terça-feira, 25 de março de 2025

Célio Simões (O nosso português de cada dia) “Com as mãos abanando”

A origem mais aceita para essa expressão, remonta à vinda dos primeiros imigrantes para o Brasil, ainda no século XIX. Os fluxos imigratórios mais expressivos ocorreram nos séculos XIX e XX, entre o início do período republicano em 1889 até 1930, quando ingressaram no país principalmente portugueses, italianos, japoneses, alemães e povos árabes (sírios, turcos, egípcios, palestinos) representando mais de 3,5 milhões de estrangeiros, correspondendo a 65% do total de imigrados entre os anos de 1822 e 1960. 

É com razoável margem de certeza que a expressão “COM AS MÃOS ABANANDO” surgiu e se consagrou no linguajar do povo no contexto do crescimento da cafeicultura brasileira, justamente a partir do início do século XIX e desde então, ganhou novos significados, pois ela é comum em vários contextos de comunicação no Brasil, embora tenha passado por mudanças de significado, acumulando sentidos que podem ser aplicados em diferentes situações. Porém, na maioria das vezes em que é empregada, o resultado final está diretamente ligado às mãos vazias de determinada pessoa.

Esse considerável contingente humano costumava trazer em sua parca bagagem, apenas as ferramentas que em sua terra natal utilizavam para o amanho (cultivo) da terra, como ancinhos, alfanjes, machados, facões e enxadas, acreditando que portar uma dessas ferramentas tornaria induvidosa sua disposição para o trabalho, evidenciando a profissão e as habilidades de cada qual, viabilizando assim possível contratação pelo patronato rural brasileiro. 

Em contrapartida, chegar de mãos vazias, ou “com as mãos abanando”, indicava não só a falta de um ofício ou profissão, como a possível ausência de versatilidade para o exercício dos trabalhos manuais, numa visão estereotipada de pessoa com pouca disposição para encarar o batente. 

Outra hipótese para a origem do termo aparece em dicionários anteriores à imigração europeia para o Brasil. Em Portugal, ainda nos idos de 1789, “abanar” era usada com o sentido de “andar ao léu” ou “viver sem amparo”.

Entre nós, há muito tempo essa conhecida expressão também passou a indicar outros contextos literais de mãos vazias. Quando alguém chega numa festa sem levar presentes ou sem trazer contribuições num evento em que isso era de responsabilidade de todos, pode-se dizer que o fulano chegou “com as mãos abananando”. Ir em aniversários “de mãos abanando”, sem levar um presente, demonstra que o conviva compareceu apenas para forrar o panduro, tirar a barriga da miséria ou deleitar-se com as iguarias ofertadas pelo anfitrião. 

O mesmo se diz dos mancebos desprovidos de bens que desposam mulheres afortunadas, sem minimamente levar para a sociedade conjugal nada de valor, motivando a jocosa afirmação de que o dito cujo não constituiu matrimônio e sim, patrimônio... 

As expressões idiomáticas são frases conotativas amplamente conhecidas. Elas servem para expressar diversas ideias, como otimismo, cautela, crítica etc. Seu uso depende do contexto de fala ou de escrita, dado o seu caráter popular. Têm origem em fatos e personagens cotidianos ou históricos, mas sem elas, decididamente o idioma se descaracteriza. Configuram um fenômeno linguístico que consiste em frases de sentido figurado e fazem parte da cultura popular. Portanto, são expressões convencionais, de uso corrente no linguajar do povo, sendo desconhecida ou incerta a origem de muitas delas. 

Mas não se confundem elas com os chamados “ditados populares”, pois esses invariavelmente expressam um valor moral, sob a forma de uma mensagem subjacente. “A PRESSA É INIMIGA DA PERFEIÇÃO”, por exemplo, não diz claramente, porém sugere que é necessário ter paciência, que se deve fazer as coisas devagar, sem precipitações ou afobações, para alcançar os objetivos perseguidos. Coitado do porco, que não observou esse precioso aviso... 

Pode-se dizer que as expressões idiomáticas surgem da cultura popular e ao mesmo tempo a fomentam, constituindo uma interveniência que liga o passado ao presente (infelizmente, algumas expressões desaparecem), pois a cultura é e será sempre um processo resultante da atividade humana, desenvolvida com o intuito de educar a mente e o espírito. Os idiomatismos são vitais para a comunicação entre as pessoas, pois expressam experiências pessoais de uma maneira peculiar, além de revelar as identidades, o modo de pensar, de agir e de ver o mundo dos indivíduos e de sua época. 

Sem poder, sem dinheiro, sem nada para oferecer. A propósito, quando o atleta participa de uma competição e não logra vitórias, se diz que saiu da porfia “com mãos abanando”, sem medalhas ou troféus. Há times de futebol igualmente contemplados com essa expressão mordaz, pois nada ganham nas competições esportivas em que estão empenhados. Participam delas, perdem sempre quase todos os jogos e saem de lá “com as mãos abanando”…
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CÉLIO SIMÕES DE SOUZA é paraense, advogado, pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho, escritor, professor, palestrante, poeta e memorialista. Membro da Academia Paraense de Letras, membro e ex-presidente da Academia Paraense de Letras Jurídicas, fundador e ex-vice-presidente da Academia Paraense de Jornalismo, fundador e ex-presidente da Academia Artística e Literária de Óbidos, membro da Academia Paraense Literária Interiorana e da Confraria Brasileira de Letras, em Maringá (PR). Foi juiz do TRE-PA, é sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, fundador e membro da União dos Juristas Católicos de Belém e membro titular do Instituto dos Advogados do Pará. Tem seis livros publicados e recebeu três prêmios literários.
Fonte:
Enviado pelo autor
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

José Feldman (1954) Biografia atualizada

  

José Feldman nasceu na cidade de São Paulo, no dia 27 de setembro de 1954. Aos 6 anos de idade aprendeu a jogar xadrez com seu pai. Desde os 10 anos mostra aptidão para a escrita, ao escrever pequenos contos baseados em personagens de história em quadrinhos. Com cerca de 13 anos de idade, escreve as suas primeiras poesias. Na época já lia muitos livros e revistas.

Primeiros livros foram a coleção de Monteiro Lobato dada por seu pai. Aos 12 anos se apaixonou por paleontologia e arqueologia ao ler o livro Romance da Terra, de Rudolf Thiel. Com cerca de 15 anos de idade participou de concursos de poesia sem sucesso. Desde 1973, com uma fome enorme de conhecimento, realizou vários cursos, como Filosofia no Instituto Palas Athena, Italiano na Associação de Cultura Afro-Brasileira, Inglês no Instituto Roosevelt e Instituto Norte Americano, Leitura Dinâmica e Desinibição e Criatividade, no Instituto Dynamics Cymel, Arte Dramática no Instituto Macunaíma, Filosofia no Centro de Estudos Filosóficos Pró-Vida, além de diversas palestras e encontros de literatura.

Em 1975, devido a enfermidade de seu pai, auxilia-o na direção de clube de xadrez no Instituto Cultural Israelita Brasileiro (ICIB), assumindo definitivamente a diretoria em 1978, sendo reeleito sucessivamente até o ano de 1996. Neste período, foi também auxiliar de diretoria, arbitro e professor de xadrez no Xadrez Clube Sorocaba e no Clube de Regatas Tietê. Foi jogador no 3. tabuleiro pelo ICIB em Torneios Interclubes a nível regional e nacional e 1. Tabuleiro pelo Xadrez Club Sorocaba na Categoria Especial.

Também, no ICIB, pertenceu à diretoria cultural, promovendo diversos eventos musicais, revelando talentos musicais dos jogadores do departamento de xadrez. Neste período começa a dar maior ênfase também à literatura, ao fazer, na Casa Mário de Andrade (Oficina da Palavra) o curso de Poesia Viva, com a poetisa Eunice Arruda, curso de literatura com Mario Amato, Ficção Cientifica na literatura e no cinema com o escritor de renome internacional, André G. Carneiro, além da Oficina de trovas com Izo Goldman.

No xadrez, como organizador, diretor, arbitro, granjeou a admiração e o respeito de grandes jogadores, o que o fez elevar o clube da 3ª categoria para a categoria especial. Criou também um boletim enxadrístico denominado “J’Adoube” (eu arrumo), direcionado a todos os níveis de jogadores, com partidas, notícias, estudos, piadas enxadrísticas, etc., e com tempo obteve a adesão de colaboradores com desenhos artísticos, poemas, etc. (na época não havia computador, era tudo na máquina de escrever e mimeógrafo).

Entregue de corpo e alma à literatura, continuou tentando ainda concursos de poesia na Livraria Freitas Bastos e Scortecci, mas ainda sem sucesso. 

Casou-se em 1995 com a poetisa, escritora e tradutora paranaense Alba Krishna Topan, a qual conhecera no curso de Ficção Científica, na Casa Mario de Andrade. Foi em 1999 para Curitiba, onde ficou longe da literatura e do xadrez. Não conseguindo se adaptar ao clima, mudou-se para a cidade de Ubiratã, a cerca de 70 km de Cascavel (PR).

Em Ubiratã, começou a se firmar ao ser eleito em 2001 como vice presidente da diretoria provisória, da Associação dos Literatos de Ubiratã (ALIUBI), tendo contato com poetas da região. Foi um dos fundadores da Associação de Cinema Amador na cidade.

Em 2003, começou a se dedicar ao estudo de Administração de Empresas, realizando cursos no SEBRAE, SENAI, Universidade de Viçosa e vários outros, tendo sido diplomado em dezenas de cursos na área administrativa e participado de palestras até os dias atuais.

Participou de concursos de contos em Portugal e França. Também participou de torneios de xadrez regionais, sagrando-se campeão, terceiro e segundo lugares, respectivamente, em 3 torneios em três anos consecutivos.

Criou o Blog Pavilhão Literário Cultural Singrando Horizontes (http://singrandohorizontes.blogspot.com/) seguindo os mesmos moldes do boletim, com muito mais conteúdo, postados diariamente, iniciado ao final de dezembro de 2007.

Com isto, começou a ficar mais conhecido devido a sua divulgação dos escritores, sendo convidado no mês de junho de 2008 a efetuar uma palestra na Academia de Letras de Maringá, onde discursou sobre o Panorama da Literatura no Brasil. Muitos escritores começaram a enviar seus textos e livros para apreciação crítica. 

Em novembro de 2008, a convite do escritor Sorocabano Douglas Lara, passou a ser membro da ONE (Ordem Nacional dos Escritores), recebendo juntamente com sua esposa, o medalhão das mãos do presidente da ONE, José Verdasca, em 2008, em Sorocaba.

Nas palavras de Vãnia Ennes, de Curitiba/PR: "É com grata emoção que a diretoria Estadual do Paraná vem acompanhando seu magnífico trabalho, há mais de 1 ano. Dia após dia, Feldman, você se supera na arte de produzir, criar e disseminar a cultura poética e literária no âmbito nacional e internacional. Cada vez mais, podemos observar a sua sensibilidade que está exposta, claramente, no Pavilhão Literário Cultural Singrando Horizontes, desde dezembro de 2007 a março de 2009 e que muito orgulha o nosso Paraná. É um belíssimo desempenho cultural!!! A oportunidade de poder apreciar seu site, ler, reler, participar, aprender com ele, são atitudes que nos induzem seguir adiante e, nos fazem muito bem. Portanto, receba nossos mais calorosos aplausos ."

Em 2011 mudou-se definitivamente em Maringá/PR, com sua esposa Alba Krishna, gatos e cadelas. 

Foi Consultor Educacional atuando junto a alunos e professores de cursos de bacharelado, mestrado e doutorado de diversas universidades do Paraná e São Paulo.

Em 2015, a convite do Conde Carlos Ventura passou a pertencer como Imortal Correspondente na Academia de Letras Brasil-Suiça, cadeira n. 145, escolhendo o patrono: Mário Quintana. Ocasião em que foi agraciado com a Medalha de Mérito Cultural Euclides da Cunha desta academia.

Em 2017, a convite do presidente Luís Antonio Cardoso, da Academia Rotary de Letras, Artes e Cultura (ARLAC) de Taubaté/SP, tornou-se Acadêmico Correspondente no Grau de Oficial (1. Grau), quando lhe foi conferido também o Prêmio "Mahatma Gandhi" de Liderança pela Paz, da Academia Rotary de Letras, Artes e Cultura de Taubaté/SP

A. A. de Assis, de Maringá/PR diz:
“Há uma palavra moderninha – bookaholic, que na verdade nem é tão moderninha assim, porém me pareceu com jeito de chique e vem aqui a calhar. Foi a melhor maneira que achei para definir o escritor, pesquisador e animador cultural José Feldman, paulistano radicado há alguns anos em Maringá. Bookaholic é a pessoa excessivamente apaixonada por livros. Em português, um sinônimo próximo seria bibliófilo. Feldman é assim: gosta de cães e gatos, mas sua paixão enormemente maior é pelos livros. Lê tudo, em todos os momentos disponíveis. E quase tudo que lê ele transcreve em seus vários blogues, para alegria de milhares de leitores. Ele é o maior divulgador de textos alheios via internet. O maior propagador da arte literária no país.”

Em 2021, o presidente Luiz Antonio Cardoso, da Academia Internacional da União Cultural, o empossa como acadêmico.
 
Ainda neste ano funda a Confraria Brasileira de Letras junto com um artista plástico de Curitiba, que falece neste mesmo ano, uma academia virtual, assumindo então a Presidência desta entidade.

Participou da Comissão Julgadora de diversos Concursos de Poesias.

Assina seus escritos/versos pela cidade de Floresta, vizinha de Maringá..

Quando não está imerso na literatura, tem por hobby tocar Saxofone, Clarinete e Flautas barroca, germânica, contralto e celta.

Nas palavras de Carolina Ramos, de Santos/SP: 
”Quando se tem um ideal na vida, tudo parece mais fácil de ser realizado. Só assim, é possível explicar a capacidade ímpar de José Feldman em levar avante a tarefa espontânea à qual, há tanto tempo, se entrega, na missão auto imposta de espalhar poesias e textos de seus amigos e irmãos de jornada, por este Brasil afora. É isto o que Feldman faz, passando por cima de seus próprios problemas e cansaços, fazendo, do bondoso coração, um ninho de afetos que a todos acolhe com fraternal carinho, estendendo ainda sua ternura aos cães e gatos que lhe servem de companhia através da vida. 

Em audaciosa imagem, José Feldman é uma espécie de “gralha azul” que, em vez de semear pinhões, semeia letras e versos, reflorestando o Brasil com esse viço poético que desperta a sensibilidade - em tempos atuais, sob constante ameaça de ser sufocada pelo árido e pesado concreto do dia-a-dia. 

Sensível, sofrido, faz ele de sua vida um barco que enfrenta tempestades e mares revoltos, com o estoicismo de poucos, e, sem esmorecer, digita, altas horas, as páginas que cria, repletas de obra alheia e, nas quais, quem menos aparece é seu próprio nome. 

Difícil enumerar, sem pecado de omissão, os inúmeros blogs e jornais virtuais por ele criados e alimentados com dedicação digna de ressalto. Entre eles: - Pavilhão Literário Singrando Horizontes, O Voo da Gralha Azul, Coleção Memória Viva, Paraná Poético, Almanaque Paraná, Chuva de Versos, etc. 

Afetivo e impulsivo, por vezes, Feldman não hesita em dar um passo atrás para desfazer mal entendidos, ciente de que, o caminhar por esta vida, não nos isenta de tropeços que uma amizade sincera não possa suplantar. Este é José Feldman, cujo coração fraterno bate mais forte pelos que o cercam, do que, na verdade, em proveito próprio.” 

Algumas Premiações Literárias:

Poesias:

- III Prêmio Literário Gonzaga de Carvalho. ALTO (Academia de Letras de Teófilo Otoni). 10. Lugar. 2018.
- IV Prêmio Literário Gonzaga de Carvalho. ALTO (Academia de Letras de Teófilo Otoni). 12. lugar. 2019.
- 30. Concurso Internacional de Poesias, Contos e Crônicas da ALPAS (Academia Internacional de Artes, Letras e Ciências "A Palavra do Século XXI"). 2019.
- Concurso Literário Virtual da ALAP, Academia de Letras e Artes de Paranapuã/RJ. 1. lugar. 2020.

Entidades as quais pertence:

- Confraria Brasileira de Letras (CBL) Cadeira n. 1 - Patrono: André Carneiro - Presidente Nacional.
- Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG (ALTO) - Acadêmico correspondente
- Academia Rotary de Letras, Artes e Cultura (ARLAC) de Taubaté/SP - Acadêmico Correspondente no Grau de Oficial (1. Grau)
– Academia Internacional da União Cultural – Acadêmico titular
- Movimento União Cultural - Conselheiro Internacional
- Academia Virtual Brasileira de Trovadores – Acadêmico titular
- Confraria Luso-Brasileira de Trovadores – Acadêmico titular
- Associação dos Literatos de Ubiratã (ALIUBI) (vice-presidente 2001 - 2003).
- Academia de Letras Brasil-Suiça . Cadeira n. 145 - Patrono: Mário Quintana
- Ordem Nacional dos Escritores (ONE).
- União Hispanomundial de Escritores (UHE).
- Casa do Poeta Lampião de Gaz, de São Paulo.
- Sociedade Mundial dos Poetas.
- Ordem dos Cavaleiros Templários (OCT).
- Ordem Sagrada do Templo e do Graal (OSTG).
- Antiga e Mistíca Ordem Rosae Crucis (AMORC).

Honrarias:

- Medalha de Mérito Cultural "Euclides da Cunha" da Academia de Letras Brasil-Suiça, em Berna/Suiça. 2015;
- Comenda por Mérito Cultural da Academia Pan Americana de Letras e Artes. 2016;
– Mérito Cultural da Academia Brasileira de Trovas. 2016;
- Prêmio "Mahatma Gandhi" de Liderança pela Paz, da Academia Rotary de Letras, Artes e Cultura de Taubaté/SP. 2017;
- Prêmio "Monteiro Lobato" do Movimento União Cultural. 2018.

E-books que organizou:

- Almanaque O Voo da Gralha Azul (16 números)
- Boletim Literário Singrando Horizontes (13 números)
- Almanaque Chuva de Versos (475 números)
- Almanaque Paraná (12 números)
- Folhetim Literário Desiderata (10 números)

Ebooks de sua autoria:
- Labirintos da vida.
- Peripécias de um jornalista de fofocas & outras histórias.
- Dissecando a magia dos textos: Contos e Crônicas.
- Devaneios poéticos.

Livros publicados:
– Guirlanda de Versos.
– Coleção Terra & Céu. José Feldman e Izo Goldman(organizada por Milton Souza)

Poesias em alguns livros de outras autorias:
- Revista Literária da Academia de Letras de Teófilo Otoni, Café com Letras (poesia). 2013.
- Edição comemorativa de 35 anos do Movimento Poético em São Paulo (poesia). 2016.
- Coletânea dos Poetas de Maringá - IV. (poesia). 2016.
- Luciano Dídimo (org.). 100 sonetos de 100 poetas. 2019.
- XV Coletânea de Poesias da ALIUBI (poesia). 2019.
- Sandra Veroneze (org.). Poetas pela paz (poesia). 2020.

Possui o blog http://singrandohorizontes.blogspot.com.br em atividades desde 2007, com cerca de 20.000 artigos e uma média de 7 mil leitores/mês, e mais de 3.500.000 leitores.

Contatos, colaborações pelo email: gralha1954@gmail.com

segunda-feira, 24 de março de 2025

José Feldman (Guirlanda de Versos) * 28 *

 

Mensagem na Garrafa = 138 = A Ilusão da Superioridade


AUTOR ANÔNIMO
A Ilusão da Superioridade

Dizem que a pedra é dura,
mais duro é o teu coração;
ela é dura, na verdade,
mas não faz ingratidão.
(Quadra anônima)
* * *

Na vastidão da criação literária, a poesia ocupa um espaço sagrado, onde a alma humana se expressa em versos, emoções e imagens. Contudo, quando a pessoa se vê como o centro do universo, sua visão pode se transformar em um espelho distorcido de sua própria prepotência. Essa figura, que se julga superior e detentora da verdade absoluta, é um exemplo perturbador das desvantagens de uma perspectiva egocêntrica.

Esta pessoa, envolta em suas convicções, acredita que suas palavras são verdadeiras epifanias, superiores a qualquer outra forma de expressão. Ela se coloca em um pedestal, onde a humildade e a vulnerabilidade são deixadas de lado em favor de uma autoconfiança exacerbada. Essa posição não apenas a aliena de suas contemporâneas, mas também a isola em um mundo onde a empatia e a compreensão são substituídas pela crítica e pelo desprezo.

Uma das desvantagens mais evidentes dessa postura é a tendência de julgar os outros com base em suposições e preconceitos. A pessoa, convencida de sua superioridade, se sente no direito de criticar e avaliar o trabalho alheio sem considerar o contexto e as experiências que moldaram cada autor, sem respeitar os sentimentos dos outros, atacando, julgando e condenando indiscriminadamente. Essa abordagem é, em essência, uma negação da complexidade da vida humana e da riqueza de suas narrativas. Ela ignora que cada um traz consigo um universo de vivências que influenciam sua vida.

Quando a pessoa se permite julgar, ela não apenas desmerece o trabalho dos outros, mas também fecha as portas para o diálogo e a troca de ideias. Assim, a pessoa se priva não apenas da sabedoria alheia, mas também da possibilidade de crescimento pessoal e artístico.

A crença de que se possui a verdade absoluta é uma armadilha perigosa. A pessoa prepotente, ao se colocar como a voz da razão, ignora a natureza multifacetada da verdade. A realidade é composta por uma infinidade de experiências subjetivas, e a arte é uma expressão dessas realidades. Quando ela se recusa a reconhecer isso, transforma suas palavras em um ato de arrogância em vez de um convite à reflexão.

Enquanto a pessoa se vê como superior, ela ignora que a verdadeira força reside na capacidade de tocar o coração das pessoas, de se conectar com elas em um nível profundo e significativo.

Ao criticar e afastar os outros, encontra-se cada vez mais isolada, e seu trabalho se torna um reflexo de sua própria alienação. A arte, que deveria ser uma forma de comunicação e de união, transforma-se em um grito solitário, ecoando em um espaço vazio. A falta de diálogo e de troca de experiências resulta em uma produção que, embora técnica e esteticamente correta, carece de profundidade emocional e de relevância.

A verdadeira grandeza não está em se colocar acima dos outros, mas em reconhecer a beleza e a complexidade da experiência humana. Quem abraça a humildade, que se permite ouvir e aprender, enriquece sua própria arte e se torna um canal mais profundo para a expressão de sentimentos universais.

A pessoa com esta visão de superioridade, embora possa ser tentadora como um escudo contra a vulnerabilidade, é uma armadilha que aprisiona a pessoa em um ciclo de solidão e superficialidade. Ao se julgar o centro do universo, ela se isola de um mundo rico e vibrante, repleto de experiências que poderiam enriquecer sua arte.

Esta pessoa não consegue enxergar além de seu nariz, e só consegue visualizar seu reflexo no espelho, ignorando um vasto mundo ao seu redor.

Vereda da Poesia = 231


Poema de 
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

ÁRVORE

Verde bandeira desfraldada ao vento,
árvore amiga, o olhar que te procura
busca repouso e vai achar alento
na sombra que lhe estendes lá da altura!

A sede abrasa! E o fruto sumarento
entregas, com requintes de ternura,
a quem poda a raiz, que é teu sustento
e do solo te traz a seiva pura!

Ramos erguidos, a abraçar o espaço,
tua ânsia de dar não tem cansaço!
Tua bênção de amor não tem medida!

E embora tanto dês e nada colhas,
com o verde pincel de tuas folhas,
vais colorindo de esperança a vida!
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Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES

ROTINA

Desperto, abro meus olhos, e a cortina
não deixa mais o quarto escurecido,
aos pés da cama ainda o seu vestido
e algumas peças mais, de seda fina.

Seu corpo, mal coberto e distraído,
qual dunas de um deserto, me fascina.
São curvas que desenham na retina
detalhes de um vulcão adormecido.

Silente, encontro as chaves, me agasalho,
entrego-me à rotina do trabalho
torcendo que o relógio ande depressa.

Ao fim do dia esqueço o meu cansaço,
ela se envolve inteira em meu abraço
e em nosso quarto a vida recomeça.
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO

O meu coração é mudo,
não fala nem aparece;
se o meu coração falasse
contava por quem padece.
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Poema de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA

ANJO

"Ai! Que vale a vingança, pobre amigo,
Se na vingança a honra não se lava?...
O sangue é rubro, a virgindade é branca —
O sangue aumenta da vergonha a bava.

"Se nós fomos somente desgraçados,
Para que miseráveis nos fazermos?
Deportados da terra assim perdemos
De além da campa as regiões sem termos...

"Ai! não manches no crime a tua vida,
Meu irmão, meu amigo, meu esposo!...
Seria negro o amor de uma perdida
Nos braços a sorrir de um criminoso!...”
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Poema de
CRIS ANVAGO
Setúbal/ Portugal

A LUA E O SOL 

Esta noite a lua não está cheia
Nem é lua nova
Pode ser meia-lua ou quarto minguante
Não sei distinguir

A lua só aparece quando quer
Por vezes esconde-se por detrás das nuvens

A lua é inconstante
Assim como o sol

São irreverentes
Têm vontade própria
E brilham à sua maneira
Mas podem ser amigos a vida inteira

Encontram-se poucas vezes…

Quando o sol caminha para outro lugar
A lua aparece já sem tempo para o abraçar

Mas, quando se querem abraçar
ou encontrar-se mais perto
Existe a eclipse lunar
e, a terra não os deixa abraçar

A lua e o sol comandam as marés…

A lua não pode ter o sol a seus pés
O sol é movido pelo sentimento das marés

São distintos, fortes e frágeis
Belos elementos da natureza
Furacão, sentimento e beleza

O sol e a lua são seres potentes
Enigmáticos
Seres únicos na natureza!
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Haicai do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Aos raios, o orvalho,
é o pranto cristalizado
no olhar do espantalho!
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

E EU FUI TALVEZ FELIZ SEM O SABER
(Maria Amélia de Carvalho e Almeida in "Ao Sabor das Marés", p. 193)

Eu fui talvez feliz sem o saber
Quando a felicidade eu procurava
E, cego, via em tudo o que encontrava
A negação do bem e do prazer.

Nessa busca ansiosa pelo ter
A minha energia dissipava
E impotente e incapaz não enxergava
Que o principal da vida é sempre o ser.

O Tempo deu-me a doce regalia
De ver agora claro o que eu não via
Que é quase sempre em vão o que sofremos.

Depois de uma procura tão a sós
Sei que a felicidade mora em nós
Se amarmos o que somos e o que temos.
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Soneto de
AMAURY NICOLINI
Rio de Janeiro/RJ

TEORIA E PRÁTICA

Há ideias que ficam girando na cabeça,
mesmo que até tenham sido superadas,
mas não permitem que se as esqueça
ainda que se tente dar uma apagada.

Eu por muito tempo imaginei até um dia
como seria um grande encontro de amor
para apresentá-lo em forma de poesia,
como fruto da criação de um sonhador.

Mas depois do que aconteceu comigo,
do que vivemos, descobrindo os dois
um amor que sempre ficava pra depois,

é que estou sentindo todo esse perigo,
pois a ideia ainda insiste, de verdade,
apesar de ser pior do que a realidade.
= = = = = = 

Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

OLAVO BILAC

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac,
estrela de primeira, um verso alexandrino.
Perfeito no soneto, o vate foi destaque
e primou pela forma, ourives diamantino.

Como parnasiano revelou-se um craque
com seu verbo fluente e forte foi divino.
Palestrou, escreveu, amou e sem sotaque
"ora (direis) ouvir estrelas," seu destino.

Orador, literato e um grande sonetista,
foi também pensador, ardente jornalista,
gigante na palavra, um poeta de escol.

"Ultima Flor do Lácio" o vate da Esperança,
amante do Saber, da Pátria e da Criança,
por isso és fulgurante como a luz do Sol!
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Poeminha de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Tem começo,
não the end,
o filme da vida.
Que responsabilidade. 
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Poema de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

CIDADE NATAL

Ao procurar as raízes,
tem o meu sonho tal ânsia,
que ao buscar dias felizes
volto à fazenda da infância.

Seu pai era jardineiro
e ele era um menino arteiro,
que só queria brincar.
Mas, quando a mãe o chamava,
as flores, logo abraçava
e o pai ele ia ajudar.

Cresceu... deixou a cidade.
Longe de tudo, a saudade,
quase que o fez regressar.
Mas, sabendo o que queria,
formou-se em agronomia
depois de muito estudar.

Já casado e com família,
passou anos em vigília
e por trabalhar assim,
formou dois filhos doutores
mas, nunca mais plantou flores
e nem cuidou de um jardim!

Ao perder a companheira,
sua ilusão derradeira,
já tendo bastante idade,
procurou suas raízes
lembrando os tempos felizes
lá, na pequena cidade.

Voltou à morada antiga,
ouviu a velha cantiga,
foi à igreja e ao botequim.
E, na praça da cidade,
onde dói mais a saudade,
plantou flores no jardim!
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Poema de
JÉRSON BRITO
Porto Velho/ RO

FLORES SECAS

Fugiu dos olhos meus toda a viveza
No dia em que deixaste nossa cama.
Chorei, ao ver minguando aquela chama
Que nos iluminava outrora, tesa.

Sem norte, o coração vive qual presa
Das lôbregas voragens desse drama.
Dolente, insiste aos brados e reclama
Lamúrias sobrevivem na incerteza.

Tem sido a solidão demais severa,
Escutes o clamor de quem venera
De teus formosos lábios os licores.

No quarto, nosso mágico retiro
Perfumes divinais não mais respiro,
Somente restam ressequidas flores.
= = = = = = = = =  

Soneto de
MILTON S. SOUZA
Porto Alegre/RS, 1945 – 2018, Cachoeirinha/RS

Amor e dor

Se o amor termina, restam corações partidos
pois não existe só meia felicidade.
Os desacertos deixam mortos ou feridos
planos nascidos para toda a eternidade.

Uma neblina cobre o sol da realidade,
todos caminhos levam aos momentos vividos,
todos sabores ganham gosto de saudade,
todos os sonhos vagam sem rumo, perdidos.

Nenhum remédio pode acalmar essa dor
que invade as almas quando morre um grande amor,
pois grande amor não deveria perecer.

Somente o tempo, com calma e sabedoria,
consegue, aos poucos, fazer voltar a alegria
e abrir espaços para um novo amor nascer.
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Soneto de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

NA BORDA DO PENHASCO

A cada dia, Deus me dá um novo rumo, 
Põe-me no prumo, ajeita  minha caminhada, 
Nunca me torna, da verdade, um  suprassumo,
Porque - em resumo - se sou tudo... não  sou nada.

Na escalada, se não torno firme a corda, 
Olho, da borda do penhasco e... me arrisco,
Retiro o cisco, enxergo a intenção da horda,
Que borda a queda... mas me torno um voo... arisco.

Viver implica conviver com a maldade, 
Mas a bondade sobrepõe-se à aleivosa
E até  raivosa ideia de atrocidade,

Porque,  a vida abençoada que recebo
E que concebo humana, frágil ou...  poderosa, 
É adocicada pelas bênçãos de que  bebo.
= = = = = = = = =  

Poema de 
ÓGUI LOURENÇO MAURI
Catanduva/SP

AMAR-TE EM POESIA!

Face a detalhes adversos
E a entraves do dia a dia,
Preciso apelar pros versos
E assim te amar em poesia!

Meus versos são lenitivos
À falta de teu calor,
Mantêm instintos ativos
Por conta de nosso amor.

Amar-te em poesia, sim;
Abrir para ti meu peito!
Trazer tua imagem pra mim
E envolvê-la do meu jeito!
 
Musa és de meus poemas
Instados pela distância.
De ti, vêm todos os temas
E paixão em abundância.
 
Os doces versos saindo,
Dão-me vida afortunada.
Amar-te em poesia é lindo,
Antes isso do que nada!
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Poema de
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro RJ, 1901-1964

EXCURSÃO

Estou vendo aquele caminho
cheiroso da madrugada:
pelos muros, escorriam
flores moles da orvalhada;
na cor do céu, muito fina,
via-se a noite acabada.

Estou sentindo aqueles passos
rente dos meus e do muro.
As palavras que escutava
eram pássaros no escuro...
Pássaros de voz tão clara,
voz de desenho tão puro!

Estou pensando na folhagem
que a chuva deixou polida:
nas pedras, ainda marcadas
de uma sombra umedecida.
Estou pensando o que pensava
nesse tempo a minha vida.

Estou diante daquela porta
que não sei mais se ainda existe...
Estou longe e fora das horas,
sem saber em que consiste
nem o que vai nem o que volta...
sem estar alegre nem triste,

sem desejar mais palavras
nem mais sonhos, nem mais vultos,
olhando dentro das almas,
os longos rumos ocultos,
os largos itinerários
de fantasmas insepultos...

— itinerários antigos,
que nem Deus nunca mais leva.
Silêncio grande e sozinho,
todo amassado com treva,
onde os nossos giram
quando o ar da morte se eleva.
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Eduardo Affonso (Conceição)

Tom Jobim era fã de Villa-Lobos, e um dia conseguiu ser apresentado ao seu ídolo.

— Villa, este é o Antônio Carlos Jobim, autor da música da peça “Orfeu da Conceição”.

— Ah, sim! – disse o maestro. E, querendo demonstrar que já tinha ouvido falar do moço, cantarolou “Conceição / eu me lembro / muito bem” — fazendo uma “pequena” confusão entre a obra de Tom e Vinícius e a canção de Dunga e Jair Amorim, imortalizada pelo Cauby Peixoto.

A gafe do maestro me faz pensar que não se fazem mais Conceições como antigamente.

Na lista dos cinquenta nomes femininos mais usados no Brasil, aparecem Agatha, Ayla, Gabrielly, Emily e Isabelly, mas não Conceição – que talvez não figure nem nos “Top Thousand”.

Nomes vêm e vão.

Conceição foi e não voltou.

Sumiu.

Ninguém sabe, ninguém viu.

Há muito uma Conceição não brinca de boneca, não usa o primeiro sutiã, não arruma o primeiro namorado.

Não parece mesmo adequado a uma menininha um nome tão aumentativo, tão encorpado.

Conceição é nome de mulher já adulta — “mulher feita”, como se dizia no tempo em que nasciam Conceições.

Porque Conceição (“aquela que concebe”) é nome de mãe.

É o nome da minha mãe.

Sempre me soou a nome de gente humilde, do tipo que batiza os filhos de acordo com o santo do dia (ela não nasceu no dia de Nossa Senhora da Conceição, mas foi nesse dia que deu à luz sua filha — o dia em que foi mais mãe).

O Orfeu negro de Tom e Vinícius poderia ter sido da Silva, dos Santos, mas foi “Orfeu da Conceição” o poeta cuja lira emudecia os pássaros e vivia no morro a sonhar com o amor eterno de Eurídice — coisa que o morro não tem.

Esse “da Conceição” o arrancava da mitologia grega e lhe punha os pés no chão, lhe conferia mais humanidade, o trazia para o Rio de Janeiro, e preparava as rimas que viriam das cordas do seu violão (numa manhã — tão bonita manhã – de Carnaval).

Talvez haja, no mais profundo Brasil – aquele onde ainda são geradas as marias das dores, do perpétuo socorro, da natividade, da agonia, da anunciação – uma ou outra pirralha adornada com esse nome.

Talvez não.

Conceição é um nome em extinção.
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EDUARDO AFFONSO, Arquiteto mineiro de Belo Horizonte, 1950. Colunista do jornal O Globo. Coordena a Oficina Literária Eduardo Affonso, voltada para cronistas. Participa do coletivo literário Flique Nenhum livro publicado.

Fontes:
Texto e imagem obtidos no blog de Eduardo Affonso. 30 janeiro 2025.
https://tianeysa.wordpress.com/2025/01/30/conceicao/

domingo, 23 de março de 2025

Adega de Versos 139: Amaury Nicolini

 

Antonio Juraci Siqueira (Carta/canção para adormecer os homens e despertar as crianças)

Em paz com Deus e com os homens, o peito pleno de amor e as mãos ornadas de ternura, escrevo esta carta em forma de canção que faça dormir os homens e despertar as crianças, que soe como o burburinho da água na ribanceira do rio, o farfalhar do vento nas  mangueiras, o trinar dos pássaros tecendo alvoradas ou o badalar de sinos na Hora do Ângelo. 

Uma canção para despertar a criança que trazemos dentro de nós: umas, adormecidas pelo cansaço causado por uma sociedade cada vez mais embrutecida pelo imperativo categórico produzir, consumir e consumir-se; outras, amordaçadas para que suas verdades não incomodem a mentira nossa de cada dia; outras, deixadas de lado por absoluta falta de tempo ou relegadas ao esquecimento para que seus sonhos de ser não venham se antepor às exigências do ter. 

Uma carta/canção que nos abra os olhos para um mundo mágico, belo e possível, presente em essência mas ausente de fato no mundo caótico em que vivemos, que nos faça compreender que o pequeno mundo que vemos de nossas janelas, não tão belo e colorido como os vistos através das janelas virtuais, é mais real, humano e possível de interferências e mudanças dentro das possibilidades de cada um. 

Um mundo feito de seres e coisas palpáveis onde um copo d’água possa fazer a diferença, um gesto de amor salvar uma vida e o pão da palavra saciar muitas almas famintas de afeto; onde o dinheiro não seja tudo, a tolerância seja substituída pela aceitação mútua das nossas diferenças e uma palavra possa abrir portas para mil possibilidades. Enfim, um mundo onde a paz deixe de ser três letras esquecidas nas páginas dos dicionários. 

Que esta carta/canção nos faça ver o mundo através dos olhos da inocência onde um pássaro seja tão somente um poema emplumado a cantar nos galhos da manhã e não um ítem no mercado negro de animais silvestres, uma árvore deixe de ser um verde pacote com os dólares da devastação ambiental e passe a ser vista como uma bandeira desfraldada sobre a esperança, um rio seja a líquida rua do poeta e do mururé e não uma fonte de energia a inundar belos montes de vida, cultura e poesia. 

Talvez alguns vejam nesta carta apenas um monte de palavras. Mas um monte de palavras que pode mudar você, que pode mudar o mundo em sua volta. E eu amo as palavras e nelas acredito. Por isso é que fabrico, com elas, quixotescamente, meu escudo e minha lança para investir contra os moinhos da insensibilidade humana, para arrancar viseiras, derrubar os muros do preconceito, da intolerância e da opressão; para abrir estradas, construir pontes e rasgar horizontes à demanda de um mundo mais justo, igualitário e fraterno. 

Eu acredito na palavra como ferramenta divina deixada por Deus para formar, informar e transformar o homem e o mundo. A pá para revolver a lavra revelando o tesouro escondido no garimpo da alma de cada ser humano. Um tesouro que o tempo não consome e os ladrões não roubam. 

Eu acredito, por exemplo, na palavra paz, na palavra amor, na palavra amizade, na palavra igualdade, na palavra união, na palavra justiça, na palavra esperança, na palavra sonho, na palavra alegria, na palavra fraternidade, na palavra fé, na palavra perseverança, na palavra felicidade, na palavra poesia, na palavra... Palavra!

E você, em que palavra acredita?
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Antônio Juraci Almeida Siqueira, nasceu em Afuá, no Pará, em 1948). Escreveu diversas obras literárias, entre elas merecem destaque, O Chapéu do Boto (2003), Paca, Tatu; Cutia não! (2008), e Aumentei, Mas Não Menti (2016). Seus poemas, contos e trovas são principalmente inspirados no folclore, nas crenças e saberes populares e pela natureza amazônica. Popularmente ele é conhecido como "o boto" ou o poeta "filho do boto". Em 1978, e foi morar em Belém. cursou Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal do Pará, atua como instrutor de oficinas literárias, artista performista, contador de histórias, e leciona filosofia na rede pública de educação paraense. É considerado um dos poetas mais prolíferos da região Norte do Brasil. Seus trabalhos variam entre publicações de livros de literatura infantojuvenil, literatura de cordel, livros de poesias, contos, crônicas e textos humorísticos. Todo esse trabalho rendeu-lhe cerca de 200 premiações em concursos literários de diversos gêneros, tanto no âmbito nacional, quanto no estadual.

Fontes:
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing