sábado, 26 de outubro de 2024

José Luiz Boromelo (O padre, o prefeito e o delegado)

​Antigamente, nas cidadezinhas do interior do País, a população reconhecia as três maiores autoridades do município: o padre, o prefeito e o delegado. Cada qual, à sua maneira, exercia influência específica sobre o comportamento das pessoas, principalmente diante de algum entrevero, que inevitavelmente exigia uma providencial interferência dessas personalidades. Fosse algo mais sério que viesse realmente ameaçar a integridade física dos envolvidos, entrava em cena o delegado “calça-curta”, agente geralmente nomeado pela administração municipal e que, de maneira peculiarmente convincente à época, acabava com as divergências num piscar de olhos. 

Já o prefeito atuava nos casos em que se fazia necessário colocar cada qual em seu devido lugar, quando o assunto pendia para a área política. Naquelas paragens ele mandava e desmandava e ai de quem destoasse de sua cartilha, escrita por interesses dos mais diversos possíveis. 

Ao padre recaía a responsabilidade pela preservação da moral e dos bons costumes, a propagação da fé cristã, a busca incansável pelas ovelhas desgarradas, a resistência sistemática às incontáveis tentações impudicas e ao exercício permanente do jogo de cintura, tentando agradar a gregos e troianos.

​A vida seguiu seu rumo e o vilarejo encravado na mata virgem cresceu e viu o tempo transformar aquelas práticas bairristas em longínquas lembranças do passado. Pelo menos é o que imaginam os viventes do século 21 na majestosa Maringá. Mas eis que mesmo com o desenvolvimento, a modernidade e a tecnologia batendo à porta do cidadão, as folclóricas figuras de outrora, agora elitizadas e alçadas a níveis infinitamente superiores de competência e intelectualidade, se envolvem em uma pendenga pouco republicana, guardadas as devidas proporções de espaço, tempo e intenções. Seria uma reunião para se discutir os níveis de insegurança elevados, uma demanda legítima da população do típico e controverso lanche prensado parlamentar. 

Da tríade benfazeja do passado, apenas o religioso não se fez presente, por motivos óbvios, ante o tema proposto. Diante da exposição pelo comandante militar dos números oficiais da criminalidade, o prefeito, exaltado, foi curto e grosso. Como toda ação provoca uma reação, o imbróglio logo se estabeleceu. Ignorando o poder das palavras, cada qual mostrou sua desaprovação com a situação, sob a ótica do cargo ora exercido. A exasperação do chefe do executivo municipal foi, evidentemente, o estopim para a defesa veemente de opiniões divergentes. 

Por sua vez, a infeliz declaração da suposta degustação de pizza em casa (privilegiando a segurança familiar) teve o mesmo efeito de se tentar apagar fogo com gasolina, elevando ainda mais a temperatura do debate. Nota-se que faltou serenidade e sobrou testosterona aos protagonistas.

​Para a felicidade geral da comunidade, com os ânimos amainados e as arestas aparadas (pelo menos momentaneamente), pode-se concluir que medidas efetivas certamente serão implementadas, no intuito de oferecer um pouco mais de segurança à sociedade maringaense. E aos ocupantes de cargos públicos, seria de bom alvitre que exercitem continuamente o autocontrole deixando a emoção de lado, porque absolutamente tudo se resolve na base do diálogo. Atitudes bem diferentes de outras épocas, quando mandava quem podia e obedecia quem tinha juízo. Então, senhores, muita calma nessas horas.

Fonte: Portal do Rigon. 31  de agosto de 2017
https://angelorigon.com.br/2017/08/31/o-padre-o-prefeito-e-o-delegado/

Recordando Velhas Canções (Estrada do sol)

(samba-canção, 1958)

Compositor: Tom Jobim - Intérprete: Dolores Duran

É de manhã
Vem o Sol
Mas os pingos da chuva
Que ontem caiu
Ainda estão a brilhar
Ainda estão a dançar
Ao vento alegre
Que me traz esta canção

É de manhã
Vem o Sol
Mas os pingos da chuva
Que ontem caiu
Ainda estão a brilhar
Ainda estão a dançar
Ao vento alegre
Que me traz esta canção

Quero que você
Me dê a mão
Vamos sair por aí
Sem pensar
No que foi que sonhei
Que chorei, que sofri
Pois a nossa manhã
Já me fez esquecer
Me dê a mão
Vamos sair pra ver o Sol

É de manhã
Vem o Sol
Mas os pingos da chuva
Que ontem caiu
Ainda estão a brilhar
Ainda estão a dançar
Me dê a mão
Vamos sair pra ver o Sol
Me dê a mão pra ver o Sol 
Pra ver o sol, o sol, o sol

A Luz Após a Tempestade em 'Estrada do Sol'
A música 'Estrada do Sol', composta por Tom Jobim, um dos maiores expoentes da música brasileira e um dos criadores da Bossa Nova, é uma obra que transmite a sensação de renovação e esperança após momentos de tristeza. A letra utiliza a metáfora do amanhecer e do sol que surge após a chuva como uma forma de representar o fim de um período difícil e o início de um novo capítulo mais alegre na vida do eu lírico.

A repetição dos versos que descrevem os pingos da chuva ainda brilhando, mesmo com a chegada do sol, sugere que as memórias das adversidades ainda estão presentes, mas a luz do sol traz consigo uma força que convida a seguir em frente. A chuva pode ser vista como as lágrimas derramadas, e o sol, como a superação e a capacidade de encontrar beleza e alegria mesmo após a dor.

O convite para dar a mão e sair para ver o sol é um chamado para compartilhar a experiência de recomeço e apreciar a beleza da vida. A ênfase na manhã e no esquecimento do que foi sonhado, chorado e sofrido reforça a ideia de que cada novo dia traz consigo a possibilidade de deixar para trás as mágoas e viver novas experiências. A música, portanto, é um hino à resiliência e à capacidade humana de se recuperar e encontrar felicidade após os momentos de tristeza.

Interpretada por Dolores Duran, é uma ode à renovação e à esperança que a manhã traz. A letra começa com a imagem do amanhecer, onde o sol surge após uma noite de chuva. Os pingos de chuva que ainda brilham e bailam ao vento simbolizam as dificuldades e tristezas passadas, que, embora ainda presentes, são suavizadas pela luz e alegria do novo dia. Essa metáfora sugere que, mesmo após momentos difíceis, a vida continua e há sempre a possibilidade de um recomeço.

Dolores Duran, com sua voz suave e emotiva, convida o ouvinte a seguir em frente, deixando para trás os sonhos, lágrimas e sofrimentos do passado. A mão estendida é um gesto de apoio e companheirismo, indicando que não estamos sozinhos em nossa jornada. A música enfatiza a importância de viver o presente e aproveitar as novas oportunidades que surgem com cada amanhecer. A repetição da ideia de 'ver o Sol' reforça a mensagem de otimismo e a busca pela felicidade.

A simplicidade e a beleza da letra, combinadas com a interpretação sincera de Dolores Duran, fazem de 'Estrada do Sol' uma canção atemporal. Ela nos lembra que, independentemente das adversidades, sempre há um novo dia para recomeçar e encontrar a alegria. A música é um convite para abraçar a vida com esperança e coragem, valorizando os momentos de luz e superando as sombras do passado.

Fontes
https://www.letras.mus.br/tom-jobim/49039/significado.html 
https://www.letras.mus.br/dolores-duran/396856/significado.html

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Concursos de Trovas do Blog (Trovas Premiadas)

Trovas Premiadas nos dois concursos realizados pelo Blog Literário Singrando Horizontes

Participaram 101 trovadores, com 276 trovas. 

Humorística teve 6 premiados.

Lírica/filosófica teve 18 premiados

Os diplomas serão confeccionados e enviados nos respectivos emails até a próxima semana. O ebook do concurso será enviado aos premiados e não premiados.

Agradecimentos a todos/as os/as trovadores/as, sua participação foi fundamental para o sucesso dos concursos.



CONCURSO DE TROVAS “THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA”

Humorística – Tema: Pinguço/s
108 Trovas Recebidas

1.
A. A. de Assis
Maringá/PR

Era uma dupla famosa:
os dois pinguços da praça.
A cada dedo de prosa,
dois dedinhos de cachaça...

2.
Solange Colombara
São Paulo/SP

Se estiver quase tombando,
o pinguço tem um lema:
lentamente vai deitando...
Levantar... é que é o problema!

3.
Léo Augusto Tarilonte Jr. 
Vila Velha/ES
O pinguço inveterado
pede mais uma cerveja.
Sorridente, vê dobrado,
há dois copos na bandeja.
4.
Mário Moura Marinho
Sorriso/MT

Examinando... o Doutor:
- Você bebe? Seu Chiquinho!
O pinguço: - Faz favor,
vou aceitar um "golinho".

5.
Ricardo Ayoub Pires
Juiz de Fora/MG
O pinguço se complica
para sair do bar quando
quanto mais parado fica,
mais sente o mundo rodando.

6.
Elvira Glória Drummond Miranda 
Fortaleza/CE

O tal pinguço aplaudia
a receita do oculista:
— Pinga três vezes ao dia! 
(Foi para o bar, otimista…)
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CONCURSO DE TROVAS “A. A. DE ASSIS”

Líricas/Filosóficas – Tema: Poeta/s
168 Trovas Recebidas

1.
Márcia Jaber
Juiz de Fora/MG

Preso às oníricas luzes
dos teus versos bem rimados,
tu, poeta, nos conduzes
por mundos nunca sonhados.

2. 
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho
Juiz de Fora/MG

O pensamento flutua
e em calma meditação,
o poeta alcança a lua
sem tirar os pés do chão.

3.
Francisco Gabriel Ribeiro
Natal/RN

Sou um poeta decano,
mas, apesar do que eu fiz,
quanto mais sou veterano,
mais me sinto um aprendiz.

4.
Julia Fernandes Heimann
Jundiaí/SP

Poeta, tens o Universo!
Desperta! Avante! Coragem!
A  linha frágil de um verso
divulga a tua mensagem!

5.
Maria Lúcia Spadarotto Neves
Itaperuna/ RJ

Tanta sensibilidade
tem o poeta na escrita,
que torna a dor da saudade
na poesia mais bonita.

6.
Márcia Jaber
Juiz de Fora/MG

Poeta, em líricas luzes,
traduzes teus  pensamentos:
ora ao amor nos conduzes,
ora a doridos lamentos.
7.
A. A. de Assis
Maringá/PR

Traz-me alegria completa
este prazer sempre novo:
ouvir a voz de um poeta
que canta os sonhos do povo.

8.
Maria Conceição Alves De Lima
Ribeirão Preto/SP

Esculpindo a realidade
com o cinzel da fantasia,
o poeta, na verdade,
vai semeando magia.

9.
Janete Francisco Sales Yoshinaga
São Paulo/SP

Ser poeta é projetar
no papel a fantasia:
fazer do sol o luar
e da tristeza a alegria!
10.
Julia Fernandes Heimann
Jundiaí/SP

O poeta em sua luta
muitos seixos ele apara
e faz de uma pedra bruta
uma trova, joia rara!

11.
Luciano Izidoro de Borba
Tombos/MG

Pela cadência da trova,
o hábil poeta abrilhanta
e seu legado comprova
que a magistral rima encanta!

12. 
Lucêmio Lopes da Anunciação
Gramado/RS

Ó poeta irreverente,
tens uma missão na vida:
fazer despertar na gente
cada emoção esquecida.

13.
Paulo Roberto de Oliveira Caruso
Niterói/RJ

O poeta, procurando
o frescor em arte nova,
um dia acabou achando
em quatro versos a trova!

14.
Maria Lúcia Spadarotto Neves
Itaperuna/RJ

Ser poeta é colher flores
onde só existe espinho,
ao tornar em riso as dores
deste mundo em desalinho.

15.
Jessé Fernandes do Nascimento
Angra dos Reis/RJ

No meu sonho mais profundo,
em pensamentos imerso,
poeta, deixo o meu mundo,
viajo pelo universo.
16.
Janete Francisco Sales Yoshinaga
São Paulo/SP

O poeta, a qualquer hora,
no escrito exibe a emoção;
não sabe se ri ou chora,
não manda no coração!
.
17.
Elvira Glória Drummond Miranda 
Fortaleza/CE

Poeta, na mocidade, 
plantou verso e melodia… 
no canteiro da saudade, 
hoje, colhe nostalgia!
18.
Samuel Cunha Quixote
Mossoró/RN

Em alguns delírios meus,
pelas noites inquietas,
eu vejo o rosto de Deus
nas cantigas dos poetas…

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COMISSÃO JULGADORA
Edy Soares (Vila Velha/ES)
Therezinha Dieguez Brisolla (São Paulo/SP)
Vanda Fagundes Queiroz (Curitiba/PR)

Fiel Depositário
Prof. Dr. Giuseppe Paolo Dell’Orso (Maringá/PR)

Coordenador Geral, Organizador e Editor do Blog
José Feldman (Maringá/PR)

Parabéns a todos os premiados. 

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Ademar Macedo (Ramalhete de Trovas) 28

 

José Feldman (Pafúncio no Manicômio)

(mais uma aventura da série Pafúncio, o jornalista trapalhão)

Era uma manhã ensolarada quando Pafúncio, o jornalista da revista “Fuxico & Fofocas”, recebeu uma ligação do editor que o deixou perplexo. 

“Pafúncio, precisamos de uma cobertura especial. Você vai ao manicômio e vai fazer uma reportagem sobre a vida lá dentro.”

Pafúncio, que não tinha a menor ideia do que significava cobrir um manicômio, apenas respondeu: “Claro! Vou fazer isso! Não se preocupe!” 

Ele estava tão animado que mal conseguia pensar na seriedade da situação.

Vestindo uma camisa de estampas psicodélicas e uma gravata que parecia ter sido desenhada por uma criança, Pafúncio chegou ao manicômio. Ao entrar, foi recebido por um enfermeiro que o olhou com desconfiança. “Você é o jornalista?” perguntou o enfermeiro.

“Sim, sou eu! Estou aqui para fazer uma matéria incrível!” Pafúncio respondeu, com um sorriso largo que parecia mais uma careta.

Assim que entrou na ala dos pacientes, Pafúncio começou a fazer perguntas aleatórias, sem prestar atenção nas respostas. “O que você acha do almoço servido aqui? É tão bom quanto o que servem em um restaurante chique?” perguntou a um paciente que estava sentado em um canto, olhando para o nada.

O paciente olhou para ele, confuso, e disse: “Eu só queria um pedaço de bolo…”

“Bolo! Ótima ideia! Vou anotar isso!” Pafúncio exclamou, enquanto anotava freneticamente. Ele estava tão entusiasmado que não percebeu que a conversa não estava indo a lugar algum.

A sua primeira trapalhada aconteceu quando ele decidiu que precisava tirar fotos para a reportagem. Ele começou a disparar flashes incessantemente, fazendo com que os pacientes se assustassem. 

Um deles, que estava concentrado em montar um quebra-cabeça, se levantou e gritou: “Pelo amor de Deus, pare com isso! Eu estou tentando focar!”

“Desculpe! É para a revista!” Pafúncio respondeu, mas já estava se distraindo com um paciente que estava dançando em cima de uma mesa.

“Olha, uma apresentação de dança!” ele gritou, enquanto começava a gravar em seu celular. O paciente, animado, começou a dançar ainda mais, mas acabou escorregando e caindo, fazendo com que uma série de cadeiras se derrubassem.

“Isso vai render uma ótima reportagem sobre talento escondido!” Pafúncio comentou, enquanto os enfermeiros começavam a correr em direção ao local do acidente.

A cada nova interação, Pafúncio se aprofundava mais em sua própria confusão. Ele encontrou um grupo de pacientes jogando cartas e decidiu que precisava participar. 

“Ei, posso me juntar a vocês? O que estamos jogando? Pôquer? Ou é um jogo de tabuleiro?” ele perguntou, sem entender que estavam jogando um jogo inventado por eles, que envolvia adivinhar quem era o “rei do dia”.

Os pacientes, rindo, decidiram que Pafúncio deveria ser o “rei” por um dia. 

Ele começou a fazer declarações absurdas, como: “A partir de agora, todos devem usar chapéus de papel alumínio!” e todos aplaudiram histericamente, enquanto Pafúncio se sentia como uma verdadeira celebridade.

Depois de algum tempo, um dos médicos entrou na sala e, ao ver a cena, ficou perplexo. “O que está acontecendo aqui?” ele perguntou, olhando para Pafúncio, que estava sentado em uma cadeira com um chapéu de papel alumínio.

“Sou o novo rei! E vocês todos são meus súditos!” Pafúncio exclamou, levantando os braços como se estivesse em um espetáculo.

O médico, já desconfiado, decidiu acompanhar o “jornalista” por mais um tempo. Pafúncio, ignorando completamente a seriedade do ambiente, começou a fazer perguntas sobre os tratamentos dos pacientes. 

“Então, como é receber terapia? É como ir a um spa, mas sem as toalhas quentes?” ele perguntou a uma mulher que estava desenhando.

A mulher olhou para ele, incrédula. “Depende… você gosta de água fria?” ela respondeu, enquanto Pafúncio anotava tudo como se estivesse em uma conferência de imprensa.

A situação foi se agravando quando Pafúncio decidiu que precisava entrevistar o diretor do manicômio. Ele se dirigiu ao escritório do diretor, sem saber que estava invadindo uma reunião importante. 

“Oi, sou Pafúncio! Estou aqui para fazer uma reportagem sobre a vida no manicômio! Posso fazer algumas perguntas?” ele interrompeu, enquanto os médicos olhavam para ele, atônitos.

“Desculpe, mas estamos ocupados,” respondeu o diretor, tentando manter a compostura. “Isso é uma reunião de emergência.”

“Uma emergência? Isso é ótimo! Posso fazer uma matéria sobre isso! ‘Emergência no Manicômio: O Que Está Acontecendo?’” Pafúncio disse, enquanto tentava se acomodar na mesa.

Os médicos começaram a se olhar, preocupados. 

“Acho que precisamos conversar com você,” disse um deles, levantando-se.

Com a confusão tomando conta, Pafúncio decidiu que era hora de fazer uma pausa e se dirigiu ao banheiro. Ao entrar, ele se deparou com um espelho e começou a fazer caretas, como se estivesse se preparando para uma grande apresentação. “E se eu me tornar o novo rosto da fama? Pafúncio, o jornalista que transforma manicômios em palcos!” ele pensou alto, rindo de sua própria ideia.

Enquanto isso, os médicos decidiram que ele era um risco para si mesmo e para os pacientes. Quando Pafúncio saiu do banheiro, foi cercado por enfermeiros e médicos que tentaram convencê-lo a se sentar e “conversar”.

“Mas eu só quero fazer uma reportagem!” ele protestou, mas os médicos não estavam ouvindo.

“Precisamos te internar por um tempo, você está se comportando de maneira estranha.” disse um dos médicos, enquanto Pafúncio olhava em volta, confuso.

“Estranho? Eu sou apenas um jornalista divertido! Olhem para mim!” ele exclamou, fazendo uma pose exagerada. “Não sou louco! Sou apenas… bem, um pouco excêntrico!”

Os médicos, já sem paciência, começaram a levá-lo para uma sala. 

“Pafúncio, por favor, não faça mais alarde! Você está atrapalhando a rotina do manicômio!” um deles gritou, enquanto Pafúncio tentava escapar.

“Isso não é uma prisão! Isso é uma reportagem!” ele respondeu, mas no fundo sabia que a situação tinha saído do controle.

Finalmente, em um último esforço para se libertar, Pafúncio começou a agir como se estivesse em um espetáculo, fazendo gestos grandiosos. 

“Eu sou o rei do manicômio! Vocês não podem me internar! Eu tenho que escrever sobre o talento escondido aqui!”

Mas, ao ouvir a palavra “internar”, um dos médicos, que já estava estressado, decidiu que já era suficiente. “Vamos colocar um ponto final nisso,” ele disse, enquanto Pafúncio continuava a protestar.

Finalmente, em uma cena digna de um filme de comédia, Pafúncio foi levado para fora do manicômio, enquanto gritava: “Isso vai ser uma ótima matéria! ‘Pafúncio, o jornalista que se tornou paciente!’”

E assim, ele saiu, rindo, sem saber que sua trapalhada se tornaria a maior história de todas. Afinal, a vida de Pafúncio era um grande espetáculo.

Fonte: José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.

Vereda da Poesia = 141 =


Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR

Saudade
é um
pedacinho
da gente
que ficou
pra trás.
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

A violência eu detesto,
porque é pelo amor que eu luto,
sem amor o mundo é um “resto”
eternamente de luto!
= = = = = = 

Poema de
LUIZ POETA
Rio de Janeiro/RJ

Sudoeste

Olhando o mar, vi gaivotas, albatrozes,
garças, fragatas, pelicanos e golfinhos,
orcas, jubartes, tubarões... e vi peixinhos,
porém não vi, no horizonte, o teu veleiro.
... ventos uivantes, traiçoeiros e velozes
são os algozes do meu sonho aventureiro
e o meu olhar, fitando ondas tão ferozes,
sentiu a dor do meu amor chegar primeiro.

Se não te vi, meu doce amor, onde estarias?
...alçando velas ao sabor de alguma brisa?
... o sudoeste implacável não avisa
e é preciso conhecer sua emoção
pois, como o mar, amar nem sempre é calmaria,
porém o vento escolhe a própria direção
e quem não sabe conviver com a ventania
sequer conhece os vendavais de uma paixão.

Preso no cais, com meu olhar oceanando
abstrações nos horizontes passionais,
busquei sonhar, sentindo as brisas matinais
na minha na pele, qual tua boca tão macia
... brisa do mar... num sonho bom, acariciando
as emoções, quando o carinho faz poesia,
na areia clara que o mar vai apagando...
mas o desejo mais feliz sempre copia.

Fechei meus olhos e soltei meus devaneios
num céu azul... livre... no ar da esperança...
e quanto mais, no meu sonhar, me fiz criança,
mais eu voava e... quando... enfim... senti o mar,
tu me tocavas com a ternura dos teus seios
e eu percebi o quanto doce era te amar
num sudoeste que acordou os meus anseios,
e ainda trouxe a maciez... do teu olhar.
= = = = = = 

Trova Premiada em Irati/PR, 2023
FERNANDO ANTÔNIO BELINO 
Sete Lagoas / MG

O tempo, indomável, faz
o rochedo em pedregulho,
mas segue sendo incapaz
de quebrar o teu orgulho!
= = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Na curvatura dos teus cílios

Em tuas cristalinas e macias asas
O pôr do sol cintila -
Escrevo as inicias do teu nome
Em uma  nuvem, àquela... lembra?
Com formato de coração
E, busco
Nas linhas dos teus lábios
O beijo com gosto
Das manhãs... do anoitecer
Das aguadas,
Tingidas com chá de romã,
Deslizando no Canson,
E na curvatura dos teus cílios
Faço uma pausa,
Emociono-me com tua lágrima
E, sinto o pulsar do teu coração
Nas asas de cristal,
Em tons de azul
Tinta, ainda molhada -
Inebria-se o vento,
A umedecer meus olhos...
= = = = = = 

Trova Popular

Ó alegria do mundo
por onde é que tens andado?
Tenho corrido mil terras,
e não te tenho encontrado...
= = = = = = 

Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO

Tesouro brasileiro

As águas riscam mágico roteiro,
transformam-se na espuma alabastrina
e adornam com babados a cortina
que veste o colossal despenhadeiro.

No rasgo da floresta é rotineiro
o encanto derramado na retina
de quem conhece a graça que domina
a imagem do tesouro brasileiro.

Os cílios verdes dançam reverentes
ao firmamento preso na enxurrada
urdida pelas sôfregas correntes.

É justa toda láurea dedicada
às Cataratas do Iguaçu, presentes
da natureza, sempre desvelada.

(5° lugar no Concurso Literário-2023, pela Academia Literária do Oeste do Paraná)
= = = = = = 

Trova de
HERMOCLYDES SIQUEIRA FRANCO
Niterói/RJ (1929 – 2012) Nova Friburgo/RJ

A vagar pela cidade,
desde os tempos de menino,
procuro a felicidade
que mora além do destino!…
= = = = = = 

Poema de
ELISA ALDERANI
Ribeirão Preto/SP

Pausa da natureza

Aprendi a seguir o exemplo da natureza...
Parar, observar todos os detalhes que a visão ainda me permite ver...
sentada no chão, sobre folhas mortas, caídas, já ressequidas
vejo a beleza do rio passar;
ele não para, é igual ao tempo que passa.
Ninguém pode parar suas águas que fluem,
agora lentas, ou rápidas, dependendo das estações...
Seguem seu percurso indiferente até chegar ao fim do vale,
quando abraçarão o mar...
A tarde passada olhando essa imagem calmamente,
até as árvores verdes fazem reverência ao rio,
as outras, com folhagem outonal, também estão na pausa,
logo o vento irá despi-las para o inverno passar...
Depois, para elas, virá a primavera mais uma vez.
Assim é a lei da natureza,
olho para o azul do céu,
nuvens brancas passando,
mudam a sintonia do meu pensamento.
Também reverencio minha pausa,
com gratidão ao tempo!
= = = = = = 

Trova de
HEDER RUBENS SILVEIRA E SOUZA 
Natal/RN

Numa garrafa vazia,
entregue ao mar, confidente,
um retrato reunia 
seu passado ao meu presente...
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Crepúsculo e aurora

Crepúsculo e aurora são dois marcos
suaves que norteiam meu viver;
seu lusco-fusco que nos lembram zarcos,
para o meu caso é fonte de prazer...

Mas esse par, de fato, são dois barcos:
um que me leva em pelo amanhecer...
e outro que, vendo os meus recursos parcos,
no ocaso, traz-me até meu bem-querer.

O sair e voltar, há longos anos
sempre esteve persente nos meus planos
de eterno amor por minha linda fada...

Saio bem cedo para trabalhar,
e à tardinha regresso ao doce lar,
para os beijos febris de minha amada.
= = = = = = 

Trova do
Príncipe dos Trovadores
LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1977, Santos/SP

Quem vive pela saudade,
por longos anos ou meses,
possui a felicidade
de reviver várias vezes.
= = = = = = 

Soneto de
FLORBELA ESPANCA 
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos

Tarde no Mar

A tarde é de ouro rútilo: esbraseia
O horizonte: um cacto purpurino.
E a vaga esbelta que palpita e ondeia,
Com uma frágil graça de menino,

Pousa o manto de arminho na areia
E lá vai, e lá segue ao seu destino!
E o sol, nas casas brancas que incendeia.
Desenha mãos sangrentas de assassino!

Que linda tarde aberta sobre o mar!
Vai deitando do céu molhos de rosas
Que Apolo se entretém a desfolhar...

E, sobre mim, em gestos palpitantes,
As tuas mãos morenas, milagrosas, 
São as asas do sol, agonizantes...
= = = = = = 

Trova Funerária Cigana

Se queres saber se eu choro,
me empresta a tua mortalha,
com ela enxuga o meu pranto,
e o nosso filho agasalha.
= = = = = = 

Poemeto de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

Um olhar pode eternizar um momento
mas uma noite não dura para sempre.
Um sorriso às vezes é aconchego, ou
pode ser um retrospecto, um lamento.
Mas na noite... O sonho torna-se cura.
= = = = = = 

Trova Humorística de 
ALMIRA GUARACY REBELO
Belo Horizonte/MG

Sempre a rebaixar a idade...
Mania da tia Stela,
que chegou à raridade
de voltar a ser donzela!
= = = = = = 

Poema de 
FABIANE BRAGA LIMA
Rio Claro/SP

A mais bela poesia

Páginas… minha escrita sem nexo, hoje gritam
Há uma certa repetição de palavras
Poemas incoerentes, sem lucidez...
Palavras aglomeradas, infindas e rimadas.
Leio um livro, talvez tenha inspiração
Mas a saudade me faz companhia
Sempre presente, me faz melancólica
Aonde se esconde...!? Não a vejo!
Leal e afável. De repente me deixou...
Palavras belas, tua essência incógnita
Formoso, não sei! Vasto de encanto...
Tento te decifrar, mas não consigo, não lhe ouço
Preciso recomeçar, viver. Largo tua mão!
Cativou-me, seremos a mais bela de todas as poesias...
= = = = = = 

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Canoando mar afora, 
a esperança me conduz. 
Já vejo lá adiante a aurora 
trazendo uma nova luz.
= = = = = = 

Soneto de
GILSON FAUSTINO MAIA
Petrópolis/RJ

Meu Conselho

Eu não gostei, amigo, do seu vício.
É fumaça demais na atmosfera.
Deixe o tempo correr, é primavera,
não lance o seu futuro em precipício.

Não use, em sua vida, um artifício
para matar o tempo enquanto espera
o fechar da cortina e da quimera
que envolve o nosso mundo, desde o início.

Viva a paz, viva o amor, a natureza!
Seja o seu corpo rocha, fortaleza,
dê, então, ao seu vício longas férias.

Com saúde não faça brincadeira.
Para que entupir, dessa maneira,
o caminho do sangue nas artérias?
= = = = = = 

Poetrix de
RICARDO MANIERI
Porto Alegre/RS

do tempo

Contemplo o tempo
do alto de meus dias
e sinto alguma vertigem…
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Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES

Desilusão

Qualquer dia, qualquer hora,
ponho minha viola no saco,
pego um par de chinelos e sapatos,
arrumo a mochila e vou embora.

Não quero ficar pra assistir o final,
esforçar pro filme não acabar mal,
se não posso mudar o roteiro
tenho direito de querer estar fora.

Minha bagagem é mesmo pequena.
sou coadjuvante em qualquer cena,
e no fim, do longa, sempre alguém chora.

Nunca fui muito bom de comédia,
virou drama e eu perdi as rédeas.
Substitua-me que eu quero ir embora.
= = = = = = 

Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/ SP

Gera corrida e surpresa,
notícia mal pontuada:
"A Mulata Globeleza
visita a Serra Pelada"!
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Poema de 
FERNANDO PESSOA
Lisboa/Portugal, 1888 – 1935

Tudo quanto penso 

Tudo quanto penso, 
Tudo quanto sou
É um deserto imenso 
Onde nem eu estou. 

Extensão parada 
Sem nada a estar ali, 
Areia peneirada 
Vou dar-lhe a ferroada 
Da vida que vivi.
= = = = = = 

Trova da
Princesa dos Trovadores
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

O mar da vida parece
que, às vezes, quer me afogar,
mas, Deus, que nunca me esquece,
atira a boia no mar!...
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Hino de 
Piracuruca/PI

Água que vem da terra fria
E no nosso peito deságua
Feliz daquele que um dia
Bebe dessa água

Terra da lenda e da magia
Das Sete Cidades encantadas
Onde as pedras são vivas esculturas
Que se movem pelas madrugadas

E Olho D’Água do Padre
Rua da Goela e majestosa Igreja
De Nossa Senhora Do Carmo
Que eu adoro onde quer que eu esteja

Por todo lugar onde passo
Hospitaleira ela me aninha
Do Casarão do Padre Sá Palácio
Ao regaço da Prainha

Fogo que é fé e chama e luz
E traduz a força do lugar
Piracuruca dos Tocarijus
Quero este teu ar

Teu ar de grandeza e liberdade
Que os Dantas heróis precursores
Legaram a toda cidade.
= = = = = = 

Trova Premiada no Japão
DÁGUIMA VERÔNICA DE OLIVEIRA
Santa Juliana/MG

O sertanejo migrante,
fugindo à seca que avança,
nos sonhos de retirante
põe o resto da esperança. 
= = = = = = 

Sonetilho de 
OLIVALDO JUNIOR
Mogi-Guaçu/SP

No barzinho do Olivaldo

No barzinho do Olivaldo,
bebedor, só de poesia, 
que poesia que dá caldo 
para a nossa freguesia. 

No barzinho do Olivaldo, 
todo mundo tem valia, 
devedor, o eterno saldo 
que se paga dia a dia. 

Quem faz falta nesse bar 
é "cliente" para enchê-lo, 
gente amiga a papear. 

Um "Toquinho" pra tocar, 
e o Olivaldo, num "apelo", 
pode o bar inaugurar.
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Quando a lua me abre as frestas
das lembranças que são tuas,
eu choro as velhas serestas
feitas à luz de outras luas!
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Fábula em Versos
adaptada das Fábulas de Monteiro Lobato 
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

Fábula do Pato e da Garça 

Um pato nadava, feliz na lagoa, 
Enquanto a garça, elegante, voava à toa. 
“Venha comigo, vamos dançar!” 
Disse o pato, com jeito de encantar. 

Mas a garça, com graça, apenas sorriu, 
“Cada um tem seu jeito, sigo o meu.” Ela arguiu.
No final, aprenderam a respeitar, 
Que a beleza está em cada um, ao brilhar.