sábado, 20 de junho de 2020

Luiz Gonzaga da Silva (Trova e Cidadania) 17 - Solidão


Solidão significa encontrar-se só ou sentir-se só. A solidão é uma experiência vital. Juvenal Arduini (2002) cita vários tipos de solidão: solidão estéril, onde nada se planta, nada se cria; solidão excludente, a solidão dos excluídos da sociedade, dos pobres, dos discriminados, dos desempregados, dos desabrigados; solidão confinatóría, na qual a sociedade de controle procura manter os dissidentes, os que são obrigados a calar, os exilados; solidão habitada, que carrega lembranças, afetos, esperanças e frustrações; e a solidão fecunda, esta que permite a criação, invenção, arte e engenho. Esta pode ser referida também como o ócio criativo de Domênico de Masi.

Sem dúvida, a solidão fecunda é a mais cara ao trovador. Mas este, em sua criação, finalmente irá por em relevo a solidão habitada. Solidão quase angústia. E que beleza estética!


Na velha estação de trem
que a solidão dominava?
eu acenei a ninguém...
fingindo que alguém chegava...
Octávio Venturelli - RJ

Há uma dor que aos céus se eleva,
uma ânsia que não se acalma:
- Solidão! Rosa de treva
despetalada em minha alma.
Luiz Rabelo - RN

Na solidão dos conventos,
nos corredores compridos,
escuto o grito do vento
chamando as sonhos perdidos.
J. Guedes - MG

No tear da solidão,
rendeiro em dias tristonhos,
basta um fio de ilusão
para tecer os meus sonhos!
Elizabeth Souza Cruz - RJ

Exemplos de solidão estéril são postos em relevo nas seguintes trovas;

Quem se entrega à solidão
e dela se faz refém,
anda em meio à multidão,
mas não enxerga ninguém!
Ademar Macedo - RN

Não existe solidão
tão triste como a de quem,
no meio da multidão,
caminha e não vê ninguém!...
José Tavares de Lima - MG

Fonte:
Luiz Gonzaga da Silva (org.). Trova e Cidadania. Natal/RN, abril de 2019.
Livro enviado pelo autor.

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