sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

José Luiz Boromelo (Lembranças)

Dia desses encontrei uma fotografia antiga de minha família. Uma época em que se dormia com as janelas abertas ou se recebia os amigos para uma agradável serenata na madrugada. A lembrança dos tempos de infância remete a um passado distante que não volta mais. Da inocência de um menino correndo descalço no pasto, subindo nas goiabeiras e abacateiros desafiando o “nono”, que ameaçava os pirralhos com sua varinha de marmelo preparada para uma eventual utilização nas partes proeminentes da molecada.

Daquele tempo, fixou-se na memória a imagem da harmonia e dos vínculos familiares. Por conta da origem europeia os descendentes de italianos procuravam manter vivos seus costumes, transmitindo aos sucessores os hábitos dos mais velhos. A alegria contagiante daquele povo que tinha por hábito sincronizar os movimentos das mãos com as palavras emitidas em volume bem acima do usual era sua marca registrada. A grande maioria dos imigrantes fincou raízes na zona rural e com o trabalho árduo de sol a sol alavancou o desenvolvimento do país, deixando um legado de riqueza e fartura para as gerações futuras.

Foi com essas recordações que voltei ao passado. À enorme casa avarandada cercada de rosas, hortênsias e margaridas que minha mãe cuidava com carinho. Dos terreiros feitos de tijolos onde se secava o café, das tulhas levantadas com peroba-rosa aplainadas no machado. Do engenho de cana movido por tração animal. Do pomar onde se colhiam as mais saborosas frutas, da horta incrivelmente verde o ano todo. Ao longe se avistava um enorme jatobá que fornecia suas favas de odor forte e adocicado, local preferido das pacas, quatis e macacos. O riacho onde se pescavam lambaris, traíras e bagres. O capão de mato que fornecia bons cabos de louro, sapuva e guajuvira para as ferramentas de corte e de onde se coletava o delicioso mel silvestre. Um verdadeiro paraíso, que hoje vagueia errante em algum lugar da memória.

No sítio em que nasci pouco restou daqueles tempos. Os vizinhos se mudaram e a terra foi ocupada pela monocultura da cana-de-açúcar. A casa avarandada transformou-se em ruínas. A imagem triste do terreiro de café e do curral encobertos pelo mato, o poço d’água canalizado, as tulhas retiradas, o pomar e a horta transformados em área de preservação permanente incomoda. A moenda esquecida embaixo da velha caneleira revela as marcas do tempo. Restou somente o imponente jatobá com sua copa imensa, como que querendo chegar ao céu. Foi o único que escapou da fúria mecanizada e ecologicamente incorreta. Depois de quase cinco décadas, a visita ao sítio foi uma emocionante volta ao passado.

Ainda hoje sinto nos aromas das flores as lembranças de um tempo que se foi. Mas é possível reviver a alegria da infância cultivando a simplicidade, o amor e o respeito ao ser humano e à natureza. Uma maneira de manter vivos na memória os bons momentos da melhor época de minha vida.
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José Luiz Boromelo, é de Marialva/PR, policial rodoviário aposentado, escritor, cronista e agricultor, colaborador da Orquestra Municipal Raiz Sertaneja.

Fontes:
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Jerson Brito (Asas da poesia) 09


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JERSON LIMA DE BRITO, nasceu em Porto Velho/RO, em 1973, onde reside. Graduado em Administração e Direito pela Fundação Universidade Federal de Rondônia. Sonetista, trovador e cordelista, é membro fundador da Academia Brasileira de Sonetistas (Abrasso), integrante do Fórum do Soneto e Delegado da União Brasileira de Trovadores (UBT) em Porto Velho. Exerce o cargo de Técnico Federal de Controle Externo na SECEX-RO, tendo participado de algumas Mostras de Talentos do TCU. Neto de nordestinos, na infância teve os primeiros contatos com os versos, lendo os folhetos de cordel que seu pai comprava. Já na fase adulta, depois dos 30 anos, deu os primeiros passos na literatura escrevendo sobretudo cordéis. Posteriormente, aderiu aos sonetos e outras modalidades poéticas. Premiado em diversos concursos de trovas, sonetos e cordéis.

O. Henry (Namorado de Quatro Vinténs)

Havia 3 000 moças na Grande Loja. Masie era uma delas. Tinha dezoito anos e vendia luvas para cavalheiros. No emprego aprendeu a conhecer duas espécies de seres humanos — os cavalheiros que compram luvas em grandes lojas e as mulheres que compram luvas para cavalheiros menos afortunados. Além desse amplo conhecimento do gênero humano, Masie aprendera outras coisas. Dera ouvidos à consabida sabedoria de 2 999 outras moças e a armazenara num cérebro tão discreto e prudente quanto o de um gato maltês. Quem sabe a Natureza, prevendo que à moça faltariam sábios conselheiros, lhe houvesse juntado à beleza um ingrediente salvador, a esperteza, assim como dotara a raposa prateada, de valiosa pele, com uma argúcia superior à dos outros animais.

Masie era linda. Tinha cabelos de um louro intenso e o porte tranquilo de uma senhora a fazer demonstrações culinárias numa vitrina. Masie ficava a postos atrás do seu balcão na Grande Loja, e quando a gente fechava o punho para tirar a medida das luvas, ao fitar a moça, pensava logo em Hebe; e se a olhava novamente, punha-se a conjeturar em como passara ela pelos olhos de Minerva.

Quando o chefe do departamento não estava prestando atenção, Masie mascava tutti frutti; quando ele a observava, ela erguia os olhos para o céu e sorria pensativamente.

Esse é o sorriso das vendedoras de loja, e suplico ao leitor que o evite, a menos que esteja protegido por calosidade do coração, caramelos ou afinidade com as diabruras de Cupido. Tal sorriso pertencia às horas de folga de Masie e não à loja, mas o chefe deve ter o que lhe cabe. É o Shylock das lojas. Quando vem meter o nariz em algo, já se sabe que é para recolher benefício. Ostenta um olhar meloso sempre que contempla uma moça bonita. Naturalmente, nem todos os chefes de departamento são assim. Há poucos dias os jornais deram notícia de um com mais de oitenta anos de idade.

Certa feita, Irving Carter, pintor, milionário, turista, poeta e automobilista, entrou na Grande Loja. Cumpre dizer que ali não fora por vontade própria. O dever filial o agarrara pelo colarinho e o arrastara até a loja, enquanto sua mãe percorria a seção de estatuetas de bronze e terracota.

Carter dirigiu-se para o balcão de luvas a fim de matar o tempo. Sua necessidade de luvas era legítima; esquecera-se de trazer as suas. Mas seu ato de modo algum carece de justificativa, pois jamais ouvira falar de namoros em balcões de luvas. Ao se avizinhar do seu destino, hesitou, subitamente cônscio dessa desconhecida fase da menos valiosa das atividades de Cupido.

Três ou quatro gajos insignificantes, vestidos espalhafatosamente, inclinavam-se sobre o balcão, batalhando com os intercessivos protetores das mãos, enquanto moças casquinantes serviam-lhes de vivazes segundos no ataque à estridente corda da garridice. Carter deveria ter-se retirado, mas já se adiantara muito. Masie surgiu-lhe pela frente, por detrás do seu balcão, com um olhar inquiridor em olhos tão fria, bela e calidamente azuis quanto os lampejos do sol estival num iceberg a vogar pelos mares meridionais.

Foi então que Irving Carter, pintor, milionário, etc., sentiu um quente rubor subir-lhe às faces aristocraticamente pálidas. Mas não por falta de confiança em si próprio. O rubor era de origem intelectual. Percebeu imediatamente que passara à categoria dos jovens insignificantes que cortejavam as moças casquinantes em outros balcões. Ele próprio debruçou-se sobre o acarvalhado ponto de encontro de um Cupido popular, desejando, no íntimo, conquistar as boas graças de uma vendedora de luvas. Não era melhor do que Bill, Jack ou Mickey. Sentiu então uma certa tolerância para com eles e um desprezo resoluto e corajoso pelas convenções nas quais fora criado, além do firme propósito de conquistar essa criatura perfeita para si.

Depois de pagar as luvas e receber o embrulho, Carter demorou-se ainda alguns instantes. As covinhas nos cantos da boca rósea de Masie se acentuaram. Todos os cavalheiros que compravam luvas demoravam-se daquela maneira. Ela curvou o braço, que, como o de Psiquê, a manga de sua blusa deixava entrever, e apoiou o cotovelo sobre o vidro da montra.

Carter nunca antes se encontrara numa situação que não dominasse completamente. Agora, porém, estava mais atrapalhado do que Bill ou Jack ou Mickey. Não teria oportunidade de encontrar-se com aquela linda moça numa reunião social. Sua mente esforçou-se por recordar a natureza e os hábitos das mocinhas de loja, segundo o que deles soubera por leitura ou conversa. De qualquer maneira, tinha a noção que elas não faziam questão cerrada de uma apresentação formal. Seu coração pôs-se a bater violentamente ao pensamento de propor um encontro não convencional a essa linda e virginal criatura. O tumulto de seu coração, entretanto, deu-lhe coragem.

Depois de algumas observações amáveis e bem recebidas sobre assuntos gerais, colocou seu cartão perto da mão da moça, sobre o vidro.

— Perdoe-me, por favor, se lhe pareço atrevido — disse —, mas ferventemente espero que me dê o prazer de vê-la outra vez. Aqui está o meu nome; afianço-lhe que é com maior respeito que lhe peço a honra de ser um de seus am... conhecidos. Posso ter esperanças desse privilégio?

Masie conhecia os homens principalmente homens que compram luvas. Sem hesitar, encarou o rapaz francamente e disse, com olhos sorridentes:

— Claro. Acho que tem razão. Não saio habitualmente com estranhos. Não fica bem a uma moça. Quando desejaria ver-me de novo?

— Logo que me der licença — declarou Carter. — Se me permite ir buscá-la era sua casa, eu...

Masie deu uma risada cristalina.

— Oh, isso não! — exclamou enfaticamente. — Se visse nosso apartamento! Somos cinco a morar em três quartos. Só imagino a cara que mamãe faria se me visse entrar com um cavalheiro!

— Então, em qualquer outro lugar que lhe seja conveniente — disse o enamorado Carter.

— Olhe — sugeriu Masie, com um olhar radioso a iluminar-lhe a face aveludada —, acho que quinta-feira à noite está bem. Esteja na esquina da Oitava Avenida com a Rua Quarenta e Oito, às sete e meia, sim? Moro ali pertinho. Tenho porém, de estar de volta às onze. Mamãe nunca me deixa chegar mais tarde.

Carter, agradecido, prometeu comparecer ao encontro, e em seguida apressou-se a ir encontrar-se com a mãe, que o procurava para saber-lhe a opinião sobre uma Diana de bronze.

Uma vendedora de olhos miúdos e nariz obtuso achegou-se a Masie, com um amistoso olhar de soslaio.

— Agarrou o grã-fino, Masie? — perguntou, com familiaridade.

— O cavalheiro pediu licença para me visitar — respondeu Masie, dando-se ares, enquanto guardava o cartão de Carter no seio.

— Licença para visitá-la! — repetiu a dos olhos miúdos com um muxoxo. — Falou em jantar no Waldorf e dar um giro de carro depois?

— Ora, cale-se! — replicou Masie, aborrecida. — Você não está acostumada a coisas finas. Ficou despeitada desde que aquele cocheiro de carro pipa a levou a um restaurante chinês. Não, ele não mencionou o Waldorf; mas no seu cartão de visitas há um endereço da Quinta Avenida, e se ele me oferecer um jantar, pode estar certa de que não será onde os garçons usem rabicho!

Ao sair da Grande Loja com a mãe, na sua eletrizante baratinha, Carter mordeu o lábio, com uma dor imprecisa no coração. Sabia que o amor o visitara pela primeira vez nos vinte e nove anos de sua existência. E o fato de o objeto do seu amor ter aquiescido tão prontamente a um encontro de esquina, embora tal encontro representasse passo importante para a realização de seus desejos, o enchia de torturantes apreensões.

Carter não conhecia moças de loja. Não sabia que seu lar é, amiúde, um quarto minúsculo, mal habitável, ou uma casa abarrotada de parentes. Seu locutório é a esquina, o parque sua sala de visitas, a avenida seu jardim; todavia, na maioria dos casos, são tão impolutas e donas de si mesmas nesses locais quanto uma dama em seu aposento cheio de tapeçarias.

Certa tarde, ao crepúsculo, duas semanas após o primeiro encontro, Carter e Masie passeavam de braços dados num pequeno parque mal iluminado. Encontraram um banco retirado, sob uma árvore, e nele se sentaram.

Pela primeira vez, Carter passou gentilmente um dos braços ao redor da moça, que pousou a cabeça brônzeo-dourada no seu ombro.

— Chii! — suspirou ela, grata. — Por que nunca se lembrou disso antes?

— Masie — começou Carter, seriamente —, decerto já sabe que a amo. Peço-lhe, sinceramente, que se case comigo. Já me conhece o bastante para não ter dúvidas sobre mim. Amo-a e quero que me pertença. A diferença de nossas condições não me importa.

— Que diferença? — perguntou Masie, curiosa.

— Bem, não há nenhuma — respondeu Carter apressadamente —, exceto na mente de gente tola. Posso proporcionar-lhe uma vida de luxo. Minha posição social é inatacável e disponho de grandes recursos.

— Todos dizem isso — observou Masie. — É o engodo que oferecem. Suponho que, na realidade, você trabalhe numa mercearia ou nas corridas. Não sou inexperiente quanto pareço.

— Posso dar-lhe todas as provas que quiser — retrucou Carter, gentilmente. — Eu a quero, Masie. Amei-a desde o primeiro dia em que a vi.

— Isso acontece com todos — disse Masie, com um riso divertido —, pelo que dizem. Se eu encontrasse um homem que se embeiçasse por mim só na terceira vez, acho que ficaria caída por ele.

— Por favor, não diga essa coisas — suplicou Carter. — Ouça-me, querida. Desde que lhe fitei olhos pela primeira vez, você se tornou a única mulher do mundo para mim.

— Que brincalhão! — sorriu Masie. — A quantas já disse a mesma coisa?

Carter, porém insistiu. Finalmente, chegou até a pequenina alma, frágil e vibrátil, que existia alhures no âmago daquele seio adorável. Suas palavras penetraram um coração cuja mesma leviandade era sua maior armadura. Masie olhou Cárter com olhos que viam. E um colorido quente subiu-lhe às faces frias.

A tremer, convulsamente, suas asas de mariposa se fecharam e ela pareceu prestes a pousar na flor do amor. Iluminou-lhe a mente um débil clarão da vida, e de suas possibilidades, no lado de lá do balcão da luvaria. Carter sentiu a mudança e aproveitou a ocasião.

— Case-se comigo, Masie — murmurou suavemente. — Deixaremos esta feia cidade em busca de outras, lindas. Esqueceremos o trabalho e os negócios, e a vida será um longo feriado. Sei para onde vou levá-la. Lá já estive muitas vezes. Imagine uma praia onde o verão é eterno, onde as ondas estão sempre a murmurar na areia branca e onde a gente é livre e feliz como crianças. Viajaremos para essas praias e lá ficaremos enquanto você quiser. Numa dessas cidades longínquas há grandes e lindos palácios, e torres cheias de belos quadros e estátuas. As ruas da cidade são de água e nelas viajaremos em...

— Já sei — interrompeu Masie, aprumando-se subitamente. — Gôndolas.

— Isso mesmo — sorriu Carter.

— Logo pensei que fosse isso — declarou Masie.

— Então — prosseguiu Carter — continuaremos a viajar pelo mundo e visitaremos o que quisermos. Depois das cidades da Europa, veremos a Índia e suas velhas cidades, e andaremos em elefantes e conheceremos os templos maravilhosos dos hindus e dos brâmanes, e os jardins do Japão, e as caravanas de camelos, e as corridas de carros na Pérsia, e todas as vistas exóticas de países estrangeiros. Não acha que iria gostar, Masie?

Masie levantou-se.

— É melhor irmos para casa — disse friamente. — Está ficando tarde.

Carter concordou. Aprendera a conhecer-lhe o humor agreste e variável e sabia que era inútil contrariá-la. Sentia-se, porém, algo triunfante e feliz. Por um momento lograra prender, embora com fio de seda, a alma dessa Psiquê bravia, e tinha muita esperança. Por uma vez, fechara ela as asas e pousara a mão fria na sua,

Na Grande Loja, no dia seguinte, a companheira de Masie, Lulu, puxou-a para um canto do balcão.

— Como vai o romance com o seu grã-fino? — perguntou.

— Oh! aquele? — disse Masie, ajeitando os cachos do cabelo. — Tudo acabado. Olhe, Lu, sabe o que o sujeito queria que eu fizesse?

— Que entrasse para o teatro? — arriscou Lulu, sem fôlego.

— Não, não tem tanta classe assim. Queria que eu me casasse com ele e que fossemos passar a lua-de-mel em Coney Island*.
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* Coney Island = grande e famoso parque de diversões de Nova Iorque, onde se encontram réplicas miniaturais dos passeios descritos por Carter.
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O. Henry, pseudônimo de William Sydney Porter, nasceu em 11 de setembro de 1862, em Greensboro, Carolina do Norte/EUA. Ele teve uma infância marcada por várias mudanças, já que seu pai era um médico e sua mãe morreu quando ele era jovem. Em sua juventude, trabalhou em diversas funções, incluindo como balconista e farmacêutico. Em 1896, após ser acusado de desvio de fundos em seu trabalho como caixa em um banco, ele se mudou para a América do Sul, onde começou a escrever. Ao retornar aos Estados Unidos, ele adotou o pseudônimo O. Henry e começou a publicar contos em revistas, ganhando fama por suas narrativas envolventes e reviravoltas surpreendentes. O. Henry teve uma vida pessoal tumultuada, marcada por problemas financeiros e saúde. Ele faleceu em 5 de junho de 1910, em Nova York, mas deixou um legado duradouro na literatura com suas histórias que capturam a essência da vida urbana e a natureza humana. O. Henry é lembrado por seu estilo ágil e por suas histórias que frequentemente apresentam finais inesperados, tornando-o um dos mestres do conto curto na literatura americana.

Fontes: O. Henry. Caminhos do Destino. Contos. Publicado originalmente em 1909. Disponível em Domínio Público.  
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Baú de Trovas “003”


101
Há de vir um tempo novo,
no qual, meu bom Deus, verás
unido afinal teu povo
no grande abraço da paz!
A. A. DE ASSIS
102
Nessa ausência tão sofrida
que o “ciúme” nos impôs,
vejo o grande mal que a vida
fez na vida de nós dois.
ADEMAR MACEDO
103
Tu és meu sol, minha lira,
onde meu ser se completa;
porque é teu amor que inspira
meu coração de poeta.
ALMERINDA LIPORAGE
104
Cantando até mais que o vento
sem desafios fatais...
Inspiração é o momento
que em silêncio canta mais!!!
ANA MARIA GUERRIZE GOUVEIA
105
Só Deus sabe as diretrizes
do mundo que se consome,
onde poucos são felizes
e tantos morrem de fome!
APARÍCIO FERNANDES
106
Não me importo do passado,
muito menos do presente.
A vida é sempre um machado
cortando os sonhos da gente.
CARLOS CUNHA
107
A ruazinha pacata,
a velha praça, o jardim.
E uma saudade que mata,
vivendo dentro de mim...
CARLOS DE SOUZA
108
Não é quando vais embora
que tenho ciúme assim:
- É quando estás, como agora,
pensativo, junto a mim!
CAROLINA AZEVEDO DE CASTRO
109
A união de nossas vidas,
promete dias risonhos,
nossas mãos vão sempre unidas
e unidos vão nossos sonhos!
CAROLINA RAMOS
110
Certo marido, enfezado,
levou a chave ao sair
e com o armário trancado
o "outro" não pode fugir!
CECÍLIA PATTI SILVEIRA
111
Nesse mapa do destino
que são as linhas da mão,
tenho rios de saudade
e mares de solidão...
CÉSAR COELHO
112
Do cais, aceno ao vazio,
enquanto o remorso chora...
Castigo, é alguém no navio,
levando o perdão embora...
DARLY O. BARROS
113
Guardei no cofre do peito
os meus segredos, em vão:
- O esconderijo é perfeito,
mas tens a chave na mão...
DAVID ARAÚJO
114
Perco todos os cansaços
e minha angústia tem fim,
ao doce som dos teus passos
no cascalho do jardim...
DOMITILLA BORGES BELTRAME
115
Sob os encantos da lua,
em profunda inspiração,
eis que o poeta flutua
sem tirar os pés do chão.
DULCÍDIO DE BARROS MOREIRA
116
Por que tanto sofrimento,
tantas guerras e ilusões?
A morte vem num momento
e acaba com as ambições!
DUVERLINA SANTOS
117
Inutilmente me abalo
a interpretar o Destino...
Ninguém transpõe o intervalo
do humano para o divino!
EUGÊNIO DE FREITAS
118
Quando a lâmina aparece,
no penhasco, a declinar,
a natureza, esplandece
ante a cascata, a jorrar.
FABIANO WANDERLEY
119
Se Deus nos deu a bondade
como graça, como dom,
por que é que a humanidade
maltrata mais quem é bom?
FLORIANO GOMES
120
Nas águas correntes, turvas,
numa corrida sem fim...
O rio leva entre curvas,
um pedacinho de mim!
FRANCISCO MACEDO
121
Não há mais sublime encanto
que ver a noite chorar,
pois ela derrama o pranto
desmanchando-se em luar.
GALDINO ANDRADE
122
Se é lei que sofra quem ama,
que amado sofres, em suma;
- como há de brilhar a chama
sem que a vela se consuma?
GENTIL FERNANDO DE CASTRO
123
Na fronteira do passado,
a verdade eu traduzi...
Foi um sonho iluminado
que louvei...hoje o esqueci.
GERALDA MAJELITA B. LADEIRA
124
Duas almas são dois rios,
que, ante o amor, caminham sós...
mas, vencendo os desafios,
se encontram na mesma foz.
HÉLIO ALEXANDRE
125
Quem no início de carreira
quer resposta imediata;
lembre-se que a corredeira
nem sempre chega à cascata.
HÉLIO PEDRO SOUZA
126
A violência eu detesto,
porque é pelo amor que eu luto,
sem amor o mundo é um “resto”
eternamente de luto!
IZO GOLDMAN
127
Se a aridez do dia a dia
se põe a roubar-me a calma,
na vertente da Poesia
revelo as vertentes d’alma!
JOÃO FREIRE FILHO
128
Pouco me importa o que eu faça.
nem quais sejam meus motivos,
pois meu coração é taça
plena de amores lascivos!
JOSÉ FELDMAN
129
Criança, sol de esperanças
para um mundo sublimado
onde não hajam lembranças
dos homens já do passado!
JOSÉ LAMARTINE
130
Abro os olhos com tristeza
para os problemas da vida:
pobres morrendo em defesa
de quem lhes tira a comida!
JOSÉ LUCAS FILHO
131
Unindo tantas propostas
colhi mil desilusões...
Fui procurar mil respostas,
só encontrei indagações...
JOSÉ VALDEZ CASTRO MOURA
132
Para jamais te enganares,
não sejas juiz de ninguém.
— Como aos outros tu julgares,
serás julgado também...
LEONETE OLIVEIRA
133
A trova, quando trovada,
bem profunda e com amor,
sabemos que foi tirada
de um coração trovador.
LÍLIA STEIN GOULART DE SOUZA
134
Morreu na guerra. Que brilho!
Tem mais um herói a História.
E a mãe, chorando seu filho,
amaldiçoa essa glória.
LILINHA FERNANDES
135
Há em minha alma sofrida
ausência de toda sorte,
nos desencontros da vida
e nos encontros da morte.
LUIZ GONZAGA DA SILVA
136
Fraternidade consiste
nesta singela lição:
— dar alegria ao que é triste
e ao que tem fome dar pão!
LUIZ RABELO
137
Ausência! Quanta tristeza!
Quanta mágoa, quanta dor!...
-É o símbolo da incerteza,
em se tratando de amor.
MANOEL DANTAS
138
Vai perdoando, perdoa,
seja quem for teu algoz!
— Que importa a dor, que magoa,
se Deus espera por nós?
MÁRIO COELHO
139
Inspiração, não me deixes
neste mundo imerso em dor!
– Sem ti, sou rio... sem peixes...
Sou coração... sem amor...!
MARISA VIEIRA OLIVAES
140
Dez minutos de ternura,
olhando uma simples flor. ..
— Se é tão linda a criatura,
que pensar do Criador?
PADRE CELSO DE CARVALHO
141
Não temas, se é longa a estrada,
e nem penses no cansaço.
— Ninguém vence a caminhada
sem dar o primeiro passo.
PEREIRA DE ASSUNÇÃO
142
Cadeira velha, esquecida,
sem dono e sem mais ninguém...
Só a saudade atrevida
reclama a ausência de alguém.
PROFESSOR GARCIA
143
Numa montanha de mágoas
há uma vertente escondida
por onde correm as águas
dos prantos da minha vida!
RENATO ALVES
144
Por tantas vezes perdido
Nas vertentes do destino,
segue em busca de um sentido
o meu sonho peregrino...
RENATA PACCOLA
145
Sabe a mulher que, no amor,
esta é uma regra infalível:
— quanto mais ela resiste,
mais se torna irresistível.
SOARES DA CUNHA
146
Quando vejo este luar
luzindo em serenidade,
da noite, faço um altar
de poesia e saudade.
SOLANGE COLOMBARA
147
No mundo, sem esperanças,
na violência da vida,
em meio ao lixo, as crianças
comem restos de comida!
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
148
Não te surpreenda a alegria
das almas que são ditosas!
— A roseira, todo dia,
dá sua festa de rosas!
VASCO DE CASTRO LIMA
149
A inspiração, inconstante,
tem caprichos de mulher:
chega, às vezes, inebriante
e outras, nem chega sequer!
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
150
Com o dinheiro do armamento
que na guerra se consome,
findaria o sofrimento
da criança que tem fome!
WILSON MONTEMOR 

Dicas de Escrita (Como fazer a análise de um conto)

É importante considerar diversos aspectos que ajudam a entender e interpretar a história em profundidade. Vamos apresentar os tópicos que devem estar presentes para uma análise mais abrangente com exemplos em cada um deles:

1. Resumo da História
Faça um resumo conciso da trama, destacando os eventos principais e a sequência cronológica.

Exemplo: Em "A Cartomante" de Machado de Assis, a história segue Vilela, Camilo e Rita, e gira em torno de um triângulo amoroso e uma visita intrigante à cartomante que dá título ao conto.

2. Personagens
Analise os personagens principais e secundários, suas características, motivações, relacionamentos e desenvolvimento ao longo da história.

Exemplo: Em "O Gato Preto" de Edgar Allan Poe, o narrador é um personagem complexo que sofre uma transformação profunda de um amante de animais para um homem tomado pela loucura.

3. Ambiente (Cenário)
Descreva onde e quando a história se passa. Considere como o ambiente influencia a narrativa e os personagens.

Exemplo: Em "O Coração Delator" de Edgar Allan Poe, o ambiente sombrio e claustrofóbico da casa contribui para a atmosfera de tensão e suspense.

4. Tema
Identifique os temas centrais e subtemas do conto. Pense nas mensagens ou questões que a história levanta.

Exemplo: Em "O Alienista" de Machado de Assis, o tema central é a linha tênue entre sanidade e loucura, e a crítica à autoridade e à ciência.

5. Enredo
Analise a estrutura do enredo, incluindo a exposição, conflito, clímax e resolução. Veja como os eventos se desenrolam e como eles são conectados.

Exemplo: Em "A Dama do Cachorrinho" de Anton Tchekhov, o enredo acompanha o romance extraconjugal de Dmitri e Anna, culminando em um encontro emocionalmente carregado que redefine suas vidas.

6. Ponto de Vista (Narrador)
Determine o ponto de vista da narrativa (primeira pessoa, terceira pessoa, onisciente, etc.). Analise como a escolha do narrador afeta a percepção da história.

Exemplo: Em "A Queda da Casa de Usher" de Edgar Allan Poe, o narrador em primeira pessoa testemunha os eventos sobrenaturais, proporcionando uma perspectiva pessoal e subjetiva.

7. Estilo e Linguagem
Observe o estilo de escrita do autor, incluindo o uso de linguagem, figuras de linguagem, diálogos e descrições. Considere como esses elementos contribuem para a atmosfera e o impacto da história.

Exemplo: Em "A Metamorfose" de Franz Kafka, o estilo direto e quase clínico contrasta com a surrealidade da transformação de Gregor Samsa em um inseto.

8. Simbolismo e Metáforas
Identifique símbolos e metáforas utilizados no conto. Analise seu significado e como eles enriquecem a narrativa.

Exemplo: Em "O Morro dos Ventos Uivantes" de Emily Brontë, a casa Wuthering Heights simboliza a natureza selvagem e intempestiva dos personagens e seus conflitos.

9. Conflito
Identifique o conflito central e os conflitos secundários. Considere como eles impulsionam a ação e o desenvolvimento dos personagens.

Exemplo: Em "A Rosa Púrpura do Cairo", de Woody Allen, o conflito entre a fantasia do cinema e a realidade da vida de Cecilia é central para a narrativa.

10. Resolução e Conclusão
Analise como o conto chega à sua conclusão. Veja se a resolução dos conflitos é satisfatória e como ela afeta os personagens e a mensagem do conto.

Exemplo: Em "O Conto da Aia", de Margaret Atwood, a conclusão ambígua deixa o leitor refletindo sobre o futuro da protagonista e a natureza do regime totalitário em que ela vive.

EXEMPLO DE ANÁLISE

Vamos aplicar essas etapas a um conto famoso, "A Cartomante", de Machado de Assis:

1. Resumo da História:
A história segue Vilela, Camilo e Rita, que formam um triângulo amoroso. Camilo e Rita têm um caso, mas Rita fica preocupada com o futuro do relacionamento e consulta uma cartomante. A cartomante prevê um futuro positivo, mas o conto termina tragicamente com a morte de Camilo, assassinado por Vilela.

2. Personagens:
- Camilo: Jovem indeciso e ansioso em relação ao relacionamento com Rita.
- Rita: Mulher apaixonada e supersticiosa.
- Vilela: Marido traído que toma medidas drásticas.

3. Ambiente:
A história se passa no Rio de Janeiro do século XIX, com cenários urbanos que refletem a sociedade da época.

4. Tema:
Superstição versus realidade, amor e traição, destino e livre-arbítrio.

5. Enredo:
A narrativa segue a descoberta do caso amoroso, a consulta à cartomante, e a resolução trágica com o assassinato de Camilo.

6. Ponto de Vista:
Narrador em terceira pessoa onisciente, que proporciona uma visão completa dos pensamentos e ações dos personagens.

7. Estilo e Linguagem:
Machado de Assis utiliza uma linguagem formal e rica em detalhes, com descrições vívidas e diálogos realistas.

8. Simbolismo e Metáforas:
A cartomante simboliza a influência da superstição na vida dos personagens. O destino trágico de Camilo reflete a inevitabilidade das consequências de suas ações.

9. Conflito:
O conflito central é o triângulo amoroso e a tensão entre a superstição e a realidade.

10. Resolução e Conclusão:
O conto termina com a morte de Camilo, deixando uma reflexão sobre a influência da superstição e o poder das ações humanas.

Ao seguir essas etapas, você pode fazer uma análise detalhada e completa de qualquer conto, destacando seus principais elementos e temas.

Fonte: José Feldman. Dissecando a magia dos textos: Contos e Crônicas. Maringá/PR: Copilot – Plat. Poe.  Biblioteca Voo da Gralha Azul..
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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

José Feldman (Guirlanda de Versos) * 17 *



 JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Formado em patologia clínica, não concluiu o curso superior de psicologia. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais; trovador da UBT São Paulo e membro da Casa do Poeta “Lampião de Gás”. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, e outros. Casado com a escritora, poetisa e tradutora professora Alba Krishna mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, radicou-se definitivamente em Maringá/PR em 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras e de trovas, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Academia de Letras Brasil-Suiça, Academia de Letras de Teófilo Otoni, Confraria Brasileira de Letras, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia Virtual Brasileira de Trovadores, União Brasileira dos Trovadores, etc, possui o blog Singrando Horizontes desde 2007. Atualmente assina seus escritos por Campo Mourão/PR, onde pertence a entidades da região. Publicou mais de 500 e-books. Dezenas de premiações em trovas e poesias. 

Sílvio Romero (O jabuti e o veado)

O jabuti saiu a procurar seus parentes e encontrou-se com o veado. 

O veado perguntou-lhe: “Para onde vai você?”

O jabuti respondeu: “Vou chamar meus parentes para virem me ajudar na caçada grande da anta.” 

O veado falou assim: “Então você matou a anta? Vá chamar todos, que eu fico aqui; quero vê-los.” 

O jabuti disse então: “Eu já me vou; aqui mesmo quero esperar que a anta apodreça, tirar-lhe o couro para fazer uma gaita.” 

O veado falou desse modo: “Você matou a anta, agora quero eu apostar uma carreira com você.” 

O jabuti respondeu: “Espere por mim aqui; vou ver por onde hei de correr.”

O veado disse: “Quando você correr pelo outro lado, deve responder quando eu gritar.” 

O jabuti disse: “Já vou indo.”

O veado falou-lhe: “Agora nada de demoras... Eu quero ver a tua valentia.”

O jabuti falou assim: “Espera um pouquinho; deixa-me chegar à outra banda.”

Logo que chegou ali, chamou todos os seus parentes. Postou-os a todos pela margem do pequeno rio para responderem ao veado tolo. Depois falou assim:

— Ó veado, você já está pronto?

O veado respondeu: — Eu já estou pronto.

O jabuti perguntou: — Quem é que vai na dianteira?

O veado riu-se e disse: — Tu vais mais adiante, jabuti.

O jabuti não correu; enganou o veado e foi colocar-se mais adiante.

O veado estava seguro confiando nas suas pernas.

O parente do jabuti gritou pelo veado. O veado respondeu para quem lhe ficava atrás. Assim o veado falou: — Eis-me que vou aqui, tartaruga do mato!

O veado correu, correu, correu, depois gritou: — Jabuti!

Outro parente do jabuti respondeu sempre adiante. O veado disse: “Eu ainda vou beber água.”

Então o veado ficou calado.

O jabuti gritou, gritou, gritou... Ninguém lhe respondeu.

Disse então: — Aquele macho porventura morreu. Deixa-me ir vê-lo.

O jabuti disse aos seus companheiros:

— Eu vou sorrateiro para espreitá-lo.

O jabuti, quando saiu na margem do rio, disse assim: — Nem sequer cheguei a suar.

Então chamou pelo veado: — Veado!

O veado não deu resposta.

Quando os companheiros do jabuti olharam para o veado disseram: — Verdadeiramente, já está morto.

O jabuti disse: — Vamos tirar o osso.

Os outros perguntaram-lhe: — Para que é que tu o queres?

O jabuti respondeu: — Para eu assoprar por ele e tocar em qualquer tempo.
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SÍLVIO VASCONCELOS DA SILVEIRA RAMOS ROMERO (1851-1914) foi crítico e historiador da literatura brasileira. Fundador da Academia Brasileira de Letras.Pensador social, folclorista, poeta, jornalista, professor e político. Era sócio correspondente da Academia de Ciências de Lisboa. Nasceu na vila de Lagarto, Sergipe, em 1851. Em 1868 mudou-se para o Recife e ingressou na Faculdade de Direito. Polêmico, combativo e contraditório, foi influenciado por seu conterrâneo Tobias Barreto. Juntos, lideravam uma escola que reunia jovens inteligentes e destemidos, que se encarregavam de irradiar as recentes ideias vindas da França. Quando estava no 2º. Ano da faculdade, Sílvio Romero colaborou com vários jornais, entre eles, o Diário de Pernambuco, a República, o Liberal, o Correio de Pernambuco e o Americano. Em 1873 concluiu o curso de Direito. Em 1876 mudou-se para o Rio de Janeiro onde obteve a cátedra de filosofia. Ao defender sua tese, travou uma discussão com um de seus examinadores, o professor Coelho Rodrigues. A agressão resultou em um processo, que não teve consequências. Romero foi também professor da Faculdade Livre de Direito e da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro. Como poeta, Sílvio Romero teve uma breve carreira. O primeiro livro de poemas de Sílvio Romero foi Cantos do Fim do Século, lançado em 1878, em uma tentativa de aderir à poesia filosófica científica que pregava desde 1870 em artigos, mas que não obteve êxito. Em 1883 publicou Últimos Arpejos, seu segundo e último volume de poesia. Desenvolveu intensa atividade como escritor. Escreveu vários livros que abordavam praticamente tudo que se referia à realidade cultural brasileira como: filosofia, literatura, folclore, educação, política e religião. Publicou assuntos ligados à cultura popular revelando-se um grande folclorista. Escreveu sobre filosofia no Brasil e sobre escolas filosóficas diversas. Em 1878 escreveu Filosofia no Brasil, publicado em Porto Alegre. Sua obra História da Literatura Brasileira (1888), em dois volumes, menos uma história literária do que uma enciclopédia de conhecimentos sobre o Brasil, a origem e evolução de sua cultura, suas raízes sociais e étnicas, foi considerada sua obra mais revolucionária. Sílvio deixou uma vasta obra culturalmente valiosa e pioneira em muitos aspectos. Respeitado pela imprensa nacional, conquistou seu lugar como um dos mais importantes críticos e historiadores da literatura brasileira do século XIX. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 18 de junho de 1914.

Fontes:
Sílvio Romero. Contos populares do Brasil. Publicado originalmente em 1883. Disponível em Domínio Público. 
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