sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Flávio de Azevedo Levy (Faz de conto)

A aurora veio lentamente da escuridão, a luminosidade inicialmente rasa ia mostrando aos poucos a sua presença, acentuando-se na cadência do prenúncio da manhã. Uma ave sonora interpretava satisfeita um canto pelo introdutório deste espetáculo. Pássaros rasgavam o céu em formação de flecha e os vagalumes saíam de cena, como também a noitada fria. A temperatura ia aumentando, enquanto as rãs quedavam. Os caramujos teimavam em continuar a reproduzir o som dos mares e as gotas de orvalho passaram a fornecer, em tempo real, a transmissão da alvorada nas folhagens das plantas. O lusco-fusco perdeu seu equilíbrio quando 
a tocha vermelha apontou ao leste, despindo o primeiro clarão. Os contornos das formas superiores pareceram adquirir vida própria, e quanto mais a bola de fogo subia, iam descendo as bênçãos de mais um dia glorioso nesta parte privilegiada do planeta. A noite, como soprada, seguiu apagando as últimas imagens de um dia em paragens mais distantes, deixando descortinado este imenso palco onde o astro-rei todos os dia nos fornece um espetáculo único.

– Ainda não está bom - disse-me o professor Vinícius, devolvendo o texto que havia lhe entregado - parece que você exagera em tudo o que escreve! Tente ser mais realista. E claro que o leitor precisa sonhar, mas aquele que escreve não pode perder o senso e os parâmetros. Por favor - continuou ele - não quero desestimulá-lo de ser um escritor, mas seria bom se você simplesmente pudesse relatar algo que realmente possa estar acontecendo. Você já viu uma luminosidade rasa? Uma ave interpretar satisfeita um canto por algum introdutório? Vagalumes deixando um palco? Caramujos teimarem e, o mais absurdo, o orvalho transmitir em tempo real alguma coisa? Transmitir? Por favor, concentre-se melhor no texto. Pássaros rasgando o céu, em formação de flecha ainda vá lá, faz algum sentido...

Enquanto ele falava, um maravilhoso crepúsculo acontecia nas suas costas emoldurado pelo janelão da sala. O mar recebia o Sol como um anfitrião, oferecendo um caldo saboroso de luzes em águas salinas. O convidado, feliz, mergulhava radiante numa efervescente sopa marinha, enquanto a claridade diminuía, um grande prato branco vinha a seguir trazendo as primeiras estrelas da noite...
= = = = = =  = 
O autor é de Campinas/SP

(Este conto obteve a menção honrosa no Concurso de Contos, adulto nacional, do III Concurso Literário “Foed Castro Chamma”, 2020 – Tema: Aurora)

Fontes: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. Livro enviado por Luiza Fillus.
Imagem = criação por JFeldman com Microsoft Bing

Vereda da Poesia = 152 =


Trova de
PEDRO GRILO NETO
Natal/RN

A nostalgia me alcança
quando, branda, a tarde cai,
cravando-me a aguda lança
da saudade do meu pai.
= = = = = =

Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES

Sempre igual

Num ato de pura loucura 
busquei teu rosto...
e para meu desgosto
no lugar dele
me deparei com a tua ausência 
toda ela grudada em mim...
= = = = = = 

Trova de
JOÃO COSTA
Saquarema/RJ

É nobre o gesto de quem
o sofrimento ameniza,
partilhando o que mal tem
com alguém que mais precisa.
= = = = = = 

Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Bauru/SP

...E a vida continua

Aos poucos meus amigos vão embora...
Saudade hospitaleira abre janelas
e os ares das paisagens amarelas
aumentam o vazio que devora.

As mãos saudosas ficam sem aquelas
que tanto me afagaram mundo afora
nas horas tristes bem fora de hora
e nos momentos das tertúlias belas.

E assim eu sinto que também vou indo
na esteira da fatal apoteose.
Sublime é caminhar sempre sorrindo

sabendo que ao beber da mesma dose
os planos das paisagens verdejantes
ressurgirão sorrindo como antes
= = = = = = 

Trova Premiada de
MERCEDES LISBÔA SUTILO
Santos/SP

Finquei firme, os pés no chão:
- Esta é a minha terra nova!
E a rosa do coração 
se abriu em forma de trova!
= = = = = = 

Poema de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA

O Coração

O coração é o colibri dourado
Das veigas puras do jardim do céu.
Um — tem o mel da granadilha agreste,
Bebe os perfumes, que a bonina deu.

O outro — voa em mais virentes balsas,
Pousa de um riso na rubente flor.
Vive do mel — a que se chama — crenças —,
Vive do aroma — que se diz — amor. —
= = = = = = 

Trova Popular

Se mil corações tivesse
com eles eu te amaria;
mil vidas que Deus me desse
em ti as empregaria.
= = = = = = 

Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO

Tuas marcas

Nas lágrimas que verto inconsolado
Repousam minha dor, meu sofrimento.
No sal dessa torrente há desalento:
Escombros do meu sonho estilhaçado.

Aflitas, vozes d'alma, em seu lamento
Num canto lacrimoso, emocionado,
Do adeus farto em pungência têm lembrado
Registro lancinante... Ah, que tormento!

Conserva o coração saudade imensa,
Não vejo essa paixão esmaecida,
Em mim é natural tua presença,

Embora com loucura parecida
Vivaz, noto luzir sem par querença,
Marcaste a ferro e fogo minha vida.
= = = = = = 

Trova de
NEI GARCEZ
Curitiba/PR

Todo dia é da Criança 
e também do Professor: 
um aprende com confiança 
e outro ensina com amor.
= = = = = = 

Folclore Brasileiro em Versos de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

Curupira

Pequeno guardião, de cabelos a arder,
Curupira, a lenda das matas a zelar,
com pés ao contrário, faz o mundo tremer,
todo que se atreve a seu reino invadir.

Por entre as árvores, seu rugido ecoa,
desbravador feroz, com astúcia a guiar,
protege a floresta, a fauna e a lagoa,
e ao homem ganancioso, ensina a respeitar.

Mas não te enganes, ele é brincalhão,
faz do viajante um alvo de ilusão,
e em cada caminho, um truque a espreitar.

se o fogo da floresta queres apagar,
cuidado, amigo, o Curupira está à mão,
no riso do vento, a natureza a amar.
= = = = = = 

Trova de
ANA MARIA GUERRIZE GOUVEIA
Santos/SP

Desperta-me a Paz de um grito: 
quando os sonhos são diversos... 
rebuscando no infinito, 
o amor com Chuva de Versos!!!
(dedicado ao Almanaque Chuva de Versos, de josé Feldman)
= = = = = = 

Soneto de 
ALFREDO SANTOS MENDES
Lisboa/Portugal

O meu diário

Peguei no meu diário envelhecido,
um velho confidente meu amigo!
Que eu fiz das suas folhas meu abrigo…
Meu fiel conselheiro enternecido!

No diário se encontra redigido:
O meu sentir. A dor que não mitigo,
que vive aboletada e não consigo,
retirar do meu peito tão sofrido!

Suas capas afago com amor!
Elimino alguns fungos de bolor,
que o tempo e a idade provocaram!

Há manchas; caracteres indefinidos!
São sinais indeléveis produzidos,
p’las lágrimas, que os olhos derramaram!
= = = = = = 

Trova de
NEOLY VARGAS
Sapucaia do Sul/RS

Nos carnavais do passado,
dos arlequins, dos palhaços,
fui pierrô apaixonado,
que terminava em teus braços.
= = = = = = 

Soneto de 
GUILHERME DE ALMEIDA 
Campinas/SP, 1890-1969, São Paulo/SP+

Tristeza

Tristes versos que a pena entristecida
Foi, por o gosto de penar, traçando,
Sem saber que me estava retalhando,
A alma, o peito, a razão, o sonho, a vida:

Em quais terras da terra será lida
A confidência que ides confiando?
E, bem mais e melhor que lida, quando,
Em qual tempo dos tempos, entendida?

Às terras, e ainda aos tempos mais diversos,
Ide, sem pressa aqui, ali sem pausa,
Pois só por o partir foi que partistes.

Qual glória hei de esperar, meus tristes versos,
Se já vos falta aquela vossa causa
De serdes versos e de serdes tristes?
= = = = = = 

Trova Funerária Cigana

Tu foste nuvem dourada,
mas o sol te dissipou.
Como guardavas minh'alma,
contigo se desmanchou.
= = = = = = 

Spina de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

Miragem

Relances do tempo
traduzem em ecos
sua suave história,

apenas resquícios de uma trajetória. 
A memória não distingue momentos
futuros, talvez breve lacuna aleatória.
Um oásis reflete diversas passagens, 
estremeço em cena, intuo dedicatória. 
= = = = = = 

Trova de 
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Pequenino grão latente,
que brota e aos poucos se expande,
criança é humana semente,
na conquista de ser grande.
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Marcas do amor

Se alguém pensa que amar não faz sofrer,
está redondamente equivocado...
É que o amor, grande fonte de prazer,
tem um lado que impõe fardo pesado!

Assim, meu bem-querer, tu podes crer
que, se eu sofrer, estou bem preparado...
Jamais me insurgirei por padecer,
contanto que não saias do meu lado!

Viver contigo é o que eu sonhei um dia
e a tua ausência eu não suportaria,
pois ninguém mais preenche o meu desejo!

Entre afagos, que conta um arranhão?
Vamos chegar às marcas que eu almejo:
juntar amor-paixão e amor-perdão!
= = = = = = 

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Ave-Maria, uma prece 
tão gostosa de rezar, 
que às vezes mais me parece 
cantiguinha de ninar! 
= = = = = = 

Poema de
MARCOS ASSUMPÇÃO
(Marcos André Caridade de Assumpção)
Niterói/RJ

Casa Vazia

Falar de amor não é mistério
Nem tão difícil de explicar
A gente nunca faz por mal

Meu coração praia deserta
Morre de medo do inverno
E da solidão que me devora

Agora, a casa vazia,
Eu grito seu nome,
Só o silêncio me responde

Pensar que o amor é sempre eterno
Que é impossível ele se acabar,
Você bem que podia tentar, mas não, não, não.....

Então quero falar por um momento 
(só por um momento)
Da tua ausência no meu corpo
E dessa lágrima no meu rosto

Agora, a casa vazia,
Eu grito seu nome,
Só o silêncio me responde

o fogo arde sob o nosso chão
nada é tão fácil assim
eu ando sozinho, no olho do furacão
você nem lembra mais de mim

Agora, a casa vazia,
Eu grito seu nome,
Só o silêncio me responde
= = = = = = 

Poetrix de
ANTHERO MONTEIRO
São Paio de Oleiros, Santa Maria da Feira/Portugal

Morte 

uma cadeira vazia na alameda
sentada numa tarde de outono
a olhar o meu ponto de fuga 
= = = = = = 

Soneto de
JOSÉ XAVIER BORGES JUNIOR
São Paulo/SP

Saudade

...e mesmo sem te ver quero-te tanto
que sinto-te em mim, e tua voz no pranto
que escapa-me em torrentes de tristeza.
Antes que dúvida, és minha certeza...

Quero-te na amenidade do poente,
No sol do fim de tarde, reluzente,
Quando nasces em mim, como uma flor.
...e mesmo sem te ver, és meu amor...

Quero-te tanto, que em minh’alma trago
O gosto do vinho em que me embriago
Nesses lábios sedentos que ofereces.

Algum anjo há de ouvir as minhas preces,
E há de entender a solidão que canto
Por não te ver e por amar-te tanto…
= = = = = = 

Trova de
MARIA LÚCIA DALOCE
Bandeirantes/PR

À velha, o doutor confessa:
- Um susto ser-lhe-á fatal!
E o genro mais que depressa,
põe fantasmas... no quintal !
= = = = = = 

Poema de 
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro/RJ, 1901 – 1964

Monólogo

Para onde vão minhas palavras,
se já não me escutas?
Para onde iriam, quando me escutavas?
E quando me escutaste? - Nunca.

Perdido, perdido. Ai, tudo foi perdido!
Eu e tu perdemos tudo.
Suplicávamos o infinito.
Só nos deram o mundo.

De um lado das águas, de um lado da morte,
tua sede brilhou nas águas escuras.
E hoje, que barca te socorre?
Que deus te abraça? Com que deus lutas?

Eu, nas sombras. Eu, pelas sombras,
com as minhas perguntas.
Para quê? Para quê? Rodas tontas,
em campos de areias longas
e de nuvens muitas.
= = = = = = 

Trova Humorística de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Se tu buscas na partida
além do horizonte, a paz,
não fujas da própria vida,
que a vida sabe o que faz!
= = = = = = 

Hino de 
São Jerônimo da Serra/PR

Foi a fibra do valente pioneiro
Desbravando o sertão do Jatai
Que fez nascer neste solo alvissareiro
Junto às margens do rio Tibagi.

Tão formosa e fagueira cidade
Para orgulho de imparra gentil
Berço augusto de prosperidade
Que ornamenta o querido Brasil.

És a joia mais linda que há
neste recanto feliz do Paraná
São Jerônimo da Serra, meu torrão
viverás para sempre em meu coração.

Rio Tigre de alvura singular
Serra da Esperança, a mais linda que há
São tesouros a ornamentar 
as riquezas que temos aqui.

São Jerônimo, adorado padroeiro
Abençoa com seu manto esta terra
Protegendo este povo hospitaleiro
Que impulsiona São Jerônimo da Serra.

Isto será passageiro
E verás, quando passar
que em lindo sol
Pioneiro em teu céu há de brilhar.

Por que em tua juventude
Em tuas sábias crenças
reside a maior virtude
Depósito de esperança.

São Jerônimo da Serra,
Simples e muito mais
Eu pisei em tua terra,
Não te esquecerei jamais.
= = = = = = 

Trova de
ADELINO MOREIRA MARQUES
São Paulo/SP

Do livro da minha vida
arranquei, com mão irada,
tua página, fingida...
...e a guardo toda amassada!
= = = = = = 

Soneto de 
MARTINS FONTES
Santos/SP, 1884 – 1937

São Francisco e o Rouxinol

Um rouxinol cantava. Alegremente,
quis São Francisco, no frutal sombrio,
acompanhar o pássaro contente,
e começa a cantar, ao desafio.

E cantavam os dois, junto à corrente
do Arno sonoro, do lendário rio.
Mas São Francisco, exausto, finalmente,
parou, tendo cantado horas a fio.

E o rouxinol lá prosseguiu cantando,
redobrando as constantes cantilenas,
os trilados festivos redobrando.

E o santo assim reflete, satisfeito,
que feito foi para escutar, apenas,
e o rouxinol para cantar foi feito.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Nesta espera em que me farto
só dispenso a nostalgia,
é quando a porta do quarto
tua chegada anuncia!
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
FOI ASSIM 
(samba-canção, 1963) 

Foi assim,   
eu tinha alguém que comigo morava 
Mas tinha um defeito que brigava  
Embora com razão,
ou sem razão 
Encontrei um dia uma pessoa diferente 
Que me tratava carinhosamente  
Dizendo resolver minha questão 

Mas não foi assim,  
Troquei essa pessoa que eu morava 
Por essa criatura que eu julgava 
Pudesse compreender todo meu eu 
Mas no fim fiquei na mesma coisa em que estava 
Porque a criatura que eu sonhava  
Não fez aquilo que me prometeu 
Não sei se é meu destino, não sei se meu azar 
Mas tenho que viver brigando 

Todos no mundo encontram seu par 
Porque só eu vivo trocando  
Se deixo alguém por falta e carinho 
Por brigas e outras coisas mais 
Quem aparece no meu caminho 
tem os defeitos iguais
= = = = = = = = = = = = = 

José Feldman (O brilho dos antigos Carnavais [ou a falta dele])

Ah, o Carnaval! Essa época mágica do ano em que, por alguns dias, as regras sociais parecem ser colocadas de lado, e a fantasia toma conta das ruas. Mas, se você der um passo atrás e olhar para os carnavais dos tempos antigos, vai perceber que o clima era bem diferente do que encontramos nas festas modernas. 

Vamos fazer uma viagem no tempo, entre confetes, serpentinas para entender o que aconteceu com essa celebração tão rica.

Imagine-se no século XVIII, em uma pequena cidade do Brasil colonial. O Carnaval era uma explosão de cores e sons, com a população se reunindo para celebrar antes do jejum da Quaresma. As pessoas se fantasiavam, mas não era apenas para esconder a identidade; era uma oportunidade de quebrar as barreiras sociais. O rico se misturava ao pobre, o senhor ao escravo, todos dançando em harmonia enquanto o som dos tambores ecoava pelas ruas.

Era uma época em que a folia tinha um significado profundo. O Carnaval era quase uma válvula de escape, um momento em que as tensões sociais eram temporariamente dissolvidas. As pessoas podiam rir de seus problemas, zombar das autoridades e se sentir livres, mesmo que por um breve instante. Os pierrôs e as colombinas, representações de amor e desamor, dançavam sob os olhares divertidos da multidão, enquanto as máscaras escondiam não apenas rostos, mas também as frustrações do cotidiano.

Por outro lado, se você olhar para os carnavais contemporâneos, vai notar que, embora a festa ainda tenha seu brilho, algo parece um pouco… diferente. Hoje, o que vemos são escolas de samba competindo por prêmios, trios elétricos arrastando multidões e fantasias que custam mais do que meu salário mensal. E o que aconteceu com aquele espírito de união e liberdade? Ah, esse parece ter sido deixado em casa, ao lado da fantasia que nunca foi usada.

Nos tempos antigos, as pessoas se reuniam em praças para dançar, cantar e celebrar a vida. Não havia uma marca patrocinando cada bloco, nem uma equipe de marketing planejando como fazer o evento “viralizar” nas redes sociais. O que havia era uma alegria genuína, uma sensação de comunidade que fazia cada um se sentir parte de algo maior. As pessoas não precisavam de um "influencer" para lhes dizer como se divertir; elas já sabiam.

E não vamos esquecer do humor! Os antigos carnavalescos eram mestres na arte de fazer rir. As sátiras e as brincadeiras eram uma forma de crítica social, uma maneira de expor as hipocrisias da sociedade. Hoje, corremos o risco de levar tudo muito a sério. Se alguém decide se fantasiar de abacaxi, pode ser que acabe em uma discussão acalorada sobre apropriação cultural! Cadê o tempo em que a única preocupação era se o confete estava colado na fantasia ou se a serpentina ia acabar antes do final da festa?

Ah, e as músicas! As marchinhas de antigamente, com suas letras engraçadas e críticas sociais sutis, faziam todo mundo cantar junto. Hoje, você ouve uma batida eletrônica que não dá tempo nem de entender a letra. E, se você perguntar sobre o significado da música, a resposta provavelmente será: “É o ritmo, meu amigo! O importante é dançar!” Certamente, dançar é importante, mas um pouco de letra inteligente não faria mal a ninguém.

Além disso, o Carnaval antigo possuía uma capacidade única de refletir e criticar a sociedade. As pessoas se vestiam de figuras caricatas, fazendo sátiras de políticos e celebridades, enquanto hoje, muitos preferem se fantasiar de personagens de filmes ou séries da moda. O riso como forma de protesto foi substituído por um “like” nas redes sociais, onde a crítica é feita em 280 caracteres e a reflexão, muitas vezes, fica pelo caminho.

Por fim, é essencial reconhecer que, apesar das mudanças, o Carnaval ainda tem seu valor. A festa moderna continua a reunir pessoas, a promover a cultura e a celebrar a diversidade. No entanto, talvez seja hora de resgatar um pouco daquela essência dos antigos carnavais. Que tal trazer de volta o humor, a crítica e a verdadeira união?

Quem sabe, um dia, as pessoas voltem a se misturar nas ruas, não apenas para dançar, mas para se divertir, rir e refletir sobre a vida. Afinal, no fundo, o que importa é a alegria genuína, a conexão com o próximo e, é claro, a liberdade de ser quem você realmente é — mesmo que isso signifique se vestir de abacaxi. 

Que venha o Carnaval!

Fontes: José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem = criação por JFeldman com Microsoft Bimg

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Ademar Macedo (Ramalhete de Trovas) 30

 

Anderson Almeida Nogueira (Vazio)

Uma dor angustiante
 sufoca seu peito. Há tempos está assim, mas agora chegou ao limite. Grita internamente. Seu urro é silencioso para os que com ela convivem, mas seus tímpanos parecem arrebentar com os ecos de seus lamentos agudos. Não suporta mais, é chegada a hora de acabar de vez com tudo. há um vazio em sua alma...

Não dormiu naquela noite. Insone, planejou cada passo. Por vezes desistiu, por outras teve certeza. Coragem, covardia, sensatez, insanidade, tudo misturado na noite fria do inverno na metrópole indiferente aos que vivem ali. Amanhece, é chegada a hora...

Atravessa as ruas, os quarteirões, as calçadas a pé, em ritmo cada vez mais acelerado. Não pode vacilar, se for devagar dá tempo de pensar, dá espaço à dúvida que não quer ter mais. Há um vazio em seu coração...

Entra no prédio alto de 30 andares, adentra o elevador lotado de pessoas que se distribuirão pelos corredores empilhados entre o térreo e a cobertura. 

Tem pressa, a cada nova parada de andar em andar se agita. Suor frio nas mãos, as batidas de seu coração parecem nos ouvidos, na garganta. 15o. andar, 18o., 21o., 25o., 28o. andar. Não aguenta, desce ali mesmo e sai em disparada escadas acima, quer chegar logo ao seu destino. Há um vazio em seu olhar..

Chega, enfim, ao seu destino. A corrida intensa é, por uma fração de segundos, um pouco contida. Mas logo retorna com a velocidade que os pulmões ofegantes lhe permitem. Corre em direção ao horizonte que vê ali do alto, separados apenas pelo muro baixo. O dia começa a amanhecer. Corre na direção da alvorada.

Salta por cima do muro. Há um vazio em seu entorno...

Na fração de 5 segundos entre o salto e a escuridão fatal, observa pelas janelas o cotidiano das pessoas c:onversando, rindo, gesticulando. O moço do café, o executivo engravatado, a mulher elegante, os casais apaixonados, as crianças brincando, tudo parece tão normal na vida das outras pessoas. 

Por que não foi assim comigo, pergunta-se? Por que não consegui ser feliz assim? 

O longo trajeto chega ao fim. Por um instante, pareceu tão longo, mas chegou tão rápido. Escuridão! Não há mais vida ali. Só resta um corpo vazio...

(Este conto obteve o 4. lugar no Concurso de Contos, adulto nacional, do III Concurso Literário “Foed Castro Chamma”, 2020 – Tema: Aurora)

Fonte: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. Livro enviado por Luiza Fillus.

Vereda da Poesia = 151 =


 Trova de
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR

Antes: alegre e festivo
convívio de todos nós...
Hoje, o celular é o "vivo"
de alguém "dialogando a sós"!
= = = = = =

Poema de
LUCIANA SOARES
Rio de Janeiro/RJ

No caminho

Quero morar num caminho
para ouvir o teu canto com alegria.
Onde o vento roda o moinho
dia e noite, noite e dia.

Percorrer um caminho de doçura
onde pudesse acariciar teu rosto, sereno. 
Que tu sorvesses um café ao amanhecer, 
com um beijo teu e um adeus ameno. 

Encontrar um lar ao longo desse caminho, 
onde o sol sempre viesse brilhar, 
e juntos sentíssemos o calor desse amor, 
de mãos entrelaçadas ao luar. 

Queria habitar um caminho assim, 
onde, ao canto suave da cotovia, 
sorríssemos para a vida que desabrocha 
na poesia de cada novo dia. 
= = = = = = 

Trova de
ROBERTO TCHEPELENTYKY
São Paulo/SP

Vive a “página da vida”
nem que seja a “solavanco”!…
Pior é quem na “partida”,
carimba a página: “Em branco”!
= = = = = = 

Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Bauru/SP

Escravo do adeus

Um lenço branco ao longe é uma constante
na solidão que eu mesmo construí,
escravo do meu ego ao seu talante;
verdugo da humildade que perdi.

No pensamento agora tão errante
vislumbro espelho frágil que parti.
Malgrado a juventude me acalante
macróbio em lassidão detenho aqui.

Foi tudo uma serpente intempestiva.
Fugimos em veredas dolorosas...
mas hoje estás feliz, muito bem viva.

Divides teu caminho com as rosas...
e eu somo à solidão a minha vida
multiplicando as mãos da despedida!
= = = = = = 

Trova Premiada no Japão, de
CLÓVIS WILSON DE MATTOS ANDRADE
Senhor do Bonfim/BA

Num vai e vem incessante
sobre um solo tão estreito
saudade é eterna migrante
que nunca emigra do peito.
= = = = = = 

Poema de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA

O "Adeus" de Teresa

A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus
E amamos juntos E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala

E ela, corando, murmurou-me: "adeus."

Uma noite entreabriu-se um reposteiro. . .
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus
Era eu Era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse conservando-a presa

E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"

Passaram tempos sec'los de delírio
Prazeres divinais gozos do Empíreo
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse - "Voltarei! descansa!. . . "
Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"

Quando voltei era o palácio em festa!
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquesta
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei! Ela me olhou branca surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!

E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"
= = = = = = 

Trova Popular

Deus não criou infelizes...
Os infelizes se fazem...
Mas quem pode interromper
o destino que eles trazem?!
= = = = = = 

Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO

Audaciosa

O torpor de engenhosa carícia
Dos meus olhos as nuvens desfaz
Esse toque frenético, edaz
Que fascínio, gostosa perícia!

Como quero o calor dessa audácia
O carinho enlaçando a cerviz
Bem assim os sussurros sutis
Pra minh'alma elixir de eficácia

Pura seda, arrebata-me o siso
Meu pensar viajante, impreciso
É refém da leveza da tez

Na viveza constante me aprazo
Tu fizeste mais fausto o parnaso
Sou brinquedo da tua avidez
= = = = = = 

Trova de
P. DE PETRUS
(Pedro Bandettini)
São Paulo/SP, 1920 – 1999, Rio de Janeiro/RJ

Certos olhos, já cansados
pelo tempo que passou,
lembram faróis embaçados
que o mar da vida embaçou.
= = = = = = 

Folclore Brasileiro em Versos de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

A Iara

Das águas profundas, um canto a seduzir,
Iara, sereia de beleza infinita,
com olhos de lua, faz homens sucumbir,
na dança das ondas, sua alma é bendita.

Mas cuidado, viajante, ao te aproximar,
pois seu canto é doce, mas pode enganar,
com promessas de amor, te fará naufragar,
nos braços da morte, não há como escapar.

Ela é a rainha do rio encantado,
com flores de lótus seu corpo adornado.
Enquanto as estrelas a iluminam no céu,

os homens a seguem, perdidos no véu,
e ao som de sua voz, em desespero,
se entregam ao abismo, ao doce desterro.
= = = = = = 

Trova de
ZENI DE BARROS LANA
Belo Horizonte/MG

Nas asas da inspiração,
alço voos de esperanças
e na lira da emoção,
dedilho velhas lembranças.
= = = = = = 

Soneto de 
ALFREDO SANTOS MENDES
Lisboa/Portugal

O dilema

A concepção da vida, é um poema…
Que se compõe, sem nunca se escrever!
É um bailado a dois, que irá fazer,
Um musical de amor… um sonho… um tema!

Um tema transformado num dilema,
Que terão de enfrentar, de resolver!
Mais uma personagem vai haver,
Há que pôr no guião, mais uma cena!

Um corpo de mulher em movimento.
Um cântico de amor. Um nascimento.
Atores desempenhando um novo lema!

Vai ter mais um compasso, a melodia.
Vai ter mais uma estrofe, a poesia.
Mas tem final feliz, este dilema!
= = = = = = 

Trova de
RENATO ALVES
Rio de Janeiro/RJ

Fiz da vida um Carnaval,
mas terminei num impasse:
- A máscara do irreal
grudou-se na minha face!
= = = = = = 

Soneto de 
THALMA TAVARES
São Simão/SP

Milagre

Eu era um deserto cinzento, sem flores
- um chão de tristeza em que não cresce a palma.
Então ela vem e me fala de amores,
e sobre o meu ermo a esperança se espalma.

Cobrindo de estrelas o ocaso sem cores,
trocando amarguras por noites de calma,
com rimas e afagos calou minhas dores,
e pôs em meu peito o candor de sua alma.

O vulgo não sabe quem é a criatura
que a mim favorece com tanta doçura,
repondo em meu ser a perdida alegria.

Os bardos já sabem do que estou falando,
mas vou concluir feito um bardo, cantando,
dizendo entre versos: - seu nome é Poesia!
= = = = = = 

Trova Funerária Cigana

Descansa, esposo querido,
a par de Deus tão divino.
Pede-lhe, sim, que melhore
o meu infeliz destino.
= = = = = = 

Spina de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

Ar

Aroma de vento
dorido, na brisa
sinto seu soluço.

Vidas marcadas, lançadas no tempo
sem respostas, sem ouvir desculpas,
enquanto más almas armam rebuço.
Desesperados clamam aos céus; só,
verto lágrimas. Em túmulos, debruço.
= = = = = = 

Trova de 
FRANCISCO JOSÉ MOREIRA LOPES
Maranguape/CE

O teu carinhoso abraço
alegra meu coração
e neste lindo compasso
canto uma bela canção.
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Insensatez

É natural até não se esquecer
do mal que certa feita alguém nos fez;
mas não dar-lhe o perdão nos faz sofrer,
além de ser enorme insensatez.

Quem não perdoa sofre o desprazer
de um duplo padecer, pois a altivez
destrói a índole do bem-querer
e com ela a alegria de viver!

Se alguma vez alguém o contristar,
experimente logo o desculpar;
verá você que é bom não ter rancor...

Criados fomos para o amor, mormente,
e amar, por si, já é mais inteligente
conforme ensina o nosso Criador!
= = = = = = 

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Cidadania é civismo, 
sobretudo é comunhão; 
é ajuda mútua, é altruísmo, 
partilha justa do pão. 
= = = = = = 

Poema de
ÓGUI LOURENÇO MAURI
Catanduva/SP

Oração  ao  despertar
  
Abrindo os olhos, Senhor, 
para um dia a mais viver,
vejo a Luz de Vosso amor 
abençoando meu ser.
 
Ponho-me assim na frequência 
das graças que do Alto vêm,
pronto a exercer a clemência, 
buscando fazer o bem.
 
Que a fé me tire o desânimo, 
o rancor, a impaciência;
deixe o coração magnânimo, 
facho de amor por essência.
 
Pai, que durante este dia 
eu tenha a oportunidade
de sustentar a harmonia 
e de fazer caridade.
 
Nesta jornada, que eu veja 
a todos como um irmão,
numa atração benfazeja, 
a promover compreensão.
= = = = = = 

Trova de
ADOLFO MACEDO
Magé/RJ (1935 – 1996)

Tenho minha alma sentida,
vivo sempre amargurado.
- Minha vida não tem vida,
sem tua vida ao meu lado!
= = = = = = 

Soneto de
JOSÉ XAVIER BORGES JUNIOR
São Paulo/SP

Sonetando

Ele começa no verso primeiro,
Passa ao segundo, de poesia farto,
E adentra afoito já pelo terceiro,
Enquanto escrevo mais um verso: o quarto!

E passo ao quinto, verso alvissareiro,
Depois ao sexto bem ligeiro eu parto,
E neste sétimo me atiro inteiro
Já que este oitavo contigo reparto.

São só catorze, e já estou no nono!
No verso dez não quero mais parar,
Pois sei que o onze vai tirar meu sono,

Mas vou ao doze, falta só um terceto...
Este não digo, pois dá muito azar
Décimo quarto: fim deste soneto!
= = = = = = 

Trova de
OLYMPIO COUTINHO
Belo Horizonte/MG

Eu não lamento a saudade, 
que a tudo invade porque 
é tão bom sentir saudade 
quando a saudade é você.
= = = = = = 

Poema de 
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro/RJ, 1901 – 1964

Canção póstuma

Fiz uma canção para dar-te;
porém tu já estavas morrendo.
A Morte é um poderoso vento.
E é um suspiro tão tímido a Arte...

É um suspiro tímido e breve
como o da respiração diária.
Choro da pomba. E a Morte é uma águia
cujo grito ninguém descreve.

Vim cantar-te a canção do mundo,
mas estás de ouvidos fechados
para os meus lábios inexatos
- atento a um canto mais profundo.

E estou como alguém que chegasse
ao centro do mar, comparando
aquele universo de pranto
com a lágrima da sua face.

E agora fecho grandes portas
sobre a canção que chegou tarde.
E sofro sem saber de que arte
se ocupam as pessoas mortas.

Por isso é tão desesperada
a pequena, humana cantiga.
Talvez dure mais que a vida.
Mas à Morte não diz mais nada.
= = = = = = 

Trova Humorística de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Partiste e no Adeus... risonho,
teu bilhete sem carinho,
provou- me que o nosso sonho
eu sonhei... sempre sozinho!
= = = = = = 

Hino de 
SANTO ANDRÉ/SP

Santo André, livre terra querida,
Forja ardente de amor e trabalho,
Em teu solo semeias a vida,
Em teus lares há pão e agasalho.

Salve, salve, torrão Andreense
Gigantesco viveiro industrial!
Teu formoso destino pertence
Aos que lutam por um ideal!

Três figuras de heróis bandeirantes
Isabel, 0 Cacique e 0 Reinol
Constituíram os troncos gigantes
Das famílias paulistas de escol.

Salve, salve, torrão Andreense
Gigantesco viveiro industrial!
Teu formoso destino pertence
Aos que lutam por um ideal!

Se tu foste, no início, um castigo
Hoje és benção dos céus sobre nós.
Santo André , o teu nome bendigo,
Berço e tumba de nossos avós.

Salve, salve, torrão Andreense
Gigantesco viveiro industrial!
Teu formoso destino pertence
Aos que lutam por um ideal!

Eia, pois, a caminho da glória,
Santo André do herói quinhentista!
Tu serás para sempre na história
Marco zero da história Paulista!

Salve, salve, torrão Andreense
Gigantesco viveiro industrial!
Teu formoso destino pertence
Aos que lutam por um ideal!
= = = = = = 

Trova de
ANTONIO COLAVITE FILHO
Santos/SP

Eu  guardo  com  tanto  enlevo
este  enredo  que  é  só  nosso...
- Posso contá-lo?  Não devo!
- Devo contá-lo?  Não posso...
= = = = = = 

Poema de 
OLIVER FRIGGIERI
Floriana/Malta

A nova estação agora és tu

A nova estação agora és tu, pomba,
Que ontem comes-te de minha mão, solitária,
Como o sol que sobre mim desliza e geme sobre ti,
Furtivamente fala-me neste silêncio
de uma mente usada que se abriu em catacumbas
Diante tu e para que caminhes descalça – entra.
Agora és um piano calado e em ti há
A melodia purpúrea que escreverá
Com as notas que tu me prometeste.  Uma poesia,
Agora tu és minha grande poesia,
As palavras que se encontram em um dicionário
E os ritmos choram, as sílabas gaguejam
Porque tu, muda és, nova solidão.
Ó, andorinha que bebes dos charcos
E conta os anéis que me agrada desenhar
Todas as tardes com o arremesso de uma pedra,
Filha das almas caladas, tu só as folheias
E lês os tristes livros do poeta.
(Tradução:  José Feldman)
= = = = = = = = = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Não temo quedas, barreiras,
por mais que a tristeza insista.
Águas que são cachoeiras
não tem lodo que resista!
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
AVE MARIA DOS NAMORADOS 
(samba-canção, 1963) 

Ave-Maria, 
rogai por nós os namorados
Iluminai, 
com vossa luz, nossos amores
Se somos nós, 
hoje ou depois, mais pecadores
Por nós rogai, 
e o nosso amor, perdoai 

Bendita sois, 
por todo o bem que me fizestes
E abençoai o amor que destes para mim
Mas não deixeis que entre nós dois   
exista mais ninguém
Que seja assim,
Até o fim,   
Amém.
= = = = = = = = = = = = =