CAROLINA RAMOS
Santos/SP
ÁRVORE
Verde bandeira desfraldada ao vento,
árvore amiga, o olhar que te procura
busca repouso e vai achar alento
na sombra que lhe estendes lá da altura!
A sede abrasa! E o fruto sumarento
entregas, com requintes de ternura,
a quem poda a raiz, que é teu sustento
e do solo te traz a seiva pura!
Ramos erguidos, a abraçar o espaço,
tua ânsia de dar não tem cansaço!
Tua bênção de amor não tem medida!
E embora tanto dês e nada colhas,
com o verde pincel de tuas folhas,
vais colorindo de esperança a vida!
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Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES
ROTINA
Desperto, abro meus olhos, e a cortina
não deixa mais o quarto escurecido,
aos pés da cama ainda o seu vestido
e algumas peças mais, de seda fina.
Seu corpo, mal coberto e distraído,
qual dunas de um deserto, me fascina.
São curvas que desenham na retina
detalhes de um vulcão adormecido.
Silente, encontro as chaves, me agasalho,
entrego-me à rotina do trabalho
torcendo que o relógio ande depressa.
Ao fim do dia esqueço o meu cansaço,
ela se envolve inteira em meu abraço
e em nosso quarto a vida recomeça.
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO
O meu coração é mudo,
não fala nem aparece;
se o meu coração falasse
contava por quem padece.
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Poema de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
ANJO
"Ai! Que vale a vingança, pobre amigo,
Se na vingança a honra não se lava?...
O sangue é rubro, a virgindade é branca —
O sangue aumenta da vergonha a bava.
"Se nós fomos somente desgraçados,
Para que miseráveis nos fazermos?
Deportados da terra assim perdemos
De além da campa as regiões sem termos...
"Ai! não manches no crime a tua vida,
Meu irmão, meu amigo, meu esposo!...
Seria negro o amor de uma perdida
Nos braços a sorrir de um criminoso!...”
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Poema de
CRIS ANVAGO
Setúbal/ Portugal
A LUA E O SOL
Esta noite a lua não está cheia
Nem é lua nova
Pode ser meia-lua ou quarto minguante
Não sei distinguir
A lua só aparece quando quer
Por vezes esconde-se por detrás das nuvens
A lua é inconstante
Assim como o sol
São irreverentes
Têm vontade própria
E brilham à sua maneira
Mas podem ser amigos a vida inteira
Encontram-se poucas vezes…
Quando o sol caminha para outro lugar
A lua aparece já sem tempo para o abraçar
Mas, quando se querem abraçar
ou encontrar-se mais perto
Existe a eclipse lunar
e, a terra não os deixa abraçar
A lua e o sol comandam as marés…
A lua não pode ter o sol a seus pés
O sol é movido pelo sentimento das marés
São distintos, fortes e frágeis
Belos elementos da natureza
Furacão, sentimento e beleza
O sol e a lua são seres potentes
Enigmáticos
Seres únicos na natureza!
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Haicai do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
Aos raios, o orvalho,
é o pranto cristalizado
no olhar do espantalho!
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
E EU FUI TALVEZ FELIZ SEM O SABER
(Maria Amélia de Carvalho e Almeida in "Ao Sabor das Marés", p. 193)
Eu fui talvez feliz sem o saber
Quando a felicidade eu procurava
E, cego, via em tudo o que encontrava
A negação do bem e do prazer.
Nessa busca ansiosa pelo ter
A minha energia dissipava
E impotente e incapaz não enxergava
Que o principal da vida é sempre o ser.
O Tempo deu-me a doce regalia
De ver agora claro o que eu não via
Que é quase sempre em vão o que sofremos.
Depois de uma procura tão a sós
Sei que a felicidade mora em nós
Se amarmos o que somos e o que temos.
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Soneto de
AMAURY NICOLINI
Rio de Janeiro/RJ
TEORIA E PRÁTICA
Há ideias que ficam girando na cabeça,
mesmo que até tenham sido superadas,
mas não permitem que se as esqueça
ainda que se tente dar uma apagada.
Eu por muito tempo imaginei até um dia
como seria um grande encontro de amor
para apresentá-lo em forma de poesia,
como fruto da criação de um sonhador.
Mas depois do que aconteceu comigo,
do que vivemos, descobrindo os dois
um amor que sempre ficava pra depois,
é que estou sentindo todo esse perigo,
pois a ideia ainda insiste, de verdade,
apesar de ser pior do que a realidade.
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Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP
OLAVO BILAC
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac,
estrela de primeira, um verso alexandrino.
Perfeito no soneto, o vate foi destaque
e primou pela forma, ourives diamantino.
Como parnasiano revelou-se um craque
com seu verbo fluente e forte foi divino.
Palestrou, escreveu, amou e sem sotaque
"ora (direis) ouvir estrelas," seu destino.
Orador, literato e um grande sonetista,
foi também pensador, ardente jornalista,
gigante na palavra, um poeta de escol.
"Ultima Flor do Lácio" o vate da Esperança,
amante do Saber, da Pátria e da Criança,
por isso és fulgurante como a luz do Sol!
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Poeminha de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Tem começo,
não the end,
o filme da vida.
Que responsabilidade.
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Poema de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP
CIDADE NATAL
Ao procurar as raízes,
tem o meu sonho tal ânsia,
que ao buscar dias felizes
volto à fazenda da infância.
Seu pai era jardineiro
e ele era um menino arteiro,
que só queria brincar.
Mas, quando a mãe o chamava,
as flores, logo abraçava
e o pai ele ia ajudar.
Cresceu... deixou a cidade.
Longe de tudo, a saudade,
quase que o fez regressar.
Mas, sabendo o que queria,
formou-se em agronomia
depois de muito estudar.
Já casado e com família,
passou anos em vigília
e por trabalhar assim,
formou dois filhos doutores
mas, nunca mais plantou flores
e nem cuidou de um jardim!
Ao perder a companheira,
sua ilusão derradeira,
já tendo bastante idade,
procurou suas raízes
lembrando os tempos felizes
lá, na pequena cidade.
Voltou à morada antiga,
ouviu a velha cantiga,
foi à igreja e ao botequim.
E, na praça da cidade,
onde dói mais a saudade,
plantou flores no jardim!
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Poema de
JÉRSON BRITO
Porto Velho/ RO
FLORES SECAS
Fugiu dos olhos meus toda a viveza
No dia em que deixaste nossa cama.
Chorei, ao ver minguando aquela chama
Que nos iluminava outrora, tesa.
Sem norte, o coração vive qual presa
Das lôbregas voragens desse drama.
Dolente, insiste aos brados e reclama
Lamúrias sobrevivem na incerteza.
Tem sido a solidão demais severa,
Escutes o clamor de quem venera
De teus formosos lábios os licores.
No quarto, nosso mágico retiro
Perfumes divinais não mais respiro,
Somente restam ressequidas flores.
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Soneto de
MILTON S. SOUZA
Porto Alegre/RS, 1945 – 2018, Cachoeirinha/RS
Amor e dor
Se o amor termina, restam corações partidos
pois não existe só meia felicidade.
Os desacertos deixam mortos ou feridos
planos nascidos para toda a eternidade.
Uma neblina cobre o sol da realidade,
todos caminhos levam aos momentos vividos,
todos sabores ganham gosto de saudade,
todos os sonhos vagam sem rumo, perdidos.
Nenhum remédio pode acalmar essa dor
que invade as almas quando morre um grande amor,
pois grande amor não deveria perecer.
Somente o tempo, com calma e sabedoria,
consegue, aos poucos, fazer voltar a alegria
e abrir espaços para um novo amor nascer.
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Soneto de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ
NA BORDA DO PENHASCO
A cada dia, Deus me dá um novo rumo,
Põe-me no prumo, ajeita minha caminhada,
Nunca me torna, da verdade, um suprassumo,
Porque - em resumo - se sou tudo... não sou nada.
Na escalada, se não torno firme a corda,
Olho, da borda do penhasco e... me arrisco,
Retiro o cisco, enxergo a intenção da horda,
Que borda a queda... mas me torno um voo... arisco.
Viver implica conviver com a maldade,
Mas a bondade sobrepõe-se à aleivosa
E até raivosa ideia de atrocidade,
Porque, a vida abençoada que recebo
E que concebo humana, frágil ou... poderosa,
É adocicada pelas bênçãos de que bebo.
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Poema de
ÓGUI LOURENÇO MAURI
Catanduva/SP
AMAR-TE EM POESIA!
Face a detalhes adversos
E a entraves do dia a dia,
Preciso apelar pros versos
E assim te amar em poesia!
Meus versos são lenitivos
À falta de teu calor,
Mantêm instintos ativos
Por conta de nosso amor.
Amar-te em poesia, sim;
Abrir para ti meu peito!
Trazer tua imagem pra mim
E envolvê-la do meu jeito!
Musa és de meus poemas
Instados pela distância.
De ti, vêm todos os temas
E paixão em abundância.
Os doces versos saindo,
Dão-me vida afortunada.
Amar-te em poesia é lindo,
Antes isso do que nada!
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Poema de
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro RJ, 1901-1964
EXCURSÃO
Estou vendo aquele caminho
cheiroso da madrugada:
pelos muros, escorriam
flores moles da orvalhada;
na cor do céu, muito fina,
via-se a noite acabada.
Estou sentindo aqueles passos
rente dos meus e do muro.
As palavras que escutava
eram pássaros no escuro...
Pássaros de voz tão clara,
voz de desenho tão puro!
Estou pensando na folhagem
que a chuva deixou polida:
nas pedras, ainda marcadas
de uma sombra umedecida.
Estou pensando o que pensava
nesse tempo a minha vida.
Estou diante daquela porta
que não sei mais se ainda existe...
Estou longe e fora das horas,
sem saber em que consiste
nem o que vai nem o que volta...
sem estar alegre nem triste,
sem desejar mais palavras
nem mais sonhos, nem mais vultos,
olhando dentro das almas,
os longos rumos ocultos,
os largos itinerários
de fantasmas insepultos...
— itinerários antigos,
que nem Deus nunca mais leva.
Silêncio grande e sozinho,
todo amassado com treva,
onde os nossos giram
quando o ar da morte se eleva.
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Um comentário:
Gratidão por ter postado um poema meu Poeta José Feldman onde se pode ler tão lindos poemas! Abraço de Portugal
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