domingo, 6 de junho de 2021

Professor Garcia (Poemas do Meu Cantar) Trovas – 9 –

Amor! Quem no amor se esmera
faz da existência sofrida,
um riso de primavera
e esquece as mágoas da vida!
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Ante os seus atos incertos,
Pilatos, viu ante a cruz...
Jesus, de braços abertos,
enchendo o mundo de luz!
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Ao longe, escuto o cicio
de um canto triste e plangente;
é a voz cansada de um rio
chorando as dores que sente!
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A saudade se resume
no sisudo ritual,
desse silêncio sem lume
da solidão outonal!
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De volta à igrejinha antiga,
vi minha infância tão bela...
Cantando a ancestral cantiga
no altar da mesma capela!
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Dou meu conselho ao mais velho
num breve e simples resumo:
Segue a estrela do evangelho
que a luz da treva é sem rumo!
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Enquanto a lua se arruma
abre a janela e se alteia...
A onda escreve de espuma
hieróglifos na areia!
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Eu começo a perceber
que a saudade se completa,
nas horas do entardecer
do coração de um poeta!
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Eu guardo os sons e os afetos,
com os quais, mamãe me embalava;
e hoje, eu embalo os meus netos
com as canções que ela cantava!
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Mãe! O amor com que me aqueces,
e acende a luz que me guia,
se eu fosse pagá-lo em preces
seriam cem mil por dia!
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Mãe - três letrinhas, só três,
e em qualquer outro alfabeto,
gênio nenhum, nunca fez
palavra com tanto afeto!
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Meus versos, entre os aflitos,
se escondem da lua cheia;
porque versos mais bonitos
a espuma escreve na areia!
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Na infância, a gente nem sente,
quanto o tempo nos desgasta;
mas como desgasta a gente,
depois que a infância se afasta!
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Na infância, essa tez bonita!
Na velhice, não há fuga;
nem se escondendo, se evita
a mão da primeira ruga!
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Não precisa pressa alguma,
para a vida mais ditosa;
o sol, sem pressa nenhuma,
pinta a tarde cor de rosa!
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Num ranchinho abandonado,
no insensível desengano,
vive um sonho do passado
na bonequinha de pano!
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O rio, arrastando o entulho,
sem reclamar do que sente,
mostra a violência do orgulho
que entulha o peito da gente!
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Ó, sonho de amor de outrora,
te procuro tanto em vão,
que nem sei mais por quem chora
esse velho coração!
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Parte a jangada!... E, ante a bruma,
entrega os sonhos plebeus,
aos braços do mar de espuma
e aos remos das mãos de Deus!
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Por mais que não me respondas,
te pergunto, ó velho mar:
– Se não pões almas nas ondas,
quem faz a onda chorar?
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Prendi meus olhos, naqueles
olhos verdes, tão risonhos;
nem pensei que o riso deles
fosse a prisão dos meus sonhos!
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Quando a jangada se lança
aos sopros dos vendavais,
enfrenta o mar, na esperança,
de sempre voltar ao cais!
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Quem luta e crê não se cansa,
por mais que a vida se oponha;
que a crença, é a própria esperança
da paciência de quem sonha!
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Se a velhice nos impede
dos sonhos da mocidade...
Essa distância se mede
pelos passos da saudade!
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Sinto em velhas madrugadas,
que entre nós dois sempre a sós,
conversamos de mãos dadas
e há solidão entre nós!
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Só depois que o sol desmaia,
deixando o céu mais aflito,
a orquestra da tarde ensaia
seus arranjos no infinito!
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Tempo, por que me envelheces,..
Não vês que a melancolia
é a mais sofrida das preces
que se reza ao fim do dia?!...
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Velhos sonhos andarilhos!...
Hoje, cercados de afetos...
Vivem presos aos meus filhos
e aos carinhos de meus netos!

Fonte:
Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020.
Livro enviado pelo autor.

Sammis Reachers (A maratona da panificação: Quem vencerá?)

O tema deste capítulo não é um assunto politicamente correto, mas este livro e o próprio humor também não o são. Vamos falar de uma realidade algo delicada, algo controversa: os idosos que, valendo-se do fato de não pagarem passagem, e do tempo de sobra que têm para fazer (ou não fazer) o que quiserem, pegam ônibus à esmo, seja subindo num ponto para descer no seguinte, seja percorrendo grandes distâncias, por motivos fúteis ou mesmo à toa, para "fazer hora".

Em mais um dia comum na garagem da Ingá, pela manhã, a galera está reunida para aquela tradicional resenha, o bate-papo que dá o ânimo do dia. Alguém começa a falar do assunto, dizendo de um ancião que sai do bairro Fonseca para, todos os dias, comprar quatro míseros pães franceses no mercado Extra, no centro de Niterói. Sendo que, no mesmo Fonseca, ele tem à disposição umas 15 opções de compra, sem ter que apanhar ônibus algum. Todos os presentes dizem então conhecer casos semelhantes. Mas nisso o motorista Fabiano "Gueiry", antiga "cria" da empresa, toma a palavra e, dizendo que o que eles viam no dia-a-dia não era nada, passa a relatar o seguinte:

- Na linha do Apolo (bairro de São Gonçalo, coberto pela empresa Fagundes), eu costumava pegar às vezes o carro de certo motorista, no horário das 5h00. O motorista seguia normalmente apanhando os passageiros do horário nos respectivos pontos. A maioria, galera que trabalhava nos estaleiros de Niterói. Certa vez, ao apanhar uma leva e dar a arrancada no carro, alguns dos passageiros puseram-se a gritar:

- Ei! Ei, motorista! Está vindo um senhor lá atrás, espera ele aí!

Conhecendo a 'peça' e um pouco contrariado, o motorista ainda fez menção de acelerar mais o veículo, cujo horário era extremamente apertado, mas alguns dos passageiros sentados na parte de trás chegaram a xingá-lo.    

O motorista    então    puxou    o freio de mão e pacientemente esperou. Lentamente    o senhor se aproximou e subiu com dificuldade no ônibus.

- Obrigado meu filho, se eu perder esse ônibus eu não pego a fornada de pão das seis horas...

O motorista, a essa altura já com a cara fervendo e querendo ensinar uma lição aos passageiros, mesmo sabendo que estava completamente errado, resolveu ir devagar. Os pontos já ficavam normalmente cheios, e com a lentidão repentina eles enchiam ainda mais, e assim também o ônibus,    que nunca vira tantos passageiros na vida, enquanto o piloto tranquilamente se arrastava, rebocando como um pé-de-pano.

Aquela lentidão já prefigurava o atraso daqueles trabalhadores, que tinham hora certa para pegar no serviço. A insatisfação e o burburinho dentro do veículo só faziam crescer, até que a galera não se conteve e começou a reclamar:

- Como é que é, ô piloto! Vamo com essa carroça! Nós temos hora pra chegar em Niterói!

Era o momento pelo qual o motorista, alma tinhosa, esperara e trabalhara,

- Ué rapaziada, vocês têm hora? Não me xingaram, lá atrás, para esperar o coroa? Pensei que vocês não tivessem pressa.

- Mas ele é velho já, se perdesse esse ônibus o outro ia demorar!

- E vocês sabem o que ele vai fazer? Ele sai todos os dias lá do Apolo, só para ir em Niterói comprar meia dúzia de pães!!! Atravessa centenas de padarias, pega engarrafamento, toma chuva, só pra ir em Niterói comprar pão porque "o de lá é mais gostoso"! E ele não tem nada melhor pra fazer mesmo... Então esse é o preço do atraso de vocês: um saco com seis pães franceses. Agora podem xingar, pra ver se anima o motor.

A galera ficou contrariada e, confusa entre ficar com raiva do motorista vingativo ou do idoso de paladar exigente, ficou em silêncio o resto da viagem.

Desnecessário é dizer que eles nunca mais pediram àquele piloto para esperar ninguém!

Após tal relato, Fabiano acreditou que se sagrara o vencedor da disputa sobre a maratona da panificação, praticada diariamente por milhares de velhinhos. Mas então Marqulnho, motorista baixinho e grande zoador, morador do bairro gonçalense do Jockey, terminou de tomar seu café e tomou a palavra.

- Malandros, como alguns aqui sabem, antes de trabalhar como motorista na Ingá eu era da empresa Rosana, em São Gonçalo. Pegava às 17h00 e largava às OlhOO da madruga. Acontece que a garagem da Rosana era problemática, e quando chovia, corria o risco de alagamento. Assim, em noites de muita chuva o dono da empresa ligava pra lá e pedia pra galera fazer uma força e rodar até às 05h00 da manhã, e se ainda assim a chuva continuasse e a garagem ficasse alagada, era pra largarmos os ônibus nas ruas próximas a ela. Nessas vezes, sempre às 04h00 da manhã, quando eu ia com minha última viagem, já exausto, sempre pegava um velhinho, que dizia estar esperando o outro carro da linha, que era efetivo de todo dia, mas passava às 04h20. Com o tempo fui pegando uma certa amizade com o velho, pois sempre que tinha que rodar até às cinco lá estava ele, sem falta. Até que chegou certo dia, e eu perguntei:

– Trabalha aonde?

- Ô meu filho, eu não trabalho não... Sabe o que é, é que há muito tempo eu morei no município de Rio Bonito, e gostei muito do pão de lá. Aí todo dia eu vou lá comprar pão.

Ou seja: o indivíduo saía às 05h00 da matina do município de São Gonçalo, pegava dois ou três ônibus só de ida, e além de São Gonçalo atravessava os municípios de Itaboraí e Tanguá para chegar em Rio Bonito, quase duas horas depois... apenas para comprar pão.

E com essa bordoada o presepeiro do Marquinho aniquilou todos os presentes e sagrou-se campeão da disputa.

Fonte:
Ron Letta (Sammis Reachers). Rodorisos: histórias hilariantes do dia-a-dia dos Rodoviários.
São Gonçalo: Ed. do Autor, 2021.
Livro enviado pelo autor.

Estante de Livros (A Mulher que Escreveu a Bíblia, de Moacyr Scliar)

O Autor


 Moacyr Scliar, médico e escritor. Gaúcho de origem judaica, produziu ao longo de sua vida uma obra vasta que vai do romance ao ensaio, traduzida para doze idiomas e adaptada para o cinema, o teatro e a TV. Publicou entre outros a coletânea de contos "A orelha de Van Gogh", ganhadora do prêmio Casa de Las Américas e os romances "Sonhos tropicais" e "A majestade do Xingu", baseados nas vidas de Oswaldo Cruz e Noel Nuttels respectivamente.

Sinopse:

A mulher que escreveu a Bíblia é um pequeno romance em que se fundem as três maiores qualidades do gaúcho Moacyr Scliar: a imaginação, o humor e a fluência narrativa. Para estas qualidades recebeu o Prêmio Jabuti 2000.

Ajudada por um ex-historiador que se converteu em "terapeuta de vidas passadas", uma mulher de hoje descobre que no século X antes de Cristo foi uma das setecentas esposas do rei Salomão - a mais feia de todas, mas a única capaz de ler e escrever. Encantado com essa habilidade inusitada, o soberano a encarrega de escrever a história da humanidade - e, em particular, a do povo judeu -, tarefa a que uma junta de escribas se dedica há anos sem sucesso. Com uma linguagem que transita entre a elevada dicção bíblica e o mais baixo calão, a anônima redatora conta sua trajetória, desde o tempo em que não passava de uma personagem anônima, filha de um chefe tribal obscuro.

Moacyr Scliar recria o cotidiano da corte de Salomão e oferece novas versões de célebres episódios bíblicos. Em sua narrativa, repleta de malícia e irreverência, a sátira e a aventura são matizadas pela profunda simpatia do autor pelos excluídos de todas as épocas e lugares.

Tema:

Último romance escrito por Scliar e lançado no final de 1999, A mulher que escreveu a Bíblia reúne o que há de melhor no trabalho desse escritor cujo texto é marcado pela leveza, fluência e imaginação. Em sua trama bem urdida, misturam-se sem cerimônia erudição e escracho, sagrado e profano, História e ficção, sublime e ridículo, religião e sexo. Para escrevê-lo, Scliar baseou-se na hipótese do crítico norte-americano Harold Bloom de que uma mulher teria sido a autora da primeira versão da Bíblia, escrita no século X a.C.

A trama, que envolve um terapeuta de vidas passadas charlatão e apaixonado por sua paciente, leva-nos numa viagem aos esplendores do reinado do sábio rei Salomão em Israel, a cujo harém acaba de chegar uma mulher feia, apaixonada e - coisa incomum para a época - letrada. Será ela a narradora dessa história repleta de ação, aventura, paixão e intriga. Diversão garantida pelas hilariantes versões de episódios bíblicos, tratados com originalidade e irreverência rejuvenescedoras pelo talento de uma dos maiores representantes de nossa literatura.

Trecho:
"Bastava-me o ato de escrever. Colocar no pergaminho letra após letra, palavra após palavra, era algo que me deliciava. Não era só um texto que eu estava produzindo; era beleza, a beleza que resulta da ordem, da harmonia. Eu descobria que uma letra atrai outra, essa afinidade organizando não apenas o texto como a vida, o universo. O que eu via, no pergaminho, quando terminava o trabalho, era um mapa, como os mapas celestes que indicavam a posição das estrelas e planetas, posição essa que não resulta do acaso, mas da composição de misteriosas forças, as mesmas que, em escala menor, guiavam minha mão quando ela deixava seus sinais sobre o pergaminho."(p.41)

Resenha:

Em The Book of Jo, o crítico norte-americano Harold Bloom levanta a surpreendente tese de que a primeira versão da Bíblia hebraica teria sido escrita por uma mulher, na segunda metade do século X a.C. Moacyr Scliar, neste breve e delicioso romance, vai além: ao submeter-se a uma “terapia de vidas passadas”, uma mulher de nossa época descobre que foi ela que, há três mil anos, como a única letrada entre as setecentas esposas do rei Salomão, recebeu deste a incumbência de escrever a história da humanidade e do povo judeu.

É pelos olhos dessa mulher feiíssima e intelectualmente brilhante que percorremos os bastidores da corte de Salomão e a vida cotidiana da Jerusalém de seu tempo. Por essa via oblíqua, Moacyr Scliar constrói uma narrativa fascinante, que é ao mesmo tempo sátira e romance de aventura.

Como costuma acontecer nos livros do autor, o humor irreverente anda de braços com um profundo humanismo, cujo traço mais evidente é a simpatia pelos deserdados e excluídos. Aqui, Scliar, além de sua fabulosa imaginação, demonstra todo o seu virtuosismo literário ao misturar o registro elevado da linguagem bíblica com a fala desabusada da narradora/escriba, criando anacronismos deliberados e impagáveis.

Desse modo, brinda-nos com versões novas e hilariantes de célebres episódios bíblicos, como o das duas mulheres que recorreram a Salomão na disputa por um bebê (“prostitutas de uma estrela, no máximo”), ou o do encontro do rei dos judeus com a bela rainha de Sabá (a quem ele recita, com propósitos lascivos, os versos do Cântico dos Cânticos).

Diante desse banquete de fantasia e humor, nenhum leitor ficará indiferente.

Fonte:
Resenha por José Geraldo Couto e resumo disponíveis em
Orfeu Spam (site atualmente desativado)

sábado, 5 de junho de 2021

Versejando 59 (Alba Krishna Topan Feldman)

 


Silmar Böhrer (Croniquinha) 25

As calendas do outono têm sido contumazes incitantes de ideias e idealidades. Numa das andanças pelos caminhos diários, lembrei de uma página dos ANALECTOS, do filósofo Confúcio, onde laconicamente diz assim: " Não se desvie do caminho ".

Tão curta quanto certa é a afirmação - buscar um caminho como meta, seguindo obstinado na missão a que nos propusemos.

Com denodo e perseverança, cultivando pensares, saberes, viveres, fazendo o de que mais gostamos, parece ser o destino ditoso que podemos viver.

E viveremos !

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Versejando 60


 

Carlos Drummond de Andrade (Trem de Contos) 29 e 30


DIÁLOGO FINAL


— É tudo que tem a me dizer? — perguntou ele.

— É — respondeu ela.

— Você disse tão pouco.

— Disse o que tinha para dizer.

— Sempre se pode dizer mais alguma coisa.

— Que coisa?

— Sei lá. Alguma coisa.

— Você queria que eu repetisse?

— Não. Queria outra coisa.

— Que coisa é outra coisa?

— Não sei. Você que devia saber.

— Por que eu devia saber o que você não sabe?

— Qualquer pessoa sabe mais alguma coisa que outro não sabe.

— Eu só sei o que eu sei.

— Então não vai mesmo me dizer mais nada?

— Mais nada.

— Se você quisesse…

— Quisesse o quê?

— Dizer o que você não tem para me dizer. Dizer o que não sabe, o que eu queria ouvir de você. Em amor é o que há de mais importante: o que a gente não sabe.

— Mas tudo acabou entre nós.

— Pois isso é o mais importante de tudo: o que acabou. Você não me
diz mais nada sobre o que acabou? Seria uma forma de continuarmos.
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ENCONTRO

O personagem de Lúcio Cardoso hospedou por algumas semanas o personagem de Cornélio Pena. Nunca se viam, porque um dormia pela madrugada e o outro ao anoitecer. Não se encontravam à mesa, mas ambos diziam “bom dia”, sozinhos, referindo-se ao companheiro.

O personagem de Guimarães Rosa, encontrando aberta a porta da casa, entrou, não viu ninguém, deu tiros para o alto. Um buriti cresceu na sala de jantar, a vereda fluiu suas águas. Os personagens de Lúcio e de Cornélio acudiram ao mesmo tempo, surpresos. Ouviu-se a viola de Miguelão entoar modinhas do Urucuia. Todos beberam muito, e a noite acabou em antologia mineira, com ilustrações de Poty.

Fonte:
Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis. Publicado em 1981.

Cônego Benedito Vieira Telles (Jardim de Trovas)


1
A esperança também gera
o mal que a saudade tem,
quando a gente vive à espera
do sonho que nunca vem.
2
Amigo, qual tenra planta,
tem de ser bem cultivado.
Se outro valor se levanta,
você pode ser trocado...
3
A neve nos pinheirais,
nestas paragens do Sul,
forma brincos de cristais
na terra da gralha azul.
4
À sua mesa haja o pão,
partilhe-o com quem não tem.
Reparta-o com o irmão,
que não o falte a ninguém.
5
Às vezes, no entardecer,
prateia a lua as ramagens.
Velha árvore a fenecer...
Com ela, as frescas aragens!
6
A trova, menor poesia,
síntese da inspiração.
São sete pés de maestria,
que medram no coração!
7
A trova não envelhece,
assim é toda a poesia.
É perene como a prece,
imortal a cada dia!
8
A vida é dura, renhida,
porém tem muita poesia.
Faço parte da torcida
da esperança a cada dia.
9
Cidade do coração,
tens meio milhão de amores,
tu és a ‘Cidade Canção’,
Maringá, urbe das flores!
10
Coração de mãe é grande,
infinito como o amor.
Sua ternura se expande
como o perfume da flor!
11
Em vez de bombas, canhões,
fome, miséria, orfandade,
que se unam os corações
na paz da fraternidade!
12
Frondosa árvore, bendita,
que antepassados plantaram.
Árvore alegre, bonita,
de ti saudades ficaram!
13
Há festa no céu, na Terra,
foi a maior deste Mundo,
nos mares, rios e serras...
Natal, mistério profundo!
14
O domingo é do Senhor,
dia pascal do cristão.
Vamos ao altar do Amor
enriquecer-nos do irmão.
15
O homem foi feito perfeito,
à semelhança de Deus;
às vezes, fico sem jeito
de não ser igual aos meus.
16
Ontem falara às estrelas,
e sussurros seus ouvia.
Foi difícil entendê-las!...
Novo dia em cantoria.
17
Ouvir e ver as estrelas,
sonhara, enfim, o profeta.
Se Bilac falou com elas,
vale a pena ser poeta!
18
O vento farfalha a copa,
da árvore, folhas e flores,
e a ave o ninho envelopa
para abrigar seus amores.
19
Pode entrar. A casa é sua,
sempre me traz alegria.
Ao sair, esta é a rua...
se puder, volte. Bom dia!
20
Por que não curtir saudade,
que é parte do nosso ser?
– Saudade não tem idade,
fica em nosso entardecer.
21
Pra que possa haver perdão,
estenda a mão o ofensor
ao ofendido – e do irmão
cure a dor com muito amor.
22
Quanto mais a idade avança,
no longo tempo a correr,
eu tenho mais esperança
e mais prazer em viver...
23
Quisera ter coisas novas
escritas, mas tudo em vão.
Só encontrei algumas trovas
no escrínio do coração.
24
Quisera ter tantas vidas
pra levar a Paz e o Bem.
Lancei sementes nas lidas...
agradeço a Deus. Amém!
25
Receba, de coração,
o que posso repartir:
à mesa, um pouco de pão,
e a alegria de sorrir.
26
Rústico curral bovino,
maternidade do Amor.
– No corpo de um Deus-Menino,
nasceu-nos o Salvador.
27
Sai o hábil semeador
e lança a boa semente.
Chamado pelo Senhor,
planta-a na alma da gente.
28
Senhor, neste amanhecer,
louvo a tua criação:
da aurora ao entardecer,
eu te encontro em meu irmão.
29
Sigo minha trajetória
pelos caminhos, cantando.
No coração, trago a história
desde que O segui, sonhando.
30
Traz-me a árvore lembrança
dos verdes anos, agora.
Como foi bom ser criança,
com meus sonhos desde a aurora.
31
Tudo o que é criado passa,
porque tudo é contingente.
Deus sempre, com sua graça,
renova a vida da gente.
32
Uma prece eleve a Deus,
com fé peça hoje a cura
para alguém junto dos seus
e cure essa criatura.
==============================
Cônego Benedito Vieira Telles nasceu no Distrito de Campo Místico, hoje, cidade e comarca de Bueno Brandão/ MG, em 1928. Filho de pais católicos praticantes, Luiz Vieira Telles e Maria da Conceição Telles. Eram doze irmãos. Aos domingos, íam à Missa na Matriz de São Bom Jesus da Pedra Fria, igreja em que foi batizado, crismado, fez Primeira Comunhão. Nesta matriz rezou a Primeira Missa solene, em 1960, em Ação de Graças pelo chamado ao sacerdócio.
 
Em 1945, entrou no Seminário dos padres da Congregação Salesiana, em Lorena – SP. Concluídos os estudos de Filosofia e Teologia no Seminário Maior São José, Rio de Janeiro – DF, foi ordenado sacerdote por dom Jaime Luiz Coelho, em 1960, na primeira catedral de madeira, cujo bispo de Maringá ordenava-lhe o primeiro padre da diocese.

Foi nomeado vigário coadjutor da catedral, Secretário do Bispado, Chanceler da Cúria Diocesana. Implantou pastorais na catedral: catequese paroquial e nas escolas, Obras das Vocações Sacerdotais, cujas vocações floriram. Ia mensalmente às capelas dos distritos de Maringá, zonas rurais, para dar-lhes assistência espiritual. Fundou o Movimento Familiar Cristão e outros. Foi nomeado Cura da Catedral de Maringá. Pároco por quase nove anos. Foi transferido para a paróquia de Inajá. Depois, pároco em Guairaçá, Atalaia, comunidades desta arquidiocese. Exerceu o magistério de Direito na Universidade Estadual de Maringá até a aposentadoria e Unicesumar.

Colaborou na Folha do Norte do Paraná, imprensa diocesana e outras obras, que constam em Livros Tombos das paroquiais que administrou.


Fontes:
Trovas obtidas nos Boletins de Trovas "Trovia", de A. A. de Assis.
Biografia adaptada obtida da Arquidiocese de Maringá, em 2016.
http://arquidiocesedemaringa.org.br/noticias/695/60-anos-da-arquidiocese-de-maringa-conheca-a-historia-do-conego-benedito-vieira-telles

Marcelo Spalding (Abrir e fechar os olhos)

Insistem para que eu abra os olhos. Pegam na minha mão, acariciam meu rosto, tentam uma graça, um incentivo. Esperam, rezam, se revezam. Sai o Otávio, que fala baixo e suspira alto, sai de cabeça baixa, sem cumprimentar a irmã, entra a pequena, de sorrisos medidos, gestos ensaiados, olhar atento. Tem sido assim nos últimos quarenta e três dias, vivemos a mesma vida em mundos paralelos, eu preso à cama e eles acorrentados a mim.

Não sei precisar de onde veio o golpe, se do revólver de um vagabundo, da fúria de um vizinho, da violência de um motorista ou do capricho de um deus. Não sei compreender os motivos, as culpas, os remorsos, tampouco as ausências e os desejos que ficaram pra trás. Não sei aplacar a ânsia das pernas, acalmar a urgência dos pulmões, amenizar a dor da pele, iludir os sentidos. Mas enquanto permanecer nesse mundo poderei ver e ouvir os seres deste e do outro mundo, estar aqui e em todos os lugares, nesse e em todos os tempos.

A pequena traz uma cartolina enrolada, com alguma dificuldade vai revelando o papel e nele há fotografias, muitas, tantas quanto possível para uma vida pacata. Ela pede licença para colar o presente na parede, quer que seja minha primeira visão no dia em que eu abrir os olhos. Com cuidado prende as pontas, ajeita os recortes, observa o resultado. No fundo não acredita que eu esteja ouvindo, mas fala alto, fala para si, não sabe ainda que eu não apenas vejo cada imagem como também me transporto para o dia em que foi tirada, visito cada casa, abraço cada amigo. Reparo, depois de uma reveladora e cansativa volta no tempo, que em algumas sorrio, em muitas não, em algumas estou sentado, em outra de pé, em algumas estou sem camisa, em outros de terno e gravata, em algumas olho para a câmera, em outras para um ponto qualquer, mas em nenhuma, absolutamente em nenhuma delas estou sozinho, como em nenhum momento dessa viagem me senti sozinho, nem no dia da morte da filha bebê nem no dia da certeza que ela não voltaria aos meus braços nem na derradeira manhã do golpe. Nunca.

A cartolina fica na parede. Com o passar dos dias me acostumo com a presença dos pequenos e aprecio a persistência da pequena, que depois das fotos trouxe um radinho, um bibelô da casa, meu travesseiro. E cada vez que exibia o presente, insistia para que eu abrisse os olhos, uma insistência classificada por médicos e enfermeiros como comovedora, ingênua e triste. Mas ela se aproximava, beijava meu rosto como nunca dantes, baixava a cabeça para rezar e dizia: eu espero, pai, eu espero o tempo que tu precisar.

Para ela foram meses, para mim apenas um instante, pois o tempo não é igual em todos os mundos. Um dia ela chegou sem esconder uma alegria transcendente, alegria maior que os primeiros traços de preocupação já cravados na face, maior que o permitido pelo fio desesperado de esperança no meu retorno, e me pediu para abrir os olhos e ver o milagre da vida. Pegou na minha mão e a pousou com cuidado no seu ventre, com a mão já posta falou que o bebê teria o meu nome e não em memória, mas como homenagem a alguém que escolheria viver, e nesse dia lembrei do meu primeiro bebê, do anjo que partira cedo, e finalmente cedi ao desejo de todos.

Devo ter aberto um olho só e com grande dificuldade, pois demorei para ter uma visão clara do rosto delicado da pequena, do rosto de traços tão semelhantes ao da minha juventude, e quando consegui ela chorava sem soluçar, as lágrimas escorrendo e caindo na minha mão morta sobre o ventre vivo. Abri um olho, depois outro, ou parte dele, abri-os e meu olhar não deve ter transmitido dor, nem medo, nem revolta, nem tristeza. Em pouco tempo todos meus filhos estavam ali e a pequena segurava a cartolina que me trouxera de volta para o mundo dela. Um por um se aproximaram e beijaram minha face, como nunca antes.

Não voltei a fechar os olhos, observava tudo com a intensidade de quem já conhecera outro mundo. E não voltaria a fechar os olhos jamais não fosse a pergunta muito grave da pequena: a gente te quer por perto seja como for, pai, mas precisamos saber se tu também quer. Tu quer, pai? Responde pra nós, dá um sinal. Tu quer ficar com a gente? Eu jamais voltaria a fechar os olhos, mas precisei fechá-los e abri-los com calma para que entendessem meu sim. Sim.

Daquele dia em diante, abrir e fechar os olhos deixou de ser um gesto involuntário, singelo, automático. Foi com um abrir e fechar de olhos que concordei com o nome do bebê, com um abrir e fechar de olhos que agradeci à pequena, com um abrir e fechar de olhos que aprovei a cartolina com fotos e, mais tarde, com um abrir e fechar de olhos que escolhi cama, quarto, médicos. Foi com um abrir e fechar de olhos que escolhi viver.

sexta-feira, 4 de junho de 2021

Adega de Versos 26: Olivaldo Júnior

 

Humberto de Campos (A Vingança)

O caboclo Saturnino, agricultor em Jacarepaguá, era, por natureza um homem morigerado (*bem-educado). Criando os seus porcos, as suas cabras, os seus perus, as suas galinhas, fazia o possível para que a bicharada não saltasse a cerca, indo devastar as plantações dos vizinhos. Se ele se indignava até à inconveniência quando um bode alheio lhe penetrava o roçado, era natural que os outros se revoltassem, também, quando vítimas de idênticas depredações.

Não obstante os cuidados de todo o dia, tapando, endireitando, recompondo os menores buracos do cercado, foi o Saturnino surpreendido, uma tarde, pela falta de uma das galinhas mais gordas do terreiro. Experiente como era, saiu o caboclo pelo fundo do quintal, e ao olhar para a cozinha do seu compadre Teodoro Maniva, descobriu lá a sua galinha, que estava sendo depenada pela dona da casa. Saturnino rodeou o cercado, bateu à porta da frente e queixou-se do que lhe haviam feito. Positivamente, aquilo não era sério, nem digno de um homem de bem... Teodoro sorriu, e desculpou-se:

- Ora, compadre, para que brigar? Vamos entrar num acordo. A galinha já está na panela; venha jantar hoje, comigo...

Inimigo de questões, Saturnino aceitou o convite, esperou a hora, jantou, despediu-se, e dirigiu-se para casa, de cabeça baixa, imaginando o meio de tomar desforra do seu compadre Teodoro.

Esta não foi difícil. A Brígida, mulher do Teodoro, era uma cabocla forte, rochonchuda, atarracada, cujos olhos faiscavam toda a vez que divisavam, na vila ou nas estradas, o vulto do Saturnino. O caboclo recordou-se disso e, com o propósito da represália, resolveu explorar essa fraqueza da comadre. E tanto fez, tanto virou, tanto mexeu, que, um dia, ao voltar do roçado, o Teodoro não encontrou mais a mulher. Desconfiado, rumou para a casa do Saturnino, e bateu.

- Quem é? - perguntaram de dentro.

- Sou eu! - trovejou o Teodoro.

Saturnino apareceu na soleira do casebre e o outro indagou, feroz:

- A Brígida não está aqui?

O caboclo sorriu, batendo-lhe no ombro:

- Está aí, compadre. Ela está aí dentro.

E tomando-o pelo braço, puxando-o para a cabana:

- Entre, compadre. Fique para dormir com a gente...

Fonte:
Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. 1925.

A Árvore em Versos - 2


Giuseppe Artidoro Ghiaroni
(Paraíba do Sul/RJ, 1919 – 2008, Rio de Janeiro/RJ)


AS ÁRVORES CORTADAS

Deceparam as árvores da rua!
Sem troncos hirtos na calçada fria,
a rua fica inexpressiva e nua;
fica uma rua sem fisionomia.

0 sol, com sua rústica bondade,
aquece até ferir, até matar.
E a rua, a rir sem personalidade,
não dá mais sombras aos que não têm lar.

As árvores, ao vento desgrenhadas,
não lastimam a peia das raízes:
Olvidam suas dores, concentradas
no sofrimento de outros infelizes.

Eu penso, quando à frente dos casais
vem sentar-se um mendigo meio-morto,
que uma fronde se inclina um pouco mais,
para lhe dar mais sombra e mais conforto.

Sem elas, fica a triste perspectiva
de uns muros esfolados, muito antigos,
que se unem na distância inexpressiva
como se unem dois trôpegos mendigos.

Quando vier com o seu farnel de lona,
arrimar-se à sua árvore querida,
o ceguinho de gaita e de sanfona
será capaz de maldizer a vida.

E aquela magra e trêmula viúva
que anda a esmolar com filhos seminus,
quando o tempo mudar, chegando a chuva,
dirá que dela se esqueceu Jesus!...

Meu Deus, seja qual for o meu destino,
mesmo que a dor meu coração destrua,
não me faças traidor, nem assassino,
nem cortador de árvores da rua!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

José de Alencar
(Fortaleza/CE, 1829 – 1877, Rio de Janeiro/RJ)


ÁRVORE SIMBÓLICA

– Que fazes tu, em meio do caminho,
Loureiros ideais amontoando?
Olha... com astros já formei teu ninho:
Vem dormir... inda há dia, e estás suando. –

Falou-lhe a morte assim com tal carinho,
Que ele dormiu, a obra abandonando:
E quando o mundo o procurou, foi quando
Viu que um sol cabe num caixão de pinho.

Devia ser-lhe marco à cabeceira
Uma águia, abrindo as asas remontada...
Não tem... plantemos tropical palmeira.

O tronco esbelto, a coma derramada
Dará ideia duma vida inteira
Sempre a subir... sempre a subir coroada...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Joyce Kilmer
(EUA, 1886 – 1918, França)

ÁRVORES


Sei que nunca verei um poema mais belo e ardente,
do que uma árvore; uma árvore que encerra
uma boca faminta, aberta eternamente
ao hálito sutil e flutuante da Terra.

Voltada para Deus todo o dia, ela esquece
os braços a pender de folhas, numa prece.
Uma árvore, que ao vir do estio morno, esconde
Um ninho de sabiás nos cabelos da fronde.

A neve põe sobre ela o seu níveo diadema
e a chuva vive na mais doce intimidade
do tronco, a se embalar nos galhos seus;
Qualquer néscio como eu sabe fazer um poema.
Mas quem pode fazer uma árvore? – Só Deus.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Maurice Rollinat
(França, 1846 – 1903)


A TRISTEZA DAS ÁRVORES

Oh! grandes vegetais! oh! mártires do estio!
Liras das virações – os músicos dos ares –
Quer verdes estejais, quer vos despoje o frio,
O poeta vos adora e vos sente os pesares!

Quando o olhar do pintor procura o pitoresco
É em vós que sacia a sôfrega avidez,
Porque vós sois o imenso e formidável fresco
Com que a terra sem fim cobre a sua nudez.

Quando estala o trovão, e o granizo peneira,
É a floresta um mar de encapeladas águas,
E tudo – a tília enorme ou a frágil roseira –
Solta nos penetrais lamentações de mágoas.

E vós, que muita vez, silentes como os mármores,
Adormeceis tal como as almas sem receio,
Então rugis, torcendo os braços, pobres árvores,
Sob as patas brutais de elementos sem freio!

Quando a ave os olhos fecha ao verão que a quebranta
Dos vossos ramos vai dormir ao brando afago;
Eles servem de abrigo à pedra e à débil planta
E casam sua sombra à fresquidão do lago.

Só nas noites de Maio, aos clarões estrelares,
Aos aromas sutis que as caçoulas exalam,
É que esquecer podeis as dores seculares,
Dormindo um sono bom que os zéfiros embalam.

O sol vos cresta e morde; o aquilão vos vergasta;
– Vivos embora – o inverno, frígida mortalha,
Vos cinge; e como enfim tanto sofrer não basta,
A rir o lenhador vossas carnes retalha.

Na cidade, no campo ou nas ínvias devesas,
Onde quer que vivais, olmos, faias, carvalhos,
Eu fraternizo com as enormes tristezas
Que derramam pelo ar vossos sombrios galhos...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Pedro Tamen
(Lisboa/Portugal)

ÁRVORE

Cresce e vem do fundo da terra
ou do fundo do tempo.
Sobe para um céu
que afinal não conhecemos.
No intervalo há vida
– e também ela cresce:
nela se encerra
o que somos e temos;
e se desvela o véu.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

William Vicente Borges
Rio de Janeiro/RJ


A ÁRVORE E O MENINO LEVADO

Uma mangueira, nenhuma manga.
Um menino levado, nenhum juízo.
E por que não pular de galho em galho?
Afinal árvore e menino levado
Formam um par bem adequado.

Só que o menino levado não sabia
Que nem toda árvore está de brincadeira
E que nem todo galho só enverga.
E bem do alto da mangueira então,
Feliz da vida caiu o menino ao chão.

Todo arranhando saiu o menino
Com o galho ainda sob si,
Todos os amiguinhos atônitos
Não se atreveram a na árvore subir.
Mas a lição aprendida pôs todos a rir...

A mangueira ficou lá meio esquecida
Mas muitas frutas vieram a nascer
E lá foi o menino levado –
Só que desta vez não subiu nos galhos –
Com vara de bambu foi alto colher.

O menino levado cresceu e virou moço
E sempre que pode vai a árvore visitar
E na sombra dela ri do acontecido.
Menino levado e árvore combinam, sim.
O que não combina é não ser precavido.

Fonte:
Sammis Reachers (org.). Árvore: uma antologia poética. São Gonçalo/RJ, 2018. E-book.

Paulo Mendes Campos (O homem que odiava ilhas)

- Não tem um escritor americano que só queria levar para uma ilha deserta um manual do perfeito construtor de barcos?

- Chesterton. Não é americano, é inglês.

- Pois é. Também eu tenho horror às ilhas. Estávamos num barco de pesca em Cabo Frio. O senhor atlético, já meio grisalho, ao qual eu fora apresentado pouco antes, continuou a falar:

- Não dou para Robinson. Até sinto saudade do meu apartamentinho da Rua 49, bem no meio da confusão, morei lá oito anos. Estava só há um mês em Nova York - trabalhando para uma firma, sou engenheiro - quando me chamaram para topar uma pescaria no Maine. Fomos de trem, num fim de semana, seis rapazes e seis moças. Convidei para ir comigo uma garota que trabalhava no escritório, um amor de alemãzinha, chamada Graziela. O nome é italiano mas era filha de alemães. Fazia parte do grupo um rapaz, forte pra burro, que eu não conhecia antes, um tal Aiken, que resolveu dar em cima da minha pequena. Veja o meu azar.

Não sei se por eu ser sul-americano, moreno assim, o sujeito de vez em quando empurrava uma piadinha para o meu lado, a turma se esbaldava; eu também ria, fazendo aquilo que eles chamam de fair-play*. No domingo, um dia maravilhoso, muito azul, estávamos pescando na praia, quando resolvemos tomar duas lanchas de aluguel para ir até umas ilhas que a gente avistava dali. Logo na primeira ilha, dei sorte e peguei três peixes; mas os outros resolveram tentar a outra, a um quilômetro, ficando de me apanhar depois. Graziela seguiu com a turma. Ali pelas quatro horas, comecei a achar que eles estavam demorando a voltar. Uma fome horrível. Mas você sabe como é esse negócio de pescaria; se o peixe está dando, ninguém se lembra do tempo. Não liguei muito. A ilha não tinha nada, era um pouco parecida com a das Palmas. Aquilo mesmo, umas árvores magras e pedra. O tempo foi passando, o sol esfriou, eu fui ficando desconfiado. Quando anoiteceu, confesso que não gostei. Uma ilhazinha de nada no mar, tudo escuro, num país estrangeiro; e umas aves desagradáveis guinchando em cima de minha cabeça. O frio era de rachar, e eu de calção e blusa. Ajuntei uns gravetos e acendi uma fogueira, a duras penas; para aquecer-me e com a esperança de que algum barco me visse. O fogo não durou nada, madeira úmida. Começou a bater um vento gelado, meu velho, de dar calafrio. Quando achei que eles não voltariam mesmo me deu um ódio de morte. Precisei de berrar todos os palavrões que sabia para me acalmar um pouco. Sabe o que tinha acontecido? Quando as duas lanchas foram buscar o pessoal na outra ilha, Aiken disse para o motorista da segunda, e para Graziela que dera ordem para o primeiro barco ir me buscar.

Em terra, convenceu a turma de que eu, furioso por ter esperado tanto tempo, havia tomado o trem sozinho. Mas só soube disso depois. De qualquer forma, aquilo só podia ser coisa do tal Aiken. Já se imaginou na minha situação?! Ser passado assim pra trás! Me deu tanta raiva que chorei. Consegui arrancar uns galhos de uns arbustos e me cobri mais ou menos com eles, disposto a esperar a madrugada. Mas não aguentei. Ainda por cima, o cigarro acabou. E aqueles pássaros piando e esvoaçando na copa das árvores me punham nervoso. Sem que medisse bem as consequências do que ia fazendo, caminhei até uma rocha, resolvido a sair dali de qualquer jeito. Queria ajustar contas com Aiken o mais depressa possível. Calculei que da ilha à praia devia ser coisa de uns quatro quilômetros. Eu via lá na costa uma luzinha acesa provavelmente do bar onde trocáramos de roupa. Larguei na ilha o caniço e o molinete - uma beleza de molinete -, caí n'água, e fui nadando na direção da luz.

Nado bem mas o mar estava bastante grosso e, pior de tudo, frio feito gelo. Se me desse uma cãibra, adeus brasilzinho. Fui nadando. A luz do bar me guiava. Às vezes, uma onda mal-intencionada me cobria; a luz sumia. Depois a luz acabou sumindo mesmo. Cúmulo do azar: tinham apagado a lâmpada. A cãibra queria chegar, eu boiava um pouco, não tinha estrelas quase, só a Lua, Lua Nova. Mas, boiando, o meu sentido de direção piorava. Outras vezes, achava que nadava para dentro do mar, e não para a praia. Isso era pavoroso. Essa impressão acabou tão forte, que decidi nadar na direção contrária. Uma felicidade louca: exatamente quando ia virar, vi a luz de um carro passando pela costa. Nadei como um cão. Não sei quanto tempo, umas quatro horas. A costa era quase toda de rochedos, só em um pequeno trecho era de seixos. Tive uma sorte tremenda, dei no lugar dos seixos. Cheguei morto, tremendo e batendo queixo como uma caveira. Bati no bar, não apareceu ninguém.

Esmurrei a porta. Apareceu um rapazinho, o vigia, os proprietários já haviam ido embora, ele não tinha a chave; que eu viesse buscar as minhas roupas no dia seguinte.

Tiritando de frio, andei até a estrada e comecei a pedir carona. Um caminhão parou. Quando o chofer me viu, de calção, todo molhado, perguntou: "Where did you come from?" De onde você veio? Dali, respondi, apontando para a ilha. Ah, o sujeito ficou besta, deu-me um aperto de mão. No caminho da cidadezinha, contei-lhe a história toda. O cara ficou no maior entusiasmo, e me levou a um boteco, onde chamou os amigos para dizer tudo que se passara comigo. Gente simples, da melhor qualidade.

Me pagaram uísque, sanduíches, até roupa me arranjaram, e me emprestaram dinheiro para a passagem de volta. Mandei um cheque depois em nome do dono do bar.

- E o tal de Aiken?

- No dia seguinte, Graziela me deu o telefone dele. Marcamos um encontro num lugar ermo. O cabra era bom no boxe. Mas naquela época eu jogava capoeira e, modéstia à parte, era também uma parada amarga. Foi uma das melhores brigas da história dos Estados Unidos, isso eu posso lhe garantir que foi. Não sei quem venceu; de minha parte, fiquei satisfeito. Agora, se eu lhe disser uma coisa, você não vai acreditar. Dessas que só acontecem nos Estados Unidos, Aiken se tornou o meu melhor amigo. Ainda outro dia me escreveu participando o nascimento de seu terceiro filho. Sou até padrinho do primeiro, o Kenneth.

- E a alemãzinha?

- Graziela? É a mulher dele, mãe dos garotos.
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**Fair-play: em inglês significa "jogo limpo, justo, honesto; que segue as regras estabelecidas.

Fonte:
Paulo Mendes Campos. O cego de Ipanema. RJ: Editora do Autor, 1960.

Aprenda a usar a vírgula com 4 regras simples

A vírgula é um dos elementos que causam mais confusão na língua portuguesa. Pouca gente sabe ao certo onde deve e onde não deve usá-la.

O motivo disso é simples: sempre nos ensinaram de forma errada!

Você já deve ter ouvido dizer coisas como "a vírgula é usada para indicar pausa", ou "prestem atenção em como vocês falam, quando tiver pausa, usem vírgula". Isto é asneira, pois cada um de nós fala de maneira diferente, usa pausas diferentes e, basicamente, decide como quer falar.

Mas não podemos, simplesmente, decidir onde tem e onde não tem vírgula.

Ela tem poder demais para ser arbitrária. Quer ver o enorme poder da Vírgula? Pois bem, existem algumas regras para o uso da vírgula, e elas são baseadas na gramática. Calma, não se assuste! O meu objetivo aqui é "mastigar" a gramática para que não estrague os seus dentes:

1. USE A VÍRGULA PARA SEPARAR ELEMENTOS QUE VOCÊ PODERIA LISTAR

Veja esta frase:

João Maria Ricardo Pedro e Augusto foram almoçar.

Note que os nomes das pessoas poderiam ser separados numa lista:

Foram almoçar:
• João
• Maria
• Ricardo
• Pedro
• Augusto

Isso significa que devem ser separados por vírgula na frase original:
João, Maria, Ricardo, Pedro e Augusto foram almoçar.

Note que antes de “e Augusto” não tem vírgula.

Regra geral, não se usa vírgula antes de “e”. Há um caso específico que explico mais à frente.

Um outro exemplo:

A sua fronte, a sua boca, o seu riso, as suas lágrimas, enchem-lhe a voz de formas e de cores… (Teixeira de Pascoaes)

2. USE A VÍRGULA PARA SEPARAR EXPLICAÇÕES QUE ESTÃO NO MEIO DA FRASE

Explicações que interrompem a frase são mudanças de pensamento e devem ser separadas por vírgula. Exemplos:

Mário, o jovem que traz o pão, não veio hoje.

Dá-se uma explicação sobre quem é Mário.

Eu e tu, que somos amigos, não devemos guerrear.

O trecho destacado explica algo sobre "eu e tu", portanto deve estar entre vírgulas. A classificação do trecho seria oração adjetiva explicativa.

3. USE A VÍRGULA PARA SEPARAR O LUGAR, O TEMPO OU O MODO QUE VIER NO INÍCIO DA FRASE

Quando um tipo específico de expressão — aquela que indica tempo, lugar, modo e outros — iniciar a frase, usa-se vírgula. Noutras palavras, separa-se o adjunto adverbial antecipado. Exemplos:

Lá fora, o sol está de rachar!

“Lá fora” é uma expressão que indica “lugar”. Um adjunto adverbial de lugar.

Na semana passada, todos vieram jantar aqui em casa.

“Na semana passada” indica tempo. Adjunto adverbial de tempo.

De um modo geral, não gostamos de pessoas estranhas.


“De um modo geral” é sinônimo de “geralmente”, adjunto adverbial de modo, por isso tem vírgula.

4. USE A VÍRGULA PARA SEPARAR ORAÇÕES INDEPENDENTES

Orações independentes são aquelas que têm sentido, mesmo estando fora do texto. Já vimos um tipo dessas, que são as orações coordenadas assindéticas, mas também há outros casos. Vamos ver os exemplos:

Acendeu um cigarro, cruzou as pernas, estalou as unhas, demorou o olhar em Mana Maria.

Neste exemplo, cada vírgula separa uma oração independente. Elas são coordenadas assindéticas.

Eu gosto muito de chocolate, mas não posso comer para não engordar.

Eu gosto muito de chocolate, porém não posso comer para não engordar.

Eu gosto muito de chocolate, contudo não posso comer para não engordar.

Eu gosto muito de chocolate, no entanto não posso comer para não engordar.

Eu gosto muito de chocolate, entretanto não posso comer para não engordar.


Eu gosto muito de chocolate, todavia não posso comer para não engordar.

Entendeu? Antes de todas essas palavras, chamadas de conjunções adversativas, têm vírgula.

Agora só faltam mais duas coisinhas:

Quando se usa vírgula antes de “e”?


Vimos em cima que, regra geral, não se usa vírgula antes de “e”. Há só um caso em que se usa vírgula, que é quando a frase depois do “e” fala de uma pessoa, coisa, ou objeto (sujeito) diferente da que vem antes dele. Assim:

O sol já ia fraco, e a tarde era amena.

Note que a primeira frase fala do sol, enquanto a segunda fala da tarde. Os sujeitos são diferentes. Portanto, usamos vírgula.

Outro exemplo:

A mulher morreu, e cada um dos filhos procurou o seu destino.

O mesmo caso, a primeira oração diz respeito à mulher, a segunda aos filhos.

Existem casos em que a vírgula é opcional?

Existe um caso. Lembra-se do item 3, em cima? Se a expressão de tempo, modo, lugar etc. não for uma expressão, mas sim uma palavra só, então a vírgula é facultativa. Vai depender do sentido, do ritmo, da velocidade que você quer dar para a frase.

Exemplos:

Depois vamos sair para jantar.

Depois, vamos sair para jantar.

Geralmente gosto de almoçar no 'shopping'.

Geralmente, gosto de almoçar no 'shopping'.

Na semana passada, todos vieram jantar aqui em casa.

Na semana passada todos vieram jantar aqui em casa.

Note que este último é o mesmo exemplo do item 3. Vê como sem a vírgula a frase também fica correta? Mesmo não sendo apenas uma palavra, dificilmente algum professor dará errado se você omitir a vírgula.

Não se usa a vírgula!

Com as regras acima, pode ter a certeza de que vai acertar 99% dos casos em que precisará da vírgula. Um erro muito comum que vejo é gente separando sujeito e predicado com vírgula. Isso é errado!

Forma errada:

João, gosta de comer batatas.

Alice, Maria e Luísa, querem ir para a escola amanhã.

Forma certa:

João gosta de comer batatas.

Alice, Maria e Luísa querem ir para a escola amanhã.

Exercício sobre vírgula e pontuação

O sr. Alfredo estava já no fim da vida e escreveu o seu testamento.

Infelizmente, esqueceu-se da pontuação, e o texto ficou assim:

Deixo minha fortuna ao meu sobrinho não à minha irmã jamais pagarei a conta do alfaiate nada aos pobres.

Reescreva o testamento 4 vezes. Em cada uma delas você deve dar a herança para alguém diferente. Pode usar qualquer sinal de pontuação, mas não pode mudar as palavras.

É um exercício interessante e tem várias formas de ser resolvido.

Fonte:
Artigo de Prof. André Gazola, disponível em Lino Mendes (coordenador). Boletim em linha Montargil Acção Cultural. N. 95. Abril de 2021.
Boletim enviado por Lino Mendes.

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Projeto Apparere: Coletânea Preconceito - Julgamentos e Generalizações (Prazo: 14 de Junho)


Temática sugerida por: Cláudio Carvalho Fernandes, Nuno Lima, Tarique Layon e Thiago Leal Lemes

Para esta Coletânea buscamos textos que abordem e reflitam sobre todo e qualquer tipo de preconceito, sejam eles por raça, cor, deficiências, gênero, personalidade, tudo que é “fora do padrão”. A vida dessas pessoas, vítimas do preconceito, muitas vezes acabam estando em risco, por terceiros e até mesmo por elas próprias. Precisamos falar cada vez mais sobre isso...

Os textos poderão ser de qualquer gênero (Poesia, Cordel, Trova, Haikai, Conto, Crônica, Roteiro, etc.), pois o objetivo é termos uma obra “monotemática e multiestilo”.

Objetivo:
Estimular a produção literária brasileira, valorizar novos talentos e dar visibilidade aos Escritores, Poetas, Contistas, Cronistas e etc.

Considerando que a participação é Gratuita, objetivamos ter uma grande quantidade de inscrições de modo a podermos fazer uma seleção de obras com altíssima qualidade.

Inscrições:

- As inscrições deverão ser feitas única e exclusivamente através do preenchimento do formulário, no link http://www.apparere.com.br/regulamento-coletanea-preconceito.php
 
- Veja no Cronograma abaixo a data limite para as inscrições.

Regulamento de Participação (quem e como participar):

- Poderão participar Escritores, Poetas, Contistas e Cronistas maiores de 18 anos de qualquer nacionalidade, residentes no Brasil ou no exterior com documentação brasileira, e seus trabalhos deverão ser obrigatoriamente escritos em língua portuguesa (o que não impede o uso de termos estrangeiros no texto).

- Os participantes farão seus cadastrados no formulário de inscrição no link http://www.apparere.com.br/regulamento-coletanea-preconceito.php

- O Autor deverá usar seu nome legítimo (verdadeiro) no cadastro, entretanto, se desejar, poderá utilizar seu nome artístico ou pseudônimo na publicação da Coletânea, para isso deverá colocá-lo junto ao texto enviado.

- Cada participante poderá inscrever uma única Obra por Coletânea, podendo participar de outras Coletâneas.

- A temática da Obras deverá estar em linha com o tema da Coletânea com o objetivo acima definido, sendo que a criatividade e imaginação do escritor darão o toque e estilo ao trabalho.

- Não há exigência de que a Obra (poesia, conto, crônica, etc.) seja inédita, podendo já ter sido publicada, exceto em outra Coletânea do Projeto Apparere.

- É de inteira responsabilidade do Autor a correção ortográfica/revisão do texto ou textos enviados para esta Coletânea, sendo este inclusive um dos critérios de seleção. Desta forma não será feita nova revisão do texto.

- As Obras (poesia, conto, crônica, etc.) deverão conter título, sendo que a não observância dessa exigência excluirá a Obra da avaliação.

- As obras inscritas serão analisadas e selecionadas mediante avaliação de profissionais nomeados pelo Projeto Apparere, cujas decisões serão soberanas e irrecorríveis.

- O envio do texto será feito única e exclusivamente através desta página, através do formulário abaixo.

- A obra deverá estar em arquivo Word(.doc ou .docx) fonte Times New Roman ou Arial, tamanho 12, com espaçamento simples e ter no máximo 5 (cinco) páginas padrão do Word (A4).

Custos de Participação:

- A participação nesta Coletânea não ensejará em nenhum custo aos participantes, portanto será Gratuita.

- Também não há nenhuma obrigatoriedade de aquisição nem de exemplares e nem de serviços oferecidos pela Apparere e/ou pela PerSe.

Divulgação e Lançamento da Coletânea:

- O Lançamento da Coletânea será Online, com uma data para início das vendas dos livros.

- Antes do Lançamento será feita campanha de divulgação, contendo:
 
   . E-mail Marketing para a Base de clientes da Apparere e da PerSe.
    . Banners e nosso site.
    . Divulgação através de nossas Redes Sociais.
    . Assessoria de Imprensa.
    . Envio de Material de Divulgação aos Participantes para que esses divulguem em suas Redes Sociais e através de e-mail aos conhecidos.

Direitos Autorais:

- Não haverá cessão de Direitos Autorais, ou seja, os trabalhos continuarão pertencendo a seus autores, entretanto os Escritores/Autores/Poetas autorizam a comercialização de sua obra através da Coletânea, abdicando de qualquer remuneração sobre sua obra.

- Os Escritores/Autores/Poetas participantes responderão legalmente e individualmente sobre plágio, publicação não autorizada, calúnia, difamação e não autoria, isentando a PerSe e o Projeto Apparere de qualquer responsabilidade sobre o conteúdo enviado para a Coletânea.

- É de total responsabilidade dos participantes a veracidade dos dados fornecidos à organização.

- Todos os participantes de antemão ficam cientes e dão permissão e autorização para a publicação e comercialização de sua Obra (poesia, conto, crônica, etc.), e a veiculação na mídia de seus nomes, imagens e textos, em sites, pela PerSe e pela Apparere, desde que dentro do contexto das Coletâneas do Projeto Apparere e para benefício da maior visibilidade da obra e seu alcance junto ao leitor.

Sobre as Características e as Vendas dos Livros:

- A Coletânea será composta dos textos selecionados e de minibiografia dos participantes.

- Para a Capa da Coletânea faremos um concurso com designers que desejarem participar, e quem escolherá a capa da Coletânea serão os Autores que estiverem participando.

- Esta será impressa em Livro com as seguintes características: Brochura Formato 14x21; Miolo em Papel Polen 80g, impresso em uma cor; Capa Cartão 250g com orelhas impressa a 4 cores e laminação brilho/fosco.

- A Comercialização do livro impresso da Coletânea se dará através da Loja Online da Perse.

- Os participantes poderão adquirir os livros impressos por valor sempre inferior ao Preço de Venda da Loja Online, desde que em volume mínimo de 10 exemplares. Para isso deverá solicitar orçamento, através do e-mail do Projeto.

- Os participantes poderão adquirir os livros impressos por valor sempre inferior ao Preço de Venda da Loja Online, desde que em volume mínimo de 10 exemplares. Para isso deverá solicitar orçamento, através do e-mail do Projeto.

- Os participantes poderão adquirir os livros impressos por valor sempre inferior ao Preço de Venda da Loja Online posteriormente divulgado.

- A Comercialização da Coletânea também será feita no formato eBook (PDF e ePub) através da Loja OnLine da PerSe e também através da Plataforma de Terceiros parceiros da PerSe

- O livro impresso da Coletânea poderá ser colocado em comercialização nas Feiras e Bienais, em estande da própria PerSe, quando esta vier a participar.

- O livro terá registro no ISBN.

Cronograma Geral da Coletânea:

- Final das inscrições: 14/06/2021
- Divulgação aos selecionados: 01/07/2021
- Data de Lançamento e Início das Vendas: 16/07/2021

Observações Gerais:


- Dúvidas relacionadas a esta Coletânea e seu regulamento poderão ser enviados para o e-mail: apparere@perse.com.br

- Todos os contatos entre o Projeto Apparere e os Participantes serão realizados através de e-mail. Portanto os participantes devem ficar atentos.

- Todas as dúvidas e casos omissos neste regulamento serão analisados por uma equipe da PerSe e do Projeto Apparere, e sua decisão será irrecorrível.

- O Projeto Apparere, reserva-se o direito de alterar qualquer item desta Coletânea, bem como interrompê-la, se necessário for, fazendo a comunicação expressa para os participantes.

- Não é permitida a participação nas Coletâneas de funcionários da PerSe e do Projeto Apparere.

- A participação nesta Coletânea implica na aceitação total e irrestrita de todos os itens deste regulamento.

- As obras não selecionadas para a Coletânea serão destruídas e apagadas das bases de dados do Projeto Apparere, para fins de segurança.

Fonte:
Email enviado pela editora

Editora Alternativa: LITERATURA Sentimentos & Razões volume 5 (Prazo: 25 de Julho)



A Editora Alternativa, após o sucesso e reconhecimento das quatro primeiras edições, vislumbra a edificação de uma obra literária histórica. A trajetória de um modelo cooperativo de expressão da literatura independente, como se caracteriza os volumes da LITERATURA: Sentimentos & Razões, conquista seu ápice ao homenagear uma escritora de texto poético marcante, amplamente reconhecida, e que coorganizou as primeiras quatro edições das coletâneas: Adélia Einsfeldt.

Adélia, poeta de Porto Alegre / RS por nascimento e moradia, é admirada no universo literário brasileiro pela sua qualidade lírica, tendo publicado os livros Impacto, Animais se divertem, Pétalas e Asas da madrugada, além de ter coorganizado as quatro edições das coletâneas LITERATURA: Sentimentos & Razões, volumes 1, 2, 3 e 4. Já está no prelo, pela Editora Alternativa, a mais recente publicação da escritora: sua autobiografia.

Adélia, no esteio de seu prestígio, participa de 16 academias literárias e associações culturais, sendo a vice-presidente da seccional gaúcha da Academia de Letras do Brasil – ALB/RS. Em 2017, foi a Patrona da 6a. Feira do Livro de Faxinal do Soturno / RS.

Adélia é festejada pelas suas deliciosas performances poéticas presenciais junto ao público. Esta poeta é uma força viva da literatura brasileira.


Edição especial:

As edições da coletânea LITERATURA: Sentimentos & Razões já ocupam um lugar entre as maiores coletâneas já lançadas no Brasil. Na quinta jornada, publicará poemas, contos, crônicas, ensaios científicos, artigos e trabalhos visuais, como pinturas ou imagens, revelando e ampliando a pujança e diversidade de nosso caleidoscópio literário.

Como característica já consagrada na LITERATURA, cada texto terá uma ilustração personalizada. É com muito orgulho que os escritores de todo o Brasil que participarão da LITERATURA: Sentimentos & Razões | Volume 5, através de poesia, contos, crônicas e artigos, vão homenagear Adélia Einsfeldt e por conseguinte a literatura nacional.

PARTICIPE ∞ ESCREVA ∞ PUBLIQUE

Para participar, encaminhe seus textos (poesias, crônicas, contos, artigos, ensaios científicos ou demais manifestações artísticas) para o e-mail

contato@editoralternativa.com

juntamente com uma biografia resumida e uma fotografia em boa resolução.

Para garantir a qualidade característica da coletânea LITERATURA, cada página publicada possibilitará o recebimento de dois exemplares da obra, por um investimento de R$ 90,00, sem limite de páginas por escritor.

A temática da coletânea é livre, podendo conter textos originais ou já publicados anteriormente.

Também será possível encomendar exemplares extras antes da impressão, por R$ 25,00 a unidade.

O prazo para o envio dos textos é até 25/07/2021.

As opções de pagamento são pela emissão de boleto (com o acréscimo de R$ 3,00 por parcela) ou depósito bancário com comprovante enviado para a Editora. Pode ser pago à vista, ou em até 3 vezes.

Milton José Pantaleão Junior
ORGANIZADOR

Fonte:
Email enviado pela editora

Assis Editora - Primeiro Volume: Prosa (Prazo: 25 de Junho)


OBJETIVO

COLCHA DE RETALHOS: A MULHER BRASILEIRA DE 1920 A 2020, promovida pela Revista Letrilha / Assis Editora, é uma chamada para publicação de uma trilogia digital e/ou impressa, sendo os três volumes:

1) Prosa;
2) Poesia;
3) Tirinha, com chamadas em diferentes períodos.

Volume 1 (PROSA) chamada de 25/05/2021 a 25/06/2021, com foco na mulher de 1920 a 2020, em que os autores poderão abordar o universo feminino durante esse centenário.

As obras inscritas visarão explanar em suas personagens / eu-lírico as batalhas enfrentadas pela mulher, e suas conquistas, durante sua jornada longa ou curta, podendo elucidar o herói e o anti-herói e até mesmo o vilão, em narrativas que descrevam a coragem e o medo, a empatia e o estranhamento, a vida e a morte... que levaram estas mulheres a fazer história, merecendo protagonizar sua escrita.

Cada autor poderá escrever sobre mulheres que se destacaram em algum campo de atuação, ou mulheres invisíveis, cujo maior destaque foi existir.

O objetivo é promover a arte e a literatura. Não se trata de concurso, mas, sim, chamada para publicação de uma trilogia, mesmo assim, haverá sorteios e premiações entre os participantes. É um modo de incentivar e fortalecer os gêneros prosa, poesia e tirinha, de modo criativo e estimulante. A arte e a literatura são a voz de muitas pessoas emudecidas.

REGULAMENTO

INSCRIÇÕES


Inscrição gratuita
Todo participante está condicionado à compra antecipada de pelo menos um exemplar digital dos trabalhos publicados, no ato da inscrição, obrigatória para qualquer categoria: Sendo: e-Book (digital): R$ 10,00 cada. 
 
 Textos somente em Língua Portuguesa. Qualquer pessoa fluente em língua portuguesa, independentemente da nacionalidade ou residência, pode participar.

O texto deve ser inédito.

Período: 25/05/2021 a 25/06/2021

Envio exclusivamente pelo e-mail: revistaletrilha@gmail.com.

No corpo do email, informar dados cadastrais do autor, para correspondência física: Nome, endereço (rua, casa, apartamento, bairro, cep, cidade, estado...)

No email, enviar a seguinte declaração, nome conforme CPF: 
EU “_______________________”, NASCIDO EM ___/___/______, CPF ________________ COM ENDEREÇO NA “_____________________”, DECLARO QUE LI ATENTAMENTE O EDITAL E ESTOU DE PLENO ACORDO COM OS PRÉ-REQUISITOS.

ESTOU PARTICIPANDO, NA CONDIÇÃO DE AUTOR, NO GÊNERO PROSA, COM O TRABALHO/TÍTULO __________________________________.

CARACTERÍSTICAS DO GÊNERO PROSA:

Um conto de, no máximo, 4000 caracteres, incluindo espaços. Não há mínimo. Fonte: Arial, tamanho 12. Margens: 3 cm (superior, inferior, esquerda e direita). Espaçamento entrelinhas: 1,5. Título centralizado no alto da primeira página. Abaixo do título, também centralizado, o nome do autor (como será publicado, não poderá mudar depois).

CERTIFICAÇÃO: 
Todo participante receberá o certificado de participação em .PDF, via email.

SORTEIO 1:
– Ao final das inscrições será sorteado um belíssimo objeto decorativo, totalmente em madeira, entre todos os participantes inscritos, confeccionado por um artesão mato-grossense.

SORTEIO 2:
– Ao final das inscrições, 3 (três) participantes serão contemplados, por sorteio, com um livro (à escolha da equipe organizadora) autografado.

PRÊMIO:
– Os 45 primeiros inscritos serão convidados a participar da Maratona CR – A MULHER BRASILEIRA DE 1920 A 2020.

A programação da Maratona será passada à época aos convidados, e será em 3 módulos de 15 participantes, cada. Durante as lives o público participante será decisivo para que um dos convidados seja contemplado com o Prêmio Colcha de Retalhos, o qual consiste em uma matéria exclusiva para a Revista Letrilha (haverá 3 pessoas contempladas) e destes 3, um será escolhido para participar do grande prêmio final (uma linda colcha de retalhos, confeccionada por uma artesã goiana), que será na conclusão do projeto, composto pela trilogia e pelo prêmio Frase Premiada (última etapa).

COMPRA OBRIGATÓRIA

Todo participante está condicionado à compra antecipada de pelo menos um exemplar digital dos trabalhos publicados, no ato da inscrição, obrigatória para qualquer categoria: Sendo: e-Book (digital): R$ 10,00 cada.

NOTA: As obras participantes poderão ser utilizadas, a critério da organização do concurso, para publicação em meio eletrônico e/ou físico, sem que isso incida em pagamento de royalties ao autor. A publicação poderá ser em meio gratuito ou comercial.

RESULTADO

Data provável: 30/07/2021

Onde: Em nossas redes sociais
Instagram: @assiseditora @ivoneescritorabr
Página Facebook: /editoraassis
Linkedin: Assis Editora
No site: www.assiseditora.com.br
Via email.

VETOS

1: Conteúdo que apresente qualquer tipo de preconceito e/ou insulto a terceiros, incitação à violência e/ou desabafo político-partidário, será desclassificado.

2: É de responsabilidade exclusiva do autor a observância e a regularização de toda e qualquer questão relativa a direitos autorais sobre a obra inscrita.

3: Ao se inscrever no presente evento, o autor deixa explícita a sua concordância com este regulamento e autoriza a publicação da obra conforme edital, mantendo ao projeto o direito de utilizar o texto enviado, premiado ou não, em publicação, posterior ao resultado da chamada. Eventuais casos não previstos no Edital serão inapelavelmente dirimidos pelos organizadores do Concurso.

Uberlândia-MG, maio de 2021.
Ivone Gomes de Assis
Revista Letrilha / Assis Editora.
(34) 3222-6033
Instagram: @ivoneescritorabr @assiseditora
Página Facebook: /editoraassis
Linkedin: Assis Editora

Fonte:
Email enviado pela editora
https://assiseditora.blogspot.com/2021/05/colcha-de-retalhos-mulher-brasileira-de.htm
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quarta-feira, 2 de junho de 2021

Cecy Barbosa Campos (O Telefonema)

Talita chegou em casa muito cansada, após um dia de trabalho exaustivo. Só desejava tirar seus elegantes sapatos de bico fino e salto alto que realçavam suas bem torneadas pernas, mas exigiam muito sacrifício. Depois, uma boa chuveirada. Em êxtase, já imaginava a água escorrendo, sensualmente, pelo seu corpo, da cabeça aos pés, num afago apaixonado.

Rapidamente despiu-se. Pronta para entrar debaixo da água recuperadora, ouviu o telefone tocar.

— Logo agora! — pensou. — Não vou atender.

A campainha insistente a inquietou. Não teria o sossego desejado se continuasse com aquele som irritante em seus ouvidos. Com o corpo úmido, deu meia volta e correu ao telefone, marcando o sinteco com seus pés molhados.

Foi a conta de pegar o aparelho e ouvir desligarem.

— Que droga, demorei demais para vir!

Decidiu-se a esperar um pouco para ver se ligavam novamente. Nada. Desistiu de ficar ali parada, nua, no meio da sala. Observou os pingos d'água que tinham marcado o assoalho e foi correndo buscar um pano para secá-los. Afinal, não fora fácil sintecar o apartamento, embora ele fosse pequeno. Sabia bem as horas de trabalho que o sinteco lhe custara.

Voltou ao banheiro, ansiando pelo chuveiro. Tepidamente, a água acariciou seu corpo e o perfume do sabonete inebriou-a.

Entregou-se àquele prazer de forma plena e absoluta, a ponto de assustar-se ao ouvir o telefone.

— Outra vez? Não é possível. Não vou atender.

Entretanto, lembrou-se de Maurício. Podia ser ele, arrependido da ausência nos últimos encontros, sentindo saudades, buscando a reaproximação.

Pulou para fora do chuveiro instantaneamente. Pegou o pano de chão que ficara no banheiro e correu para atender o aparelho. Que decepção! Nenhuma palavra.

— Provavelmente, ele achou que eu ainda não havia chegado. Demorei para atender, pensou.

Resolveu terminar o banho rapidamente. Não queria ser interrompida outra vez. Ou, por outro lado, agora queria que o telefone tocasse.

Envolta na toalha, deitou-se no tapete da sala. Desta vez, não perderia a ligação. Ali, estava o Graham Bell, bem ao alcance de sua mão.

Enquanto esperava, observava as bolinhas de água que rodopiavam pelo seu corpo bronzeado e devidamente nutrido pelos óleos aromáticos que faziam parte da composição do seu sabonete.

— Como o Maurício gosta desse cheiro e da suavidade da minha pele!

Permaneceu ali deitada, à espera, como se ele estivesse ao seu lado. pronto para abraçá-la.

O telefone não chamou outra vez. Nada mais lhe restava senão vestir uma roupa leve e confortável, preparar uma refeição frugal e refugiar-se na solidão dos lençóis para uma noite de merecido descanso.

Ultrapassados todos esses trâmites, seus oIhos já se fechavam gostosamente quando aquele som estridente que, frustrada, desistira de aguardar, desperta-a da sonolência em que mergulhara.

De um salto, levanta-se, mais rapidamente do que se poderia esperar naquelas circunstâncias. Em segundos, chega á sala e coloca o telefone no ouvido.

Ressentida, escuta uma voz grave e quente vinda do outro lado da linha.

— Marilda, até que enfim você atendeu. Já tentei várias vezes...

Ela quer explicar que é ligação errada e que aquele nome não é o seu. Ele não escuta o que ela fala, no afã de justificar-se pelos dias em que estivera afastado e declarar-se confiante na renovação do amor compartilhado.

Talita para de insistir e aceita as juras arrebatadoras como sendo, verdadeiramente, dirigidas a ela.

Refeita, por uma noite de sono recheada de sonhos eróticos, apronta-se pela manhã com cuidado especial. Sente que precisa estar bem, embora não saiba exatamente por quê.

Ao voltar para casa, após um dia de trabalho igual a muitos outros, encontra-se com disposição invejável. Poderia até fazer uma caminhada pelo calçadão absorvendo o crepúsculo ou mesmo ir pela beira da praia sentindo o mar a lamber-lhe os pés. Lembrou que essa havia sido a sua rotina de fim de tarde por alguns anos. Rotina que abandonou, apesar de sempre tê-la achado prazerosa.

Entretanto, ao entrar em seu apartamento, muda de ideia. Lembra-se da voz grave e quente do amante de Marilda. Desiste da caminhada e resolve esperar que ele "lhe" telefone. Nem entra no banho, temerosa de não chegar a tempo de atender ao chamado.

Impaciente, prepara uma bandeja com o lanche que saboreia ali mesmo, na sala, ao lado do telefone que permanece mudo. Aflita, Talita procura imaginar o que teria acontecido para que ele a deixasse na angustiante espera. Finalmente, mais tarde do que na noite anterior, quase madrugada, o aparelho toca.

— Marilda, desculpe a hora, mas não poderia ficar sem falar com você... Foi como ele começou a conversa que se estendeu por longo tempo.

Após ouvir inúmeras declarações de amor eterno, Talita passou a noite nos braços de Morfeu, feliz como se fosse a Marilda e estivesse dormindo nos braços do homem que tanto a amava.

Os telefonemas foram se sucedendo, todas as noites, por mais de um mês. O casal mostrava-se cada vez mais apaixonado em suas ardentes conversas.

Os amigos e colegas de trabalho de Talita não compreendiam o que se passava com ela. Aparentava uma alegria tranquila e seu olhar luminoso anunciava a existência de um grande amor. Entretanto, vivia reclusa e não participava das reuniões festivas na firma nem dos passeios e celebrações, organizados pelos companheiros mais próximos.

Quando tentavam descobrir a existência de um namorado novo ou "amante secreto", apenas sorria, enigmaticamente.

Maurício também não entendeu. Procurou-a, tentando reatar um relacionamento que, afinal, não havia acabado, mas nada conseguiu. Quando, tornando-se mais enfático, quis convencê-la de que "haviam nascido um para o outro", a rejeição de Talita foi definitiva:

— Por favor, entenda. Eu não suporto a sua voz.

Começaram a perceber que havia algo fundamentalmente errado, quando Talita deixou de responder ao ser chamada pelo seu próprio nome.

Depois, verificou-se que assinara cheques e documentos com nome falso. A firma teve vários problemas, e a moça foi, obviamente, demitida, tendo também que se explicar na justiça pelo mesmo motivo.

Quanto ao amante de Marilda, não se soube nada, exceto que os vizinhos de Talita se sentiam inquietos de tanto ouvir o telefone tocar logo após o seu desaparecimento.

Um rapaz, que morava no décimo andar, soube por duas senhoras que, como ele, esperavam o elevador, da partida de Talita a fim de passar uns tempos na casa dos pais, no interior.

— É, muitas pessoas vêm para a cidade grande e têm problemas de solidão, comentou com um sorriso significativo.

Fonte:
Cecy Barbosa Campos. Recortes de Vida. Varginha/MG: Ed. Alba, 2009.
Livro enviado pela autora.

Gislaine Canales (Glosas Diversas) XXV

ALMAS GÊMEAS


MOTE:
Almas gêmeas, enlaçadas,
vivendo um amor profundo,
lá vamos nós de mãos dadas
pelos caminhos do mundo.
Djalda Winter Santos


GLOSA:
Almas gêmeas, enlaçadas,
unidas no mesmo amor!
Mesmas ilusões sonhadas,
com sonhos da mesma cor!

Seguem juntas, vida afora
vivendo um amor profundo,
pois o grande amor de agora,
é, de outras vidas, oriundo!

Somos almas irmanadas
com afeição e amizade;
lá vamos nós de mãos dadas
dizendo adeus à saudade!

Nós nunca nos separamos,
nem mesmo por um segundo...
Segredo? Nós nos amamos
pelos caminhos do mundo.
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MÃE, MEU REFÚGIO

MOTE:
Minha mãe, foram teus braços,
refúgio dos meus segredos,
onde deitei meus cansaços
e adormeceram meus medos!...

Ercy Maria Marques de Faria

GLOSA:
Minha mãe, foram teus braços,
que guiaram minha vida,
foram teus doces abraços
que me aqueceram, querida!

Minha Mãe, tu foste luz,
refúgio dos meus segredos,
abrandaste a minha cruz
com o calor dos teus dedos!

Minha Mãe, os teus regaços,
foram sempre de carinho
onde deitei meus cansaços
e enfrentei o meu caminho!

Minha Mãe, com emoção,
entre beijos e folguedos,
entrei em teu coração
e adormeceram meus medos!…
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TÉDIO

MOTE:
Tédio é o vazio das horas
que parecem nem passar,
no compasso das demoras
de quem nunca vai chegar...

Maria Lua

GLOSA:
Tédio é o vazio das horas,
de uma vida sem amor!
Dias negros, sem auroras
e um sol triste, sem calor!

Essas horas tão vazias
que parecem nem passar...
são cheias de nostalgias,
fazem minha alma chorar!

Descoloridos agoras,
são o tudo que restou,
no compasso das demoras,
que de esperar, se cansou!

Chega a noite e a solidão!
Noite escura, sem luar,
numa espera, com paixão,
de quem nunca vai chegar…
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NOSSAS ALMAS...

MOTE:
No curso de nossas vidas,
por diferentes estradas,
nossas almas distraídas
continuam de mãos dadas!

Sérgio Ferreira da Silva

GLOSA:
No curso de nossas vidas,
trilhamos muitos caminhos,
com chegadas e partidas,
com saudades e carinhos!

Andamos muito, é verdade,
por diferentes estradas,
curtindo o amor e a amizade
em noites enluaradas!

Com nosso amor, sem medidas
enchendo os nossos espaços...
Nossas almas distraídas
trocavam ternos abraços!

Felizes, assim, nós vamos,
como num conto de fadas;
nossas almas – nem notamos,
continuam de mãos dadas!
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BOM HUMOR

MOTE:
Fazer da vida uma festa,
é atitude que fascina,
vamos rir! A hora é esta!
O bom humor contamina!

Vânia Ennes

GLOSA:
Fazer da vida uma festa,
ser feliz a cada instante,
amar o mar e a floresta,
a lua e o sol tão brilhante!

Ter sempre um sorriso aberto
é atitude que fascina,
que conquistará, por certo,
tudo, quebrando a rotina!

Vamos cantar em seresta,
unindo a nossa alegria!
Vamos rir! A hora é esta!
Vamos dar bom-dia, ao dia!

Vivendo, assim, bem contente,
toda a tristeza termina,
pois sabemos, certamente:
o bom humor contamina!

Fonte:
Gislaine Canales. Glosas. Glosas Virtuais de Trovas XIX. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. 2004.