quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Mensagem na Garrafa = 136 =

APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA 
Vila Velha/ES

O Tempo corre, passa e não retrocede

O TEMPO, SEMPRE O TEMPO! Esse senhor misterioso que nos rodeia a cada dia, que passa, e avança. Ele não para. Vai em frente, segue emparelhado e sorrateiro, grudado em cada um de nós à tiracolo. O tempo, sempre o tempo! Essa criatura carrega consigo uma certeza inabalável. Cada segundo que se esvai é como uma gota de água que escorrega entre os nossos dedos. Portanto, impossível de ser recuperada. Desde o primeiro respirar, até o último, somos marionetes de suas cordinhas escondidas, como se fossem outros fantoches ocultados dançando ao som de uma melodia que nunca estanca.

Às vezes, paramos para refletir. Nesses intervalos de quietude, percebemos como as memórias se acumulam iguais folhas caindo no outono. Cada uma delas traz fragmentos de nós, tipo uma experiência que nos moldou e que embora distante, ainda ecoa em nosso “eu” encoberto. Mas o tempo inexorável não espera por ninguém. Não dá trégua, nem é adepto de um possível armistício. Não dorme, não come, não dá uma folga. Ele se move incessantemente, indiferente ao nosso anseio de reverter o relógio. Aliás, o relógio também não estanca para alicerçar um descanso quando todos os ponteiros se cruzam no mesmo ponto nevrálgico. 

Apenas se cumprimentam, trocam mensagens ocultas e seguem perambulando sem dizer coisa alguma. No entanto, se prestarmos a devida atenção, se não estivermos grudados na tela de um celular assistindo vídeos imbecilizados, notaremos que há uma beleza rara nessa transitoriedade. O tempo, entre tantas facetas que não percebemos, seja por descuido ou negligência, muitas vezes não atinamos por puro descaso. Apesar dos pesares, ele nos ensina a valorizar o agora, a saborear cada instante do hoje, como se fosse o nosso “já,” ou faz bailar aquele antigo jargão piegas, do “ei, cara, pega, agarra e não larga.” Certamente nos deslumbraríamos com um vivenciar edificante e magistral. 

É na urgência açodada de um minuto e outro que descobrimos que o viver que encontramos é exatamente onde se faz presente a verdadeira essência da vida. Cada riso, cada lágrima, cada amor e desilusão compõem uma tapeçaria rica e complexa que, mesmo a gente sabendo que não poderá ser desfeita, num perímetro ainda que fugaz, essa alfombra colocará uma chama de perspectiva em nosso descaso. Nesse tom, ao invés de temê-lo, talvez devêssemos abraçar o tempo com gratidão. Ele nos empurra para frente, nos desafia a evoluir, a deixar nossas marcas no ontem do mundo. O tempo corre, passa faminto de amanhã e não retrocede em busca de migalhas. 

Todavia, deixa em seus calcanhares, um legado: somos todos, sem tirar nem pôr, parte integrante de uma história que continuará a ser escrita, onde cada capítulo nos mostrará uma nova oportunidade de transformação. Lá adiante, no final da caminhada, quando olharmos para o “de onde viemos”, nos será dada a chance, talvez a derradeira, para que possamos fazer tudo o que não fizemos e agradecer com um sorriso de retribuição no rosto, e o melhor de tudo, cientes de que cada instante vivido foi, de fato, precioso. O tempo não retrocede porque a sua natureza é linear e irreversível. Essa característica é intrínseca à forma como percebemos e medimos o tempo do nosso momento presente. 

Cada lance se sucede de maneira contínua. Essa linearidade é refletida em tudo que nos cerca: as estações mudam, as fases da vida se sucedem e as experiências se acumulam. Cada ação e escolha nos molda e deixa marcas que não podem ser apagadas. Essa irreversibilidade nos mostra, nos faz ver, nos ensina a importância de valorizar o presente, a agir com consciência e a aprender com o que deixamos na poeira do passado. Além disso, o tempo também é uma força que impulsiona o crescimento e a transformação. Ele nos dá a oportunidade de prosperar, de superar desafios e de redescobrir a nós mesmos a cada novo dia, toda vez que acordamos. 

Se pudéssemos retroceder, uau!... se pudéssemos descontinuar... talvez não apreciaríamos a beleza ímpar do agora, a riqueza maviosa desse vai e vem incansável e a opulência das lições aprendidas ao longo da estrada que nos trouxe até onde estamos. Por isso o tempo nos sucede, avança, e, nesse eclodir, nos convida a seguir em frente, a correr como ele e a construir uma sequência de coisas novas que não podem ser desfeitas. Em retribuição, nos oferece uma gama incalculável de aprendizado e crescimento. Assim, ao invés de temê-lo, talvez devêssemos abraçar o tempo, esse nosso tempo com o mais glorioso reconhecimento. 

Ele nos empurra com toda força para a frente, nos desafia a evoluir, a deixar nossas marcas no ontem do mundo. O tempo corre, repito, passa e não retrocede, mas deixa em seus passos, melhor dito -, acumula em nossas pegadas, um legado excepcional, qual seja, o de entendermos que somos todos, sem tirar nem acrescentar, parte integrante de uma história que continuará a ser escrita e onde em cada capítulo se consubstanciará em uma nova “porta-oportunidade” de transformação. Lá adiante, no final da caminhada, esperando, sempre que ela seja bem longa, oxalá, quando olharmos para os lugares onde passamos e vivenciamos coisas (todas as coisas) nos seja dada a chance para que possamos sentar à sombra de uma árvore de aconchego caridoso e agradecer com um sorriso vindo não do rosto, mas do mais profundo das nossas entranhas. 

E o melhor de tudo: cientes de que cada instante se fez excepcional, peregrino e privilegiado, ainda que especial e incontroverso. Pois bem! Enquanto o tempo avança e desbrava, e nos leva aos cuidados da dona morte, ele também nos convida a refletir sobre o que realmente importa. O que fazemos com os momentos que temos agora, as conexões que formamos e as experiências que adquirimos. Essas pequenas coisas formam “o todo,” ou alimentam tudo aquilo que dá significado à passagem pelo tempo. Em última análise, levando em conta que mencionamos a morte, falemos um tiquinho apenas dela. A morte pode ser vista não como um fim, como uma parte do ciclo da vida. 

O tempo, sempre o tempo, apesar disso, ele não "supera" a morte, bem entendido, não desbasta, ou não se nivela no sentido de reverter o processo. Contudo, nos incita a encontrar significado e beleza mesmo no inesperado da existência. Essa capacidade de renovar ou desfigurar foi, de fato (se pararmos para pensar e analisar friamente, chegaremos) à conclusão de que tudo o que vivemos e vivenciamos, se fez inesquecível e indubitavelmente precioso. Pense, pois, reflita friamente o que você tem feito com o seu tempo? Olhe em volta, ou melhor, espie para dentro do seu âmago e procure achar a reposta. Faça isso agora. Amanhã?! O amanhã... pode ser tarde demais.

Fonte: Texto enviado pelo autor 

Vereda da Poesia = 119 =


Trova de
CARMEN PIO
Porto Alegre/RS

A rima é como balanço,
 das águas verdes do mar,
 é harmonia que alcanço,
 na beleza do trovar.
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Poema de
VALÉRIA BRAZ
Florianópolis/SC

Fronteiras da vida

Vejo multidões desembarcarem
De um voo que não é eterno
Com seus corações vagando
Em dúvidas...

Seus pés percorrem
Os caminhos da incerteza
Seus corpos se entregam ao cansaço
Mas seus olhos vívidos e alegres...

Afinal são tantos os sonhos
Que ainda vão desvendar
Mal sabem que desembarcaram
Na mais extravagante
E inusitada estação
A vida!

Ela que nos faz
Vibrar de emoção
Lutar para não cair
Sorrir ao entardecer
Sonhar ao anoitecer
Acordar ao amanhecer...

Mas um dia a viagem
Chega ao fim
Tomamos um voo
Sem data de volta
E levamos tudo
Em fotografia mnemônica
Das lutas e alegrias
Da viagem as fronteiras da vida!
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Trova Humorística de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Coitado do Zé Maria:
a mulher quase o esfola,
pois voltou da... pescaria...
co'um biquíni na sacola...
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Soneto de
PADRE ANTONIO THOMAZ
(Padre Antônio Thomaz Lourenço)
Acaraú/CE, 1868 – 1941, Fortaleza/CE+

Contraste

Quando partimos no verdor dos anos,
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.

Rindo e cantando, célebres, ufanos,
Vamos marchando descuidosamente;
Eis que chega a velhice, de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.

Então, nós enxergamos claramente
Como a existência é rápida e falaz,
E vemos que sucede, exatamente,

O contrário dos tempos de rapaz:
– Os desenganos vão conosco à frente,
E as esperanças vão ficando atrás.
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Trova de
ABIGAIL SAMPAIO
Paracuru/CE

Lenços brancos acenando
no instante da despedida
adeus nos dizem, roubando
metade da nossa vida.
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Poema de
ADA CIOCCI CURADO
Jardinópolis/SP 1916 – 1999 Goiânia/GO+

Ode à Palavra

O tempo jamais conseguirá desfazer
a essência de tua fortaleza,
já que és do cosmo absoluto

e
da troca de idéias entre os homens,
o fundamento.
E, ainda que,
bastando-se,
e,
infinitamente sendo tu,
realidade,
verdade,
ciência,
alma,
corpo,
dogma,
mito,
e,
não tendo infinito,
ocupas lugar primeiro,
na VIDA
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Trova Popular

Há umas espécies de plantas
que vingam sem ter raízes...
Assim são certos sorrisos
nos lábios dos infelizes.
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Soneto de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS

Vidas

Nós vivemos num mundo de espelhos,
mas os espelhos roubam nossa imagem...
Quando eles se partirem numa infinidade de estilhos
seremos apenas pó tapetando a paisagem.

Homens virão, porém, de algum mundo selvagem
e, com estes brilhantes destroços de vidro,
nossas mulheres se adornarão, seus filhos
inventarão um jogo com o que sobrar dos ossos.

E não posso terminar a visão
porque ainda não terminou o soneto
e o tempo é uma tela que precisa ser tecida...

Mas quem foi que tomou agora o fio da minha vida?
Que outro lábio canta, com a minha voz perdida,
nossa eterna primeira canção?!
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Trova de
ABÍLIO MARTINS
Ipu/CE

Tantos encantos encerra.
O beijo, é coisa tão boa,
quem não dá beijo na terra,
Deus lá no céu não perdoa.
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Poema de
RACHEL DE QUEIROZ
Fortaleza/CE, 1910 – 2003, Rio de Janeiro/RJ

Telha de Vidro

Quando a moça da cidade chegou,
veio morar na fazenda
na casa velha...
tão velha...
quem fez aquela casa foi seu bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
Mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha..a.
A moça não disse nada;
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro,
queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...

Agora
o quarto onde ela mora
e o quarto mais alegre da fazenda.
Tão clara que, ao meio-dia, aparece uma renda
de arabescos de sol nos ladrilhos vermelhos
que, apesar de tão velhos,
só agora conhecem a luz do dia...

A lua branca e fria
também se mete às vezes pelo claro
da telha milagrosa...
ou alguma estrelinha audaciosa
carateia no espelho onde a moça se penteia...
Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta, fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você não experimenta?
A moça foi tão bem sucedida?
Ponha uma telha de vidro em sua vida!
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

Diz ao dançar, enfadonha:
- Você sua !!! ... O Zebedeu,
bem caipira e com vergonha,
diz baixinho: – Vô sê seu !!!
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Soneto de 
ANTÔNIO OLIVEIRA PENA
Volta Redonda/RJ

Curso d’água

Serve ao amigo, e mesmo ao inimigo,
e a Deus é que estarás servindo então;
dedica-te ao amor, de coração,
de maneira que estejas bem contigo!

No rosto abre um sorriso, dando abrigo
ao semelhante, e canta uma canção
cujos versos despertem a emoção —
canção da tua vida, meu amigo!

Não te exasperes nunca, sê paciente;
e constante, e honesto, e sê fiel
a tudo o que o espírito procura.

Seja a tua existência, sob o céu,
qual curso d’água fresca e transparente,
matando a sede a toda a criatura…
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Trova de
ANA MARIA DO NASCIMENTO
Aracoiaba/CE

Para não ver meu amor
vagar no mundo tristonho,
resguardei-o com primor
numa redoma de sonho.
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Poema de
MÁRCIO CATUNDA
Fortaleza/CE

Elegia para José Alcides Pinto

Quando foi que rodopiaste ria catástrofe,
exorcista, dervixe dos dragões?
Quando nos demos o último abraço,
forjador de diabruras?
Místico desesperado,
quanto aprendi contigo!
Tua irreverência, tua marginalidade,
teu dom de transmitir sentimento.
Demônio iluminado,
o látego das horas te fustigava!
É que a vida te desafiava como uma trincheira.
O dispensário, o manicômio, as harpias,
tudo te obrigava a renunciar.
No entanto, insistias no ofício martirizante.
Nenhum discípulo esteve, como eu,
agrilhoado à terra em declínio.
Nenhum riu tanto contigo dos puritanos cínicos;
nem zombou da glória conquistada com festins,
nem abominou tanto os relógios de ponto
e a deslealdade.
Andei na tua trilha de eleito,
amolador de punhais.
A fatalidade foi a tua última travessura.
Peripécia trágica, na angústia do momento final.
Quanta vez me falaste da terrível abjeção!
Onde quer que estejas,
espera: irei à tua procura!
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Trova Funerária Cigana

Da terra voaste ao céu,
pra gozar a claridade:
– Pede, esposo, ao criador,
tenha de mim caridade.
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Soneto de 
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR

Malogro

Intenta extravasar-se em verso ardente
a ânsia do sentir. Impetuosa...
Mas vejo que a palavra é impotente
e tem veracidade duvidosa.

Versos apócrifos — são meu presente
ao papel onde quero, em verso ou prosa,
retratar a minha alma, ardentemente,
da forma como em mim apoteosa.

Tortura-me, no entanto, a rima ausente...
Outro canto, outra luz, inutilmente
vou tenteando em minha busca ansiosa.

Descubro que querer tornar patente
este universo que há dentro da gente
é uma ação sempre falha e lacunosa.,.
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Trova de
DULCÍDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO
Juiz de Fora/MG

Quando me sinto estressado,
fugindo da realidade,
vou do presente ao passado
pelo túnel da saudade.
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Poema de 
KIDENIRO TEIXEIRA
(Kideniro Flaviano Teixeira)
Ipueiras/CE, 1908 – 2008, Santa Quitéria/CE+

A minha mestra     

          "Possa ao menos sentir tua presença
          nestes versos que escrevo, amargurado,
          ante a profunda, ante a sombria e imensa
          saudade de teu vulto idolatrado."
                    Homero de Miranda Leão

 Foi minha mãe a minha Mestra
que me ensinou a ler, em nosso humilde ninho;
eu era um menininho,
uma criança...
De minha mãe, exímia trovadora,
é de quem guardo esta divina herança.

Recordo agora,
que a sua voz se erguia,
branda e sonora,
como se fosse um sino
tangendo na alvorada fria
do meu Destino:

- Lê! Estuda! Lê, menino!
Era este o heróico estribilho
de cada dia:
- Lê! Estuda! Lê, meu filho!

Como era bela a minha Professora,
no seu vestidinho branco!
O coque alto, olhos castanhos
e esguias mãos da Virgem Redentora!
 
Somente agora sinto, e guardo, e tranco
no peito esta saudade imorredoura,
como se ouvisse. ainda. a sua voz sonora:
- Lê! Estuda! Lê, meu filho!

E eu que jamais velara o meu Destino,
quanto sofro e me deploro
para cantar minha procela...

E nem sabia, que um dia,
eu sentiria,
tanta saudade dela!
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Ao cérebro, o coração 
manda amorosa mensagem: 
– Somente unidos, irmão, 
seremos de Deus a imagem!
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Soneto de
HEGEL PONTES
Juiz de Fora/MG (1932 – 2012)

Amor adolescente

Esta noite, meu bem, foi tão comprida
e tão sem graça foi a madrugada,
que eu senti que você é minha vida
e a vida sem você não vale nada.

Mas é tarde demais. A despedida
é como a pedra que já foi lançada:
mesmo partindo da pessoa amada,
nunca mais poderá ser recolhida.

Tudo acabado: os sonhos que sonhei,
seu amor, seu carinho e seu desvelo…
E esta noite, meu bem, foi tão comprida,

que dei graças a Deus quando acordei
e percebi, após o pesadelo,
que entre nós dois nunca houve despedida.
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Trova da
Princesa dos Trovadores
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Esta penumbra... Este frio,
este agora sem porquê...
Este silêncio vazio
é o meu mundo sem você!
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Hino de 
Nova Tebas/PR

Entre vales e a planície verdejante
Na região mais fecunda que há
Nova Tebas cresce altiva e pujante
Para orgulho deste povo do meu Paraná
Já nasceste com um destino grandioso
E as bênçãos de São Pedro teu protetor
É tão rico o teu solo generoso
Onde a prece permanente é o labor

(Estribilho)
És celeiro a brotar riquezas mil
Neste recanto feliz do meu Brasil
Nova Tebas minha vida é bem querer
Sou teu filho e só por ti quero viver

A riqueza dos teus verdes cafezais
E a beleza destes rios a irrigar
O ouro branco de teus algodoais
Ornamentam estas glebas que eu sempre hei de amar
Ser teu filho para mim é uma glória
Que será eterna em meu coração
Siga firme pela estrada da vitória
Nova Tebas meu querido torrão.
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Trova Humorística de 
JOSÉ AUGUSTO RITTES
Atibaia/SP

Um amigo biologista,
perito em meio-ambiente,
inclui sogra em sua lista,
como fator poluente!
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Cordel de 
TICIANA SALES
Fortaleza/CE

Cordel de cearense

Em um tempo de fartura
O sertão hoje é guia
O contraste da labuta
Ainda existe, é primazia.

Há quem acredite no discurso
Que o sul a ele prometeu
Ôh sertão não chore não
Nessa terra de meu Deus.

Toda seca se transforma
A gaivota um dia volta
Pra essa terra abençoada
De cantoria e gente que não falta.

O nordeste venceu a seca
Quem disse que no sul ela não chega
A rachadura não é seu fim
Triste de quem pensar assim.

Nordeste de gente trabalhadora
Intelectuais que não precisam de apresentação
José de Alencar e Patativa do Assaré
Nomes graúdos e cheios de boa fé.

Nordeste não é sinônimo de seca
No sertão, água também lá chega
A cheia atravessa o luar
Vindo dos céus e não encontra o mar.

Tomara que toda gente saiba
Que o nordeste não é calamidade
Aqui tem gente de muita coragem
Que sobrevive além da miragem.

Cearense de povo apaziguador
Nas veias, trazendo o humor
Um dia desses deram uma vaia pro sol
Tangeram a seca, buscaram orós!

Eu como boa cearense que sou
Demonstro meu profundo e louco amor
A essa terra que milagre faz
Ceará, nordeste, sertão nunca mais!
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Trova de 
GISELDA DE MEDEIROS
Bela Cruz/CE

O teu adeus, mesmo em sonho,
me aniquila de tal sorte
que, estando viva, suponho
estar nos braços da morte!
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

O depositário infiel

Um que traficava em ferro,
Indo meter-se a caminho,
Deu a guardar a um vizinho
Vinte barras, salvo erro.

Voltando breve, reclama
O ferro com modos gratos;
O marau — que seu lhe chama —
Diz que o roeram os ratos.

Crer na léria mal traçada
Finge o do ferro, patrão,
Pois logo a levou fisgada
Em dar ensino ao ladrão.

Não sofro patifarias!»
Disse ele lá para si.
Deixou passar alguns dias,
Não sei quantos; — vai daí,

Tendo apanhado e escondido
Do vizinho um filho coxo,
Diz-lhe que ele tinha sido
Engolido por um mocho.

«Pode lá ser!... Nisso há erro!
Não quero crer no que avanças!
— Onde ratos roem ferro,
Mochos engolem crianças!»

E o que quis ferrar o mono,
Para ter o filho à mão,
Deu logo o ferro a seu dono,
Aproveitando a lição.

Recordando Velhas Canções (A felicidade)


(Samba, 1959) 

Compositores: Tom Jobim e Vinícius de Moraes

Tristeza não tem fim 
(tristeza não tem fim)
Felicidade sim

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve, mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho, 
pra fazer a fantasia
De rei, ou de pirata, ou jardineira
E tudo se acabar na quarta-feira

Tristeza não tem fim
Felicidade sim
Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a gota de orvalho 
numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois, de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Pra que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor 

Tristeza não tem fim
Tristeza não tem fim
Tristeza não tem fim
Tristeza não tem fim
Tristeza não tem fim
Tristeza não tem fim

A Efemeridade da Alegria em 'A Felicidade'
A música 'A Felicidade', é uma reflexão poética sobre a natureza transitória da felicidade em contraste com a persistência da tristeza. A letra utiliza metáforas para descrever a felicidade como algo leve e passageiro, comparando-a a uma pluma levada pelo vento e a uma gota de orvalho numa pétala de flor, que brilha por um momento antes de cair. Essas imagens evocam a ideia de que a felicidade é um estado delicado e efêmero, que depende de condições externas para existir e é facilmente perturbado.

A canção também aborda a felicidade sob a perspectiva social, mencionando a 'felicidade do pobre' durante o carnaval, um período em que as pessoas podem esquecer temporariamente suas dificuldades e se entregar à celebração. No entanto, essa alegria é descrita como uma 'grande ilusão', pois termina abruptamente com o fim da festa. A música sugere que, para muitos, a felicidade é um escape momentâneo da realidade, não uma condição permanente.

Por fim, a letra fala da felicidade pessoal encontrada nos olhos da namorada do narrador, um amor que traz esperança e alegria. No entanto, mesmo esse sentimento é apresentado com cautela, como algo que deve ser preservado e que pode ser tão passageiro quanto a noite que busca a madrugada. A repetição do verso 'Tristeza não tem fim, felicidade sim' reforça a mensagem de que a tristeza é uma constante, enquanto a felicidade é intermitente e preciosa.

Feita para o filme de Marcel Camus “Orfeu do Carnaval”, “A Felicidade” consagrou internacionalmente Agostinho dos Santos (foto), a voz de Orfeu (cantando) no filme. Lamentando o caráter passageiro da felicidade (“Tristeza não tem fim / felicidade sim”), sua letra ostenta alguns dos mais belo versos da música popular brasileira: “A felicidade é como a gota / de orvalho numa pétala de flor / brilha tranquila / depois de leve oscila / e cai como uma lágrima de amor...”.

E como o poema, a melodia é também de alta qualidade. Estimulada pela expectativa de sucesso do filme — que afinal aconteceu, com a premiação da Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em Hollywood —, nossa indústria do disco lançou em 1959 nada menos do que 25 gravações de “A Felicidade” (uma a mais do que “Eu Sei que Vou te Amar”), incluindo-se nessa leva inicial de intérpretes Maysa, Sylvia Telles, João Gilberto, Agostinho dos Santos (que a gravaria cinco vezes em sua carreira), além de instrumentistas como José Menezes, Chiquinho do Acordeom e Moacir Silva.

Detalhe pitoresco é que “A Felicidade” foi praticamente composta numa sucessão de telefonemas, com Jobim no Rio de Janeiro e Vinicius em Montevidéu, onde servia na embaixada brasileira.

Fontes: 
– Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. A Canção no Tempo. Vol. 2. Editora 34, 1997.