quinta-feira, 8 de agosto de 2024

O poeta em preto em preto e branco (Entrevista com Rommel Werneck)


Entrevista concedida pelo poeta Rommel Werneck (nome artístico: Febo), exclusivamente para o Blog Singrando Horizontes.

1– Conte um pouco de sua trajetória de vida, onde nasceu, onde cresceu, o que estudou.

Nasci em São Caetano do Sul e morei em Santo André, no bairro Sacadura Cabral até dezembro de 2003 quando fixamos residência em São Paulo, no Ipiranga. Em 2006 ingressei no curso técnico de Desenhista de Moda e Vestuário da ETEC José Rocha Mendes e em 2009 concluí o curso de Letras na UniPaulistana. Em julho de 2014 ingressei no magistério andreense, por tal razão, em setembro de 2015 voltei a fixar residência em Santo André, mas na região central. Nos anos seguintes me dediquei a cursos de especialização e segundas licenciaturas. Houve um longo tempo consagrado ao Picnic Vitoriano São Paulo, clube de Recriação Histórica, o qual fundei e presidi até a pandemia além de um breve período estudando ciências e movimentos políticos...

2– Como era a formação de uma jovem naquele tempo? E a disciplina, como era?

Os principais educadores de hoje chamam pejorativamente de “conteudismo”, havia nos 2000s um imenso foco em banco de conteúdos diversos. De certa forma, eu entendo a crítica da pedagogia atual, exigia-se que dominássemos tanto a tabela periódica como as If Clauses. Mas o canonismo favoreceu bastante minha formação cultural.   

3– Recebeu estímulo na casa da sua infância?

Meu pai trabalhou muito o que chamamos hoje de multiletramento. Ele conversava comigo sobre Astronomia, Matemática, Cinematografia, Música, Guerras (daí o meu nome...), contos de fadas (a família é de origem alemã) etc Mas o estímulo à escrita, dependendo de como considerarmos o estímulo, não era tão efetivo. Mas, certamente, a amplitude de temas aos quais fui condicionado favoreceu uma observação maior do mundo. 

4– Fale um pouco sobre a sua trajetória literária. Como começou a sua vida de literato?

Por volta dos 7 anos escrevi umas pequenas histórias de animais, princesas, florestas... Aí escrevi uns romances curtos, mas o jurista Dirceu de Mello, irmão de meu padrasto, classificou-os como roteiros de pequenas novelas... ah se houvesse tiktok naquela época... mas eram roteiros defeituosos, nem tanto novela, nem tanto romance.

Creio que oficialmente começou em 2003 quando expus alguns poemas no Instituto Pão de Açúcar de Desenvolvimento Humano quando este tinha um prédio em São Caetano do Sul, no mesmo ano, venci um prêmio escolar na Prefeitura de São Caetano do Sul. Em 2004 venci outro prêmio, mas em categoria adulto nacional. 

5– Como foi dar esse salto de leitor para poeta?

Eu lia poesia, mas eram poucas e a escola nos apresentava muito conteúdo modernista. Foi na 7ª série que a professora Iraci nos apresentou Camões e Vinícius, na 8ª série assisti a uma oficina no Instituto que acabei de mencionar e escrevi um poema. Fraco, admito, mas o material do Ensino Médio chegou ainda em 2002 (não havia 9º ano naquele tempo) e eu conheci a literatura histórica, o que me cativou muito. Descobrir versos com ritmo regular mudou a minha vida. 

6– Teve a influência de alguém, para começar a escrever?

Não sei responder. Penso que tive professores que me influenciaram.

7– Tem Home Page própria? ( não são consideradas outras que simplesmente tenham trabalhos seus)


8– Você possui livros? Se sim, em que você se inspirou em seus livros? Cite alguns deles.

Existem os e-books do Blog Poesia Retrô e outras antologias, há tudo detalhado em meu site. Mas livro solo há o e-livro Cheiro de Chuva (2023, indrisos, prefácio de Isidro Iturat) e agora existe o Invocando Dragões (2024)

9– Como definiria seu estilo literário?

Os críticos chamam de “poesia cosplay”, inclusive não considero uma ofensa, mas entendo que tentaram humilhar, igual ao apelido Rommel Verde Leque nos tempos do Orkut. Eu considero um estilo mais revivalista, embora eu tenha algo na poesia marginal, pouco admito. 

10– Dentre os livros escritos por você, qual lhe chamou mais atenção? E por quê?

Tenho apenas dois livros solo: Cheiro de Chuva e Invocando Dragões, mas como 4 sonetos de ID estão na II E-Antologia de Poesia Retrô, reafirmo que o segundo e-book do blog foi o mais glorioso. 

11– Você pertence a um gênero poético, a poesia retrô. O que vem a ser? Existem regras? Fale sobre ele.

Talvez o termo mais adequado seja Poesia Erudita, apesar de haver muito de cultura e poesia popular nos estudos métricos. O blog foi fundado por mim em 2009 para que houvesse divulgação de um estilo mais tradicional de poesia. Valorizamos os versos isométricos, heterométricos e polimétricos e as formas fixas tradicionais e modernas.  Não recusamos o verso livre, mas o versilibrismo.  Temos preferência por temáticas tradicionais como a mitologia, o amor, o sofrimento, referências históricas. Mas é possível escrever temáticas contemporâneas em forma tradicional. 

12– O que é importante para alguém escrever poesia retrô?

Conhecer os tratados de versificação, poemática, teoria literária, escansão e ler autores que podem servir de exemplos ou fornecer epígrafe. Convém não agir com rigorismo, o rubricismo puritano (criar regras sem embasamento na Versificação) porque a ciência versificativa foi construída por visões diferentes e até opostas entre si por séculos. Em suma, cada escola literária teve suas referências, ideologias, contextos, visão gramatical e fonética da língua.

13– Você participa de algum grupo de trovadores. Se sim, o que te levou a participar dele? O que te motiva a escrever uma trova?

Associado da UBT São Paulo, a periodicidade e estabilidade das reuniões me motivaram muito. Recentemente obtive duas premiações nos Jogos Florais de Congonhas sendo uma delas o primeiro lugar. 

14– Que acha dos seus versos: O que representam para si? E para os seus leitores?

Estou certo de que representam a expressão de um homem que parece ter dívidas com o Passado e apresenta um trabalho não muito comum. Quem adquirir Invocando Dragões encontrará um livro de doze sonetos em tetrâmetro anapéstico em um sistema de ortografia que não está vigente. Logo, terá um livro completamente diferente na estante. 

15– Você precisa ter uma situação psicologicamente muito definida ou já chegou num ponto em que é só fazer um “clic” e a musa/ou muso pinta de lá de dentro? Para se inspirar literariamente, precisa de algum ambiente especial?

Músicas costumam me ajudar bastante, principalmente as que possuem um instrumental diferente, a questão de experimentar formas e rimas novas, sentimentos e episódios que nem tanto se fala hoje.

16– Você projeta os seus versos? Ou seja, você projeta a ação, você projeta o esquema antes? Como é que você concebe os textos?

Geralmente escrevo os últimos versos primeiro, já que o veneno do escorpião está na chave de ouro. 

17– Você acredita que para ser poeta ou trovador basta exercitar a escrita ou é um dom? Ou ambos?

Repetirei o que disse a uma entrevista há mais de dez anos, acredito no processo de 99% de transpiração sobre 1% de inspiração. 

18– No processo de formação do escritor é preciso que ele leia porcaria?

Tive uma colega do Ensino Médio muito inteligente que assegurava ser importante ler cultura inútil.  

19– Mas existe uma constelação de escritores que nos é desconhecida. Para nós, a quem chega apenas o que a mídia divulga, que autores são importantes descobrir?

Os autores que se aventuraram pelas formas fixas. Por exemplo, Edmund Spenser, o criador do soneto spenseriano;  Lady Mary Wroth, a primeira pessoa que escreveu uma coroa de sonetos na língua inglesa; Francisca Júlia, maior poetisa brasileira da Belle Époque; Alexei Bueno, sonetista contemporâneo...

20– Na sua opinião, que livro ou livros da literatura portuguesa deveriam ser leitura obrigatória?

Fiquei feliz em saber que num edital de Mestrado o livro Rimas Várias de Soror Violante do Céu foi solicitado. Mas não sei se tenho autoridade para fazer tais indicações, mas indicaria o tratado de Castilho como obra primária a ser obrigatória para estudantes de Letras e escritores. 

21– O que mais lê hoje?

Tratadística, poesia bilíngue e poetas clássicos que não são canônicos. 

22– Você possui algum projeto que pretende ainda desenvolver?

Vários contos e romances. O segundo livro de poesias (que contém sonetos, trovas, sextinas, plêiades e bastante material de épocas mais antigas) já está no forno. 

23– Que conselho daria a uma pessoa que começasse agora a escrever?

Que começasse a ler vários gêneros de poemas e verificasse qual gostaria de reproduzir. As pessoas não gostam de rótulos, mas deveriam gostar de nomear os estilos e categorias. 

Nenhum comentário: