quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Silmar Bohrer (Croniquinha) 102

Pois me prometi :

Vou caminhar até o rio ali na barra, nem que tenha que tomar o primeiro banho de chuva da primavera .

Delícia e quimera, quimera e mardelícia. 

E assim foi. Fui, fomos, eu e meus Eus. Nós todos, zebedeus. 

Pingos vieram, garoagens chegaram, chuvisqueiros, trovejares abundantes, a chuva romeira. 

Mais importante do que o feito é o sonho e a execução. 

Profecia virou instância, na tarde calma lavei a cara, o corpo, as ideias, lavei a alma. 

Vida exuberância.

Fonte: Texto enviado pelo autor 

Auta de Souza (Poemas Escolhidos) – 12 -


NO ÁLBUM DE DOLORES

Escuta-me bem, Dolores,
Não queiras meu nome aqui:
Ele não é colibri
Para viver entre flores.

Tu’alma, irmã de Jesus,
Como consente ficar
Sobre a mesa de um altar
Um pobre círio sem luz?

Meu triste nome choroso
Quer uma outra habitação;
Guarda-o no teu coração,
Lírio celeste e formoso!

Rasga esta folha, Dolores,
Não deixes meu nome ai:
Ele não é colibri
Para viver entre flores.
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NOITE CRUEL

Morrer... morrer... morrer... Fechar na terra os olhos
A tudo o que se ama, a tudo o que se adora;
E nunca mais ouvir a música sonora
Da ilusão a cantar da vida nos refolhos...

Sentir o coração ferir-se nos escolhos
De tormentoso mar, — pobre vaga que chora!
E no arranco final da derradeira hora,
Soluçando morrer num oceano de abrolhos.

Nem ao menos beijar — ó supremo desgosto!
A mão doce e fiel que nos enxuga o rosto
Mostrando-nos o céu suspenso de uma Cruz...

E perguntar a Deus na agonia e nas trevas:
Onde fica, Senhor, a terra a que nos levas,
Com as mãos postas no seio e os dois olhos sem luz?!
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NUM LEQUE

Na gaze loura deste leque adeja
Não sei que aroma místico e encantado...
Doce morena! Abençoado seja
O doce aroma de teu leque amado!

Quando o entreabres, a sorrir, na Igreja,
O templo inteiro fica embalsamado...
Até minh’alma carinhosa o beija,
Como a toalha de um altar sagrado.

E enquanto o aroma inebriante voa,
Unido aos hinos que, no coro, entoa
A voz de um órgão soluçando dores,

Só me parece que o choroso canto
Sobe da gaze de teu leque santo,
Cheio de luz e de perfume e flores!
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NUNCA MAIS

Que é feito de meu sonho, um sonho puro
Feito de rosa e feito de alabastro,
Quimera que brilhava, como um astro,
Pela noite sem fim do meu futuro?

Que é feito deste sonho, o cofre aberto
Que recebia as gotas de meu pranto,
Bagas de orvalho, folhas de amaranto,
Perdidas na solidão de meu deserto?

Ele passou como uma nuvem passa,
Roçando o azul em flor do firmamento...
Ele partiu, e apenas o tormento,
Sobre minh’alma triste, inda esvoaça.

Meu casto sonho! Lá se foi cantando,
Talvez em busca de uma pátria nova.
Deixou-me o coração como uma cova,
E dentro dele, o meu amor chorando.

Nunca mais voltará... Pois, que lhe importa
Esta morada lúgubre e sombria?
Não pode agasalhar uma alegria
Minh’alma, pobre morta!
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NOEMI

Eu quisera saber em que ela pensa,
Esta mimosa e santa criatura
Quando indeciso o seu olhar procura
Alguma estrela pelo azul suspensa;

E que tristeza, indefinida, imensa,
Do seu olhar na flama, ardente e pura,
Intérmina e suave se condensa
Como as brumas no céu em noite escura.

Pobre criança! Que infinita mágoa
Punge-te o seio e te anuvia os olhos
— Benditos olhos sempre rasos d’água!

Choras... E o mundo te oferece flores...
Deixa os espinhos, lágrimas e abrolhos,
Só para mim, que só conheço dores!

Fonte: Auta de Souza. Poemas. Publicado postumamente em 1932. Disponível em Domínio Público.

Lima Barreto (Generosidade)

Quando estive agora, ultimamente, no interior de São Paulo, confins desse Estado, próximo a Goiás e a Mato-Grosso, tive muita coisa a observar e muita coisa a meditar.

Lá, em Rio Preto, é ponta de trilhos e para lá vão ter toda a espécie de aventureiros, no bom ou mau sentido.

Há os "grileiros" fabricantes de títulos falsos de propriedades de terras; há os advogados; mas há também os que querem horizontes novos para a sua atividade e para o seu trabalho.

É justo que essa gente se mova para o interior do Brasil. Eu lá senti muito que já estivesse desfibrado, intoxicado de Rio de Janeiro, para não me deixar ficar por aquelas bandas, "cavando" e espalhando a graça e a harmonia da Guanabara que estão na minha alma. 

Tive lá um amigo, o Francisco de Sales, que é um portento de energia e honestidade. É um abridor de estradas. Ele as abre pelo deserto e faz por elas trafegar automóveis, nos quais andei graças à sua generosidade. Ele as traça por gosto e prazer, e tive um grande desgosto em não saber mais nada de topografia para auxiliá-lo.

Se ainda tivesse energia para recordar esse estudo elementar, ficaria lá para ajudá-lo no seu mister, mesmo com um simples nível de pedreiro e uma trena.

Muitas figuras como essa lá conheci de energia e de combate, no bom sentido. Feriu-me, porém, muito a de um médico, formado na Suíça, onde ganhou um ar severo de alemão, mas que tem o nome portuguesíssimo de Barros. O seu primeiro é Cenobelino; e, conquanto esteja iniciando a carreira, é de uma generosidade fidalga. 

Conto-lhes o caso.

O Dr. Cenobelino foi chamado para ver uma criança que tinha levado um coice de um cavalo, na cabeça.

A criança precisava de uma operação difícil, creio que de trepano. Era cara; a família do pequeno ou da pequena não a podia pagar. Ele se prontificou a fazê-la gratuitamente. 

A criança se salvou e não podia ver bilhete de loteria que não pedisse ao pai que o comprasse.

- Para quê?

- Para pagar ao doutor que me salvou.

Certo dia, o pai satisfez o pedido do filho e tirou a sorte. Escusado é dizer que recompensou generosamente o médico do filho.

(Publicado na Careta, 25-6-1921)

Fonte: Lima Barreto. Marginália. Publicado originalmente em postumamente 1953. Disponível em Domínio Público.

Hinos de Cidades Brasileiras (Areia Branca/RN)


por José Nicodemos

I
Junto ao mar, entre os raios alegres,
Deste sol de beleza invulgar
Tu nasceste ó terra querida,
Sobre areias da cor do luar.

II
Pequenina, no entanto, a grandeza,
Do Estado, altaneira, constróis,
Com o sal do teu mar generoso,
No teu solo que é berço de heróis,

III
És o berço de audazes marujos,
Cuja audácia é um cruzeiro de luz,
A luzir sobre os mares gigantes,
Onde a virgem o barco conduz.

IV
As salinas luzentes paisagens,
Imaginam em telas de sol...
São as vigas de nossa pujança,
Sustentando da história do farol.

V
O porto-ilha a brilhar, sobranceiro,
Como estrela caída no mar...
O teu nome eleva e propala,
Noutras terras, feliz, a cantar.

CORO
Areia Branca, terra amada,
Terra do sol, terra do sal,
És a sereia majestosa,
Rindo esmeralda ao litoral.

O Nosso Português de Cada Dia – 001

 

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Daniel Maurício (Poética) 62

 

Mensagem na Garrafa – 76 -

Luiz Poeta
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

FILHA DO TUDO E DO NADA

Por que chegaste sem convite, poesia?
Ferindo o dia com teus líricos mistérios?
Traçando rotas sem pedir meus hemisférios,
Iluminando o meu amor com a fantasia?

Por que vieste sem palpites, inspirada,
filha do nada que há no tudo dos amores?
...trouxeste a lírica angústia que há nas dores,  
e a sedução que há na  pessoa apaixonada.

Ah, qual Cupido, me tornaste sonhador, 
mas fui flechado na emoção  mais colorida, 
e fiz de ti, poesia, a alma de uma vida,
tão dividida entre a lida e o meu amor. 

Por que é que partes para os olhos mais carentes
de ler meus sonhos, como se eles fossem seus
e meus silêncios  - que nem sei se ainda são  meus -
que alimentas, com teus versos convincentes?

A emoção, filha do amor dos sonhadores
da qual te apossas todas vezes que ela vem,
liricamente se transporta para alguém 
que, como eu, busca silêncios sedutores.

Ouve o que dizem os amores, poesia,
planta, no dia, o teu melhor, liricamente, 
deixa, de mim, esta alegria que só  sente
o coração que; com teus sonhos... se inebria.

Eduardo Martínez (Duas vidas, um parque e o silêncio da jovem viúva)

Vera, por um desses eventos fortuitos que acontecem quase com ninguém, teve a sorte de enviuvar justamente no primeiro dia de trabalho do então marido, Júlio, no Banco Central nos idos de 1985. Não que faltasse amor pelo esposo, mas tal imprevisto acabou por lhe render uma polpuda pensão vitalícia. Sem filhos, a jovem viúva, no auge dos seus 27, teve dinheiro de sobra para comprar vários vestidos e viveu o luto por um ano inteirinho.

Ela, que havia se mudado para Brasília por conta do marido, acabou ficando por ali. Sentia falta da família, é verdade, mas fincou os pés naquela terra vermelha e nunca mais quis voltar para Belo Horizonte. Ademais, o apartamento, mesmo que pequeno, já estava montado e, melhor, ela gostou daquele silêncio.

Conforto, economia e uma renda muito acima do razoável foram mais que suficientes para aplacar aquele sentimento de querer ir embora, que, vez ou outra, a instigava. Foi ficando, ficando, ficando, até que a capital se tornou seu lar. É verdade que as promessas de largar tudo aquilo e se mandar para uma cidade praiana ainda são ditas para os mais próximos. Seja como for, Vera está tão incrustada em Brasília, que ninguém mais acredita nas suas palavras. Além do mais, hoje, prestes a completar 63, talvez até ela própria já tenha perdido o ânimo de abandonar a cidade projetada por Lúcio Costa.

Ângelo, a despeito de ter morado longe de Brasília por quase quatro décadas, retornou para a sua terra natal. Viajou o mundo por conta do trabalho, mas, encardido desde as primeiras horas de vida pelo vermelho daquele chão, não teve dúvida de que seu lugar era ali. Aposentado e viúvo, voltou no final de 2021, quando os 70 anos já lhe batiam à porta.

Não ficou rico, mas estava longe de ter que fazer economias para chegar ao fim do mês para manter a geladeira cheia. Além disso, era um homem prático. Tão prático, que preferiu comprar um pequeno apartamento. Nada mais que dois quartos: um para ele, outro para possíveis visitas, que, na verdade, eram raríssimas. Por isso, tal cômodo se tornou uma espécie de escritório ou, como Cida, a faxineira, dizia, o quarto da bagunça.

O velho, mesmo que acessível, teve certa dificuldade de fazer amizade. Ficou sócio de um clube, mas logo percebeu que horas ao sol só lhe trouxeram uma pele mais bronzeada, o que até lhe destacavam os olhos claros. Mas desistiu daquilo, continuou sem amigos. Ainda mais porque muito sol poderia lhe causar um câncer de pele. Acostumou-se com aquela vida silenciosa.

Vera e Ângelo, apesar de morarem na mesma quadra, no mesmo prédio, ela um andar acima, nunca haviam se notado. Provavelmente por conta dos horários distintos ou, talvez, pela miopia. Seja como for, os dois passaram a fazer caminhadas por recomendação médica. Aliás, a mesma geriatra, que ainda não havia chegado aos 40.

Os dois, a princípio, não gostaram daquela atividade física, mas logo descobriram o prazer de andar ali pertinho, no aprazível parque Olhos D’Água, uma belezura de lugar. Aquelas paisagens, na verdade, tornavam as caminhadas tão prazerosas, que os dois, não raro, davam duas, três voltas, sem se darem conta, tamanho o grau de relaxamento.

Invariavelmente, Vera e Ângelo faziam uma pausa na Lagoa do Sapo, onde degustavam toda aquela mansidão. Uma flor com seu colorido aqui, aquela borboleta de asas graúdas ali, a tartaruga esquiva entre a folhagem aquática. É possível que aqueles dois captassem tudo, a despeito dos sentidos já envelhecidos. Gastos sim, mas com certeza mais experientes para apreciar as maravilhas ao redor.

Interessante era que, apesar de tantas idas e vindas, jamais haviam se reparado. No entanto, naquele dia, lá estava aquela mulher diante da Lagoa do Sapo, quando Ângelo se aproximou. Ele nem a percebeu, pois seus olhos míopes miravam aquela água mansa à sua frente.

Os velhos se encontravam a não mais de dois metros um do outro. Ela foi a primeira a perceber a presença de alguém, mas não teve ânimo de olhar para o lado, mesmo porque estava entretida com os peixes no fundo da lagoa. Ângelo, apesar de distraído, foi despertado pelo perfume exalado pela pele da mulher. Tímido, porém, manteve a vista numa enorme árvore, mas seu pensamento já era outro.

Curiosos, finalmente se olharam. Vera, mais corajosa, sorriu e, então, se pronunciou: “Bonita lagoa”. Ângelo concordou com um leve movimento de cabeça. Por um instante, abstraíram-se daquele lugar, até que o canto de um joão-de-barro os transportou de volta para seus próprios devaneios. Silêncio total.

A. A. de Assis (Leigo por quê?)

Tenho à minha frente um exemplar da edição de dezembro/1978 da antiga revista “Aqui”. Nas páginas 26-27 há uma entrevista que fiz com o padre Julinho (Monsenhor Júlio Antônio da Silva), então um jovem sacerdote recém-ordenado. A certa altura, ele diz: “Não gosto dessa palavra ‘leigo’, que sofreu desgastes semânticos ao longo do tempo. Prefiro falar em ‘povo de Deus’, do qual o padre é parte, embora com missão especial”.

Penso igual, e por igual motivo. Inicialmente a palavra “leigo” (do grego “laós”/“laikós”) era usada em seu sentido original: significava “povo”. Assim, “leigos” eram todos os filhos de Deus, entre os quais também os padres – homens escolhidos por inspiração divina, mediante o dom da vocação, para, em tempo integral, servir, incentivar e orientar a humanidade na caminhada rumo à Casa do Pai. Ou seja: os diáconos, os presbíteros, os bispos, os cardeais, o papa eram “leigos” que compunham o “clero” (do grego “kléros” = escolhidos, selecionados).

O problema começou, como frisou o padre Julinho, a partir da degradação semântica sofrida pela palavra “leigo”, que no rolar dos séculos passou a ser entendida como alguém que pouco ou nada entende de alguma coisa. Esse novo significado é aceito naturalmente quando se trata de alguma ciência: leigo em direito, leigo em medicina, leigo em economia. Em religião, porém, parece no mínimo pouco sinodal chamar alguém de “leigo”.

Decerto os clérigos, pelos seus longos estudos, estão bem preparados para explicar a Bíblia e tudo o mais que se refira a Deus e aos mistérios da alma. Todavia isso não significa que os demais sejam desinformados, muito menos tolos. Há grandes teólogos que não são padres; há muitos outros homens e mulheres que são profundos conhecedores das Escrituras Sagradas. Da mesma forma como há milhões de pessoas com pouca instrução, mas que, na pureza da sua fé, conseguem colher sabedoria diretamente no coração de Deus.  

Minha mãe cursou apenas a escola primária, no entanto foi com ela que aprendi a primeira grande lição de espiritualidade. Eu tinha uns 12 anos quando ela me disse: “Toda vez que você pensar em Deus, chame-o pelo nome de Amor – o Amor fez o céu e a terra; o Amor criou o homem e a mulher; o Amor habitou entre nós na pessoa de Jesus para nos salvar; o Amor perdoa setenta vezes sete; o Amor ama, e portanto quer sempre ver a gente feliz”.

Assim, desde a adolescência eu já entendia quem é Deus (Deus é Amor). Minha mãe, na sua simplicidade, sabia das coisas; ela não era “leiga” em religião. Nem ela nem nenhuma das outras tantas pessoas que dialogam com Deus na igreja, em casa ou em qualquer lugar.

Peço perdão ao querido amigo padre Julinho pela carona que peguei numa frase sua dita há 44 anos numa entrevista. Parece, porém, estar mais do que na hora de alguém criar um novo nome para os que não são clérigos. Há de haver alguma palavra mais adequada do que “leigo”. 

(Crônica publicada na edição do Jornal do Povo em 15.setembro.2022)

Fonte> https://angelorigon.com.br/2022/09/15/leigo-por-que/ 

Hinos de Cidades Brasileiras (Bacabal/MA)


por Iranise Lemos

I
Entre tantas frondosas palmeiras
É um leito que corre a banhar
Tuas terras surgistes garrida (bis)
Oh! Cidade que sabe cantar.

II
Entoado som majestoso
De avanço para enaltecer
Aos que imigram e o teu povo inato (bis)
És futuro, és progresso, és viver.

Coro
Tens recursos da natureza
Tens cultura e beleza (bis)
Tens recursos presente da natureza
Tens cultura e beleza

III
Terra, luz céu tão azul que brilha
Refletindo valor colossal
Que espreita com viva esperança (bis)
Progredir vivas tu Bacabal

IV
Altaneira és ideal
Foste ontem a fazenda que agora
O Maranhão te a ti Bacabal

V
Se retratas povir tão risonho
Incentiva o homem a dizer
Bacabal, Bacabal tão querida (bis)
Tua meta é sempre crescer.

VI
Tudo em ti é airoso
És poema és hino também
Resplandece em tua área a nobreza
Correrás para além muito além.

VII
Oh! Cidade galante deveras
Caudaloso é teu rio Mearim
Babaçu te enleva em paisagem (bis)
Poesia, riqueza és enfim.

Coro
Boa terra de encantos mil
Entre norte e nordeste ficaste
Dando marco de amor ao Brasil.

Jaqueline Machado (Isadora de Pampa e Bahia) Capítulo 26: Tempestades

O dia seguinte amanheceu nublado, mas logo chegou o sol com sua promessa eterna de amor.

Na fazenda Boitatá, a família Fiore se reunia para o café da manhã, Vó Gorda, sentada num toco de madeira, com um galho de arruda na mão, benzia as crianças da redondeza, enquanto Arlindo aparava as roseiras. 

Em Prenda Bonita, os peões estavam na lida, menos Simão, que deu uma chegada na casa de Juca e Amélia. Foi apanhar no jardim dos amigos algumas flores para oferecer a sua namorada, que ninguém sabia quem era. 

A demora foi pouca por causa das fofocas de que ele era amante da mulher de seu melhor amigo. Mas sobrou um tempinho para um cafezinho na companhia de Amélia...

Isadora, depois de uma noite insone e triste, vestiu-se de coragem. E como de costume, foi à procura de sua mãe na cozinha.

Encontrou dona Ana empalidecida, caída ao lado do fogão.

- Mãe! – gritou desesperada. Verificou o pulso da mãe e constatou que sua mãezinha falecera.

Num grave acesso de fúria, Isadora atirou as panelas cheias de comida no chão, quebrou as louças, as vidraças das janelas...

- Minha mãe morreu! - dizia chorando.

- Calma, meu amor. Ela deve estar apenas desmaiada – Deixe-me ver. 

- Meu Deus, sinto muito, Isa. - disse Fábio.

- Sente? Não sente nada. Pessoas como tu e meu pai, desconhecem o significado da palavra sentimento.

- Não ofende assim, amor. 

- Que amor? - eu não sou teu amor, sou tua propriedade!

Isadora levou as mãos à cabeça, e feito louca corria pela casa gritando sem parar, rasgando a própria roupa do corpo.

Sua tempestade atraiu a todos que estavam acerca da fazenda.

Fábio tentou contê-la. E ela escapou, abraçou – se ao corpo da mãe. E depois saiu sem rumo.

Fabio e Amélia colocaram dona Ana no sofá da sala. E com muito pesar, seu corpo começou a ser velado. Juca correu para a cidade para buscar o patrão, o padre e um caixão.

O tempo fechou novamente. Uma tempestade desabou. E o senhor Antônio, com suas botas embarradas e pilcha encharcada, arregalou os olhos ao ver sua esposa morta.

A noite se aproximou. Os vizinhos foram chegando. E Isadora seguia sem rumo, com a roupa rasgada, unindo a tempestade do seu coração à tempestade da rua. 
****************
continua...

Fonte: Texto enviado pela autora 

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Silmar Böhrer (Gamela de Versos) 40

 

Mensagem na Garrafa – 75 –

 Cecília Meireles
Rio de Janeiro/RJ, 1901 – 1964

CANÇÃO

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

Monsenhor Orivaldo Robles (Um padre na balada)

Fazia 73 anos que eu não entrava numa casa noturna. Dessas que organizam noitadas tão do gosto da nossa moçada baladeira. Pelo menos não entrava numa em funcionamento: gente elegante às pampas, som nas alturas, conversa aos gritos, bebida à escolha e à vontade, salgadinhos de fino gosto, essas coisas. Eu tinha estado numa, sim, faz tempo, mas de dia, junto com o proprietário, que lá me levou para dar uma bênção às instalações. Evidentemente, estava vazia àquela hora. Nem sei se ainda está em atividade. Estabelecimentos dessa natureza abrem e fecham com rapidez surpreendente.

A casa a que me dirigi, segundo fui informado, vem bombando na noite maringaense. Nunca tive curiosidade de saber o que fazem ou como se comportam as pessoas lá dentro. Quando comentei que, à noite, estaria lá, um jovem amigo pôs-se a troçar de mim: “O que, hein! Como as coisas mudam. Padre agora frequenta balada, é?”. Não exatamente. O que houve é que o diretor comercial do jornal DNP pediu-me que lá comparecesse na noite do último dia 25 de junho para fazer uma oração de ação de graças e dar a bênção pelos 40 anos de existência do jornal. Só isso.

Fui acolhido com grande fineza. Ele mesmo veio receber-me e me encaminhou pelo meio da pista, que, àquela hora, já botava gente pelo ladrão. Gesto providencialmente necessário, diga-se. Eu não fazia a menor ideia da direção que devia tomar. Com firmeza e simpatia, fez-me passar entre os convidados, subir a escada até atingir o camarote (é esse o nome do balcão comprido que abriga o povo vip?). Agradeci e, aliviado, lá me posicionei, à espera do momento da minha fala. Um índio Tikuna do Amazonas, em plena 5ª Avenida de Nova Iorque, não se sentiria mais perdido.

Tive a sorte de ser achado por um amigo, quase da minha idade, que me salvou da completa solidão. Conforme permitia o som ambiente, até papeamos um pouco. Uma observação dele fez-me pensar. Em dado momento, olhando para baixo, opinou: “É aqui que a nossa juventude vem se perder”. Falou sem ressentimento nem inveja. Quando ele era jovem, por certo não existia balada. Ainda que houvesse, de nada lhe serviria. Teve que estudar e trabalhar duro, desde muito cedo.

Hoje, que muitos pais conquistaram bom patamar econômico para a família, os filhos têm na balada sua mais frequente (senão única) diversão. Encontramo-nos, em alguns domingos, por volta das seis da manhã. Eu, a caminho da Catedral; eles, voltando de carro para casa, onde os pais não conseguem dormir enquanto não chegam. Pela forma como alguns dirigem, não saberia dizer se estão sóbrios. Pais se angustiam com razão. Mas que outro divertimento eles têm? A propósito, outra pergunta se impõe: o que a cidade oferece para os pobres? Para aqueles jovens dos bairros, que não têm carro nem dinheiro nem mesada? De que diversão dispõem estes?

Aprendi por experiência, ao trabalhar com eles nos meus anos de padre moço, que os jovens são generosos. Isso não é poesia nem frase de efeito. A juventude é mesmo o tempo do heroísmo. Da coragem para coisas difíceis. Mas precisa que descubram valores reais, não fictícios.

É chato dizer, mas nosso tempo anda carente de quem lhes mostre tais valores. Os mais novos repetem os exemplos que conhecem. Uma sociedade constrói-se conforme modelos. Os jovens seguem aquilo que admiram nos adultos. Que modelos nossa meninada vem observando em nós, mais velhos?

Será que só o consumismo desenfreado que veem na sociedade consegue matar a sua sede de viver?

Fonte> https://angelorigon.com.br/2014/07/05/um-padre-na-balada/

Gislaine Canales (Glosas Diversas) LXVII


JARDINEIRO...

MOTE:
Sou jardineiro imperfeito,
pois no jardim da amizade,
quando planto amor perfeito
nasce sempre uma saudade...
Adelmar Tavares
Recife/PE, 1888 – 1963, Rio de Janeiro/RJ

GLOSA: 
SOU JARDINEIRO IMPERFEITO,
mas meu adubo é o amor,
eu amo sem preconceito,
dou a todos, meu calor!

Eu colho muito carinho,
POIS NO JARDIM DA AMIZADE,
que encontro no meu caminho
existe a felicidade!

Vivo feliz, satisfeito,
espero que o tempo passe...
QUANDO PLANTO AMOR PERFEITO
é um perfeito amor, que nasce!

Mas junto de tantas flores,
às vezes, contra a vontade,
recordando os meus amores,
NASCE SEMPRE UMA SAUDADE…
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MUITO ALÉM DAS ESTRELAS...

MOTE:
As estrelas... na amplidão,
nem todos conseguem vê-las.
Um sonhador põe a mão
muito além dessas estrelas!
Aloísio Alves da Costa
Umari/CE, 1935 – 2010, Fortaleza/CE

GLOSA:
AS ESTRELAS... NA AMPLIDÃO,
embelezam o Universo,
e o poeta com emoção,
as retrata no seu verso!

Ficam distante... não perto,
NEM TODOS CONSEGUEM VÊ-LAS,
mas quem traz o peito aberto
pode, contudo, entendê-las!

Com amor no coração
e a alma, pura estesia,
UM SONHADOR PÕE A MÃO
e logo as torna poesia!

Eu quisera ser poeta
para poder concebê-las,
e pôr a minha alma inquieta,
MUITO ALÉM DESSAS ESTRELAS!
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ESPERANÇA...

MOTE:
Esperança é o sol aberto
que meu destino conduz:
Deixando o sonho mais perto,
bem menos pesada a cruz.
Alonso Rocha
Belém/PA, 1926 – 2011

GLOSA:
ESPERANÇA É O SOL ABERTO
que vem dourar o meu dia,
onde feliz eu desperto,
esquecendo a nostalgia!

Esse sol tão envolvente,
QUE MEU DESTINO CONDUZ,
tem um calor diferente,
que vem de vibrante luz!

Nesse meu vagar incerto,
quem me sustenta é a esperança,
DEIXANDO O SONHO MAIS PERTO
aumenta a minha confiança!

E um raio de sol, então,
cheio de brilhos, reluz,
tornando, com emoção
BEM MENOS PESADA A CRUZ.
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ILUSÕES

MOTE:
FEREM, SIM, MAS QUERO TÊ-LAS,
AO LONGO DA CAMINHADA.
ILUSÕES! CACOS DE ESTRELAS,
QUE ENCHEM DE LUZ MINHA ESTRADA!
Carolina Ramos
Santos/SP

GLOSA:
FEREM, SIM, MAS QUERO TÊ-LAS,
agridoces ilusões,
quero também merecê-las,
sentir suas emoções!

Quero que sigam comigo
AO LONGO DA CAMINHADA,
me amparando, dando abrigo,
enchendo de tudo, o nada!

Quero, em meu peito, acendê-las
e deixá-las crepitar...
ILUSÕES! CACOS DE ESTRELAS,
que não cansam de brilhar!

Seguindo nessa ilusão,
me sentirei muito amada,
com luzes no coração
QUE ENCHEM DE LUZ MINHA ESTRADA!
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LUA DISTANTE...

MOTE:
Sonhador, poeta... e amante
de quanto a vida me dá,
que importa a lua distante...
se os meus sonhos chegam lá?...
João Freire Filho
Rio de Janeiro/RJ, 1941 – 2012

GLOSA: 
SONHADOR, POETA... E AMANTE
eu vivo intensa alegria,
o meu desejo excitante
explode em minha poesia!

Eu sou cativo do amor,
DE QUANTO A VIDA ME DÁ,
por isso, de mim, a dor,
para longe fugirá!

Esse meu amor, garante
meu sonho realizar...
QUE IMPORTA A LUA DISTANTE...
se eu aprendi a voar?

Voando pelo infinito,
minha alma, feliz está,
porque sufocar meu grito,
SE OS MEUS SONHOS CHEGAM LÁ?...

Fonte: Gislaine Canales. Glosas. Glosas Virtuais de Trovas XVIII. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. 2004. 

Leandro Bertoldo Silva (Uma certa Dona Nicinha)

Dona Nicinha era uma professora diferente. Se estivesse na sala de aula, tratava logo de organizar as carteiras em círculo. Preferia mesmo que as salas tivessem almofadas no lugar de cadeiras duras e desconfortáveis. Mas, vá lá… Nada que não se pudesse improvisar. Por isso mesmo, Dona Nicinha gostava mesmo era de dar aulas na praça ao som dos passarinhos ou mesmo na quadra da escola, onde tudo era motivo de tornar as aulas mais interessantes, ou surpreendentes, já que era uma professora de Geografia e não de Educação Física.

Dona Nicinha tinha muitos alunos e gostava muito deles. A recíproca era verdadeira, pois os alunos adoravam a professora e seu jeito simples e diferente de os tratarem. Afinal, ela chegava perto deles e os ouvia com atenção…

Como dito, Dona Nicinha tinha muitos alunos, mas havia um em especial, um tal José de apelido “Desatento”. Acabou ficando conhecido como José Desatento. Ele não gostava muito de estudar. Até que Matemática ele gostava por ser uma matéria mais… Digamos… Absoluta, concreta mesmo. O negócio ficava complicado é quando ele tinha que imaginar… Não que ele não soubesse, pelo contrário, ele imaginava até demais. Aí sobrava exatamente para as aulas de Dona Nicinha. Como seria o tal fuso horário? Será que ele tinha ponteiros na ponta do nariz que indicavam as horas? E fuso horário tem nariz? Bem, deve ter. E ainda por cima deve combinar com os braços longitudinais e as pernas em latitudes de 15º, uma a leste e a outra a oeste…

— José, está prestando atenção?

— Estou ,fessora!

— O que eu disse, então?

— Que o fuso horário de tanto variar as horas e alternar o dia e a noite sem parar e a todo o momento, deve ter pegado um baita de um resfriado!

Pronto. Era gargalhada geral…

José Desatento não fazia por mal. Gostava de Dona Nicinha.

— Sabe o que é, fessora, eu não consigo entender esse negócio de geografia, sabe? Mapas, escalas… Daí eu começo a pensar e quando dou por mim já estou imaginando histórias…

Hummmm…. Já que José Desatento gostava de histórias, Dona Nicinha teve uma grande ideia! Propôs à turma uma aula na biblioteca da escola, em que deixou tudo muito bem preparado para levar a cabo seu intento. No dia seguinte, tudo combinado, os alunos dirigiram-se à biblioteca e estranharam, já que Dona Nicinha nunca havia se atrasado. Ao chegarem, viram que a biblioteca estava vazia. Entre os murmurinhos, risadas e brincadeiras que logo começaram a surgir, eis que uma voz exuberante, alta e vibrante se fez ouvir vinda de trás de um grande Atlas, cuidadosamente colocado em cima de uma das estantes bem ao alcance dos olhos das crianças. Os alunos logo perceberam que se tratava de mais uma invenção de Dona Nicinha, mas, seja como for, dessa vez estava muito real, pois a voz não parecia a dela e, ainda por cima, ela não estava atrás da estante. Dona Nicinha havia preparado tudo. Amarrara um microfone de tal maneira que não deixou à mostra nenhum fio que, passando pelos vários livros e estantes, permitia que ela falasse de outro lugar da biblioteca onde mantinha uma visão perfeita dos alunos sem que estes a vissem. Coisas de Dona Nicinha…

— Muito bem, crianças… Cheguem aqui perto de mim! Eu sou o Geógrafo e quero levá-los a uma viagem inesquecível! Mas… — começou a chorar. José Desatento achou aquilo fabuloso. Puxa! Um Atlas que fala! E ainda chora?! Como é que pode? Sua imaginação logo deu sinais de ação. Bingo! O plano estava dando certo… José colocou-se à frente do grupo e percebeu uma pocinha de água perto do Atlas (cuidadosamente colocada por Dona Nicinha).

— Ei, por que você está chorando? — perguntou José Desatento.

— Porque você não me usa! — disse o Atlas.

— Ah! Desde quando preciso te usar? Aliás, de onde está saindo essas lágrimas?

— Elas? São do oceano Atlântico! Tem também um pouco do Pacífico e um tantinho do Índico.

— Ai, ai! Você é maluco! Desde quando o oceano Atlântico, Índico ou Pacífico é feito de lágrimas?

— Desde quando você não percebeu que eu sou um Atlas!

E assim, Dona Nicinha, ou melhor, Geógrafo, foi dando toda a aula do dia, pedindo ora um, ora outro que folheasse uma parte do Atlas à medida que ela ia explicando e fazendo os alunos “viajarem” em suas páginas.

José Desatento estava agora mais atento do que nunca. A cada explicação do Geógrafo, ele se imaginava numa verdadeira aventura. Em seus pensamentos, à medida que Geógrafo ia articulando as palavras, ele ia ficando pequenininho e descobrindo várias coisas viajando de um lugar a outro na companhia do novo amigo. De repente, estava lá na Espanha descobrindo várias coisas, mais precisamente as touradas e, também, que lá tem um dos times de futebol mais ricos do mundo. Isso ele gostou à beça, pois adorava vários esportes, principalmente futebol. Depois ele voltou aqui mesmo para o Brasil e viu que no Nordeste tem duas danças chamadas frevo e axé e, no Rio de Janeiro, tem o samba. Em Minas Gerais tem uma comida típica que é o feijão tropeiro, que os turistas adoram, e também o pão de queijo. Na Argentina conheceu uma dança muito querida pelos hermanos, que é o tango. Ficou sabendo que na Itália inventaram duas comidas deliciosas que ele adora: a pizza e o macarrão. E assim, ele foi conhecendo o mundo pelas páginas do Geógrafo como nunca havia conhecido.

No fim da aula, Dona Nicinha deixou seu esconderijo e fingiu entrar na biblioteca se desculpando pelo atraso. Os alunos até sabiam que se tratava de uma grande brincadeira, mas tudo tinha sido tão bem articulado e conduzido pela professora, que eles não quebraram o encanto. Contaram a ela o que tinham aprendido e a respeito do Geógrafo de tal forma e com tanta verdade, que ela mesma quase acreditou na própria história. Quem mais falava era José Desatento, que mostrava a cada frase um grande aproveitamento. Dona Nicinha ouvia tudo com atenção. Sentia-se satisfeita, pois achava que tinha conseguido tocar o coração de seus alunos, principalmente de José, e fazer com que ele encarasse a Geografia com outros olhos. A confirmação disso se deu uma semana depois, quando José, ao apresentar um trabalho, falou tudo o que aprendeu nas páginas de seu “amigo” Geógrafo. Falou tão bem que foi aplaudido pelos colegas e pela professora Nicinha. Ao soar o sinal para ir embora, Dona Nicinha juntou suas coisas e saiu da sala satisfeita. Quando foi virar o corredor, ela ouviu José gritando para ela:

— Valeu, Geógrafo!

Dona Nicinha nada falou. Apenas sorriu e foi entrar em outra sala para mais uma de suas aulas inesquecíveis…