sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Recordando Velhas Canções (Madalena)

(samba/carnaval, 1951) 

Compositores: Ari Macedo e Aírton Amorim

Chorar, como eu chorei
Ninguém deve chorar
Amar, como eu amei
Ninguém deve amar

Chorava que dava pena
Por amor a Madalena
E ela, me abandonou
Diminuindo num jardim
Uma linda flor

Ela, que para mim
Era um anjo de bondade
Partiu, me deixando saudade
Eu que era feliz
Tornei-me um sofredor
Porque perdi, um grande amor

A Dor de um Amor Perdido em 'Madalena'
A música 'Madalena', é uma expressão lírica da dor e da intensidade do amor perdido. A letra revela a profundidade do sofrimento do eu-lírico, que chora e ama com uma força que considera incomparável. As frases 'Ninguém pode chorar' e 'Ninguém deve amar' sugere que o amor vivido foi tão profundo que ultrapassa os limites do que é comum ou aconselhável.

A personagem Madalena é retratada como um ser quase divino, um 'anjo salvador', indicando que o amor que o eu-lírico sentia por ela tinha um caráter de adoração e dependência. A perda desse amor é sentida como um abandono devastador, que deixa o eu-lírico à deriva, comparado a um 'barco sem timão perdido em alto mar'. Essa metáfora reforça a ideia de desorientação e desamparo que o fim de um relacionamento pode causar.

A canção, portanto, não apenas fala de amor, mas também da fragilidade humana diante da perda e da solidão. Transmite através de 'Madalena' uma emoção universal que ressoa com qualquer um que já tenha sentido a dor de um amor que se foi.

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

José Feldman (Poetizando) * 1 *

 
  

´Concurso de Trovas "A. A. de Assis" e Concurso de Trovas "Therezinha Dieguez Brisolla" (281 Trovas recebidas)



O prazo para recebimento das Trovas dos dois concursos se encerrou no dia 30 de setembro. 

As trovas estão sendo organizadas e serão enviadas aos julgadores para darem nota.

Salvo por imprevistos, creio que início de novembro já terei o resultado, e estarei distribuindo os certificados aos premiados. 

As trovas premiadas serão divulgadas aqui no blog, no meu outro blog que é exclusivo de trovas (https://voogralhaazul.blogspot.com), e no facebook, além de emails enviados aos premiados e não premiados.

No total foram 281 trovas recebidas de trovadores de diversos estados brasileiros e de Portugal. 

Meu agradecimento a todos que participaram

Poema Aos Trovadores

Em noites de encanto, a rima a brilhar,
cantores da alma, com versos cintilantes.
Trovadores valentes, que sabem amar,
com suas trovas, fazem as horas cativantes.

Nos concursos participando, a arte a florir,
palavras que ecoam, como doce canção,
a beleza do verso, um modo de sentir,
agradecemos juntos, com pura emoção.

Que a lira ressoe, em festa e união,
por cada estrofe, um laço a se tecer.
Trovadores, eternos, guardiões da paixão,
Obrigado por cada palavra a nos mover. 

Abraços fraternos,
José Feldman

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Edy Soares (Fragata da Poesia) 59: Vivendo e aprendendo

 

Dicas de escrita (O Conto de Fadas)

O conto de fadas passou por uma evolução significativa ao longo dos séculos, refletindo mudanças culturais, sociais e literárias. Aqui estão alguns dos principais aspectos dessa evolução:

Começaram como histórias orais, transmitidas de geração em geração. Essas narrativas muitas vezes continham ensinamentos morais e eram utilizadas para entreter e educar.

No século XVII e XVIII, com a escrita, autores como Charles Perrault e os irmãos Grimm começaram a coletar e formalizar essas histórias. Perrault, em particular, adaptou contos como "Cinderela" e "Chapeuzinho Vermelho", acrescentando uma moral explícita.

Nos primeiros contos de fadas escritos, a moralidade era um aspecto central. As histórias frequentemente traziam lições sobre virtudes e comportamentos desejáveis.

No século XIX, durante o Romantismo, os contos de fadas passaram a explorar temas mais profundos, como a psicologia dos personagens e a luta interna entre o bem e o mal. Autores como Hans Christian Andersen introduziram elementos mais sombrios e complexos.

Nos séculos XX e XXI, com o advento do cinema e da televisão, os contos de fadas foram reinterpretados em novas mídias. Disney, por exemplo, transformou muitos contos clássicos em animações, suavizando temas sombrios e enfatizando finais felizes.

Nos últimos anos, muitos autores têm reimaginado contos de fadas, subvertendo suas narrativas tradicionais. Obras como "Ferro e Sangue" de Philip Pullman e "A Rainha Vermelha" de Victoria Aveyard oferecem novas perspectivas e críticas sociais.

Contos de fadas de diversas culturas começaram a ganhar destaque, mostrando a riqueza e a diversidade das narrativas ao redor do mundo. Isso levou à inclusão de novas vozes e experiências na tradição dos contos de fadas.

A análise feminista trouxe uma nova luz aos contos de fadas, questionando as representações de gênero e propondo versões que empoderam as personagens femininas, como em "As Crônicas de Nárnia" de C.S. Lewis.

A evolução dos contos de fadas reflete não apenas as mudanças nas expectativas e valores sociais, mas também a adaptação dos contos às novas realidades e à diversidade cultural. Essa forma literária continua a se reinventar, mantendo sua relevância ao longo do tempo.

São profundamente influenciados por elementos culturais específicos de diferentes regiões do mundo. Aqui estão alguns dos principais fatores que moldam essas narrativas:

1. Tradições e Mitos Locais
Contos de fadas frequentemente incorporam mitos e lendas locais. Por exemplo, os "Contos de 1001 Noites" refletem a rica tradição oral do Oriente Médio.

2. Valores e Moralidades
Os valores culturais, como respeito à família, honra e coragem, são frequentemente refletidos nas lições morais dos contos. Na cultura africana, muitos contos enfatizam a sabedoria dos anciãos.

3. Religião e Espiritualidade
Elementos de crenças religiosas podem aparecer, como em contos europeus que incluem figuras como fadas ou demônios, muitas vezes simbolizando o bem e o mal.

4. Estruturas Sociais e Hierarquias
A representação de classes sociais e papéis de gênero varia amplamente. Em muitos contos ocidentais, princesas são frequentemente salvas por príncipes, enquanto contos de outras culturas podem apresentar heroínas mais ativas.

5. Clima e Ambiente Natural
O ambiente natural também influencia o desenvolvimento das histórias. Contos nórdicos, por exemplo, frequentemente incluem elementos da natureza rigorosa, como florestas densas e invernos rigorosos.

6. História e Política
Eventos históricos, como guerras ou colonizações, muitas vezes moldam as narrativas. Contos de fadas da Europa medieval refletem as tensões sociais e políticas da época.

7. Interação Cultural
A globalização e a troca cultural levaram à adaptação de contos de fadas. Por exemplo, versões ocidentais de contos orientais podem incorporar elementos de diferentes tradições.

8. Estilo e Forma Literária
Diferentes regiões têm estilos únicos de contar histórias. A oralidade é mais prevalente em algumas culturas, enquanto outras possuem uma rica tradição escrita.

9. Simbolismo e Arquétipos
Certos símbolos, como a maçã em "Branca de Neve", podem ter significados variados em símbolos, como a maçã em "Branca de Neve", podem ter significados variados em diferentes culturas, refletindo crenças e valores locais.

Esses elementos culturais não apenas enriquecem os contos de fadas, mas também ajudam a transmitir a identidade e a moral das sociedades em que essas histórias são contadas. A diversidade dos contos de fadas ao redor do mundo é um testemunho da criatividade humana e da complexidade das experiências culturais.

Escritores que abordam os Contos de Fadas

Charles Perrault (1628-1703)
Introduziu a forma escrita dos contos de fadas. Suas histórias, como "Cinderela" e "Chapeuzinho Vermelho", são conhecidas por suas lições morais e finais didáticos.

Irmãos Grimm (1786-1859, 1789-1863)
Coletaram e adaptaram contos populares da tradição oral alemã. Suas versões, como "Branca de Neve" e "Rapunzel", frequentemente contém elementos sombrios e moralidades complexas.

Hans Christian Andersen (1805-1875)
Conhecido por suas histórias poéticas e emocionais, como "A Pequena Sereia" e "A Rainha da Neve". Seus contos muitas vezes exploram temas de amor, sacrifício e transformação.

Oscar Wilde (1854-1900)
Escreveu "O Príncipe Feliz" e outros contos que misturam humor e crítica social, apresentando personagens trágicos e reflexões sobre a natureza humana.

Monteiro Lobato (1882-1948)
Criou contos de fadas adaptados ao contexto brasileiro, como "A Menina do Narizinho Arrebitado". Suas histórias combinam elementos da cultura popular com críticas sociais.

Ana Maria Machado (1941-)
Autora contemporânea que escreveu contos de fadas modernos, como "O Mágico de Oz" adaptado. Suas narrativas muitas vezes incorporam temas de empoderamento e diversidade.

Ruth Rocha (1931-)
Escreveu contos que misturam fantasia e realidade, como "A História de Páscoa". Seus textos são acessíveis e educativos, com foco em valores como amizade e solidariedade.

Lia Zatz (1944-)
Conhecida por suas adaptações e criações originais de contos de fadas que abordam questões sociais e emocionais, trazendo uma perspectiva contemporânea para a narrativa.

Como escrever um conto de fadas

Escrever um conto de fadas envolve a combinação de elementos clássicos com criatividade e originalidade. Aqui estão algumas etapas, exemplos e dicas para ajudar nesse processo:

1. Escolha um Tema Central
Exemplo: O amor verdadeiro, a coragem, ou a luta entre o bem e o mal.

Dica: Defina a mensagem ou moral que você deseja transmitir. Por exemplo, um conto sobre coragem pode contar a história de um personagem que enfrenta seus medos.

2. Crie Personagens Arquetípicos
Príncipe, princesa, vilão, ajudante mágico.

Dica: Utilize arquétipos clássicos, mas adicione profundidade. Por exemplo, crie uma princesa que não espera ser salva, mas que luta por seu próprio destino.

3. Estabeleça um Mundo Mágico
Florestas encantadas, castelos, reinos distantes.

Dica: Descreva o ambiente de forma vívida. Um reino pode ser cercado por uma névoa mágica que esconde perigos e maravilhas.

4. Introduza um Conflito
Um vilão que ameaça o reino ou um encantamento que precisa ser quebrado.

Dica: O conflito deve ser claro e motivar a jornada do protagonista. Por exemplo, uma bruxa que sequestra a irmã do herói.

5. Desenvolva a Jornada do Herói
 O herói deve superar desafios e aprender lições ao longo do caminho.

Dica: Inclua ajudantes e testes. Por exemplo, o herói pode encontrar um animal falante que lhe dá conselhos ou um objeto mágico que o ajuda em sua missão.

6. Inclua Elementos Mágicos
Feitiços, objetos encantados, criaturas mágicas.

Dica: Use a magia para avançar a trama e criar surpresas. Um espelho mágico que mostra o futuro pode ser um ótimo recurso.

7. Conclua com uma Resolução Clara
O bem triunfa sobre o mal, ou o herói aprende uma importante lição.

Dica: A conclusão deve oferecer satisfação e reforçar a moral da história. Por exemplo, a princesa se torna rainha e governa com justiça após derrotar a bruxa.

Dicas Finais

Use uma linguagem simples e poética: Contos de fadas muitas vezes têm um ritmo lírico.

Incorpore repetição: Frases repetidas podem criar um efeito encantador.

Seja criativo com a moral: Evite lições óbvias; busque nuances que convidem à reflexão.

Seguindo essas etapas e dicas, você pode criar um conto de fadas envolvente e significativo que ressoe com leitores de todas as idades.
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EXEMPLO DA ESTRUTURA DO CONTO ABAIXO:

Título: A camundonga corajosa

Tema: Coragem e autoafirmação.

Personagens:
Camundonga Matilda (protagonista)
Bruxa Maligna Clotilde (vilã)
Corvo Tomás (sábio)

Mundo: Um reino cercado por uma floresta mágica e misteriosa.

Conflito: A Bruxa Maligna lança um feitiço que transforma os animais em pedra.

Jornada: Matilda decide enfrentar a bruxa. Na floresta, ela encontra o corvo Toby, que lhe dá um conselho. Ela enfrenta desafios, criados pela bruxa.

Resolução: Com coragem, Matilda derrota a bruxa. Ela aprende que a verdadeira força vem de dentro,.

Fonte: José Feldman. Dissecando a magia dos textos: Contos e Crônicas. Maringá/PR: IA Poe.  Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

José Feldman (Conto de Fadas) A Camundonga corajosa



Nota: Veja a estrutura do Conto de Fadas no texto acima.


Era uma vez...
Em um reino distante, havia uma pequena aldeia cercada por uma floresta mágica e misteriosa. Nessa aldeia, vivia uma camundonga chamada Matilda. Embora fosse pequena e frequentemente ignorada, Matilda tinha um coração valente e sonhava em fazer grandes coisas.

O Problema
Certa manhã, os habitantes da aldeia acordaram assustados. Uma bruxa malvada chamada Clotilde havia lançado um feitiço, transformando todos os animais da floresta em pedras. Ela estava furiosa porque os animais não a acatavam e decidiu punir a aldeia por sua desobediência.

Matilda, percebendo que seus amigos, como o sábio corvo Tomás e a gentil raposa Flora, estavam petrificados, decidiu que era hora de agir. Com coragem, ela se aproximou do ancião da aldeia e perguntou como poderia ajudar.

A Jornada
O ancião contou que a única maneira de quebrar o feitiço era encontrar o Cristal da Coragem, escondido na montanha mais alta do reino. Matilda sabia que a jornada seria perigosa, mas não podia deixar seus amigos assim.

Com um pequeno manto feito de folhas e um pedaço de queijo na mochila, Matilda partiu em direção à montanha. No caminho, encontrou Tomás, que, mesmo petrificado, ainda podia falar.

"Se você deseja quebrar o feitiço, não se esqueça de ser corajosa e gentil", aconselhou o corvo. Matilda prometeu que não se deixaria abalar, e continuou sua jornada.

O Encontro com a Bruxa
Ao chegar à montanha, ela encontrou a entrada de uma caverna escura. Com o coração acelerado, ela entrou e se deparou com Clotilde, que estava guardando o Cristal da Coragem.

"Quem ousa entrar em meu domínio?" gritou a bruxa, com um olhar maligno.

"Eu sou Matilda, e vim quebrar o feitiço que você lançou sobre os animais", respondeu a camundonga, tremendo, mas determinada.

Clotilde riu. "Você, uma simples camundonga? O que pode fazer contra um feitiço poderoso?"

Matilda respirou fundo e, em vez de medo, falou com firmeza: "Eu posso mostrar que a verdadeira coragem vem do coração, não do tamanho."

O Desfecho
A bruxa, intrigada pela bravura de Matilda, decidiu testá-la. "Se você realmente tiver coragem, enfrente três desafios, e então eu considerarei libertar os animais."

Os desafios eram perigosos: atravessar um rio cheio de crocodilos, resolver um enigma mágico e, por fim, encontrar uma flor rara que crescia em uma montanha íngreme.

Com a ajuda de sua astúcia e a coragem que brotava de seu coração, Matilda superou cada desafio. Ela usou seu pequeno corpo para se esgueirar entre os crocodilos, pensou cuidadosamente para resolver o enigma e, com determinação, escalou a montanha até encontrar a flor.

Impressionada, Clotilde finalmente entregou o Cristal da Coragem a Matilda. Com um gesto gentil, a camundonga quebrou o feitiço, e todos os animais voltaram à vida.

Matilda voltou à aldeia como uma heroína, e Clotilde, ao ver a bondade e coragem da pequena camundonga, decidiu mudar seu comportamento. Ela não mais usou magia para causar medo, mas sim para ajudar a aldeia.

E assim, a aldeia aprendeu que a verdadeira coragem não é medida pelo tamanho, mas pela força do coração.

Moral: 
A coragem e a bondade podem superar até mesmo os maiores desafios.

Fonte: José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.

Vereda da Poesia = 123 =


Semi-Soneto de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

Solidão (2)

Se a solidão é a musa que me guia, 
nos versos tristes, a dor se revela, 
um labirinto de sombras principia… 
o tempo, inexorável, é uma gazela. 

A hora se arrasta, pesada, lenta, 
e cada instante pesa como um fardo. 
No peito, um grito, vozes que acalenta, 
um eco profundo, um amor que é guardado. 

Mas entre as nuvens, há uma luz que se acende, 
uma chama intensa, que nunca se apaga, 
e mesmo só, a esperança se estende. 

Na solidão, a alma nunca se desapega, 
pois o amor, mesmo em dor, se defende, 
e na ausência, à vida se entrega. 
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Trova Humorística de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Na briga que o meu cabelo,
e a careca estão travando
lamento ter que dizê-lo,
a careca está ganhando...
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Poema de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

Refém feliz

A cada vez que minha dor me diz bom dia,
A poesia brinca com meu pensamento...
Meu coração convida minha fantasia
E anestesia o meu próprio sofrimento.

Meu riso fácil mansamente se projeta,
Poeta ri, quando a poesia é seu espelho,
Mas também chora, quando lhe foge o poeta
E ele se curva à própria dobra de um joelho.

A cada vez que a dor se torna mais severa,
Amanso a fera, afinal, sou domador
Da própria dor que não resiste a essa quimera
Que faz de mim, refém feliz de um sonhador.

Estou aqui e sou feliz... esse é meu jeito
De abençoar meu coração com a alegria
E se o amor mais fraternal bate em meu peito
Ele transforma minha dor em poesia.

Tenho uma história e toda vez que a reconto,
Não ponho ponto, quando finda a narrativa,
É só alguém me ouvir, que encontro o contraponto
Da minha vida e pronto: encontro outra saída.

Deixo um legado para a dor que me provoquem:
A piedade... mas não sei silenciar,
E se eu chorar, quando eu sorrir, não me retoquem,
Preciso rir, sentindo a dor se dispersar.

A cada vez que o desamor me deixa triste,
A dor insiste... mas se ela não me doer,
Sinto-me morto e esse amor que ainda resiste,
É que me faz, sentindo dor, sobreviver.

As dores físicas não pedem permissão...
São atrevidas... sempre vêm sem avisar,
Mas se um rancor atinge em cheio um coração,
A solidão faz razão se emocionar.

E eu não nasci para sofrer, pois Deus me fez
Para sonhar... viver... amar... e ser feliz
E sempre busco me curar a cada vez
Que alguém me fere com palavras pueris.

A minha dor é espontânea e atrevida,
Ela revida toda vez que a desacato,
Mas eu a mato, porque se ela ganha vida,
Brinca com a vida que ainda há no meu retrato.

Faço uma selfie, meu sorriso é imortal
E debochado, quando a dor é insistente,
Pois cada vez que ela vem e me faz mal,
Deus ri comigo e volto logo a ser contente.
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Trova  Premiada em Irati/PR, 2023
CATERINA BALSANO GAIOSKI 
Irati / PR

Desde um tempo bem distante,
as pedras tem seu valor,
podem matar um gigante,
ou conquistar um amor.
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Soneto de 
ALFONSINA STORNI
Capriasca/ Suiça (1892-1938) Mar del Plata/Argentina

A súplica

Senhor, Senhor, há muito tempo, um dia,
sonhei o amor, como ninguém houvera
ainda sonhado, amor que fosse e que era
a vida toda todo uma poesia.

Passa o inverno e esse amor não chegaria,
passaria também a primavera;
o verão persistente volveria...
E o outono ainda me encontra à sua espera.

Ó Senhor, sobre minha espádua nua,
faze estala, por mão que seja crua,
o látego que mandas aos perversos,

que já anoitece sobre minha vida
e esta paixão ardente e desmentida
eu a gastei, Senhor, fazendo versos!
(Tradução de Oswaldo Orico)
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Trova Popular

Quem tiver filhas no mundo
não fale das malfadadas;
porque as filhas da desgraça
também nasceram honradas.
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Soneto de
J. G. DE ARAÚJO JORGE
(José Guilherme de Araújo Jorge)
Tarauacá/AC (1914 – 1987) Rio de Janeiro/RJ

Bom dia, amigo sol!

Bom dia, amigo Sol! A casa é tua!
As bandas da janela abre e escancara!
Deixa que entre a manhã sonora e clara
que anda lá fora alegre pela rua!

Entra! Vem surpreendê-la quase nua!
Doura-lhe as formas de beleza rara...
Na intimidade em que a deixei, repara
que a sua carne é branca como a Lua!

Bom dia, amigo Sol! É esse o meu ninho...
Que não repares no seu desalinho,
nem no ar cheio de sombras, de cansaços...

Entra! Só tu possuis esse direito
de surpreendê-la, quente dos meus braços,
no aconchego feliz do nosso leito!...
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Trova de
MARINA BRUNA
Franca/SP (1935 – 2013) São Paulo/SP

Canta, Poeta! O teu canto,
de um sentimento profundo,
é o turíbulo de encanto
que vai incensar o mundo!
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Poema de
FERNANDO PAGANATTO
São Paulo/SP

Jardineiros

Como é frágil
a planta que nasce
no ventre dos nossos quartos.
Flor de pétalas de seda
e aroma dourado,
de tão duros cuidados.

Floresce na encruzilhada
da magia com a crença
e quando a encruzilhada
encontra-se em nossas camas.

Depois, lá só morre
pela falta de um regador
de olhares.
De um regador de olhares
que rega olhares das manhãs,
das tardes e também das noites,

ou porque, antes,
morreu o solo
acabou-se a magia
ou a crença.
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

O marido não aguenta
ver a cara da Maria!...
“Não dá pra trocar – lamenta
– veio sem a garantia!”
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Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Estado d´alma

O que reflete o meu estado d´alma,
de tudo quanto vi e já conheço,
é a poesia amiga, quando espalma
tão bem a dor do amor, no qual padeço

Quem lê meu verso com bastante calma,
por certo me conhece até no avesso,
pois minha inspiração jamais empalma
tudo que às outras almas ofereço.

Quem lê meu verso sabe, num instante,
se estou tristonho, ou até feliz bastante.
- Mais claro ainda?  -  Olhe nos meus olhos!

As minhas vistas são também janelas,
bastando apenas ver através delas,
se tenho um grande amor... ou só abrolhos!
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Trova do 
Príncipe dos Trovadores
LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ (1916 -1977) Santos/SP

Glórias, riqueza, esplendor,
nunca te dei... e nem tive...
Porém, mais dura um amor
quando com pouco ele vive…
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Poema de
GERSON NEY FRANÇA
São Paulo/SP

Crepúsculo

O crepúsculo não faz jus
Ao silêncio do teu sono
Se abandona toda a luz
E a luz ainda é incômodo

A mudez da madrugada
Vem fazer tanto barulho
No rugir do som do nada
Seus arroios, seus arrulhos...

Mesmo o ar se faz atrito
Ao fluir do teu suspiro
E o ambiente tranquilo
É a mordaça do não-grito

Se atinge um quê de clímax
No apogeu desse crepúsculo
Quando em ti nada por cima
Faz crispar todos os músculos
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Trova Funerária Cigana

Já que não posso morrer
contigo, minha Adelaide,
aceita o pranto sem fim
de uma perpétua saudade.
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Soneto de 
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC (1926 – 2017) Sorocaba/SP

Tempo

O tempo apaga um sonho já desfeito
na aridez de uma vida mal traçada,
uma paixão que se evolou do peito
como essência do frasco evaporada.

Tudo finda, como água já passada
que não retorna nunca mais ao leito:
do tempo que se foi não resta nada,
é verbo no pretérito perfeito.

Mas no incontido caminhar dos anos,
paciente, a transportar os desenganos,
ele ameniza o nosso sofrimento.

Lava que esfria e se transforma em rocha,
se algum desgosto ainda nos arrocha,
o tempo é o óleo bom… do esquecimento.
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Trova Hispânica de
ÁNGELA DESIRÉE PALACIOS
Venezuela

Con el mundo en nuestras manos
orando por paz y amor,
seríamos siempre hermanos
y el universo mejor
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Poema de 
MÁRCIA SANCHEZ LUZ
São Paulo/SP

Lareira acesa

Em frente à lareira acesa
Contemplo o fogo que aquece
E que em brasa, a madeira
Meu amor transparece.

Meu coração não te esquece
Não te perde quando sonha
Enlouquece, entontece
Fica aceso feito chama.

Feito fogo em álcool embebe
Fico afoita, doida, rouca !
Te desejo, tonta e pronta
Te apercebes, me recebes.

Defronte à lareira acesa
Aqueço meus sentimentos!
Meus pensamentos se aquietam...
Aquieto-me frente à beleza
Que me convida a sonhar...

Com sua chama
Com sua calma
Acalma meus medos
Alerta-me
Fita-me
Incita-me
Faz-me sorrir.
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Trova de
TIAGO
António José Barradas Barroso
Paredes/Portugal

Um ato de amor será
dar o que se tem, agora,
mas muita gente só dá
aquilo que joga fora.
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Buquê de Trovas de
NEMÉSIO PRATA
Fortaleza/CE

Meu livro...

Dos livros que ainda não li,
tenho por um grande anelo
em lê-lo, pois o escrevi...
porém não foi para o prelo!
 
Quem sabe, daqui a vinte
ou trinta anos o publique;
ou será que, por acinte,
o "escritor" já foi a pique!?
 
Mesmo assim eu os convido,
a fazerem-se presentes,
por favor, não deem olvido;
não quero "vê-los" ausentes!

Todo livro deve que ter
"título" bem eficaz...
pois não é que o meu vai ser:
Leia-me... (se for capaz).
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Fim do filme... Na saída,
pergunta à pulga o pulgão:
– Voltamos a pé, querida,
ou vamos tomar um cão?
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Soneto de
DELMIRA AGUSTINI
Montevidéu/Uruguai, 1881 – 1914

Explosão

Se a vida é amor, bendita seja então!
Quero mais vida, se esse amor aumento;
que não valem mil anos de razão
um só minuto azul de sentimento.

Meu coração morria triste e lento
e hoje é uma flor de luz em combustão!
A vida canta como um mar violento
quando a mão de um amor a agita em vão!

Esfuma-se na noite triste, fria,
de asas rotas - minha melancolia;
como a indelével mancha de uma dor

que na sombra distante já perdi...
A vida toda canta, beija, ri,
numa explosão como uma boca em flor!
(Tradução de J. G. de Araujo Jorge)
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Trova da
Princesa dos Trovadores
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Que o presente se reparta
com o passado, sem queixa...
- A memória não descarta
o que a saudade não deixa!
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Hino de 
Laguna/ SC

Minha Laguna
Contarei tua história
E os feitos de glória
Que ofertaste ao Brasil.

E falarei
Das belezas sem par
Deste céu, deste mar
Destas praias sem fim.

Minha Laguna
Falarei do teu povo
Que adora o que é novo
Sem matar o passado
E mostrarei
O valor desta gente,
Nesta canção dolente,
Que orgulhosamente
Eu fiz pra te ofertar.

Laguna amada
Sob este céu que é tão azul
Foi que a Pátria deslumbrada
Deu a grande caminhada
Em direção ao sul.
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Trova Humorística de 
SELMA PATTI SPINELLI
São Paulo/SP

Até no "terreiro" em prece,
é preguiçoso, o farsante:
quando o "santo" dele -desce-
só vem... de escada rolante!
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Poema de 
WAGNER LUIZ ANICETO
Santos Dumont/MG

Porto de Solidão

Porto de solidão,
Num cantinho de mar, abandonado.
Pedaço de madeira flutuante,
Resto de naufrágio!...

Já foste ancoradouro em outras eras,
E acolheste milhões de visitantes
Em teus limites:
Homens, barco, fragatas e navios.

Hoje, és meramente um marco inglório,
Camuflado sob dunas, musgos e detritos,
Serves simplesmente de abrigo
Às aves errantes, ociosas...

Porto de solidão!
Os reis também já te esqueceram.
Ninguém recorda a tua glória.
O teu cartão-postal envelheceu.
Morreu tua beleza transitória!

Porto de solidão!
Há algo comum em nossa história!
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Trova premiada em Irati/PR – 2023
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI 
Bandeirantes / PR

Quem chega a cargos honrosos
com determinantes passos,
nos caminhos pedregosos
soube afastar os fracassos!
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

O cão que leva o jantar ao dono

Marchando com grande entono,
Um cão esperto e sagaz
Levava o jantar do dono
Em um pequeno cabaz.

Passa outro cão — e atrevido,
Entra a rosnar, a rosnar,
E mostra-se decidido
Em lhe tirar o jantar.

Mas o que pensa não faz,
Que o primeiro cão, valente,
Da boca larga o cabaz
E ao ladrão refila o dente.

Um bando de cães acode;
Vê-se o jantar em perigo;
E o fiel cão, que não pode
Combater tanto inimigo,

Diz aos irmãos com bons modos:
«A questão é de barriga;
Reparta-se isto por todos,
E não pensemos na briga.»

Este atira-se a um bocado,
Aquele a um outro cobiça;
Cada um puxa para seu lado...
Foi — fogo viste, linguiça!

É semelhante este cão
Ao empregado zeloso
Que arrecada, escrupuloso,
Os dinheiros da nação;

Mas não podendo estorvar
Que os outros comam do bolo,
Não quer que lhe chamem tolo
E é o primeiro a roubar.