sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Estante de Livros ("O Gato que Veio para o Natal", de Cleveland Amory)

"O Gato que Veio para o Natal" é um livro escrito por Cleveland Amory, publicado originalmente em 1987. É uma obra encantadora que mistura humor, emoção e amor pelos animais, especialmente pelos gatos. 

RESUMO

O livro começa durante a época de Natal, quando Cleveland Amory, um conhecido autor e defensor dos direitos dos animais, resgata um gato branco das ruas de Nova York. Amory é inicialmente relutante em adotar o gato, mas rapidamente se apega ao felino, que ele chama de "Polar Bear" (Urso Polar) devido à sua aparência.

A narrativa segue a evolução do relacionamento entre Amory e Polar Bear, explorando as aventuras e desventuras da dupla. O gato, que inicialmente parece ser indiferente e independente, lentamente começa a mostrar seu carinho e lealdade a Amory. 

Ao longo do livro, Amory compartilha histórias cômicas e tocantes sobre a vida com Polar Bear, incluindo as peculiaridades do gato e as várias maneiras pelas quais ele enriquece a vida de seu dono.

O livro também aborda temas mais amplos, como a importância da adoção de animais, o amor incondicional que os animais de estimação podem oferecer e a conexão profunda que pode se formar entre humanos e seus companheiros animais. Amory usa sua experiência pessoal para promover a conscientização sobre o tratamento ético dos animais e a necessidade de respeito e cuidado pelos nossos amigos peludos.

1. TEMAS PRINCIPAIS

Amizade e Companheirismo: 
O livro destaca a profunda amizade que pode se desenvolver entre um ser humano e um animal de estimação. Amory e Polar Bear formam um vínculo que transcende as barreiras de espécie, mostrando como os animais podem ser companheiros leais e amorosos.

Adoção e Resgate de Animais: 
Amory aborda a importância de adotar animais abandonados e resgatá-los das ruas. Ele mostra como um ato de bondade pode transformar a vida de um animal e, ao mesmo tempo, trazer alegria e significado para a vida de quem adota.

Humor e Emoção: 
O autor mistura humor e emoção em sua narrativa, criando uma leitura envolvente e cativante. As histórias cômicas sobre as travessuras do gato são equilibradas por momentos tocantes que mostram o impacto positivo do gato na vida de Amory.

Defesa dos Direitos dos Animais: 
Como defensor dos direitos dos animais, Amory usa o livro para promover a conscientização sobre o tratamento ético dos animais. Ele defende a necessidade de respeito, cuidado e compaixão pelos animais, destacando a importância de protegê-los e tratá-los com dignidade.

2. ESTILO DE ESCRITA

Cleveland Amory escreve com um estilo leve e acessível, tornando o livro uma leitura agradável e envolvente. Ele usa uma linguagem simples, mas eficaz, para transmitir suas histórias e experiências. O humor é uma marca registrada de sua escrita, e ele consegue encontrar o equilíbrio perfeito entre momentos engraçados e emocionantes.

3. PERSONAGENS

Cleveland Amory: Como personagem principal e narrador, Amory é um autor e defensor dos direitos dos animais que compartilha suas experiências de vida com o gato Polar Bear. Sua personalidade é carismática e apaixonada, e ele se mostra um verdadeiro amante dos animais.

Polar Bear: O gato branco resgatado por Amory é o co-protagonista do livro. Sua personalidade é cativante e cheia de peculiaridades, e ele se torna uma figura central na vida de Amory. A relação entre os dois é o coração da narrativa.

4. IMPACTO E RELEVÂNCIA

"O Gato que Veio para o Natal" teve um impacto significativo tanto em amantes de gatos quanto em defensores dos direitos dos animais. O livro sensibilizou muitos leitores sobre a importância da adoção de animais e o tratamento ético dos mesmos. Além disso, a obra de Amory inspirou muitos a considerar a adoção de animais abandonados e a se engajar na defesa dos direitos dos animais.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

"O Gato que Veio para o Natal" é uma obra tocante e inspiradora que combina humor, emoção e uma mensagem importante sobre o cuidado com os animais. Cleveland Amory oferece uma visão sincera e apaixonada sobre a vida com um gato resgatado, destacando a importância do amor e da compaixão pelos nossos amigos animais. O livro continua a ressoar com leitores de todas as idades, tornando-se um clássico entre os amantes de gatos e defensores dos direitos dos animais.

Fontes:
José Feldman. Estante de livros. Maringá/PR: I. A. Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Montagem da Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing com capa do livro

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Jerson Brito (Asas da poesia) 10

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JERSON LIMA DE BRITO, nasceu em Porto Velho/RO, em 1973, onde reside. Graduado em Administração e Direito pela Fundação Universidade Federal de Rondônia. Sonetista, trovador e cordelista, é membro fundador da Academia Brasileira de Sonetistas (Abrasso), integrante do Fórum do Soneto e Delegado da União Brasileira de Trovadores (UBT) em Porto Velho. Exerce o cargo de Técnico Federal de Controle Externo na SECEX-RO, tendo participado de algumas Mostras de Talentos do TCU. Neto de nordestinos, na infância teve os primeiros contatos com os versos, lendo os folhetos de cordel que seu pai comprava. Já na fase adulta, depois dos 30 anos, deu os primeiros passos na literatura escrevendo sobretudo cordéis. Posteriormente, aderiu aos sonetos e outras modalidades poéticas. Premiado em diversos concursos de trovas, sonetos e cordéis.

Arthur Thomaz (Quatro estações)

De repente, não mais que de repente, as estações climáticas começaram a se igualar, tanto 
no formato, quanto nas temperaturas, tornando difícil identificá-las separadamente.

Pânico geral com a mídia em polvorosa. Os políticos oportunistas discursavam demagogicamente, apresentando esdrúxulos projetos de lei para sanar o problema. Como chegamos a esse ponto e por que ninguém notou isso?, bradavam os “ambientalistas”, mais preocupados em preservar suas rentáveis ONGs, do que o próprio meio ambiente.

Perguntas no ar, e então, as quatro estações resolveram encontrar-se para debater “pessoalmente” esse terrível problema. Criou-se um impasse quase insolúvel. 

Inverno e Verão jamais haviam se encontrado, o mesmo acontecendo com a Primavera e o Outono. Inverno alegou que, se desse as mãos ao Verão, derreteria. Primavera, por sua vez, argumentou que Outono, ao tocá-la, poderia desfolhá-la totalmente.

Depois de inúmeras “acaloradas” discussões, optaram por um encontro remoto, cada qual permanecendo em sua condição habitual, mesmo que atualmente precárias, mas sem correr risco de agravamento.

No início da videoconferência, Primavera sussurrou aos seus assessores que não queria ficar com esse ar carrancudo do tal Outono, sem reparar que os microfones estavam ligados.

Verão, também, sem perceber que o microfone estava ligado, declarou aos assistentes que jamais ficaria gélido igual a esse triste ser, o tal Inverno.

Impropérios, discussões, ofensas recíprocas, quase inviabilizaram a conferência. Tornou-se imperioso encontrar um mediador para a situação fora de controle. O Sol foi imediatamente lembrado pela organização do evento, porque além de poderoso, participava ativamente das quatro estações.

Chateado por ter que sair de sua zona de conforto, mas entendendo que a vida humana corria perigo de extinção no planeta, cedeu aos insistentes apelos. Afinal, ele passava a maior parte do tempo assistindo às patacoadas dos humanos, divertindo-se a valer.

Na central de comando da videoconferência, ele, sentado confortavelmente em uma poltrona que mais parecia um trono, irritou-se porque os 732 aparelhos de ar-condicionado instalados na sala não conseguiam baixar a temperatura ambiente e vociferou ordens expressas para que todas as estações silenciassem e que todos os assessores se retirassem, pois exerciam apenas o papel de meros ciumentos alcoviteiros.

Concedeu a palavra à Primavera, para que sucintamente se autodescrevesse, relatasse os atuais problemas pelos quais estava passando e apresentasse suas ideias para saná-los.

Ela iniciou afirmando que aqui estava, feliz, acordando de um Inverno frio e sem cor.

— Orgulho-me das cores, pois através delas enfeito os lares, as estradas, as montanhas e os parques. Chego nas mãos das crianças, dos jovens, dos idosos e dos enamorados. Vocês certamente já ouviram dizer que “até nas flores se nota a diferença da sorte, umas enfeitam a vida, outras enfeitam a morte?”

Nesse ponto, o Sol solicitou que fosse mais concisa.

Ela continuou dizendo que agora daria lugar ao amigo Verão, onde também existe alegria e poderia ainda continuar mostrando suas cores e sensibilidade.

Afirmou gostar do Verão porque, juntos, sabiam trazer graça e beleza para todos. Prosseguiu falando que por tudo isso sentia-se bem de estar perto dele, mas no Outono suas folhas e flores caem e no Inverno adormecia.

Apupos dos seguidores de Outono e Inverno, pediram nova enérgica intervenção do mediador, afirmando que não cabia à palestrante a decisão de chamar o próximo conferencista. Solicitou que ela se retirasse e chamou o Verão para demonstrar autoridade.

Risos na plateia.

Verão iniciou agradecendo ao Sol, por ser o responsável pela temperatura alta em seus três meses de duração. Alardeou aos quatro cantos que era a estação preferida por todos. Nesse momento ouviram-se discretas vaias, protestando pela falta de modéstia.

Sol retomou as rédeas da situação com uma rígida admoestação e eles prosseguiram a sessão.

Verão afirmou que tudo era culpa de humanos sem consciência e de políticos inescrupulosos, mas sem dar nomes.

Nessa hora, mandatários das grandes potências remexeram-se em seus assentos. Verão encerrou mostrando apenas vagas e utópicas sugestões de soluções. Não se ouviu nem tímidos aplausos pela pífia apresentação.

Na sequência, Outono tomou a palavra, tentando desmistificar a pecha de estação aniquiladora de belezas naturais, afirmando que a situação da queda de flores e folhas era decorrente da ação de seu antecessor, o Verão, que secava o solo, obrigando as plantas a se desfazerem do que lhes consumia a pouca oferta de água. 

Ouviram-se alguns ruidosos protestos por parte dos assessores do Verão, que logo foram suprimidos pelo mediador.

Outono finalizou também com vagas soluções, solicitando mais oferta hídrica em seus três meses de duração. 

Não se ouviu nem um aplauso sequer.

Chegada a vez do Inverno se manifestar, iniciou em grande estilo, emitindo o som de um gélido vento, o que fez os participantes imaginarem uma sensação de baixas temperaturas com alguns chegando a sentir arrepios.

A seguir, vitimizou-se, afirmando ser discriminado pelas pessoas por não poderem exercer atividades normais por causa do enrijecimento dos músculos, imputando esse fato ao despreparo dos humanos em lidar com isso. Afirmou que agasalhos e uma boa calefação resolveriam isso. Sugeriu que novos projetos ambientais fossem criados e culpou o desvio de verbas pela corrupção dos governantes como causa maior dessa desregulação na temperatura planetária.

Aplausos intensos culminaram em sua apresentação, mas a sensação de inutilidade de suas propostas permaneceu.

Quase ao final da conferência, um hacker, que se autointitula defensor dos Direitos Humanos, invadiu o sistema, colocou imagens de desastres ambientais e, ao fim, postou uma mensagem, na qual afirmava estar defendendo as quatro estações, que segundo ele estariam sendo aviltadas e assediadas moralmente durante essa conferência, determinando que voltassem imediatamente às condições naturais antigas e que cada uma colaborasse e agisse por si própria para restaurar a normalidade ambiental.

Desligou todos os sistemas da rede, apagou toda a eletricidade e o fornecimento de água do local, encerrando inapelavelmente a sessão.

O Sol, contente por não ter que exarar nenhuma sentença decisória, voltou à zona de conforto e continuou a observar as idiotices humanas.

Não é necessário contar que a situação climática no planeta prosseguiu deteriorando-se progressivamente, com os humanos nada realizando para impedi-la. Em breve, o Sol não terá mais com que se divertir, aguardando solitário a hora de sua explosão derradeira.
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ARTHUR THOMAZ é natural de Campinas/SP. Segundo Tenente da Reserva do Exército Brasileiro e médico anestesista, aposentado. Trovador e escritor, úblicou os livros: "Rimando Ilusões", "Leves Contos ao Léu - Volume I, "Leves Contos ao Léu Mirabolantes - Volume II", "Leves Contos ao Léu - Imponderáveis", "Leves Aventuras ao Léu: O Mistério da Princesa dos Rios", "Leves Contos ao Léu - Insondáveis", "Rimando Sonhos" e "Leves Romances ao Léu: Pedro Centauro".

Fontes:
Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: imponderáveis. Volume 3. Santos/SP: Bueno Editora, 2022. Enviado pelo autor 
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

Vereda da Poesia = 215


Trova de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

Faminto, desempregado,
matuta o pobre,  o que anseia:
 – Vou xingar o delegado
pra enfim comer… na cadeia!
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Soneto de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009

PARA QUE SERVE A POESIA?

De servir-se utensílio dia a dia
utilidade prática aplicada,
o nada sobre o nada anula o nada
por desvendar mistério na magia.

O sonho em fantasia iluminada
aqui se oferta em módica quantia
por camelôs de palavras aladas
marreteiros de mansa mercancia.

De pagamento, apenas um sorriso
de nuvens, uma fatia de grama
de orvalho e o fugaz fulgor de astro arisco.

Serena sentença em sina servida,
seu valor se aquilata e se esparrama
na livre chama acesa de quem ama.
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Trova de
MARIA JOSÉ MOREIRA DIAS
Angra dos Reis/ RJ

Todos nós temos problemas,
precisamos superar
combatendo os dilemas,
temos que os enfrentar.
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Poema de
CÉLIA EVARISTO
Lisboa/ Portugal

“MEU”

Não estás,
mas tenho-te em mim.

Não te vejo,
mas fecho os olhos e estás aqui.

Não te toco,
mas ainda sinto o toque da tua pele.

No meu inconsciente
e na minha consciência também,
nunca te deixei ir.

Chamo-te de ”meu”,
em surdina,
nos meus sonhos mais íntimos
em que mais ninguém
me consegue ouvir.

És meu,
naquele instante,
sem pressas ou outras desculpas
que me impeçam de te ter
perto ou distante.

E mesmo que não queiras aqui estar,
não te deixo ir,
este é o teu lar.

Porque no meu coração és meu,
mesmo que não seja dona de nada,
nem de ninguém.
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Trova de
JESSÉ NASCIMENTO
Angra dos Reis/RJ

As lições do dia a dia
que o vida nos oferece,
em nossa intensa porfia
a gente quase as esquece.
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

NOS TRISTES OLHOS MAL SUSTENHO O PRANTO
(João Xavier de Matos, in "Cem Sonetos Portugueses", p. 50)

Nos tristes olhos mal sustenho o pranto
Por ver como é tão pobre e diminuta
A alma que no peito trago enxuta
De trovas que lhe tragam novo canto.

Não tem razão de ser um tal espanto
Que ser pequeno é fado que me enluta
E, aos poucos, vai matando, qual cicuta
Que tomo pela mão do desencanto.

Ser pouco talvez tenha uma virtude
Se a alma o reconhece e não se ilude
Com sonhos de grandeza bem fadada.

No concerto do mundo todos cabem:
Mais vale o que de nós outros não sabem
Do que nós deles não sabermos nada.
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Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Ora eloquente, ora mudo,
teu olhar é uma charada:
promessa sutil de tudo,
no fútil revés de um nada.
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal

Meus olhos atordoados de espanto
são como janelas embriagadas de luz

Buscando um poema que fale do silêncio
enquanto percorro os caminhos da jornada

Há uma mensagem de paz implícita
no gorjeio das aves em estuário,
como se nidificassem a paz na raiz da palavra

Acalma-me o todo onde a beleza se espelha
a visão a ocidente pintada de alvos fiapos
forrando o teto deste azul que me aconchega.
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Trova de 
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

É "Carcará" o apelido
do Zé, porque... come... e cisca...
Mas a mulher diz: - "Duvido!
Aqui em casa nem... belisca..."
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Soneto de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

CONTRASTE

Tu és feliz, a vida é um paraíso,
onde há paz, ventura em profusão,
e a graça singular do teu sorriso,
– símbolo da Beleza e Perfeição!

Mas eu sou infeliz, pois já diviso
na luz do teu olhar, ingratidão,
e sem querer eu sinto que preciso
esquecer-te e viver na solidão.

Julgara que tu fosses, ó querida,
meu segredo, meu sonho, minha vida,
minha eviterna e santa inspiração…

Mas tu és assassina do meu sonho,
vives feliz e eu vivo tão tristonho,
sentindo que esta vida é uma ilusão!
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Trova de
MARIA HELENA URURAHY C. FONSECA
Angra dos Reis/RJ

Meu livro guarda esperanças,
amor, encanto, amizades,
paixões, segredos, lembranças,
guardião das minhas saudades...
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Poetrix de
JANAÍNA NEVES DIAS CESCATO
São Paulo/SP

CIÚME

Se nem sou mais seu lume
pra que prender num vidro
meu voo vagalume?
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Poema de
CRIS ANVAGO
Setúbal/ Portugal

Eu pensava que viver era correr
Correr para um objetivo
Mesmo não sabendo bem qual.
Depois vi que quando corremos,
Não vemos nada à nossa volta,
Nem ao nosso lado
Fica tudo veloz, desfocado…
Agora penso que viver é caminhar
E bem devagar…
Olhar os pequenos pormenores da caminhada
Sentir o cheiro das plantas
Ouvir os pássaros
Saborear os momentos…
Ver como correm ainda algumas pessoas…
Como eu já corri sem saber bem para onde…
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Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Infância - um reino encantado
onde reside a esperança. ...
E o tempo acaba o reinado,
e a vida muda a criança...
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Hino de 
UMUARAMA/ PR

I
Quando em festa o futuro chegou
Com seu canto de luz sobre a mata
Toda agreste em beleza acordou
Qual semente que em flor se desata.

Um fremir de esperança ideal
Perpassou entre as nuvens e a rama
E se ergueu para a história, afinal,
Poderosa, a sorrir, Umuarama.

Estribilho
Umuarama, para frente, com trabalho e alegria.
Há nas mãos de tua gente fé, vontade e energias.
Essa força admirável que arrancou-te do sertão
Te impulsiona, insuperável, para a glória da Nação.

II
Umuarama, teu nome altaneiro,
É amizade num clima gentil
E transforma teu solo em celeiro,
Distribuindo fartura ao Brasil.

O esplendor de que o sol te reveste,
Um clarim sobre o mundo serás.
És bandeira triunfal que no Oeste
Abre a porta do teu Paraná.
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

CARÍCIA

Carícia recebida com amor,
é redenção do espiritual ser,
buscando esta essência superior,
para nessa plenitude viver.

Os anseios sonhados não vividos,
recuperando a esperança, o ardil,
de muitos anos de um amor contido,
no verdor desse peito juvenil.

Pelos cuidados de uma mãe zelosa
que carícias quase não recebia
e pra os filhos seus traumas transmitia.

Aquela experiência dolorosa,
daquele amor que não lhe garantia,
toda carícia que ela merecia.
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Trova de
ELIANA COSTA DA ROSA TOSI
Angra dos Reis/ RJ

O tempo parece o vento,
passa, vai deixando história.
A memória é acalento,
para muitos a vitória.
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Lengalenga de Portugal
LAGARTO PINTADO

 Lagarto pintado, 
quem te pintou?
Foi uma menina 
que por aqui passou
 
Lagarto verde, 
que te esverdeou?
Foi uma galinha 
que aqui passou
 
Lagarto azul, 
que te azulou?
Foi a onda do mar 
que me molhou
 
Lagarto amarelo, 
que te amarelou?
Foi o sol poente 
que em mim pisou
 
Lagarto encarnado, 
que te encarniçou?
Foi uma papoila 
que para mim olhou
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Trova Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Chove, chuva miudinha,
na copa do meu chapéu;
Padre-Nosso de mulher
não leva homem ao céu.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

ASAS DE MADEIRA

Esculpido em mogno
O dragão, aos poucos desperta
E, suavemente, move suas asas
À  espera do vento…
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Trova de
LÉLIA MIGUEL MOREIRA DE LIMA
Angra dos Reis/ RJ

Colorida é nossa vida
cheia de muita esperança,
história muito vivida,
plena de amor e bonança.
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Célio Simões (O nosso português de cada dia) “Casa da Mãe Joana”

A conhecida expressão "Casa da Mãe Joana", usada quando se quer evidenciar um ambiente marcado pela permissividade, daqueles onde se entra e sai sem controle, todo mundo manda e ninguém obedece, espécie de babel sem qualquer organização, carente de regras mínimas de convivência civilizada. Hodiernamente, trata-se de um local onde todos fazem o que bem entendem, em ambientes presenciais ou virtuais, como acontece, neste último caso, com certos grupos de WhatsApp, com suas postagens repetitivas e impertinentes, sem qualquer interesse para os demais que dele fazem parte.  

A expressão remonta à época de Joana I, rainha de Nápoles e Condessa de Provença (que viveu de 1326 até 1382, quando morreu assassinada), uma jovem linda, inteligente, endinheirada e com atitudes à frente de seu tempo, pois bancava do próprio bolso, boêmios, artistas e intelectuais, dos quais se arvorou ser uma espécie de protetora. Joana levou uma vida desregrada, vivendo de forma conturbada, tanto que foi uma das protagonistas da trama envolvendo o rei francês Felipe IV, que resolveu impor tributos aos bens da Igreja, que a ela também pertenciam - e por esse motivo foi excomungado pelo papa Bonifácio VIII.

Na flor da idade, ao completar seus 21 anos em 1347, Joana I achou por bem normatizar o funcionamento dos bordéis da cidade Avignon, onde vivia refugiada por ter sido acusada de participação no assassinato do seu marido, tendo criado regras para impedir que frequentadores violentos agredissem as prostitutas ou saíssem sem pagá-las. E num desses decretos, foi determinado que os prostíbulos deveriam ter uma porta única, por onde todos poderiam entrar sem pagar ingresso e sair quando quisessem. Tais locais de tolerância no país vizinho passaram a ser conhecidos também em Portugal com o nome de “Paço da Mãe Joana”, deixando claro o sentido afetivo concebido na cidade francesa, de pousada acolhedora e receptiva a qualquer um. 

Sua ousada iniciativa lhe rendeu a pena de exílio imposta pela Igreja, inconformada, em tempos de costumes tão austeros, com a vida publicamente permissiva que Joana I levava, demonstrando seu desprezo às convenções sociais de então, conduta que ela provocativamente nunca deixou de ostentar, até quando, em 1382, foi assassinada por seu sobrinho Carlos, movido pela cobiça de sua herança. Mesmo após a sua morte, seus feitos em Avignon continuaram na boca do povo, onde ela era tida, vista e considerada como  protetora dos seus prostíbulos e das suas meretrizes.

Daquela retrógada Portugal do século XIV, o “Paço da Mãe Joana” chegou naturalmente ao Brasil, só que ligeiramente modificado, pois sendo a palavra “paço” pouco usual, por força da praticidade foi aos poucos sendo substituída por “casa”, consagrando-se assim a expressão “Casa da Mãe Joana” em definitivo, representativa de um lugar onde cada qual faz o que bem entende, sem respeitar nenhuma convenção social, uma casa onde impera a bagunça, o hedonismo, o desregramento, a farra sem limites e a pândega. De tão utilizada na linguagem cotidiana, ganhou até música interpretada pela saudosa cantora Marília Mendonça, com que lhe atribuiu esse mesmo título: 

“Meu coração 
não é Casa da Mãe Joana
pra você bagunçar igual
cê faz na minha cama
respeita quem te ama
cê acha que me ilude
ou vaza ou me assume” (...)

Em 2008, referida expressão idiomática batizou uma comédia de sucesso (da Globo Filmes) sob a direção de Hugo Carvana com um elenco espetacular, integrado pela nata do humor e da dramaturgia brasileira, como José Wilker, Agildo Ribeiro, Juliana Paes, Pedro Cardoso, Laura Cardoso, Mièle, Cláudio Marzo, Paulo Betti, Arlete Salles e Malú Mader, abordando situações inusitadas, com suspense e muita expectativa. Traduzido para o espanhol como “La Casa de la Madre Joana”, o filme conta a história de três amigos de longa data que dividem um amplo e velho apartamento de classe média, do qual precisam sair por dívida hipotecária, impasse cuja pretensa solução ocorreu do modo mais atabalhoado possível. 

No Brasil existem dezenas de lanchonetes, pizzarias, "fast-foods", dançarás, pousadas e mafuás ostentando em suas fachadas essa famosa expressão idiomática, como ponto de referência para deleite da população local. 

Dentre eles, uma acanhada baiúca numa cidade da região do nordeste paraense, inaugurada há alguns anos com o tosco nome de “Bucho Cheio”, que mudou mais tarde para “O Moscão” (enfatizando sua falta de compromisso com a higiene) e finalmente passou a se chamar de “Casa da Mãe Joana” talvez por coerência pois lá, dezenas de pescadores se reúnem nos finais de semana para comer e encher a cara, quando correm soltos os jogos de purinha e o bilharito, as piadas indecentes, a troca de sopapos pelas rivalidades no futebol, as fofocas generalizadas, sendo que ao fim e ao cabo, a exemplo de Avignon, ninguém é impedido de sair mesmo deixando as contas penduradas, que são quitadas somente na semana seguinte, isso quando a sorte torna a pescaria farta e altamente promissora para todos eles...
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CÉLIO SIMÕES DE SOUZA é paraense, advogado, pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho, escritor, professor, palestrante, poeta e memorialista. Membro da Academia Paraense de Letras, membro e ex-presidente da Academia Paraense de Letras Jurídicas, fundador e ex-vice-presidente da Academia Paraense de Jornalismo, fundador e ex-presidente da Academia Artística e Literária de Óbidos, membro da Academia Paraense Literária Interiorana e da Confraria Brasileira de Letras, em Maringá (PR). Foi juiz do TRE-PA, é sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, fundador e membro da União dos Juristas Católicos de Belém e membro titular do Instituto dos Advogados do Pará. Tem seis livros publicados e recebeu três prêmios literários.

Fontes:
Enviado pelo autor
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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

José Feldman (Guirlanda de Versos) * 18 *

 
   

Silmar Bohrer (Croniquinha) 128

O verão tem os seus aromas, as delícias e as adversidades da vida. Constâncias e inconstâncias. Um azul de doer os olhos, de repente o horizonte escurece, ouve-se o ribombar de trovoadas.  Mudanças. 

A vida também é feita de variáveis no dia a dia para tantos viventes. Manhãs de sol, tardes nubladas, noites insólitas. Conquistas e vitórias envoltas nas dúvidas, nas incertezas, nos sucessos e insucessos. 
   
A crônica dos dias nos mostra que o verão e a vida são feitos do mesmo caldo - sóis e ventanejares, chuvas densas, júbilos, calmarias, amarguras, regozijos, dissabores, viveres altaneiros em qualquer circunstância.
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SILMAR BOHRER nasceu em Canela/RS em 1950, com sete anos foi para em Porto União-SC, com vinte anos, fixou-se em Caçador/SC. Aposentado da Caixa Econômica Federal há quinze anos, segue a missão do seu escrever, incentivando a leitura e a escrita em escolas, como também palestras em locais com envolvimento cultural. Criou o MAC - Movimento de Ação Cultural no oeste catarinense, movimentando autores de várias cidades como palestrantes e outras atividades culturais. Fundou a ACLA-Academia Caçadorense de Letras e Artes. Membro da Confraria dos Escritores de Joinville e Confraria Brasileira de Letras. Editou os livros: Vitrais Interiores  (1999); Gamela de Versos (2004); Lampejos (2004); Mais Lampejos (2011); Sonetos (2006) e Trovas (2007).
Fontes:
Texto enviado pelo autor. 
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Geraldo Pereira (Gostosas Saudades)

Aqui deste canto, onde me encanto, ainda, na antiga e paradisíaca praia de Pau Amarelo, onde os pássaros entoavam o cântico dos cânticos, posso parar nesta manhã de sábado e deixar que o imaginário ganhe as asas do tempo, reavendo minhas vivências e minhas convivências, meus convívios, enfim, de anos que se foram. O telefone celular que me acompanha, trazendo boas notícias e às vezes informações dolorosas, não faz ligação para o outrora e nem promove o desejado reaver das lembranças que me inquietam e que alimentam fantasias desses impossíveis retornos nas décadas e até no século. É irrealizável, então, à ciência do homem no presente das coisas essa viagem de volta. À infância – quem sabe? -, à adolescência ou à juventude! Fui feliz, creio firmemente, porque amei e fui amado!
  
Gostaria de me sentar, outra vez, no alpendre de casa, de fazer a arrumação dos brinquedos, os carrinhos de madeira e os apetrechos de guerra, de plástico já. Arranjar o batalhão de soldadinhos de chumbo no chão e prepará-los para a batalha de Monte Castelo, alguns com as armas aos ombros, poucos com o telefone de campanha e a maioria simplesmente em guarda, como deve convir mesmo às criaturas assim, resultantes da imaginação alheia. Sou nascido durante a beligerância mundial e criado no pós-guerra! Sonhar de novo, como fazia dantes, com a vizinha de defronte, bonitona e noiva. Mudar o conteúdo desses devaneios oníricos, como sucedeu, acompanhando o passar da idade, o evoluir dos sentimentos, num crescente apelo do inteiramente sensual.

Ah, que saudades de minha adolescência, de minhas paixões impossíveis e de meus amores plausíveis, das minhas férias e de meu futebol, dos meus canários abrindo as asas e entoando o pranto meloso das perdas! Que saudades das festas de rua, das quermesses e das quadrilhas, dos flertes e dos encontros furtivos, dos beijos roubados num girar qualquer de um carrossel dos ares. Lembranças gostosas do tempo dos tempos, do viço da idade que se esvai mais e mais, da leveza d’alma e do levitar do espírito, dos dias e das noites daqueles inícios! Esperanças a povoarem a força do pensamento, promessas vãs, nunca cumpridas, vontades guardadas e desejos reprimidos, recalcados tantos! Descobertas mil, de sentimentos emergentes e de carícias bem cuidadas, de afetos e de afagos, da saudade que foi surgindo logo, logo!

E a minha juventude? Começo difícil da arte do existir ou do exercício do viver, recomeço, muitas vezes, reflexões impostas à consciência no julgamento pessoal, rigor nas interpretações dos gestos, dos atos e dos fatos! Contato com o bem e o mal, a saúde e a doença, a morte, enfim. Identificação pesarosa do caráter de outros, dos semelhantes que trazem a inquietação e o desamor, artífices das desuniões planejadas, que de nada gostam e por ninguém suportam nutrir o sentimento maior. Falsos e desleais! Empregos conseguidos às custas de um esforço enorme, salários em baixa sempre, inquietudes assim, de natureza pecuniária, as compras do mês comprometidas e as aquisições maiores adiadas! Sonhos desfeitos e devaneios perdidos entre os percalços sentidos! Talvez, nem queira voltar às experiências de jovem!

As minhas gostosas saudades são aquelas, as da infância e as da adolescência, quando o meu ser viveu a completude do tempo! Por isso, nesta nublada manhã de um sábado qualquer, em minhas férias regulares, retorno nas décadas e no século e vou pairar nos meados dos anos cinquenta ou nos inícios dos mágicos dias de sessenta, resgatando pretéritos e retomando passados. Sou um nostálgico, pois! Executo a sinfonia das voltas e tomo assento nos antanhos vividos. Viro menino de calças curtas e me visto, em seguida, com o velho brim coringa não encolhe, uso as alpargatas Rhodia dos agrados de minha tia velha. O grupo escolar e o colégio, a rua de casa e a festa do parque, os passeios no Quemmequer e as fantasias do cinema, um abraço e um beijo! Abro a caneta Compactor, vou escrever, afinal, as letras de meu futuro, que é o hoje dos meus dias.

Feliz século aos homens de boa vontade, aos que têm gostosas saudades!
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GERALDO JOSÉ MARQUES PEREIRA nasceu em Recife/PE, em 1945 e faleceu na mesma cidade em 2015, formou-se em Medicina na UFPE em 1986. Fez o mestrado no Departamento de Medicina Tropical da instituição, do qual se tornou coordenador posteriormente. Foi diretor do Centro de Ciências da Saúde e fundou o Núcleo de Saúde Pública e Desenvolvimento Social (Nusp) da universidade. Vice-reitor da instituição de 1996 a 2004 e, quando o reitor precisou se afastar entre março e novembro de 2003, foi reitor em exercício. Fora da universidade, integrou a Comissão Estadual de Saúde, a Comissão Científica de Combate à Dengue do Governo do Estado e a Comissão de Cólera da UFPE e da Cidade do Recife, além de participar do Conselho Científico do Espaço Ciência da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco. Por conta dos inúmeros artigos científicos publicados, ainda foi membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores e do Conselho Estadual de Cultura e presidente da Academia Pernambucana de Medicina. Escrevia crônicas e, em março de 2011, assumiu a cadeira de número 16 da Academia Pernambucana de Letras, que já havia sido ocupada pelo seu pai, o escritor Nilo Pereira.

Fontes:
Geraldo Pereira. Fragmentos do meu tempo. Recife/PE. Disponível no Portal de Domínio Público
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

Baú de Trovas “005”


201
A saudade sintetiza
sonhos, glórias, sentimentos,
como um filme que eterniza
nossos melhores momentos.
A. A. DE ASSIS
202
É certo dizer que a idade
não se conta pelos anos.
— Eu, já desde a mocidade,
sou velho... de desenganos!
ABREU CARVALHO
203
Num afago em seus cabelos,
num carinho em sua face,
vi que, através de desvelos,
um grande amor também nasce...
ADEMAR MACEDO
204
Eu creio em Deus, com profundo
sentido de lucidez,
mas, no Deus que fez o mundo,
não no deus que o mundo fez!
ALFREDO DE CASTRO
205
Este alguém que no passado
fez-se Musa em minha lira,
vive em peito guardado
e as minhas trovas inspira.
ALYDIO C. SILVA
206
Não é uma santa, entretanto,
murmuram, quando ela passa:
- Maria cheia de encanto...
- Maria cheia de graça...
ANA MARIA MOTTA
207
"Quem canta, os males espanta".
Mas na sonata do amor
minha alma é triste, pois canta
somente as notas de dor.
ANTONIO ROBERTO FERNANDES
208
Este amor que te declaro
é tão puro e tão bonito
que, ao medi-lo, eu o comparo
à grandeza do infinito!
ANTONIO TORTATO
209
Vendo aquilo em que se crê
e sentindo o que se nega,
somente um cego não vê
que a humanidade está cega!
APARÍCIO FERNANDES
210
Desvelo é aquele cuidado
com que o poeta, a seu jeito,
passa uma noite acordado
buscando um verso perfeito.
ARLINDO TADEU HAGEN
211
Esta vida é uma pomada
da maciez do veludo...
— Eu já não sofro de nada,
de tanto sofrer de tudo!
ASSIS GARRIDO
212
Tens a placidez dos lagos...
Mas... eu temo, por nós dois,
que, entre carícias e afagos,
venha o dilúvio depois...
BATISTA SOARES
213
O velho meio caduco
olha o espelho e diz, por fim:
- Este espelho tá maluco,
eu não sou tão feio assim!
CAMPOS SALES
214
Quando o tempo massacrante
aponta o peso da idade,
todo o passado distante
é presente na saudade.
CARLOS DE SOUZA
215
Deus! que bom, se, de repente,
o pranto da humanidade
se transformasse em vertente
de Amor e Fraternidade!
CAROLINA RAMOS
216
Reler a carta guardada...
Minha mão agora oscila,
ante a gaveta trancada,
eu devo ou não devo abri-la?
CECÍLIA PATTI SILVEIRA
217
Cada dia mais tristonho
carrego o peso das eras,
vendo afogar-se meu sonho
num dilúvio de quimeras!
CLARINDO BATISTA DE ARAÚJO
218
Aflição... Ânsia... Incerteza...
têm meu peito enamorado
e é mais triste que a tristeza
não ter alguém ao meu lado.
CONSTANTINO GONÇALVES
219
Porteira batendo ao vento,
tão velha e desconjuntada,
é o rude e triste lamento
da fazenda abandonada!...
DANIEL DE CARVALHO
220
Desce o luar... Das calçadas,
eflúvios sutis se evolam...
É quando, em paz, de mãos dadas,
as crianças cantarolam.
DAVID DE ARAÚJO
221
Voltei. Ausência de tudo.
Em silêncio o casarão.
Somente um vestígio mudo:
- retrato dela no chão...
ENÉAS DE CASTRO
222
As esperanças da vida,
bem como os seus desenganos,
mudam de face à medida
que mudam de face os anos.
EXPEDITO PEREIRA
223
Eva.. esse anjo encantador
que em pecados se desdobra,
fez do Adão um pecador
e diz... "A culpa é da cobra"!
FERRER LOPES
224
Na vida que nós levamos,
o que nos tem mais valor
é que juntinhos sonhamos
um lindo sonho de amor!
GALDINO ANDRADE
225
Oh, mãe preta, a todo instante
relembro a tua humildade,
joia de brilho constante
do sacrário da bondade.
HELVÉCIO BARROS
226
O céu, o ar e o luar,
a mata, animais e flores...
E o homem quer acabar
essa harmonia de cores!...
HERMOCLYDES SIQUEIRA FRANCO
227
Um pobre estendendo a mão
invocou de Deus o amor.
- Quer esta rosa ou este pão?
- Prefiro a rosa, Senhor.
IDÁLIA KRAU
228
Enquanto a guerra inundar
num dilúvio, a Terra inteira,
onde a pomba irá buscar
outro ramo de oliveira?!...
IZO GOLDMAN
229
Quando te vejo, Teresa,
tão bonita e jovial,
eu considero a tristeza
mais um pecado mortal!
JACY PACHECO
230
Disseste adeus... e, à partida,
vi meus sonhos, sem os teus,
perdendo o rumo da vida
na travessia do adeus!
JOÃO FREIRE FILHO
231
Se o meu coração chorasse
toda a amargura que encerra,
talvez então provocasse
novo dilúvio na Terra...
JOÃO PAULO OUVERNEY
232
Qualquer que seja o motivo
pelo qual me abandonou,
em meu coração cativo,
o pranto nunca secou!
JOSÉ FELDMAN
233
No amor, meus amigos, vede:
sou um Tântalo, por certo,
pois vivo a morrer de sede,
com tantas fontes por perto!
JOSÉ LOURENÇO
234
O amor eterniza as vidas
e, a vida, vem nos lembrar:
- Correntes de mãos unidas
ninguém consegue quebrar!...
JOSÉ MARIA MACHADO DE ARAÚJO
235
Quantas vezes esquecemos,
chorando lembranças mortas,
que "Deus escreve direito,
embora por linhas tortas"!
LEOPOLDINA DIAS SARAIVA
236
Torna-se longo o momento
da mais breve despedida,
se atormenta o pensamento
no decorrer de uma vida!
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI
237
Nossa Língua Portuguesa
bem menos rica seria
se não tivesse a riqueza
deste teu nome - Maria!
LUIZ OTÁVIO
238
Todo momento é perfeito
se traz consigo o pretexto
de incluir, com graças e jeito,
o teu vulto em seu contexto!
  MARIA HELENA OLIVEIRA COSTA
239
Não me entrego ao desalento
nos momentos mais tristonhos...
Qualquer dilúvio eu enfrento,
com remos feitos de sonhos!...
MARILÚCIA REZENDE
240
Seria bem diferente
o mundo que se desfaz,
se houvesse dentro da gente
muitas correntes de paz...
MILTON NUNES LOUREIRO
241
Triste de quem, nesta vida,
pela estrada de onde vem,
nem uma vez deu guarida
às esperanças de alguém.
NICOLINO LIMONGI
242
Quando penso em falsidade,
teu nome logo me vem:
Teu nome: Felicidade!
- Felicidade? De quem?...
OCTÁVIO BABO FILHO
243
Feliz de quem não se furta
de lutar, pois vale a pena;
nossa travessia é curta,
mas não deve ser pequena.
  OLYMPIO S. COUTINHO
244
A travessia mais rude,
que entre nós dois, eu desfiz...
Foi não ter tido a virtude
de fazê-la e ser feliz!
   PROFESSOR GARCIA
245
Quando a feia se “embeleza”,
mas o resultado é trágico,
diz o espelho, que se preza:
- Ela pensa que eu sou mágico!...
RENATO ALVES
246
Sempre que a vida nos lança
nas trevas, o que conforta
é ver que a luz da esperança
vem pela fresta... da porta!
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
247
O calendário do peito,
em forma de sonho ou prece,
marca um momento perfeito...
mas que nem sempre acontece.
     VANDA FAGUNDES QUEIROZ
248
Não parta saudade, agora...
Não fuja... E sabe por quê?
- Maria se foi embora...
- Maria agora é você!...
WALDIR NEVES
249
Sem temor, meu barco avança,
seja qual for a maré,
pois no mastro da esperança
iço a bandeira da fé.
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
250
Nas trevas desta paixão,
me carregas, te carrego,
um cego sem direção,
sendo guia de outro cego!
ZAÉ JUNIOR