama também,
pois seu perfume é o cheiro
que a ponta da rama tem;
seu transporte é o cavalo;
seu musical, o badalo
e o berrar da criação;
seus amigos, animais.
- Ele disse: Fale mais
das coisinhas do sertão.

E quando eu falei de adjuntos,
ele disse: O que é isso?
São cinqüenta homens juntos
fazendo qualquer serviço;
almoçam pelo roçado,
contam casos do passado
para enrolar o patrão,
e cada um diz o que faz.
- Ele disse: Fale mais
das coisinhas do sertão.

Falei da mulher que pisa
milho pra fazer almoço,
do menino sem camisa,
baladeira no pescoço;
do gafanhoto faminto,
do sofrimento do pinto
nas garras do gavião,
dos chãos cobertos de sais.
- Ele disse: Fale mais
das coisinhas do sertão.

Eu falei da cantoria
do contador de viola
que mostra sabedoria
sem conteúdo de escola.
Falei da mulher rendeira,
da cigana rezadeira
que faz a sua oração
espantando o satanás.
- Ele disse: Fale mais
das coisinhas do sertão.

Eu falei de serenata,
de reisado e pescaria,
do sertanejo que trata
toda mulher por Maria;
se for homem chama Zé,
gosta muito de café,
detesta fumo pagão,
só dá valor ao que faz.
- Ele disse: Fale mais
das coisinhas do sertão.

Eu falei do pé-de-bode,
do reco-reco e pandeiro
com que se faz um pagode
no clarão do candeeiro;
rapaz exibindo nota
mas para pagar a cota
sempre surge confusão,
quando um não faz, outro faz.
- Ele disse: Fale mais
das coisinhas do sertão.

Falei do campo e estepe
por onde passeia o gado,
do chiar do currulepe
do velhinho aposentado;
do triturar do mimoso,
de estórias de trancoso
nas debulhas de feijão,
do candeeiro de gás.
- Ele disse: Fale mais
das coisinhas do sertão.

Falei da voz de comando
no grito do comboeiro,
dos animais repousando
na sombra do juazeiro.
Falei do caminho estreito,
do bodoque que é feito
de vara, cera e cordão,
torto na frente e atrás.
- Ele disse: Fale mais
das coisinhas do sertão.

Falei do sol causticante
que atrasa a safra seguinte,
do caboclo ignorante
que se casa antes dos vinte.
Falei da rama madura,
do voar da tanajura
quando promete verão,
uma na frente, outra atrás.
-Ele disse: Fale mais
das coisinhas do sertão.

Falei da vaca velhaca
quando seu bezerro esconde,
o vaqueiro imita a vaca
para ver se ele responde.
Falei de doença e praga,
lagarta que mais estraga
a cultura do algodão,
das estradas carroçais.
- Ele disse: Fale mais
das coisinhas do sertão.

Falei da força do açoite
que o vento bravo inicia,
do lençol preto da noite
cobrindo os olhos do dia.
Da mesinha de gaveta,
do matuto e o cometa
e a sua superstição,
do medo que a cobra faz.
- Ele disse: Fale mais
das coisinhas do sertão.

Eu falei sobre a raposa
nas aspas de uma arataca,
do carcará que repousa
na cabeça de uma estaca.
Falei do milho amarelo,
depois fiz um paralelo
entre inverno e o verão,
que em duração são iguais.
- Ele disse: Fale mais
das coisinhas do sertão.

Falei do sol que desbota
a folha do vegetal,
do bem-te-vi que pinota
nas clinas de um animal,
de farinhada e moagem,
de uma antiga carroagem
que tem o boi por tração,
boi na frente e carro atrás.
- Ele disse: Fale mais
das coisinhas do sertão.

Eu falei sobre o baralho
e o que suas cartas vogam,
da banca e do agasalho
onde quatro homens jogam;
a dama ganha dos seis,
valete perde pra o reis,
de tudo o sete é mandão,
onze pontos vale o ás.
- Ele disse: Fale mais
das coisinhas do sertão.

E disse ele: Eu não sabia
isto que você falou,
mas aprender eu queria
e tenso me perguntou:
Como aprendeu tudo isto?
Eu lhe respondi: Foi Cristo
que me deu inspiração.
E perguntou ele: Isto é arte?
- Eu disse: E também faz parte
das coisinhas do sertão.

Fonte:
http://www.perfilho.prosaeverso.net/

Pedro Ernesto Filho


Natural do município do Barro, estado do Ceará. Filho de Pedro Ernesto de Aquino e Efigênia Vieira de Aquino, o mais novo de uma família de 14 irmãos.

Menino do campo, nascido no sítio Timbaúba, onde viveu sua infância e desenvolveu por algum tempo a atividade rural. Ali foi alfabetizado, continuando a escolaridade na sede do município, principalmente no Grupo Justino Alves Feitosa e Ginásio Santo Antônio.

Fez o curso de técnico em agropecuária na Escola Agrotécnica Federal do Crato. Advogado, bacharelado pela Universidade Regional do Cariri.

Como poeta, autor de vários títulos, com mais de 30 (trinta) cordéis publicados, e lançou o livro Cidadania do Repente. Vencedor em vários certames literários, merecendo destaque: “O Prêmio Anual de Literatura de Cordel” promovido pelo SESC de Juazeiro do Norte (2005), “O sonho de um Nordeste melhor” (2006), idealizado pela AFBNB e “I Concurso Literário da CAPEF” (2007).

Prestou serviços à Organização das Cooperativas do Ceará – OCEC e ao Banco do Estado do Ceará – BEC. Atualmente, advogado do quadro jurídico do Banco do Nordeste do Brasil S/A.

Membro da Academia dos Cordelistas do Crato, ocupando a cadeira nº 15, como patrono o mestre Hugolino Nunes da Costa.

Por indicação e através de concorrência, conseguiu ingressar no ICVC – Instituto Cultural do Vale Caririense, ocupando a cadeira nº 31, cujo patrono é José Joaquim Teles Marrocos (Zé Marrocos).

Reside na cidade de Juazeiro do Norte-CE.

Publicações:
– (1980) As coisinhas do sertão
Editora: COOPITA
Sinopse:
Retrata a conversa firme de um camponês com um homem da cidade. Por tanto se interessar pelas belezas do campo, o homem da rua passou a somente ouvir o que o sertanejo dizia e dava expansão ao assunto sempre interrogando: fale mais das coisinhas do sertão. Compõe-se de estrofes em décima, como rimas emparelhadas e ora cruzadas, como se fosse um mote de sete sílabas em uma só linha, enfocando os detalhes da vida sertaneja.
– (1981) Revenda
Editora: COOPITA
Sinopse:
Linguagem simples e direta com enfoque de propaganda, comungando com assistência técnica ao produtor rural. Construído em estrofe de dez versos em sete sílabas com terminação diferente, obedecendo às regras de rima e metrificação.
– (1981) O técnico agrícola e o agricultor
Editora: COOPITA
Sinopse:
Escrito em sextilha com a perfeição da rima e da métrica. Coleta matéria de cunho educativo em linguagem direta e simples, conservando os princípios da regra de versificação, sem deixar de lado o gracejo poético.
– (1984) O Nordeste enxugou a sua face com o lenço felpudo de algodão
Editora: Banco do Nordeste do Brasil S/A
Sinopse:
Composto em mote decassilabo, seguindo os critérios da rima e metrificação, historiando a grande safra algodoeira que teve a região do Cariri no ano de 1984, por ocasião da comemoração da VI Semana do Algodão no município de Brejo Santo - Ceará, quando o Nordeste sacudia a poeira de vários anos de seca sucessivos. Traz o gracejo do verso popular, mantendo a beleza fática e a subjetividade da poesia melhorada.
– (1996) Antologia Literário do BNB
Pedro Ernesto Filho, Carlos Gastão da Silva Meira, Antônio Maria Henri Beyle de Araújo
Editora: Banco do Nordeste do Brasil S/A
Sinopse:
Reúne poesias, contos e crônicas, resultado de uma coletânea idealizada e selecionada pela Associação dos Funcionários do Banco do Nordeste do Brasil S/A, mediante concurso literário, onde está incluído o trabalho vencedor na categoria poesia, de autoria de Pedro Ernesto Filho, intitulado "A história do homem está escrita na coragem, na luta e no saber", em estilo de mote decassílabo.
– (2002) Tradição e luta (Pedro Ernesto Filho e Willian Brito)
Editora: Academia dos Cordelistas do Crato
Sinopse:
Coletânea de vários motes em sete sílabas sobre a história da Academia dos Cordelistas do Crato, onde o poeta Pedro Ernesto Filho e os demais acadêmicos discorreram sobre sua instituição, definindo-a e exaltando com precisão, sem perder de vista a rima, a métrica nem o achado da arte de versejar. A capa do livro é do xológrafo caririense Carlos Henrique.
– (2002) Homenagem ao poeta Chico Inácio
Editora: Gráfica Padre Cícero Ltda
Sinopse:
Matéria criada em homenagem ao saudoso Chico Inácio, por ocasião do Festival de Viola do Barro, realizado em 21 de novembro de 2001, no clube social daquela cidade. Francisco Inácio Barbosa, ou Chico Inácio, como era mais conhecido, foi um cantador do município do Barro, cidade natal do autor do livro. Repentista simples e de pouca leitura, mas de enorme talento para improvisar. Na data do festival, fazia pouco tempo de seu falecimento e a platéia nem a família do cantador esperava a homenagem, que foi por demais bem aceita e emocionante. Os versos sobre aquele poeta se desenvolveram em sete sílabas, estilizados no mote "Vamos lembrar um pouquinho o cantador que morreu".
– (2002) A água trouxe um recado da cabeceira do rio
Editora: Academia dos Cordelistas do Crato
Sinopse:
Condensa o estilo de mote em sete sílabas. Nesta rica modalidade, o poeta está preso ao assunto e à posição das rimas, sempre concluindo a estrofe de dez versos com a frase solicitada. No caso em tela, o mote foi escrito a pedido do conhecidíssimo escritor Arilo Luna, que também é engenheiro civil e pesquisador da cultura popular. Linguagem popular, porém com sofisticada concordância verbal e nominal, mantendo os rigores da metrificação e da rima, enfatizando, com detalhes o mundo sertanejo, principalmente no período invernoso.
– (2003) O milho é a salvação da família brasileira
Editora: Academia dos Cordelistas do Crato
Sinopse:
Lançado no município de Nova Olinda - estado do Ceará, em maio de 2003, por ocasião da Festa do Milho, na presença de autoridades e com apoio da Academia dos Cordelistas do Crato. É, portanto, uma matéria educativa, recheada de gracejo e riquíssima de rima e métrica. O mote foi escolhido pela comissão organizadora do evento.
– (2004) Se eu não fosse advogado
Editora: Academia dos Cordelistas do Crato
Sinopse:
Composto em estrofes de sextilha, com obediência à deixa e cumprimento às exigências da rima e metrificação. Relata uma vocação forte do autor pela cantoria nordestina, deixando evidenciada a profissão que escolheria se não tivesse abraçado o ramo do direito. Exalta a figura do cantador e cita nomes famosos da arte de improvisar.
– (2004) Conselho de um cooperado
Editora: Instituto Cultural do Vale Caririense
Sinopse:
Este trabalho foi o campeão no concurso literário promovido pelo ICVC – Instituto Cultural do Vale Caririense, em parceria com o SESC, conferindo ao autor o 1º lugar com o troféu PALCO – Prêmio Anual de Literatura de Cordel Edição 2004. Trata-se de uma história imaginada com a intenção de tão-somente concorrer ao certame, estilizada em sextilha com obediência às regras da deixa. Na poesia popular e na cantoria, deixa é a obrigatoriedade que tem o poeta de iniciar a estrofe seguinte rimando com o último verso da estrofe anterior.
– (2004) Nordestino famoso como é não desbota a bandeira do sertão
Editora: Banco do Nordeste do Brasil S/a
Sinopse:
Mote decassílabo em linguagem nivelada, com rima, ritmo e metrificação. Temática regional com característica nordestina, apegada à realidade local com enfoque de gracejo subjetivo, mantendo o bom nível de expressão e da arte fazer verso popular.
– (2004) A causa da diabete desafia a medicina
Editora: Academia dos Cordelistas do Crato
Sinopse:
Diabete ou diabetes, ou ainda, o diabete ou a diabete (gênero oscilante). O autor preferiu a forma singular feminina, por ter mais abrangência no mundo da rima e da métrica. Trata-se de mote em sete sílabas, desta vez inspirado em um tema desafiante aos que cuidam da saúde do povo, tudo recheado com a beleza do gracejo e sob às regras que norteiam a citação do verso popular.
– (2005) Adeus a Walderedo - Cordel coletivo
Pedro Ernesto Filho e Willian Brito
Editora: Academia dos Cordelistas do Crato
Sinopse:
Escrito em parceria com os demais colegas da Academia dos Cordelistas do Crato, narrando a despedida ao grande xilógrafo do Cariri, o Mestre Walderedo. Cada autor discorreu em mote diferente, em sete sílabas, enfatizando a história do artista da madeira como reconhecimento pelo serviço prestado à cultura popular.
– (2005) Não desenhe a natureza com sangue dos animais
Editora: Academia dos Cordelistas do Crato
Sinopse:
O autor neste poema buscou alcançar a natureza, exalando um conselho muito forte para sua preservação. A todo tempo invoca a terceira pessoa do singular, isto como forma de robustecer a mensagem no sentido de orientar e educar. Apesar do zelo pela qualidade dos versos, o poeta não deixa de lado o gracejo subjetivo, como se pode ver no momento em que fala das ações dos animais. No mesmo volume complementa com o mote decassílabo "Nos ensinos da vida eu aprendi dividir seu humilde e respeitar".
– (2005) Saudade (Pedro Ernesto Filho e Willian Brito)
Editora: Academia dos Cordelistas do Crato
Sinopse:
Coletânea de vários motes em sete sílabas sobre a saudade, onde Pedro Ernesto Filho e Willian Brito, unidos aos demais companheiros da Academia dos Cordelista dos Crato, discorreram sobre o tema, definindo-o com precisão, sem perder de vista a rima, a métrica nem o achado da arte de versejar. A apresentação é de Sonja Scheenkel, professora suíça, e a capa é do xilógrafo caririense Carlos Henrique.
– (2006) O sonho de um Nordeste Melhor (Crônica, Conto e Poesia)
Autores: Pedro Ernesto Filho, Álvaro Jansen Viana da Silva, Roberto Silveira de Andrade
Editora: Banco do Nordeste do Brasil S/A
Sinopse:
Compila poesias, crônicas e contos, resultados do Concurso Literário (O sonho de um Nordeste melhor) promovido pela Associação dos Funcionários do Banco do Nordeste, em comemoração aos 20 anos de sua fundação. Nele está incluída a poesia vencedora de autoria de Pedro Ernesto Filho, narrada em versos decassílabos, intitulada "O que falta é investir". Sem opção comercial.
– (2006) Ser fraterno é trazer no coração a bondade por Deus recomendada
Editora: Academia dos Cordelistas do Crato
Sinopse:
Mote decassílabo inspirado na campanha da fraternidade desenvolvida pela igreja no ano de 2006, cujo tema foi o deficiente físico. É mais um martelo preso às normas da rima e da metrificação, juntando a comunicação educativa com a arte de versejar.
– (2007) Cidadania do Repente
Editora: Banco do Nordeste do Brasil S/A
Sinopse:
O livro Cidadania do Repente se inicia com uma matéria sobre rima e metrificação, seguida de setenta e seis títulos em diferentes assuntos. O prefácio é do jornalista Geraldo Menezes Barbosa, a apresentação do escritor Willian Brito e a última capa referenciada pela dupla de repentista Raimundo Nonato e Nonato Costa. Cada texto traz um tópico inicial que já deixa o leitor ciente do que vai encontrar no seu bojo. A linguagem é simples, porém melhorada com obediência a todas as regras que exige a arte de fazer verso popular.
– (2007) Campos Sales e sua história ; Brejo Santo e sua história ; Barbalha e sua história ; Assaré e sua história ; Nova Olinda e sua história ; Juazeiro do Norte e sua história
Editora: Academia dos cordelistas do Crato
Sinopse:
Estilizado em sextilha, com obediência à deixa, narra com bom humor a história do município de Campos Sales-Ceará, idealizado e escrito por ocasião da execução do Projeto Cordel no Cariri, lançado na sede daquela cidade no encontro artístico da Academia dos Cordelistas do Crato sob o comando do Centro Cultural do Banco do Nordeste. O livro tem a apresentação do poeta e escritor Willian Brito com a capa xilografada por Carlos Henrique.
– (2008) I Concurso Literário da Capef (Raquel de Queiroz)
(Pedro Ernesto Filho, Nélson Cláudio Oliveira, Simone Pessoa Pereira Sampaio)
Editora: Banco do Nordeste do Brasil S/A
Sinopse:
Contempla poesia, crônicas e Contos, resultado do I Concurso Literário (Raquel de Queiroz) promovido pela Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Nordeste do Brasil, em comemoração aos 40 anos de sua fundação. Incluído está o trabalho vencedor na categoria de poesia, de autoria de Pedro Ernesto Filho, Legalização do Aborto, composto em decassílabo com obediência à deixa.
- (2008) Ensaio de Cantoria (Pedro Ernesto Filho e Aldaci de França)
Editora: Academia dos Cordeslistas do Crato
Sinopse:
Peleja, travada pela internet,entre os pOetas Pedro Ernesto Filho (advogado) e Aldaci de França (professor), onde, em sextilha, o primeiro defende Juazeiro do Norte-CE e o segundo canta Mossoró-RN, terminando com um mote em sete sílabas e outro em dez. A capa traz a ilustração do xilógrafo Carlos Henrique e a apresentação é do repentista João Bandeira de Caldas.
– (2009) Se eu nascesse de novo pediria pra viver no país da consciência
Editora: Academia dos Cordelistas do Crato
Sinopse:
Mote decassílabo, com enfoque nos fatos sociais da atualidade. Uma obediência completa à rima e metrificação, em linguagem popular melhorada, com rigor na concordância verbal e nominal.
– (2010) Os Griôs da Lira na Teia
Editora: Academia dos Cordelistas do Crato
Sinopse:
Motes variados, todos em sete sílabas, com rigor da rima e metrificação, pautados em um mesmo tema, porém sem qualquer repetição de palavras ou pensamento, num verdadeiro embelezamento da poesia e da literatura.

Fonte:
http://www.perfilho.prosaeverso.net/

VII Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores, em Eurico Salles, ES (5 a 7 de Novembro)


Com uma programação variada e envolvendo a participação de artistas, estudantes, professores e toda a Comunidade em geral, será realizado de 05 a 07 de Novembro próximo, o VII Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores, numa promoção do Clube dos Trovadores Capixabas, CTC, na Sede da AMBES, Associação de Moradores de Eurico Salles, Rua dos Colibris, em Eurico Salles, Carapina, Serra, ES.

Com as presenças confirmadas de Escritores, Poetas e Trovadores de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Amazonas será realizado de 05 a 07 de Novembro de 2010, na AMBES, Associação de Moradores do Bairro Eurico Salles, o VII Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores e a 27a. Edição dos Seminários Nacionais da Trova, iniciados em 2001 para comemorar naquela época o 1º Aniversário do Clube dos Trovadores Capixabas, CTC.

A abertura solene do evento será no dia 05 de Novembro, com início às 19 horas, com a apresentação do Coral da Arcelor Mittal, antiga CST, Recitais Poéticos e declamações.

Para o Congresso de 2010 estão programadas várias Palestras, Lançamentos de Livros, Noite de Autógrafos, Troveata, Oficina de Criação Poética, ensinando a fazer poesia e trovas, Show dos Poetas trovadores na Praça dos Pássaros com quatro Bandas de Rock, SERENATA pelas ruas de Eurico Salles e uma Missa em Trovas.

CONGRESSO VAI DEBATER A INCLUSÃO DAS OBRAS DE AUTORES CAPIXABAS NAS SALAS DE AULAS

Com base numa idéia da Câmara Capixaba do Livro e com integral apoio do Empresário Luiz Carlos Maioli e de vários Acadêmicos da Academia de Letras e Artes da Serra e sócios do Clube dos Trovadores Capixabas, CTC, durante o Congresso de Poetas Trovadores, a ser realizado de 05 a 07 de Novembro de 2010 será apresentado em plenário para discussão e possível aprovação, a proposta da criação de uma lei estabelecendo que entre os livros paradidáticos a serem adotados nas Escolas Estaduais e Municipais nos próximos anos, sejam incluídos autores Capixabas, de modo especial os beneficiados pela Lei de Incentivo a Cultura, Chico Prego.

A proposta será apresentada pelo Presidente do CTC, Clério José Borges para ser incluída na Carta de Eurico Salles, documento com a ser encaminhado às autoridades federais, estaduais e municipais com as principais reinvidicações dos poetas e escritores brasileiros presentes no evento.

NOITE DE AUTÓGRAFOS REUNE ESCRITORES BRASILEIROS E AUTORES BENEFICIADOS PELA LEI "CHICO PREGO" DE INCENTIVO À CULTURA

Os escritores Aldo José Barroca, Luciano Cardoso, Rogério Afonso e Clério José Borges confirmaram participação na Noite de Autógrafos, durante a abertura solene do VII Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores no dia 05 de Novembro, com início às 19 horas até às 22 horas, lançando seus Livros "O Amigo José" , "Mangue. Doc" e "Dicionário Regional de Gírias e Jargões", editados com o incentivo da Lei Chico Prego da Prefeitura Municipal da Serra, ES.

Também participará da Noite de Autógrafos o Escritor Carlos Brunno S. Barbosa, da cidade de Valença, RJ, que lançará o seu livro "Diários de Solidão".

Outros escritores também estarão participando do evento, entre os quais, Fernando Antônio Barbosa Aguiar, Levi Basílio, Mestre Gil, Valdemir Ribeiro Azeredo, Edson Constantino, Repentista Ceará, Albércio Nunes, Moacir Malacarne e in memoriam, Beatriz Barbosa Aguiar.

MISSA EM TROVAS SERÁ NO DOMINGO COM PADRE PEDRO SETTIN E CORAL DA IGREJA CATÓLICA

O Coral "Cantando com Jesus", de Eurico Salles, Carapina Serra ES, sob a batuta do Maestro Joel, confirmou presença na Missa em Trovas a ser realizada durante do Congresso de Trovadores, na Sede da AMBES.

A Missa em trovas do Trovador Antônio Augusto de Assis, residente em Maringá, PR, será celebrada pelo Padre Pedro Settin, Comboniano, Pároco da Paróquia São José Operário de Carapina, Serra, ES, no dia 07/11, Domingo com início às 09h30m.

Após a Missa haverá uma apresentação especial da Banda de Congo Mirim de Bicanga.

ESCRITOR CLÉRIO JOSÉ BORGES LANÇA 8º LIVRO

A Academia de Letras e Artes da Serra e o Clube dos Poetas Trovadores Capixabas, CTC, convidam Vossa Excelência e família para a NOITE DE AUTÓGRAFOS do Poeta Trovador, Escritor e Acadêmico, CLÉRIO JOSÉ BORGES DE SANT ANNA, por ocasião do lançamento do Livro DICIONÁRIO REGIONAL DE GÍRIAS E JARGÕES, com gírias da Malandragem, dos Jovens, dos Advogados (Expressões em Latim), dos Noiados, das Patricinhas e Mauricinhos e dos Policiais. Um trabalho de pesquisa realizado durante 35 anos trabalhando como Escrivão de Polícia da Polícia Civil do Estado do Espírito Santo.

O lançamento do oitavo Livro de Clério José Borges será no dia 05 de Novembro de 2010, Sexta feira, com início às 19,00 horas, durante a solenidade de abertura do VII CONGRESSO BRASILEIRO DE POETAS TROVADORES, a ser realizado de 05 a 07/11/2010, na Sede da Associação de Moradores do Bairro Eurico Salles, AMBES, na Rua dos Colibris, quadra 10, Eurico Salles, ES.

POESIAS DE BERTHOLD BRECHT NA ABERTURA DO CONGRESSO DE TROVADORES

Inspirado no texto dramático infanto-juvenil do dramaturgo alemão Berthold Brecht (1898-1956), "O Mendigo ou Cachorro Morto" (1919), a Tibicuera Produções acaba de anunciar as apresentações do espetáculo teatral, "O Mendigo, o Imperador e suas palavras", no Município da Serra e em várias cidades do Estado. Everaldo Nascimento e Altamir Furlane são os atores da peça e confirmaram presenças na abertura do Congresso, dia 05/11, a partir de 19,00 horas declamando poesias de Brecht.

PREMIADA ESCRITORA KÁTIA BOBBIO LANÇA MAIS UM LIVRO DE CORDEL

A Artista Plástica e Escritora Kátia Maria Bobbio Lima, nascida em Conceição da Barra estará presente no Congresso lançando mais um Livro de Cordel, onde relata a história dos 30 anos do CTC, Clube dos Trovadores Capixabas. Kátia já publicou mais de 100 livros da Literatura de Cordel.

PROGRAMAÇÃO DO CONGRESSO

CONVITE

VII CONGRESSO BRASILEIRO DE POETAS TROVADORES

Com uma programação variada e envolvendo a participação de artistas, estudantes, professores e toda a Comunidade em geral, será realizado de 05 a 07 de Novembro próximo, o VII Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores, numa promoção do Clube dos Trovadores Capixabas, CTC, na Sede da AMBES, Associação de Moradores de Eurico Salles, Rua dos Colibris, em Eurico Salles, Carapina, Serra, ES.

OFICINA DE CRIAÇÃO POÉTICA / APRENDA O QUE É POESIA E COMO FAZER A TROVA

DUAS TURMAS E DUAS AULAS EM DOIS DIAS. INSCRIÇÕES NA HORA. GRÁTIS.
TURMA A – dia 05/11/2010 - PELA MANHÃ – 10,00 horas.
TURMA A – dia 06/11/2010 - PELA MANHÃ – 10,00 horas.
TURMA B – dia 05/11/2010 - PELA TARDE – 14,00 horas.
TURMA B – dia 06/11/2010 - PELA TARDE – 14,00 horas

DIA 05 DE NOVEMBRO.
SEXTA FEIRA. De 10 às 19,00 horas – Varal de Poesias e Vídeos.

19H30M - ABERTURA SOLENE NA SEDE DA AMBES. PARTICIPAÇÃO ESPECIAL DO CORAL DA ARCELOR MITTAL.
Composição da Mesa. Homenagens. Hora de Arte. Noite de Autógrafos, dos Escritores, Aldo José Barroca, Valdemir Ribeiro Azeredo, Levi Basílio, Luciano Cardoso e Rogério Afonso, Carlos Brunno S. Barbosa, Kátia Bobbio, Edilson Celestino Ferreira, Beatriz Barbosa Aguiar.

Lançamento do Livro DICIONÁRIO REGIONAL DE GÍRIAS E JARGÕES, com gírias da Malandragem, dos Jovens, dos Advogados (Expressões em Latim), dos Noiados, das Patricinhas e Mauricinhos e dos Policiais.
Dia 05/11/2010, Sexta feira, com início às 19h30m, na Sede da Associação de Moradores do Bairro Eurico Salles, AMBES, na Rua dos Colibris, Eurico Salles.
PREÇO DO LIVRO R$ 10,00.

DIA 06/11/2010 – SÁBADO – 09,00H –
Reabertura dos trabalhos, na sede da AMBES.
Vídeo: INVENTO de um para sol para veículos, de Edilson Celestino Ferreira e Vídeo Fotos antigas de Vitória.

Concurso Relâmpago de Trovas.

Declamações.

Espaço livre para apresentações e notícias culturais.

Carta de Eurico Salles.

Oficina de Criação Poética e Arte dos Bonecos para crianças, com Maria José, do RJ.

13h30m - Exibição de Vídeos: “Cantagalo, terra de Euclides da Cunha”; “Como compor um Livro”, de Lola Prata, SP; “Serra, Monumento Arquitetônico e história - ontem e hoje”, de Suzy Nunes e “Judith, Senhora Cidadã”, de José Benevides Correia, com produção e roteiro de Suzy Nunes.

14h30m - Diversidade Cultural, com coordenação das Professoras Maria Lúcia Adriano Costa e Vanderléia L. Adriano Costa.

16,00 horas - Peça Teatral com coordenação de Fábio Santana.

17,00 horas - Exibição do Filme “Siga minhas mãos”, sobre as Montanhas do Espírito Santo, de Luciana Gama. Obra editada com apoio da Lei de Incentivo à cultura da Serra, ES, Lei Chico Prego.

19,00h - SERENATA na sede da AMBES com caminhada até a Praça.

20,00H, SHOW NA PRAÇA DOS PÁSSAROS EM EURICO SALLES COM QUATRO BANDAS DE ROCK ‘N’ ROLL, HEAVY METAL E ROCK ALTERNATIVO, COM SUCESSOS DE LED ZEPPELIN, BLACK SABBATH, JIMMY HENDRIX, IRON MAIDEN, METALLICA, NIRVANA, RAIMUNDOS E PITTY. AS BANDAS SÃO: “JUICING SOULS” E “ANARCKIA”, DE VITÓRIA; “STILLBORN” E “TÉTRICOS”, DA SERRA.

Dia 07/11/2010, DOMINGO - 09h30m –
MISSA EM TROVAS, na Sede da AMBES, com trovas do Trovador A. A. de Assis, de Maringá, Paraná, celebrada pelo Padre Italiano, Pedro Settin.
Participação do Coral “Cantando com Jesus”, da Igreja Católica da Comunidade São Paulo, de Eurico Salles. Declamação e leitura de Poesias. Banda de Congo Mirim de Bicanga.

LIVROS A SEREM LANÇADOS NO CONGRESSO

O AMIGO JOSÉ, Livro de contos e crônicas, patrocinado pela Lei Chico Prego, da Secretaria de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer da Prefeitura da Serra, com importante participação do Conselho Municipal de Cultura, e apoio cultural do Banestes - Banco do Estado do Espírito Santo, cujo lançamento será sexta-feira, 5 de novembro, a partir das 19 horas, na AMBES - Associação de Moradores do Bairro Eurico Sales, como parte da programação do Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores.

Convite: Lançamento do 4º livro de Aldo José Barroca: “O amigo José”, contos e crônicas. Preço promocional no lançamento: R$ 5,00 (cinco reais). Sexta-feira, 5 de novembro de 2010, das 19 horas em diante, na Associação de Moradores do Bairro Eurico Sales, Serra, durante o VII Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores.
Patrocínio: Lei Chico Prego, da Secretaria de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer (Prefeitura da Serra / Conselho Municipal de Cultura) e apoio cultural: Banestes. Contato com o autor: ajbarroca@oi.com.br / 88145252.

¨DIÁRIOS DE SOLIDÃO”, Livro de Carlos Brunno S. Barbosa.

Fonte:
Clerio José Borges Sant’Anna

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.39)


Trova do Dia

Essa paz tão desejada,
pelos homens, certamente,
precisa ser procurada,
primeiro, dentro da gente!
DELCY CANALLES/RS

Trova Potiguar

A saudade não faz sangue,
mas, fura feito um arpão,
com efeito bumerangue,
volta sempre ao coração!...
FRANCISCO MACEDO/RN

Uma Trova Premiada

2010 > São Paulo/SP
Tema > FEITIÇO > Vencedora

Para ter o compromisso
do amor de certa mulher,
eu, que não creio em feitiço
faço o feitiço que houver!
ARLINDO TADEU HAGEN/MG

Uma Poesia livre

– Vicente Alencar/CE –
FRUTOS DOCES

Os frutos doces
de um amor maduro
transformam meus dias
de minuto a minuto
fazendo-os mais ensolarados
e as noites mais amenas.

O preciosismo
de um amor maduro
modifica, altera,
faz a vida ganhar
uma outra dimensão
com os caminhos ficando abertos
nos dando
uma nova alegria de viver.

Uma Trova de Ademar

A seca cruel e dura
faz o maior escarcéu,
quebra a chave e a fechadura
da caixa d’água do céu.
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Com quatro versos, eu penso
que na trova com certeza,
há quatro pontas de um lenço,
para enxugar a tristeza...
ORLANDO BRITO/MA

Estrofe do Dia

Saudade é foto amarela
que um filho guardou dos pais,
depois que os pais faleceram
da foto ele foi atrás,
de tanto guardar, perdeu;
procurou, não achou mais.
PEDRO ERNESTO FILHO/CE

Soneto do Dia

– Antônio Roberto Fernandes/RJ –
LADAINHA.

Olhai pra mim, mulher da minha vida!
Senhora dos meus sonhos, me escutai!
Minh' alma já não sabe aonde vai,
neste vale de lágrimas perdida.

Com a luz de vossos olhos me mostrai
um caminho, uma chance, uma saída,
Senhora finalmente aparecida,
meus negros horizontes clareai.

Não tenho vocação para o martírio,
perdão se é heresia o meu delírio
mas nestes lábios que têm fogo e mel.

Arrebatai-me agora, ao gozo eterno
para que eu - que já conheço o inferno -
possa, convosco, conhecer o céu!.…

Fonte:
Ademar Macedo

Felipe Daiello na Feira do Livro de Porto Alegre (Onde Estão os Dinossauros?: Uma aventura na Mongólia)

Fonte:
Felipe Daiello

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Cantinho do Assis (Bela alma a do poeta)

Hoje começamos o Cantinho do poeta, trovador, haicaista maringaense Antonio Augusto de Assis
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Quantos sons você conta aí?... Suponhamos que sete: Be-la-al-maa-do-po-e-ta. Mas por certo haverá quem conte seis, ou mesmo cinco, dependendo do ouvido de cada um.

Dá-se isso por obra do bendito hiato, o inimigo número um da métrica. Parece que para a maioria dos poetas brasileiros o verso fica mais agradável quando se respeitam os hiatos, porém outros acham mais natural fundir as vogais. E como é que se resolve isso? Sabe-se lá...

O maior drama é nos concursos. Você não sabe se conta poe-ta ou po-e-ta. O jeito é torcer para que os julgadores acatem o sotaque de cada autor. Em regra, não se derruba nenhuma trova em razão desse problema; entretanto, mesmo assim, o concorrente fica de pé atrás, pelo medo de quebrar o cujo...

A tendência, como foi dito, é pronunciar po-e-ta, vi-a-gem, a-in-da, a-al-ma, a-ho-ra, o-ho-mem, o-ou-ro, po-ei-ra, su-a, to-a-da etc. Mas... e se você não concordar? Tudo bem. Você continuará escrevendo seus versos do modo que mais lhe agrade, e pronto. Afinal de contas, quem manda no texto é o autor. Se bem que alguns, por via das dúvidas, têm feito o seguinte:

se, por exemplo, mandam a trova para um concurso no Rio de Janeiro, contam/fri-io/, em dois sons;
se o concurso é em São Paulo, contam/friu/, num som apenas.
Outros, mais cuidadosos ainda, procuram de toda forma evitar hiatos.

Resolve? Bem... Pelo menos pode livrar a trova do risco de perder pontos por não soar bem no ouvido do julgador. São ossos que o poeta encontra em seu delicioso ofício...

Fonte:
Revista Virtual Trovia – ano 8 – n.88 – Outubro 2006

Monteiro Lobato (Emília no País da Gramática) – Capítulo II: Portugália

Era uma cidade como todas as outras. A gente importante morava no centro e a gente de baixa condição, ou decrépita, morava nos subúrbios. Os meninos entraram por um desses bairros pobres, chamado o bairro do Refugo, e viram grande número de palavras muito velhas, bem corocas, que ficavam tomando sol à porta de seus casebres. Umas permaneciam imóveis, de cócoras, como os índios das fitas americanas; outras coçavam-se.

— Essas coitadas são bananeiras que já deram cacho — explicou Quindim. — Ninguém as usa mais, salvo por fantasia e de longe em longe. Estão morrendo. Os gramáticos classificam essas palavras de arcaísmos. Arcaico quer dizer coisa velha, caduca.

— Então, Dona Benta e Tia Nastácia são arcaísmos! — lembrou Emília.

— Mais respeito com vovó, Emília! Ao menos na cidade da língua tenha compostura — protestou Narizinho.

O rinoceronte prosseguiu:

— As coitadas que ficam arcaicas são expulsas do centro da cidade e passam a morar aqui, até que morram e sejam enterradas naquele cemitério, lá no alto do morro. Porque as palavras também nascem, crescem e morrem, como tudo mais.

Narizinho parou diante duma palavra muito velha, bem coroca, que estava catando pulgas históricas à porta dum casebre. Era a palavra Bofé.

— Então, como vai a senhora? — perguntou a menina, mirando-a de alto a baixo.

— Mal, muito mal — respondeu a velha. — No tempo de dantes fui moça das mais faceiras e fiz o papel de advérbio. Os homens gostavam de empregar-me sempre que queriam dizer Em verdade, Francamente. Mas começaram a aparecer uns Advérbios novos, que caíram no gosto das gentes e tomaram o meu lugar. Fui sendo esquecida. Por fim, tocaram-me lá do centro. "Já que está velha e inútil, que fica fazendo aqui?", disseram-me. "Mude-se para os subúrbios dos Arcaísmos", e eu tive de mudar-me para cá.

— Por que não morre duma vez para ir descansar no cemitério? — perguntou Emília com todo o estabanamento.

— É que, de quando em quando, ainda sirvo aos homens. Existem certos sujeitos que, por esporte, gostam de escrever à moda antiga; e quando um deles se mete a fazer romance histórico, ou conto em estilo do século XV, ainda me chama para figurar nos diálogos, em vez do tal Francamente que tomou o meu lugar.

— Aqui o nosso Visconde pela-se por coisas antigas — disse a menina. — Conte-lhe toda a sua vida, desde que nasceu.

O Visconde sentou-se ao lado da palavra Bofé e ferrou na prosa, enquanto Narizinho ia conversar com outra palavra ainda mais coroca.

— E a senhora, quem é? — perguntou-lhe.

— Sou a palavra Ogano.

— Ogano? O que quer dizer isso?

— Nem queira saber, menina! Sou uma palavra que já perdeu até a memória da vida passada. Apenas me lembro que vim do latim Hoc Anno, que significa Este Ano. Entrei nesta cidade quando só havia uns começos de rua; os homens desse tempo usavam-me para dizer Este Ano. Depois fui sendo esquecida, e hoje ninguém se lembra de mim. A Senhora Bofé é mais feliz; os escrevedores de romances históricos ainda a chamam de longe em longe. Mas a mim ninguém, absolutamente ninguém, me chama. Já sou mais que Arcaísmo; sou simplesmente uma palavra morta. . .

Narizinho ia dizer-lhe uma frase de consolação quando foi interrompida por um bando de palavras jovens, que vinham fazendo grande barulho.

— Essas que aí vêm são o oposto dos Arcaísmos — disse Quindim. — São os neologismos, isto é, palavras novíssimas, recém-saídas da fôrma.

— E moram também nestes subúrbios de velhas?

— Em matéria de palavras a muita mocidade é tão defeito como a muita velhice. O Neologismo tem de envelhecer um bocado antes que receba autorização para residir no centro da cidade. Estes cá andam em prova. Se resistirem, se não morrerem de sarampo ou coqueluche e se os homens virem que eles prestam bons serviços, então igualam-se a todas as outras palavras da língua e podem morar nos bairros decentes. Enquanto isso ficam soltos pela cidade, como vagabundos, ora aqui, ora ali.

Estavam naquele grupo de Neologismos diversos que os meninos já conheciam, como Chutar, que é dar um pontapé; Bilontra, que quer dizer um malandro elegante; Encrenca, que significa embrulhada, mixórdia, coisa difícil de resolver.

— Outro dia vovó disse que esta palavra Encrenca é a mais expressiva e útil que ela conhece, de todas que nasceram no Brasil — lembrou Pedrinho.

Depois que os Neologismos acabaram de passar, os meninos dirigiram-se a uma praça muito maltratada, cheia de capim, sem calçamento nem polícia, onde brincavam bandos de peraltas endiabrados.

— Que molecada é esta? — perguntou a menina.

— São palavras da Gíria, criadas e empregadas por malandros ou gatunos, ou então por homens dum mesmo ofício. A especialidade delas é que só os malandros ou tais homens dum mesmo ofício as entendem. Para o resto do povo nada significam.

Narizinho chamou uma que parecia bastante pernóstica.

— Conte-me a sua história, menina.

A moleca pôs as mãos na cintura e, com ar malandríssimo, foi dizendo:

— Sou a palavra Bamba, nascida não sei onde e filha de pais incógnitos, como dizem os jornais. Só a gente baixa, a molecada e a malandragem das cidades é que se lembra de mim. Gente fina, a tal que anda de automóveis e vai ao teatro, essa tem vergonha de utilizar-se dos meus serviços.

— E que serviço presta você, palavrinha? — perguntou Emília.

— Ajudo os homens a exprimirem suas idéias, exatamente como fazem todas as palavras desta cidade. Sem nós, palavras, os homens seriam mudos como peixes, e incapazes de dizer o que pensam. Eu sirvo para exprimir valentia. Quando um malandro de bairro dá uma surra num polícia, todos os moleques da zona utilizam-se de mim para definir o valentão. "Fulano é um bamba!", dizem. Mas como a gente educada não me emprega, tenho que viver nestes subúrbios, sem me atrever a pôr o pé lá em cima.

— Onde é lá em cima?

— Nós chamamos "lá em cima" à parte boa da cidade; este "lixo" por aqui é chamado "cá embaixo".

— Vejo que você tem muitas companhias — observou Narizinho, correndo os olhos pela molecada que formigava em redor.

— Tenho, sim. Toda esta rapaziada é gentinha da Gíria, como eu. Preste atenção naquela de olho arregalado. É a palavra Otário, que os gatunos usam para significar um "trouxa" ou pessoa que se deixa lograr pelos espertalhões. Com a palavra Otário está conversando outra do mesmo tipo, Bobo.

— Bobo sei o que significa — disse Pedrinho. — Nunca foi gíria.

— Lá em cima — explicou Bamba —- Bobo significa uma coisa; aqui embaixo significa outra. Em língua de gíria Bobo quer dizer relógio de bolso. Quando um gatuno diz a outro: "Fiz um bobo", quer significar que "abafou" um relógio de bolso.

— E por que deram o nome de Bobo aos relógios de bolso?

— Porque eles trabalham de graça — respondeu Bamba, dando uma risadinha cínica.

Os meninos ficaram por ali ainda algum tempo, conversando com outras palavras da Gíria — e por precaução Pedrinho abotoou o paletó, embora seu paletó nem bolso de dentro tivesse. A gíria dos gatunos metia-lhe medo. . .

— Por estes subúrbios também vagabundeiam palavras de outro tipo, malvistas lá em cima — disse o rinoceronte apontando para uma palavra loura, visivelmente estrangeira, que naquele momento ia passando. — São palavras exóticas, isto é, de fora — imigrantes a que os gramáticos puseram o nome geral de barbarismos.

— Querem significar com isso que elas dizem barbaridades? — indagou Emília.

— Não; apenas que são de fora. Este modo de classificá-las veio dos romanos, que consideravam bárbaros a todos os estrangeiros. Barbarismo quer dizer coisa de estrangeiro. Se o Barbarismo vem da França tem o nome especial de galicismo; se vem da Inglaterra, chama-se anglicismo; se vem da Itália, italianismo — e assim por diante. Os Galicismos são muito maltratados nesta cidade. As palavras nascidas aqui torcem-lhes o focinho e os "grilos" (como são chamados em São Paulo os guardas policiais das ruas) da língua (os gramáticos), implicam muito com eles. Certos críticos chegam a considerar crime de cadeia a entrada dum Galicismo numa frase. Tratam os coitados como se fossem leprosos. Aí vem um.

O Galicismo Desolado vinha vindo, muito triste, de bico pendurado. Quindim apontou-o com o chifre, dizendo:

— Se você algum dia virar poeta, Pedrinho, e cair na asneira de botar num soneto este pobre Galicismo, os críticos xingarão você de mil nomes feios. Desolado é o que eles consideram um Galicismo imperdoável. Já aquele outro que lá vem goza de maior consideração. É a palavra francesa Elite, que quer dizer a nata, a fina flor da sociedade. Veja como é petulantezinha, com o seu monóculo no olho.

— Elite tem licença de morar no centro da cidade? — perguntou o menino.

— Não tinha, mas hoje tem. Já está praticamente naturalizada. Durante muito tempo, entretanto, só podia aparecer por lá metida entre aspas, ou em grifo.

— Que é isso?

— Aspas e Grifo são os sinais que elas têm de trazer sempre que se metem no meio das palavras nativas. Na cidade das palavras inglesas não é assim — as palavras de fora gozam lá de livre trânsito, podendo apresentar-se sem aspas e sem grifo. Mas aqui nesta nossa Portugália há muito rigor nesse ponto. Palavra estrangeira, ou de gíria, só entra no centro da cidade se estiver aspada ou grifada.

— Olhem! — gritou Emília. — Aquela palavrinha acolá acaba de tirar do bolso um par de aspas, com as quais está se enfeitando, como se fossem asinhas. . .

— É que recebeu chamado para figurar nalguma frase lá no centro e está vestindo o passaporte. Trata-se da palavra francesa Soirée. Reparem que perto dela está outra a botar-se em grifo. É a palavra Bouquet. . .

— Judiação! — comentou Narizinho. — Acho odioso isso. Assim como num país entram livremente homens de todas as raças — italianos, franceses, ingleses, russos, polacos, assim também devia ser com as palavras. Eu, se fosse ditadora, abria as portas da nossa língua a todas as palavras que quisessem entrar — e não exigia que as coitadinhas de fora andassem marcadas com os tais grifos e as tais aspas.

— Mesmo assim — explicou o rinoceronte — muitas palavras estrangeiras vão entrando e com o correr do tempo acabam "naturalizando-se". Para isso basta que mudem a roupa com que vieram de fora e sigam os figurinos desta cidade.

Bouquet, por exemplo, se trocar essa sua roupinha francesa e vestir um terno feito aqui, pode andar livremente pela cidade. Basta que vire Buquê. . .

Perto havia uma elevação donde se descortinava toda a cidade; o rinoceronte levou os meninos para lá.
––––––––––––––––––-
Continua… Capítulo III: Gente importante e gente pobre
––––––––––––––––
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Emília no País da Gramática. SP: Círculo do Livro. Digitalizado por http://groups.google.com/group/digitalsource

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.38)


Trova do Dia

Insconstância é estar contigo,
tudo tem duplo valor:
busco o amor , encontro o amigo,
busco o amigo, encontro o amor.
LISETE JOHNSON/RS

Trova Potiguar

Das luzes da mocidade,
que deram luz à ilusão,
sobrou sombra de saudade,
dando sombra à solidão.
LUIZ DUTRA BORGES/RN

Uma Trova Premiada

2010 > São Paulo/SP
Tema > FEITIÇO > Vencedora

Nem mesmo o sol nos desperta
do feitiço sem pudor,
que nos envolve e acoberta
nas madrugadas de amor!
ÉLEN DE NOVAIS FÉLIX/RJ

Uma Poesia livre

– Roberto Pinheiro Acruche/RJ –
TEMPESTADE

Você chegou a minha vida
tal qual uma tempestade...
Foi uma grande ventania
que me arrostou,
arrasando tudo que podia.
Abalou meu coração,
desfez meu compromisso
e além disso
arrancou de mim a razão.
Você passou por mim
com a pressa e a velocidade de um tufão!
Derrocou a minha vida,
modificou o meu rumo
levando-me a inflexível adversidade...
Deixando-me o martírio do infortúnio,
a solidão, naufragando no mar da saudade.

Uma Trova de Ademar

Encenados, ao relento,
vejo com muita emoção
os “atos” de sofrimento
nos teatros do sertão!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Há dois mil anos atrás,
o doce e meigo Jesus
pregou aos homens a paz...
e foi pregado na cruz...
WILSON MONTEMÓR/RJ

Estrofe do Dia

Quando reza um pai nosso em oração
você pede perdão pelas ofensas,
mesmo sem esquecer das desavenças
e do ódio que tem no coração.
Meu amigo, você preste atenção,
que no mesmo Pai Nosso oferecido,
você diz, assim meio introvertido,
sem pensar na importância deste tomo:
"Perdoai minhas ofensas assim como
eu perdoo a quem tem me ofendido.
JOSÉ ACACI/RN

Soneto do Dia

– Francisco Macedo/RN –
DES(E)DUCAÇÃO.

A nossa educação do “Faz de conta”...
- Emaranhando reles neologismos,
pedagogia plena de modismos,
que para a maioria são de ponta.

Na educação, que ao meu tempo remonta,
tinha um aprendizado sem cinismo.
Não tinha a “Caixa Preta” do estrelismo,
que nenhum pedagogo hoje desmonta.

Chega-se à sexta série sem saber,
as básicas noções: Ler e escrever,
no “armazém” de “guardar” adolescentes.

Neste “jogo” de grande hipocrisia,
a própria educação hoje é quem cria
toda uma geração de delinqüentes.

Fonte:
Ademar Macedo

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Maranhão Sobrinho (Poemas Avulsos)


O GATO

Enquanto mamãe Chiquinha
no quarto o caçula embala,
com os contos da Carochinha,
os dois namoram na sala.

-Tu não te zangas Corinha,
se eu te beijar? Anda...fala!
-Não sei, não, diz-lhe a priminha
e um beijo bem longo estala.

A mãe, que, ao menor ruído,
se assusta, pergunta: -Cora,
que foi isto? e atenta o ouvido.

Diz-lhe a filha que a escutou:
-Não foi nada, não, senhora:
foi o gato que espirrou!

SOROR TERESA

... E um dia as monjas foram dar com ela
morta, da cor de um sonho de noivado,
no silêncio cristão da estreita cela,
lábios nos lábios de um Crucificado...

somente a luz de uma piedosa vela
ungia, como um óleo derramado,
o aposento tristíssimo de aquela
que morrera num sonho, sem pecado...

Todo o mosteiro encheu-se de tristeza,
e ninguém soube de que dor escrava
morrera a divinal soror Teresa...

Não creio que, de amor, a morte venha,
mas, sei que a vida da soror boiava
dentro dos olhos do Senhor da Penha...

Papéis Velhos... Roídos pela Traça do Símbolo, 1908

TELA DO NORTE

No estirão, percutindo os chifres, a boiada
monótona desliza; ondulando, a poeira,
em fulvas espirais, cobre toda a chapada
em cujos poentes o sol põe uns tons de fogueira.

Baba de sede e muge a leva; triturada
sob as patas dos bois a relva toda cheira!
Boiando, corta o ar a mórbida toada
do guia que, de pé, palmilha à cabeceira...

Nos flancos da boiada, aos recurvos galões
as éguas, vão tocando a reses fugitivas
o vaqueiros, com o sol nas pontas dos ferrões...

E, do gado o tropel, com as asas derreadas
quase riscando o chão, que o sol calcina, esquivas,
arrancam coleando as emas assustadas...

Estatuetas, 1909

MÁRTIR

Das cinco chagas de pesar, que exangue,
Trago no triste coração magoado,
Descem rosários de rubi de sangue
Como do corpo do Crucificado...

Pende-me a fronte sobre o peito, langue,
De infinitas Traições alanceado...
E, na noite da Mágoa, expiro exangue
Na Cruz de Pedra da Paixão pregado...

Subi, de joelhos, expirando, o adusto
Desfiladeiro enorme do Calvário...
Sob o madeiro da Saudade, a custo!

Sem consumar meus sonhos adorados,
Oiço, no meio do Martírio vário,
O chocalhar sacrílego dos Dados...

Fontes:
Antonio Manoel Abreu Sardenberg
Antonio Miranda

Maranhão Sobrinho (1879 / 1915)


Fundador com Antonio Lobo, I. Xavier de Carvalho e Corrêa de Araújo, entre outros, do movimento de renovação literária denominado Os Novos Atenienses, que em fins do século XIX e início do século XX sacudiu o meio intelectual de São Luís com idéias e conceitos vanguardistas

Boêmio notório e de vida inteiramente desregrada, Maranhão Sobrinho "foi o mais considerável poeta do seu tempo, no extremo Norte, e o simbolista ortodoxo, o satanista por excelência do movimento naquela região", segundo o crítico Andrade Murici.

Criado em Barra do Corda, no interior do Maranhão, conta-se que quando criança era irrequieto, brincalhão e levado mesmo da breca, no dizer dos seus contemporâneos. Freqüentou irregularmente os primeiros estudos no conceituado colégio do Dr. Isaac Martins, educador de excepcionais qualidades, ardoroso propagandista republicano e abolicionista.

Em 15 de agosto de 1899, com o auxílio paterno, embarcou para São Luís, onde no ano seguinte funda a "Oficina dos Novos" e matricula-se com o nome de José Maranhão Sobrinho na antiga Escola Normal, em 1901, tendo para isso obtido a ajuda de uma pequena bolsa de estudo, naqueles tempos denominada pensão. Por motivo de se haver indisposto com alguns professores, em seguida abandonava o curso normal e, sem emprego, aos poucos entregou-se à vida boêmia.

Em 1903, impressionados com a vida boêmia que levava em São Luís, alguns amigos mais dedicados o embarcaram, quase à força, para Belém do Pará, na esperança de que ali mudasse de procedimento, trabalhasse e arranjasse meios de publicar seus livros.

Na capital paraense, colocou-se no jornal Notícias e passou a colaborar na tradicional Folha do Norte. Bem depressa, tornou-se popular nas rodas boêmias e nos meios intelectuais. Colaborou também em jornais e outras publicações de São Luís e de vários Estados, incluindo-se entre estas a Revista do Norte, de Antônio Lôbo e Alfredo Teixeira.

Em 1908 funda Academia Maranhense de Letras, unido à plêiade de escritores e poetas locais. Nisso transfere-se para a Amazônia onde, residindo em Manaus, passa a colaborar com a imprensa local e torna-se membro fundador da Academia Amazonense de Letras.

Sua vida sempre foi boêmia e desregrada, escrevendo seus versos em bares, mesas de botequim ou qualquer ambiente em que predominasse álcool, papel e tinta. Despreocupado pela sorte dos seus poemas, publicou seus livros em péssimas edições sem capricho ou conservação, aos cuidados de amigos e admiradores, deixando esparsa grande parte do que escreveu em jornais, revistas e folhas de cadernos de venda.

Sem dispor de recursos financeiros, publicou seus trabalhos com grande dificuldade. Foram ao todo três livros editados de modo bastante precário, com circulação restrita à província. Além disso, apenas colaborações esparsas, ainda que numerosas, em revistas e jornais de São Luís. Muito embora sua obra ainda não tenha sido objeto de um estudo mais aprofundado, a crítica nela destaca uma bem assimilada influência de Baudelaire e Verlaine, considerando-o ao mesmo tempo um dos luminares do movimento simbolista no Brasil - quase no mesmo nível ocupado por Cruz e Souza e Alfonsus Guimaraes, expoentes máximos da escola.

De qualquer sorte, coube a Maranhão Sobrinho ser um poeta representativo do período de transição da literatura maranhense - teve o talento amplamente reconhecido, tanto pelo público quanto por seus pares, foi um dos fundadores da Academia Maranhense de Letras, mas sofreu estilisticamente na difícil tarefa de buscar uma síntese convincente entre o Romantismo ainda em voga, o Parnasianismo e o Simbolismo. Reflexos dessa luta estéril são visíveis em seus poemas. Houvesse vivido mais alguns anos, talvez sua obra conseguisse escapar dessa armadilha literária, atingindo novas e inesperadas dimensões.

Novamente muda-se mas para Belém, onde conhece o poeta Carlos D. Fernandes, que havia sido amigo de Cruz e Sousa e pertencera ao grupo da revista Rosa-Cruz. Dois anos depois, de retorno a Manaus, lá fixa-se como funcionário público do Estado, onde vem a falecer no dia do seu aniversário em plena noite de natal, no dia 25 de dezembro de 1915, com apenas 36 anos de idade.

Em Barra da Corda, o seu nome é lembrado oficialmente em uma única praça e pela Academia Barra-Cordense de Letras.

A poesia de Maranhão Sobrinho é de fato colorida e fantasiosa, por vezes cheia de um resplendor de pedrarias, quando muito se revela satânica e, em alguns momentos, penetrada do amargor de Cruz e Sousa. "... É o representante mais completo da escola simbolista no Maranhão", diz Antônio Reis Carvalho, e de fato, segundo os críticos literários, é notória a influência dos poetas franceses Mallarmé, Verlaine e Baudelaire.

Na poesia de Maranhão Sobrinho a idéia é simbólica, o sentimento é romântico e a forma é parnasiana, afirma o literato Reis Carvalho.

Literariamente batizado na escola simbolista, Maranhão Sobrinho é conhecido pelos críticos e estudiosos de literatura como um dos três melhores poetas simbolistas brasileiros, ao lado de Cruz e Souza e Alphonsus de Guimarães.

Fontes:
Antonio Manoel Abreu Sardenberg
Antonio Miranda

Monteiro Lobato (Emília no País da Gramática) – Cap.1: Uma Idéia da Senhora Emília



Dona Benta, com aquela paciência de santa, estava ensinando gramática a Pedrinho. No começo Pedrinho rezingou.

— Maçada, vovó. Basta que eu tenha de lidar com essa caceteação lá na escola. As férias que venho passar aqui são só para brinquedo. Não, não e não. . .

— Mas, meu filho, se você apenas recordar com sua avó o que anda aprendendo na escola, isso valerá muito para você mesmo, quando as aulas se reabrirem. Um bocadinho só, vamos! Meia hora por dia. Sobram ainda vinte e três horas e meia para os famosos brinquedos.

Pedrinho fez bico, mas afinal cedeu; e todos os dias vinha sentar-se diante de Dona Benta, de pernas cruzadas como um oriental, para ouvir explicações de gramática.

— Ah, assim, sim! — dizia ele. — Se meu professor ensinasse como a senhora, a tal gramática até virava brincadeira.

Mas o homem obriga a gente a decorar uma porção de definições que ninguém entende. Ditongos, fonemas, gerúndios. . .

Emília habituou-se a vir assistir às lições, e ali ficava a piscar, distraída, como quem anda com uma grande idéia na cabeça.

É que realmente andava com uma grande idéia na cabeça.

— Pedrinho — disse ela um dia depois de terminada a lição —, por que, em vez de estarmos aqui a ouvir falar de gramática, não havemos de ir passear no País da Gramática?

O menino ficou tonto com a proposta.

— Que lembrança, Emília! Esse país não existe, nem nunca existiu. Gramática é um livro.

— Existe, sim. O rinoceronte (este personagem aparece pela primeira vez nas Caçadas de Pedrinho), que é um sabidão, contou-me que existe. Podemos ir todos, montados nele. Topa?

Perguntar a Pedrinho se queria meter-se em nova aventura era o mesmo que perguntar a macaco se quer banana. Pedrinho aprovou a idéia com palmas e pinotes de alegria, e saiu correndo para convidar Narizinho e o Visconde de Sabugosa. Narizinho também bateu palmas — e se não deu pinotes foi porque estava na cozinha, de peneira ao colo, ajudando Tia Nastácia a escolher feijão.

— E onde fica esse país? — perguntou ela.

— Isso é lá com o rinoceronte — respondeu o menino. — Pelo que diz a Emília, esse paquiderme é um grandessíssimo gramático.

— Com aquele cascão todo?

— É exatamente o cascão gramatical — asneirou Emília, que vinha entrando com o Visconde.

Os meninos fizeram todas as combinações necessárias, e no dia marcado partiram muito cedo, a cavalo no rinoceronte, o qual trotava um trote mais duro que a sua casca. Trotou, trotou e, depois de muito trotar, deu com eles numa região onde o ar chiava de modo estranho.

— Que zumbido será esse? — indagou a menina. —

Parece que andam voando por aqui milhões de vespas invisíveis.

— É que já entramos em terras do País da Gramática — explicou o rinoceronte. — Estes zumbidos são os sons orais, que voam soltos no espaço.

— Não comece a falar difícil que nós ficamos na mesma — observou Emília. — Sons Orais, que pedantismo é esse?

— Som Oral quer dizer som produzido pela boca, A, E, I, O, U são Sons Orais, como dizem os senhores gramáticos,

— Pois diga logo que são letras! — gritou Emília.

— Mas não são letras! — protestou o rinoceronte. — Quando você diz A ou O, você está produzindo um som, não está escrevendo uma letra. Letras são sinaizinhos que os homens usam para representar esses sons. Primeiro há os Sons Orais; depois é que aparecem as letras, para marcar esses Sons Orais. Entendeu?

O ar continuava num zunzum cada vez maior. Os meninos pararam, muito atentos, a ouvir.

— Estou percebendo muitos sons que conheço — disse Pedrinho, com a mão em concha ao ouvido.

— Todos os sons que andam zumbindo por aqui são velhos conhecidos seus, Pedrinho.

— Querem ver que é o tal alfabeto? — lembrou Narizinho. — E é mesmo!. . . Estou distinguindo todas as letras do alfabeto. . .

— Não, menina; você está apenas distinguindo todos os sons das letras do alfabeto — corrigiu o rinoceronte com uma pachorra igual à de Dona Benta. — Se você escrever cada um desses sons, então, sim; então surgem as letras do alfabeto.

— Que engraçado! — exclamou Pedrinho, sempre de mão em concha ao ouvido. — Estou também distinguindo todas as letras do alfabeto: o A, o C, o D, o X, o M. . .

O rinoceronte deu um suspiro.

— Mas chega de sons invisíveis — gritou a menina. —-Toca para diante. Quero entrar logo no tal País da Gramática.

-— Nele já estamos — disse o paquiderme. — Esse país principia justamente ali onde o ar começa a zumbir. Os sons espalhados pelo ar, e que são representados por letras, fundem-se logo adiante em sílabas, e essas Sílabas formam palavras — as tais palavras que constituem a população da cidade onde vamos. Reparem que entre as letras há cinco que governam todas as outras. São as Senhoras vogais — cinco madamas emproadas e orgulhosíssimas, porque palavra nenhuma pode formar-se sem a presença delas. As demais letras ajudam; por si mesmas nada valem. Essas ajudantes são as consoantes e, como a palavra está dizendo, só soam com uma Vogai adiante ou atrás. Pegue as dezoito Consoantes do alfabeto e procure formar com elas uma palavra. Experimente, Pedrinho.

Pedrinho experimentou de todos os jeitos, sem nada conseguir.

— Misture agora as Consoantes com uma Vogai, com o A, por exemplo, e veja quantas palavras pode formar.

Pedrinho misturou o A com as dezoito Consoantes e imediatamente viu que era possível formar um grande número de palavras.

Nisto dobraram uma curva do caminho e avistaram ao longe o casario de uma cidade. Na mesma direção, mais para além, viam-se outras cidades do mesmo tipo.

— Que tantas cidades são aquelas, Quindim? — perguntou Emília.

Todos olharam para a boneca, franzindo a testa. Quindim? Não havia ali ninguém com semelhante nome.

— Quindim — explicou Emília — é o nome que resolvi botar no rinoceronte.

— Mas que relação há entre o nome Quindim, tão mimoso, e um paquiderme cascudo destes? — perguntou o menino, ainda surpreso.

— A mesma que há entre a sua pessoa, Pedrinho, e a palavra Pedro — isto é, nenhuma. Nome é nome; não precisa ter relação com o "nomado". Eu sou Emília, como podia ser Teodora, Inácia, Hilda ou Cunegundes. Quindim!. . . Como sempre fui a botadeira de nomes lá do sítio, resolvo batizar o rinoceronte assim — e pronto! Vamos, Quindim, explique-nos que cidades são aquelas.

O rinoceronte olhou, olhou e disse:

— São as cidades do País da Gramática. A que está mais perto chama-se Portugália, e é onde moram as palavras da língua portuguesa. Aquela bem lá adiante é Anglópolis, a cidade das palavras inglesas.

— Que grande que é! — exclamou Narizinho.

— Anglópolis é a maior de todas — disse Quindim. — Moram lá mais de quinhentas mil palavras.

— E Portugália, que população de palavras tem?

— Menos de metade — aí umas duzentas e tantas mil, contando tudo.

— E aquela, à esquerda?

— Galópolis, a cidade das palavras francesas. A outra é Castelópolis, a cidade das palavras espanholas. A outra é Italópolis, onde todas as palavras são italianas.

— E aquela, bem, bem, bem lá no fundo, toda escangalhada, com jeito de cemitério?

— São os escombros duma cidade que já foi muito importante — a cidade das palavras latinas; mas o mundo foi mudando e as palavras latinas emigraram dessa cidade velha para outras cidades novas que foram surgindo. Hoje, a cidade das palavras latinas está completamente morta. Não passa dum montão de velharias. Perto dela ficam as ruínas de outra cidade célebre do tempo antigo — a cidade das velhas palavras gregas. Também não passa agora dum montão de cacos veneráveis.

Puseram-se a caminho; à medida que se aproximavam da primeira cidade viram que os sons já não zumbiam soltos no ar, como antes, mas sim ligados entre si.

— Que mudança foi essa? — perguntou a menina.

— Os sons estão começando a juntar-se em sílabas, depois as Sílabas descem e vão ocupar um bairro da cidade.

— E que quer dizer Sílaba? — perguntou a boneca.

— Quer dizer um grupinho de sons, um grupinho ajeitado; um grupinho de amigos que gostam de andar sempre juntos; o G, o R e o A, por exemplo, gostam de formar a Sílaba Gra, que entra em muitas palavras.

— Graça, Gravata, Gramática. . . — exemplificou Pedrinho.

— Isso mesmo aprovou Quindim. — Também o M e o U gostam de formar a Sílaba Mu, que entra em muitas palavras.

— Muro, Mudo, Mudança. . . — sugeriu a menina.

— Isso mesmo — repetiu Quindim. — E reparem que em cada palavra há uma Sílaba mais emproada e importante que as outras pelo fato de ser a depositária do acento tônico. Essa Sílaba chama-se a tônica.

— O mesmo nome da mãe de Pedrinho!... — observou Emília arregalando os olhos.

— Não, boba. Mamãe chama-se Tônica e o rinoceronte está falando em Sílaba Tônica. É muito diferente.

— Perfeitamente — confirmou Quindim. — No nome de Dona Tônica a Sílaba Tônica é Ni; e na palavra que eu disse a Sílaba Tônica é o To. E na palavra Pedrinho, qual é a Tônica?

— Dri — responderam todos a um tempo.

— Isso mesmo. Mas os senhores gramáticos são uns sujeitos amigos de nomenclaturas rebarbativas, dessas que deixam as crianças velhas antes do tempo. Por isso dividem as palavras em oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas, conforme trazem o Acento Tônico na última Sílaba, na penúltima ou na antepenúltima.

— Nossa Senhora! Que "luxo asiático"! — exclamou Emília. — Bastava dizer que o tal acento cai na última, na penúltima ou na antepenúltima. Dava na mesma e não enchia a cabeça da gente de tantos nomes feios. Proparoxítona! Só mesmo dando com um gato morto em cima até o rinoceronte miar. ..

— E há mais ainda — disse Quindim. — As pobres palavras que têm a desgraça de ter o acento na antepenúltima sílaba, quando não são xingadas de Pro-pa-ro-xí-to-nas, são xingadas de esdrúxulas. As palavras Áspero, Espírito, Rícino, Varíola, etc, são Esdrúxulas.

-— Es-drú-xu-las! — repetiu Emília. — Eu pensei que Esdrúxulas quisesse dizer esquisito.

— E pensou certo — confirmou o rinoceronte. — Como na língua portuguesa as palavras com acento na antepenúltima não são muitas, elas formam uma esquisitice, e por isso são chamadas de Esdrúxulas.

E assim conversando, o bandinho chegou aos subúrbios da cidade habitada pelas palavras portuguesas e brasileiras.

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Emília no País da Gramática. SP: Círculo do Livro. Digitalizado por http://groups.google.com/group/digitalsource

Casa do Poeta de Canoas (Palestra com Vladimir Cunha Santos)


Casa do Poeta de Canoas convida para a 2ª edição da

CONFRARIA DA LEITURA

Palestra com o escritor, poeta, cronista, contista, romancista,
publicitário, jornalista, editor e ativista cultural

Vladimir Cunha Santos

Sexta-feira - 5/11/2010 - 19h

ASCCAN - Av. Victor Barreto, 2301 Centro/Canoas (Antiga FCC)

As 20h, após a palestra, realizaremos um Sarau de Confraternização como evento participante da Semana Cultural da ASCCAN

Maria Santos Rigo
Presidente da Casa do Poeta de Canoas

Fonte:
Casa do Poeta de Canoas