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quarta-feira, 30 de janeiro de 2019
José Feldman (Saudade)
Olivaldo Júnior (Trovas para 30 de janeiro: Dia da Saudade)
Da saudade que me deste,
fiz meus pontos cardeais,
mas do Leste fiz Nordeste
e do Norte um Sul a mais...
Meu retrato da saudade
tem seu rosto em luz banhado
me falando sem vaidade
que inda sou seu bem-amado.
- A saudade até parece
um canteiro triste, torto,
cujas flores viram prece
por um jardineiro morto...
Ao matar tanta saudade,
não fui preso, nem a júri,
esperando que a verdade
da distância inda me cure...
A saudade que me impõe
faz de mim um resistente:
um chorão que sobrepõe
os chorinhos ao presente.
Fonte: O Autor
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datas comemorativas,
Florilégio de Trovas
Olivaldo Júnior (Cartinha ligeira endereçada à Saudade)
Querida Saudade
Sei que anda sem tempo para este poeta, este ser que lhe escreve meio às pressas, na hora do almoço, entre uma e outra garfada de arroz com feijão, marmita preparada pela mãe, que tanto amo, tanto a marmita quanto a mãe, é claro! Mas, se tiver um tempinho para mim, por favor, me deixe cumprimentá-la em seu dia. Sim, hoje é o Dia da Saudade! Sabia disso, menina? Inventaram um dia para você, só para lembrar que você existe e faz parte da vida.
Já me nomearam de poeta do adeus há um tempo. Não acho que o seja, mas nomenclaturas e alcunhas são algo que não se escolhe. Assim, ao lado de Vinicius, de Cecília, de Bandeira, de Drummond, de Quintana e de tantos poetas cânones da Poesia dita Brasileira, saúdo você, Saudade, com as letras que aprendi na Escola! Saudade da primeira professora, Dona Zizinha, com quem a aprendi a ler e a escrever. Nem mesmo eu sabia que era poeta.
Poeta, aliás, de forma geral, Saudade amiga, é amigo de você, que tanto ajuda a gente a ter assunto, afinal, como dizia Cecília, a Meireles, ”De que são feitos os dias? / - De pequenos desejos / vagarosas saudades, / silenciosas lembranças.”. Ê, Cecília, sempre certeira! É isso mesmo. Nossos dias são feitos de reminiscências, retalhos de vida que alinhavamos um no outro, para, ao fim da existência, na “noite da vida”, termos “coberta”.
Sinto, amiga Saudade, muita saudade do que não fui, não consegui ser. E, além disso, da minha avó materna, dos meus avôs, da minha infância, quando eu não sabia nada de nada, e a vida era um acordar e ir para a escola, voltando para casa recolhendo flores de buganvília, a famosa primavera, só para ofertá-las a minha mãe ao chegar em casa. Saudade... Soluço abafado, lágrima exposta e logo enxuta, mas nunca estanque. Saudade, a grande saudade!
Meu irmão pequeno, minha vida em cores, meu amigo que não chegou (meu burrinho azul, já que eu sou o menino azul, hehe), noites em que vi uma estrela cadente descendo à Terra, saudade, oh, Saudade, dos sonhos mais puros que não deram em nada! Sopro de ausência sobre todo o presente, você, Saudade, soluça comigo quando os olhos marejam e me perco em mim mesmo, no mar absoluto em que navego e, saudoso, transponho o meu mar.
Com saudade,
de algum lugar do passado,
Olivaldo
Fonte: O autor
Lairton Trovão de Andrade (Panaceia de Trovas) 1
A joana do joão-de-barro
sofreu crime passional;
teve um fim muito bizarro,
por causa do pica-pau.
Aquele gato é baiano,
assim nos diz o Lalau;
ouça o miado do bichano:
"Me-au, me-au, me-au, meau!"
Brada o gaúcho pampeiro:
- "Nos pampas, tchê, só tem macho!...
E o que tem Minas, mineiro?"
- "Uai!... tem macho e fêmea, diacho!"
Depois de muito ovo pôr,
a angola* aguça a matraca
e, festejando com suor,
canta: "tô fraca, tô fraca!"
Diz a crença popular:
Não há coisa que enlouqueça
mais que a boca a relinchar
de uma mula-sem-cabeça!
É, na internet o namoro
paixão que "dá choque"... e muito:
A cada abraço - um suadouro...
e ao beijar - curto-circuito!
Era boa caipirinha
de esquentar qualquer "moringa"**.
- O que de bom é que tinha?
- "Açúcar, limão e pinga".
Foi assim que aconteceu
entre o meu tio e o Mansur:
- Você, meu filho, é ateu?!
- Não, senhor, eu sou Artur!
Há coisa que não te explico
na desditosa paixão:
Com quem me quer, eu não fico,
com quem quero me diz "não".
- Masculino ou feminino?
Perguntou o frei José;
- "Marculino ou Felisbino
não, não! É Zé que o pai qué"!
Nas matas de Pirapora,
já reinou o curupira;
o curupira é o caipora
do rude interior caipira.
Nos horários de verão,
os galos em trapalhada,
sem saber que horas são,
cantam sempre em hora errada.
No velório do riquinho,
há, no íntimo, festança:
"Choro sim, por meu padrinho
(mas que venha logo a herança)".
Ninguém é tão educado
como o fino do Joaquim;
nas lojas, mesmo calado,
saúda até manequim.
O plagiário é caricato
que no mundo se repete;
é escritor co'a mão do gato
e pintor que pinta o sete.
O pobre incauto eleitor
ficou feliz na procura;
diz que o voto é do doutor
que lhe deu uma dentadura.
O símio, bem natural,
exclama ao réptil, de pé:
"Oh, que boquinha sensual
tem o amigo jacaré!"
Quanta gente cuja obra
é cheia de desatino!
- Tem no cérebro de sobra,
o que é próprio do intestino.
Quem fala de mim é mico.
Minha vida é transparência.
Nasci pobre, fiquei rico...
- Milagre da "Presidência" ...
Só de ver a sucuri,
adoentou-se a saracura;
com licor de licuri***
nada sara, nada cura.
______________
Notas:
* angola: galinha d' Angola
** moringa: orelha, ouvido (expressão regional)
*** licuri: coquinho
Fonte:
Lairton Trovão de Andrade. Perene alvorecer. 2016.
livro gentilmente enviado pelo autor.
terça-feira, 29 de janeiro de 2019
Marina Colasanti (No Dorso da Funda Duna)
O sol atravessava lentamente o céu. E abaixo dele, bem abaixo, um emir com sua caravana atravessava o deserto. A claridade era envolvente como um sono. Mas de repente, pelas frestas dos olhos apertados, o emir viu a figura escura de um homem recortar-se no dorso de uma duna. De um homem e de uma cabra.
Que parasse a caravana, ordenou o emir. Um homem sozinho no deserto é um homem morto.
- Mas não estou sozinho, nobre senhor - respondeu o homem levado à presença do emir.
E este, tendo logo pensado que uma cabra não é companhia suficiente em meio às areias, penitenciou-se no segredo da sua mente. Certamente aquele era um homem santo que vagava em penitência, e tinha a companhia da sua fé.
Assim mesmo, convidou-o a seguir viagem com eles. E, diante da recusa, ordenou que se lhe dessem alguns pães e um odre de água. Em breve, a caravana partia.
O homem apertou as espirais do turbante, puxou uma ponta do pano sobre a boca e, acompanhado pela cabra, recomeçou a andar.
O sol tinha refeito seu percurso muitas vezes e estava do outro lado da terra, quando um tropel de cavaleiros quase pisoteou o homem que dormia com a cabeça encostada na barriga da cabra. O primeiro cavaleiro puxou as rédeas, saltou na areia. O homem acordou num susto. O tropel parou.
- Um homem sozinho entre as dunas é um homem inútil - disse o cavaleiro, que chefiava aqueles piratas do deserto. E o convidou para que se juntasse ao bando. Mas, quando o homem recusou a oferta, acrescentando que certamente era um inútil embora não estivesse sozinho, o chefe dos piratas achou que debochava dele, e mandou que o surrassem. Sem demora e sem ruído, pois cascos não ecoam na areia, o tropel partiu.
Os ferimentos da surra há muito haviam cicatrizado, no dia em que uma caravana de peregrinos passou no seu caminho. E, assim como ele a viu chegar com prazer, também os peregrinos consideraram a presença daquele homem e daquela cabra como um sinal propício, e decidiram acampar ao seu lado no dorso da duna.
Armadas as tendas, acesos os fogos, o chefe da caravana convidou o homem a comer. Os peregrinos sentaram-se ao redor, a comida passou de mão em mão. Só quando ela acabou, o velho perguntou ao homem o que estava fazendo no deserto.E o sol ainda não havia se posto, e a lua ainda não havia surgido, quando o homem começou a contar.
Havia sido um homem próspero de uma próspera cidade, uma cidade que com seus minaretes e muros surgia em meio ao deserto. Marido de uma boa esposa, justo pai dos seus filhos, tinha sempre grãos na despensa, e a figueira junto à porta da sua casa a cada ano dava frutos. Um dia, chamado pelos negócios, havia partido em longa viagem. E, ao regressar, não mais havia encontrado sua cidade. Só depois de muito indagar entendera que o deserto, soprado pelo vento, havia passado por cima dos muros, engolindo os minaretes, as casas e a figueira. Toda a sua vida estava debaixo da areia. Mas onde, na areia? E havia começado a procurar.
- É por isso que até hoje anda no deserto? - perguntou o velho chefe da caravana.
Os dentes do homem brilharam à luz da lua que já se havia levantado.
- Ando porque ainda sou morador da minha cidade - respondeu. Inclinou-se, encostou o ouvido na areia, quedou-se atento por alguns minutos. - Há muito os encontrei - disse, erguendo-se.
Sorriu novamente. No ventre daquela duna, debaixo da caravana acampada, estavam os minaretes, as casas, a figueira. Estavam seus filhos e sua mulher. E ele podia ouvi-los a distância. Através da areia que os separava, podia ouvir os gritos dos pregões, as preces dos muezins, o riso da mulher e das crianças que certamente agora haviam crescido.
- Caminho para isso. Para estar sempre acima deles. Para escutar sua vida. - As dunas - acrescentou - vagueiam pelo deserto. E eu vou, acompanhando a minha.
Pouco faltava para a manhã. Ao alvorecer, os peregrinos partiram. Mas o vento tinha ouvido o relato do homem. E a próxima caravana que por ali passou já não o encontrou. A duna soprada grão a grão havia eriçado sua crista, cobrindo o homem e sua cabra como antes cobrira muros e minaretes. E abrindo caminho para eles, lentamente, até seu ventre.
Fonte:
Marina Colasanti. Um espinho de marfim e outras histórias.
L&PM Pocket, 1999.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2019
Nilto Maciel (Jingle Bells)
Doca engoliu a cachaça, sem uma careta sequer, repôs o copo sobre o balcão e afastou-se, a cambalear.
– Morre, desgraçado – brincou Hélvio.
Os fregueses riram e se puseram a tagarelar. Aquilo só podia ser doença.
– Doença que nada. Isso é vício mesmo.
– Ou então vontade de morrer.
O bêbado falava só, do lado de fora do boteco.
– Quantas ele tomou?
Enquanto trocava o disco da vitrola, Hélvio prognosticou:
– Se durar mais um mês, dura muito.
E pôs-se a falar de sua experiência como dono de bar. Conhecia o grau do vício de cada cachaceiro. Sabia quanto podiam durar.
– Vocês se lembram do Tiquinho?
Na vitrola, Nelson Gonçalves enchia a rua com o nome de Carlos Gardel.
– Pois bem, eu disse que aquele não passava do carnaval. Passou?
O assunto prometia render uns bons minutos. Relembrar os mortos, os antigos frequentadores do bar, os maiores consumidores de cachaça do bairro, era outra das especialidades de Hélvio.
– Essa turma pensa que cachaça é água.
Entretidos, ninguém se lembrava mais de Doca, que já ia longe, aos trambecões. Feiúra ambulante. Trapos, só trapos. Piolhento, sujo, banguela.
Relembrado numa pausa da fala de Hélvio, falaram de suas rugas precoces, de sua família, de seu passado.
Na outra esquina, tropicou e caiu. Tentou levantar-se, pôs-se de quatro, tombou para um lado, virou-se e ficou a olhar para cima. Bolinhas e fiapos brancos corriam pelo azul do céu.
Um cachorro passou desconfiado a pouca distância, enorme no seu meio metro.
– Olha onde ele foi cair, pessoal!
Hélvio só se moveu para ir virar o disco. Os fregueses, porém, correram até a porta.
Doca fechou os olhos, resmungou, remexeu-se. Não dava para se levantar. O jeito era dormir. Não deu nem pra cochilar – abriu os olhos e só viu pernas, muito longas; depois braços, pendurados, feito cachos de banana; e queixos, buracos de venta, muitos olhos.
– Morre, filho de uma égua.
– Aguenta, filho da mãe.
Tentaram erguê-lo pelos sovacos. Puseram-no sentado. E depois de pé.
– Vai embora.
Cambaleou, rodopiou como um pião, equilibrou-se na parede, sorriu, agradeceu. E seguiu, tropegamente.
Os bons amigos riam, olhos dançarinos grudados no balé do bêbado.
– Agora ele vai.
E voltaram ao bar, a convite de Nelson: Faça como eu, acostume-se à derrota...
– Não adianta, amanhã ele volta, enche a cara de novo – concluiu Hélvio.
Mais longe do bar, Doca continuava seu caminho, arrastado pelo declive da rua, amparado pela parede das casas.
Nos dias seguintes, Hélvio não deixou de falar de sua experiência como dono de bar, enquanto Nelson Gonçalves enchia a rua com o nome de Carlos Gardel.
Numa noite em que na vitrola só rodava Jingle Bells, anunciaram a nova:
– Eu não disse que Doca não passava do Natal?!
Fonte:
Nilto Maciel. Babel.
Brasília/DF: Editora Códice, 1997.
domingo, 27 de janeiro de 2019
Ricardo Miró (Poemas Recolhidos)
AMOR
Uma vaga inquietude; um misterioso
temor; como um feliz pressentimento;
um íntimo e reservado tormento;
uma pena que acaba em alvoroço.
O sufocante nó de um soluço
perene na garganta; o sentimento
de uma dor que se acerca; o pensamento
cheio de luz, de júbilo, de gozo.
Uma contradição funda e escura
que me enche a vida de amargura,
que mata toda luz e toda ideia,
que turva toda paz e toda alegria;
porém... senhor, que sabes minha agonia:
se tudo isso é amor, bendito seja!
A ÚLTIMA GAIVOTA
Como uma franja agitada, rasgada
do manto da tarde, em rápido voo
se esfuma o bando pelo céu
buscando, acaso, uma ribeira desconhecida.
Atrás, muito longe, segue uma gaivota
que com crescente e persistente desejo
vai da solidão rasgando o véu
por alcançar o bando, já remoto.
Da tarde surgiu a casta estrela
e achou sempre voando a esquecida,
da rápida patrulha atrás a hulha.
História de minha vida compreendida,
porque eu sou, qual gaivota aquela,
ave deixada atrás pelo bando!
PÁTRIA
(tradução do espanhol por José Feldman)
Oh, Pátria tão pequena, estendida sobre um istmo
onde é mais claro o céu e mais brilhante o sol,
Em mim ressoa toda a tua música, o mesmo
que o mar na pequena concha do caracol!
Revolvo o olhar e, às vezes, sinto espanto
quando não vejo o caminho que a ti me faz regressar.
Nunca saberia que te quero tanto
se o Fado não mandasse que eu atravessasse o mar.
A Pátria é a lembrança... pedaços da vida
envoltos em farrapos de amor ou de dor;
a folha da palmeira rumorosa, a música sabida,
o horto já sem flores, sem folhas, sem verdor
A Pátria são os velhos atalhos retorcidos
que o pé desde a infância sem trégua recorreu
aonde são as árvores, antigos conhecidos
cujos vestígios nos conversam de um tempo que passou.
Em vez dessas soberbas torres com áurea flecha,
aonde um sol cansado vem desmaiar,
deixa-me o velho tronco, onde escrevi uma data
aonde havia roubado um beijo, aonde aprendi a sonhar.
Oh, minhas vetustas torres, queridas e distantes
eu sinto a nostalgia de vosso repicar!
Eu vira muitas torres, ouvi muitas campainhas,
mas nenhuma imagino. Torres minhas distantes
cantar como vós, cantar e soluçar.
A Pátria é a lembrança... pedaços da vida
envoltos em farrapos de amor ou de dor;
a folha da palmeira rumorosa, a música sabida,
o horto já sem flores, sem folhas, sem verdor.
Oh, Pátria, tão pequena que cabes toda inteira
debaixo da sombra de nosso pavilhão
talvez foste tão pequena para que eu pudesse
levar-te inteira dentro do coração!
Ricardo Miró (1883 - 1940)
Ricardo Miró Denis nasceu em 5 de novembro de 1883, na Cidade do Panamá/Panamá. Desde tenra idade tornou-se órfão. Aos quinze anos ele viajou para Bogotá para estudar pintura, no entanto, voltou ao Panamá por causa da Guerra dos Mil Dias em 1899. Ele publicou seus primeiros poemas na revista "El Heraldo del Istmo", onde trabalhou por 10 anos.
Foi para a Espanha entre 1908 e 1911 e serviu como cônsul em Barcelona.
A lírica de Miró apresenta influencias modernistas e neorromânticas. Cantou a pátria, a sua paisagem, a herança espanhola e ao amor. Seus poemários mais representativos são Preludios, 1908; Los segundos preludios, 1916; La leyenda del Pacífico, 1925; Caminos silenciosos, 1929. Escribió cuentos y dos novelas: Las Noches de Babel y Flor de María.
Foi também fundador e diretor de revistas literárias. A mais importante delas foi Nuevos Ritos, prolongamento do "El Heraldo del Istmo", através da qual assinalou as linhas de um processo de renovação que logo marcaria os rumos da poesia panamenha. Conheceu Rubén Darío, que passava pelo Panamá.
Ricardo Miró desempenhou cargos diplomáticos em Londres, Marselha e Barcelona, onde escreveu em 1909 seu emblemático poema "Pátria", que destaca a saudade que sente ao estar longe de sua terra.
Foi diretor dos Arquivos Nacionais (1919 - 1927) e Secretário Perpétuo da Academia Panamenha da Língua.
Como membro da delegação panamenha foi em 1921, às festas do centenário da independência do Perú, em Lima.
Morreu na cidade de Panamá a 2 de março de 1940.
Um prêmio literário póstumo anual foi nomeado em sua honra, o Concurso Literário Nacional Ricardo Miró da República do Panamá. O prêmio foi para incentivar escritores de poesia e ficção no Panamá, e em 1952 foi estendido para incluir obras de teatro.
Fontes:
Antonio Miranda (tradução do espanhol por José Feldman)
Panamá Poesia (tradução do espanhol por José Feldman)
João Ubaldo Ribeiro (O Verbo "For")
Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas. Acho inadmissível e mesmo chocante (no sentido antigo) um coroa não ser reacionário. Somos uma força histórica de grande valor. Se não agíssemos com o vigor necessário — evidentemente o condizente com a nossa condição provecta —, tudo sairia fora de controle, mais do que já está. O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora e talvez até desapareça, mas julgo necessário falar do antigo às novas gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).
O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês e sociologia, sendo que esta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha que se virar por fora. Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira. Tudo escrito tão ruybarbosianamente quanto possível, com citações decoradas, preferivelmente. Os textos em latim eram As Catilinárias ou a Eneida, dos quais até hoje sei o comecinho.
Havia provas escritas e orais. A escrita já dava nervosismo, da oral muitos nunca se recuperaram inteiramente, pela vida afora. Tirava-se o ponto (sorteava-se o assunto) e partia-se para o martírio, insuperável por qualquer esporte radical desta juventude de hoje. A oral de latim era particularmente espetacular, porque se juntava uma multidão, para assistir à performance do saudoso mestre de Direito Romano Evandro Baltazar de Silveira. Franzino, sempre de colete e olhar vulpino (dicionário, dicionário), o mestre não perdoava.
— Traduza aí quousque tandem, Catilina, patientia nostra — dizia ele ao entanguido vestibulando.
— "Catilina, quanta paciência tens?" — retrucava o infeliz.
Era o bastante para o mestre se levantar, pôr as mãos sobre o estômago, olhar para a platéia como quem pede solidariedade e dar uma carreirinha em direção à porta da sala.
— Ai, minha barriga! — exclamava ele. — Deus, oh Deus, que fiz eu para ouvir tamanha asnice? Que pecados cometi, que ofensas Vos dirigi? Salvai essa alma de alimária. Senhor meu Pai!
Pode-se imaginar o resto do exame. Um amigo meu, que por sinal passou, chegou a enfiar, sem sentir, as unhas nas palmas das mãos, quando o mestre sentiu duas dores de barriga seguidas, na sua prova oral. Comigo, a coisa foi um pouco melhor, eu falava um latinzinho e ele me deu seis, nota do mais alto coturno em seu elenco.
O maior público das provas orais era o que já tinha ouvido falar alguma coisa do candidato e vinha vê-lo "dar um show". Eu dei show de português e inglês. O de português até que foi moleza, em certo sentido. O professor José Lima, de pé e tomando um cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas:
— Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o sujeito da primeira oração do Hino Nacional!
— As margens plácidas — respondi instantaneamente e o mestre quase deixa cair a xícara.
— Por que não é indeterminado, "ouviram, etc."?
— Porque o "as" de "as margens plácidas" não é craseado. Quem ouviu foram as margens plácidas. É uma anástrofe, entre as muitas que existem no hino. "Nem teme quem te adora a própria morte": sujeito: "quem te adora." Se pusermos na ordem direta...
— Chega! — berrou ele. — Dez! Vá para a glória! A Bahia será sempre a Bahia!
Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca de português, com prova oral e tudo. Eu tinha fama de professor carrasco, que até hoje considero injustíssima, e ficava muito incomodado com aqueles rapazes e moças pálidos e trêmulos diante de mim. Uma bela vez, chegou um sem o menor sinal de nervosismo, muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas. A prova oral era bestíssima. Mandava-se o candidato ler umas dez linhas em voz alta (sim, porque alguns não sabiam ler) e depois se perguntava o que queria dizer uma palavra trivial ou outra, qual era o plural de outra e assim por diante. Esse mal sabia ler, mas não perdia a pose. Não acertou a responder nada. Então, eu, carrasco fictício, peguei no texto uma frase em que a palavra "for" tanto podia ser do verbo "ser" quanto do verbo "ir". Pronto, pensei. Se ele distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio, dou quatro, ele passa e seja o que Deus quiser.
— Esse "for" aí, que verbo é esse?
Ele considerou a frase longamente, como se eu estivesse pedindo que resolvesse a quadratura do círculo, depois ajeitou as abotoaduras e me encarou sorridente.
— Verbo for.
— Verbo o quê?
— Verbo for.
— Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo.
— Eu fonho, tu fões, ele fõe - recitou ele, impávido. — Nós fomos, vós fondes, eles fõem.
Não, dessa vez ele não passou. Mas, se perseverou, deve ter acabado passando e hoje há de estar num posto qualquer do Ministério da Administração ou na equipe econômica, ou ainda aposentado como marajá, ou as três coisas. Vestibular, no meu tempo, era muito mais divertido do que hoje e, nos dias que correm, devidamente diplomado, ele deve estar fondo para quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza, não. Eu tampouco fonho. Mas ele fõe.
Fonte:
João Ubaldo Ribeiro. O Conselheiro Come.
RJ: Nova Fronteira, 2000.
sábado, 26 de janeiro de 2019
Magdalena Léa (Oração para Envelhecer)
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Magdalena Léa |
Autor inglês desconhecido. Adaptação de Magdalena Léa
_____________________________
Meu Deus,
Você sabe, melhor do que eu, que já estou envelhecendo e que breve serei mesmo velho.
Livre-me, pois, do mau-hábito de querer resolver o problema dos outros.
Livre-me, também, do mau-hábito de pensar que, porque sou mais velho, sei mais que os outros.
Mantenha-me inteligente, mas não prepotente, e que saiba aconselhar sem dar ordens.
É pena, realmente, que toda a sabedoria que eu acho que tenho, não possa ser aplicada, mas você sabe, meu Deus, como eu preciso manter meus amigos até o fim.
Livre-me de explicar as coisas com excesso de detalhes e dê asas à minha mente, para que ela voe ao ponto capital das questões.
Cale a minha boca de reclamar contra as minhas dores; o gosto de ensaiá-las a cada dia, em cada ano fica mais apurado.
Meu Deus, eu não peço a graça exagerada de sentir prazer ao ouvir as lamúrias do próximo, mas, apenas, dê-me um pouco de paciência para aturá-las.
Não me deixe esquecer a lição de que eu possa estar errado com muita freqüência.
Mantenha-me mais ou menos de bom-humor, mas não quero ser santo, pois os santos são difíceis na comunicação com os humanos.
Porém um velho azedo é obra mesmo do diabo.
É, meu Deus, dê-me a graça de ver boas coisas em todas as coisas e saber apreciá-las. Amém.
Antonio Cícero da Silva "Águia" (A Flor Amarela)
Na fazenda do senhor Cosmo, nasceu uma planta bem diferente das demais, em toda a região.
E com o passar do tempo, ela foi crescendo e crescendo. Depois de estudada por profissionais da área, foram colhidas amostras, por tratar-se de uma planta desconhecida pela ciência, em toda a região, para possíveis levantamentos referentes à mesma.
A planta cresceu sem que as pessoas soubessem seu nome. Ninguém a conhecia. Na sua espécie, pessoa alguma conseguia comentar, por falta de conhecimentos.
Até que um dia, floresceu uma grande e linda flor amarela, que era bem maior que um girassol.
E um homem que passava no local, ao acariciar a tão linda flor amarela, ficou sarado na hora, das lesões de um derrame, em que havia sofrido.
O homem, falou ao proprietário do local, senhor Cosmo, do que havia acontecido com ele.
O fazendeiro, por sua vez, tomando conhecimento de que o senhor Aquiles estava novinho em folha, de maneira que nem parecia pessoa que tivesse sofrido a um recente derrame, pegou um menino seu criado que era cego e levando-o sem nenhum alarde, juntamente com o senhor Aquiles, até a planta, que media um metro e meio de altura e fizeram com que a criança tocasse a planta, que ficou sarado, no mesmo instante.
O menino, quase entrou em estado de choque, por nunca ter visto o mundo e por alcançar a um tremendo milagre, estava enxergando a tudo.
A notícia rapidamente se espalhou por toda a região e vinham pessoas de todos os lugares, com diferentes problemas de enfermidades e ao tocarem a flor, eram completamente curadas.
E assim, tudo aconteceu por um longo tempo.
Até que um dia, um dos filhos do fazendeiro senhor Cosmo, teve uma ideia de passar a cobrar pedágio a título de taxa para conservação, a todas as pessoas, que alcançassem a graça de serem curadas, por aquela desconhecida planta.
De início, seu pai relutou contra aquela ideia, mas sendo vencido pelo cansaço, abriu mão do assunto.
O senhor Cosmo não aceitou a tal ideia, por ter nascido aquela planta por acaso, no local onde vivia, por conta do destino.
Leandro passou então, a cobrar o pedágio, de todas as pessoas que iam a procura de um milagre.
De início, cobrava apenas, das pessoas que alcançavam o que desejavam, mas logo em seguida, passou a cobrar de todos os que fossem lá. Mas um fato inusitado aconteceu. Tendo em vista a tamanha usura do moço, dentro de oito dias, a planta secou e com ela, desapareceram os milagres.
E toda a população passou a comentar, que por motivo do olhar tão grande do Leandro, desapareceu a planta tão milagrosa.
O tempo passou e um dia, o Leandro ao ser acometido por uma serpente, correu até ao local de onde havia anteriormente a planta da flor amarela e milagrosa e veio a morrer de joelhos, naquele lugar, sem alcançar também a nenhum milagre, por motivo de sua avareza.
Fonte:
Eldorado (coletânea de poemas, crônicas e contos). vol. II.
Santos/SP: Celeiro de Escritores.
sexta-feira, 25 de janeiro de 2019
Oceano de Letras (Solidão) n. 3
Ralph Waldo Emerson
Boston/Massachusetts/EUA, 1803 - 1882, Concord/Massachussets/EUA
NÃO VENS…E É QUASE DIA…
É fácil viver no mundo conforme a opinião das pessoas.
É fácil, na solidão, viver do jeito que se quer.
Mas o grande homem é aquele que, no meio da multidão,
mantém com perfeita doçura a independência da solidão.
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Aloísio Alves da Costa
Umari/CE, 1935 – 2010, Fortaleza/CE
Quando a vida se complica
nas horas de solidão,
amigo é aquele que fica
depois que os outros se vão.
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Manuel Bandeira
Recife/PE (1886 – 1968) Rio de Janeiro/RJ
Belo Belo II
Belo belo minha bela
Tenho tudo que não quero
Não tenho nada que quero
Não quero óculos nem tosse
Nem obrigação de voto
Quero quero
Quero a solidão dos píncaros
A água da fonte escondida
A rosa que floresceu
Sobre a escarpa inacessível
A luz da primeira estrela
Piscando no lusco-fusco
Quero quero
Quero dar a volta ao mundo
Só num navio de vela
Quero rever Pernambuco
Quero ver Bagdá e Cusco
Quero quero
Quero o moreno de Estela
Quero a brancura de Elisa
Quero a saliva de Bela
Quero as sardas de Adalgisa
Quero quero tanta coisa
Belo belo
Mas basta de lero-lero
Vida noves fora zero.
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Alfredo Alencar Aranha
Rio de Janeiro/RJ
Não tenho filho nem filha
que me afague o coração,
pois eu vivi tal qual ilha
perdida na solidão.
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Fernando Pessoa
Lisboa/Portugal, 1888 – 1935
Uma Maior Solidão
Uma maior solidão
Lentamente se aproxima
Do meu triste coração.
Enevoa-se-me o ser
Como um olhar a cegar,
A cegar, a escurecer.
Jazo-me sem nexo, ou fim…
Tanto nada quis de nada,
Que hoje nada o quer de mim
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Angélica Villela Santos
Guaratinguetá/SP, 1935 – 2017, Taubaté/SP
Um bom livro nos envolve,
dá prazer e distração;
é um amigo que dissolve
o amargor da solidão!
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Joaquim Namorado
Alter do Chão/Portugal (1914 – 1986) Coimbra/Portugal
Poema 7
Sobre a planície cai
uma chuva de lume
do sol a prumo.
A solidão sem sombras
incendeia-se de estrelas
e o silêncio estala
como a pele de frenéticos tambores
batidos furiosamente.
Os homens dobrados para a terra levantam
as cabeças medindo os horizontes rasos e
distantes com olhos ávidos, sem piedade
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Adaucto Soares Gondim
Pedra Branca/CE, 1915 - 1980, Fortaleza/CE
Meu coração triste e frio,
sofrendo sempre em segredo,
faz lembrar ninho vazio
na solidão do arvoredo.
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Gislaine Canales
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS
Glosa: Lareira Saudade…
MOTE:
Fiz da saudade que aquece
a solidão dos meus dias,
a mensagem que enternece
minhas horas tão vazias.
Carolina Ramos
(Santos/SP)
GLOSA:
FIZ DA SAUDADE QUE AQUECE,
minha doce companheira,
peço, fique, quase em prece,
comigo, na noite inteira!
Eu preciso amenizar
A SOLIDÃO DOS MEUS DIAS,
minhas noites, a chorar,
são tristes, sem alegrias.
Quando o meu tempo anoitece
lanço em ecos pelo mundo
A MENSAGEM QUE ENTERNECE
desse meu sofrer profundo!
Saudade, lareira ardente,
vem, aquece as horas frias,
enche de amor, ternamente,
MINHAS NOITES TÃO VAZIAS.
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Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora/MG
Saudade são velhos trapos,
pedaços do coração,
que fica feito farrapos
na cerca da solidão!
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Vinicius de Moraes
Rio de Janeiro/RJ, 1913 – 1980
A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.
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Marcos Assumpção
Niterói/RJ
Casa Vazia
Falar de amor não é mistério
Nem tão difícil de explicar
A gente nunca faz por mal
Meu coração praia deserta
Morre de medo do inverno
E da solidão que me devora
Agora, a casa vazia,
Eu grito seu nome,
Só o silêncio me responde
Pensar que o amor é sempre eterno
Que é impossível ele se acabar,
Você bem que podia tentar, mas não, não, não…..
Então quero falar por um momento (só por um momento)
Da tua ausência no meu corpo
E dessa lágrima no meu rosto
Agora, a casa vazia,
Eu grito seu nome,
Só o silêncio me responde
O fogo arde sob o nosso chão
Nada é tão fácil assim
Eu ando sozinho, no olho do furacão
Você nem lembra mais de mim
Agora, a casa vazia,
Eu grito seu nome,
Só o silêncio me responde
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A. A. de Assis
Maringá/PR
A história, através dos anos,
ensina a grande lição:
– o destino dos tiranos
será sempre a solidão!
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Amália Rodrigues
Lisboa/Portugal, 1920/22 – 1999
Silêncio
Do silêncio faço um grito
E o corpo todo me dói
Deixai-me chorar um pouco
De sombra a sombra
Há um céu tão recolhido
De sombra a sombra
Já lhe perdi o sentido
Ó céu
Aqui me falta a luz
Aqui me falta uma estrela
Chora-se mais
Quando se vive atrás d’ ela
E eu
A quem o céu esqueceu
Sou a que o mundo perdeu
Só choro agora
Que quem morre já não chora
Solidão
Que nem mesmo essa é inteira
Há sempre uma companheira
Uma profunda amargura
Ai solidão
Quem fora escorpião
Ai solidão
E se mordera a cabeça
Adeus
Já fui pr’além da vida
Do que já fui tenho sede
Sou sombra triste
Encostada a uma parede
Adeus
Vida que tanto duras
Vem morte que tanto tardas
Ai como dói
A solidão quase loucura
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Aloísio Alves da Costa
Umari/CE, 1935 – 2010, Fortaleza/CE
- Quando o amor se faz lembrança
e a solidão nos invade,
ou se vive de esperança
ou se morre de saudade...
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Amaury Nicolini
Rio de Janeiro/RJ
A Felicidade Mora Ao Lado
Cruzamos nossos olhares nesta rua
onde somos, há muito, dois vizinhos,
ainda que sem ouvir uma palavra tua
nos tantos anos de comuns caminhos.
Nunca trocamos nenhum cumprimento
e nem nunca detivemos nosso passo.
Um pelo outro passamos, e o momento
se perde, num segundo, pelo espaço.
Mas hoje, ao te olhar, senti bem perto
uma voz a me dizer: “fala com ela”,
e ao teu encontro atravessei a rua.
O que eu fiz não podia ser mais certo:
da vida a sós abriram-se as janelas
e a minha enorme solidão beijou a tua.
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Alfredo Alencar Aranha
Rio de Janeiro/RJ
Minha vida foi feliz
nas asas de uma ilusão.
Hoje a saudade me diz
que só resta a solidão.
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Silvia Motta
Belo Horizonte/MG
Acróstico da desilusão :
Coração de férias
C-Coração está quase a parar…
O-O ritmo sem motivação fez
R-Requerimento de férias
A-Amorosas e, sem ilusão
Ç-Cessou até de sonhar…
Ã-Agora, está vazio de emoção!
O-O tempo não quer parar!
–
D-Deixei o relógio cair ao chão
E-E nem assim ele quebrou…
–
F-Felicidade não há na solidão!
É-É triste chorar sozinho no canto…
R-Recordando de tanta decepção!
I-Inaceitável ausência de carinho!
A-As férias estão em meu peito,
S-Sinto-me desfalecer deste jeito!
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Dorothy Jansson Moretti
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
Triste e sozinha eu me deito,
mas encontrando um desvão,
a lua invade o meu leito,
e afugenta a solidão.
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Antonio Manoel Abreu Sardenberg
São Fidélis/RJ
Amor perdido
A vida minha já não é mais minha
E nem mais meu este coração,
Você levou tudo de bom que eu tinha,
Só me restou esta solidão.
Água que passa não retorna mais,
Amor desfeito não se recupera,
É só passado que ficou pra trás,
Não se refaz… e agora já era!
O sentimento, quando é pequeno,
Só traz tristeza para o coração.
É bem pior que o pior veneno,
É prato feito pra desilusão.
E desse jeito vou levando a vida,
Segue à deriva minha embarcação…
Assim eu volto ao ponto de partida
E parto em busca de outra paixão.
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Jean-Jacques Rousseau
Genebra/Suiça, 1712 - 1778, Ermenonville, França
É sobretudo na solidão que se sente a vantagem de viver com alguém que saiba pensar.
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Paulo Roberto Oliveira Caruso
Rio de Janeiro/RJ
Teus olhos da cor da terra
são meu solo, são meu chão.
É neles dois que se encerra
minha antiga solidão!
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Fonte:
Folhetim Literário "Desiderata" - n.5 - janeiro de 2019 - Tema: Solidão
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