quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Vereda da Poesia = 167 =


Trova de
SARAH MARIANI KANTER
São Paulo/SP

A saudade é luz de vela
iluminando o que eu sou:
descolorida aquarela
que uma renúncia pintou.
= = = = = =

Poema de 
LUCIANA SOARES CHAGAS
Rio de Janeiro/RJ

A cadeira

Você cria histórias em um lugar só seu 
E tem apenas uma vida para se encontrar. 
São saudades de conversas na varanda, 
Que trazem memórias junto ao mar.

A cadeira na varanda, os quadros na parede, 
As redes balançando, o sol, dias felizes. 
O cheiro de café, o bolo de laranja na mesa, 
Lembranças surgem, uma lágrima escorre...
Ah pai, nosso amor não morre.

Recordo-me de seu carinho, a mão em minha cabeça, 
Um gesto tão seu, cheio de ternura. 
Levantava-se da cadeira, ia à cozinha, 
Para se deliciar com as guloseimas que adorava.

Será que esses tempos bons vão voltar? 
Acredito que sim, de algum jeito, enfim... 
Mesmo que você não esteja mais presente, 
A cadeira de balanço ainda está aqui, 
Permanece no mesmo lugar, junto a mim.
= = = = = = 

Poetrix de
ALICE DANIEL
Porto Alegre/RS

achados & perdidos
 
revirando minha vida
achei alma e coração
ambos feridos
= = = = = = 

Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES

Em vão

Vivo a procura de mim 
dentro de você...
numa busca interminável; 
nunca lhe encontro!

Tenho a impressão
que afinal, 
como se fosse um castigo
chegou de mansinho o  meu fim...

em igual sentido, ingrata reprimenda segue 
aumentando a minha solidão
e me torturando o coração 
simplesmente... simplesmente assim...
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Desta saudade infinita
não guardo mágoas, porque
foi a coisa mais bonita
que me ficou de você!
= = = = = = 

Soneto de
THALMA TAVARES
São Simão/SP

O anjo e o fauno

Por que tenho de ser de dois extremos feito?...
De um extremo, o melhor, vem a luz que me eleva.
Mas se às vezes sou luz, outras vezes sou treva,
que me impede enxergar o que é certo e direito.

Do outro extremo, o pior, eu direi contrafeito
que há um fauno viril que à luxúria me leva,
contra o qual, com razão, a razão se subleva
e me faz explodir a revolta no peito.

Quantas vezes me ergui do meu lado mais nobre
como quem, com a luz, de pureza se cobre
e a seguir, sem razão, deixa tudo sombrio.

Entre um anjo e um fauno eu passo a vida assim
a suplicar aos céus que afugentem de mim
o lascivo animal que anda sempre no cio.
= = = = = = = = = 

Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Cada tropeço me ensina
que a vida é eterno sonhar.
Na vida nada termina,
muda de forma e lugar.
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Poema de 
IRENE LISBOA
(Irene do Céu Vieira Lisboa)
Arruda dos Vinhos/Portugal, 1892 – 1958, Lisboa/Portugal

Jeito de Escrever 

Não sei que diga.
 E a quem o dizer?
 Não sei que pense.
 Nada jamais soube.  

 Nem de mim, nem dos outros.
 Nem do tempo, do céu e da terra, das coisas...
 Seja do que for ou do que fosse.
 Não sei que diga, não sei que pense.  

 Ouço os ralos queixosos, arrastados.
 Ralos serão?
 Horas da noite.
 Noite começada ou adiantada, noite.
 Como é bonito escrever!  

 Com este longo aparo, bonitas as letras e o gesto - o jeito.
 Ao acaso, sem âncora, vago no tempo.
 No tempo vago...
 Ele vago e eu sem amparo.
 Piam pássaros, trespassam o luto do espaço, 
este sereno luto das horas. 
Mortas!  

 E por mais não ter que relatar me cerro.
 Expressão antiga, epistolar: me cerro.
 Tão grato é o velho, inopinado e novo.
 Me cerro!

 Assim: uma das mãos no papel, dedos fincados,
 solta a outra, de pena expectante.
 Uma que agarra, a outra que espera...

 Ó ilusão!
 E tudo acabou, acaba.
 Para quê a busca das coisas novas, à toa e à roda?  

 Silêncio.
 Nem pássaros já, noite morta.
 Me cerro.
 Ó minha derradeira composição! 
Do não, do nem, do nada, da ausência e
 solidão.

 Da indiferença.
 Quero eu que o seja! da indiferença ilimitada.
 Noite vasta e contínua, caminha, caminha.
 Alonga-te.
 A ribeira acordou.
= = = = = = 

Trova de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

Disse pra linda tainha
o peixe, muito gamado:
– Casa comigo, peixinha,
que eu estou “apeixonado!”
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Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Seu sorrir

Eu fico tão feliz com seu alô,
por carta, viva voz, ou celular,
que até me esqueço que sou bisavô,
deixo a bengala e quero saltitar!

Do jeito como estou, borocoxô;
só faço versos para me animar,
passo calado o dia em meu bistrô,
bolando assunto para me inspirar...

Assim, quando você reaparece,
com seu alô gostoso de se ouvir,
minha alegria nesse instante cresce!

Sinto a felicidade bem de perto,
pois sei que o seu alô traz seu sorrir,
que é tudo o que eu preciso. Estou bem certo!
= = = = = = 

Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Velho em plena mocidade,
sem alma, sem ideais,
que faço desta saudade,
se nem ela me quer mais?
= = = = = = 

Hino de
SANTANA DO SERIDÓ/RN

Santana és orgulho do teu povo
Teus campos e serras me fascinam
Teu céu azul, salpicado de estrelas
Em noites de verão, o luar te ilumina.

Tuas ruas verdejadas de algarobas
Acácias, pés de fícus, flamboyants
A igreja guarda tuas tradições
Que o tempo solidificou.

Eu agradeço a Deus eternamente
Por ter nascido em Santana do Seridó
Pequena mas tão bela, 
Minha terra mãe gentil
De um povo varonil.

Do velho casarão sinto saudades
Perfil de nossa colonização
Do cruzeiro lá no pátio da capela
E dos campos alvejados de algodão.

A agricultura, a mineração e a pecuária
Ajudaram a esculpir a tua história
Desejamos de todo coração
Que o teu futuro seja de vitórias.

Santana do Seridó
Teu pavilhão queremos reverenciar
Teu povo com heroísmo e vigor
Com muita luta o teu solo desbravou
Vamos saudar, 9 de abril 
OH! Terra querida 
Iremos sempre te exaltar.
= = = = = = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Quando uma ofensa me oprime
em silêncio enfrento tudo.
Qualquer grito se redime
ante meu protesto mudo.
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Recordando Velhas Canções
NOSSA CANÇÃO 
(canção, jovem guarda, 1966) 
Luiz Ayrão

Olha aqui, preste atenção
essa é a nossa canção
vou cantá-la seja onde for
para nunca esquecer o nosso amor,
nosso amor

Veja bem, foi você
a razão e o porquê
de nascer essa canção assim
pois você é o amor 
que existe em mim    

Você partiu
e me deixou
nunca mais você voltou
pra me tirar da solidão
e até você voltar
meu bem eu vou cantar
essa nossa canção
= = = = = = = = = 

Trova de
MANUELLA AJALLA PAZ
Cruz Alta/RS

Verdade da luz de Deus
tão clara aí quanto aqui:
– Quem busca o bem para os seus,
encontra o bem para si!
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Célio Simões* (“A bico de pena”)

No ano 4.000 a.C., o homem já sulcava superfícies rochosas com utensílios de osso ou bronze. No ano 3.000 a.C. egípcios e chineses escreviam com  finíssimos pincéis e canetas feitas de junco. Em 1.300 a.C. romanos, asiáticos e anglo-saxões encontraram formas de escrever na cera, usando estiletes de metal. A pena de ganso e de outras aves (corvo, águia, coruja, ganso e peru) foi o instrumento de escrita mais usado no ocidente desde o século VI até o início do século XIX. A mais comum e fácil de conseguir era a de ganso, animal doméstico. O uso das penas de aves na escrita exigia muito tempo para prepará-las, precisavam ser constantemente apontadas e tinham curta durabilidade. No final do século XVIII finalmente apareceram as penas de metal, que se popularizaram depois de 1850, quando ficaram mais resistentes com a utilização de metais como irídio e ródio.

Desde o século XVII houve várias tentativas de produzir uma caneta que tivesse reservatório de tinta. Embora em 1819 John Scheffer tenha produzido sua primeira caneta tinteiro, e em 1832 John Jacob Parker tenha lançado a primeira caneta auto-recarregável, só em 1884 Lewis Waterman patenteou sua caneta "Ideal", ao produzir um modelo que não vazava. Os sucessivos avanços técnicos encontraram novos materiais e soluções cada vez mais práticas e limpas para encher o reservatório de tinta sendo que,  até a década de 1960, as canetas tinteiro eram instrumentos de uso cotidiano, por profissionais e estudantes, embora seu uso na escola fosse restrito aos alunos de famílias mais abastadas. 

Marcas famosas pontificaram no mercado, como as canetas Sheaffer, Johann Faber, Compactor, Goldem e a cobiçada Parker nas versões 45, 61 e 75, sendo que nenhuma delas foi tão desejada como a Parker 51, considerada verdadeira joia, hoje comparada, guardadas as proporções, à extraordinária e caríssima Montblanc, que dá status social e econômico aos seus donos. Porém, durante a década de 1960, a estudantada carente consagrou as canetas tinteiro Skater, que esteticamente se destacavam por seus coloridos rajados em marrom, azul e verde, afora o preço acessível. Seu caráter utilitário era às vezes desvirtuado pelos jovens estudantes, que empunhando suas canetas, travavam entre si embates com esguichos de tinta na hora do recreio, emporcalhando os uniformes de seus “adversários”, o que lhes rendia a esperada e merecida reprimenda de pais e mestres. 

Em 1938 o jornalista húngaro László Biró, junto com seu irmão György, criou uma caneta recarregável com ponta em forma de esfera móvel que ao girar distribuía tinta de modo uniforme no papel. Biró a patenteou e começou a fabricar esferográfica na Argentina, onde se fixou a partir de 1940. Em 1945 as primeiras esferográficas foram vendidas com muito sucesso no mercado americano, mas como não funcionavam bem logo caíram em desuso. Em 1949 o barão francês Marcel Bich introduziu a esferográfica "Bic" na Europa e em 1958 ele entrou no mercado americano comprando a empresa Waterman Pen Company. Em 1959, com ampla campanha publicitária na TV, a caneta esferográfica Bic foi vendida nos Estados Unidos por apenas 29 centavos de dólar. A Bic chegou ao Brasil em 1961 e seu baixo custo substituiu as de penas metálicas que ainda eram usadas nas escolas. E veio para ficar, pois revolucionou os hábitos de escrita de milhões de pessoas em todo o mundo.

Já o chamado desenho A BICO DE PENA utiliza penas metálicas especiais para criar quadros, cartuns e histórias em quadrinhos. A técnica remonta à Idade Média, quando os monges e escribas copiavam manuscritos à mão. Foi muito utilizada para desenhos no ocidente europeu do século VI até ao século XVIII e até hoje inspira seguidores, como o artista plástico, pesquisador e escritor paraense Sebastião Godinho, membro da Academia Paraense de Letras, que se dedica à produção de belos quadros, retratando monumentos e prédios históricos de Belém, usando essa refinada técnica. 

Na MPB, José Fortuna - cantor, compositor, autor teatral, ator brasileiro e autor de sucessos como a guarânia "Índia", que aparece no disco de "Meu Primeiro Amor" (também de sua versão) gravados originalmente no ano de 1952 - compôs a música que denominou de “BICO DE PENA”, cuja repercussão deve-se ao fato de ser interpretada por Tonico e Tinoco, dupla caipira formada pelos irmãos João Salvador Perez e José Salvador Perez, considerada uma das mais importantes da história da música brasileira, que na primeira estrofe da  extensa letra aborda o tema: 

Com pena peguei na pena
Para com pena escrevê
Alembrando de Ritinha
Que comigo eu vi crescê!
Foi escrevendo estes versos
Comparando meu vivê
Com este bico de pena
Que escreveu o meu padecê...

Atualmente, o computador e os softwares de desenho substituíram o papel, o lápis e a tinta na produção de cartuns e nas histórias em quadrinhos, mas ainda há artistas que preferem a leveza e a sensibilidade do traço manual, minucioso, detalhista e preciso, com que encantam o público mercê do seu grande talento e de sua insuperável arte. (fonte: web)
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(*) O autor é advogado, escritor, palestrante, poeta e memorialista. É membro da Academia Paraense de Letras, da Academia Paraense de Letras Jurídicas, da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Artística e Literária de Óbidos, da Confraria Brasileira de Escritores, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós. 

Fonte: Texto enviado pelo autor 

Francisco Gabriel* (A aurora sobre o mar)


Na década de 1990, tínhamos uma casa de praia, no povoado de Barreta, distante cerca de 50 quilômetros da nossa capital, Natal. Pelo menos uma vez a cada mês, nós frequentávamos esse local. Eu e minha esposa ainda éramos jovens e os meus filhos, André e Aline, ainda eram crianças,

Enquanto estávamos veraneando, o nosso dia era preenchido pelo banho de mar, pelas caminhadas nas areias de um morro que ficava em frente à nossa casa, e pela confraternização com os amigos. Lembro-me muito do meu compadre Antônio Gordo, que não parava de comer e beber, e de diversos familiares da minha esposa, especialmente as suas primas Neta e Marluce.

À noite, juntos com os nativos, liderados por Luiz de Tindor, participávamos da pesca de aratus com facho, além de outras aventuras. Mas o que mais me deslumbrava era ficar contemplando o firmamento; lá não havia iluminação pública, com isso as estrelas pareciam que estavam bem próximas da Terra, formando, simbioticamente, um só véu. A Lua era um espetáculo à parte, parecia uma bola de fogo, saindo de dentro d'água.

Nesse tempo, eu me acostumei a acordar cedo e ficava, ao final de cada madrugada, na varanda, esperando o nascer da aurora. Era de uma beleza indescritível, parecia que o dia estava nascendo do ventre do mar. Nesse período, eu observei também que cada dia a aurora nascia com um colorido diferente, como se dissesse: "Hoje eu estou bela, mas me veja amanhã, que eu estarei ainda mais bela".

Todos os fatos acontecidos naquela praia ou foram sepultados pelo tempo, ou viraram escombros, exceto o deslumbre que eu sentia ao observar a Lua e as estrelas e, especialmente, a beleza da aurora perfumando as minhas madrugadas; isso permanece vivo em um recanto da minha alma.
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* O autor é de Natal/RN

(esta crônica obteve o 5. Lugar no Concurso de Crônicas Adulto Nacional “Foed Castro Chamma”, em 2020, com o tema Aurora)

Fontes: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. Livro enviado por Luiza Fillus.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Jerson Brito (Asas da poesia) 02

 

José Feldman (O Cruzeiro das Trapalhadas)


Era uma vez um casal muito peculiar: Epitáfio e Etelvina. Eles decidiram que era hora de uma aventura e, com isso, embarcaram em um cruzeiro para as deslumbrantes Ilhas Gregas. O barco, o "Navegador do Sol", estava repleto de passageiros animados, todos prontos para desfrutar do calor e das belezas naturais. Mas, como todos sabem, quando Epitáfio está por perto, a aventura nunca é apenas uma simples viagem, não consegue ficar quieto, parece que tem tachinhas nos pés.

Assim que embarcaram, Epitáfio, sempre entusiasmado, começou a explorar o navio como se fosse uma criança em uma loja de doces.

— Olha, Etelvina! — exclamou ele, apontando para uma escada em espiral. — Vamos ver onde isso nos leva!

— Epitáfio, espera! — gritou Etelvina, mas ele já tinha desaparecido. Quando ela finalmente o encontrou, ele estava em cima de uma mesa de sinuca, tentando “fazer um truque”.

— Epitáfio, desça daí! Você vai quebrar alguma coisa! — disse ela, com a mão na cabeça.

— Não se preocupe, querida! Eu sou um mestre do equilíbrio! — ele respondeu, e, claro, assim que se inclinou para mostrar isso, escorregou e caiu de costas no chão, fazendo a mesa balançar e as bolas de sinuca rolarem pelo convés.

Os passageiros que assistiam à cena começaram a rir. Um senhor idoso até comentou:

— Olha, o novo esporte do cruzeiro: sinuca acrobática!

No dia seguinte, na hora do almoço, Epitáfio decidiu que era sua vez de ajudar. Ele foi até o buffet e, com toda a sua boa intenção, começou a servir comida para os dois.

— Aqui está, Etelvina! Uma especialidade grega! — disse ele, colocando uma porção generosa de tzatziki* no prato dela.

— Epitáfio, isso é demais! — reclamou ela, mas ele não a ouviu. Em um movimento desastrado, ele derrubou um jarro de azeite, que escorreu pelo chão como um rio dourado.

Os passageiros ao redor começaram a rir novamente. Uma senhora, com um olhar divertido, comentou:

— Acho que o Epitáfio está tentando criar um novo prato: “Azeite à la Epitáfio”.

Depois do almoço, Epitáfio decidiu que era hora de se divertir na piscina. Ele pulou na água de forma tão exagerada que fez uma onda gigantesca, que molhou todos os que estavam próximos.

— Epitáfio! Você não pode fazer isso! — gritou Etelvina, que estava secando o cabelo com uma toalha.

— Relaxa, amor! É só um pouco de diversão! — respondeu ele, enquanto tentava nadar, mas em vez disso, começou a se debater como um peixe fora d'água.

Os passageiros, entre risadas e sustos, começaram a se afastar da borda, enquanto um marinheiro observava tudo com uma expressão de incredulidade.

Eventualmente, o capitão do navio, um homem robusto com uma voz que poderia fazer uma tempestade silenciar, decidiu intervir.

— Senhor Epitáfio! — chamou ele, enquanto se aproximava. — Eu preciso que o senhor fique em sua cabine por um tempo. Você está causando caos!

— Mas eu só estava me divertindo! — respondeu Epitáfio, fazendo uma careta.

— Sua diversão está deixando os passageiros um pouco… nervosos! — disse o capitão, tentando manter a compostura.

— Tudo bem, capitão! — Epitáfio se rendeu, enquanto Etelvina soltava um suspiro de alívio.

No entanto, Epitáfio não estava disposto a ficar em sua cabine. Assim que o capitão se afastou, ele viu uma oportunidade e escapuliu.

— Ah, eu só quero dar uma volta! — murmurou ele para si mesmo, caminhando pelo convés. Sem perceber, ele se aproximou da borda do navio e, ao tentar se esconder de um grupo de marinheiros, escorregou e caiu direto no mar.

O grito que ele deu ecoou pelo navio:

— Etelvina! Socorro! Estou afundando!

Os passageiros, agora em um misto de choque e riso, correram até a borda para ver o que estava acontecendo. Etelvina, horrorizada, gritou:

— Epitáfio! Volte aqui!

Os marinheiros, já acostumados com as trapalhadas de Epitáfio, entraram em ação. Um deles, um jovem chamado João, pulou na água e nadou até Epitáfio.

— Calma, amigo, eu estou aqui! — disse João, enquanto puxava Epitáfio de volta para o barco.

Ao ser resgatado, Epitáfio estava todo encharcado, mas com um sorriso no rosto.

— Eu sempre quis experimentar a natação em alto-mar! — exclamou ele, enquanto todos ao redor caíam na risada.

Quando finalmente conseguiram voltar ao convés, o capitão, agora com um sorriso no rosto, não pôde deixar de comentar:

— Bem, senhor Epitáfio, você definitivamente trouxe um novo significado para o "cruzeiro".

Etelvina, com a cabeça nas mãos, não sabia se ria ou chorava. Mas, no fundo, sabia que, com Epitáfio, cada dia seria uma nova aventura.

— Apenas não me faça passar por isso novamente, por favor! — pediu ela, enquanto abraçava o marido.

Epitáfio piscou:

— Prometo que na próxima vez, eu só vou fazer trapalhadas em terra firme!

E assim, o casal continuou sua viagem pelas Ilhas Gregas.

O casal, agora um pouco mais consciente das reações dos passageiros, tentou se comportar, mas a natureza atrapalhada de Epitáfio estava longe de ser domada.

Na primeira parada, Santorini, a beleza das casas brancas e das vistas deslumbrantes deixou Etelvina encantada. No entanto, Epitáfio estava mais interessado na comida local.

— Vamos experimentar aquele prato que dizem que é uma delícia! — sugeriu ele, apontando para uma taverninha.

Etelvina hesitou:

— Epitáfio, lembre-se da última vez que você decidiu experimentar algo novo.

Mas Epitáfio já estava na porta, e em um instante estava pedindo uma moussaka** gigantesca. Quando o prato chegou, ele não conseguiu conter a empolgação e, em sua pressa, derrubou a bandeja, cobrindo o garçom e a mesa ao lado com molho quente.

— Desculpe! — gritou ele, enquanto todos ao redor se esquivavam.

Na segunda parada, o casal decidiu fazer uma excursão de barco para explorar as caldeiras. O guia, um homem charmoso, começou a falar sobre a história da ilha, mas Epitáfio, distraído pelo movimento do barco, decidiu que era hora de tirar fotos.

Ele se levantou abruptamente para captar a vista e, ao fazer isso, quase derrubou a câmera de um passageiro.

— Olha, pessoal! É uma selfie em alto-mar! — exclamou ele, tentando equilibrar a câmera. O resultado foi um álbum de fotos com Epitáfio em posições hilárias, com o fundo das caldeiras sempre desfocado.

Etelvina não sabia se ria ou se ficava envergonhada. Mas, no final, todos estavam se divertindo e tirando selfies com Epitáfio.

Na última noite do cruzeiro, o navio organizou uma festa de gala. Todos estavam elegantes, e Etelvina, em um vestido deslumbrante, parecia uma verdadeira deusa grega. Epitáfio, por outro lado, decidiu que uma gravata borboleta colorida seria o toque final do seu traje.

Durante o jantar, enquanto a orquestra tocava, Epitáfio tentou dançar, mas acabou pisando no pé de um dos dançarinos profissionais, que estava fazendo uma apresentação. O homem, surpreso, girou e, sem querer, acabou arrastando Epitáfio para o centro da pista.

— Vamos lá, Epitáfio! Mostre o seu talento! — gritou um dos passageiros, incentivando-o.

Epitáfio, sem saber o que fazer, começou a dançar de forma desajeitada, fazendo movimentos engraçados que rapidamente contagiou a plateia. Todos começaram a rir e aplaudir, e logo ele se tornou o centro das atenções.

Quando o cruzeiro finalmente chegou ao seu fim, Epitáfio e Etelvina se sentaram no convés, observando o sol se pôr sobre o mar.

— Apesar de tudo, foi uma viagem incrível, não foi? — disse Etelvina, com um sorriso.

— Com certeza! — respondeu Epitáfio, olhando para ela com adoração. — E quem diria que eu seria o rei no final?

— E o herói das selfies! — brincou Etelvina.

Enquanto o navio se afastava das ilhas, o casal percebeu que cada trapalhada de Epitáfio se tornara uma lembrança especial. Eles não apenas viveram uma aventura, mas também aprenderam a rir juntos, mesmo nas situações mais embaraçosas.

Ao desembarcarem, Epitáfio olhou para Etelvina e disse:

— O que você acha de planejarmos outra viagem? Quem sabe para… as montanhas?

Etelvina riu, balançando a cabeça:

— Apenas se você prometer não escorregar em nenhuma trilha!

E assim, com o coração leve e o espírito divertido, Epitáfio e Etelvina embarcaram em novos planos, prontos para mais aventuras, sabendo que, independentemente das desventuras, o mais importante era estarem juntos.
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* Tzatziki = é um acepipe típico da culinária da Grécia e da Turquia, mas também difundido entre outros países da Europa Oriental, Oriente Médio e Índia, sob diferentes denominações e com inúmeras variações regionais: seja quanto à consistência, seja quanto às ervas e especiarias adicionadas à preparação básica, que se compõe de iogurte, pepino e alho.

** Moussaka = Mussaca ou Mussacá é uma especialidade gastronômica do Oriente Médio, típico das culinárias grega e turca, entre outras, sendo, na versão árabe, um cozido de grão de bico com berinjelas, muito comum na culinária vegana. Pode ser também uma variação de lasanha italiana, só que grega, muitíssimo saborosa. Essa versão é originalmente feita com carne de carneiro, berinjelas, e tomate, sempre condimentado com azeite, cebola, ervas e fortemente temperado com pimenta ou malagueta.


Fontes: 
José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

Monsenhor Orivaldo Robles (Ao filho de pais caretas)


Você não lembra, é claro. Nem teria como lembrar. Era muito pequeno. Eles o pegavam no colo. Abraçavam, apertavam, acontecia de mordê-lo. Por vezes, você acabava chorando, sufocado pelo excesso de um carinho que eles não sabiam dosar. Se conseguisse falar, você diria: “Parem com isso. Estão me machucando. Sou muito fraquinho”. Mas reclamar para quem? Os avós faziam pior. Parece que disputavam para ver quem judiava mais.

Você nunca pensou nisso, mas sua vinda foi muito esperada. Desde quando descobriram que estava a caminho, você tornou-se o centro da vida deles. Não havia assunto mais importante, preocupação maior. Tudo era para você, que ia chegar.

Você provocou grande transformação em sua mãe. Ela se tornou mais sensível, emotiva, meio dengosa. Chorava à-toa, parecia insegura, se irritava por nada. Voltou a ser, outra vez, uma adolescente. Ou quase. Seu pai sentiu-se meio perdido. De repente, passou a achar estranha a mulher com quem vivia.

Depois que você nasceu, complicou de vez. Vieram trapalhadas com sua higiene, alimentação, saúde... Em várias situações eles se perdiam. Vinha-lhes à mente perguntar: E agora, fazer o quê? Criança devia vir com manual de instruções.

Hoje você é forte, bonitão e se considera dono de um mundo que se abre aos seus pés. Capaz de tomar decisões, de resolver o que é melhor, o que vale a pena na vida. “Sei o que estou fazendo” diz, com uma segurança que talvez nem eles demonstrem. Você os olha com piedoso pouco caso, como se para outra coisa não servissem além de pegar no seu pé.  De vez em quando, não tem vontade de dizer, se é que já não disse: “Pô, velho(a), dá um tempo?”

Com vinte anos, você está quilômetros à frente deles, não? Eles nada sacam do que acontece hoje. Já tiveram a vez deles; agora é a sua. Por que tanta bronca com seu jeito, se assim fazem todos os seus amigos? Você não precisa de conselhos. Não acreditam que ninguém faz a sua cabeça? Que já é grande para decidir entre o certo e o errado? Que sabe escolher o que o fará feliz? Que sabe afastar-se do que vai prejudicá-lo?

Pois é. As desgraças do mundo, que você tanto condena, foram causadas por gente que julgava não precisar de conselhos. Achava que sabia tudo; os outros, sim, é que não passavam de um bando de tapados. “Foram adultos que construíram o mundo podre que está aí”, dirá você. Está coberto de razão. Adultos que, com a idade que você tem hoje, se comportavam como donos da verdade. Não aceitavam palpite nem admitiam mudar coisa alguma em sua vida.

Se amanhã você entrar numa roubada, daquelas que parecem não oferecer saída, sabe quem ficará do seu lado? Não vão ser os amigos que em tudo lhe dão razão, eu garanto. Nem a gata que só lhe diz aquilo que você gosta de ouvir.

Amar não é coisa de momento. Amor de verdade é para a vida inteira. Enquanto você viver, será amado pelos seus pais. Ainda que lhe custe acreditar. Amar não é concordar sempre e a propósito de tudo. É, muitas vezes, ter coragem de dizer não. Mesmo com lágrimas. Guarde esta verdade: lágrima de pai e mãe não sai dos olhos, sai do coração. Porque é com o coração que se ama. Você nem existia ainda e eles já o amavam.

Vereda da Poesia = 166 =


Trova de
JOSÉ RODRIGUES FERNANDES 
Fortaleza/CE (1910 – ????)

Chora o vento lá por fora...
Chora a chuva e vão-se as águas.
O coração também chora,
mas nunca se vão as mágoas.
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Poema de 
ELVIRA BARBOSA CAMARINHA
Braga/Portugal

Donzela

Com violino e rabeca
donzela me sinto,
ao toar de Agosto quente,
com a alma ardente,
corpo decente.

Tesouro guardado.

Chave do cofre, escondida
algures,
perdida,
sinal de nova vida!

Donzela
nua de pés,
adormece na sua tela!

Tesouro apetecido.

Saudades tuas
serão manhãs cruas...
donzela perdeu a sensualidade,
pecado arremessado
pelos senhores da Verdade!
Prazo de validade...

Tesouro requisitado.

Tarde,
fez-se noite,
a donzela fechou-se...
cadeado!

Saudades donzela do
teu Amor quente,
enfeitiçado!

Donzela liberou o passado...
e dela ficou o beijo molhado.
= = = = = = 

Limerique de
NILTON MANOEL
Ribeirão Preto/SP, 1945 – 2024

Limerique Urbano IV

Pela longa rua da feira
tem tudo de bom e primeira;
vê-se a granel,
quentinho. pastel...
Tem até gente barraqueira.
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Poema de
SÉRGIO TAVARES
Piabetá/RJ

Eu te peço perdão

Eu te peço perdão, por ser tão inexato,
por não possuir a claridade desse dia,
por ter uma visão de mentecapto,
por ter a vida, assim, sempre vazia.

Eu te peço perdão, por não estar onde me queres,
por dizer não, quando na verdade te queria,
por sorrir, quando tanto tu choravas,
mas, por chorar, quanto tanto tu sorrias.

Mas não me culpe se tudo deu errado,
se o teu amor nunca foi correspondido,
pois apesar de estar sempre do teu lado,
meu sentimento foi mal compreendido.

Culpe menos ainda o meu verso,
que é apenas uma forma de sangria,
é, apenas, o reflexo do meu reverso,
e se nasceu foi porque tu morrias.
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Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Conheço um tipo de fome
que não se farta de pão:
fome de amor!  Eis o nome
da fome do coração!...
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Soneto de
EMÍLIO DE MENESES
Curitiba/PR, 1866 – 1918, Rio de Janeiro/RJ

Alcoolismo

A leitura do tópico tremendo
À lembrança me trouxe uma anedota
Velha, tão velha quanto aquela bota
Que era toda o Larousse do remendo.

Certo alcoolista, um sábio artigo lendo
De um médico alemão de grande nota
Contra o álcool, diz em compulsão devota:
"Como ele prova quanto o vício é horrendo!"

E acrescenta: "A verdade em mim desperta!
Eu não quero pelo álcool cair morto,
Vou dizê-lo bem alto e de alma aberta!"

Tal leitura me traz tanto conforto,
Que vou beber saudando a descoberta
Três garrafas de bom vinho do Porto!...
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Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Amores na mocidade!...
Depois, a contrapartida:
cansaço, dor e saudade
na curva extrema da vida!
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Poema de 
RABINDRANATH TAGORE
Índia (1861 - 1941) 

Julgamento

Não julgues...
Habitas num recanto mínimo desta terra.
Os teus olhos chegam
Até onde alcançam muito pouco...
Ao pouco que ouves
Acrescentas a tua própria voz.
Mantém o bem e o mal, o branco e o negro,
Cuidadosamente separados.
Em vão traças uma linha
Para estabelecer um limite.

Se houver uma melodia escondida no teu interior,
Desperta-a quando percorreres o caminho.
Na canção não há argumento,
Nem o apelo do trabalho...
A quem lhe agradar responderá,
A quem lhe agradar não ficará impassível.
Que importa que uns homens sejam bons
E outros não o sejam?
São viajantes do mesmo caminho.
Não julgues,
Ah, o tempo voa
E toda a discussão é inútil.

Olha, as flores florescem à beira do bosque,
Trazendo uma mensagem do céu,
Porque é um amigo da terra;
Com as chuvas de Julho
A erva inunda a terra de verde,
e enche a sua taça até à borda.
Esquecendo a identidade,
Enche o teu coração de simples alegria.
Viajante,
Disperso ao longo do caminho,
O tesouro amontoa-se à medida que caminhas.
(tradução de José Agostinho Baptista)
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Trova de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

Esta angústia indefinida,
que sempre à noite me invade,
são sombras próprias da vida
ou disfarces da saudade?
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Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Não tenha inveja!

O voo do urubu tão silencioso
e, na aparência, sem esforço algum,
nos lembra um parapente fabuloso,
cujo piloto tem risco comum....

O nosso pobre abutre é bem feioso,
mas seu voar supera qualquer um;
enquanto o voo à vela é majestoso,
perigo o urubu não tem nenhum!

A lei protege até sua existência,
por sua importante excelência,
limpando sem cansar a Natureza!

Vendo o urubu no céu, não tenha inveja,
(como de quem com risco é que veleja),
já que o manjar do abutre é a impureza!
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Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

A esperança do colono
de sol a sol é cativa...
mas seu patrão não é dono
dos sonhos que ele cultiva!
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Hino de
NOVA GRANADA/SP

Sob as bênçãos de São Benedito,
do valente Francisco dos Santos,
veio a nós este solo bendito,
a quem vou dedicar o meu Canto.

No começo eras Vila Bela,
com orgulho lembra a gente tua;
outro nome surgiu nesta tela,
mas o amor de teus filhos continua!

Deus te salve, oh, Granada,
do "São João" ao "Pitangueiras",
para sempre, terra amada,
do "Matão" ao "Corredeira".

Teu passado é glorioso,
tua face é altaneira;
do teu povo laborioso
é a paz, "Cidade Hospitaleira"!

Brava gente chegada da Espanha
fez o nosso progresso aumentar
e, de força irmanada tamanha,
nossa Nova Granada aí está.

Teu passado foi feito de glórias,
teu presente à luta pertence,
teu futuro já tem uma história;
que alegria é morrer granadense!
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Com as chaves da alvorada,
Deus que é poder e magia,
deixa a noite enclausurada
e abre as portas para o dia.
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Recordando Velhas Canções
QUEM É 
(fox, 1959) 
Oldemar Magalhães e Osmar Navarro

Quem é...
Que lhe cobre de beijos
Satisfaz seus desejos
E que muito lhe quer... Quem é

Quem é...
Que esforços não mede
Quando você lhe pede
Uma coisa qualquer

Quem é...
Que de você tem ciúmes
Quem é 
que lhe ouve os queixumes
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Trova de
CLARINDO BATISTA ARAÚJO
Jardim do Piranhas/RN, 1929 – 2010, Natal/RN

Negra cinza no chão pobre
que resultou da queimada,
é o triste manto que cobre
a Natureza enlutada!...
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