segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Jornais e Revistas do Brasil (Revista A Bomba)


A Bomba
Período disponível: 1913 a 1913 
Local: Curitiba, PR 
Pesquisa no acervo:
  

A Bomba: Revista ilustrada, humoristica e literaria foi uma publicação trimestral de Curitiba, a capital paranaense. De periodicidade trimestral – saía nos dias 10, 20 e 30 de cada mês –, tratava de temas variados, entre os quais a política, sobretudo local, e o esporte. Sua tônica, porém, era a crítica de costumes, tema que, na virada para o século XX – marcada por grandes mudanças, como a implantação da República e a intensificação da modernização urbana – predominava em grande parte da imprensa brasileira. 

O humor, a ironia, a piada eram a principal marca da publicação, como anunciava a apresentação do primeiro número: “Declaramos positivamente que ‘A Bomba’ é inteiramente independente em suas feições religiosas politicas. É por esta razão que todos os dias filamos café no palacio Rio Branco, o chá no tugurio do Caio, o almoço em casa do Bispo, e o jantar no honrado lar do pastor protestante da Egreja Evangelica Persbyteriana Independente. (…) (A Bomba, nº 3, 1 jul. 1913) 

Mario Rezende, um dos colunistas do jornal, ironizava o burguês: 

“(...) E assim metido no seu egoismo, nesse egoismo muito natural em gente rica, passa horas e horas de olhos esbugalhados para a tela e para o palco. E que tortura horrivel, si se lhe depara uma repetição de fitas. Immediatamente vem rosnar aos emprezarios, que está sendo victima de uma extorsão, que aquella fita, ellle já a vira na vespera ou na antevespera. E os emprezarios lhe não deixam tambem de distribuir um punhado de getilezas temperadas com doçura simuladamente maliciosa de um sorriso fino e ironico.
 E assim vai o burguez passando a vida, gordurento e lerdo, com muita saudade e com muitas patacas, sempre a fingir que é moço e que é feliz. (A Bomba, 10 set.1913, Ano I, nº 10)

A revista se interessou por retratar o novo papel da mulher no início de século XIX. Como, por exemplo, no seguinte quadrinho de humor sobre mães solteiras: “- Está fazendo uma touca... é para seu filho? – Não, Cazuza, eu não sou casada. – Isso não quer dizer nada...” (A Bomba – 10 de Dezembro de 1913 – Ano I, n.º 19)

Algumas das colunas permanente do jornal eram: “Portico”, “Notas Sportivas”, “Coisas da Política (mas coisas... serias)”, “O Batates”, “Paraná Intellectual”, “Notas elegantes”, entre outras.

Marcelo Bittencourt era o proprietário, Rodrigo Junior e Clemente Ritz os redatores e Félix cuidava das artes. A redação funcionava na rua Marechal Deodoro, nº 36. A assinatura anual custava 14$000, semestral 8$000, avulso $400 e o numero atrasado $500.

A Bomba, até onde foi possível comprovar, desapareceu no mesmo ano em que foi criada, 1913.

Fonte:
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/bomba

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 725)



Uma Trova de Ademar  

O vício sempre nos joga 
numa dor que nos revolta: 
– ver um filho usando droga, 
numa viagem sem volta! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

O belo da juventude 
traz orgulho, por costume. 
Mas beleza sem virtude, 
é qual rosa sem perfume.
–Ruth Farah/RJ– 

Uma Trova Potiguar  

Coberto de raios de ouro, 
lentamente o dia encerra, 
e o Sol, qual príncipe louro, 
senta no trono da serra. 
–José Lucas de Barros/RN– 

Uma Trova Premiada  

2011   -   Nova Friburgo/RJ 
Tema   -   RECADO   -   M/H 

“Entre nós, tudo acabado!” 
mandou-me dizer, contudo, 
nem precisava recado 
seu silêncio disse tudo ! 
–José Valdez C. Moura/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Neste mundo que nos cansa
tanta maldade se vê,
que a gente tem esperança
mas já nem sabe de quê...
–José Maria M. de Araújo/RJ– 

U m a P o e s i a  

Não sou oito nem oitenta, 
não sou jovem nem senhor. 
Tentei ser flor sem espinho, 
virei espinho sem flor. 
E eu agora faço o quê? 
Se nem sou eu nem você, 
nem ferro e nem isopor! 
–Damião Metamorfose/RN– 

Soneto do Dia  

FALAR DO AMOR DE DEUS. 
–Raymundo de Salles Brasil/BA–

Falar do amor de Deus aos homens é,
indubitavelmente, imperativo;
mostrar-lhes onde a verdadeira fé,
fazer-lhes crer no Deus eterno e vivo;

o sagrado caminho – do berço até
a colina sagrada, onde cativo,
foi maltratado do cabelo ao pé,
até ser morto – e logo redivivo.

Para certeza nossa que algum dia
lá no céu lhe faremos companhia
somente pela graça e pelo amor. 

Seu sacrifício não será em vão
para quem crê de todo coração
que Jesus Cristo é nosso Salvador.

José de Alencar (Ao Correr da Pena) 4 de dezembro: O Jornal Demorou-se


O Jornal demorou-se; e portanto assentei de pagar-vos já a dívida em que estou a respeito da representação do Roberto do Diabo, que teve lugar na noite de sábado.

Eram  oito horas quando SS.MM. apareceram na tribuna e receberam as saudações costumadas ao som do hino nacional. Uma chuva de rosas e de versos caiu sobre a platéia; houve algumas pessoas que receberam na cabeça seguramente uma resma de papel.

Os camarotes apresentavam neste instante uma vista encantadora. Cada ordem formava uma espécie de graciosa Coréia de corpinhos sedutores e de lindos rostinhos, entre os quais aparecia a espaços a cabeça calva e a farda bordada de algum novo visconde, ou barão, ou comendador.

Muitas vezes é este o mais belo momento de uma noite de teatro em dia de gala. Com um simples lanço d’olhos corre-se  todo esse painel magnífico, desenhado ao mesmo tempo pela natureza, pela arte e pela moda. Pode ver-se ali um tipo suave, uma bela face sempre pensativa, um pouco melancólica, como dessas almas puras, filhas do céu, que sentem na terra as saudades de sua menção divina. Além o rostinho moreno de uma huri de olhar cintilante e lábio risonho. Deste lado uma imagem de mulher, à qual a natureza deu a mais bela expressão de beleza altiva, e que recebeu de Deus, em vez de coração, a mania dos caprichos.

Depois de alguns recitativos, de dois sonetos, sobre os quais eu me calo, para seguir o exemplo do poeta, cantou-se o novo hino do Imperador; e os espectadores, atentos e cheios de curiosidades, esperavam o momento de ouvir pela primeira vez naquele teatro as harmonias de Meyerbeer.

Onde quer que te aches agora, sublime maestro, estou certo, que sábado à noite, até por volta de duas horas, em que o diabo na figura de Bouché sumiu-se pelo tablado, não pudeste conciliar o sono e levaste a rolar na cama, como se te perseguisse um exército de pulgas e mosquitos. Esses sobressaltos que naturalmente sentiste, esses ardores de orelhas, esses pruridos de pele, tudo isto não era nada menos do que as pancadas da banqueta do Barbiere, a rouquidão do Gentil, a desafinação de não sei quem, e finalmente a tesoura do ensaiador, que dizem cortou à larga pela tua sublime partitura. Consola-te, pois, meu amigo, são os percalços do ofício.

Em tudo isto, porém, só te deves queixar daquele que assegurou à diretoria que era possível meter-se em cena, com os modestos recursos do nosso teatro, uma peça que tu sabes quanto te custou a montar no Grande Ópera de Paris. Sem cantores, sem orquestra, sem maquinismo próprio, era fácil prever o que resultaria de semelhante projeto.

E não pára aí: para que a criatura fosse mais completa, ensaiou-se na véspera até as duas horas da noite, e admitiu-se que o mestre da dança lhe desse a última demão, inventando um dançado no meio de um torneio, e prolongando infinitamente a cena do cemitério, como se ainda não fossem suficientes seis horas de maçada.

Nem o hábil pincel do Bragaldi, nem a expressão original da música, às vezes terrível, às vezes singela e encantadora, puderam destruir a desagradável impressão que produziu nos dilettanti essa vigília lírica, que durou até à madrugada.

O Gentil, rouco como estava, não pôde fazer valer os seus recursos; o Bouché não estava em bom dia. A Charton, porém, foi apesar de tudo, para a cena e para os dilettanti, o bom anjo que protegia Roberto do Diabo; com a diferença, porém, que na cena vence o diabo, e no ânimo dos dilettanti, não pôde vencer o caiporismo fatal que presidiu à execução da partitura. O Duque da Normandia foi para o céu, a representação da ópera de Meyerbeer caiu no inferno.

Talvez muita gente nesta noite estivesse como Roberto na cena, às lutas com  dois sentimentos opostos, tendo à direita o seu bom anjo, à esquerda o seu mau gênio. Queira Deus que a imagem encantadora de alguma Alice lhes tenha aparecido com seu ingênuo sorriso, e os salvasse de uma vez para sempre da tentação, guiando-os como sua boa estrela através dos escolhos da vida, e acenando-lhes de longe com suas asas cor-de-rosa, como o Anjo da Guarda que figura nas poéticas legendas da nossa religião.

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.

domingo, 11 de novembro de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 724)


 Uma Trova de Ademar 

Da ingratidão praticada
eu tirei uma lição:
Perdoar, não pesa nada,
pesado...É pedir perdão!
–Ademar Macedo/RN–

 Uma Trova Nacional 


Neste mundo que se exprime
através de mãos armadas,
chega a parecer que é crime
a gente andar de mãos dadas!!!
Izo Goldman/SP–

 Uma Trova Potiguar 


As retas que tracejei,
nos meus tempos de menino,
curvaram quando eu voei
nas asas do meu destino.
–Marcos Medeiros/RN–

 Uma Trova Premiada 

2008   -   Nova Friburgo/RJ
Tema   -   ESCOLHA   -   M/H


A escolha do par perfeito,
farei nesta... em qualquer vida,
ao resgatar de outro peito,
minha metade perdida!
–Élbea Priscila/SP–

 ...E Suas Trovas Ficaram 


Quando o amor se faz lembrança
e a solidão nos invade,
ou se vive de esperança,
ou se morre de saudade...
–Aloísio Alves da Costa/CE–

 U m a P o e s i a 


Os olhos da minha amada
me fazem muito feliz,
e olhando pra os olhos dela
eu traço uma bissetriz;
e mesmo partido ao meio,
no seu meigo olhar eu leio
os versos que eu nunca fiz!
–Ademar Macedo/RN–

 Soneto do Dia 

FANTASIA.
–Maria Nascimento/RJ–


Meu sonho era fazer versos um dia...
E, quando, às vezes, triste me encontrava,
fingia que chorava de alegria,
quando era de tristeza que eu chorava!

E percebi que até numa poesia,
que entre lágrimas tristes me brotava,
como um divino toque de magia,
mesmo sofrendo, assim me reanimava!

Foi tudo em vão, porque, fazendo versos,
eu nem notei que os meus sonhos dispersos
transcendiam meu mundo pequenino...

E, na angústia de quem sempre sofreu,
então, pergunto a Deus por que me deu
um sonho bem maior que o meu Destino...

sábado, 10 de novembro de 2012

Carolina Ramos (Ama!)


Olympio Coutinho (Caderno de Trovas e Reflexão sobre Amizade)



01
A velhinha no jardim
filosofava sorrindo:
- Não julgo o mundo ruim,
ainda há rosas se abrindo.

02
A superfície do mar
belo cenário formata
quando o clarão do luar
lhe veste um manto de prata.

A amizade é um amor que nunca morre.
Mário Quintana

03
Amor cigano, utopia,
triste busca por alguém;
quem tem um amor por dia
não tem o amor de ninguém.

04
Alegria em plenitude
cultiva dentro do peito
quem dá valor à virtude
e menospreza o defeito.

Para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolvermos em nós mesmos as qualidades que naquela admiramos.
Sócrates

05

Ante as barreiras não paro
e minha crença eu não mudo:
- Que valor teria o claro
se não existisse o escuro?

06
Ante tanta aberração
num mundo fora dos trilhos
pergunto ao meu coração:
- O que eu ensino aos meus filhos?

O ódio dos fracos não é tão perigoso como a sua amizade.
Luc de Clapiers Vauvenargues

07

Bem se vê pelos olhares
que se cruzam no salão
que na cabeça dos pares
também dança... a tentação.

08

Busque sempre renovar
toda sua trajetória;
os que resolvem ousar
são os que fazem a história.

Um amigo se faz rapidamente; já a amizade é um fruto que amadurece lentamente.
Aristóteles

09

Da infância levanto o véu
de uma alegre brincadeira:
descobrir bichos no céu
numa nuvem passageira.

10

Com olhares tu fizeste
do coração uma cela,
e com teus beijos puseste
meu coração dentro dela.

O ser humano tem até de experimentar o amor, para que compreenda bem o que é a amizade.
Sébastien-Roch Chamfort

11

Cultiva a fraternidade
como quem cultiva a terra;
quem planta grãos de amizade
não colhe os frutos da guerra.

12

De meu pai, a honestidade,
de minha mãe, a ternura:
por isso, em meio à maldade,
mantenho minha alma pura.

As ligações de amizade são mais fortes que as do sangue da família.
Giovani Boccaccio

13

Diga não ou diga sim,
revele logo o que pensa;
o seu talvez para mim
é pior que a indiferença.

14

De meu pai, a honestidade,
de minha mãe, a ternura,
por isso, em meio à maldade,
mantenho minha alma pura.

A amizade é, acima de tudo, certeza – é isso que a distingue do amor.
Marguerite Yourcenar 

15

Desprezo eu senti de fato
ao ver em seus escaninhos
aquele nosso retrato
rasgado em mil pedacinhos.

16

Essas rosas que florescem
em jardins de casas pobres
são as mesmas que fenecem
enfeitando covas nobres?

Como as plantas a amizade não deve ser muito nem pouco regada.
Carlos Drummond de Andrade

17

Esta dor que me devora
em dois versos se resume:
gostei de muitas e agora
de todas tenho ciúme.

18

Eu creio na honestidade,
na justiça clara e reta,
no fim da desigualdade...
Não sou louco... eu sou poeta.

A melhor maneira de começar uma amizade é com uma boa gargalhada. De terminar com ela, também.
Oscar Wilde 

19

Enrubesceste, engraçado,
porque, amor, te beijei;
imagino o teu estado
se eu fizesse o que pensei...

20

Este abismo que o rancor
instalou na humanidade
só poderemos transpor
pela ponte da amizade.

Dos amores humanos, o menos egoísta, o mais puro e desinteressado é o amor da amizade.
Cícero

21

Existe um grande desgosto
na lágrima, que a brilhar,
vai rolando pelo rosto
dos que não querem chorar.

22

Eu creio na honestidade,
na justiça clara e reta,
no fim da desigualdade...
- Não sou louco... Eu sou poeta!

Mais prudente do que o amor, a amizade dispensa os juramentos.
Maurice Chapelan 

23
Eu não tenho o que queria,
mas sou feliz mesmo assim;
faço a minha terapia
na mesa do botequim.

24

Felicidade, um ranchinho
e, dentro dele, nós dois;
nove meses de carinho
e um molequinho depois.

A única amizade que vale é a que nasceu sem razão.
Arthur Schendel

25

Finges desprezo e eu não ligo,
vejo amor no teu olhar;
como diz ditado antigo:
quem desdenha quer comprar.

26

Feliz de quem não permite
que o domínio da razão
seja mais forte e limite
o que sente o coração.

A amizade que acaba nunca principiou.
Públio Siro

27

Hoje em dia pouco resta
do nosso amor, que passou:
tristes restos de uma festa
depois que a festa acabou.

28

Juventude, o procurar
permanente de viver,
enquanto a busca durar
ninguém vai envelhecer.

A amizade é semelhante a um bom café; uma vez frio, não se aquece sem perder bastante do primeiro sabor.
Immanuel Kant

29

Na imensidão do universo
tenho, em minha pequenez,
toda a grandeza de um verso
de um poema que Deus fez.

30

Nada recebe quem nega
dar amor ou coisa assim;
só colhe flores quem rega
dia e noite o seu jardim,

O amor passa, a amizade volta, mesmo depois de ter adormecido um certo tempo.
George Sand

31

Não fuja dos seus caminhos
nem busque atalhos a esmo;
quem tem medo dos espinhos
não acha a flor em si mesmo.

32

Nas noites claras de lua,
no desenho da calçada,
vejo a silhueta sua
à minha sombra abraçada.

O amor pode morrer na verdade, a amizade na mentira.
Abel Bonnard

33

Neste teatro que é a vida
(e a vida é uma somente)
prefiro o palco, querida,
do que ser mero assistente.

34

No alpendre do casarão,
em comovente vigília,
Dirceu cantava a paixão
em versos para Marília.

35

Noel Rosa bem sabia
o que mata uma paixão:
a noite triste e sombria
sem luar e sem violão.

36

Nunca ofereça amizade
quando a mulher quer amor;
é como dar caridade
a quem lhe pede um favor.

A amizade pode converter-se em amor. O amor em amizade...nunca.
Albert Camus

37

Meu pai, que eu nunca esqueci,
veja em mim a tua glória;
segui teus passos, venci,
é tua a minha vitória!

38

Papai Noel, a cegonha,
lendas que mamãe contou;
deixei de crer, por vergonha,
e a minha infância acabou.

A verdadeira amizade é como a saúde: o seu valor só é reconhecido quando a perdemos.
Charles Colton

39

Partiste, mas, na saudade,
eu só peço ao Criador
que a tua felicidade
seja igual à minha dor.

40

Oferecendo a miragem
de uma vida sem escolta, 
o vício vende passagem
para a viagem sem volta.

A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas.
Francis Bacon

41

O trem da vida ao destino
chega no horário marcado;
- Por que não desce o menino
que embarcou tão animado?

42

Perdida não é a bala,
que gera um medo profundo,
mas aquele que se cala
ante a violência do mundo.

A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar, ao amigo, de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades.
Millôr Fernandes

43

Por mais que esta vida o açoite
prossiga na caminhada;
depois do negror da noite
sempre surge a alvorada.

44

Privado da liberdade,
o passarinho, a cantar,
exprime a dor da saudade,
já que não sabe chorar. 

O amor é cego, a amizade fecha os olhos.
Blaise Pascal

45

Quem cultiva uma amizade
dentro do seu coração
pode morrer de saudade
mas nunca de solidão.

46

Remorso rude, mesquinho,
está ferindo o meu peito;
chamou-me "filho" um velhinho
com quem faltei ao respeito.

Ainda que seja raro o verdadeiro amor, é no entanto menos raro que a verdadeira amizade.
François La Rochefoucauld

47

Sorria a todo momento
por pior que esteja a vida;
quem sorri no sofrimento
torna a dor mais resumida.

48

Sou prisioneiro feliz
e não busco outros espaços;
esta sorte eu sempre quis:
ficar preso nos teus braços.

A amizade não precisa de palavras - é a solidão sem a angústia da solidão.
Dag Hammarkskjod

49
Trate todos como gente,
pois somos todos iguais;
nenhum ser é diferente
por ter pouco ou por ter mais.

50

Uma lágrima infinita
surgindo nos olhos teus...
Foi a forma mais bonita
de você dizer-me adeus. 

Há duas espécies de chatos: os chatos propriamente ditos e ... os amigos, que são nossos chatos prediletos.
Sócrates

Fonte:
Colaboração do Trovador

Olympio Coutinho (1940) – Biografia Atualizada


OLYMPIO da Cruz Simões COUTINHO nasceu em na zona da Mata mineira, em 9 de outubro de 1940. Em Ubá, fez o primário e o secundário, tendo exercido diversas atividades esportivas como atleta da Praça de Esportes (natação e basquete), do Tabajara Esporte Clube (basquete e vôlei) e do Esporte Clube Aimorés (futebol).

Já fazia trovas e mantinha correspondência com trovadores como J. G. de Araújo Jorge, Luiz Otávio, Aparício Fernandes, Rodolfo Coelho Cavalcanti e muitos outros. Em 1962, foi para Belo Horizonte para estudar Jornalismo, tendo se formado em 1965: trabalhou na edição mineira da Última Hora, Folha de Minas, Jornal de Minas, Diário de Minas e Estado de Minas (onde entrou como repórter em 1967 e saiu como editor em 2003). Ainda em 1965 ingressou na Academia Mineira de Trovas e assumiu a cadeira nº 11 (patrono Casimiro de Abreu), tornando-se o mais novo acadêmico.

Em 1966, lançou a primeira edição de Festival de Trovas, que reunia 101 trovas feitas durante sua adolescência em sua terra natal, livro que ganhou como prefácio trecho de comentário de J. G. de Araújo Jorge, publicado no Jornal Feminino, suplemento literário de O Jornal, do Rio de Janeiro, em 1961:“Minas é a grande ilha no arquipélago da poesia brasileira. Terra de poetas e trovadores. 

Desde a primeira Escola de Poesia, com Gonzaga, Alvarenga, Cláudio Manoel da Costa, até os modernistas autênticos, como o grande Drummond, alto e de ferro, mas musicado de águas como uma montanha de Itabira. Começo com estas palavras para falar de um trovador que desponta: Olympio da Cruz Simões Coutinho, de Ubá”… 

Já Rodolfo Coelho Cavalcante, em carta, escreveu: “O seu livro Festival de Trovas fez-me dizer sinceramente: o Brasil tem mais um bom trovador! Tanto no lirismo como no humorismo, o amigo é um bom trovador. Sorri bastante com o seu grande humor na questão dos “pintinhos”. Fazia tempo que eu não ria com uma boa trova e não queira saber a gostosa gargalhada que eu dei”.

Em 2003, Olympio criou e edita até hoje um jornal de bairro, o Jornal Sion: atualmente, edita ainda outros dois jornais de bairro (Lourdes e Lagoa Notícias), dirigidos por sua filha. 

Em junho de 2007, foi convidado para trabalhar na Assessoria de Imprensa do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (IPSEMG), onde permanece. 

Tendo interrompido sua produção literária em 1968, voltou a fazer trovas em 2008. Em 2009, ingressou na União Brasileira de Trovadores (UBT), seção de Belo Horizonte.

Segundo as palavras de Olympio em e-mail enviado ao Singrando Horizontes: Apesar dos meus 72 aninhos, ainda trabalho: na Assessoria de Comunicação da Controladoria-Geral do Estado de Minas Gerais, situada na Cidade Administrativa, a cerca de 30 quilômetros de minha residência - trecho que percorro diariamente de ônibus e metrô; às vezes, pego um frescão que me cobra R$ 5,00 (ou seja, nele não tenho isenção de passagem).

Fonte:
Blog do Pedro Mello
E-mail enviado por Olympio Coutinho

Olivaldo Junior (Trovas sobre Sonho )



Cada sonho que se tem 
faz da vida uma ilusão; 
mas ainda quero alguém 
que me iluda o coração. 

Sonhos não se jogam fora, 
mas joguei os meus, neném, 
quando foste logo embora 
sem sonhares com ninguém. 

O meu sonho foi cantar, 
mas não fui um passarinho; 
minhas asas, sem voar, 
me espetaram neste ninho.

Fonte:
Colaboração do Trovador

António Torrado (A Parede com Ouvidos)


Ilustração: Cristina Malaquias

(Da Seleção de Contos Infantis)

Era uma vez uma parede que tinha ouvidos.

Nada de estranhar. Ele há gente que se pela por contar segredos, próprios ou alheios, sem ligar ao aviso dos mais prudentes: "Cuidado que as paredes têm ouvidos". Alguma vez acabaria por ser verdade.

Esta tinha ouvidos e até olhos, calculem. Só lhe faltava a boca e, já agora, o nariz.

Espessa e toda fechada, sem portas nem janelas, acumulava o que via e ouvia no cerrado dela mesma, no mais dentro das pedras e do cimento de que era feita.

– É uma parede fixe – diziam as pessoas, espalmando as mãos na parede que, já se vê, não dava de si.

Até que um dia, houve uma festa na aldeia, festa a valer, com foguetório, música na praça, artistas vindos de fora e bailarico até altas horas.

Um dos altifalantes da instalação sonora foi aplicado à parede que tinha ouvidos.

A meio da musicata, ouviu-se uma voz dizer em segredo, mas de modo que todos ouvissem:

– A Tia Hermínia só toma banho na Páscoa.

O pessoal riu-se. Aquilo seria brincadeira de garotos… Logo a seguir, outra revelação:

– O Armindo e a Arminda andam a namorar às escondidas.

Embora a maioria da aldeia já soubesse, alguns estranharam o despropósito da notícia, a interromper a música.

– O Porfírio faz de pobretana, mas tem quilos de notas a forrar o colchão.

Aqui a surpresa foi maior, sobretudo para o Porfírio, mendigo de mão estendida à porta da igreja.

Mas donde viriam as falas? Da cabine de som não era. Do cantor, que no palco esbracejava a sua irritação, também não era.

– A Dona Camila já não paga aos criados há três meses, mas não quer que se saiba.

Aquilo já soava a escândalo. Foi a própria Dona Camila que apontou para o altifalante, pendurado na parede, a tal que tinha ouvidos:

– A voz vem dali.

Pois vinha. Arrancaram os fios ao altifalante e a voz calou-se. Acabaram-se as novidades, as inconfidências.

E, à cautela, quando voltou a haver festa na terra, nenhum altifalante coube à parede que sabia demais.

Júlio Salusse (Os Cisnes: A História Belíssima de um Soneto)


Nilo Bruzzi, amigo e biógrafo de Júlio Salusse, escreve:

"Júlio Salusse adquire um terreno na avenida Friburgo, à margem do Bengalas, desenha uma planta de casa, contrata um pedreiro e faz construir um simpático "chalet" em centro de formoso jardim. É hoje (1950) a casa nº 158 da Avenida Comte. de Bittencourt, residência do Doutro Hugo Antunes. Ali instala-se sozinho. É o Promotor Público de Nova Friburgo. A cidade regurgitava de famílias elegantes do Rio que para lá iam passar o verão.  Os condes de Nova Friburgo tinham regressado da Europa e habitavam o suntuoso Castelo do Barracão. 

"Baile no Cassino. O que há de mais distinto na sociedade de Nova Friburgo ali está. Júlio Salusse, cabelos dourados, olhos profundamente azuis, buço louro, tez muito clara e rosada, elegante, alto, lenço de cambraia evolando perfume inebriante, gravata de seda fina e colorida, também ali está. Duas moças formosíssimas polarizam a atenção de todos os rapazes. Vera van Erven, loura, clara, olhos azuis, elegantíssima, inteligente, risonha, dançando muito bem, intelectual, dizendo versos de cor, conversando com todos e por todos admirada. Laura de Nova Friburgo, a castelã do Barracão, lindíssima, de um moreno delicioso, olhos brilhantes e escuros, recém-chegada da Europa, onde fora se instruir. [...]

"Júlio Salusse naquela noite conheceu ambas e com ambas dançou. [...]

"Dias depois, nova festa em casa do Dr. Ernesto Brasil de Araújo.

"Baile animado. Laura está mais linda, com seu fofo vestido de rendas, seus maravilhosos cabelos, olhos provocadores, aquele moreno inesquecível.

"Em seguida, vieram dias de chuvas copiosas. Júlio Salusse fica preso em casa, naquele simpático "chalet" à margem do rio, cercado de flores. Uma noite, o sonho embala o seu pensamento. Passa-lhe pela lembrança a formosa moça do Castelo do Barracão...

"Está só. A chuva lá fora cai ininterrupta. As águas do rio crescem. E o poeta começa a compor o soneto - Cisnes - que lhe vai abrir as portas da glória imorredoura. Quando, no terceiro dia, cessa a chuva, Júlio Salusse tem pronto os versos imperecíveis. [...]

"Um novo baile, agora no Castelo do Barracão, proporciona novo encontro de Júlio Salusse com Laura de Nova Friburgo. Dançam, conversam. Mas o poeta, que é arrojado no pensamento, tem, entretanto, a palavra contida pela timidez, oriunda da falta de confiança em si mesmo. [...]

"E o que poderia ter sido um delicioso enredo sentimental ficou sendo um êxtase ungido da filosofia de Platão, silencioso, como daquele outro Petrarca que, em 1327, à porta da Igreja de Santa Clara, em Avignon, viu pela primeira vez aquela outra Laura de Novaes, esposa de Ugo de Sade, e nunca mais a esqueceu nos seus versos imortais".

JÚLIO SALUSSE

Os Cisnes

A vida, manso lago azul algumas
vezes, algumas vezes mar fremente,
tem sido para nós constantemente
um lago azul, sem ondas, sem espumas.

Sobre ele, quando, desfazendo as brumas
matinais, rompe um sol vermelho e quente,
nós dois vagamos indolentemente
como dois cisnes de alvacentas plumas.

Um dia um cisne morrerá, por certo.
Quando chegar esse momento incerto,
no lago, onde, talvez, a água se tisne,

que o cisne vivo, cheio de saudade,
nunca mais cante, nem sozinho nade,
nem nade nunca ao lado de outro cisne.

Fonte:
Colaboração de Nei Garcez

Os Jornais no Brasil (Diário “A Manhã” – Local: Salvador, BA)


Diário publicado na Bahia em formato standard, A Manha começou a circular no dia 7 de Abril de 1920. Era, como informava o subtítulo, “Propriedade da Sociedade Anonyma Diario de Noticias”, pertencente a A. Marques dos Reis e Altamirando Requião, ambos também diretores das duas publicações. 

As intenções do jornal, como revela o editorial de apresentação, eram as melhores: 

“Não precisamos publicar o programa, pelo qual traçaremos a nossa diretriz. O publico bahiano bem conhece os que dirigem esse jornal e sabe, de sobejo, pelos exemplos dados em outra trincheira á nós tão querida e para quem sempre teremos os maiores desvelos, que aqui se comentará sempre pelo que concorrer pelo levantamento da nossa Bahia, por processos que honrem ao jornalismo e dignifiquem a imprensa.” (Ano I, nº 1, 7 de Abril de 1920)

O jornal se declarava “nacionalista” e de oposição ao governo federal do presidente Epitácio Pessoa. Como se lê respectivamente na edição de números 3 e 156, dos dia 9 de abril e 16 de outubro de 1920: 

“Sujeitos batalhadores audazes em prol de tudo que for pelo Brazil, pela sua grandeza, pelo seu progresso, para honra de seu renome. Que nada nos entibie na campanha, em que nos devemos empenhar de alma e de coração, cumprindo o mais nobre e elevado dos deveres – o do amor á Patria. (…) Na Bahia, mais do que em outro qualquer logar a campanha nacionalista deve-se incentivar e propagar de maneira extraordinaria, porque só assim por meio da propagação dos nobres, verdadeiros e são ideaes nacionalistas conseguirá ella voltar ao que foi, á sua grandeza passada, aos tempos gloriosos de que só existem no momento resquicios.” 

 “Cada brazileiro de coração e de honra, deve formar na campanha benemerita de combate ao governo Epitacio Pessoa”. 

O periódico se alinhava com o conterrâneo Rui Barbosa, que havia perdido a última eleição para Epitácio. Um de seus diretores, Antonio Marques dos Reis, havia concorrido a uma cadeira na Câmara dos Deputados.

Entre redatores e colaboradores estavam (possivelmente alguns nomes fossem pseudônimos) Altamirando Requião e A. Marques dos Reis, D. Mario de Souza, Assis Curvello, Nuno de Andrade, Nuno Pinheiro, Andrade Martins, João Arruda, Eduardo Vianna, Oliveira Lima etc. 

Algumas das colunas publicadas: “No meio esportivo” (depois passa a se chamar “Esportes”), “No mundo theatral” (depois “Palcos”), “Vida Social”, “Ultima Hora”, “Serviço Telegraphico”, “Informações Commerciaes”.

Em 30 de Janeiro de 1921, na edição de número 241, o jornal anunciava a suspensão da circulação por tempo indeterminado: 

“Motivos de ordem imperiosa, que prendem á escassez de papel, nos centros productores de todo o mundo, fazendo com que os nossos fornecedores reduzissem á metade as remessas de bobinas que lhes haviamos encommendado, para o anno corrente, obrigam-nos muito a contragosto nosso, a suspender, por tempo indeterminado, a publicação d'A Manhã, do dia 1º de Fevereiro em deante.”

Fonte:
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/manha-0

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 723)



Uma Trova de Ademar  

Num desespero medonho, 
acordei quase enfartando, 
pois vi no melhor do sonho 
que a sogra estava voltando! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Morre a sogra... e o genro, “terno”,
fala com certo cinismo:
“Talvez o calor do inferno 
seja bom pra reumatismo...” 
–Pedro Mello/SP– 

Uma Trova Potiguar  

Com desespero e irritado, 
apertou devagarzinho... 
-Quem é você seu safado????? 
-Eu sou Raimundo, o mudiiinho!!!! 
–Manoel Cavalcante/RN– 

Uma Trova Premiada  

2005 - Nova Friburgo/RJ 
Tema : COMILÃO - 3º Lugar 

- Três frangos, polenta e vinho –
pede um gordo comilão.
- Comes tudo isso sozinho?!?!
- Não, garçom, como com pão!
–Marina Bruna/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Cuspiu na parede. E quando 
lhe chamaram atenção, 
mostrou um cartaz rogando: 
“Favor não cuspir no chão”! 
–Eno Teodoro Wanke/PR– 

U m a P o e s i a  

Tiradentes era o dono 
de uma fábrica de pneus, 
o Papa falou que Deus 
não passava de um colono, 
e Carlos Roittman num sono 
virou o carro em pesqueira, 
Kelpes vendeu pão na feira, 
Hitler brigou no cangaço; 
eu querendo também faço 
igualzinho a Zé Limeira. 
–Jomací Dantas/PB– 

Soneto do Dia  

“QUINHENTO É QUINHENTO”. 
–Francisco Macedo/RN– 

O “cara” no maior assanhamento, 
todo animado no embalo do creu, 
chegando logo cedo no bordel, 
diz à mais linda : Vem que eu dou “quinhento”. 

Mas gosto de bater, diz o nojento; 
e a pobre endividada pra dedéu, 
já pensando em pagar o aluguel, 
disse: Eu vou porque quinhento é quinhento 

Saiu toda chorosa, cara inchada, 
e a outra diz: Tu tas é endinheirada! 
Inda chorando diz a tal mundana, 

Mulher, eu só nasci para sofrer, 
o macho só parou de me bater , 
depois que eu devolvi aquela grana.