quarta-feira, 16 de julho de 2025

Contos e Lendas do Mundo (Romênia) Harap Alb


"Harap Alb" é o protagonista, bem como o título de um conto de fadas em língua romena de Ion Creangă, conhecido na íntegra como Povestea lui Harap Alb ("A História de Harap Alb"). Ele é o mais novo de três príncipes.

"Harap Alb" recebeu muita atenção póstuma dos críticos literários e inspirou obras de outros gêneros. Isso inclui o filme de Ion Popescu-Gopo, De-aș fi Harap Alb (Se eu fosse Harap Alb), um romance pós-modernista de Stelian Țurlea e uma história em quadrinhos de Sandu Florea, ao lado de uma das teses de Gabriel Liiceanu no campo da filosofia política.

Harap Alb em romeno significa "árabe branco". A palavra harap é uma forma antiquada de arap derivada de "árabe" significa "pessoa negra" ou "mouro". Também pode se referir a um homem bonito, geralmente com feições escuras.

O arap ou harap é uma raça estereotipada no folclore dos Bálcãs, da Turquia no sul à Romênia moderna no norte, muitas vezes, mas nem sempre, retratada de forma negativa.

O nome também pode ser uma alusão à condição de escravidão do protagonista de "degradação e submissão", já que alp pode ser prontamente associado ao comércio de escravos africanos ou à escravidão de minorias na escravidão na Romênia. O conto torna-se, assim, a busca do herói pela recuperação do "status humano".

RESUMO DO CONTO

A narrativa começa com uma fórmula padrão: os três filhos de um rei são enviados em uma missão, e o herói, o filho mais novo, está pronto para suceder.

Um rei sem nome tem um irmão, o Imperador Verde (Împăratul Verde) que está se aproximando da morte, e como não tem herdeiros do sexo masculino, ele escreveu ao rei para enviar qualquer um de seus três príncipes, e qualquer um que completar a jornada herdará todo o império. O reino e o Império estão nas "margens" da terra, separados por terras desoladas.

O filho mais velho concorda em aceitar o desafio de seu tio, e o rei decide testar sua coragem vestindo-se com uma pele de urso e bloqueando a ponte ao longo do caminho. O príncipe mais velho volta apavorado para casa. O monarca prega o mesmo truque em seu segundo filho, com o mesmo resultado. Sem revelar seu estratagema, o rei expressa sua decepção, o que leva o mais novo a chorar e correr para o jardim do palácio. Lá, uma velha mendiga lê sua sorte: o príncipe mais jovem se tornará um glorioso imperador. Ela pede que ele tente a busca de seu tio, mas avisa que ele deve usar apenas os ítens que seu pai tinha quando era noivo: roupas esfarrapadas, armas enferrujadas e um velho garanhão. Ela então desaparece nos céus.

O príncipe mais jovem sofre o ridículo de seu pai, mas acaba obtendo permissão para ir, e com os itens antigos do rei. 

O cavalo pode ser identificado pela sabedoria que lhe foi dada pela velha: o cavalo certo será o único no estábulo que se aproximará de uma bandeja cheia de brasas na alimentação. O cavalo dá três sacudidas e se transforma em um belo corcel. O cavalo pode conversar com seu novo mestre e carregá-lo saltando para as nuvens e a Lua. 

O príncipe vai até a ponte e suporta o ardil do urso, e o rei lhe dá a pele de urso como troféu. Como palavras de despedida, o pai diz a ele para tomar cuidado "com o Homem Vermelho, e especialmente com o Careca".

A próxima etapa da jornada leva o príncipe a uma floresta profunda habitada pelo malvado Homem Careca (Spânul), que o escravizará por meio de truques. O príncipe rejeita duas vezes a oferta de serviços do Homem Careca, mas na terceira vez, perdeu o rumo e decide aceitar. Por engano, a criatura engana o príncipe e coloca-o no fundo de um poço e só o deixa sair submetendo-se à sua condição de que os dois agora devem trocar de papéis. 

Assim, no palácio, o Careca é apresentado como filho do rei, enquanto o jovem príncipe segue como seu servo chamado "Harap Alb". O Imperador Verde os recebe sem suspeitar, mas a filha do Imperador pega o mestre batendo em seu servo e o repreende; ela começa a se perguntar qual é verdadeiramente nobre e qual é a base entre os dois.

Harap-Alb logo é enviado em sua primeira missão perigosa. Ele é ordenado pelo Homem Careca a recuperar a "salada do Jardim do Urso", que o Imperador Verde gostava. Seu cavalo falante o tranquiliza e, voando no ar, o leva para uma ilha, onde ele se reúne com a mendiga adivinha, que agora se identifica como "Domingo Santo" (Sfânta Duminică). Ela dopa o bebedouro do urso com uma infusão indutora de sono, ervas, mel e leite, e Harap Alb envolto em pele de urso pega a salada antes que a fera acorde.

A segunda missão perigosa de Harap-Alb é caçar o cervo encantado cuja pele é cravejada de pedras preciosas e trazer de volta seu crânio e couro. O olhar do cervo é mortal e ninguém jamais sobreviveu. O Santo Domingo fornece a ele a viseira e a espada de Statu-Palmă-Barbă-Cot (um personagem anão). Seguindo suas instruções, Harap Alb se esconde em um poço profundo e embosca o veado, cortando sua cabeça de uma só vez, depois retorna ao buraco esperando até que a cabeça morra completamente. Durante sua espera, a cabeça do veado decepado grita com uma voz humana pedindo para vê-lo, mas se ele tivesse obedecido, o "olho envenenado" do veado o teria matado.

O retorno triunfante com as joias aumenta muito o prestígio de Harap Alb, bem como a estima do Imperador Verde por ele. O Homem Careca tenta ciumentamente creditar os feitos a si mesmo por treinar seu servo com seus modos severos. 

Enquanto o monarca é crédulo, sua filha e suas irmãs ficam ainda mais céticas e decidem investigar mais. Eles pedem a Harap Alb para pôr a mesa para o banquete, mas o Careca faz o servo jurar não conversar com as damas. 

Nas festividades, uma criatura encantada parecida com um pássaro, Pasărea măiastră faz uma visita surpresa e anuncia: "Vocês estão comendo, bebendo e se divertindo, mas não conseguem pensar na filha do Imperador Vermelho!" 

Segue-se um debate animado sobre o tirânico Imperador Vermelho (Împăratul Roșu) e sua filha. Alguns convidados afirmam que esta última é uma bruxa malévola, e alguns ainda que ela é o próprio pássaro, em uma missão para propagar o medo. 

O Careca posteriormente oferece Harap Alb para investigar o mistério e o envia em uma missão para capturar a filha do Imperador Vermelho.

A jornada do príncipe começa com um ato de piedade. Ele se depara com uma procissão de casamento de formigas na ponte e, em vez de pisoteá-las, decide ir para o rio de águas profundas. Uma formiga alada agradecida lhe dá suas asas, dizendo-lhe para queimá-las em sua necessidade, e toda a colônia virá em seu auxílio. 

O príncipe tem um encontro semelhante, desta vez com um enxames de abelhas. Ele deposita seu chapéu para o enxame descansar, depois os carrega para uma nova colmeia que ele fez escavando um tronco. Em gratidão, a abelha rainha o presenteia com uma asa para convocá-la em seu momento de busca de ajuda.

Harap Alb continua a jornada e ganha cinco companheiros. O primeiro é Gerilă (de "geada", e o sufixo diminutivo -ilă), um homem que treme mesmo no verão, cujo hálito frio se transforma em um vendaval que congela tudo em gelo. Depois de ser brincalhão, Gerilă responde "Ria se quiser, Harap Alb, mas você não será capaz de realizar nada sem mim para onde está indo", e o príncipe muda de ideia, concordando em deixar o homem acompanhá-lo. 

Eles se juntam a Flămânzilă (de flămând, "faminto"), que pode consumir grandes quantidades sem satisfazer seu apetite e Setilă (de sete, "sede"; também "Beber tudo") com a capacidade de beber sem fim, Ochilă (de ochi, "olho"), um homem de olhos aguçados cuja visão alcança longas distâncias, e Păsări-Lăți-Lungilă (de pasăre, "pássaro", a se lăți, "alargar-se" e a se lungi, "alongar-se"), que pode crescer em qualquer direção à vontade e atingir alturas acessíveis apenas aos pássaros. 

Inicialmente, a reunião produz um desastre após o outro: florestas queimadas, solo esgotado, drenagem de água, exposição de segredos e matança de pássaros. 

Harap Alb sozinho "não causou nenhum desastre".

O grupo finalmente chega à corte do Imperador Vermelho, onde Harap Alb anuncia sua intenção de sair com a garota. O Imperador Vermelho tenta eliminá-los alojando-os em uma casa de cobre e ordenando que ela aqueça a uma temperatura semelhante à de um forno. 

Gerilă com seu hálito frio esfriou. Como tática seguinte, o Imperador Vermelho convida o grupo para um banquete, apenas para testemunhar com alarme a rapidez com que sua comida e bebida são consumidas por Flămânzilă e Setilă. 

O imperador então exige um teste: eles devem separar um mierță (cerca de 200 litros) de semente de papoula de uma quantidade equivalente de areia fina no espaço de uma noite, mas isso é feito com a ajuda das formigas. 

O monarca então diz aos heróis que, se eles querem sua filha, eles devem guardar e seguir por mais uma noite, deixando-os saber que ele não conhece seus caminhos. 

À meia-noite, a princesa se transforma em um pássaro e escapa do palácio, mas, embora ela se refugie nos lugares mais inacessíveis, desde "a sombra do coelho" até o outro lado da Lua, ela é rastreada por Ochilă e eventualmente agarrada por Păsări-Lăţi-Lungilă.

O Imperador Vermelho dá seu teste final: Harap Alb deve distinguir a filha real de sua filha adotiva, que é sua cópia exata. Isso o protagonista realiza com a ajuda da abelha rainha, que identifica a verdadeira princesa e pousa em sua bochecha. 

Um desafio final é apresentado pela própria menina, como uma corrida entre sua pomba e seu cavalo, para ir ao local "de onde as montanhas batem cabeça a cabeça umas nas outras", e obter três galhos de sua macieira, três medidas da água da vida e três medidas da água morta. Embora mais lento, o cavalo força o pássaro que retorna a lhe entregar os itens e é o primeiro a retornar. A princesa aceita o resultado como seu destino, e agora acompanha de bom grado Harap Alb.

Os companheiros de Harap se dispersam e voltam para seus locais originais onde se juntaram ao grupo. Harap Alb se apaixona por sua refém e fica abatido com a perspectiva de ter que entregá-la ao Homem Careca.

Na corte do Imperador Verde, o Homem Careca tenta pegar a filha do Imperador Vermelho pelos braços, mas ela o rejeita completamente, expondo o Homem Careca por assumir uma identidade falsa e declarando que seu pretendido (ou seja, futuro marido) era o sobrinho do verdadeiro imperador, Harap Alb. 

O careca enfurecido corta a cabeça do herói com a espada larga que o príncipe fez seu juramento. O garanhão arrebata o Homem Careca com os dentes, voa alto para os céus e o joga no chão. A princesa conserta a cabeça e o corpo do príncipe, gira o galho de maçã três vezes sobre sua cabeça, reparando as feridas com a água morta e revivendo-o com a água da vida. 

A história termina com um casamento magnífico entre Harap Alb, reconhecido como sucessor do Imperador Verde, e a filha do Imperador Vermelho - uma festa que, de acordo com o relato do narrador, dura "até hoje".

Fonte:

Célio Simões (O nosso português de cada dia) “Rei morto, Rei posto”


"REI MORTO, REI POSTO" é uma expressão que mostra como o poder, a posição de mando e a influência política, profissional ou social, podem mudar rapidamente. Quando alguém perde posição de destaque, outro assume seu lugar de imediato, provando que nesta vida ninguém é insubstituível. É como se um trono imaginário estivesse ou precisasse estar sempre ocupado.

É muito usada para descrever situações de substituição rápida de líderes e/ou figuras influentes. Antigo lema das monarquias, traduz incontestável realidade, pois no momento em que o rei morre, seu herdeiro já é rei, sendo a coroação, com pompa e circunstância, mera formalização daquilo que na prática já ocorreu, pois nenhum reino não pode ficar acéfalo. Exprime a transitoriedade do poder. Quem é poderoso hoje, não será mais amanhã. Os reis passam, a coroa e o cetro ficam. 

Considerando sua origem, essa expressão passou a ser modernamente utilizada em diferentes contextos. Se nos remotos tempos das monarquias europeias, após a morte ou a abdicação de um rei, outro monarca de imediato ascende ao trono, sem interrupção de determinada linhagem de nobres, no mundo profano, é usada para descrever a tendência de se substituir uma figura de poder por outra, sem grandes lamentos sobre o antecessor, na busca por um novo líder, seja ele político, religioso, militar, empresarial, enfim, onde a figura central ou o número um da organização social, precisa existir. 

Não confundir, entretanto, “rei posto” com “rei deposto”, embora seja a mesma a consequência. Em uma ou outra situação, ganha relevo a natureza implacável da sucessão e a imediatidade com que as pessoas costumam substituir figuras importantes, sem muita reflexão sobre seu passado meritório. 

É induvidoso que a expressão se refere ao definitivo desligamento de alguém,  do seu cargo de mando. E quando o “todo poderoso” é apeado do poder, somem também os assessores e serviçais, cabendo ao dito cujo se adaptar e levar a vida como simples mortal, como lembrou Fernando Henrique Cardoso ao sair da presidência da República, sobre ter que fazer o próprio check-in no aeroporto, carregar a própria mala, fazer suas compras ou procurar um táxi.

A observação do ex-presidente nos remete àqueles que imperam em uma instituição por muito tempo, criando vínculos profundos com as demais pessoas. Quando o manda chuva se retira ou é retirado, dissipados os efeitos chorosos das despedidas sinceras ou não, os antigos subordinados já ficam de olho em quem entra, propiciando-lhe calorosa recepção, tudo para cair em suas boas graças e continuar se dando bem, sem nem disfarçar a hipocrisia.

Nos relacionamentos amorosos há o famoso “um novo amor para esquecer o antigo”. A propósito, já foi dito que “ninguém substitui ninguém”, mas essa realidade é duvidosa. Basta perguntar a alguém que amou muito e de repente, foi deixada de lado. Nesse caso, é razoável imaginar que esse “rei posto” (o amor que se foi) deixou marcas indeléveis duradouras, resultantes de um convívio prenhe de momentos felizes, que não podem desaparecer de repente, assim, mal comparado, como se apaga a chama de uma vela.  

Em Portugal, a expressão “Rei morto, Rei posto” é muito utilizada quando as pessoas se aposentam ou deixam em definitivo o trabalho (de forma honrosa ou pela porta dos fundos), e no aspecto amoroso, quando vem a separação.

O escritor José Murilo de Carvalho, no excelente livro que escreveu sobre o nosso mais festejado monarca - “D. PEDRO II” (Companhia das Letras, ano 2007, pág. 21) - narrando o drama que se seguiu à abdicação de Pedro I, usou com exatidão tal expressão: “Quando o Major Frias voltou do Campo de Santana com a notícia da abdicação, várias coisas poderiam ter acontecido (...). O grito de “Viva D. Pedro II”, lançado pelo General Manuel da Fonseca Lima e Silva, irmão de Francisco de Lima e Silva, quebrou o suspense e foi decisivo. como por instinto, a multidão repetiu a aclamação, desfazendo a tensão da expectativa e definindo o curso da história. Rei morto, Rei posto...

Na música popular brasileira, “Rei morto, Rei posto”, cantada por Edú Lobo, com composição de Têtes Raides e Joyce Silveira Palhano, possui o mesmo sentido, em especial na terceira e última estrofe do texto poético:

“Deixa desatar
Deixa a vida fluir
Um dia a verdade vai ter que sair
Mais cedo ou mais tarde não tá mais aí
Por cima do muro ela tem que sair
E a força do escuro não tá mais aí
Com graça e com gosto ela tem que sair
Rei morto, Rei posto não tá mais aí...”

"C'est fini", diriam os franceses, para quem ontem, no topo da pirâmide, era “o cara”, o todo poderoso, o chefão, o número um, que fazia e acontecia - e hoje, no esquecimento, “não deferem nem indeferem” no dizer bem humorado do saudoso jurista e professor Júlio Augusto de Alencar, e amargam inconformados o terrível fel do ostracismo, pois nem mesmo para velório são convidados... 
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Célio Simões de Souza é paraense, advogado, pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho, escritor, professor, palestrante, poeta e memorialista. Membro da Academia Paraense de Letras, membro e ex-presidente da Academia Paraense de Letras Jurídicas, fundador e ex-vice-presidente da Academia Paraense de Jornalismo, fundador e ex-presidente da Academia Artística e Literária de Óbidos, membro da Academia Paraense Literária Interiorana e da Confraria Brasileira de Letras, em Maringá (PR). Foi juiz do TRE-PA, é sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, fundador e membro da União dos Juristas Católicos de Belém e membro titular do Instituto dos Advogados do Pará. Tem seis livros publicados e recebeu três prêmios literários.

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segunda-feira, 14 de julho de 2025

José Feldman (Guirlanda de Versos) * 36 *

 



Ivan Jaf (A gata apaixonada)

Quando perguntam como é que eu consegui sair com a Carla, eu respondo que foi por causa do Aldemir Martins. O pintor famoso.

Eu estava, tranquilo, estudando. Juro.

Lá pelas 3 da tarde o telefone tocou. Era ela, a vizinha da casa 3.

A mãe morreu há uns quatro anos.

O pai é superciumento, não a deixa sair de casa nunca.

– Oi, Rodrigo… Você tem um gato grande, malhado?

– Tenho. O nome dele é Sorvete.

– Sorvete?

– Quando a gente encosta a mão, ele se derrete todo.

– Ele briga com a minha gata, a Tati.

– Já aconteceu várias vezes. Acho que é ciúme.

– De outro gato?

– Não. De um quadro. Uma pintura. Do Aldemir Martins.

Dez minutos depois eu estava na sala da casa dela. Só nós dois.

– Você vai ver ela disse.

– É sempre na mesma hora. Já ouviu falar do Aldemir Martins?

– Já. É um pintor famoso pra caramba. Mora aqui em São Paulo.

– Morava. Morreu há pouco tempo. Minha mãe era apaixonada pela pintura dele. Ele ilustrava livros, revistas, jornais… Pintava cangaceiros, galos, passarinhos, peixes…

– Tô sabendo. Desenhava até rótulos de maionese, de vinho…

– Minha mãe comprava tudo que podia.

– A gente comia em pratos desenhados por ele, tinha lençóis, tapetes, cortina de banheiro…

Carla me levou pra um canto da sala. Em cima de uma imitação de lareira, havia uma tela do Aldemir Martins, pequena, com o desenho de um gato. Um gato gordo, vermelho e azul, um focinho enorme, mostrando as garras, sedutor, os olhos verdes calmos, hipnóticos.

– Minha mãe adorava esse quadro.

Então ela me puxou pra trás de uma cortina pesada, que cobria a vidraça que dava pro jardim.

Tati entrou na sala. Pulou pro beiral da falsa lareira e parou em frente ao quadro, olhando pro gato pintado. Ficamos assim uns 20 minutos, escondidos, calados. Até que ele apareceu. O velho Sorvete.

O gato mais descolado do pedaço. Veio gingando, passou entre os móveis, parou na frente da lareira, olhou pro alto, e não gostou nada do que viu.

Carla segurou no meu braço.

Sorvete pulou pro beiral.

Briga de gato é mais rápido que videogame. Tati pulou, atravessou uma janela aberta e fugiu pro jardim, com o Sorvete atrás.

– Minha mãe dizia que um artista é capaz de recriar a vida. Se Deus existe, com certeza é um artista. Mas acho que você vai ter de trancar o Sorvete em casa, Rodrigo.

– Não gostei daquilo.

– Não, Carla. A gente encontra outro jeito. Pra mim as pessoas, os bichos, qualquer coisa que se mexa… têm de ter liberdade. Têm de ter uma janela aberta.

– Mas o Sorvete é meio selvagem…

– Isso. É assim que eu gosto dele. Eu também sou meio selvagem. Sabe o que eu faço?

– Eu como o tomate inteiro. Eu não fico esperando a minha mãe partir e colocar na salada!

Ela riu. Não sei de onde eu tirei essa história do tomate. Aí me empolguei, e ia dar mais exemplos de como eu era selvagem, mas a cortina abriu de repente e o pai dela apareceu.

O cara ficou nervoso, quase chamou a polícia, mas depois a gente explicou, ele se arrependeu e acabou até deixando a filha sair comigo.

Eu e a Carla estamos namorando. Juro.
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Ivan Jaf, escritor, roteirista, redator e editor nasceu no Rio de Janeiro, em 1957. Autor de mais de 60 livros de ficção para o público infantojuvenil, premiado pela União Brasileira dos Escritores,  Fundação Nacional do Livro Infanto Juvenil e duas vezes finalista do Jabuti. Roteirista de histórias em quadrinhos, com trabalhos publicados em revistas brasileiras e italianas, em parcerias com renomados ilustradores. Escreve roteiros para cinema, acumulando prêmios como o Melhor Curta-Metragem - Festival Cinema Brasil in Tokyo 2007 e Melhor Curta-Metragem Brasileiro - 7º Festival de Cinema Brasileiro de Paris e Melhor Animação Brasileira/ RJ e SP/ Anima Mundi 2003. Como dramaturgo, tem diversas peças encenadas, com direção de Nelson Xavier, Amir Haddad entre outros, e texto premiado e publicado pela Funarte/2005.

Fontes:
Revista Nova Escola: Contos. 5 fev 2013.
Biografia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ivan_Jaf
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Alguns Pseudônimos e os respectivos nomes originais

Agatha Christie (Mary Westmacott)
Anatole France (Jacques Anatole François Thibault) 
Apporelly (Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly)
Artur da Távola (Paulo Alberto Monteiro de Barros)
Barão de Itararé (Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly)
Boas Noites (Machado de Assis)
Cora Coralina (Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas)
Dr. Semana (Machado de Assis)
Ferreira Gullar (José Ribamar Ferreira) 
George Eliot (Mary Anne Evans)
George Orwell (Eric Arthur Blair) 
George Sand (Amandine Aurore Lucile Dupin)
Helen Palmer (Clarice Lispector)
Inácio Costa (Lima Barreto)
Ítalo Svevo (Ettore Schmitz)
J. Caminha (Lima Barreto)
Janete Clair (Janete Emmer Dias Gomes)
João das Regras (Machado de Assis)
João do Rio (João Paulo Emilio Cristovão dos Santos Coelho Barreto) 
Johannes Clímacus (Soren Kierkegaard)
Johannes de Silentio (Soren Kierkegaard)
Joseph Conrad (Józef Teodor Konrad Korzeniowski)
Lelio (Machado de Assis)
Lewis Carroll (Charles Lutwidge Dodson) 
Luiz Poeta (Luiz Gilberto de Barros)
Malba Tahan (Júlio César de Melo e Sousa)
Manassés (Machado de Assis) 
Marcos Rey (Edmundo Nonato)
Mark Twain (Samuel Langhorne Clemens) 
Marques Rebelo (Eddy Dias da Cruz)
Moliere (Jean-Baptiste Poquelin)
Myrna (Nelson Rodrigues)
Otto Maria Carpeaux (Otto Carpfen)
Pablo Neruda (Ricardo Eliecer Neftalí Reyes Basoalto) 
Pagu (Patricia Galvão)
Pedro Dantas (Prudente de Morais Neto)
Possidônio Cezimbra Machado (Marcelo Gama) 
Qorpo-Santo (José Joaquim de Campos Leão)
Robert Galbraith (J. K. Rowling)
Stanislaw Ponte-Preta (Sérgio Marcus Rangel Porto) 
Stendhal (Henri-Marie Beyle) 
Stephen King (Richard Bachman) 
Suzana Flag (Nelson Rodrigues)
Tennessee Williams (Thomas Lanier Williams) 
Teresa Quadros (Clarice Lispector)
Tristão de Ataíde (Alceu Amoroso Lima) 
Victor de Paula (Machado de Assis)
Victor Eremita (Soren Kierkegaard) 
Voltaire (François Marie Arouet)

Maria Nascimento Santos Carvalho (Romance Inacabado)

Romance Inacabado é uma história triste, como tantas outras que já escrevi, retratando não só o meu drama pessoal, mas, também, o de muitos seres humanos cujo romantismo, despreparo psicológico ou a carência afetiva os levam a acreditar nas mais absurdas utopias do Destino, como continuo, ingenuamente, acreditando.

Um dia, que poderia ser qualquer um do mês de agosto, Maria, como fazia há algum tempo, saiu para fazer uma caminhada de fim de tarde, que lhe fora imposta pelo excesso de peso gerado pela vida sedentária que ultimamente levava.

Mal chegou ao destino avistou, a meia distância, um cavalheiro que, em princípio, lhe pareceu muito familiar, mas depois de observar atentamente percebeu que era um estranho, uma daquelas pessoas que, à primeira vista, encantam e deixam uma impressão tranquilizadora.

O seu mais novo conhecido, anônimo, parecia um artista. Sua beleza negra era de tirar o fôlego de qualquer mulher desacompanhada ou encostada num “estaleiro”. Estava num papo animado com um amigo, simpático, com jeito brejeiro, rindo como se estivessem fazendo comentários maliciosos a respeito de alguma coisa ou de alguém.

Estavam andando em posições opostas e Maria percebeu, ao passar olhando para o “artista”, que sua presença parecia fazer parte da paisagem das pedras do Calçadão, que ele estivesse acostumado a pisar todos os dias, sem se dar conta, sequer, de que ela poderia ser uma pedra com formato diferente.

Ao voltarem, novamente se encontraram e Maria teve a sensação de ser a mesma pedra do calçadão que ele havia ignorado e pisado há menos de uma hora e por mais que ela olhasse em sua direção não foi nem notada, porque os dois amigos só tinham sorrisos um para o outro, o que reforçou a sua certeza de que andavam o tempo todo debochando de colegas ou de quem quer que por eles passasse.

Mais uma vez, mesmo nunca tendo avançado um sinal em sua vida afetiva, olhou com admiração para o “artista” e o achou a “paisagem” mais interessante que já havia passado diante dos seus olhos e, instintivamente, desafiando a sua timidez e esquecendo todos os Mandamentos da Lei de Deus, pela primeira vez na vida se via transgredindo todas as normas de boa conduta e como se os seus olhos despertassem a sua mente, sua alma e o seu coração, como uma louca que perdeu a noção do raciocínio, pensou alto, pronunciando, imaginariamente : “- eu quero este artista para mim”.

Maria era solteira e não pensava em se prender a ninguém, mas aquele “atleta” havia mexido com sua cabeça e por um momento pensou em tentar conquistá-lo, esquecendo sua meta principal : a liberdade … E, fugindo daquele pensamento brusco, pensou: como queria conquistar um homem que nem havia olhado para ela, que não sabia seu nome, que nada sabia a seu respeito, a não ser que a ignorara como se ela fosse mais um pedaço do calçamento embaixo da sola dos seus tênis?

Maria, mesmo sem perceber, passou a observá-lo, e, por incrível que pareça, tinha sempre a mesma impressão do dia em que o conheceu. Seu colega parecia mais falante e ele mais observador, mas, no fundo, dava para notar que tinham sempre um bom repertório de coisas engraçadas para comentar enquanto malhavam e nada que considerassem errado ou ridículo passava despercebido por seus olhos críticos.

O tempo foi passando e cada dia mais crescia a vontade de Maria ouvir a voz do ilustre “desconhecido”, de saber se era gentil, atencioso, se era romântico… essas coisas que mulher, geralmente, tem curiosidade de saber. Mas, mesmo quando uma vez ou outra estava sozinho, não lhe dava a menor chance de se sentir mais visível do que aquela pedra à qual já se reportou.

Maria se sentia a pessoa mais insignificante da face da terra, mas jurava que, um dia, nem que tentasse o resto de sua vida, derreteria aquela pedra de gelo e falaria com o “dito cujo”, nem que fosse para ficar mais decepcionada do que já estava com a sua indiferença, ou seu preconceito inconcebível.

Depois de poucos meses de tê-lo visto, Maria já estava tão escravizada à presença daquele ilustre desconhecido que nem sabia como andar, quando passava por ele. Tinha medo de parecer que estava rebolando para chamar a sua atenção, de que ele a interpretasse mal… mas como iria interpretar isso ou aquilo se não se dava conta da sua existência ?

Maria, na ânsia de perder peso mais depressa, caminhava usando meias compridas, roupas grossas etc. o que, para eles, poderia dar a impressão de que estava com as pernas mais riscadas de varizes do que o Mapa do Brasil, uma vez que pareciam observar o que viam e o que imaginavam ver para aumentar o rol de assuntos engraçados para as longas caminhadas.

Por isso, para não alimentar a má impressão, com o tempo Maria foi se desvencilhando dos excessos do vestuário, descobriu as pernas, passou a usar camisetas, como quase todos os “atletas” com excesso de peso, e só faltou pendurar uma melancia no pescoço para que aquele homem lhe dirigisse a palavra.

Apesar de saber que estava agindo errado, ela não abria mão do seu desejo de ser notada, e comeu o pão que o Diabo amassou por conta dessa maluquice que se havia apoderado dela. Ela reconhecia o “seu artista” a uma distância incrível e seu coração começava a bater desordenadamente. Pouco tempo depois, passou a pensar nele vinte e quatro horas por dia e quase toda noite chorava e se desesperava pela sua incapacidade de falar com uma pessoa que via quatro ou cinco vezes por semana e não era vista por ele hora nenhuma.

Às vezes, ele sumia uma, duas semanas, para o seu maior desespero e quando o revia era como se o céu se abrisse aos seus pés e ela pudesse entrar nele com o seu “admirador imaginário” que, magicamente, a tornava invisível, como se nunca tivesse passado por ele. Era como se Deus se lembrasse de lhe devolver uma felicidade que nem lhe pertencia e talvez nunca fosse pertencer. Seu coração disparava e ela já não tinha mais controle da situação.

Em síntese, já estava com os nervos à flor da pele e só faltava agarrá-lo a força e dizer : — eu estou aqui, eu o amo, eu sou louca por você… só falta eu me pendurar no seu pescoço e você finge que nunca me viu ? Será que sou uma porcaria tão sem valor que você não inclina seu rosto nem para rir de mim ?

Mas, felizmente, sua loucura, por milagre, não chegou a tanto, embora tenha faltado muito pouco para ter um ataque histérico e se jogar nos braços dele.

Um dia, quase três anos já passados, após tanto sofrimento, Maria viu, de longe, que “seu artista” estava sozinho e, quase como um desafio, prometeu a si mesma: é hoje que vou fazer este homem falar comigo, custe o que custar … e ficou maquinando o que poderia fazer. De repente, quando ele se aproximou, fingiu que estava se sentindo mal, mas, nem assim ele parou para lhe perguntar se estava com algum problema de saúde, se precisava de ajuda.

Foi a pior ideia que ela poderia ter, pois nunca pensou que mesmo fingindo que nunca havia cruzado com ela, ele fosse passar como um cometa, sem lhe dirigir uma palavra, nem perguntar se ela estava precisando de alguma ajuda. Parece até que sabia que a única coisa que ela estava precisando era ouvir sua voz e receber um gesto de carinho, por menor que fosse.

Como não estava sentindo nada além da vontade de tê-lo mais perto, quando percebeu que nem olhou para trás para ver se alguém havia se importado com ela, recomeçou a caminhada e na volta, com voz trêmula, fingindo uma ousadia que não tinha, se atravessou na frente dele, quase o atropelando e foi logo perguntando, num fôlego só. — Porque você não deixa de ser metido a importante demais e não fala comigo? Só falta eu engolir você com os olhos e você finge sempre que não me vê ? Fingi que estava passando mal e você nem quis saber se eu precisava de auxílio… — Você já me viu algum dia aqui, por acaso ?

Ele, surpreso, com voz pausada disse, com um ligeiro sorriso, não sei se de nervosismo pela reação de Maria ou de deboche pelo inusitado : — Eu conheço você, sim, e quando você usava aquelas meias grossas eu comentava com o meu amigo : — esta mulher, coitada, deve ter as pernas cheias de varizes, por isso, só anda com elas cobertas com estas meias ridículas. — Adorei quando você tirou as meias e passou a caminhar com roupas mais joviais. Aí, disse ele : — percebi como é uma mulher charmosa, interessante e sensual. Nesse momento ela se esqueceu de que era apenas uma pedra do calçadão e começou a se sentir uma pedra bruta, mas visível aos olhos do novo “amigo”.

Seguiram batendo papo, embora ela estivesse morrendo de medo que alguém a visse com um estranho e a interpretasse mal. Mas estava tão feliz com o rumo que a conversa estava tomando que queria que o mundo parasse naquela noite.

Depois desse dia, “seu príncipe”, o José, como se identificara, volta e meia aparecia sozinho e saíam conversando amenidades, separados como dois estranhos, com receio das línguas maldosas, uma vez que ele se revelara comprometido.

Das amenidades passaram para conversas mais arrojadas, até que, um dia, chegaram ao ponto que ela queria : Ficar a sós com aquele deus negro, há tanto tempo dono dos seus sonhos, das saudades, de sua alma, dos maus pensamentos; enfim, do seu todo.

Foi o que de mais bonito aconteceu em toda a sua vida. Ela se sentiu mulher de verdade, pela primeira vez, e abandonou aquela sensação de estar errada por amar tanto aquele adorável desconhecido.

Em seus encontros e desencontros esporádicos foram descobrindo as suas afinidades… E quantas !

Maria pensava que suas afinidades fossem capazes de aproximá-los cada vez mais, mas lhes faltava um fator em comum: ele a queria como amiga que aceitasse apenas uma “amizade colorida”; ela o queria como amigo, como homem e como o pai dos filhos que ela tanto sonhava ter, o que levava suas afinidades a um grande distanciamento, a um imenso abismo. O quase tudo em comum parecia muito pouco para um relacionamento mais sólido e, dia a dia, se perdeu na diversidade dos seus sentimentos, como nesses versos :

Coincidências

Agora que conheço a tua infância, 
eu vejo que foi quase igual à minha: 
a falta de recursos, com constância, 
e tudo o que não tinhas … eu não tinha !

Nós tínhamos irmãos em abundância, 
pais honrados que, às vezes, à noitinha,
percorriam a pé longa distância 
para vermos um circo, na pracinha.

Lutando, já formados, progredimos, 
mas os nossos destinos não unimos 
porque em teu peito não me dás guarida …

Noventa e nove por cento há em comum … 
e eu não sei como apenas ” menos um “ 
pode matar os sonhos de uma vida ! …

Meses depois, José se desvencilhou de Maria como se tivesse se desvencilhado de um par de tênis desgastado pelo uso, sem um desentendimento, sem uma explicação … Apenas sumiu como havia aparecido, sem se importar com o que poderia estar acontecendo com ela, como se percebesse que ela estava precisando do seu apoio, de cuidados especiais para enfrentar uma gravidez de risco, uma vez que estava na primeira gestação, com quase quarenta anos de idade.

José, que se dizia caixeiro viajante, durante muitos anos não foi visto por Maria, que criara seus dois filhos, Leonardo e Lena, os gêmeos gerados num relacionamento proibido e sem importância para José. Foi num momento de desânimo e decepção que expressou mentalmente as suas 

Marcas na Alma

Partiste sem aviso, às escondidas, 
sem promessa de um dia regressar.. 
e, embora com saudades incontidas, 
eu me recusaria a te esperar.

Se eu tivesse o milagre de outras vidas, 
e motivos de sobra para amar, 
com receio de novas despedidas 
eu jamais voltaria a te aceitar …

Foram tantos projetos que ruíram, 
tantos sonhos de amor que se evadiram, 
tanto estrago em minha alma a vida fez

que, farta de tristeza e desengano, 
queria que o destino desumano 
acabasse comigo de uma vez.

Quando passou para a faculdade, num “trote de calouros”, Leonardo se feriu gravemente e sua colega de cursinho, Andressa, que estava com ele, ajudou a socorrê-lo e passou a noite no hospital aguardando notícias.

Maria, avisada da tragédia, chegou pouco tempo depois e conversava com a coleguinha de seu filho quando José chegou preocupado, tentando levar a filha para casa, sem perceber que era a mãe de Léo que se encontrava de costas. Foi um choque muito grande para os dois.

Léo estava sendo operado e José logo se ofereceu para doar sangue, se fosse preciso e para ficar com Maria, enquanto o pai do garoto não chegasse. Maria agradeceu, dizendo que não era preciso, mas José levou Andressa para casa e voltou para lhe fazer companhia, confessando que sua esposa estava doente, há muitos anos, e que ele era quem cuidava dos dois filhos : Andressa e Anderson, já quase adultos.

Foi no hospital que José teve certeza de que Leonardo era seu filho, depois de se submeter a exames para descobrir se havia compatibilidade para doação de um rim, uma vez que o acidente havia comprometido os rins do novo universitário.

Leonardo, depois de muito tempo hospitalizado, voltou à vida normal, mas, ainda muito magoado por não ter conhecido seu pai, leu uma poesia que havia encontrado num “livro de bolso”, e parecia a sua história :

Desilusão

Ao ver um pai chegar na minha escola 
trazendo a mão do filho em sua mão,
carregando, feliz, sua sacola, 
sinto uma enorme dor no coração…

Penso em mais tarde os dois jogando bola
e sinto até inveja da emoção 
daquele pai que, às vezes, se controla 
para não dar no filho uma ”lição” …

Agora, quase adulto como estou, 
nem ligo para o pai que me gerou 
e não dirige a mim um simples ai …

Se esse pai não me deu nenhum conforto, 
não sabe se estou vivo, ou se estou morto, 
não quero nem saber se tenho um pai!…

Hoje, com os filhos ultrapassando os vinte e um anos de idade, Maria olha para trás, revive todo o sofrimento porque passou e ainda encontra forças para agradecer a Deus por seus filhos, fruto de um amor proibido e inconsequente, e reza para que seu “artista preferido” encontre o amor que teve e jogou fora, sem sequer tomar conhecimento da existência de seus filhos, que, inteligentemente, talvez pouco estão se importando se em suas certidões de nascimento existe apenas um pai ignorado, como costumam dizer nos momentos mais angustiantes, embora Maria tenha certeza de que dizem isto para não entristecê-la mais ainda.

Leonardo e Lena frequentam a mesma sala de aula, e num trabalho escolar, falando sobre o Dia do Papai, Lena resolveu apresentar seu

Sonho Adormecido …

Sonhei com o meu pai a vida inteira, 
embora um pai que nem me viu crescer … 
pois encontrei, no sonho, uma maneira 
de encarar meu problema sem sofrer …

E, filha de um ausente e mãe solteira, 
eu me humilhei demais para entender 
que o preconceito é a mais triste barreira 
que o mundo inteiro, um dia, há de vencer.

Meu pai, que era caixeiro viajante, 
mudava de lugar a cada instante, 
deixou o seu ” produto ” e foi embora …

Mas mesmo sendo um pai desconhecido, 
se acordasses meu sonho adormecido 
eu seria, meu pai, feliz agora.

Maria foi quase todos os gêneros de pedras no caminho de José, o seu príncipe, mas embora tenha rolado nas tempestades que o destino lhe impôs, continua com a mesma certeza do primeiro dia em que o viu, porque seu coração, seus olhos, sua mente, sua alma e todo o seu ser o escolheram para ser o homem de sua vida e, mesmo depois de tudo que já passou, mesmo com o coração sangrando por não havê-lo conquistado, ainda não perdeu a esperança de reencontrar a felicidade ao lado do homem que, um dia, sem conhecê-lo, sem nada saber da sua vida, pensou como quem reza em silêncio : — ” Eu quero este homem para mim”. Por enquanto, enquanto vive de esperança, faz de Contradição a sua prece de cada dia.

Hoje, mais uma vez, desesperada 
por ser injustamente preterida,
vejo que já nasci predestinada 
a amar sem nunca ser correspondida …

Mas o que mais me dói, na despedida, 
é saber que fui sempre desprezada 
porque foste o anjo bom da minha vida 
e eu da tua jamais pude ser nada.

Se me pudesse ver da eternidade, 
chorando de tristeza e de saudade 
pelo amor que no tempo se perdeu,

Carlos Drummond de Andrade me diria : 
” E agora “, como vais viver, Maria, 
sem o José que achavas que era teu ? !

Como a esperança é a última que morre, Maria espera, um dia, poder dizer :

– E serão felizes para sempre…
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Maria Nascimento Santos Carvalho nasceu em Coruripe/AL, em 1937.  Radicada no Rio de Janeiro desde 1962. Jornalista, advogada, poetisa, escritora, formada em Direito pelas Faculdades Integradas Estácio de Sá (RJ), funcionária pública aposentada pela Universidade do Rio de Janeiro. Magnífica Trovadora em trovas líricas e filosóficas, foi esposa do também Magnífico Trovador Elton Carvalho, falecido. Atualmente reside em Maceió-AL. Publicou: "Batel de Fantasias" - 1973 (trovas), "Preces de Amor" - 1977 (trovas), "Confissões de Amor" - 1989 (trovas, sonetos e poemas em geral), "Promessas de Amor" - 2001 (trovas, sonetos e poemas em geral). Pertence a diversas entidades, como: Associação Brasileira de Imprensa - ABI - RJ; Academia Brasileira do Soneto - ABRASSO; Associação Alagoana de Imprensa; Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas; Academia Alagoana de Letras; Academia Maceioense de Letras, etc.

Fontes: 
Imagem criada com Microsoft Bing 

Carolina Ramos (Como de Costume…)

A majestade daquela lua enorme, exageradamente iluminada, não combinava, em absoluto, com o nebuloso astral daquele homem abatido à procura de um jeito honroso para retorno ao lar.


O dia fora terrível! O almoço, desastroso! Homem e mulher, se por uma balela qualquer se desentendem, a cada palavra cavam cada vez mais fundo o abismo que os separa, envolvidos pela avalanche verborrágica, que enrola razões, manipula argumentos, inflama egos e espicaça vaidades, na tentativa insana, de provar quem de fato é o dono da verdade.

Em poucos minutos, aquele casal, até ali tão unido, escorregara do éden conjugal para o inferno dantesco das acusações mútuas.

Lágrimas enxugadas na barra do avental e a batida violenta da porta, foram mais que convincentes para provar que o primeiro round estava findo, mas a luta , não.

Mirna empilhou os pratos sobre a mesa, transportando os copos para a pia, sem conseguir evitar que um deles se espatifasse a seus pés. Catou os cacos resignada. Era o primeiro copo quebrado, daquele bonito jogo azul, bico de jaca, presente de casamento da tia Júlia. Gostava dos copos. E mais ainda, da tia. Contudo, a dor que lhe doía no peito era tão forte que nem sentiu a perda. Com raiva, atirou os cacos na lata de lixo.

Largou-se em seguida na cama, soluçando desconsolada. Algum tempo depois, socava o travesseiro, como quem socasse a cara do marido desaforado…

De volta à pia, filosofava: – Por quê são os homens tão incompreensíveis?! Tão intransigentes, a ponto de comprometerem um diálogo sadio… um acerto de opiniões, uma análise de pontos de vista capazes de levar ao consenso ou, quem sabe, à discordância, já que nem sempre duas cabeças pensam de forma igual. Sempre cheios de razão …incapazes de admitir um erro… dar a mão à palmatória… E, que fácil seria dizer: – “Desta vez, errei, querida” . Até que aquele querida poderia ser dispensado. Bastaria dizer: – Errei, pronto! Perdoa, sim? – Claro que, depois disso, tudo terminaria bem. Qualquer mulher, mesmo entre raios e trovoadas, agiria assim, com aceitação… com naturalidade. Mas, qual deles à beira de uma tempestade, pensaria em valer-se do guarda-chuva do perdão, mesmo sabendo ser, essa. a única solução?

A esponja da filosofia, ajudou… e a louça foi lavada com requinte. A cozinha, arrumada, ganhou ares de cozinha de revista. Na fruteira, o brilho das frutas foi despertado pela flanela, em lustro vigoroso. As maçãs ficaram mais rubras, apetitosas. A raiva da moça exagerou no esfregão, a ponto de machucar uma delas.

Precisava ficar mais calma. Nenhum homem merecia uma lágrima de mulher – isso lhe dissera tantas vezes a mãe – pobre mãezinha, quantas vezes a vira chorar em silêncio!

O chuveiro lavou-lhe corpo e alma. Maquiou-se com cuidado e perfumou-se. Nenhum gladiador adentra a arena desarmado. Faltava pouco para o retorno do marido. Retornaria? – Ah… haveria de ouvir poucas e boas!

Dedos nervosos pegaram o tricô e ligaram o televisor. Tempo de novela. Tanto drama em casa e aquela mania tola de imiscuir-se nas tramas televisivas, como se a vida não passasse de histórias somadas entre tapas e beijos… briguinhas e abraços , intrigas e enrolações, quase sempre encaminhadas para um final feliz, a premiar bons e castigar maus. Como se tudo pudesse ser resolvido por toques no teclado de um computador, à disposição dos dedos do autor. Como se aqueles dedos fossem pequenos deuses a tal ponto poderosos que capazes de criar vidas, tecer tramas e alterar destinos, a bel prazer.

Envolta em mágoas, Mirna deixou escapar a malha do tricô e perdeu o fio da novela. Ao ouvido atento, porém, não passou despercebido o torcer da chave na fechadura.

Ele! Sequer virou a cabeça ou desgrudou os olhos do vídeo. O tricô…

Esperava pela primeira palavra, que não veio. A tensão cresceu quando sentiu a aproximação do marido. Teve vontade de encará-lo. Conteve-se. Ele sentou-se no sofá ao seu lado. Tenso e mudo.

O corpo da moça retesou-se, pronto para recomeçar a batalha verbal interrompida.

Relaxou, quando sentiu a cabeça do marido aninhar-se no seu colo, como de costume. E, como de costume, os dedos dela deslizaram mansamente pelos cabelos macios, como que alisando, com a ternura de sempre, o pelo macio de um gato fujão.

Naquela noite, o amor falou tão alto… que nem foi necessária palavra alguma!
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CAROLINA RAMOS nasceu em Santos/SP, em 1924. Dia 19 de março de 2025, comemorou seu 101. aniversário. Desde cedo atraída pelas letras, seus amigos mais chegados eram os livros. Essa preferência aproximou-a das artes e literatura. Na Escola Normal, diplomou-se como Professora e Secretariado.. Completou seus estudos formando-se em música. Fez o curso completo de Música. Vários cursos de Literatura, de Folclore, Línguas e um pequeno Curso de Enfermagem. Leu na adolescência, tudo o que lhe caia nas mãos, desde toda a obra de Machado de Assis, José de Alencar, e outros nacionais e estrangeiros. No ginásio, costumava fazer algumas quadrinhas de pé quebrado. Fez seu primeiro poema quando a filha, Márcia, nasceu, “Se eu soubesse esquecer”. Publicou versos num Suplemento de Arte, do Jornal local, A Tribuna. Possui vários prêmios, no Brasil e alguns no Exterior, de Contos, Poesias, Trovas e Crônicas. Por seu poema, Paz, foi agraciada com Diploma e Medalha de Mérito Internacional, em Nocera - Salerno, Itália. Trovadora, contista, poeta, santista ilustre, foi Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Santos por oito anos (2001 a 2007) e Presidente da União Brasileira de Trovadores – Seção de Santos. Pertence a diversas entidades culturais, como Academia Santista de Letras, Academia Feminina de Letras, Academia Cristã de Letras de São Paulo, Confraria Brasileira de Letras, e de várias outras Academias de Letras e entidades culturais do Brasil. Agraciada com diversas medalhas de mérito cultural em Santos, com a “Medalha do Sesquicentenário de Santos”, outorgada pela Prefeitura Municipal; “Medalha dos Andradas”, pelo IHG de Santos e “Medalha Brás Cubas”, outorgada pela Câmara de Santos, em 2006”. Recebeu diversos títulos, homenagens e prêmios em Portugal e Angola. Em 2021 o título de "Princesa da Trova" . Em 2023, vencedora do Hino Oficial da Academia Cristã de Letras de São Paulo. Alguns livros publicados:
“Sempre” – (Poesias); “Cantigas Feitas de Sonho” – (Trovas); “Interlúdio” – (Contos); “Paulo Setúbal – Uma Vida Uma Obra”  (em parceria c/Cláudio de Cápua); “Júlia Lopes de Almeida” – (Biografia); “Feliz Natal!” – (Contos Natalinos); “Príncipe da Trova” – (Biografia); “Liberdade... Sonho de Todos!” – (Prosa – Poesia – Trova) ; “Destino” -  (Poesias); ”Canta...Sabiá!”  (Folclore do Brasil); ”Bichos... Bichinhos... e Bichanos...” (livro infantil), entre outros.
 
Nas palavras de Carolina em entrevista concedida a José Feldman: 
A obra do escritor não tem fronteiras. Não há limites que cerceiem a sua criação, e, muito menos, cronológicos. Mas o escritor não é imune às influências do meio e da época em que vive. Seus escritos bebem a água da inspiração, na fonte que corre perto de seus pés. A voz do escritor incorpora a voz do seu tempo e, automaticamente, através do que escreve, passa a interagir, de acordo, ou não, com a vida que rola à sua volta, e até mesmo contra suas próprias convicções, segundo as exigências da personagem criada. Note-se, que há, sempre, escritores e poetas envolvidos nas grandes causas que o cercam e que acabam por marcar suas existências. É por isso, que podemos afirmar que poetas e escritores, em qualquer tempo ou lugar, são quase sempre ativistas sociais e arautos dos grandes acontecimentos que marcam o seu tempo.”

Fontes: 
RAMOS, Carolina. Interlúdio: contos. SP: EditorAção, abril 1993. Enviado pela autora, 
Imagem com Microsoft Bing. 

Franklin Ras Lopes (Esboço: A força dos medos e desejos)

“Sou contraditório por que sou vasto”
Walt Whitman

A fria e afiada lâmina da razão corta o meu coração contraditório. O meu coração tem ímpetos naturais e contraditórios como ondas feitas de medo e desejo. A proximidade gera atritos, questionamentos sobre a minha liberdade e o afastamento natural vêm através de desavenças. Este afastamento gera o desejo de proximidade, de estreitar os laços e o ciclo continua.

O grande poeta e filósofo alemão Nietzsche dizia “cuidado ao tirar o pior de você, para que junto com ele você não tire também o seu melhor”. Sim meus caros leitores as rosas e o espinhos estão ligados. E a poesia nos diz “ O medo de espinho o desejo de flor, a tensão da roseira é a beleza em vigor, em meios a estas pedras a beleza chegou.” (Franklin Ras Lopes)… Se negarmos a tensão natural entre os opostos, perdemos a beleza, perdemos o melhor de nossas vidas.

As crianças quando brigam resolvem isto facilmente, não é necessário interferência Eles darão o dedinho e tudo continuará, os laços serão mais fortes, os irmãos serão mais amigos quando a maturidade chegar. O amor não pode ser imposto, ele surge da tensão entre os opostos, ele é um processo natural e por isto surge através da liberdade de aprendermos com os altos e baixos de nossas vidas. Negar, cortar um é negar, cortar o outro, e a mornidão gerada desta forma de agir, de nenhuma forma é a ponderação ou o caminho do meio dos sábios.

Li um relato há muito tempo do místico Hassid, que me esqueci o nome e não consegui encontrar referências em minha pesquisa. Mas vale a pena comentar a explicação que ele deu a respeito da luminosidade surgida de alguém que a todos consideravam um grande devasso, um pecador, ele disse - “Quanto maior o pecador maior o santo” E particularmente acredito que não existem mais santos sobre a terra, porquê as pessoas constroem casas em cima da areia, constroem na verdade uma personalidade, aquilo que não são.. Tentam e acreditam serem maiores do que são e não trabalham onde realmente estão. A rocha firme para fazer nossos alicerces, estão nos processos associados aos nossos medos e desejos, no medo de não sermos amado que gera ciúmes, invejas, rancores, raivas, geram julgamentos capitais que servem apenas para amparar o nosso ego, em meio a esta vastidão.

Somente um rebelde, somente um homem que foi ao deserto e enfrentou seus medos e desejos mais profundos podem proclamar e instigar a liberdade como fez Jesus na parábola do filho pródigo. Ele incentiva as pessoas a se aventurarem, a serem errantes, a experimentarem com seus próprios olhos, a vida. Não existe outra forma de poder andar sem ser caindo e se levantando, ficando forte para andar sem andador ou muletas. E quando um errante voltar à casa do pai, a sua origem, ele voltará completamente transformado, pois estará fazendo os laços porque quer, estará se prendendo por gosto. A meu ver, uma grande liberdade que surge em quem ama.

Obviamente existirão ciúmes por parte de quem ficou, daquele que seguiu os preceitos e nunca abandonou as regras da sociedade, pois a verdade da presença luminosa daquele que voltou trará uma festa, uma alegria que ele creditará ser o seu direito. Ele se sentirá injustiçado apenas por que se esqueceu que nós estamos aqui para aprender os caminhos da confiança, e o norte deste caminho é o amor.

Particularmente eu demorei muito a reconhecer o vasto pântano de homens que não sabem nem sair e nem entrar, demorei muito a olhar pra cima e ver a tabuleta que dizia - pântano do ser e do não ser. Nós não somos, nós estamos num fluxo contínuo feito de polaridades como o dia e a noite. A crença no pântano impede a aventura do vir a ser, impede o fluxo natural de aceitação da polaridade de nossas vidas, o reconhecimento que temos que estar atentos, sermos testemunha de nós mesmos e assim mudarmos com a delicadeza e a tendência que quer a amorosidade.

A liberdade para encontramos a nossa essência, não é a mesma coisa que libertinagem. O processo tem de ser consciente, tem de ser intenso, um verdadeiro ato corajoso ou como diria o poeta Fernando Pessoa “sabendo viver bem saberemos navegar com todos os ventos”. Com estas considerações acredito que quando Walt Whitman disse “sou contraditório por que sou vasto” de forma nenhum estava se eximindo ou fugindo, eu pude sentir nestas palavras a afirmação da sua própria vida, do seu próprio processo de sanidade e não da paranoia que corta e dilacera o nosso natural coração contraditório.

Assim, em verdade, eu vos digo, meus caros, o meu amor quebra taças, gera silêncio e é muito carinhoso, o meu amor é delicado e esta delicadeza é fonte de asperezas, o meu amor é atento e dedicado e isto é a fonte do meu desejo de liberdade, o meu amor não é meu e me deixa inseguro, o meu amor existe com dois espinhos para exigir a atenção do outro, o meu amor quer o voo e quer a liberdade de estar junto, porque queremos, o meu amor nem eu entendo, mas uma coisa eu sei, ele é frágil e precioso, pois sem medo e sem desejo não existe possibilidades de ir além.

Assim me ergo em oração: Deus afastai de mim os homens de moral, afastai de mim estes seres que pouco sabem da vida, mas querem encher meu coração de culpa, afastai de mim estes seres que massageiam os pés, mas logo chegam a agarrar o pescoço, Deus, afastai de mim estes imaturos papagaios, afastai de mim estes seres que porventura irão vir morder o meu dedo, ao invés de ver a lua clara na noite escura, para somente assim poder dizer com o meu próprio peito, eu sou um bem aventurado, eu sou um filho de Deus. 

Paz e prosperidade a todos.
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Franklin Rodolfo Aguiar Silveira (Ras) Lopes é de Piracicaba/SP, possui graduação em Oceanologia pela Universidade Federal do Rio Grande (1998), mestrado em Aquicultura pela Universidade Federal de Santa Catarina (2002) e doutorado em ciências pela Universidade de São Paulo (CENA-USP) (2008) .

Fontes:
Texto enviado pelo autor. 
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